Buscar

Gestalt terapia 01.pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Documento não controlado - AN03FREV001 
1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
Gestalt-terapia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
Gestalt-terapia 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
3 
 
SUMÁRIO 
 
MÓDULO I 
1 ORIGEM E HISTÓRIA 
2 FREDERICK PERLS E SUCESSORES 
3 INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS 
4 HOLISMO E VISÃO SISTÊMICA 
5 CONCEITO DE SAÚDE EM GESTALT-TERAPIA 
 
MÓDULO II 
6 PSICOLOGIA DA GESTALT 
7 AQUI E AGORA 
8 A RELAÇÃO FIGURA-FUNDO 
8.1 VIVÊNCIAS ANTERIORES 
8.2 SITUAÇÕES INACABADAS 
8.3 O FLUXO DA EXPERIÊNCIA PRESENTE 
9 TEORIA DE CAMPO 
10 AWARENESS E TEORIA PARADOXAL DA MUDANÇA 
11 TEORIA ORGANÍSMICA 
11.1 A DINÂMICA DO ORGANISMO 
 
MÓDULO III 
12 FRONTEIRAS DE CONTATO 
13 FUNÇÕES DE CONTATO 
14 CICLO DE CONTATO 
15 RESISTÊNCIA E DISFUNÇÕES DE CONTATO 
16 O EU-NEURÓTICO 
 
MÓDULO IV 
17 RELAÇÃO EU-TU 
18 TRABALHANDO COM SITUAÇÕES INACABADAS 
19 O CORPO 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
4 
20 EXPERIMENTOS 
21 CASAIS, FAMÍLIAS, GRUPOS 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
5 
 
MÓDULO I 
 
Raízes e Precursores 
 
1 ORIGEM E HISTÓRIA 
 
 
Gestalt-terapia é uma abordagem psicológica que teve sua origem na 
Alemanha. Seu nascimento oficial ocorreu com a publicação do livro “Gestalt-
Teraphy”, em 1951, escrito por Fritz Perls, Hefferline e Goodman. A escolha do 
nome desta nova proposta de trabalho psicológico foi um processo difícil e 
controverso. 
Laura Perls sugeriu Psicanálise Existencial, porém em razão das críticas 
sobre o pessimismo da obra de Sartre, esta ideia foi descartada pelos demais. Já 
Hefferline propunha o título Terapia Integrativa, mas também não foi aceito. O nome 
Terapia Experimental foi levantado pelo grupo, mas logo recusado. 
Inicialmente, Perls batizara este método de “Teoria da Concentração”, uma 
clara oposição ao método psicanalítico da livre associação. Realmente, esta teoria 
sugeria ao cliente que este se concentrasse na experiência do aqui-agora, que 
houvesse uma consciência de seu estado físico e corporal, além de utilizar os 
recursos de relaxamento e respiração. Porém, este título não refletiria a sua nova 
teoria em todos os seus aspectos. Essa sugestão estaria enfocando apenas pontos 
menores em seu arcabouço prático e teórico. 
Seria necessário encontrar um nome mais global para o método sugerido. 
Foi então que Perls sugeriu “Gestalt-terapia”, o que não agradou a todos, 
principalmente a Laura Perls, que naquela ocasião fazia doutorado em Psicologia da 
Gestalt, e achava que o novo método proposto não tinha relação com esta teoria, a 
qual conhecia melhor que Perls. Goodman achava o termo estrangeiro e esotérico 
demais, só que era exatamente isto que agradava Perls, seu caráter provocativo e 
comercial (“marqueteiro”). 
A palavra Gestalt é amplamente adotada em todo o mundo e em todas as 
línguas, na sua forma original, uma vez que não apresenta uma tradução 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
6 
equivalente em nenhum país. Em dicionários comuns, Gestalt apresenta o sentido 
de “figura, forma, feição”. Gestalten, que é o seu plural, significa “dar forma, dar uma 
estrutura significante, moldar, arrumar”. E ainda buscando algo que apresente um 
sentido de mais ação e processo, encontramos a palavra Gestaltung que pode ser 
traduzida como “formação, conformação, criação e organização”. 
Quando falamos em Gestalt estamos falando de uma teoria que veio de uma 
escola de pensamento que é a psicologia da Gestalt. Tal escola estuda como os 
seres percebem as coisas e como o campo perceptivo se organiza 
espontaneamente por meio das “boas formas” ou “gestalten fortes e plenas”. 
Esta psicologia considera que os fenômenos psicológicos, físicos, biológicos 
e simbólicos constituem um conjunto autônomo, indivisível e articulado na sua 
configuração, organização e lei interna. Quando nos deparamos com um estímulo 
físico, tentamos compreendê-lo por meio de uma organização perceptual. Esta 
organização pode ocorrer de diversas maneiras, mas apenas uma organização 
aparecerá de cada vez. Caso você queira reorganizar sua percepção 
conscientemente, alterando o foco de percepção, isso poderá ser feito, mas sempre 
uma em cada momento. 
Por exemplo: quando vemos a Figura 1 qual é a organização predominante? 
Uma taça ou o perfil de duas pessoas, uma de frente para outra? Esta organização é 
individual e ocorrerá de cada vez, embora possa ser percebida alternadamente; uma 
vez se percebe os rostos, outra vez o vaso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
7 
FIGURA 11 
 
 
Uma taça ou dois rostos? Só a Gestalt explica... 
 
 
A percepção ocorre por uma totalidade e não por “pontos isolados”. 
Podemos destacar que a partir deste princípio estrutura-se uma máxima que servirá 
de conceito precursor da abordagem da Gestalt-terapia: “O todo é maior que a 
soma de suas partes”. 
Este movimento conhecido como Psicologia da Gestalt, também pode ser 
chamado de Psicologia da forma, Gestaltismo ou simplesmente Gestalt. Foi criado 
pelos psicólogos alemães Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-
1967) e Kurt Koffka (1886-1940), nos princípios do século XX. 
É importante ressaltar que muitos dos princípios estudados na psicologia da 
Gestalt são aplicados na prática clínica e teórica da própria Gestalt-terapia. Porém, 
este conceito foi primeiramente apresentado pelo filósofo austríaco Christian Von 
Ehrenfels. Seus estudos apontam para a existência de “objetos perceptivos”, como 
as formas espaciais e as estruturas rítmicas, que se apresentam como “formas” ou 
relações estruturais e não se reduzem à soma de sensações precisas. Estas ideias 
estão apresentadas no livro "Sobre as qualidades formais" (1890). 
Desde a sua origem, a Gestalt-terapia, se apropriou e se nutriu, de forma 
consciente ou não, de várias correntes filosóficas e terapêuticas, não só da 
Psicologia da Gestalt, mas também da fenomenologia, do existencialismo, do 
 
1 FONTE: Disponível em: http://sexualidadeegestalt.blogspot.com/2009/04/o-que-e-gestalt-terapia-parte-1.html. 
Acesso em 01 nov. 2009. 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
8 
psicodrama, da psicanálise, das terapias corporais e também de filosofias orientais, 
como o budismo e o taoísmo. Daí, se tira sua principal crítica, uma vez que alguns 
autores não a consideram uma abordagem autêntica, mas sim, uma “colcha de 
retalhos e técnicas”. 
Utilizando seu próprio princípio, de que é necessário olhar o todo e não a 
soma de suas partes, podemos esclarecer que esta nova organização teórica 
constitui algo novo e muito autêntico. A própria genialidade de Fritz Perls (seu 
criador) e de seus principais colaboradores, Laura Perls e Paul Goodman, foi 
elaborar esta síntese coerente, rica, única e dinâmica. 
A teoria da aprendizagem da Gestalt também contribui para a Gestalt-terapia 
com osconceitos de situação inacabada e figura-fundo. A situação inacabada 
impede a pessoa de seguir adiante e lhe trazer satisfação. O conceito de figura-
fundo permite que o observador organize suas percepções em uma unidade mais 
forte. Este movimento pode levá-lo ao ritmo de awareness (consciência organísmica, 
ou processo de dar-se conta) e unawareness. 
Alfred Adler, psicólogo austríaco, foi médico psiquiatra e psicanalista. Traz a 
visão de que o homem é o criador consciente de sua vida. O estilo de vida e o eu 
criativo sustentam ao sujeito uma participação única e ativa. Em consonância com o 
pensamento de Adler, a Gestalt-terapia também acredita que o homem cria a si 
mesmo, sendo que sua maior energia advém do processo de estar em aware e da 
aceitação de si mesmo. 
Otto Rank, psicanalista, discípulo de Freud por vinte anos, muda a visão da 
resistência para uma perspectiva mais construtiva e inclui o seu papel na resolução 
das partes separadas de si mesmo. “A resistência construtiva a essas alternativas 
assustadoras leva a uma nova integração criativa dessas forças classicamente 
opostas” (POLSTER, 2001, p. 315). 
Junto dessa influência, a Gestalt-terapia reconhece o poder da resistência 
criativa e não tenta extirpá-la a todo custo, e sim, mobilizá-la para uma nova 
composição pessoal, considerando sua força e fazendo com que esta fique 
integrada ao indivíduo. 
Wihelm Reich, discípulo dissidente de Freud, desperta o interesse de Perls 
sobre o caráter do homem, que é o jeito de ser da pessoa. Reich elabora o conceito 
de couraça corporal, como uma forma de tensão muscular diante de uma repressão 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
9 
habitual, ou seja, a mesma repressão do nível mental está ocorrendo no corpo. 
Outro aspecto importante foi o fato de que Reich ao olhar para as ações simples de 
um modo simples permite que a fenomenologia se firme de forma mais ativa. Ele 
traz para o setting terapêutico o comportamento cotidiano, enfatizando as 
características linguísticas, posturais, musculares e gestuais. 
Moreno, por meio do psicodrama, reconhece o poder atemporal da arte da 
dramatização como meio para o processo de mudança. Este caminho abre as 
possibilidades criativas inerentes na arte e defende a potencialidade das 
descobertas quando a pessoa participa de uma experiência, muito mais ativamente 
do que apenas falar sobre ela. 
A Gestalt-terapia utiliza muito o psicodrama para seus trabalhos vivenciais 
junto ao cliente, e também em situações específicas por meio de trabalhos com 
sonhos. A dramatização vai acontecendo juntando os diversos elementos do sonho 
ou da cena. O cliente vai entrando em cada papel e se identificando. É necessário 
sentir no corpo e nas emoções o impacto das imagens. Com relação ao sonho, cada 
parte é considerada como uma expressão parcial do próprio sonhador. Esta 
concepção teórica advém da visão de Jung de que os sonhos e seus simbolismos 
representam expressões criativas do eu e projeções de si mesmo. Esta ideia 
também é compartilhada pela Gestalt-terapia. 
Jung também influencia a Gestalt-terapia com o conceito de sombra que tem 
uma relação direta com a visão gestáltica de polaridades, em que a presença de um 
pólo só faz sentido na presença do outro, ou seja, os aspectos polares são 
complementares. 
Na Gestalt-terapia quanto maior é a polarização em uma das extremidades, 
mais neurótico o cliente se torna. Por exemplo, uma pessoa que se considera muito 
forte será incapaz de lidar com sua fraqueza em uma determinada situação. O 
trabalho da Gestalt-terapia será integrar as polaridades (por exemplo: força e 
fraqueza), e fazer com o cliente possa se perceber hora forte, hora fraco, e assim, 
transitar naturalmente por estas polaridades. 
Kurt Goldstein, neurologista e psiquiatra alemão foi um pioneiro da 
neuropsicologia moderna. A Gestalt-terapia foi bastante influenciada por sua teoria 
holística do organismo. A partir do seu trabalho com os soldados da Primeira Guerra 
Mundial que retornavam com lesões cerebrais e, também, da ideia de totalidade de 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
10 
Jan Smuts, ele desenvolveu sua teoria das relações cérebro-mente. Dentro de sua 
visão há uma severa crítica à forma como a medicina lida com a sintomatologia dos 
pacientes. Seu livro mais importante, em alemão, Der Aufbau des Organismus 
(1934) foi publicado novamente em inglês com o nome The Organism (1995). 
Tanto para Goldstein, quanto para a Gestalt-terapia, o sintoma passa a ter 
uma função de busca de equilíbrio do organismo. Exatamente por fazer parte desta 
totalidade, o sintoma sofre a influência do organismo com um todo. O organismo tem 
uma tendência inata de autorregulação e, muitas vezes, o sintoma é a melhor saída 
que este organismo teve para se organizar em um determinado momento diante de 
uma nova situação. Esta ideia traz uma nova concepção de saúde, que é justamente 
a capacidade de recuperação do equilíbrio do organismo, e não mais a ideia de 
ausência de doença. Isto também influencia a percepção da neurose que passa a 
ser entendida como um processo de ajustamento criativo. 
Kurt Lewin foi um psicólogo alemão que transitou muito entre os campos 
sociais e a necessidade de pesquisa. Sua contribuição deu-se por seus trabalhos 
com dinâmicas de grupo, fortalecendo o olhar da psicologia social como ciência, e 
desenvolvendo o conceito de pesquisa-ação. Dedicando-se a áreas de processos 
sociais, motivação e personalidade. 
Para a Gestalt-terapia, sua enorme influência parte do conceito denominado 
de Teoria de Campo. Para ele, é necessário entender a personalidade como um 
campo, onde as variações individuais do comportamento humano são estabelecidas 
pela tensão entre as percepções que o indivíduo tem de si mesmo e pelo ambiente 
psicológico em que está inserido (espaço vital). 
Não podemos falar dos pressupostos e da origem da Gestalt-terapia sem 
falar da necessidade de usar a criatividade dentro do setting terapêutico. Somente 
quando há ligação clara entre o cliente e o terapeuta é que se consegue a 
transformação e a mudança do cliente. Mas este contato só vai se tornar um ato 
criativo se tiver fluência e um sentimento mútuo de transformação. 
Zinker (2007, p. 17) afirma que “a terapia criativa é um encontro, um 
processo de crescimento, em evento para a solução de problemas, uma forma 
especial de aprendizagem e uma exploração de toda a diversidade de nossas 
aspirações de metamorfose e ascendência.” 
Para a Gestalt-terapeutas o profissional é o maior bem que o cliente poderá 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
11 
usufruir como canal, ferramenta e troca. Para isso, o próprio terapeuta precisará 
buscar a ousadia e a criatividade em sua prática diária, por meio dos experimentos, 
mas sempre baseados em sua concepção teórica. 
“A Gestalt-terapia é, na realidade, uma permissão para ser criativo” 
(ZINKER, 2007, p. 30). O método escolhido reforça esta ideia, que é o experimento. 
Permitir que se abram diante do terapeuta todas as possibilidades de trabalho, 
permitir tornar-se exuberante, provocando a vida em suas diversas facetas, são 
posturas essenciais de um Gestalt-terapeuta, buscando sempre ousar ao inusitado, 
e estimular a criatividade. 
 
 
2 FREDERICK PERLS E SUCESSORES 
 
 
Como foi visto no item 1 do módulo, a Gestalt-terapia é uma abordagem 
psicológica que sofreu influências de vários teóricos e ideologias diferentes. Perls, 
seu fundador, utilizou-se de um vasto arcabouço teórico, métodos, técnicas, porém, 
reformulando estas ideias em um estilo pessoal. Tanto Perls como seus sucessores 
sempre atribuíram grande atenção e valor ao estilo e à criatividade decada 
terapêutico. 
Sua forma de construir e apresentar esta nova abordagem psicológica 
reforça esta ideia. Esta síntese específica e coerente que foi costurada em cima da 
máxima de que “o todo é bem diferente da soma de suas partes”, é uma criação 
baseada nas intuições geniais e nas crises pessoais de seu principal fundador, Fritz 
Perls (um “enfant terrible”). 
A vida de Frederick Perls costuma ser um misto de ousadia, arrogância, 
impulsividade e autenticidade. É muito comum que seus discípulos e profissionais da 
Gestalt-terapia tenham, ao mesmo tempo, os sentimentos antagônicos de orgulho e 
vergonha de seu “mentor”. 
Sua vida extremamente controversa não esconde seu caráter egoísta, 
narcisista e avarento, mas seu poder de sedução e seu exibicionismo encantavam e 
mantinham as pessoas ao seu redor. Seus papéis familiares de filho, marido e pai 
foram exercidos de forma egocêntrica e indigna. Fritz costuma repetir com orgulho a 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
12 
definição que sua mulher tinha dele, “uma mistura de profeta e coitado”, achando-a 
perfeita e exata. Teve vários vícios em sua vida, como os três maços de Camel, LSD 
e outras drogas psicodélicas. Por toda a sua vida, Friz manteve um fascínio por 
grupos marginalizados. 
A Gestalt-terapia foi marcada por uma hostilidade contra os interesses e a 
ordem burguesa. Por muitos anos, a quebra de padrões sociais, choques de valores 
e rebeldia (incluindo o uso de drogas e prazeres efêmeros) conduziram os atos tanto 
do homem Fritz quanto do pensador e articulador da abordagem da Gestalt-terapia. 
Não foi à toa que aos 75 anos de idade foi considerado o “rei dos hippies”. 
Friedrich Salomon Perls, nasceu em 8 de Julho de 1893 em um gueto judeu 
no subúrbio de Berlim. Seu pai, Nathan, era um comerciante charmoso e sedutor 
que viajava muito e era muito infiel. De seu pai Fritz herda seu temperamento 
irritadiço, violento e orgulhoso. Sua mãe, Amália, era uma judia devota que 
respeitava as tradições. A partir da paixão de sua mãe pelo teatro e pela ópera, Fritz 
descobre esses encantos que carrega por toda a sua vida. O casal viveu em 
constantes brigas, muitas vezes violentas, em um clima quase que de ódio. 
Fritz tinha muito ciúmes de sua irmã mais velha, Else, que era protegida pela 
mãe por ser quase cega. Diz-se que ele não chorou uma lágrima quando sua mãe e 
Else morreram em um campo de concentração. Já de sua irmã Grete, ele era 
bastante próximo, inclusive morou com ele em Nova York. Durante dez anos de 
convivência, Grete serviu como empregada para Fritz e sua esposa. Do pai, Fritz, foi 
desenvolvendo uma raiva cada vez maior, cortando laços em definitivo e não indo ao 
seu enterro. Fritz passou a vida toda duvidando de sua paternidade. 
Durante sua infância ele foi um menino muito levado e apanhava 
constantemente. Chegou a ser expulso da escola por mal-comportamento. Aos treze 
anos começou a trabalhar como aprendiz em uma loja, abandonando no ano 
seguinte, quando voltou a estudar em uma escola liberal, onde desenvolveu seu 
gosto pelo teatro. Quando adolescente, fez vários cursos de artes dramáticas, mas 
não se considerava um bom ator. Sua influência maior foi do diretor expressionista 
Max Reinhardt que acreditava no envolvimento total do ator em seu papel. 
Nos primeiros quarenta anos de vida, Perls transitou por cidades na 
Alemanha e Áustria. Formou-se como psiquiatra e participou da Primeira Guerra 
Mundial, experiência que lhe conferiu graves sequelas dos traumas vividos, 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
13 
chegando a manifestar sinais de despersonalização e indiferença total pelo meio. 
Após a guerra, obteve doutorado em medicina, tornando-se um 
neuropsiquiatra. Ainda interessava-se por teatro, frequentando cafés esquerdistas 
de Berlim, onde se envolveu com artistas anarquistas da contracultura. Neste 
momento, ele se encontra com S. Friedlaender, autor de “A indiferença criadora” que 
era um ensaio que visava a superar o dualismo kantiano desenvolvendo o conceito 
de “vazio” ou “vazio fértil”. 
Aos 32 anos, Fritz ainda era um homem dependente e inseguro, morava 
com a mãe e era desprezado pelo pai. Quando conhece Lucy, sua vida sofre uma 
grande mudança e passa a buscar experiências mais ousadas e transgredir todos os 
tabus. Ela mostra-lhe uma série de práticas eróticas, como: sexo a dois, três, quatro, 
exibicionismo, voyerismo, homossexualidade, etc. 
Após três processos psicanalíticos consecutivos vividos como paciente, com 
Karen Horney, Clara Happel e Eugen Harnick, Fritz decide “trocar o divã 
psicanalítico pelo leito conjugal”, casando-se com Lore Postner, com quem teve dois 
filhos. Durante esta transição, ele sai de Berlim e instala-se em Frankfurt. Começa a 
trabalhar com Kurt Goldstein, utilizando a psicologia da Gestalt para sua pesquisa 
com distúrbios perceptivos em pessoas com problemas cerebrais. Lá conhece Lore 
Postner, ficando conhecida mais tarde como Laura Perls. 
Inicia o último processo terapêutico com Wilhelm Reich, quando foi 
notadamente inspirado por suas ideias sobre as couraças de caráter e a forma 
terapêutica ativa de tocar o corpo dos seus pacientes. Nesse período, estabeleceu-
se como psicanalista. 
Após superar o medo de ser estéril, em 1931, nasce Renate, a primeira filha 
de Perls. Sua relação com ela era muito íntima e amorosa até nascer Steve, seu 
segundo filho, depois de quatro anos. Mais tarde, sua ligação com os dois filhos vai 
se desligando e a negligência a ambos vai imperar. 
Aos quarenta anos foge da Alemanha nazista, por ser judeu, e vai para 
Amsterdã. De 1934 até 1946 instala-se como psiquiatra na África do Sul, levando 
uma vida burguesa, rica, luxuosa e mundana. Fundou o Instituto Sul-africano de 
Psicanálise e tanto ele, quanto Lore tinham muitos clientes. Ainda usava as normas 
rígidas da psicanálise, cinco sessões por semana de cinquenta minutos, sem 
contato físico, visual ou social. 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
14 
No Congresso Internacional de Psicanálise em Praga (1936), sofre várias 
decepções que o marcam pelo resto de sua vida. Primeiro, Freud, em seu encontro, 
quando foi apresentar seu trabalho e suas ideias, não demonstrou interesse e não 
teve a acolhida esperada. Segundo, durante o congresso, Reich quase não o 
reconhece, mesmo após mais de dois anos em sessões diárias como analisando, e 
também, não se interessa por nada que ele expõe. Terceiro, foi o pouco interesse e 
aceitação geral dos seus colegas psicanalistas quando aborda a importância da 
oralidade e das modalidades de ingestão do bebê. 
Em 1942, ele publica o livro: “Ego, fome e agressão”. Ao escrever este livro, 
ele passa a desenvolver suas teses, o que seria um esboço de várias noções futuras 
da Gestalt-terapia, tais como: importância do momento presente, do corpo, contato 
direto e autêntico entre paciente e terapeuta, uma abordagem “holística” do 
organismo, e as ideias de uma “terapia da concentração”, compreendendo técnicas 
de visualização de utilização da primeira pessoa do singular, responsabilidade dos 
sentimentos, concentração do corpo e das sensações e observações das 
hesitações. 
Suas ideias, que ficam cada vez mais fortes a partir deste primeiro livro, 
sofreram uma grande influência de Smuts, o principal responsável por sua ida para a 
África do Sul. Ele foi o fundador do holismo, que é uma teoria elaborada a partir das 
ideias de Darwin, Gergson e Einstein. Sua conceituação a respeito de holismo 
considera não só o próprio organismo como um todo coerente, mas um todo em 
interdependência estreita com seu meio e com o universo. 
Nos dez anos seguintes, de 1953 a 1963, Fritz fixa residênciaem Nova York 
e faz viagens por todos os Estados Unidos. Cada vez mais ele se interessava pela 
terapia em grupo, e na sua vida pessoal, continuava envolvendo-se com anarquistas 
e revoltados que alardeavam uma grande liberdade de costumes e praticavam 
abertamente a bissexualidade e o sexo grupal. 
Em 1950, é constituído o grupo dos sete: Isadore Fromm, Paul Goodman, 
Paul Weisz, Elliot Shapiro, Sylvester Eastman, Fritz e Laura Perls, mais tarde Halph 
Hefferlin, que poderia avalizar o grupo, por ser professor universitário, e facilitaria a 
publicação das suas teses. 
Em 1951, surge a obra coletiva “Gestalt Therapy”, e marca o início oficial da 
nova prática. Nesta época, encontra-se com Goodman, que se torna um dos 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
15 
pensadores da nova escola, a Gestalt-terapia. Outro encontro importante ocorreu 
com Isadore Fromm, estudante de Fenomenologia, que foi um dos pilares do célebre 
Instituto de Gestalt de Cleveland. 
Em 1952, junto com Laura cria o primeiro instituto de Gestalt-terapia e 
começa a divulgar pelos Estados Unidos o seu novo método. Esta fase marca a 
troca de conhecimentos entre vários terapeutas, tais como: Charlotte Selver 
inspirando-se na tomada de consciência sensorial do corpo; Moreno com quem 
praticou o psicodrama, principalmente o monodrama; Hon Hubbard que o iniciou na 
dialética ou cientologia. 
De 63 até 67 anos, instala-se na Flórida e vive um período triste e deprimido. 
Fica doente, com problemas cardíacos, solitário, sem amigos, e começa a sonhar 
com a aposentadoria. Pela primeira vez na vida, renuncia às atividades sexuais com 
medo de uma crise cardíaca. 
Em 1957, apaixona-se por Marty From, retoma o gosto pela vida, e chega a 
declarar que a considera a mulher mais importante de sua vida, voltando a promover 
alguns seminários na Califórnia. 
Nesta época, vivia a procura de experiências sempre novas, entregando-se 
às drogas psicodélicas e acreditando que a droga dava-lhe a “consciência cósmica”. 
Sua paixão dura pouco, pois Marty não suporta suas crises psicóticas, seu ciúme 
doentio e, após suas cirurgias de hemorroidas e próstata, acaba deixando-o por um 
amante mais jovem. 
Nos quatro anos seguintes, de 1959 a 1963, consegue renunciar às drogas e 
passa a vagar por Califórnia, Nova York, Israel e Japão. Em Israel, vive em uma 
comunidade de beatniks, onde ficou fascinado com o modo de vida dos artistas. No 
Japão, tem uma experiência dentro de um mosteiro zen, onde se frustrou por 
precisar se prostrar diante de uma estátua de Buda, comparando o zen budismo 
com a psicanálise. 
Aos 71 anos, ele fixa residência numa propriedade em Big Sur, cheia de 
fontes de águas quentes e sulfurosas, a qual batiza de Esalen. Neste local, que seria 
idealizado por Michael Murphy, para ser um Centro de Desenvolvimento do 
Potencial Humano, parecia mais um grande albergue. Após a ida de Perls para 
Esalen, onde passou a promover seminários de demonstração e formação 
profissional em Gestalt-terapia, torna-se célebre. 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
16 
Aos 75 anos, sua foto é exibida na capa da revista Life, intitulando-o “rei dos 
hippies”. Finalmente chegara seu momento de glória e reconhecimento. Os grupos 
que eram pequenos até então, passaram a ter centenas de pessoas, e seu “circo”, 
como ele próprio chamava, passando a ser considerada como demonstrações 
espetaculares, a maioria das vezes, envolvendo a técnica da “cadeira vazia”. 
Muitos especialistas passaram a frequentar e ir constantemente para Esalen, 
tais como, Gregory Bateson (“ecologia do espírito” e double blind), Alexandre Lowen 
(“bioenergética”), Eric Berne (análise transacional), John Lilly (caixa de isolamento 
sensorial), Alan Watts (orientalismo), Stanislas Grof (psicologia transpessoal), John 
Grinder e Richard Bandler (programação neurolinguística), entre outros. 
Em 1969, publica as obras “Gestalt-therapy verbatim” e “In and out the 
garbage pail”. Fritz sonhava, nesta época, em inaugurar um Gestalt-kibutz, ou seja, 
uma comunidade onde se pudesse viver a Gestalt 24 horas por dia e onde ele 
pudesse se sentir realmente em casa. 
Em junho de 1969, ele funda, junto com trinta discípulos, uma comunidade 
em um antigo hotel de pescadores à beira do lago Cowichan, na ilha de Vancouver. 
Todos participavam de sessões de terapia e/ou formação, trabalhos coletivos, mas 
deixava claro que o mestre era ele, Fritz Perls. Chegou a declarar que pela primeira 
vez na vida estava feliz e não precisava brigar com ninguém. 
Em 14 de março de 1970, aos 77 anos, morre de infarto no miocárdio, Fritz 
Perls, o principal criador e porta-voz da Gestalt-terapia, mesmo que não tenha sido 
um exímio teórico. Após a autópsia foi revelado que havia, também, um câncer de 
pâncreas. Sua morte foi tão controversa quanto sua vida, havendo, a partir daí, uma 
ruptura em duas posições, os que acreditavam, como Paulo Goodman, que Perls 
havia “traído a Gestalt” e os seus efetivos seguidores. 
Podemos dizer que há uma segunda geração de Gestalt-terapeutas, com os 
profissionais, Isadore From, Joseph Zinker, Ervin e Miriam polster, etc. 
Isadore From foi um psicólogo da primeira geração de Gestalt-terapeutas. 
Faleceu aos 75 anos, em Nova York. Foi considerado um clínico extremamente 
talentoso, homem brilhante, íntegro, preciso e muito espirituoso. Era meticuloso e 
lúcido, embora fosse perfeitamente capaz de navegar em uma expedição nova e 
intuitiva se a situação o tocasse a tal ponto. Como um bom pesquisador 
experimental, ele considerava seus palpites como hipóteses provisórias, abertas 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
17 
para serem confirmadas ou refutadas. Não deixou muita contribuição escrita de seus 
pensamentos e experiências. Temos apenas acesso a algumas transcrições de 
entrevistas. 
Desde a década de 1950, ele participava do seleto círculo que se reunia no 
apartamento de Fritz e Laura em Manhattan. Também foi analisado, primeiro por 
Fritz Perls, depois por Laura. Seus primeiros estudos foram na área da filosofia, 
especificamente com a fenomenologia, o que contribuiu em muito para sua prática 
em Gestalt-terapia. Por mais de três décadas, ele praticou e ensinou a Gestalt-
terapia em Nova York. Ele também viajou regularmente, tanto nos Estados Unidos 
quanto na Europa, especialmente na Alemanha e na Itália, para ações de formação 
e grupos de supervisão. 
Sua história seguiu no rumo de dar uma direção para a Gestalt-terapia. Ele 
acreditava que as mudanças eram feitas em pequenos passos, permitindo que os 
pacientes pudessem assimilá-las mais facilmente. Porém, essas pequenas 
mudanças podem fazer diferença significativa: quando você faz uma pequena 
mudança na configuração de uma Gestalt estabelecida, o resultado é uma nova 
configuração. A melhor fonte de suas inspirações, entretanto, foi em grande parte o 
que é imediatamente dado e, portanto, facilmente esquecido - o óbvio, por assim 
dizer. Quando ensinava ou fazia demonstrações, Isadore mostrava aos alunos como 
eles próprios deveriam fazer. Sempre com muita paciência demonstrava suas 
observações e conclusões, passo a passo, sem ter interesses em obscuridades ou 
mistificações. 
Isadore permaneceu purista sobre a Gestalt-terapia, e neste contexto, um 
conservador. Talvez, tenha se tornado demasiadamente inflexível quanto aos 
benefícios da Gestalt-terapia em aceitar novas ideias. Seu crescente alarme, no 
entanto, veio de tendências dentro de Gestalt-terapia em si: Ele estava perturbado 
que os ensinamentos passados por Perls e com a possibilidade de que estes fossem 
confundidos com experiências de conversão. 
O casal Miriam e Ervin Polster contribuiucom o clássico livro “Gestalt-terapia 
Integrada” na década de 70, além de iniciarem um centro de treinamento em La 
Jolla. Ambos têm um papel ativo na Gestalt-terapia quase desde o início. 
Trabalharam diretamente com Perls e Laura e fizeram terapia com Isadore From. 
Tiveram uma ativa atuação no Instituto Gestalt de Cleveland por quase vinte anos. 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
18 
Depois se mudaram para Califórnia, onde se estabeleceu o Gestalt Training 
Center de San Diego. Também realizaram oficinas de formação e seminários para 
várias intuições em todo o país e fora dele. Erving tem um estilo efusivo e 
irreverente, além da capacidade de transmitir fascínio e entusiasmo. Apresenta uma 
habilidade em transformar ideias velhas em experiências inéditas. 
Miriam faleceu em 19 de dezembro de 2001 de câncer. Ela tinha um jeito 
delicado e envolvente muito evidente em seu contato humano, e se comunica de 
forma clara e precisa. Juntos ou separados, o casal, sem dúvida, contribuiu muito 
para ampliar as fronteiras da Gestalt-terapia. 
Joseph Chaim Zinker é mestre em psicoterapia e cofundador do Instituto 
Gestalt, Wellfleet, Massachusetts. Ele treinou com Fritz durante a década de 1960 e 
tem mais de três décadas de experiência e desenvolvimento da Gestalt-terapia. 
Zinker publicou diversos livros, tais como: “Motivação e a escassez de Morrer”, 
“Processo Criativo em Gestalt-terapia”, “A busca da elegância em psicoterapia” e 
“Sketches: uma antologia de ensaios, Arte e Poesia”. Também contribuiu em várias 
revistas participando do conselho editorial, tais como: “Vozes”, “The Gestalt Journal”, 
“Gestalt Review” e “Jornal da terapia de casal”. Atualmente, participa de vários 
institutos internacionais de Gestalt-terapia em todo o mundo, incluindo o Gestalt 
International Study Center e o Centro para o Estudo de Sistemas de Sexo em 
Massachusetts. 
Um dos conceitos que Zinker aborda constantemente em seu trabalho é a 
criatividade. Para ele, criatividade é um atributo essencial e básico para a vida das 
pessoas, e também um fator de transformação para o processo psicoterapêutico. 
Para ele, criatividade engloba os níveis abstratos e concretos, quer dizer, não basta 
apenas criar intelectualmente algo, é necessário que se realize efetivamente esta 
experiência. É necessário com isso, que tal experiência criativa seja compartilhada 
com os semelhantes. Com esta visão, o consultório passa a ser um terreno 
experiencial, pois o cliente por meio da sua liberdade investiga sua natureza interior. 
Este contato cliente-terapeuta poderá abrir um canal criativo para ambos que trará 
uma profunda capacidade de transformação, crescimento e integração. 
 
3 INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS 
 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
19 
 
A Gestalt-terapia sofreu influência da filosofia por meio do existencialismo e 
da fenomenologia. Para entender um pouco esta diferença é necessário que se 
enxergue a fenomenologia como um método e o existencialismo como uma filosofia. 
Podemos dizer que a Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica e 
existencialista. 
Embora Fritz pouco tenha desenvolvido e estabelecido as correlações das 
influências filosóficas sobre a Gestalt-terapia, atualmente, é quase uma “obrigação” 
de seus sucessores resgatarem esta importância que é ampla e inegável. Muito da 
Gestalt-terapia de Fritz foi criada a partir de sua prática, agora é necessário que se 
retome criticamente as bases filosóficas da Gestalt-terapia. Para, então, dar uma 
nova e consistente consciência teórica a nossa prática e nossos projetos. 
Em relação à fenomenologia, é necessário que haja um predomínio da 
experiência imediata, do fenômeno, ou seja, de algo que emerge em um 
determinado momento. Esta vivência deverá se apresentar da forma como é 
percebida ou sentida corporalmente, dentro do aqui-agora. O que é essencial é a 
vivência imediata. Como método, é mais importante descrever do que explicar, ou 
seja, o como precede o porquê. Os sentidos atribuídos à percepção dos eventos do 
mundo são atribuídos aos fatores irracionais e são diferentes em cada um de nós. 
Dizer que a Gestalt-terapia é fenomenológica implica em um processo em 
que a pessoa experiência o fenômeno de forma particular e única. Junto a este 
conceito está o fato de que apenas no aqui-agora tal fato será possível, oferecendo 
a esses fenômenos pessoais o existencial imediato. A sensação confere o primeiro 
nível experiencial do aqui-agora, porém manter este contato sensorial nem sempre é 
uma tarefa fácil. Dentro da concepção temporal, podemos dizer que, para a Gestalt-
terapia, a realidade só existe no presente. Neste presente podemos incluir também 
as lembranças que são reencenadas, trazidas de volta para o presente e revividas 
concretamente. O espaço em que a pessoa vive a experiência fica limitado ao aqui, 
ou seja, o espaço que ocupa e pela amplitude dos sentidos. Podemos concluir que 
“o aqui-agora representa uma experiência de caráter altamente pessoal, 
sensorialmente ancorada neste momento de tempo, no local em que me encontro” 
(ZINKER, 2007, p. 101). 
Dentro deste contexto, a experiência precisa ser entendida como algo 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
20 
contínuo, fluído e dinâmico, sempre focalizando o processo em andamento que a 
pessoa está se colocando. Nunca será priorizada a interpretação do fenômeno, mas 
sim, um estudo da natureza processual e mutável da experiência humana. 
Analisando por este prisma, a pessoa passa a ser a única autora de suas próprias 
experiências, se responsabilizando por sua realidade, encarando-a como uma 
experiência solitária e única, ou seja, apenas a própria pessoa poderá dar conta e 
experienciar a sua vida interior. Assim como, a própria validade da experiência é 
também única e inquestionável. 
Edmund Husserl (1859 - 1938) é considerado o pai da fenomenologia. Ele foi 
matemático, filósofo austríaco e aluno de Franz Bretano, de quem sofreu grande 
influência. Para respeitar a linha temporal da construção do conhecimento 
apresentarei as ideias de Bretano e depois de Husserl, em seguida, Scheler que 
pode ser considerado um filósofo fenomenologista e por último Merleau-Ponty. 
Bretano (1838 - 1917) foi precursor da fenomenologia. Diferente do 
empirismo inglês que observava vários fatos generalizando o que havia em comum, 
Bretano acreditava em um empirismo que buscava ver o que há de essencial em um 
“único caso”. Isto levará para a ideia da essência do fenômeno. Ele propõe uma 
psicologia descritiva, enfatizando o como e não o por quê. Esta ideia é bastante forte 
na Gestalt-terapia até hoje. Este pensamento ressalta a necessidade de se valorizar 
o processo associado à psicologia do ato, em oposição ao estruturalismo que 
evidenciava a psicologia dos conteúdos. A psicologia deveria estudar os processos 
mentais ou psíquicos da pessoa e não os conteúdos ou objetos físicos. Bretano trata 
da intencionalidade dos fenômenos psíquicos, num prenúncio da fenomenologia, 
desenvolvida por Husserl. A consciência não é um recipiente, mas um farol. 
Husserl vivia em um mundo onde a filosofia se volta para as ciências 
positivas (matemática, física, etc.) e a psicologia tentava ser uma ciência exata 
adotando o mesmo método das ciências naturais e abandonando a subjetividade e a 
intuição. 
Husserl não acreditava no movimento empirista de que todo o conhecimento 
advém da prática. Esta máxima fugia ao imediatismo da situação presente e entra 
no campo da abstração, uma vez que é impossível inferir cada conhecimento e sua 
prática originária. Também, não concordava com o psicologismo do final do século 
XIX, onde se reduzia tudo o que se conhecia aum fenômeno natural. Não se 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
21 
explicava o próprio conceito das coisas, apenas o ato de se conhecer os objetos por 
meio dos mecanismos fisiológicos. 
Partindo dessas oposições e do pressuposto de que o objeto de estudo da 
psicologia é diferente das outras ciências, uma vez que a vida psíquica apresenta 
um dado imediato que podemos ter acesso por meio da descrição, ele propõe que a 
Fenomenologia reúna os dados da experiência em sua totalidade (fenômeno) e o 
pensamento racional (logos). 
Ele faz da fenomenologia um método que busca a verdade partindo do 
questionamento: “como podemos perceber a verdade?” Quando tentou responder a 
esta pergunta, ele percebeu que antes de perceber a verdade, ele se deparou com a 
capacidade de perceber algo, ou seja, o ato mais originário é o ato de perceber algo 
que é percebido. Se o ato de perceber depende do percebido, o ato de pensar 
depende do pensando. Então, ele concluiu que a consciência é sempre “de alguma 
coisa”, sendo necessário um objeto e um foco. Quando percebe que esta 
consciência tem em vista algo, ele define que há uma intencionalidade de algo ou 
uma consciência intencional. 
O fato de que na Gestalt-terapia não há uma atitude interpretativa vem da 
compreensão fenomenológica de que os fenômenos são dados pelos nossos 
sentidos, e que estes são dotados por um sentido ou essência, uma espécie de 
“retorno às coisas mesmas”. É importante entender a necessidade de uma intuição 
originária que poderá ser revelada na busca do sentido do fenômeno pelo próprio 
cliente, por meio da identificação e integração das partes alienadas. 
Um dos fortes conceitos da Gestalt-terapia é que o aqui-agora estabelece 
suas raízes no método fenomenológico, afinal esta estrutura de “perceber o 
percebido” acontece impreterivelmente no presente, no aqui-agora. O fenômeno só 
acontece no agora. 
Outra influência grande na Gestalt-terapia de seus conceitos teóricos é a 
relação cliente-terapeuta. Baseado no fato de que a mesma estrutura 
perceber/percebido não é divisível, podemos entender que o observador/observado 
também não é, ou seja, tanto o terapeuta que “observa” quanto o cliente que é 
“observado” faz parte de uma mesma unidade. Caminhando mais um pouco dentro 
desta relação dialógica, percebemos que as duas partes (observador/observado) 
interagem e interferem neste campo. Quando paramos para descrever o observado, 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
22 
na verdade, descrevemos a nossa relação com o observado, enfim, descrevemos 
parte de nós mesmos. 
Em relação à visão de mundo, para a Gestalt-terapia as pessoas se 
constituem nas relações que criam em suas vidas. A fenomenologia, por sua vez, 
também compartilha a ideia de que o sentido das coisas não está em si, mas 
sobressai em cada relação observador/observado. É preciso entender como cada 
indivíduo vê o mundo. Afinal, o “eu inteiro” influencio e sou influenciado pelo 
contexto como um todo. 
Max Scheler (1874 - 1928) foi um filósofo alemão que ficou conhecido por 
seu trabalho sobre fenomenologia, ética e antropologia filosófica. Scheler 
desenvolveu o método fenomenológico de Husserl, chegou a conhecê-lo na 
Universidade de Viena, mas não foi seu aluno. Scheler acreditava que a 
fenomenologia não era o nome de uma nova ciência, nem uma palavra de 
substituição para filosofia, mas uma postura espiritual. 
O centro do pensamento de Scheler era a sua teoria do valor. De acordo 
com Scheler, o ser-valor de um objeto precede a percepção. Os valores e seus 
correspondentes opostos existem em uma ordem objetiva. Sua obra mais importante 
foi publicada em 1923, e intitulou-se “Essência e Forma da Simpatia”. Desenvolve o 
conceito referente a uma fenomenologia da afetividade na qual é a intuição 
emocional e a simpatia que permitem o contato profundo. 
Ao longo de sua vida, Scheler apresentou diversas posturas e ideias 
contrárias, até adotar uma doutrina claramente modernista e gnóstica no final de sua 
vida. A relação do homem com o divino sofre uma reviravolta: o ser primeiro 
interioriza-se no homem no mesmo ato em que o homem se interioriza nele. O lugar, 
portanto, da autorrealização do ser, ou seja, da unidade de impulso e espírito vem a 
ser o homem, o eu, o coração do homem. Homem e Deus são correlativos: o homem 
não pode realizar o seu destino sem participar dos dois atributos do ente supremo e 
sem ser imanente a ele. Em 1954, Karol Wojtyla, posteriormente Papa João Paulo II, 
defendeu sua tese sobre "Uma avaliação da possibilidade de construir uma Ética 
Cristã baseada do sistema de Max Scheler". 
Maurice Merleau-Ponty (1908 - 1961), um psicólogo, antropólogo e filósofo 
francês, tem como tema fundamental de seu trabalho a relação entre o homem e o 
mundo. Afirma que a consciência é sempre um eu consagrado ao mundo. Vê o 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
23 
mundo e o homem como sempre ‘abertos’, ‘inacabados’ em seu significado, dotados 
de ambiguidade e reenviando sempre para além de suas manifestações 
determinadas. Valoriza a experiência vivida e a percepção corporal imediata. Busca 
eliminar a interpretação causal da relação entre corpo e alma. Publicou, em 1945, a 
obra “Fenomenologia da Percepção”. 
O existencialismo proporcionou maior concretude à metodologia 
fenomenológica por meio de sua aplicação às questões da existência humana. Do 
existencialismo, a Gestalt-terapia herdou a valorização das questões comuns e 
cotidianas da vida dentro de uma nova perspectiva terapêutica, envolvendo aspectos 
como: nascimento, morte, violência, etc. 
Esta visão enfatiza a vivência concreta do indivíduo em prol dos princípios 
abstratos, ou seja, a forma como o homem experimenta sua existência, a assume, a 
orienta e a dirige. É necessário que haja uma autocompreensão do processo de 
viver, de existir, sem se prender a questões filosóficas ou teóricas. 
O existencialismo definiu novas visões de autoridade, confiança, experiência 
participante e responsabilidade. Todas essas concepções mudam o foco da 
psicoterapia para o crescimento pessoal e não apenas para o lado patológico do 
cliente. Tudo isso, em função da valorização da singularidade de cada existência 
humana e da necessidade da originalidade irredutível da experiência individual, 
objetiva ou subjetiva. 
Outro ponto importante dentro do existencialismo e muito utilizado na prática 
da Gestalt-terapia, é a noção da responsabilidade. Cada pessoa deverá se 
responsabilizar por suas escolhas e participar ativamente da construção de sua 
própria vida. Estas ações podem ser unidas numa visão referente ao projeto 
existencial de cada indivíduo. Este projeto deverá conferir um sentido próprio e único 
a tudo que acontece no aspecto interno deste sujeito e também no mundo que o 
rodeia, criando, impreterivelmente, a cada dia, sua relativa liberdade. 
O primeiro autor que se destacou como um precursor do existencialismo foi 
o filósofo cristão, dinamarquês, Soren Kierkegard (1813 - 1855). Muitos o 
consideram como o “pai do existencialismo”. Kierkegard desenvolveu suas ideias a 
partir de sua existência pessoal, atribuindo grande valor à subjetividade e à 
contradição e rejeitando qualquer sistematização e superenfatizando a existência 
pessoal. “Quanto mais eu penso, menos sou, e quanto menos eu penso, mais eu 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
24 
sou”. Isto se revela na Gestalt-terapia em sua negligência à objetividade, à 
existência coletiva e à necessidade de teorização sistemática. 
Martin Buber (1878 - 1965) foi um filósofo judeu que desenvolveu a categoria 
do diálogo. Ele pregava a necessidade de um encontro autêntico,a relação direta e 
fraterna como uma atitude integradora entre a vivência e a reflexão. A atitude Eu-Tu 
é caracterizada pelo envolvimento, reciprocidade, imediatismo, presença e 
responsabilidade; a atitude Eu-Isso é caracterizada pela separação, ou 
distanciamento, necessários para a produção teórico-científica. 
A Gestalt-terapia como uma psicoterapia baseada no encontro existencial 
seria dotada de dois movimentos: relação (Eu-Tu) e distanciamento (Eu-Isso), sem 
os quais não se caracteriza como tal, uma vivência da teoria e uma teorização da 
vivência. Em 1923, Buber publicou o livro: “Eu e Tu”. 
Martin Heidegger (1889 - 1976), filósofo alemão, desenvolveu a concepção 
da análise existencial do “ser aí” ou “dasein”. Sem dúvida, foi um dos maiores 
pensadores do século XX, quer pela visão do “ser”, quer pela refundação da 
ontologia. Heidegger influenciou muitos outros filósofos, tal como, Sartre, e foi muito 
influenciado por Husserl. Foi assistente de Husserl em Freiburg e depois professor 
na Universidade de Marburg. 
Em 1927, Heidegger publicou o seu mais famoso trabalho “Ser e Tempo”. 
Ele considerava seu método fenomenológico e hermenêutico, porém, Husserl não 
concordava e acabaram rompendo laços. 
O trabalho hermenêutico tem como objetivo interpretar o que se mostra 
pondo à luz, o que se manifesta, mas que, no início e na maioria das vezes, não se 
deixa ver. Heidegger afirma que esta metodologia corresponde a um modelo 
kantiano, ou coperniciano da colocação ou projeção da perspectiva. 
Até o final da década de 1930, a leitura da filosofia de Heidegger estrutura-
se sobre conceitos como Dasein (o ser-aí ou o ser-no-mundo), morte ou finitude do 
ser, valorização da angústia ou decisão por meio da dúvida existencial. Suas 
categorias básicas seriam o entendimento, pouco valorizado pela Gestalt-terapia; o 
sentimento (enfatizado pela mesma) e a linguagem (destacada por Fritz, mas pouco 
enfatizada pela Gestalt-terapia). 
Jean Paul Sartre (1905 - 1980) foi um grande nome do existencialismo, mas 
foi pouco referenciado por Fritz. Dentro da Gestalt-terapia, poderíamos nos referir a 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
25 
sua noção de “projeto” (o homem como próprio construtor de sua essência) e de 
“responsabilidade” (habilidade de resposta), ou seja, responsabilidade pela escolha 
de seu próprio projeto, de sua parte da liberdade. 
 
 
4 HOLISMO E VISÃO SISTÊMICA 
 
 
Holismo foi um termo adotado por Jan Smuts no seu livro “Holism and 
Evolution” de 1926. Ele definiu esta ideia como "A tendência da Natureza a formar, 
através de evolução criativa, ‘todos’ que são maiores do que a soma de suas 
partes". Desde Aristóteles, podemos ver as raízes desta ideia, quando em sua 
metafísica ele afirma: “o inteiro é mais do que a simples soma de suas partes”. 
Embora antiga essa concepção só tomou força a partir da década de 1980 
quando passou a ser empregada para tentar explicar um novo paradigma que 
deveria ser utilizado com o objetivo de minimizar os diversos distúrbios causados 
pelo homem na natureza. Por isso, o holismo é frequentemente associado a 
discursos ambientalistas. 
Este conceito traz uma visão de mundo integrado, como um organismo. Esta 
nova visão baseia-se na inter-relação e interdependência entre todos os fenômenos, 
sejam eles físicos, biológicos, psicológicos, sociais ou culturais. Esta proposta prevê 
uma formulação gradual de uma rede de conceitos e modelos interligados, além de 
se contrapor ao modelo mecanicista e reducionista ainda dominante na biologia e na 
medicina. 
Desde o século XVII, principalmente com as ideias de Descartes e Newton, 
o homem vem sendo comparado a uma máquina, concentrando nas propriedades 
mecânicas da matéria viva e negligenciando o estudo sistêmico da natureza do 
organismo. A descrição reducionista foi vantajosa para desenvolver um caráter 
evolutivo, e ainda é, em alguns casos, útil e necessária, porém torna-se perigosa 
quando é interpretada como uma explicação completa. 
Atualmente, a biologia traz um paradigma chamado “biologia de sistemas”, o 
qual vê o organismo como um sistema vivo e não como uma máquina. Os sistemas 
são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às de 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
26 
unidades menores. A abordagem sistêmica enfatiza os princípios básicos de 
organização. 
O pensamento sistêmico é um pensamento de processo. Na ciência 
sistêmica, toda estrutura é vista como a manifestação de processos subjacentes. 
Esta visão carrega a primeira grande diferença entre o homem e a máquina. Afinal, 
máquinas são construídas e os organismos se desenvolvem. 
Outra ideia que podemos trazer é o alto grau de flexibilidade e plasticidade 
encontradas nos organismos. Os organismos variam sua estrutura dentro de um 
limite. Este fenômeno de automanutenção é chamado de flutuação ou homeostase, 
que é um estado de equilíbrio dinâmico, transacional. Não há, portanto, dois 
organismos que sejam rigorosamente idênticos, muito diferentes das máquinas que 
funcionam de acordo com cadeias lineares de causa e efeito. O funcionamento do 
organismo é guiado por modelos cíclicos de fluxo de informação, conhecidos por 
laços de realimentação. Quando um sistema é afetado, esta é usualmente causada 
por múltiplos fatores. 
Todas estas comparações entre organismos e máquinas originaram, mais 
tarde, as principais realizações da cibernética, que tinha como intenção, desde o 
início, criar uma ciência exata da mente. A cibernética sofreu influência da biologia 
organísmica e da teoria geral dos sistemas, mas logo se tornou independente, 
configurando um poderoso movimento intelectual. Nunca esquecendo a interação 
entre a biologia, matemática e engenharia. 
Uma das grandes diferenças entre as máquinas de Descartes e a 
cibernética, é que esta última prevê o conceito de realimentação em seu 
funcionamento, que passou a significar o transporte de informações presentes nas 
proximidades do resultado de qualquer processo, depois, de volta até sua fonte. Um 
padrão lógico subjacente à concepção de alimentação é a ideia de causalidade 
circular. Por outro lado, o entusiasmo entre os cientistas e o público em geral, pelo 
computador como uma metáfora para o cérebro humano tem um paralelo 
interessante no entusiasmo de Descartes e de seus contemporâneos pelo relógio 
como uma metáfora para o corpo. 
Um organismo vivo é um sistema auto-organizador, o que significa dizer que 
tem certo grau de autonomia. Sua ordem e estrutura são determinadas pelo próprio 
sistema, e não pelo meio. Porém, não significa dizer que os sistemas estejam 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
27 
isolados do seu meio. Os sistemas interagem continuamente com o meio, mas estes 
não determinam sua organização. Os sistemas vivos são sistemas abertos, o que 
significa que é preciso manter uma contínua troca de energia e matéria com o meio 
ambiente, a fim de permanecerem vivos. Os sistemas auto-organizadores têm um 
alto grau de estabilidade, porém, é uma estabilidade dinâmica, diferente da ideia de 
equilíbrio, pois é necessário manter uma estrutura global apesar de mudanças e 
substituições de suas partes. 
Os dois principais fenômenos dinâmicos da auto-organização são: a 
autorrenovação e a autotranscendência. O primeiro, fala da capacidade dos 
sistemas vivos de renovar e reciclar continuamente seus componentes. Diferente 
das máquinas que são construídas para produzir um produto específico ou executar 
uma tarefa, o organismo se renova o tempo todo. 
O segundo, da capacidade de se dirigir criativamente para além das 
fronteiras físicas e mentais nos processos de aprendizagem,desenvolvimento e 
evolução. Os organismos apresentam uma complementaridade no seu 
funcionamento com tendências autoafirmativas e integrativas. 
Além disso, temos uma tendência fantástica dos organismos de se 
superarem. Essa superação criativa em busca da novidade leva a um 
desdobramento ordenado de complexidade e pode ser visto como uma propriedade 
fundamental da vida. Associando esta realidade com o processo terapêutico, 
podemos dizer que só poderemos ajudar o nosso cliente em seu processo de 
mudança, quando conseguirmos inserir a novidade e o interesse em sua terapia. 
É bastante difícil definir precisamente as fronteiras entre o organismo e o 
meio. Existem organismos que só podem ser considerados vivos quando estão num 
certo ambiente, como é o caso dos vírus. Por outro lado, temos exemplos de 
organismos que se integram harmoniosamente em seu meio ambiente, convertendo-
os em ecossistemas capazes de sustentar uma grande diversidade de animais e 
plantas, como é o caso dos corais. 
Os ecossistemas tendem a ter uma convivência em que combinam 
competição e dependência, este balanço propicia um crescimento exponencial de 
sua população. As relações entre os organismos vivos são essencialmente 
cooperativas, caracterizadas pela coexistência e a interdependência, e simbióticas 
em vários graus, a fim de manter o equilíbrio. Mesmo a relação predador-presa, 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
28 
embora seja destrutiva para a presa imediata, são geralmente benéficas para ambas 
as espécies. 
Há uma tendência dos sistemas vivos de se estruturarem por meio de 
múltiplos níveis, que diferem em sua complexidade. Isto pode ser visto como um 
princípio básico de auto-organização. Em cada nível de complexidade encontramos 
sistemas integrados, todos auto-organizadores, que consistem em partes menores e 
atuam como partes de totalidades maiores. 
Em cada nível existe um equilíbrio dinâmico entre tendências autoafirmativas 
e integrativas. Podemos representar estes níveis por meio de uma “árvore 
sistêmica”. Estes sistemas estratificados evoluem muito mais rapidamente e têm 
uma probabilidade maior de sobrevivência do que os sistemas não estratificados. O 
aspecto importante da ordem estratificada na natureza não é a transferência de 
controle, mas a organização da complexidade. 
Outro ponto importante desta ordem é a questão da morte. A 
autorrenovação do sistema maior consiste no seu próprio ciclo de nascimento e 
morte, tornando-se aspectos importantes do próprio processo auto-organizador. 
Podemos dizer, que além da morte, outro ciclo importante para a evolução é o ciclo 
reprodutivo. Sem sexo não haveria diversidade, sem morte não haveria 
individualidade. 
Dentro deste conceito de sistemas estratificados, podemos concluir que o 
planeta, como um todo, pode ser considerado como um único organismo vivo. 
Considerar Gaia como um ser planetário vivo é uma ideia que transcende 
largamente o âmbito da ciência, e reflete uma profunda consciência ecológica, que 
é, em última instância, espiritual. 
Na teoria neodarwiniana clássica, a evolução avança para um estado de 
equilíbrio, com os organismos adaptando-se cada vez mais perfeitamente ao seu 
ambiente. De acordo com a visão sistêmica, a evolução opera longe do equilíbrio e 
desenrola-se por meio de uma interação de adaptação e criação. 
Também considera que o meio é, em si mesmo, um sistema de adaptação e 
evolução. O que sobrevive é o “organismo em seu meio ambiente”. Um organismo 
que pense unicamente em termos de sua própria sobrevivência destruirá 
invariavelmente seu meio ambiente. 
A evolução precisa ser entendida de forma aberta e indeterminada. Quando 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
29 
um sistema se aproxima do ponto crítico, ele mesmo “decide” que caminho seguir, o 
que determinará sua evolução. Na visão sistêmica, o processo evolutivo não é 
determinado pelo “acaso cego”, mas representa um desdobramento de ordem e 
complexidade que pode ser visto como um processo de aprendizagem, envolvendo 
autonomia e liberdade de escolha. 
Podemos dizer que duas etapas na evolução da vida aceleram o processo 
evolutivo. A primeira foi a reprodução sexual, com toda a sua variedade genética; e 
a segunda foi o surgimento da consciência. Este processo tornou possível substituir 
os mecanismos genéticos da evolução por mecanismos sociais, mais eficientes, 
baseados nos pensamentos conceituais e na linguagem simbólica. 
Quando entendemos que a mente e a matéria se aproximam, nos 
distanciamos da dicotomia cartesiana e podemos considerar que representam 
aspectos diferentes do mesmo processo universal. 
O cérebro humano é um sistema vivo por excelência e amolda-se em 
resposta às mudanças que surgem. A mente humana é capaz de criar um mundo 
interior que espelha a realidade exterior. Este domínio psicológico envolve certos 
números de fenômenos característicos da natureza humana que incluem a 
autoconsciência, a experiência consciente, o pensamento conceitual, a linguagem 
simbólica, os sonhos, a arte, a criação de cultura, senso de valores, interesse no 
passado remoto e preocupação com o futuro distante. 
Os mundos, interior e exterior, estão sempre interligados no funcionamento 
de um organismo humano. Os modelos de matéria espelham modelos da mente, 
coloridos por sentimentos e valores subjetivos. Nossas respostas ao meio ambiente 
são determinadas pelos estímulos externos, pelo sistema biológico, e também por 
nossas experiências passadas, expectativas, propósitos e a interpretação simbólica 
individual de nossa experiência perceptiva. 
 Moldamos nosso meio ambiente com muita eficácia porque somos capazes 
de representar o mundo exterior simbolicamente, pensar conceitualmente e 
comunicar nossos símbolos, conceitos e ideias, utilizando a linguagem abstrata, a 
pintura, a música, e outras formas de arte. 
Ao pensarmos e nos comunicarmos, tanto lidamos com o presente, como 
nos referimos ao passado e antevemos o futuro, o que nos dá um grau de 
autonomia muito superior às outras espécies. Os seres humanos possuem 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
30 
consciência, e estamos conscientes de nossas sensações tanto quanto de nós 
próprios como indivíduos pensantes e experientes. 
A concepção sistêmica da mente estende sua concepção para os sistemas 
sociais e ecológicos. Então, podemos dizer que grupos de pessoas, sociedade e 
culturas têm uma mente coletiva, unificando a concepção científica e mística. 
Considera que a matéria primária e a consciência são propriedades de complexos 
modelos materiais que surgem num certo estágio da evolução biológica. 
Para entender a natureza humana, precisamos estudar as manifestações 
sociais e culturais, além das físicas e psicológicas. A fim de se adaptar às mudanças 
da vida, a espécie humana usou a consciência, o pensamento conceitual e a 
linguagem simbólica de que dispõe para transferir-se da evolução genética para a 
evolução social, esta mais acelerada do que a primeira. 
A grande relação entre a teoria sistêmica e a Gestalt-terapia é a concepção 
de que o todo é maior do que a soma de suas partes. Quando analisamos os 
elementos de forma isolada, as propriedades sistêmicas do fenômeno são 
destruídas, embora seja possível discernir as partes individuais em qualquer 
sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. As 
propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser 
entendidas dentro do contexto do todo mais amplo. O pensamento sistêmico se 
apresenta de forma contextual. É importante analisarmos que o conceito parte todo 
fica muito relacionado com as concepções, reducionista e sistêmica,respectivamente. Porém, é mais importante entendermos que estas concepções 
deverão ser utilizadas para a compreensão mais aprofundada da vida. 
Reducionismo e holismo, análise e síntese devem ser vistos como enfoques 
complementares. Assim, fica claro que tanto a parte influencia o todo, quanto o todo 
às suas partes. 
A evolução da consciência no homem criou a potencialidade desta espécie 
de viver pacificamente e em harmonia com o mundo natural. A evolução continua a 
oferecer esta possibilidade de escolha ao homem, caberá a ele decidir qual caminho 
ele deverá seguir. Podemos deliberadamente alterar nosso comportamento 
mudando nossas atitudes e nossos valores, a fim de readquirirmos a espiritualidade 
e a consciência ecológica que perdemos. 
 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
31 
 
5 CONCEITO DE SAÚDE EM GESTALT-TERAPIA 
 
 
Kurt Goldstein foi um teórico que muito influenciou a Gestalt-terapia e seus 
estudos sobre os efeitos secundários das lesões cerebrais estabeleceram a base 
para o seu ponto de vista organísmico. Não temos como falar de saúde na Gestalt-
terapia sem explicar a visão do sintoma para esta abordagem. Goldstein foi o 
primeiro teórico que passou a ver o sintoma como uma forma adaptativa, portanto 
saudável, diferente do que se pensava, até então, que seria “um sinal” de que algo 
estaria errado e que deveria ser eliminado. 
Não podemos falar da organização primária do organismo de Goldstein sem 
entender que esta faz parte do processo de figura/fundo. Ou seja, figura é qualquer 
processo que emerge, que tem fronteira definida e destaca-se de um fundo a partir 
de uma necessidade do próprio organismo. O fundo é contínuo e se estende por trás 
da figura. Depois, novas figuras emergem como tarefas da mudança do organismo. 
Goldstein também salientou que existem três tipos de comportamento: os 
desempenhos, que são atividades voluntárias; as atitudes, organização emocional 
mais ampla incluindo os valores, os sentimentos, os estados de ânimo, etc.; e os 
processos, que são funções corporais que só podem ser experienciadas 
indiretamente. 
Ele também aborda a diferença entre o comportamento concreto e o 
comportamento abstrato. No primeiro, reagi-se a um estímulo de maneira automática 
ou direta, já no segundo, pensa-se antes de agir. Estes dois dependem de atitudes 
contrastantes em relação ao mundo. 
Os principais conceitos apresentados por Goldstein são: o processo de 
equalização, no qual aparece como a base para o conceito de ciclo de 
autorregulação; a autorrealização é o que dá sustentação ao potencial humano e o 
“chegar a um acordo” com o ambiente (ou mundo), afinal este ambiente se impõe ao 
organismo estabelecendo uma interação entre ambiente e organismo, necessária 
para que este lhe proporcione meios pelos quais a autorrealização possa ser obtida. 
O processo de equalização consiste em fazer com que o organismo volte 
para um estado “médio” de tensão depois que um estímulo muda o equilíbrio 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
32 
originário. Portanto, podemos dizer que a meta de uma pessoa normal não é 
simplesmente descarregar a tensão, mas equalizá-la, redistribuindo toda a energia 
necessária. 
A autorrealização traduz, na verdade, o único motivo que o organismo 
possui que é realizar-se, e representa a tendência criativa da natureza humana. A 
maneira como cada pessoa busca esta autorrealização varia muito conforme as 
potencialidades inatas de cada um. Estas potencialidades ou preferências dão forma 
aos fins e dirigem o desenvolvimento e o crescimento individuais. Este princípio 
orgânico torna o organismo mais desenvolvido e mais complexo. 
Com relação à interação organismo/ambiente podemos dizer que o ambiente 
perturba o organismo por meio de estímulos e, este, busca no próprio ambiente 
aquilo que necessita para equalizar o seu funcionamento normal. 
Porém, se a discrepância entre as metas do organismo e as realidades do 
ambiente for muito grande, o organismo entra em colapso, ou desiste de algumas 
metas e tenta realizar-se em um nível inferior de existência. 
Em conformidade com as ideias de Goldstein, Perls traz a concepção de que 
nenhum organismo é autossuficiente, e que necessita do mundo para satisfazer 
suas necessidades. Há uma interdependência do organismo e seu ambiente, dentro 
de uma realidade objetiva e uma realidade subjetiva. É a partir do mundo objetivo 
que o indivíduo cria seu mundo subjetivo. 
Partes do mundo objetivo são selecionadas de acordo com nossos 
interesses, limitadas apenas pelos instrumentos de percepções e por inibições 
sociais e neuróticas. A realidade que importa é a realidade dos interesses – a 
realidade interna e não a realidade externa. 
Relacionando estas ideias com o conceito de figura/fundo, podemos concluir 
que não percebemos a totalidade de nosso ambiente, mas ao mesmo tempo 
selecionamos objetos de acordo com nossos interesses, e estes objetos aparecem 
como figuras proeminentes contra um fundo “escuro”. 
O organismo e o mundo apresentam uma relação tão integrada que não 
podemos definir quem serve a quem; ou seja, as ações e reações que ocorrem no 
mundo e no organismo estão entrelaçadas, sem que haja uma relação de 
causalidade, ou uma simples resposta para uma pergunta. 
Em toda e qualquer investigação biológica, psicológica ou sociológica temos 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
33 
de partir da interação entre o organismo e seu ambiente. Podemos ir, além disso, 
quando percebemos que na verdade não apenas selecionamos nosso mundo, como 
podemos ser selecionados por outras pessoas como objetos de seus interesses. 
Toda esta realidade sugere uma organização maior, uma realidade coletiva, 
por meio de leis, compromissos, convenções, etc. Não podemos nos esquecer 
também da realidade imaginária, em que o homem cria um mundo adicional, cheio 
de projeções. Desse modo, em qualquer estudo de ciências do homem, incluindo a 
psicoterapia, temos de falar de um campo no qual interagem pelo menos fatores 
socioculturais, animais e físicos. 
Tudo isto comprova e denota uma interdependência muito forte e dinâmica 
que ocorre entre o organismo e o ambiente. Ampliando este conceito, podemos dizer 
que a própria psicologia estuda a operação da fronteira de contato no campo 
organismo/ambiente. Esta relação pode ser bem representada por meio do ciclo de 
contato sugerido por Perls, em que há uma compreensão de um dos fenômenos 
mais importantes, a autorregulação organísmica, muito diferente da regulação de 
instintos por princípios morais ou autocontrole. O princípio que governa nossas 
relações com o mundo externo é o mesmo princípio intraorgânico de busca de 
equilíbrio, que é a autorregulação. 
Entender a abordagem holística dentro da saúde também é um novo 
movimento de quebra de paradigmas, afinal nem todas as culturas tradicionais 
abordaram a saúde desta forma. Por meio dos tempos, as culturas têm oscilado 
entre o reducionismo e o holismo em suas práticas médicas. Enquanto o foco da 
medicina científica ocidental incide sobre os mecanismos biológicos e os processos 
fisiológicos que produzem a evidência da enfermidade, a principal preocupação do 
xamanismo está relacionada com o contexto sociocultural em que a enfermidade 
ocorre, obedecendo a um enfoque psicossomático e trabalhando com o inconsciente 
coletivo e social, compartilhado por toda a comunidade. 
No âmago da medicina hipocrática, a medicina devia ser exercida como uma 
disciplina científica. As doenças não são causadas por demônios ou forças 
sobrenaturais, mas são fenômenos naturais que podem ser estudados e 
influenciados por procedimentos terapêuticos e pela conduta de vidado indivíduo, 
incluindo a influência dos fatores ambientais (ar, água, alimentos, etc.). 
A tradição hipocrática, com sua ênfase na inter-relação fundamental de 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
34 
corpo, mente e meio ambiente, representa um ponto alto da filosofia médica 
ocidental. Estes princípios foram desenvolvidos na China antiga, muito influenciado 
pelo xamanismo, taoísmo e confucionismo. 
Para a medicina Chinesa, o universo inteiro, natural e social, encontra-se em 
estado de equilíbrio dinâmico, e o organismo humano é um microcosmo do universo. 
A doença é o resultado de um conjunto de causas que culminam em desarmonia e 
desequilíbrio. A finalidade da medicina chinesa é, antes, realizar a melhor adaptação 
possível do indivíduo ao meio ambiente como um todo. O paciente, para isso, 
desempenha um papel importante e ativo e é responsável pela manutenção da sua 
própria saúde. Embora o sistema chinês apresente esta concepção holística da 
saúde, ainda sim negligenciou o holismo no que se refere aos aspectos psicológicos 
e sociais da doença. 
Para entender esta complexidade holística que envolve a saúde, é 
necessária compreender o conceito de saúde. Saúde é um estado de bem-estar que 
se estabelece quando o organismo funciona de certa maneira, e que reflete uma teia 
de relações entre múltiplos aspectos do fenômeno da vida. A saúde é um fenômeno 
multidimensional, que envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais, todos 
interdependentes. 
Podemos então dizer que a saúde é uma experiência subjetiva. Baseado no 
novo paradigma da visão sistêmica a saúde é encarada como um processo 
contínuo, refletindo a resposta criativa do organismo aos desafios ambientais. 
Saúde, também pode ser entendida como um equilíbrio dinâmico que 
envolve os aspectos físicos, psicológicos e sociais do organismo, assim como suas 
interações com o meio ambiente natural e social. Este conceito de saúde é 
compatível com a concepção sistêmica de vida, com a tradição hipocrática e a 
tradição da medicina do leste asiático. 
A doença é, portanto, uma consequência de desequilíbrio e harmonia, e por 
outro lado, ser saudável significa estar em sintonia consigo mesmo – física e 
mentalmente – e com o mundo circundante. 
Como indivíduos, temos o poder e a responsabilidade de manter nosso 
organismo em equilíbrio, respeitando algumas regras de qualidade de sono, 
alimentação, exercícios e medicamentos. Atualmente, entendemos que a natureza 
psicossomática da doença subentende a possibilidade de autocura psicossomática. 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
35 
Como exemplo, podemos citar o fenômeno do biofeedback (vasta gama de 
processos físicos é influenciada pelos esforços mentais de uma pessoa). Algumas 
enfermidades graves exigirão um enfoque terapêutico que inclua além dos aspectos 
físicos e psicológicos, o estilo de vida e a visão de mundo do paciente. Tudo isso 
como parte integrante do processo de cura. 
Acredita-se que o estresse excessivo contribua para a origem e o 
desenvolvimento da maioria das doenças, manifestando-se no desequilíbrio inicial 
do organismo. 
O pensamento sistêmico é um pensamento ambientalista, ou melhor, a 
percepção ecológica profunda traz o novo paradigma da visão de mundo holística e 
reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, enquanto 
indivíduos e sociedade, e a interligação dos processos cíclicos da natureza. A nova 
ciência da ecologia enriqueceu a maneira sistêmica de pensar introduzindo duas 
novas concepções – comunidade e rede. 
Comunidade ecológica é um conjunto de organismos aglutinados em um 
todo funcional por meio das suas relações mútuas. A concepção de sistemas vivos 
como redes fornece uma nova perspectiva sobre as camadas hierárquicas da 
natureza. 
Devemos considerar que os sistemas vivos são redes, interagindo à maneira 
de rede com outros sistemas. A teia da vida consiste em redes dentro de redes. 
Para esta proposta não há separação entre seres humanos e meio ambiente natural, 
concebendo os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida, 
baseados nos valores ecocêntricos (centralizados na Terra). 
Podemos concluir que esta percepção ecológica profunda é uma percepção 
espiritual ou religiosa, fortalecida pelas sensações de pertinência, de conexidade 
com o cosmos como um todo. Esta mudança de paradigma exige uma expansão 
nas nossas percepções, maneiras de pensar, e, principalmente, nos valores. Para 
isso, é necessário que as tendências autoafirmativas e integrativas funcionem de 
forma equilibrada. 
A partir da visão sistêmica teremos que ter em mente que um grande desafio 
do nosso tempo é a criação de comunidades sustentáveis, ou seja, ambientes 
sociais e culturais que podem satisfazer as necessidades e aspirações sem diminuir 
as chances das gerações futuras. 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
36 
Em contrapartida, temos muitos trabalhos de corpo que podem ajudar a 
manter o equilíbrio. A terapia de trabalho de corpo baseia-se na crença de que todas 
as nossas atividades, pensamentos e sentimentos refletem-se no organismo físico, 
manifestando-se em nossa postura e movimentos, nas tensões e nos sinais 
corporais. Outro recurso é trabalhar padrões de respirações que refletem a dinâmica 
de todo o sistema corpo/mente. 
A Gestalt-terapia se destina a “curar” as patologias “comuns”, decorrentes da 
frustração de necessidades de nível inferior, além das metadoenças de nossa 
sociedade, os sofrimentos do espírito e das mais altas potencialidades humanas. É 
importante inspirar os clientes, propondo um modelo humano de amplo espectro, 
capaz de instigá-lo a almejar metas que antes não tinham compreendido e cogitado 
alcançar. 
A autorregulação organísmica é a consciência espontânea da necessidade 
dominante e sua organização das funções de contato. Numa situação de perigo, 
quando a tensão se inicia a partir de fora, a cautela e a deliberação são similarmente 
espontâneas. 
A ação autorreguladora é mais vívida, mais intensa e mais sagaz, o que 
parece espontaneamente importante de fato organiza realmente a maior parte da 
energia do comportamento. 
Porém, a experiência neurótica é também autorreguladora e se caracteriza 
por excesso de deliberação, fixação da atenção e músculos preparados para uma 
resposta específica. O self fica impossibilitado de passar de uma energia para outra, 
a energia fica presa a uma tarefa que não pode ser completada. O neurótico tem 
uma sensibilidade ao perigo extremamente aguçada, ou seja, ele é cauteloso 
quando poderia relaxar com segurança. O que ocorre em situações de emergência é 
que fica clara a hierarquia subjacente e, assim, descobre-se “o que um homem é”. 
Podemos concluir que a autorregulação ocupa uma posição ética privilegiada, 
porque só ela guia a consciência organísmica e a força mais vigorosa. Qualquer 
outro tipo de avaliação tem de atuar com energia reduzida. 
O problema da psicoterapia é arregimentar o poder de ajustamento criativo 
do paciente sem forçá-lo a encaixar-se no estereótipo da concepção científica do 
terapeuta. É obviamente desejável ter uma terapia que estabeleça o menos possível 
uma norma, e tente retirar o máximo possível da estrutura da situação concreta, aqui 
 
 Documento não controlado - AN03FREV001 
37 
-agora, pois assim, podemos ter melhores esperanças de dissolver os elementos 
neuróticos. 
O sintoma é tanto uma expressão de vitalidade quanto uma “defesa” contra 
a vitalidade, além de representar a expressão da singularidade de um homem. O 
impulso neurótico não é unicamente negativo, ele exerceu um efeito modelador 
sobre o paciente, e não se pode explicar um efeito positivo

Outros materiais