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Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes 
Departamento de Psicologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO 
 EM PSICOLOGIA CLÍNICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alessandra de Andrade Sampaio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal 
2006 
 2
SAMPAIO, Alessandra de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA 
 
 
 
 
 
 
 
Relatório elaborado sob a orientação 
da Prof. Doriana Setúbal 
correspondente ao Estágio Curricular 
Obrigatório em Psicologia Clínica e 
apresentado à Coordenação do Curso 
de Psicologia da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, 
como requisito parcial à obtenção do 
título de Psicólogo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal 
2006 
 3
RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA 
 
RESUMO 
 
O presente relatório trata da prática do estágio curricular em Psicologia Clínica 
tomando-se por base a Abordagem Fenomenológico-Existencial e o uso de recursos da 
Gestalt-terapia e da Ludoterapia Não-Diretiva. Relata a caracterização e as vivências 
comuns ao grupo de estágio do qual fui integrante, além das opiniões oriundas de vários 
momentos de troca e discussões a respeito das experiências vividas − em consonância 
com os princípios teóricos que fundamentam o trabalho. Contém ainda o registro dos 
aspectos mais singulares da minha vivência. Na primeira parte do relatório, portanto, 
são encontradas informações gerais: (a) caracterização do campo de estágio; (b) 
objetivos (geral e específicos); (c) justificativa; (d) plano de estágio; (e) atividades 
desenvolvidas no estágio e, por fim, (f) um passeio na orientação teórica que embasa o 
trabalho. Em seguida, são encontrados os relatos dos atendimentos que realizei ao longo 
do estágio, além do estudo de um dos casos atendidos. Ao final do relatório estão 
presentes algumas considerações a respeito da experiência de estágio e as referências 
bibliográficas. 
 
Palavras-chave: Estágio; Psicologia Clínica; Abordagem Fenomenológico-Existencial; 
 4
Agradecimentos 
 
Ao meu grupo de companheiros de estágio − e eternos amigos − que 
compartilharam comigo as alegrias e dificuldades do trabalho clínico e me 
ajudaram na redação deste relatório: Ana Paula Araújo, Cibelle Bandeira, 
Felipe Serquiz, Mariana Mendonça, Melina Séfora, Sheila Rêgo e Thiago 
Félix. A todos vocês, minha eterna gratidão. 
 5
Sumário 
 
Resumo...................................................................................................................... 
1. Introdução.............................................................................................................. 
03 
06 
2. Caracterização do Campo de Estágio.................................................................... 08 
3. Objetivos do Estágio em Psicologia Clínica......................................................... 10 
 3.1. Objetivo Geral................................................................................................. 10 
 3.2. Objetivos Específicos...................................................................................... 10 
4. Justificativa............................................................................................................ 11 
5. Plano de Estágio.................................................................................................... 12 
 5.1. Identificação.................................................................................................... 12 
5.2. Área(s) de Conhecimento Envolvida(s) no Estágio........................................ 12 
5.3. Atividades a Serem Desenvolvidas pelo Estagiário........................................ 13 
 5.3.1. Individual.............................................................................................. 13 
 5.3.2. Em Grupo.............................................................................................. 13 
 5.4. Programação.................................................................................................... 14 
 5.5. Modificações no Plano de Estágio.................................................................. 14 
6. Atividades Realizadas........................................................................................... 16 
6.1. Atendimento de Triagem................................................................................. 16 
6.2. Registro das Sessões........................................................................................ 18 
6.3. Leitura de Textos............................................................................................. 19 
6.4. Atendimento em Psicoterapia.......................................................................... 19 
6.4.1. Atendimento com Criança – Ludoterapia.............................................. 20 
6.4.2. Atendimento com Adolescente.............................................................. 21 
6.4.3. Atendimento com Adulto....................................................................... 21 
6.5. Supervisão do Estágio..................................................................................... 23 
6.6. Produção de Um Livro com Depoimentos...................................................... 25 
7. Fundamentação Teórica........................................................................................ 26 
7.1. Fenomenologia................................................................................................ 26 
7.2. Existencialismo............................................................................................... 32 
7.3. Humanismo..................................................................................................... 34 
7.4. Psicoterapia na Abordagem Fenomenológico-Existencial.............................. 35 
7.5. Gestalt-Terapia................................................................................................ 39 
7.5.1. Psicologia da Gestalt.............................................................................. 40 
7.5.2. A Gestalt-Terapia e suas Influências...................................................... 49 
7.6. Ludoterapia...................................................................................................... 60 
8. Relato dos Atendimentos e Casuística.................................................................. 66 
9. Desenrolar das Atividades e Desafios Enfrentados .............................................. 82 
10. Considerações .................................................................................................... 87 
11. Considerações Finais ......................................................................................... 89 
12. Sugestões............................................................................................................. 92 
13. Referências Bibliográficas.................................................................................. 93 
 
 
 6
 1. INTRODUÇÃO 
 
 O quinto e último ano da graduação em Psicologia da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte (UFRN) é marcado pela realização do estágio curricular 
obrigatório para a obtenção do grau de psicólogo. Nesse momento, os alunos se dividem 
em subgrupos de supervisão de acordo com a definição da área e da abordagem teórica 
do estágio. Atualmente a instituição oferece estágio nas seguintes áreas: Psicologia 
Clínica, Psicologia Hospitalar, Psicologia Escolar, Psicologia Organizacional, 
Psicologia Social e Psicologia Comunitária. Na área da Psicologia Clínica, dispõe de 
supervisores que atuam embasados em quatro abordagens teóricas: Psicanálise, 
Fenomenológico-existencial, Cognitivo-comportamental e Transpessoal. 
Desse modo, passei a integrar um grupo de oito estagiários que escolheram atuar 
na área da Psicologia Clínica, fundamentados na Abordagem Fenomenológico-
Existencial com ênfase na Gestal-terapia.O presente relatório tem o objetivo de retratar a minha trajetória durante o estágio. 
Relato a caracterização e as vivências comuns ao grupo de estágio, além das opiniões 
oriundas de vários momentos de troca e discussões a respeito das experiências vividas. 
E, individualmente, registro os aspectos mais singulares da minha vivência. 
Na primeira parte do relatório, portanto, são encontradas informações gerais: 
caracterização do campo de estágio; objetivos (geral e específicos); justificativa; plano 
de estágio; atividades desenvolvidas no estágio e, por fim, um passeio na orientação 
teórica que fundamenta o trabalho. 
Em seguida, apresento os relatos dos atendimentos que realizei ao longo do 
estágio, além do estudo de um dos casos atendidos. 
 7
Ao final do relatório estão presentes algumas considerações a respeito da 
experiência de estágio e as referências bibliográficas. 
 8
2. CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO 
 
O Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) foi criado em 1965, dez anos antes da 
implantação do curso de Psicologia da UFRN. No início esteve vinculado 
administrativamente à Reitoria da Universidade, sendo posteriormente, transferido para 
o Centro de Ciência Humanas, Letras e Artes (CCHLA), órgão que assumiu a 
responsabilidade burocrática e administrativa do SEPA. 
No início de suas atividades, o SEPA possuía o referencial clínico-psicométrico 
como base predominante de seus atendimentos. Atualmente a instituição possui o 
caráter de clínica-escola, atuando como campo de aulas práticas e estágios 
supervisionados. 
O SEPA possui como objetivos e diretrizes de trabalho: 
• Prestar serviços psicológicos à comunidade, sob forma de atendimentos em 
Psicologia Clínica e Psicopedagogia; 
• Servir de estabelecimento para a prática de estágio supervisionado e/ou 
atividades práticas para os alunos do curso de Psicologia da UFRN, e; 
• Desenvolver atividades voltadas para a extensão universitária (cursos e 
projetos). 
No que se refere à estrutura administrativa, a instituição é composta por técnicos 
(psicólogos e psicopedagogos), contando também com servidores na secretaria, 
recepção e serviços gerais. Contém 02 salas de ludoterapia, 02 salas de psicopedagogia, 
05 salas de atendimento individual para psicoterapias com adolescentes e/ou adultos, 02 
salas de supervisão, 01 sala de reunião, 01 sala de dinâmica de grupo, 02 salas de 
psicodiagnóstico, 02 salas de aula, 01 sala de triagem, 01 sala de estagiários, 01 sala de 
técnicos, 01 almoxarifado, 01 sala de direção, 01 sala de secretaria, 01 sala de arquivo, 
 9
02 banheiros para funcionários, 01 copa, 02 banheiros para a clientela, 01 sala de 
consultoria, 01 sala de espera e 01 sala de recepção. 
Atualmente o Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) oferece os serviços de 
psicoterapia individual (para crianças, adolescentes e adultos), psicodiagnóstico, 
psicopedagogia, triagem, consultoria organizacional, orientação profissional e 
psicoterapia de grupo. Ressalto, contudo, que minha experiência de estágio abarcou 
apenas as atividades de triagem e psicoterapia individual (nas três modalidades). 
 10
3. OBJETIVOS DO ESTÁGIO EM PSICOLOGIA CLÍNICA 
3.1. Objetivo Geral: 
 
Propiciar a vivência da prática da Psicologia Clínica fundamentada pela 
orientação teórica Fenomenológico-Existencial, fazendo uso de recursos da Gestalt-
terapia, de modo a aplicar e ampliar os conhecimentos adquiridos durante nossa 
formação teórica. 
Sua prática está direcionada ao atendimento psicológico no SEPA à população 
que não dispõe de condições financeiras de investir em um tratamento psicológico 
em clínicas particulares. 
 
3.2. Objetivos Específicos: 
 
• Possibilitar o exercício de uma escuta e intervenção clínicas a partir da 
compreensão da relação entre terapeuta e cliente como um encontro existencial; 
• Aprofundar a compreensão dos pressupostos teórico-filosóficos do Humanismo, 
Existencialismo e Fenomenologia por meio da experiência clínica supervisionada; 
• Aprofundar os conhecimentos teórico-práticos da Gestalt-terapia; 
• Amparar as primeiras experiências profissionais por meio da supervisão que 
facilite a compreensão dos fenômenos emergentes nessa experiência; 
• Utilizar os momentos de supervisão em grupo para compartilhar experiências 
individuais do estágio ajudando a compreendê-las. 
 11
4. JUSTIFICATIVA 
 
A realização do estágio no último ano do curso de Psicologia (nono e décimo 
períodos) justifica-se pelo atendimento às exigências curriculares da formação do 
psicólogo. Dessa forma, faz-se necessária a experiência do estágio supervisionado como 
condição para o reconhecimento do profissional psicólogo. 
 O estágio tem sua importância justificada também por se caracterizar como um 
momento fundamental na interface da formação e da atuação profissional do psicólogo, 
uma vez que oferece suporte a vivência e compreensão destas primeiras experiências 
profissionais por meio das supervisões. 
 A escolha por esse estágio dentre as outras modalidades de estágio oferecidas se 
deve ao grande interesse que a área clínica − e mais especificamente a Abordagem 
Fenomenológico-Existencial − desperta em mim. Ao longo dos quatro anos de curso 
que antecederam o estágio, pude conhecer um pouco cada uma das principais 
abordagens psicológicas (Psicanálise, Cognitivo-Comportamental, Transpessoal e 
Fenomenológico-Existencial) e perceber que me identificava, enquanto estudante de 
Psicologia e enquanto pessoa, mais com esta última do que com as demais. 
 
 12
5. PLANO DE ESTÁGIO 
 
O plano de estágio é um documento elaborado pelo aluno no início do ano que 
tem como finalidade descrever, de maneira sucinta, como este pretende desenvolver seu 
processo de estágio supervisionado. Constam nesse documento dados de identificação 
do estagiário, as áreas de conhecimento que o aluno pretende ter contato, as atividades a 
serem desenvolvidas (individual e em grupo), assim como um cronograma inicial que 
organiza e orienta o desenvolvimento das atividades. 
 
5.1 Identificação: 
 
Nome: Alessandra de Andrade Sampaio 
Disciplina: Estágio Supervisionado I e II; PSI 800 e PSI 801 
Supervisora: Doriana Silva de Souza Feitosa Setúbal 
Formação Profissional: Psicologia Clínica 
Número de Créditos: 12 
Período: Nono e Décimo 
Local: SEPA (Serviço de Psicologia Aplicada)/UFRN 
 
5.2 Área(s) de Conhecimento Envolvida(s) no Estágio: 
 
• Psicologia Clínica; 
• Abordagem Fenomenológico-Existencial; 
• Gestal-terapia; 
• Ludoterapia; 
• Psicologia do Desenvolvimento; 
 13
• Psicopatologia; 
• Teorias de Grupo; 
• Ética Profissional; 
• Psicossomática; 
• Sexualidade; 
• Drogadição. 
 
5.3 Atividades a serem desenvolvidas pelo (a) Estagiário (a): 
5.3.1 Individual: 
 
• Realização de uma triagem por semana; 
• Preenchimento de fichas com os principais dados clínicos da triagem; 
• Realização de três atendimentos (criança, adolescente, adulto) semanais; 
• Orientação aos pais e/ou responsáveis; 
• Relato escrito das sessões. 
5.3.2 Grupal: 
• Leitura de textos de acordo com a demanda dos casos; 
• Vivências em grupo; 
• Reunião em grupo para avaliação e auto-avaliação; 
• Supervisão para encaminhamento dos casos de triagem; 
• Supervisão para acompanhamento dos casos em atendimento; 
• Elaboração do relatório final de estágio; 
 
 
 14
5.4 Programação: 
 
 O estágio será realizado entre março e dezembro de 2006. Ao final desse 
período, é esperado que cada estagiário tenha cumprido as 540 horas previstas na grade 
curricular do curso. Semanalmente, o aluno disponibilizará 20 horas que serão 
distribuídas entre supervisão (6h semanais), triagem e atendimentos individuais e/ou 
grupais. 
 Cada estagiário ficará responsável de acompanhar, no mínimo, 3 clientes em 
atendimento de psicoterapia individual e/ou ludoterapia. Existirá ainda a possibilidade 
de realizar psicoterapiaem grupo. As sessões ocorrerão de acordo com a 
disponibilidade de horário dos clientes e dos estagiários, respeitando as peculiaridades 
de cada caso. 
 
5.5 Modificações no Plano de Estágio 
 
O plano de estágio, como já citado, é elaborado no início do ano, ou seja, antes do 
aluno iniciar de fato a prática. Dessa forma, está sujeito a alterações no transcorrer desse 
período. Essas alterações dependem da disponibilidade do aluno para cumprir 
exatamente o que propôs, assim como da configuração das demandas que a eles se 
apresentam. 
Diante disso, foi observado que na prática o número de clientes sugeridos no plano 
de estágio funcionou como uma referência inicial, uma vez que esse número variou de 
acordo com a disponibilidade e interesse de cada estagiário. Da mesma forma, a faixa 
etária dos clientes (criança, adolescente e adulto) também sofreu alterações, onde alguns 
estagiários atenderam somente crianças, por exemplo. A opção pelo atendimento 
individual e/ou em grupo também ficou a critério de cada um. 
 15
A minha experiência de estágio contemplou atendimento individual nas três 
modalidades (infantil, adolescente e adulto), no entanto não embarcou atendimento em 
grupo. 
 16
6. ATIVIDADES REALIZADAS 
6.1. Atendimento de Triagem 
 
O serviço de triagem tem como objetivo promover a seleção da clientela e análise 
da demanda apresentada por essa em conformidade com os serviços oferecidos e os 
critérios da instituição1, por meio de uma escuta inicial. 
A permanência do cliente no SEPA, após a triagem, dependerá de sua adequação 
ao critério da renda mínima (1 a 5 salários mínimos), da disponibilidade de vagas, da 
existência do atendimento indicado e das implicações clínicas do caso. O setor de 
triagem é responsável pelo levantamento estatístico, bem como pelo controle de 
fluxograma de atendimentos e encaminhamentos. 
Os horários de triagem obedecem a uma escala da qual fazem parte os técnicos, os 
estagiários e os estudantes do oitavo período. Os responsáveis pela triagem possuem 
horários fixos semanais nos quais devem permanecer na instituição. 
Durante a triagem, além da escuta da queixa, são coletados do cliente seus dados 
de identificação, renda familiar e disponibilidade de tempo por meio do preenchimento 
de uma ficha. Após isso, o psicólogo, mediante a abordagem utilizada, poderá esclarecer 
a demanda do cliente e qual tipo de tratamento mais adequado, fazer a orientação 
terapêutica e encaminhá-lo quando necessário. 
No que diz respeito ao processo de triagem com criança, inicialmente é realizada 
uma entrevista com os pais e/ou responsáveis com a finalidade de compreender o que 
motivou a busca pelo serviço. Em seguida (outro dia), realiza-se a “hora do jogo” com a 
criança onde ela pode se expressar mais genuinamente no brincar, uma vez que esse 
 
1 Informações retiradas do Manual do Estagiário do SEPA. 
 17
momento acontece na sala de ludoterapia. Por fim, acontece um novo encontro com os 
pais e/ou responsáveis, procedendo-se ao devido encaminhamento. 
Quanto ao adolescente, de início a escuta é realizada preferencialmente com este, 
e em seguida, com os pais e/ou responsáveis. A entrevista de devolução ocorre com 
ambas as partes, em momentos diferentes e individualizados. 
O atendimento de triagem descrito faz parte do Manual do Estagiário do SEPA, 
portanto, refere-se a uma atividade padrão básica que os estagiários devem seguir com 
vistas a cumprir os objetivos práticos da instituição. No entanto, o atendimento de 
triagem pode ir além desses objetivos, de acordo com as especificidades de cada 
abordagem. 
Baseado na Abordagem Fenomenológico-Existencial, o trabalho de triagem 
adotado pelo meu grupo de estágio partiu do pressuposto que o momento da triagem 
deve ser marcado por uma escuta verdadeira, por um encontro existencial, para que o 
outro que nos chega se sinta verdadeiramente ouvido e acolhido. Acreditamos que desse 
encontro genuíno pode surgir uma nova forma de olhar, uma nova maneira de enxergar 
as situações. Giovanetti (1989) reserva o termo encontro "para uma situação onde o 
outro (aquele com o qual entro em relação) afeta, de alguma maneira, o curso de minha 
existência, principalmente na dimensão em que ele (o outro) me faz crescer”. É desse 
encontro, portanto, que estamos tratando. 
Trata-se de um movimento inicial que funciona como uma “preparação” do 
indivíduo para que o mesmo dê início a uma longa jornada (psicoterapia) que pode ou 
não vir a se efetivar, dependendo − dentre outras coisas − da natureza desse encontro 
primeiro. Daí a importância de que o terapeuta propicie um clima de muita 
autenticidade, respeito e cuidado nesse instante. 
 18
Se recorrermos aos objetivos formais2 de uma triagem, veremos que as finalidades 
desta entrevista podem ser alcançadas sem que se passe necessariamente por esse 
encontro existencial. Mas se levarmos em conta que o movimento de “pedir ajuda” que 
se dá por parte do cliente já se iniciou, e que nesse movimento cada passo tem seu valor, 
não podemos desconsiderar o peso desse encontro e, portanto, a relevância de que haja 
uma abertura − pelo menos por parte do psicólogo que está realizando a triagem − para 
essa verdadeira escuta. 
A triagem, portanto, deve − assim como todo encontro que se pretenda pessoal − 
ser uma busca permanente de uma relação interpessoal que inclui a afirmação do outro 
como pessoa, o reconhecimento que profissional e cliente são o mesmo tipo de ser. E 
esse encontro, apesar de não se caracterizar como psicoterapia, é por si só terapêutico. 
 
6.2. Registro das Sessões 
 
O registro das sessões foi realizado por meio de relatos escritos fidedignos (o 
máximo possível) aos encontros com os clientes, tentando reproduzir diálogos, 
silêncios, impressões e sentimentos. 
O relato preciso tinha objetivo de facilitar a compreensão do desenvolvimento da 
sessão, observando aspectos que tendem a escapar do olhar primeiro do terapeuta. 
Redigir as sessões permite lançar um novo olhar sobre o atendimento, o fenômeno do 
ser do cliente e a relação dialética estabelecida. 
Disponibilizar o relato à leitura da supervisora e dos demais estagiários, permite 
que eles tenham uma compreensão mais fidedigna do que aconteceu na sessão 
 
2 Retirados do Manual do Estagiário do SEPA e já citados mais acima. 
 19
(inclusive fatos que podem ter escapado ao olhar do terapeuta), reunindo condições de 
realizar uma orientação adequada que viabilize o acompanhamento do caso. 
 
6.3. Leitura de Textos 
 
Inicialmente, foi oferecida uma bibliografia básica pela orientadora de estágio. Ao 
longo do estágio, foram indicados textos específicos para as demandas de cada aluno 
relacionadas às suas práticas. 
 
6.4. Atendimento em Psicoterapia 
 
O atendimento psicoterápico na abordagem da Gestalt-terapia está fundamentado 
num único arcabouço teórico-prático; porém, como o próprio Perls assentiu, a Gestalt-
Terapia não tem pretensões de se firmar como uma teoria acabada com definições 
inquestionáveis, podendo estar se adequando responsavelmente às aplicações diversas 
quando se fizer necessário. É pensando nesses termos que se tornou extremamente 
relevante, notificar as diferentes experiências de atendimento relacionadas, 
principalmente, a diversidade de idade dos sujeitos que procuravam a instituição durante 
o período de estágio. 
Compreende-se assim que a contextualização do cliente no setting pode aferir 
demandas específicas no manuseio da abordagem, imprimindo no processo terapêutico 
necessidades especiais que devem ser contempladas minimamente pelo psicoterapeuta 
em atuação para efetivar o processo de uma forma compatível com as possibilidades do 
cliente. 
 20
6.4.1. Atendimento com Criança – Ludoterapia 
 
O atendimento infantil caracteriza-se, geralmente,por uma iniciativa dos pais pela 
procura do psicólogo ou pelo encaminhamento da escola ou instituição. Num primeiro 
momento, é realizada uma entrevista inicial com os pais, a fim de ouvir a queixa que 
eles trazem a respeito da criança. 
Em seguida é realizada a entrevista de anamnese, uma forma de coletar dados 
sobre o desenvolvimento da criança desde o período pré-natal, observando aspectos 
como sociabilidade, ambiente familiar, escolaridade, história médica da criança, 
sexualidade, entre outros. Esses dados possibilitarão ao psicoterapeuta compreender 
melhor a criança e estabelecer relações com a queixa e o que é observado na criança 
durante as sessões na sala de ludoterapia. 
No primeiro encontro com a criança, pode ser realizada uma entrevista verbal, que 
tem como finalidade estabelecer o rapport, ter um primeiro contato com a criança e 
possibilitar a expressão de seus sentimentos verbalmente através de uma conversa sobre 
alguns temas da sua vida. 
Os próximos encontros com a criança vão acontecer na sala de ludoterapia, em 
geral com sessões semanais de 50 minutos. Os encontros com os pais terão como 
finalidade obter mais dados sobre a criança e dar uma orientação que lhes permita 
entender o que se passa com seu filho e promover mudanças no ambiente familiar. Estes 
encontros podem se dar uma vez por mês, variando de acordo com a necessidade do 
terapeuta, dos pais ou da criança. 
 
 
 
 21
6.4.2. Atendimento com Adolescente 
 
O atendimento com adolescentes pode demandar do psicoterapeuta maior atenção 
às características psicológicas gerais dessa “fase”. É mais freqüente, por exemplo, uma 
certa instabilidade nas questões que o trazem até a psicoterapia; sendo relativamente 
comum: a inconstância do foco, do discurso e das atitudes perante o processo em 
questão. 
É devido a fatores como esses que é importante prolongar os contatos iniciais, de 
forma a estabelecer na relação psicoterapeuta-cliente, além da confiança e abertura 
necessária - rapport, um momento a mais para a satisfação da insegurança característica 
dessa fase e dúvidas que estão implicadas notadamente nestes discursos. O adolescente 
pode encontrar dificuldades para se fazer entender caso o psicoterapeuta não esteja 
atento para seus padrões de comunicação. Sendo fundamental que o profissional esteja 
minimamente integrado às conjecturas de sua linguagem (sejam elas, gírias, culturas 
urbanas, músicas, estilos, etc.), entendendo-as em sua forma genuína de expressão. É 
nesse sentido que muitas das vezes os adolescentes encontram as melhores 
possibilidades para expressar seus sentimentos e se encontrar com o próprio processo. 
 
6.4.3. Atendimento com Adulto 
 
O atendimento com adultos pode ser destacado como um padrão já construído na 
complexidade da teoria. Inicialmente, nos primeiros encontros, é importante que, na 
relação, possam ser esclarecidas as demandas trazidas pelo cliente; clarificando a queixa 
inicial, o contrato psicológico, aprofundando as nuances da relação e sanando as 
dúvidas que acompanham o início do processo. 
 22
O contrato terapêutico (ou psicológico) verbal em que são acordados os horários 
das sessões, as faltas, os honorários, o sigilo das informações e a responsabilização 
conseqüente ao não seguimento do contrato norteiam o processo desde seu primeiro dia 
e podem, assim, dar segurança ao cliente quanto às possibilidades ali implicadas, uma 
vez que já são conhecidas. 
Durante as sessões, a relação cliente-terapeuta está sempre em foco. É incentivada 
a ênfase no aqui-agora da sessão – o que emerge no (do) contato como proeminência 
subjetiva –, seus sentimentos, sua forma de atuação no mundo. Também é possível se 
fazer experimentos ou propor tarefas-de-casa como forma de vivenciar mais diretamente 
esses aspectos. 
É dessa forma que se busca ampliar as percepções – alienadas ou não – dos 
clientes sobre si mesmos ou sobre o mundo que está em relação com ele, frustrando-o 
habilidosamente, trazendo-o para sua própria emoção, presentificando-se os 
sentimentos, almejando sempre a sinceridade do contato. 
Procura-se conhecer (e compreender) como o cliente atua no mundo com toda sua 
potencialidade e susceptibilidade, ao invés de tentar compreender as origens de tais 
atuações – porquê(s). Assim, abre-se uma nova perspectiva para a importância da 
responsabilização do cliente sobre o processo, mas também indo além: seu próprio 
presente, sua própria construção histórica. 
A última etapa do processo psicoterapêutico consiste na alta do cliente. Esse 
momento deve vislumbrar a queixa trazida com seus respectivos avanços na 
conformação da mesma. Há uma reestruturação na sua forma de estar no mundo, seu 
modo de vida e uma revisão de seus ideais, permitindo o cliente superar as suas 
dificuldades, de forma que esteja apto a construir maneiras saudáveis de conviver e 
expressar o seu ser. 
 23
6.5. Supervisão do Estágio 
 
A supervisão desse estágio foi realizada em grupo e conduzida pela professora e 
orientadora deste relatório. Seus objetivos consistiram em propiciar o espaço para: a) o 
relato e discussão dos casos atendidos; b) a conseqüente reflexão grupal acerca dos 
questionamentos e dificuldades encontrados no decorrer desses atendimentos; c) o 
fornecimento do suporte teórico condizente com essas questões e com as intervenções a 
serem realizadas em cada contexto; d) a reflexão acerca de nossa formação em 
psicologia clínica. 
Realizamos encontros de cerca de 4 horas de duração duas vezes por semana nas 
salas de aula e de dinâmica de grupo do SEPA. Os encontros, em geral, não tinham 
formato pré-estabelecido. Inicialmente, fizemos um levantamento das expectativas e dos 
sentimentos de cada um no início do estágio, além de discutirmos informações técnicas 
a respeito da psicologia clínica e do SEPA. 
As primeiras orientações estiveram voltadas para os atendimentos de triagem. O 
relato do atendimento era seguido da discussão da escuta clínica que o estagiário relator 
e o restante do grupo realizaram do caso e do encaminhamento que poderia ou deveria 
ser realizado. Dessa forma, buscamos e discutimos juntos informações sobre diversos 
modelos e instituições de atuação da psicologia e de áreas relacionadas como 
enfermarias de saúde mental, hospitais psiquiátricos, serviços de psicopedagogia, 
centros de atenção a alcoólicos, clínicas privadas de psicologia, etc. 
À medida que os atendimentos em psicoterapia foram sendo iniciados, as 
discussões mudaram de direção, os questionamentos emergiam agora do contato mais 
profundo com os clientes em psicoterapia. Eram solicitados o olhar do grupo sobre a 
relação estabelecida entre cliente e terapeuta e a escuta da queixa e, posteriormente, da 
 24
demanda de cada cliente, assim como da expressão do ser de cada uma dessas pessoas 
que procuraram atendimento psicológico. Constantemente estivemos sendo convidados 
a apurar a escuta dos relatos e fornecer aos colegas feedbacks oriundos do que 
escutamos e do que sentimos na intenção de ajudá-los na compreensão mais 
aprofundada do caso. 
Os questionamentos emergentes conduziam a supervisora a incitar discussões 
teóricas. Dessa forma, diante de dúvida a respeito de um aspecto do atendimento, eram 
introduzidos ou resgatados o aporte teórico condizente com a questão e recursos 
técnicos que permitissem um maior contato com a situação conflitante e com as 
possibilidades de resolução, tais como vivências, dinâmicas de grupo e demais 
experimentos ancorados especialmente na teoria da Gestalt-terapia. Nesse sentido, a 
condução de discussões constituiu, ao fim do percurso, um arcabouço teórico e técnico 
abrangente e diversificado, uma vez que contemplou os principais temas do campo da 
Psicologia Clínica, da Abordagem Fenomenológico-Existencial e da Gestalt-terapia, 
que, não por acaso, partiram das questões que nos inquietaram enquanto estagiários. Asdiscussões foram acompanhadas de leituras igualmente direcionadas a necessidades 
específicas de conhecimento ou reflexão. 
Em determinados momentos, o foco da supervisão passava a ser a forma como um 
de nós ou todos se sentiam diante de determinada situação do estágio. Nesse espaço 
eram evidenciados, discutidos e amparados sentimentos de empolgação, medo, angústia, 
raiva, etc. A preocupação com os conflitos que acompanham o desenvolvimento do ser 
psicoterapeuta de cada estagiário foi confessada por nossa supervisora repetidas vezes 
desde o início do estágio e a levou a se manter atenta aos momentos em que um de nós 
demonstrava estar em conflito com algum aspecto de seu relato, o que possibilitou a 
 25
expressão e o trabalho com tais questões a partir de recursos didáticos e até 
psicoterápicos. 
Finalmente, é importante citar as atividades de auto-avaliação no exercício 
profissional no SEPA, na formação, no contato com os clientes e na participação no 
grupo de estagiários, fundamentais para a auto-percepção e a orientação de mudanças 
no decorrer do percurso. 
 
 
6.6. Produção de um livro com depoimentos 
 
Em meio às discussões acerca do estágio e da riqueza de questões que emergiam 
em sua realização – questões que parecem se repetir no exercício profissional – 
compartilhamos (eu, meus colegas de estágio e nossa supervisora) a intenção de dividir 
as reflexões e processos individuais que vivenciamos com outros alunos do curso de 
psicologia, com profissionais da área e até com leigos que se aventurem a tentar 
compreender a experiência de se formar psicoterapeuta. 
 Decidimos, então, escrever o depoimento de nossa experiência no estágio. Em 
conjunto, identificamos os aspectos que se destacaram na vivência de cada estagiário 
visando construir uma listagem de diversos temas e repetindo, em diferentes versões, a 
questão central dessa formação: o modo de cada um se tornar psicoterapeuta. Os 
capítulos do livro foram escritos individualmente e, em seguida, discutidos e revisados. 
No momento, ainda se encontra em fase de elaboração. Temos o objetivo de publicá-lo 
posteriormente e divulgar nosso trajeto de reflexões e (des)construções ao fim da 
formação em psicólogos. 
 26
7. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
“Não há normas. Todos os homens 
são exceções a uma regra que não 
existe”. 
 
Fernando Pessoa 
 
 
Esse estágio foi embasado na Abordagem Fenomenológico-Existencial e, mais 
especificamente na Gestalt-terapia. Meu embasamento teórico compreende, portanto, 
(a) as idéias-base − visão de homem e de mundo, postura diante do fenômeno humano − 
contidas nos fundamentos filosóficos da Fenomenologia, do Existencialismo, e do 
Humanismo; (b) a teorização mais sistemática dessa idéias na prática clínica: 
Psicoterapia na Abordagem Fenomenológico-Existencial; (c) os recursos teóricos e 
técnicos utilizados mais especificamente: Gestalt-terapia; (d) noções específicas de 
atendimento infantil: Ludoterapia. 
 
7.1. Fenomenologia 
 
A fenomenologia surge, como corrente filosófica, se opondo ao cientificismo e a 
metafísica, perspectiva predominante no pensamento ocidental em meados do século 
XIX. O discurso metafísico crê na unicidade da verdade e na busca de uma perspectiva 
que seja absoluta, enquanto que a fenomenologia aponta para uma relatividade da 
perspectiva do conhecer e da verdade, ou seja, nenhuma verdade, seja qual for a 
perspectiva do saber que se adote, pode ser se não relativa (Critelli, 1996). 
Segundo Critelli (1996), a forma de pensar o conhecimento e a verdade, instaurada 
pela fenomenologia, se constitui como desalojadora, uma vez que nega qualquer 
 27
pretensa segurança, que não foge da angústia advinda da consciência da fluidez do 
mundo. Contrariamente à metafísica, segundo a fenomenologia é exatamente através da 
aceitação dessa fluidez que se instaura as possibilidades de conhecimento. 
Para a fenomenologia, a questão do pensar não deve ignorar a fluidez e 
mutabilidade inerente ao homem pela sua condição de existente. “Assim, a tarefa de se 
pensar a possibilidade de uma metodologia fenomenológica de conhecimento é, em 
última instância, uma reflexão sobre o modo humano de ser-no-mundo, inclusive tal 
como desdobrado na tradição da civilização ocidental.” (Critelli, 1996, p.16). Desta 
forma, a Fenomenologia se apresenta não só como corrente filosófica, mas também 
como método. 
A Fenomenologia tem seu início a partir das idéias de Franz Brentano (1838-
1917) representante da “Psicologia do Ato”, defendendo a proposta de um método 
empírico nos estudos dos fenômenos psíquicos, porém não experimental, ou seja, 
descritivo. Considerou que existem diferenças entre os eventos físicos e os fenômenos 
psíquicos, afirmando que estes são dotados de intencionalidade e um modo de 
percepção original, imediato. Defende o retorno às experiências vividas e sua descrição 
autêntica, livre de todo pressuposto genético ou metafísico (Forghieri, 1993/2004). 
Contudo, o principal representante da corrente fenomenológica é Edmund Husserl 
(1859-1938), que a partir das obras de Brentano desenvolveu seu pensamento. Alguns 
dos temas fundamentais da fenomenologia foram desenvolvidos por Husserl, tal como a 
proposta do retorno às coisas mesmas. Husserl defende o retorno a um ponto de partida 
que seja de fato o primeiro, no caso, as coisas mesmas que seriam o ponto de partida do 
conhecimento. A coisa mesma nada mais é do que o fenômeno, a única coisa à qual 
podemos ter acesso. Desta forma, ir às coisas mesmas significa “apreender o mundo tal 
qual este se apresenta para nós enquanto fenômeno” (Holanda, 1998, p.37). 
 28
Husserl, dando continuidade à noção de intencionalidade de Brentano, reafirma 
que a consciência é sempre intencional, uma vez que é sempre direcionada a um objeto, 
e este é sempre objeto para uma consciência, ou seja, não se pode desvincular a 
consciência do objeto e nem o objeto da consciência. A intencionalidade refere-se, 
assim, à atribuição de sentidos, ou seja, o mundo só existe enquanto tal uma vez que nós 
o significamos. Como diz Holanda (1998, p.39) “a consciência é consciência ativa; cabe 
a ela dar sentindo às coisas, ou seja, é a consciência que atribui significados no mundo. 
Perceba-se aqui que não estamos discutindo o caráter de existência das coisas (...), mas 
tão somente o sentido que estas coisas assumem para o eu subjetivo pensante.” 
Um outro pressuposto, de grande importância, que se encontra presente na 
fenomenologia refere-se à Redução Fenomenológica, e baseia-se na idéia de que para 
compreender o fenômeno como ele se mostra é necessário “colocar entre parênteses” os 
valores e os juízos pessoais, aquilo que é particular do sujeito que percebe o fenômeno. 
Desse modo, deve-se estar atento ao que é pessoal, privado, e assim “renunciar” a essas 
idéias no instante em que se propõe a compreender o outro que se apresenta, a realidade 
do fenômeno. De acordo com Holanda (1998), 
 
a redução fenomenológica evidencia a colocação do ser-no-mundo, o 
posicionamento do ser em situação, em função da qual este sujeito não é 
puro sujeito, nem o mundo puro objeto. Ambos se correlacionam, 
permanecendo um em função do outro. (...) é uma busca do significado, 
uma procura pelo subjacente, em detrimento do simples aparente. (p.38) 
 
Quando nos referimos à redução, tal qual proposta pela fenomenologia, não 
estamos fazendo referência uma atitude de desconsideração da realidade, mas, pelo 
contrário,a uma postura de ir além do aparente, ou seja, de adentrar a realidade para, 
dessa forma, alcançar a natureza subjacente do fenômeno, intuir a essência do mesmo. 
 29
Outro nome expoente na fenomenologia foi Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) 
que percorreu o caminho trilhado por Husserl, revendo suas idéias e propondo uma re-
leitura dessas. Retoma o conceito de redução fenomenológica apresentado por Husserl 
acrescentando, entretanto,a idéia de que a redução nunca será inteiramente alcançada 
em virtude da impossibilidade de uma dissociação total entre homem e mundo. 
Opunha-se aos dualismos e sua principal idéia é de que o conhecimento que temos 
do mundo se dá a partir da própria experiência do sujeito. A consciência para Merleau-
Ponty é definida como percepção, “de modo que não há separação e oposição entre os 
dados sensível e racional no ato de apreensão das coisas” (Moreira, 1997, p. 403). E é 
através do corpo – conceito fundamental deste filósofo – que nos instalamos no mundo, 
ganhando e doando significação. No entanto, a noção de corpo a qual Merleau-Ponty se 
refere não é a idéia cartesiana de corpo, mas um corpo dotado de intenção em que 
residem nossas ações originais (Moreira, 1997), ele o chama de corpo reflexivo e 
observável. 
Outro proeminente discípulo de Husserl e que contribuiu de forma decisiva para a 
fenomenologia foi Martin Heidegger (1889-1976). Apesar de ter partido das idéias de 
Husserl, Heidegger rompe com o pensamento do seu mestre passando a postular novos 
princípios. A obra heideggeriana propõe uma retomada da questão do ser, buscando o 
sentido da existência que havia se perdido na modernidade paltada pelo primado da 
razão. Dessa forma “a fenomenologia produziu uma nova ontologia”. (Critelli, 1996, p. 
8). Ainda nessa perspectiva, Feijoo (2002) afirma que Heidegger: 
 
Assume uma ontologia que pretende explicitar o ser do ente, em seu 
sentido mais originário do que propôs a metafísica e até mesmo a ciência. 
A compreensão em Heidegger consiste na captação de uma interpretação 
de mundo que cada um é. Implica remeter-se ao em si mesmo da coisa, da 
pessoa ou de si mesmo. É um ato de captação de uma interpretação de 
mundo ”. (p.138). 
 30
 
Heidegger denomina o homem pela expressão alemã Dasein, que significa “Ser-
aí”, expressão também traduzida como pre-sença; um ser que é lançado num mundo que 
ele não escolheu, que já está dado e do qual ele nada sabe a respeito. O Dasein recebe 
esta denominação justamente por existir um “aí”, um mundo historicamente construído 
(Beaini, 1981, citado por Bruns e Trindade, 2001). 
Deste modo, dadas as condições nas quais o homem depara-se com a vida, com o 
existir −sem garantias nem segurança, levado a uma sensação de desamparo − o mundo 
apresenta-se a nós como inóspito, e “ser-no-mundo como homens é habitar esta e nesta 
inospitalidade” (Critelli, 1996, p.17). Essa é a facticidade particular de cada ser da qual 
Heidegger fala. 
Como também nos fala Critelli (1996), o mundo se mostra como uma rede de 
significações que nos envolve e dá consistência ao nosso ser; no entanto, é uma rede 
fluida que desaparece e faz falta tão logo se dilua o sentido que ser faz pára nós 
−existência. Esse sentido que ser faz para nós se desfaz à medida que as nossas 
representações não dão mais conta de expressar o ser das coisas, e estas passam a ser 
simplesmente meras coisas, insignificantes. Desse modo, não só as coisas perdem o 
sentido, mas também o existir. E, mais uma vez, estamos sós, soltos, postos diante do 
nada, do desconhecido, sem podermos contar com algo ou alguém para nos envolver 
como antes na rede, na “existência”. É através da evasão do sentido que ser faz para nós 
que o mundo se manifesta em sua inospitalidade. Heidegger vai chamar de angústia a 
vivência dessa inospitalidade do mundo, do nada que surge em lugar de um sentido que 
ser fazia para nós, e da total liberdade em que somos lançados independentemente de 
nossa vontade ou escolha. 
 31
Heidegger (1927/1989) fala também da condição ontológica do ser-aí, que é ser-
com : “A pre-sença é em si mesma, essencialmente, ser-com” (p.172, v.I). Mas isso não 
se dá simplesmente pelo fato do homem viver em sociedade, mas devido à coexistência 
faz parte de sua condição ontológica, originária. O ser-com é próprio da pre-sença 
mesmo se o outro não é dado ou percebido. Mesmo o estar-só da pre-sença é também 
ser-com no mundo (Heidegger,1927/1989). 
O eu nunca poderá cuidar da vida de modo que esta se torne um acontecimento 
exclusivamente seu, pois a vida do ser é um acontecimento que implica os outros. “Os 
outros também acontecem junto e através do eu” (Critelli, 1996, p.65). 
A perspectiva fenomenológica heideggeriana fala a respeito dos modos de existir 
do homem, do modo como ele se relaciona com as coisas e entes, que são as formas 
inautêntica ( imprópria ou impessoal) e autêntica ( própria ou pessoal). 
Num modo de ser inautêntico, o homem encontra-se extremamente mergulhado 
no mundo, preso às coisas e aos outros, não realiza plenamente suas possibilidades e 
não permite uma reflexão acerca de si mesmo, de como vive, ou seja, ausenta-se da 
própria existência e com isso passa a ver no mundo sua principal preocupação. Tal 
como é colocado por Heidegger (1927/1990): “no momento em que a pre-sença se 
perde no impessoal, já se decidiu sobre o poder-ser mais imediato e factual da pre-
sença, ou seja, sobre as tarefas, regras, parâmetros, a premência e a envergadura do ser-
no-mundo da ocupação e preocupação” (p. 53, v. II). 
Assim, quando o homem se dá conta de sua impropriedade, ele passa a viver uma 
angústia, que para Heidegger, representa o único estado de ânimo que leva o ser-aí a 
uma compreensão de si-mesmo. E à medida que vai conquistando a autenticidade, vai 
também voltando sua atenção para si, escolhe a si, não mais os outros, como 
possibilidade de ser-no-mundo. Este é o ser-si-mesmo (Bruns e Trindade, 2001). 
 32
7.2. Existencialismo 
 
Apesar de Fenomenologia e Existencialismo serem correntes filosóficas distintas, 
dificilmente se fala deste sem associá-lo de imediato com o movimento 
fenomenológico. Isto se deve em parte à influência de Husserl no pensamento de Sartre 
e também em razão do método fenomenológico ter sido utilizado pelos existencialistas 
em sua busca da compreensão do homem. 
O Existencialismo difundiu-se como o pensamento mais radical a respeito do 
homem na época contemporânea. Surgiu em meados do século XIX com o pensador 
dinamarquês Kierkegaard e alcançou seu apogeu após a Segunda Grande Guerra, nos 
anos cinqüenta e sessenta, com Jean-Paul Sartre. 
Soren Kierkegaard (1813-1855) pode ser considerado o precursor do 
existencialismo, uma vez que é a partir de sua doutrina que os filósofos existenciais 
derivam seus conceitos. Propôs uma filosofia que privilegiasse a questão da existência, 
opondo-se, dessa forma, ao sistema racionalista de Hegel e Descartes. Referindo-se ao 
cogito e direcionando uma crítica ao pensamento cartesiano, afirma que seria mais 
correto dizer “Sinto, portanto existo”. 
Em sua filosofia a escolha possui um papel fundamental, pois é considerada como 
núcleo da existência humana. Dessa forma, “Existir é escolher-se”. A existência exige e 
impõe ao homem, a cada momento, uma série inesgotável de escolhas e, dessa forma, 
oferece-lhe a oportunidade de se construir, de modalizar a cada instante a concretização 
do seu ser. Tal condição não aparece como uma opção, e sim como uma propriedade 
humana da qual não se pode fugir. Diante da impossibilidade de se esquivar, o homem é 
colocado, independentemente de sua vontade, na posição de ter que tomar decisões 
 33
responsabilizando-se por suas escolhas. A consciência dessa obrigação de escolher, bem 
como dos riscos dessa escolha, leva o homem ao desespero. 
O filósofo existencialista que alcançou maior visibilidade e notoriedade foi Jean-
Paul Sartre (1905-1980). Estabeleceu a máxima − que mais tarde passou a caracterizar 
as correntes existencialistas − de que “a existência precede a essência”. Penha (1982), 
ao discorrer sobre as idéias de Sartre, afirma que 
 
o homem primeiramente existe, descobre-se, surge no mundo; e que só 
depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é 
definível é porque primeiramente não é nada. Só depois será algumacoisa 
e tal como a si próprio se fizer. (p.62) 
 
Tal princípio, segundo Sartre, não se aplica a todos os seres, mas somente ao 
homem, uma vez que somente o ser humano possui liberdade para realizar sua essência, 
ou seja, apenas ele é livre para construir a cada momento o seu vir a ser. A liberdade 
sartreana não se apresenta ao homem como uma escolha, e sim como uma condição 
existencial da qual ele não pode escapar ou abrir mão. Nesse sentido Critelli (1996) 
afirma que a liberdade, ao mesmo tempo em que confere ao homem o poder de 
modalizar a realização de seu ser, gera angústia à medida que nos coloca na posição de 
grandes responsáveis pelos rumos da nossa existência. 
A angústia da liberdade surge com essa consciência de que cada pessoa é 
responsável por si mesma, pelos seus próprios atos, que não há como transferir para 
ninguém a culpa pelos seus erros e enganos. Surge quando o indivíduo percebe que a 
tentativa de depositar nos outros (seja este outro representado pelo Estado, opinião 
pública, grupo social, etc) o encargo por suas próprias escolhas é um projeto fadado ao 
fracasso. Agindo dessa forma o homem não estará fugindo da questão da escolha, pois 
 34
até mesmo não escolher já é uma escolha. Estará apenas transferindo seu poder de 
decisão para outra pessoa, o que, todavia, não o desresponsabiliza. (Angerami, 2001). 
 
7.3. Humanismo 
 
O Humanismo surge na Europa já nos primórdios do século XIV como um 
movimento cultural intimamente ligado à Renascença. Seu aparecimento está vinculado 
a uma espécie de oposição ao primado do teocentrismo na Idade Média, ou seja, surge 
como uma crítica à valorização do espiritual, do sobrenatural, que marcara toda 
produção cultural e científica naquele período. O Humanismo, portanto, nasce com a 
bandeira da revalorização do homem, da restituição do lugar do homem enquanto 
senhor de si, do reencontro com as potencialidades humanas. Amatuzzi (2001) ressalta 
que 
 
de qualquer forma essa revalorização do homem, das coisas dos homem, 
da história humana, daquilo que aqui efetivamente se faz, da atualidade do 
humano, não se relaciona necessariamente com uma posição religiosa ou 
anti-religiosa. O que polariza esse movimento é justamente uma volta à 
atualidade do humano, e um acreditar que esse é o caminho. (p. 16) 
 
Pode-se também falar do Humanismo de uma forma mais ampla, como colocado 
por Erich Fromm, que resgata da tradição humanista uma atitude diante do humano, 
mais do que postulados teóricos e conceitos. Há uma espécie de ética subjacente às 
diversas teorias ditas humanistas, unindo esses sistemas conceituais e gerando uma 
postura concreta em favor do homem. 
A abordagem Fenomenológico-Existencial toma para si essa postura de encarar e 
compreender o fenômeno “homem”. Sendo assim, a visão humanista encontra-se 
 35
implícita em todo o corpo dessa abordagem, como uma espécie de “pano de fundo”, 
proporcionando à prática psicoterapêutica um sentido que prima pelo 
 
resgate do humano, do positivo, da beleza, da força, da espontaneidade 
perdida, da criatividade que geram infinitas possibilidades de caminhos 
diferentes. Significa que, no caminho da reconstrução da identidade 
perdida ou confusa, procuramos no ser humano o que ele tem de bom, de 
positivo, de inteiro, de potencialmente transformador; aquilo que o cliente 
sente ter de melhor a sua disposição. (Ribeiro, 1999, p.25) 
 
Quando se diz que o Humanismo retoma uma preocupação com o humano, se está 
afirmando que o interesse se volta para a compreensão de cada pessoa enquanto ser, 
enquanto universo de sentidos próprios e únicos. Dessa forma, não se busca enquadrar o 
homem dentro de uma teoria ou de um conjunto de idéias estabelecidas a priori, mas 
sim garantir uma atitude de abertura para com o outro, para assim se aproximar do 
mundo de significados de cada pessoa. 
 
7.4. Psicoterapia na Abordagem Fenomenológico-Existencial 
 
A abordagem Fenomenológico-Existencial aponta, como já foi dito, para uma 
busca pelo resgate do que há de mais genuíno na existência humana, do que há de mais 
essencial no ser dos homens. E essa essência diz respeito à forma de cada um ser-no-
mundo-, à sua singularidade, à liberdade que cada indivíduo tem de ser si próprio. Uma 
psicologia que leva em consideração essa dimensão existencial se preocupa não em 
interpretar ou explicar os fenômenos humanos, e sim em compreendê-los. 
A importância de se privilegiar a perspectiva fenomenológica na prática 
psicoterápica se dá uma vez que a atitude de parar e escutar o outro parece se 
caracterizar, sobretudo, pela possibilidade de propiciar a emergência de encontros-
 36
desencontros de sentidos. Ouvir é, portanto, se permitir entrar verdadeiramente no 
universo de significados do outro para, dessa forma, auxiliá-lo na construção e/ou 
reconstrução dos sentidos que realmente dizem respeito à sua existência. É um 
mergulho no universo interior da pessoa que fala, sem a interferência de julgamentos e 
valores, a partir do qual se abrem possibilidades dela mesma se ouvir. (Amatuzzi, 
2001). 
Partindo-se dessa perspectiva, o processo de psicoterapia se propõe a oferecer um 
momento no qual o sujeito que sofre se sinta verdadeiramente ouvido na sua dor. Ouvir 
nesse caso implica em ir além da queixa, além das palavras, apreender o não-dito. 
Amatuzzi (2001) ilustra esse processo quando afirma que ouvir realmente é ir até alma 
da pessoa que nos fala, ou até seu coração; é ouvir a pessoa e não somente as palavras. 
Para que isso seja possível, o terapeuta precisa se abrir para a existência do outro 
sem preconceitos e sem julgamentos. Precisa colocar em suspenso seu próprio centro de 
referências para se aproximar verdadeiramente do mundo do outro, uma vez que seus 
conhecimentos, suas teorias, suas opiniões e juízos próprios acabam por construir uma 
barreira que o impede de entrar verdadeiramente em contato. Isso, entretanto, não 
invalida ou coloca em desuso os conhecimentos teóricos e técnicos, nem a subjetividade 
do terapeuta. Como afirma Sapienza (2004), “fenomenologia não é uma teoria. É um 
modo de se aproximar de um fenômeno, que se caracteriza, principalmente, por deixar 
que ele se mostre tal como se apresenta, o mais possível sem a interferência das teorias 
existentes sobre ele” (p. 54). 
A idéia é propiciar um momento de escuta sem a intervenção desses constructos o 
que, todavia, não impede que eles sejam utilizados a posteriori, para a compreensão do 
fenômeno em questão. Trata-se de uma fundamentação de natureza diferenciada, a qual 
não coloca os conhecimentos do terapeuta e da Psicologia acima do que há de mais 
 37
importante, a existência do cliente tal qual ela se revela sobretudo para ele mesmo. 
Dessa feita, trabalhar a partir desse referencial exige muita responsabilidade e cautela. 
Nesse sentido Sapienza (2004) coloca que 
 
se estivéssemos ancorados em uma teoria, talvez isso facilitasse nosso 
trabalho. Como não estamos, somos solicitados a ter para cada um deles 
um olhar especial, único, atento ao sentido daquela vida; mas esse olhar 
será tão mais profundo e apropriado quanto mais tivermos nos 
aprofundado na compreensão do que caracteriza a existência humana 
(p.53). 
 
A psicoterapia, vista sob esta ótica, propicia um encontro no qual o ouvir é igual a 
“entrar em contato”, é igual a um “caminhar junto”. E dessa caminhada pode surgir uma 
nova forma de olhar, uma nova maneira de enxergar as situações. Daí a importância da 
pessoa se sentir verdadeiramente ouvida e acolhida nesse encontro. 
A relação psicoterapêutica na perspectiva fenomenológica parte da concepção de 
que a partir de um diálogo autêntico, ou seja, de uma conversa marcada pela 
reciprocidade e pela troca, na qual os participantes toquem e se deixem tocar pela fala 
do outro, é possível ir ao encontro dos sentidos e conteúdos implícitos no discurso do 
cliente. Trata-sede compreender a intenção significativa e a disposição afetiva que se 
escondem por trás da fala, em outras palavras o não-dito, e isso só será possível se 
houver um ambiente que possibilite que os sentidos se libertem, se mostrem, ou seja, se 
houver uma relação de troca intersubjetiva (diálogo genuíno) que atinja os centros das 
pessoas envolvidas e permita, portanto, que elas se deixem revelar (Amatuzzi, 1989). 
A fala autêntica permite que o cliente expresse suas emoções, pense sobre si e, 
dessa forma, elabore seus conteúdos internos, compreendendo como seu mundo está 
organizado. 
 38
A relevância da psicoterapia remete em grande medida ao fato do cotidiano não 
favorecer esse pensar sobre a existência. No seu dia-a-dia, em geral, as pessoas não têm 
oportunidade de refletir sobre seus sentimentos, seus modos-de-ser, enfim, sobre si 
mesmas. A vida, portanto, tende a seguir na impropriedade, como um barco a deriva, a 
mercê dos acontecimentos e do mundo em volta. 
Ao procurar uma ajuda psicoterapêutica, o indivíduo está na realidade abrindo um 
espaço no seu cotidiano para cuidar do seu ser, está voltando seu olhar para dentro e 
buscando um conhecimento que o auxilie no curso de sua existência. A psicoterapia 
fenomenológica, pois, atua no sentido de revelar à pessoa a sua condição de responsável 
direto por sua vida e seu destino, de personagem atuante e definidor da sua história, de 
comandante do seu barco. Diante dessa oportunidade de falar, ser ouvido e se ouvir, a 
pessoa pode elaborar melhor conflitos internos e, consequentemente, se abrir para uma 
mudança profunda que aponte para uma abertura às possibilidades que dizem respeito à 
sua existência, em última análise, para um crescimento. 
A psicoterapia, logo, propõe ao cliente uma mudança de olhar, propõe uma 
postura diante da vida na qual este se responsabilize pelas suas escolhas, auxiliando-o 
na compreensão de que a mudança não passa necessariamente por uma transformação 
do mundo, mas de si mesmo. Sapienza (2004) acrescenta ainda que a terapia representa 
uma 
chance de alguém perceber que não lhe compete mudar os outros; que 
não compete aos outros tomar a iniciativa para resolver os problemas que 
são dele, e que a obrigação de cuidar da sua vida é primeiramente dele; é 
a chance de perceber que ele deve isso a si mesmo (p.24). 
 
Todo esse processo, todavia, por implicar num movimento interno, prescindir de 
um desprendimento interior e inaugurar novos modos-de-ser, não é simples ou fácil de 
 39
ser alcançado. Envolve uma série de riscos e nenhuma segurança de sucesso, o que para 
muitas pessoas pode parecer assustador. 
Ao se deparar com o inédito, com a surpresa ─ decorrente do processo de 
mudança do cliente ─ o terapeuta também corre riscos, uma vez que está sendo afetado 
por tudo que acontece na relação, e nada lhe oferece garantias acerca da natureza dessa 
afetação, nem dos rumos que a psicoterapia pode seguir. 
 
7.5. Gestalt-Terapia 
 
Foi em meados dos anos 40 que a Gestalt começou a ser praticada efetivamente 
como tal. Foi elaborada, sobretudo, a partir de um psicanalista judeu de origem alemã: 
Frederick Salomon Perls (1893-1970). Ele, com a ajuda de alguns colaboradores como 
Laura Perls e Paul Goodman, observando a insatisfatória fragmentação para a qual 
transcorria o estudo da psicologia humana, começaram a elaborar uma síntese coerente 
de várias correntes filosóficas, metodológicas e terapêuticas européias, americanas e 
orientais com a intenção de abordar o ser humano de uma forma mais congruente com a 
amplitude da sua existência (Ginger, 1995). 
Segundo a mesma autora, a Gestalt pode estar mais bem situada na intersecção 
entre a psicanálise, as terapias psicocorporais de inspiração reichiana, o psicodrama, as 
abordagens fenomenológica e existencial, as filosofias orientais, entre outras. Assim, a 
teoria desenvolve uma perspectiva diferente das até então conhecidas: apresenta uma 
ótica unificadora do ser humano, ao mesmo tempo, integrando as dimensões sensoriais, 
afetivas, intelectuais, sociais e espirituais. 
Inicialmente, a Gestalt se difundiu rapidamente nos países europeus, 
principalmente, nos países germânicos e anglo-saxões. Contudo, foi da experiência na 
 40
África do Sul que a teoria-prática desempenhada por Perls começou a se estruturar de 
fato; o mesmo obtinha, naquele espaço, a oportunidade de desempenhar a clínica como 
atividade diária, esculpindo suas idéias até estruturar o que haveria de se denominar 
Gestalt-Terapia. 
Muitos estudiosos ainda afirmam que a teoria foi oficialmente batizada nos 
Estados Unidos (Nova York) por volta do ano de 1951. Nesse contexto, ganhava amplo 
espaço nas divulgações especializadas, além de apoios e incentivos gerais às pesquisas 
relacionadas ao tema. Por volta do ano de 1968, com o movimento da contracultura 
avançando na Califórnia, evidenciando os valores humanistas e o potencial criativo do 
ser humano, a Gestalt também ganha destaque como possibilidade efetiva de resgate do 
ser humano. 
Então, o que se entende pela palavra “Gestalt”? O substantivo alemão "Gestalt", 
desde a época de Goethe, apresenta dois significados diferentes: (1) a forma; (2) uma 
entidade concreta que possui entre seus vários atributos a forma. É o segundo 
significado que os gestaltistas do grupo de Berlim utilizam, e, assim, por serem 
considerados os pioneiros no estudo dessa problemática, assim permanece denominada 
a abordagem. A tradução da palavra "Gestalt" não se acha nas outras línguas e a melhor 
maneira encontrada pelos próprios gestaltistas ao escrever em idiomas diferentes é 
simplesmente mantê-la. (Engelmann, 2002). 
 
7.5.1 Psicologia da Gestalt 
 
Os primeiros estudos da escola da Gestalt foram realizados na organização da 
parte perceptiva consciente. Na Alemanha, inicialmente, os estudos sobre a percepção 
avançaram de forma espantosa. Wertheimer (1880-1943), com as contribuições de 
 41
Koffka (1886-1941) e Köhler (1887-1967), observarm a apresentação do movimento fi – 
quando o intervalo entre as apresentações de dois estímulos luminosos for curto, de 30 
milissegundos, então os observadores vêem dois perceptos ao mesmo tempo 
(simultaneidade). Entretanto, quando o intervalo entre as duas apresentações for ao 
redor de 60 milissegundos, os observadores vêem um percepto movimentando-se da 
primeira localização para a segunda (“movimento ótimo”). 
O importante nesse movimento é que entre o primeiro estímulo, na primeira 
localização, e o segundo estímulo, na segunda localização, há um tempo no qual não 
existe qualquer estímulo. Mas, apesar disso, o sujeito ignora a correspondência entre a 
estimulação física e o percepto, tornando muito interessante o fato de que indivíduos 
são impotentes para distinguir se o fenômeno existente na apresentação é movimento 
real ou aparente. Isso, por si só, representa um marco da teoria: a percepção como 
elemento fundamental da relação homem-mundo. 
Em 1914, Wertheimer achou que, diante dos principais fatores perceptivos 
observados, havia uma lei que os subordinavam e que acabou por denominá-los de 
pregnância. Tal termo pode ser entendido como uma organização psicológica, cujas 
condições envolvidas na apresentação dos objetos, permitem que o aqui-agora tenha a 
tendência de acontecer de uma forma específica. Abarca propriedades como 
regularidade, simetria, simplicidade e outros. O fator de proximidade, o fator de 
semelhança e o fator de fechamento são três dos fatores que Wertheimer cita. 
Assim, os estudos sobre as percepções sensoriais permitiram o alargamento de 
suas proposições para o universo da psicologia humana de forma geral. Aos poucos, os 
freqüentes avanços nessa área aludiam para um novo caminho. Num artigo publicado na 
Alemanha, Koffka alarga o que se pode entender por Gestalt. Pensa em Gestalten não 
apenas como experiências, mas também como ações dos indivíduos:Cantar, escrever, 
 42
desenhar, andar são Gestalten tanto quanto a consciência de ouvir ou de olhar. “O ato 
motor é um processo-de-todo organizado; os muitos movimentos individuais podem ser 
compreendidos somente como partes do processo que os abraça (...)”. (Koffka, 
1915/1938, citado por Engelmann, 2002.) 
Assim ocorreu, por exemplo, com os experimentos de Köhler envolvendo 
chimpanzés. Esses, pois, quando encontrados numa situação em que o alimento era 
posto fora do seu alcance, procuravam por diversas soluções, até que repentinamente o 
desfecho chegava; é o "Einsicht" ou em sua tradução inglesa insight – referido à 
posteriori na teoria como introvisão. O critério de insight é o aparecimento de uma 
solução completa com relação à estrutura do campo, como disse o próprio Köhler. O 
chimpanzé, após o insight, realiza genuinamente o caminho que leva à solução do 
problema, inclusive utilizando utensílios para a nova função ou até inventando-os. 
A Psicologia da Gestalt – assim chamado os estudos sobre a percepção, a 
aprendizagem e solução de problemas –, iniciada por Max Wertheimer, juntamente com 
Wolfgang Kohler e Kurt Koffka, ainda apresentaram um desenvolvimento posterior 
relacionado com Kurt Lewin e sua Teoria do Campo, e Kurt Goldstein com sua Teoria 
Holística. Esses elementos perfizeram o quadro científico do qual Frederick Perls se 
utilizou para estruturar o campo que viria a ser chamado de Gestalt-Terapia. Segundo 
Ribeiro (1985): 
 
Falar de percepção e, sobretudo, de aprendizagem e solução de problemas 
é dar um passo na compreensão de qualquer forma de psicoterapia como 
um processo que envolva ambas as situações. De Fato, Perls foi buscar na 
Psicologia da Gestalt sua proposta de aprendizagem e solução de 
problemas no que elas podem ajudar o cliente a aprender a solucionar seus 
problemas em um nível amplo, como seja o existencial. (p. 66) 
 
 43
É nesse sentido que, neste momento, se buscará expor os princípios norteadores da 
Psicologia da Gestalt. Pois, estes encontram íntima relação com a Gestalt-terapia; e, 
embora seja reconhecido que, do ponto de vista da percepção (sensorial), quando estes 
princípios registram uma realidade imediata, diretamente apresentada, e que, do ponto 
de vista psicoterapêutico, como afirma Ribeiro (1985), imbuídos de maior 
complexidade, os princípios registram apenas tendências ou atitudes 
psicodinamicamente presentes, sem uma seqüência factual tipo causa-efeito, torna-se 
extremamente relevante relacioná-los, já que ambas as perspectivas decorrem de uma 
única vertente perceptiva do ser – a percepção e a forma como ela é interiorizada. 
 
a) Parte-Todo 
 
O próprio conceito da Gestalt pode introduzir uma idéia básica sobre a relação 
parte-todo. Da mesma forma, fundam estruturas globais, cuja totalidade só pode ser 
efetivamente apresentada quando também considerada a complexidade das relações 
envolvidas entre as “partes”. Uma gestalt envolve, assim, um todo estruturado sob as 
dinâmicas relações entre as partes que o integram. O princípio, portanto, de que o todo 
é maior que a soma das partes garante ao todo uma característica essencial que falta às 
partes isoladas. 
A gestalt interessa-se em todos como fatos fenomenológicos que, apenas em sua 
globalidade, podem ser compreendidos como fenômenos. Esse fundamento assume 
lugar central na teoria da Gestal-terapia quando o cliente deve ser encarado como um 
todo indivisível, composto por corpo e mente. Da mesma forma, os fatos que emergem 
no setting terapêutico devem ser encarados como manifestações do fenômeno global de 
uma terapia, embora se expressem, em geral, como partes – como a queixa inicial, 
 44
movimentos corporais, verbalizações etc. – que, contextualizadas na relação com outras 
partes, permitem uma maior efetividade na compreensão do ser. Se referindo ao mesmo 
aspecto, Ribeiro (1985) afirma que: 
 
O todo, na realidade, perde muito de seu significado, da sua importância 
intrínseca, no momento em que, para ser analisado, é dissecado em suas 
partes. O todo é, na realidade, um fato fenomenológico global e é através 
desta globalidade que os fenômenos podem ser compreendidos, criando ou 
dando consciência de sua natureza intrínseca. (p. 70). 
 
 
A experiência humana apresenta-se de forma estruturada, ainda que feita de partes. 
E essa estrutura, sempre que acrescida de um novo elemento, torna-se uma nova 
estrutura. A experiência só é percebida como completa quando a experimentamos como 
um todo, mesmo que seja apenas um pequeno esboço da realidade. E, para se 
compreender o todo, é importante que se conheça a relação entre suas partes, de forma 
definida, para que o todo venha à luz. 
Assim, pois, é essencial que o gestalt-terapeuta observe de que forma as relações 
entre as partes que emergem no processo, podem adquirir, numa visão ampliada, um 
sentido - todo. Para isso, o profissional deve trabalhar simultaneamente em duas 
direções, na parte e no todo; à espera de que a relação revele a totalidade, onde o 
discurso psicoterapêutico se completa e se plenifica. 
 
b) Figura-fundo 
 
A relação entre figura e fundo revela mais uma natureza da percepção humana. A 
figura emerge como parte destacada de uma determinada configuração, enquanto que o 
fundo encarna um outro contexto dessa mesma configuração, embora mais recuado e 
amorfo. Ambos coexistem numa relação única, dinâmica e, portanto, passível de 
 45
alterações quando implicados numa determinada estrutura de percepção, possibilitando 
assim que aspectos não focados inicialmente (o fundo) tornem-se figura. 
O conceito tornou-se importante para se compreender as leis de organização da 
percepção; a Gestalt-terapia se apropria da mesma forma pois, como afirma Ribeiro 
(1985): 
 
É interessante observar que a relação figura-fundo no cliente é extremamente 
fluida, isto é, sua organização está em constante mudança, o que gera no 
psicoterapeuta a necessidade de também ele estar em fluidez com o cliente. 
Embora na linguagem do cliente surja um tema, uma figura, mais firme e 
clara, esta figura adquire, a todo instante, matizes novos, na razão em que o 
cliente, consciente ou inconscientemente, volta ao seu “fundo” e de lá trás 
coisas diferentes (p. 75). 
 
No processo psicoterapêutico, o terapeuta deve perceber o que aparece como 
figura para o cliente (o que emerge, o que salta aos olhos) e o que é fundo (o que está 
encoberto, o que não se vê de imediato) e trabalhar no sentido de conscientizar o cliente 
do que ele pode estar evitando na tentativa de integração da sua personalidade total. 
Assim, é imprescindível que exista um fluente movimento entre figura-fundo a 
fim de permitir que o campo perceptivo da relação cliente-terapeuta esteja aberto às 
diferentes possibilidades que constituem a configuração em contexto. A fixação numa 
determinada forma de percepção compromete o funcionamento psíquico do indivíduo, 
tornando-o rígido como numa forma neurótica de existência. 
 
c) Aqui-Agora 
 
Na psicologia da gestalt o conceito está intimamente relacionado à solução 
isomórfica elaborada inicialmente por Köhler no capítulo sobre isomorfismo 
psiconeural, onde ele acreditava que as Gestalten fenomenológicas da consciência 
 46
teriam a mesma forma ou seguiriam a mesma matemática topológica que as estruturas 
físicas. Contudo, a discussão que se seguiu posteriormente se referiu muito mais a 
seguinte questão: qual é o grau de influencia da experiência passada na vivência de uma 
nova experiência presente? 
 
Segundo Ribeiro (1985): 
 
Em termos de psicologia da gestalt, estar no aqui-agora significa que este 
aqui e agora contém e explica minha relação com a realidade como um todo, 
ou seja, o que eu vejo, o que eu percebo agora pode ser explicado pelo agora, 
sem necessidade de recorrer a experiências passadas de percepção (p.79). 
 
Para a gestalt, o aqui-agora se constitui como o local-momentoda experiência 
humana. É nesse ínterim que a realidade está aberta à existência; e é somente nele que o 
homem pode vivenciar a realidade e explicar a sua própria relação com a mesma. 
Determina uma condição da sua própria natureza que, condicionada pelo presente, 
sobrepõe tanto o passado como o futuro, e recaem senão como lembranças ou 
perspectivas virtuais de um outro momento que também se manifesta ainda no presente. 
Na Gestalt-terapia, o aqui-agora é o espaço-tempo necessário para se compreender 
e experienciar a realidade. O trabalho psicoterápico deve focar o tempo-espaço presente, 
pois, ao se comprometer com essa perspectiva, se está falando do princípio da 
contemporaneidade, isto é, a experiência presente é explicável a partir de sua relação 
com o campo fisiológico e cria uma situação a-histórica, em que o passado passa a ter 
um valor relativo (Ribeiro, 1985). 
Dessa forma, o cliente é levado a crer no potencial do aqui-agora e, 
conseqüentemente, a experienciar o setting (a relação cliente-terapeuta) como uma 
possibilidade oportuna de atuar diretamente na sua própria existência. 
 47
d) Teoria do Campo 
 
O conceito de campo tem sido muito debatido entre as diversas áreas de 
conhecimento. Ele contém as principais questões que envolvem as relações entre os 
corpos do universo. O conceito tem ocupado um grande número de pesquisas que 
envolvem a Física, e dela tem retirado pressupostos interessantes – não só em termos de 
movimento dos corpos mas também nos aspectos relacionados a sua própria natureza. 
No universo da gestalt, o campo envolve a relação entre as pessoas e seu meio 
geográfico. Desta forma, podemos explicitar que o ambiente no qual está circunscrita a 
pessoa se refere ao meio geográfico, o lugar onde a pessoa se localiza, a disposição da 
atmosfera que o envolve; enquanto que a relação psicológica da pessoa com o lugar, 
levando em consideração o conteúdo psíquico daí proveniente, se refere ao meio 
comportamental. 
Assim, cada pessoa distingue um meio comportamental específico; e a interação 
de um meio comportamental com outros meios (geográficos e/ou comportamentais – de 
outras pessoas) podem alterar aquele estado inicial através de tensões (forças). Ou seja, 
há nessa situação um campo maior que também é constituído por outros. Segundo 
Ribeiro (1985), assim ocorre na psicoterapia: 
 
Podemos, portanto, dizer que em psicoterapia existem dois campos: o 
cliente e o psicoterapeuta. Quando o cliente fala, o psicoterapeuta está 
em íntima relação com ele, sobretudo se o tema não contém um campo 
de força discriminado. Existe uma homogeneidade entre o ego do 
psicoterapeuta e o de seu cliente. De repente, o cliente diz algo novo, 
diferente, com uma força ou energia específica, alguma figura torna-se 
distinta neste campo (fundo opaco), imediatamente tudo muda. O 
psicoterapeuta, embora continuando ligado ao campo geográfico (o 
cliente) de uma maneira confusa, distingue algo claro neste campo. Toda 
a realidade do momento terapêutico passa a concentrar-se naquela zona 
de tensão e força (o novo tema) (p. 90). 
 
 48
Perls leva à sua teoria o olhar da Teoria do Campo de Kurt Lewin (1890-1947), 
segundo o qual o comportamento deve ser compreendido dentro do campo ou contexto 
total que engloba as relações entre os sujeitos e com o ambiente que os cercam. Dessa 
forma, numa relação terapêutica, o campo construído em função dos sentimentos 
envolvidos e, de alguma forma, expressos no momento em que o comportamento 
acontece, constitui a gestalt que dá sentido à psicoterapia, às intervenções do 
psicoterapeuta, à expressão do cliente, assim como o sustentáculo da relação dinâmica 
que se desenvolve entre ambos. 
Além disso, a definição de espaço vital de Lewin como o conjunto de fatos 
significativos que influenciam o comportamento da pessoa serve de subsídio a um dos 
principais direcionamentos da psicoterapia: trabalhar a delimitação e integração do 
espaço individual do cliente abrangendo o grau de realismo e equilíbrio necessários à 
sua saúde psicológica. 
 
e) Teoria Organísmica 
 
Estruturada de acordo com os estudos de Goldstein (1878-1965), a teoria aborda 
conceitos que vão além do que foi estudado pela Psicologia da Gestalt; transpõe os 
estudos sobre os fenômenos restritos a tomada de consciência. Ela integra o ser humano 
numa só perspectiva geral – unidade. Como dizia o próprio Golstein (1939, citado por 
Ribeiro 1985): “O organismo é uma só unidade; o que ocorre em uma parte, afeta todo o 
corpo”. 
A teoria acredita que se pode apreender mais em um estudo compreensivo da 
pessoa do que em uma investigação exclusiva de uma função psicológica isolada e 
abstrata de muitos indivíduos. 
 49
Essas influências se correlacionam à busca de Perls por uma visão holística do 
funcionamento humano. Essa teoria tenta reduzir a cisão corpo/mente, define o 
indivíduo como um todo integrado, unificado e não dividido em sentimentos, emoções, 
sensações, imagens, etc. 
Goldstein ainda fornece subsídios para a compreensão da relação todo-partes. Ele 
defende que o organismo é um sistema organizado com o todo diferenciado em partes e 
que o que ocorre em uma parte afeta o todo. O homem, portanto, possui as 
potencialidades que regulam seu próprio crescimento e recebe, de forma seletiva, 
influências positivas e negativas do meio exterior; esse todo ainda é organizado por um 
impulso dominante de auto-regulação pelo qual é permanentemente motivado. 
 
7.5.2 A Gestalt-Terapia e suas Influências 
 
Embora as bases da Gestalt-terapia sejam advindas da Psicologia da gestalt 
(especialmente dos trabalhos de Wertheimer, Koffka, Kohler), da Teoria do Campo de 
Kurt Lewin e da Teoria Organísmica de Kurt Goldstein; além da proeminente influência 
do existencialismo, humanismo e fenomenologia, encontram reflexo relevante, na teoria 
psicanalítica (Freud e Reich), Psicodrama (Moreno) e filosofia oriental. 
De fato, os fundamentos teóricos e as influências utilizadas na elaboração da 
Gestalt-terapia foram as mais variadas. Isso garantiu à teoria, características essenciais 
como o dinamismo e criatividade. Perls não tinha pretensões de que a Gestalt-terapia se 
firmasse como uma teoria acabada e, portanto, com definições inquestionáveis. É 
seguindo essa atitude que, atualmente, os gestalt-terapeutas – chamados da “terceira 
geração”, ainda estão implicados na construção da teoria; e, mesmo que embasados num 
espaço comum, continuam diariamente formulando suas próprias formas de atuação. 
 50
Esse “espaço comum”, como já dito anteriormente, abarca inúmeras outras teorias 
(pois assim é o processo – ad infinitum). A psicanálise influenciou sobremaneira as 
idéias de Perls. Sua contraposição a teoria de Freud o remeteu a inúmeras outras 
possibilidades. Afinal, ele fez seis anos de análise e de formação didática (de 1926 a 
1932), além de vinte e três anos de prática como psicanalista. Assim, importante é 
distinguir as críticas que Perls fez à Psicanálise daquilo que, de certo modo, possa haver 
em comum entre essa teoria e a gestalt-terapia para, somente a partir daí, mobilizar uma 
compreensão desse todo teórico. 
A discussão pertinente está relacionada, principalmente, aos métodos 
psicoterápicos; onde o foco da terapia é o material óbvio ao invés do recalcado; o 
presente e o processo corporificados no “como” ao invés do passado e a causalidade 
corporificada no “porquê”; a relação existencial entre cliente e terapeuta ao invés da 
relação transferencial. Perls, assim, transpôs a teoria de Freud em busca de uma visão 
holística do funcionamento do organismo; almejou a visão de um homem constituído 
por vários instintos (ao invés de um só) e que, ao mesmo tempo, tem na expressão sua 
tendência para se reequilibrar. 
Nesse sentido, além do lado expresso do Eu, a Gestalt-terapia considera o seu 
lado invisível – o Self. O Self sente e o Eu age, às vezes,

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