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PIASC- Como um dispositivo para superação do modelo hegemônico

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PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO ACADEMIA, SERVIÇO E COMUNIDADE 
(PIASC) COMO UM DISPOSITIVO PARA SUPERAÇÃO DO MODELO 
HEGEMÔNICO. 
 
Ana Paula Chancharulo de Morais Pereira
1
 
 
Título resumido: PIASC dispositivo para superação do modelo 
Resumo: Trata-se de um relato de experiência da implantação de um componente curricular 
alinhado dos cursos de medicina, enfermagem, nutrição, farmácia, fisioterapia e 
fonoaudiologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), cujo foco é a integração 
academia, serviço e comunidade. O componente curricular tem como local de prática 
Unidades de Saúde da Família do município de Salvador-Ba. A descrição da experiência 
aponta o componente curricular como um dispositivo para superação dos modelos 
assistenciais hegemônicos, bem como, uma síntese critica das suas possibilidades e dos seus 
limites, utilizando para isso, diversas fontes de informação produzidas pelos docentes como 
também pelos discentes. 
Palavras-chave: recursos humanos; atenção primária em saúde; serviço de saúde; ensino. 
Introdução: Com a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) inúmeros desafios 
surgiram, dentre os quais, se destaca a superação do modelo assistencial hegemônico. 
Rotineiramente, é muito comum a vinculação nos meios de comunicação de notícias que 
tratam da crise na organização e no funcionamento do SUS. O modelo hegemônico 
fundamenta-se no trabalho médico, na verticalidade da assistência, na falta da 
responsabilidade pela integralidade do caso, na queixa-conduta e no enfoque biológico do 
processo saúde-doença. Considerando que modelo assistencial consiste na organização das 
ações para a intervenção no processo saúde-doença, articulando recursos humanos, físicos e 
tecnológicos, para combater e solucionar os problemas de saúde, e, que se apoia em saberes e 
conhecimentos (MERHY, 1992), entende-se que a formação de recursos humanos conforma-
se numa importante dimensão tanto para manutenção quanto para superação do modelo 
hegemônico. Acredita-se que o trabalhador em saúde pode, através de seu agir cotidiano, 
mudar o modelo de atenção em saúde, o qual é marcado pela pouca efetividade, aumento 
vertiginoso dos custos, forte apelo as tecnologias duras (equipamentos) e iniquidades na 
distribuição da oferta (SILVA JUNIOR; ALVES, ). Concorda-se com Merhy (1998) quando 
 
1
 Enfermeira, Mestre em Saúde Coletiva, Professora Assistente do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Universidade do Estado da 
Bahia (UNEB), coordenadora do PIASC e Auditora em Saúde Pública da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB). 
afirma que existe uma perda da dimensão cuidadora na produção da saúde, e que o produto do 
trabalho é resultado de um conjunto dos trabalhos realizados pelos diversos trabalhadores. 
Esse mesmo autor aponta ainda que, a satisfação de uma necessidade do usuário não é 
necessariamente verdadeira (MERHY, 1998). Nesse sentido, é notório que o modo como os 
profissionais de saúde operam o cuidado em saúde é um aspecto fundamental da mudança do 
modelo hegemônico em saúde. A conformação desse modelo de atenção expressa não só uma 
dada forma de poder político, como também o conceito de saúde-doença, finalidade do 
trabalho em saúde e o papel de cada um nesse processo. Ao longo do processo de viabilização 
e implantação do SUS, várias propostas de reorientação dos sistemas e dos serviços de saúde 
surgiram, todas pautadas nos princípios do SUS e tais experiências apresentam como 
semelhança é que todas surgiram a partir da integração academia-serviço (MERHY; MALTA; 
SANTOS). Nessa conjuntura, urge a necessidade de repensar os modelos adotados pelas 
instituições no campo da formação de recursos humanos em saúde. A Universidade do Estado 
da Bahia (UNEB) é constituída por 28 campi, sendo que o maior deles localiza-se no 
município de Salvador (Campus I). Administrativamente, além das Pró-reitorias, a UNEB 
conta com os Departamentos, os quais são responsáveis pela condução administrativa e pela 
condução didático-pedagógica dos cursos que integram cada um desses departamentos. Os 
cursos da área de saúde da UNEB integram o Departamento de Ciências da Vida (DCV), o 
qual conta com 06 cursos, medicina, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, enfermagem e 
nutrição, sendo que o mais antigo é o de nutrição e o mais recente o de medicina. O DCV 
atualmente encontra-se num processo de implantação dos 05 novos projetos político-
pedagógicos dos cursos já existentes e do curso de medicina. Tal momento possibilitou a 
Direção do DCV em conjunto com os colegiados dos cursos, repensar e construir 
coletivamente os novos projetos. Como estratégia definiu-se que os componentes curriculares 
comuns aos cursos de saúde seriam ofertados de modo alinhado, diferente do que ocorre com 
os projetos antigos, que não existe integração entre os cursos. Os projetos pedagógicos são 
constituídos por 03 eixos, o de educação, saúde e sociedade; o de cuidado, saúde e sociedade; 
e de saberes e práticas. Dentre tais componentes curriculares alinhados encontra-se o 
Programa de Integração Academia, Serviço e Comunidade (PIASC), o qual tem como 
finalidade desenvolver habilidades e competências nos discentes relacionadas ao trabalho 
multiprofissional, ao estimulo à participação social, à ação intersetorial, ao diagnóstico da 
comunidade e ao planejamento e a programação local em saúde (PPLS). Trata-se de um 
componente teórico-prático. Entende-se que o PIASC conforma-se num dispositivo para 
superação do modelo tradicional de assistência à saúde. Nesse estudo, dispositivo é 
compreendido como montagem ou artifício produtor de inovações que gera acontecimento, 
atualiza virtualidade e inventa o novo radical (Baremblit, 1992 apud Campos 1999). Arranjo 
que pode alterar o funcionamento da organização, mas que não faz parte da estrutura. A 
reforma das práticas em saúde depende de novos padrões de relacionamento entre 
sujeito/clinico e sujeito/enfermo, ou seja, uma mudança radical das bases do trabalho em 
saúde (CAMPOS, 1999). O Programa de Saúde da Família (PSF) surgiu em 1994 como o 
objetivo de superar o modelo tradicional marcado por serviços hospitalares, atendimentos 
médicos e ações curativas. Nesse novo modelo de intervenção a base de atuação é o território, 
com adscrição da clientela e com uma equipe mínima multiprofissional constituída por 
médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS), podendo 
ser incluído também equipe de saúde bucal (cirurgião dentista e auxiliar de saúde bucal e 
técnico de saúde bucal dependendo da modalidade da equipe). As equipes de saúde família 
devem estar vinculadas a uma unidade básica de saúde que deve estar vinculada à rede de 
serviços de saúde local de modo a garantir assistência integral aos indivíduos e as famílias. 
Reconhece-se que com a criação do PSF e do incentivo financeiro repassado pelo Ministério 
da Saúde aos municípios que aderiram ao Programa, possibilitou a ampliação do acesso às 
ações e aos serviços de saúde em todo território nacional. Através da Política Nacional de 
Atenção Básica, instituída pela Portaria GM/MS nº 2488/2011, o Programa de Saúde da 
Família passou a ser definido como Estratégia de Saúde da Família. Entretanto, a Estratégia 
de Saúde da Família tem que superar alguns desafios, dentre os quais, destacam-se a sua baixa 
valorização, a não garantia de retaguarda e sua baixa capacidade de resolver problemas. 
Merhy; Malta; Santos (, apontam como limites da Estratégia de Saúde da Família a concepção 
de formato único para todo o país e equipes, desconsiderando as diferenças loco-regionais, 
desconhecendo o atendimento a demanda espontânea e como se o atendimentoprogramado 
conseguisse responder pela totalidade das necessidades de atenção dos indivíduos e das 
famílias. Nesse contexto, a busca por novos modelos assistenciais, que estejam 
comprometidos radicalmente com a defesa da vida individual e coletiva, cuidadores por 
excelência, com habilidades e com competências para encontrar a melhor solução para os 
problemas vivenciados pela comunidade e que tais soluções sejam ordenadas pelas reais 
necessidades dos usuários, reconhecidos como cidadãos. Pensar e propor tais modelos são 
responsabilidades de todos aqueles que pretendem implantar ações transformadoras que visem 
garantir o efetivo direito à saúde da população brasileira. Nesse trabalho pretende-se 
apresentar dados e fatos que permitam ao leitor compreender o processo de implantação de 
um componente curricular inovador no campo da formação em saúde; mostrar as bases que 
compõem sua concepção didático-pedagógica, as quais foram construídas a partir da reflexão 
e crítica aos modelos tradicionais de formação em saúde, os quais privilegiam o saber 
biomédico, o tecnicismo, a especialização e o cientificismo; e socializar os limites e as 
possibilidades dessa proposta inovadora. 
Objetivo: Descrever a experiência da efetivação do componente curricular Programa de 
Integração Academia, Serviço e Comunidade (PIASC) nos cursos de saúde vinculados ao 
Departamento de Ciências da Vida (DCV), campus de Salvador, da Universidade do Estado 
da Bahia (UNEB). 
Metodologia: Trata-se de um relato de experiência docente na implementação das atividades 
pedagógicas do PIASC durante os semestres letivos de 2012.1, 2012.2 e 2013.1 com objetivo 
de socializar as experiências com as atividades práticas. O PIASC é um componente alinhado 
de todos os projetos político-pedagógicos dos cursos da área de saúde do DCV/UNEB. Tais 
projetos são estruturados em 03 eixos, sendo que o PIASC compõe o primeiro eixo, 
denominado Educação, Saúde e Sociedade. Tal componente curricular integra os 03 
primeiros semestres (PIASC I, PIASC II e PIASC III), sendo que cada PIASC é ofertado em 
um semestre distinto, ou seja, PIASC I no 1º semestre, PIASC II do 2º semestre e PIASC III 
no 3º semestre, os quais envolvem atividades teóricas e práticas, as quais são realizadas em 
unidades de saúde da família (USF) da Rede de Atenção Primária do município de Salvador-
Bahia-Brasil. A escolha por unidades básicas de saúde, organizadas dentro da lógica da 
estratégia de Saúde da Família, derivou do entendimento do coletivo de professores de que 
esse modelo possibilitaria ao discente o estabelecimento de vinculo e criação de laços e de 
compromisso de co-responsabilidade com os trabalhadores e com a comunidade, assim como, 
ter como objeto do cuidado a família no território. Diretrizes essas, definidas na Política 
Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2011). Cada turma é composta em média por 20 
discentes, oriundos dos cursos de enfermagem, medicina, farmácia, fonoaudiologia, nutrição e 
fisioterapia, sendo que cada turma é subdivida em 03 grupos de prática, com exceção do 
PIASC III. A proposta pedagógica do PIASC foi construída coletivamente pelos docentes da 
Área Básica: Saúde Coletiva, qual está diretamente vinculada à direção do DCV/UNEB. No 
PIASC I, são trabalhados com os estudantes conceitos e saberes sobre processo saúde-doença, 
comunidade, família, Estratégia Saúde da Família (ESF), Atenção Primária em Saúde (APS), 
SUS e território. As atividades práticas têm como finalidade possibilitar ao discente conhecer 
o território, a organização e o funcionamento da USF. O PIASC II envolve a discussão sobre 
técnicas e estratégias utilizadas para realizar o diagnóstico da situacional da USF. E no 
PIASC III, discuti-se o planejamento em saúde com vistas à realização de uma intervenção. 
Salienta-se que as atividades práticas por turma do PIASC acontecem na mesma USF, ou seja, 
a turma desenvolve suas ações durante os 03 semestres consecutivos. A definição por essa 
continuidade foi favorecer o estabelecimento de vinculo da turma com a comunidade e com 
os trabalhadores de saúde, bem como, articular as experiências vivenciadas ao longo dos 
semestres letivos. Como recursos avaliativos, definiu-se o diário de campo, participação nas 
discussões em sala de aula, produção de textos e a elaboração de um relato de experiência por 
grupo de prática de cada turma do PIASC. Compreendendo que a troca de saberes e 
conhecimentos são essenciais para a reflexão e para a aprendizagem, os relatos de 
experiências produzidos pelos discentes com apoio dos professores são apresentados durante 
o evento denominado Mostra do PIASC, a qual acontece na última semana do semestre letivo. 
O referido evento conta com 02 momentos, no primeiro acontece à solenidade de abertura 
com exposição do propósito do evento e um breve registro do processo de construção das 
experiências que serão apresentadas. No segundo momento, ocorre a apresentação dos relatos, 
sendo que tais experiências são expostas em salas especificas para cada USF. A forma de 
expressão é definida por cada grupo, sendo acordado apenas o tempo máximo de 
apresentação. Participam do evento professores, coordenadores de curso, discentes, 
profissionais das USF e membros da comunidade. A fonte utilizada para a construção desse 
relato foram as atas de reunião da área de saúde coletiva, as ementas do PIASC, o regimento 
interno do PIASC e o diário de campo dos estudantes. 
Resultados: A implantação do PIASC teve inicio no semestre letivo 2012.1, o qual contou 
com 180 estudantes matriculados e com 09 turmas. Cada turma era composta por 20 
discentes, sendo em média 03 de cada curso da área de saúde vinculado ao DCV/UNEB. 
Como campo prático, foi definido 05 USF localizadas em bairros pertencentes a 03 Distritos 
Sanitários da cidade de Salvador-Ba. O número de equipes por USF variou de 03 a 04 equipes 
de saúde da família. A definição de tais unidades levou em consideração a distribuição das 
unidades de saúde por parte da gestão da Secretaria de Saúde de Salvador segundo Distrito 
Sanitário e Instituição de Ensino Superior (IES) e o aceite por parte da gerencia da USF e da 
equipe de saúde em participar do PIASC. Para esse aceite os docentes realizaram visita 
técnica as USF e apresentaram a ementa e a proposta de trabalho do PIASC. Definido o 
campo prático do PIASC, iniciou-se então a construção do programa do PIASC I, sendo 
realizadas algumas reuniões para discussão da proposta de trabalho a qual envolveu a 
definição dos conteúdos teóricos, bibliografia, técnicas didáticas e meios de avaliação. O 
horário a ser ofertado o PIASC foi discutido junto com os coordenadores de colegiado e a 
direção do DCV/UNEB, que considerando o alinhamento entre os cursos da área de saúde, 
definiu-se que o PIASC I e PIASC III aconteceriam no turno matutino e o PIASC II no turno 
vespertino, sendo ofertadas turmas de terça a quinta-feira. Em cada dia da semana são 
ofertadas 03 turmas de PIASC. Além disso, pactuou-se que a primeira aula das turmas de 
cada dia da semana seria realizada junta, com a realização de uma dinâmica de integração e a 
produção de um pequeno texto (até 10 linhas) por parte dos discentes acerca das expectativas 
sobre o componente curricular. Outra estratégia definida coletivamente foi que na segunda 
aula o objetivo seria trabalhar com os discentes preconceitos e tabus sobre a comunidade, 
tendo como mecanismo a leitura de um poema escrito por uma liderança comunitária e scripts 
dramatizados pelos estudantes que após a apresentação a turma refletiria sobre a situação 
apontando equívocos e a definindo um novo desfecho para a situação exposta. Cada turma foisubdividida em 03 grupos de práticas, sendo que cada grupo realizou três visitas a USF com o 
objetivo de conhecer o serviço e a área de abrangência da USF. Todas as visitas ao território 
foram feitas em companhia dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Como produto final 
cada grupo sistematizou sua experiência prática. O modelo de apresentação foi definido por 
cada grupo, o qual variou de pequenas produções visuais até dramatizações. A fonte para 
elaboração do relato foi o diário de campo dos discentes que integravam cada grupo de 
prática. No PIASC II o objetivo foi elaborar um diagnóstico situacional da USF, o qual 
envolveu a situação de saúde da população adscrita e a organização e o funcionamento do 
serviço de saúde. Assim, como no PIASC I, a turma também foi subdivida em 03 grupos de 
práticas e as atividades ocorreram na mesma USF que serviu de campo para o PIASC I. Como 
técnicas para levantamento de problemas utilizou-se entrevistas com informantes chaves 
(trabalhadores de saúde, lideranças comunitárias) e usuários, relatório gerencial do Sistema 
Informação da Atenção Básica (SIAB) e a realização de estimativa rápida. Para embasar a 
atividade prática foram trabalhados em sala de aula conhecimento sobre os determinantes do 
processo saúde-doença, indicadores de saúde (definição, uso e aplicações), sistemas de 
informação do SUS, fonte de informações (primária e secundária) e outros que foram 
demandados pelos estudantes de acordo com as necessidades identificadas ao longo da 
realização do diagnóstico situacional. Cada grupo de prática elaborou um diagnóstico 
situacional, totalizando ao final do semestre letivo 27 produtos finais (cada turma elaborou 
03, sendo que no semestre existiam 09 turmas) os quais foram apresentados na Mostra do 
PIASC no formato de apresentação oral. Quanto ao PIASC III, diferente do PIASC I e PIASC 
II que já existem experiências anteriores, para todos os envolvidos conforma-se numa 
experiência inédita, pois além de ser a turma pioneira, as turmas não foram subdivididas para 
realização da atividade prática, ou seja, todas as ações estão desenvolvidas por todos os 
discentes que integram cada turma. O propósito do PIASC III é o planejamento e a execução 
de uma intervenção na comunidade, para isso, foram trabalhados em sala de aula saberes e 
conhecimentos sobre planejamento em saúde e técnicas de planejamento, sendo que a 
metodologia adotada foi o planejamento estratégico-situacional adaptado à Estratégia Saúde 
da Família. O programa conta com encontros teóricos e práticos, sendo definido entre os 
docentes que o objeto de intervenção seria determinado em conjunto com a equipe de saúde e 
a comunidade. Como estratégia didática, deliberou-se que cada turma faria algumas oficinas 
para definição do objeto e do plano de trabalho. Na primeira oficina os estudantes 
apresentaram o consolidado dos diagnósticos situacionais produzidos pelos grupos no PIASC 
II, pois como agora, as turmas não são subdivididas foi essencial copilar todos os produtos em 
um único documento. A partir desse primeiro encontro elaborou-se um cronograma de 
trabalho. Vale ressaltar que toda a dinâmica do PIASC III foi anteriormente discutida e 
apresentada a gerências e os trabalhadores das USF que compõe o campo prático do PIASC. 
A primeira oficina teve como finalidade além de apresentar o diagnóstico situacional, definir 
com o serviço e o com a comunidade o objeto da intervenção e elaboração do cronograma de 
encontros. Após esse primeiro momento, procedeu-se o estudo sobre o tema e a definição das 
diretrizes que embasariam a proposta de trabalho, período que envolveu 03 encontros em sala 
de aula. Na segunda oficina cada turma expos uma proposta previa para realização da 
intervenção, a qual foi discutida e construída junto com trabalhadores e membros da 
comunidade. A divulgação e mobilização para participação das oficinas foi feita em parceria 
com os ACS, através da entrega de convites e a fixação de cartazes informando sobre a 
referida atividade. Em virtude da paralisação dos servidores municipais, algumas turmas do 
PIASC III não realizaram a 2ª oficina ou houve baixa frequência da comunidade. Como 
estratégia de mobilização, algumas turmas dialogaram com os trabalhadores presentes nas 
USF ou buscaram diretamente outros equipamentos sociais existentes na comunidade, a 
exemplo de escolas, para construir uma proposta de intervenção. Nesse momento, todas as 
turmas do PIASC III já têm definido o objeto e o plano de trabalho. Os temas versam sobre 
limpeza urbana (destino adequado do lixo), mobilização social com vistas a implantação do 
Conselho Local de Saúde, saúde do adolescente, projeto de vida e uso racional de 
medicamentos. Quanto a intervenção, verificou-se que todas as atividades envolvem a 
participação não só dos membros da unidade, como também lideranças comunitárias e outros 
órgãos da administração municipal e estadual. Cada turma teve com responsabilidade elaborar 
o copilado dos diagnósticos situacionais, o material de divulgação (cartazes, convites, 
folders), identificar de um espaço na comunidade para realização das oficinas, pesquisar sobre 
o tema foco da intervenção, definir os responsáveis por cada atividade definida no plano de 
trabalho e registrar todas as oficinas. Todas as intervenções estão programadas para 
acontecerem na penúltima semana de julho de 2013, devido ao encerramento do semestre 
letivo ocorrer no dia 29 de julho, conforme calendário acadêmico. Assim, como nos semestres 
anteriores acontecerá a Mostra do PIASC, integrando as experiências vivenciadas por todas as 
turmas. 
Considerações finais: Elaborar e implementar uma proposta pedagógica que possua 
componentes curriculares alinhados entre cursos distintos, de fato, não é uma tarefa simples, 
em especial quando se considera a forte influência dos modelos pedagógicos tradicionais. 
Entretanto, entende-se que a Universidade como instituição responsável pela formação de 
recursos humanos, nesse caso, da área de saúde, tem papel fundamental na criação de projetos 
políticos-pedagógicos consonantes com os princípios e as diretrizes do SUS. Assim, o 
componente PIASC no DCV/UNEB conforma-se num projeto ousado, pois pretende 
oportunizar aos estudantes uma formação pautada em experiências práticas que favoreçam a 
reflexão sobre o objeto do cuidado em saúde e sobre seu papel no processo de construção da 
Reforma Sanitária Brasileira. Implantar e desenvolver projetos pedagógicos que visem 
mudanças não é uma tarefa fácil, em especial, quando tal mudança envolve ao mesmo tempo 
06 cursos de saúde. Todavia, os relatos pesquisados apontam que os discentes avaliam como 
muito positiva a experiência vivenciada através as atividades desenvolvidas no PIASC, com 
destaque para a integração com outros estudantes dos demais cursos da área de saúde, para a 
articulação entre teoria e prática e o vinculo estabelecido com a equipe de saúde, em especial 
com os ACS, e com membros da comunidade. Outro aspecto valorizado foi a troca de 
conhecimento, saberes e práticas entre os participantes, com destaque para a Mostra. 
Entretanto, ficou evidente como dificuldades os problemas relacionados a organização e 
funcionamento das USF, no que concerne a ausência de profissionais, de insumos, de 
equipamentos e de manutenção predial, levando em alguns momentos a paralisação do 
serviço. Para os docentes a possibilidade de trabalhar com alunos que não integram o 
colegiado de seu curso, mostrou-se como uma oportunidade ímpar de produzir um novo modo 
de ensinar e aprender, que se fundamente em saberes que repouse não apenas em 
conhecimento técnico relacionado à sua formação profissional, mas relacionados ao cuidado 
em saúde com destaquepara as tecnologias leves. Contudo, tal possibilidade também se 
mostrou como um grande desafio. O modelo gerencial utilizado pela coordenação da área de 
Saúde Coletiva e do PIASC foram recursos apontados como facilitadores na superação de tais 
desafios, em especial pela discussão ampliada do processo de implementação das atividades 
teóricas e práticas e da tomada de decisão por consenso. A experiência com a implantação e a 
implementação do componente PIASC mostrou-se como um dispositivo para a construção de 
um novo fazer em saúde, por possibilitar ao discente experimentar um agir cumpliciado com 
o docente, o trabalhador e com usuário/família/comunidade, bem como refletir sobre aspectos 
teóricos que permitam realizar mudança de um modelo de atenção centrado no saber médico 
para outro centrado no usuário e na defesa da vida individual e coletiva (MERHY, 1998). 
Como qualquer proposta, apresenta limites, as quais foram agrupadas em quatro campos. O 
primeiro repousa sobre a ideia de que as instituições que integram o PIASC (universidade, 
serviço de saúde) são constituídas de sujeitos portadores de desejos e vontades distintas, que 
muitas vezes diferem do propósito do componente curricular. Tal diversidade gera tensões, 
que estão presentes em todo o processo formativo e de cuidar em saúde. Assim, esse contexto, 
exige do docente, habilidades em reconhecer a existência dessas tensões, como elas podem 
interferir na implementação das atividades propostas e pensar estratégias que busquem 
minimizar suas interferências. Entender como os processos de trabalho acontecem, identificar 
o grau de autonomia que os trabalhadores possuem no desenvolver de suas práticas 
assistenciais, perceber o modo como os processos de trabalho é organizado são aspectos que 
precisam ser considerados nessa analise. Cuja análise pode servir substrato para a reflexão 
discente acerca do modo de operar dos trabalhadores de saúde, como também para a criação 
de formas de lidar com tais tensões. O outro campo, que se mostrou como um limite foi a 
gestão e organização do Sistema de Saúde do município de Salvador. Nos últimos anos a 
condução política e técnica da Secretaria Municipal de Saúde experimentou uma alta 
rotatividade, em especial, nos dois últimos anos do mandato do prefeito eleito para o período 
2009-2012. Essa rotatividade trouxe grande instabilidade aos processos gerenciais, as quais 
acabaram por interferir na assistência ofertada pela Rede Pública de Serviços de Saúde, como 
na articulação entre academia-serviço, em especial na autorização para a realização das 
atividades práticas não só do PIASC, mas de todos os componentes teórico-práticos que 
utilizavam os serviços municipais de saúde. Além disso, problemas relacionados à forma de 
contratação dos trabalhadores de saúde que atuavam nas USF, resultando em paralisações, 
alta rotatividade e desmotivação dos membros das equipes. Como resultado, houve a 
necessidade de ajustes do cronograma de atividades práticas ao longo dos semestres letivos, 
bem como, a desmotivação discente em alguns momentos e o descrédito por parte da 
viabilidade de realizar o ideário da Reforma Sanitária Brasileira. Todo esse contexto adverso, 
ao mesmo tempo em que se conforma como um limite, também como uma possibilidade de 
integrar academia e serviço, ao possibilitar aos envolvidos a reflexão sobre o porquê de tais 
situações, como essa integração pode contribuir na busca de soluções de enfrentamento. 
Reconhece-se que muitas vezes os arranjos organizacionais das unidades de saúde, muitas 
vezes marcados por forte controle e baixa autonomia do trabalhador em saúde, comprometem 
a instituição nos serviços de saúde de espaços que favoreçam tal reflexão. A forma como as 
instituições de ensino utilizam os serviços de saúde, foi outro campo que se demonstrou como 
um limite para a implementação do PIASC. Foi recorrente nas falas dos profissionais de 
saúde, sendo marcante entre os agentes comunitários de saúde, que as escolas só querem 
“levar” o que o serviço e a comunidade têm para oferecer, porém, não “oferecem” nenhuma 
contrapartida. Essa tônica repousa sobre as dimensões dos processos educacionais presentes 
nas instituições de ensino, que muitas vezes, restringem-se a oferta de atividades práticas, 
fortemente marcadas pela realização de procedimentos técnicos. Desconsiderando, portanto, o 
contexto social, a importância da aprendizagem compartilhada e o papel da instituição de 
ensino enquanto agente de transformação social. Esse cenário resultou no distanciamento e no 
não envolvimento por parte de membros da equipe na realização das atividades práticas do 
PIASC. Com a permanência das atividades ao longo dos últimos 03 semestres e o 
planejamento conjunto de uma intervenção na comunidade, percebe-se que a resistência 
inicial diminuiu e alguns trabalhadores, antes arredios em relação ao PIASC, hoje já esboçam 
uma tentativa de aproximação. Na continuidade da identificação dos limites da proposta, 
chega-se ao quarto campo, que se vincula ao perfil docente. Implementar um componente 
curricular alinhado, que busca estabelecer uma integração academia, serviço e comunidade 
exige do professor um conjunto de habilidades que transcendem os conhecimentos técnicos 
inerentes a sua profissão. Até porque, o seu fazer docente, não acontece exclusivamente com 
discentes da sua área de formação profissional. Outra característica está relacionada em lidar 
com o inesperado, ou seja, como o PIASC fundamenta-se num trabalho articulado com o 
serviço e a comunidade, e ocorre numa realidade concreta, portanto, dinâmica e instável, é 
comum a ocorrência de situações que suscitam repensar novos caminhos. E, isso acaba 
exigindo grande criatividade por parte do professor. Assim, a inclusão de um espaço de troca 
de experiências durante a realização das reuniões mensais da área de Saúde Coletiva, bem 
como, através de mensagens eletrônicas têm se mostrado como uma ferramenta valiosa não só 
de compartilhamento como também de apoio mútuo entre os docentes responsáveis pelas 
turmas do PIASC. Salienta-se que o apoio da Direção e das coordenações dos cursos que 
integram o DCV/UNEB nos demonstra o interesse e a vontade de que a proposta PIASC 
tenha êxito. Assim, compreende-se que o PIASC conforma-se num dispositivo que pode 
possibilitar sim, a superação dos modelos assistenciais hegemônicos, já que integra academia, 
serviço e comunidade na busca de respostas para o enfrentamento dos problemas de saúde e 
de problemas relacionados a organização e funcionamentos dos serviços de saúde. Cujas 
repostas devem ser sustentadas na garantia da universalidade, da integralidade e na equidade 
do cuidado em saúde, na atenção a grupos populacionais mais vulneráveis (idosos, crianças, 
adolescentes, portadores de doenças crônicas, e outros), na adoção de técnicas educacionais e 
de cuidado que promovam a autonomia e o empoderamento do sujeito e na qualificação da 
participação social na gestão do SUS através do fortalecimento das diversas instâncias 
colegiadas (conselhos e conferências de saúde). Entende-se que a formação em saúde é um 
espaço de práticas em constante re-significação e estruturação, onde é possível experimentar 
uma infinidade de possibilidades e de arranjos, não existindo, assim, um formato único 
possível. E dada as suas variadas possibilidades e a sua relação íntima como os serviços de 
saúde, novas propostas podem surgir e instituir novos modos de formação em saúde que 
promovam a reforma no campo da formação, como também no campo das práticas em saúde. 
As quais são fundamentais para edificação do Sistema Único de Saúde, para garantia da saúde 
enquanto direito e para a defesa da vida individual e coletiva. 
Bibliografia:BRASIL. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção 
Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, 
para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde 
(PACS). Diário Oficial [da] República Federativa. Poder Executivo, Brasília, DF, 24 out. 
2011. Seção 1, n. 204, p. 48. Disponível em: 
<ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/informe_eletronico/2011/iels.out.11/Iels201/U_PT
-MS-GM-2488_211011.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2013. 
 
CAMPOS, G. W de S. Equipes de referência e apoio especializado matricial: um ensaio sobre 
a reorganização do trabalho em saúde. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 
393-404, 1999. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81231999000200013&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 9 abr. 2013. 
 
MERHY, E.E. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde uma discussão do 
modelo assistencial e da intervenção no seu modo de trabalhar a assistência. In: Sistema 
Único de Saúde em Belo Horizonte – reescrevendo o público; São Paulo: Xamã, 1998. 
 
MERHY, E.E; MALTA, D.C; SANTOS, F.P. Desafios para os gestores do SUS hoje: 
compreender os modelos de assistência à saúde no âmbito da Reforma Sanitária Brasileira e a 
potencia transformadora da gestão. Rio de Janeiro: UFF (mimeo). Disponivel em: 
http://www.uff.br/saudecoletiva/professores/merhy/indexados-30.pdf. Acesso em 10 jun. 
2013.

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