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Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 1 Mercado Financeiro: Introdução Prof. Marco A. Arbex marco.arbex@live.estacio.br Blog: www.marcoarbex.wordpress.com Introdução • Investimento e poupança constituem o cerne de todo o sistema financeiro (ANDREZO e LIMA, 2009) • Poupança é definida como a parte da renda não consumida • Investimento é a utilização dos recursos poupados para ampliação da capacidade produtiva Introdução • Mas por que poupar? • Os poupadores aceitam trocar um poder de consumo no presente por um poder de consumo maior no futuro (considerando a expectativa de que este poder de consumo futuro será maior que o poder de consumo presente) Introdução • E por que precisamos escolher como gastar nossos recursos? • Porque os recursos econômicos são escassos (finitos). • Essa é a razão do desenvolvimento da própria ciência econômica e do estudo sobre o mercado financeiro Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 2 Se todos os bens e serviços consumidos pelas pessoas “caíssem do céu”, ninguém precisaria estudar economia, pois não haveria escassez. –OBS: a palavra escassez não refere-se somente a recursos “em extinção”, mas a recursos que são finitos. EXEMPLO: Seu salário, seu tempo e o espaço físico de sua casa são recursos econômicos escassos. A dinâmica da atividade econômica pode ser explicada através de um modelo chamado “fluxo circular de renda” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2009) Como os recursos econômicos são escassos, as famílias e empresas precisam tomar decisões sobre o que, como e para quem produzir Fluxo circular de renda •Fluxo real: mercado de fatores de produção (como mão-de-obra) e mercado de bens e serviços •Fluxo monetário: circulação do dinheiro usado na remuneração dos fatores de produção e no pagamento dos bens e serviços. •As famílias são proprietárias dos fatores de produção (Ex.: mão-de-obra), que são vendidos às empresas, e são remuneradas (por exemplo, em forma de salário); •As empresas produzem bens com esses fatores e os vendem às famílias. Essa troca só é possível com a presença da moeda, que é utilizada para remunerar os fatores de produção e para o pagamento dos bens e serviços •Nesse contexto, as forças da oferta e demanda atuam nos dois mercados (fatores de produção / bens e serviços), determinando o preço dos bens e serviços. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 3 • Por um lado, os recursos são escassos; por outro, as necessidades das pessoas são ilimitadas. • Observe as seguintes situações: – Jão é casado, tem um filho e um salário de R$ 1.500,00. Frequentemente, ele reclama que o salário não supre todas as suas necessidades. – Zé é casado, tem um filho e um salário de R$ 4.000,00. Frequentemente, ele reclama que o salário não supre suas necessidades. • ISSO ACONTECE PORQUE AS PESSOAS ESTÃO SEMPRE RENOVANDO E RE-HIERARQUIZANDO SUAS NECESSIDADES • O economista Joseph Schumpeter cunhou, em 1942, o termo destruição criativa. Este conceito mostra que as inovações movem a economia. • Segundo o economista, as inovações (e novas necessidades) são criadas a partir de aspectos como a introdução de um novo bem, novos métodos de produção, novos modelos de gestão e abertura de novos mercados. Custo de oportunidade • De um lado, há escassez dos recursos; de outro, há desenvolvimento constante das necessidades da sociedade. • Isso faz com que cada vez mais se procure otimizar e racionalizar a utilização dos recursos econômicos. • As situações observadas nos slides anteriores leva a um conceito fundamental da economia: CUSTO DE OPORTUNIDADE • Esse conceito mostra que todas as decisões de alocação de recursos possuem algum custo (financeiro ou não-financeiro). • O conceito de custo de oportunidade também ilustra a idéia de que, ao fazer uma escolha, temos que renunciar a outras coisas. • Como os recursos são escassos, existe um trade- off (escolha conflitiva) em toda tomada de decisão. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 4 Exemplos: • Para cada real de seu salário que você gasta com algo, existe um real a menos para gastar com qualquer outra coisa. Se você aplicou R$ 1.000,00 na poupança, você deixou de aplicar esse mesmo valor em qualquer outra coisa • O custo de investir dinheiro da empresa na troca da frota é deixar de investir na troca de equipamentos ou na ampliação da estrutura física • O custo de você levar uma TV nova para casa sem ter dinheiro é ter que pagar juros pelo “empréstimo” que a loja onde você fez a compra lhe concedeu. Qual o custo de oportunidade de você estar assistindo a esta aula agora? • Um modelo econômico desenvolvido para compreender os conceitos fundamentais da economia é chamado de “curva de possibilidades de produção” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2009) • Essa curva expressa a capacidade máxima de produção da sociedade, supondo pleno empregos dos fatores de produção. Esse modelo ilustra como a escassez de recursos impõe limite à capacidade produtiva da sociedade, que é obrigada a fazer escolhas. Curva de possibilidades de produção A curva de possibilidades de produção 3.000 2.200 2.000 1.000 0 300 600 700 1.000 Produção de soja A C Produçãode milho 3.000 2.200 2.000 1.000 0 300 600 700 1.000 Produção de soja A C Produçãode milho B Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2009) No ponto A e no ponto C, a economia está em sua capacidade máxima; no ponto B ainda há capacidade ociosa (não há escassez de recursos) No ponto A, por exemplo, é possível produzir 700 unidades de milho e 2000 unidades de soja; caso eu queira aumentar a quantidade produzida de soja para 2.200 unidade, tenho que reduzir a produção de milho para 600 unidades. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 5 Assim, o conceito que está por trás de qualquer decisão de investimento ou consumo é o custo de oportunidade Considere a seguinte situação: - Você tem uma moto para vender hoje pelo valor de R$ 5.000,00. - Seu amigo oferece para comprá-la por R$ 5.100,00, desde que você espere um mês. O que você deve considerar para tomar essa decisão, sob a ótica econômico-financeira? Custo de oportunidade Custo de oportunidade • Você tem R$ 100.000,00 disponível no caixa da empresa e pretende usar esse dinheiro para adquirir um imóvel para ampliar o espaço físico da empresa. Ao procurar oportunidades, você encontra um imóvel adequado no valor de R$ 100.000,00. Responda: - Você compraria a casa à vista ou financiaria? Considere que você conseguiu uma linha de crédito especial para empresas com taxas de juros de 5% ao ano. Investimento, consumo e poupança • O que você faz com sua renda disponível? • Renda disponível: Renda adquirida pelas pessoas menos os impostos devidos (carga tributária). É aquela que o indivíduo obtém sob a forma de salários, aluguéis, participações em empresas, benefícios sociais, etc. Especial sobre a carga tributária no Brasil: http://veja.abril.com.br/tema/desafios-brasileiros-carga-tributaria Investimento, consumo e poupança • Comparação da carga tributária brasileira (em % do PIB) IBPT (2013) • Carga tributária média (em % do PIB) em governos distintos: – Governo FHC (1995 a 2001): 28% – Governo Lula (2003 a 2010): 33% – Governo Dilma (a partir de 2011): 36% Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 6 Investimento, consumo e poupança • Carga tributária brasileira entre 1986 e 2013 (IBPT, 2013) Investimento, consumo e poupança • A maior parte da carga tributária é a do imposto indireto, cobrado sobre o consumo e não sobre a renda. Cerca de 60% do total de impostosrecolhido no Brasil incide sobre o que as pessoas consomem (ICMS, IPI, ISS, Cofins) • Além disso, o imposto sobre a renda é baixo para quem ganha muito e alto para quem ganha pouco, com poucas faixas de renda. Investimento, consumo e poupança Assim, temos: • O consumo (C) representa gastos com a aquisição de bens de consumo (C), sendo uma função crescente da renda disponível (RD); portanto, quanto maior a renda disponível, maior o consumo. C = f (RD) • A renda disponível (RD) pode ser definida como a renda (R) deduzidos os impostos (T). Ou, seja, é a parcela da renda que os consumidores podem gastar ou poupar livremente. RD = R - T Dessa forma, à medida que a tributação aumenta, a Renda Disponível decresce e, consequentemente, o consumo se reduz. Investimento, consumo e poupança • Um conceito importante criado por Keynes é o de “Propensão marginal a consumir” (PMgC). Este mostra a variação esperada no consumo da população dada uma variação na renda nacional disponível PMgC = _ ΔC_ ΔRD No Brasil, temos uma PMgC de 0,8. Isso indica que um aumento de R$ 1,00 na RD gerará um aumento de R$ 0,80 no consumo. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 7 Investimento, consumo e poupança • A parte da renda disponível que não vira consumo se torna poupança (S): S = RND – C • Propensão marginal a poupar (PMgS): no exemplo, anterior, a PMgS é de 0,20. Isso porque, dos R$ 1,00 de aumento da renda nacional, R$ 0,80 seriam destinados a consumo e sobrariam R$ 0,20 para a poupança. • Em outras palavras, a função poupança é complemento da função consumo, pois ambos os fatores são proporcionais à renda nacional disponível. Investimento, consumo e poupança • Investimento representa o acréscimo ao estoque de capital que leva ao crescimento da capacidade produtiva (construções, instalações, máquinas...) • Nesse contexto, estamos falando do investimento produtivo • Exemplos: Não é investimento produtivo (simples transferência de posse) É investimento produtivo (criação de valor) Comprar um terreno Construir uma casa Comprar ações na Bolsa de Valores Comprar ações no seu lançamento (IPO) Investimento, consumo e poupança • O investimento produtivo é considerado o principal fator que explica o aumento da renda de um país (pois o aumento dos investimentos tendem a estimular o aumento do consumo, que por sua vez, acabam estimulando novos investimentos). • Seu comportamento é de difícil previsão, pois depende de diversos fatores, como o ambiente de negócios e as expectativas quanto ao futuro, por exemplo. Investimento, consumo e poupança O que determina o nível de investimentos? A) Taxa de rentabilidade esperada (ou eficiência marginal do capital): é calculada a partir da estimativa do retorno líquido esperado pela aquisição do bem de capital (desenvolvimento de empresas ou negócios). Ou seja, quanto maior a rentabilidade esperada de um negócio ou projeto, maior será o investimento total. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 8 Investimento, consumo e poupança O que determina o nível de investimentos? B) Taxa de juros de mercado: se a taxa de rentabilidade esperada de um negócio (descrita no slide anterior) supera a taxa de juros de mercado, o investidor utilizará seu dinheiro na compra de bens de capital (investir no negócio); se for inferior, ele não investirá, preferindo direcionar seus recursos em aplicações financeiras (“CUSTO DE OPORTUNIDADE”). Investimento, consumo e poupança • Podemos concluir, portanto, que a capacidade de investimento de um país depende da capacidade de poupança da sociedade. • No entanto, Assaf Neto (2012) nota que para contribuir com o crescimento econômico, a poupança deve ser direcionada, por meio dos instrumentos financeiros adequados, para o financiamento de investimentos produtivos. • Dessa forma, em uma economia moderna, temos as figuras dos “poupadores” e “tomadores” (Andrezo e Lima, 2009) Intermediação financeira Grupos de agentes econômicos no que se refere ao processo poupança-investimento: • Unidades econômicas superavitárias ou poupadores: aqueles que apresentam desejo de investir inferior à capacidade de poupança (possuem recursos em excesso); • Unidades econômicas deficitárias ou tomadores: aqueles que apresentam desejo de investir superior à capacidade de poupança (necessitam de recursos). Intermediação financeira • Os mercados financeiros consistem no conjunto de agentes e instrumentos destinados a oferecer alternativas de aplicação e captação de recursos financeiros. • Dessa forma, os mercados podem exercer a importante função de otimizar a utilização de recursos financeiros, por meio da transferência desses recursos dos poupadores para os tomadores, bem como na criação de condições de liquidez (facilidade na venda dos ativos) e administração de riscos. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 9 Intermediação financeira • Quando o capital é investido, revertendo-se em capital real (indústrias, edifícios, máquinas, estoques,etc.), recebe uma remuneração sob a forma de lucros. • Quando o capital é investido em produtos de captação oferecidos no mercado financeiro recebe uma remuneração sob a forma de juros. • Devemos observar que os investimentos a que vamos nos referir daqui em diante não necessariamente são os investimentos produtivos (como explicados anteriormente) Intermediação financeira • Para Assaf Neto (2012), economias desenvolvidas se caracterizam por apresentar um sistema de intermediação financeira bastante diversificado e ajustado às necessidades dos agentes. • A função desses intermediários é oferecer alternativas adequadas para guarda e aplicação de recursos bem como acesso a fontes de financiamentos para satisfazer as necessidades de consumo e investimento Intermediação financeira • Os intermediários financeiros agregam vantagens ao mercado ao trabalhar de forma especializada, o que permite ofertar instrumentos mais sofisticados de intermediação. • Os poupadores, por exemplo, ao invés de administrarem individualmente seus portfólios, podem transferir essa tarefa para instituições especializadas, mais bem preparadas tecnicamente para essa função Intermediação financeira • Vantagens dos intermediários financeiros: – Podem oferecer dinheiro rápido a um custo de escala bem menor do que seria possível a um agente econômico isolado – Oferece gestão do risco aos investidores, possibilitando a montagem de carteiras diversificadas – Viabilizam aplicações e captações com diferentes expectativas de prazos (tomadores buscam prazos maiores que os desejados pelos poupadores) – Operam com recursos de inúmeros poupadores, permitindo negociar montantes variados com o mercado Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 10 Intermediação financeira • No lado monetário, devemos abordar o meio utilizado para as transações: a moeda • Conceito de Moeda: objeto aceito pela coletividade para intermediar as transações econômicas para o pagamento de bens e serviços. • Funções da moeda: • Instrumento ou meio de trocas: facilita o intercâmbio de bens e serviços • Unidade de conta: permite apurar o valor monetário • Reserva de valor: representa um ativo com liquidez absoluta (porém sofre os efeitos da inflação) Intermediação financeira • Tipos de moeda: • moedas metálicas; • papel-moeda; • moeda escritural ou bancária (depósitos bancários. É movimentada via cheque, cartão, DOC, TED e boleto). As duas primeiras são denominadas moedas manuais, por estarem em poder do público. Intermediação financeira Por que as pessoas demandam moeda? • Demanda de moeda para transações (gastos do dia-a-dia); • Demanda de moeda por precaução (imprevistos); • Demanda demoeda por especulação (manter liquidez imediata para a captação de oportunidades de aplicação) Intermediação financeira • A demanda por moeda em uma economia se eleva a medida que se produz mais renda, ou seja quando a atividade produtiva agrega mais riqueza. • A demanda por moeda decresce quando os juros sobem, gerando maiores expectativas de lucros aos investidores. • A demanda por moeda diminui quando aumenta a inflação, que destrói o poder de compra da moeda. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 11 Intermediação financeira • No Brasil O BC (Banco Central) regula o montante de moeda, crédito, taxas de juros e câmbio, de forma compatível com o nível de atividade econômica. • O BC é responsável por executar política monetária: controle da oferta da moeda e crédito (através de alterações na SELIC, compulsórios, compra e venda de títulos públicos) Além do BC, os bancos comerciais também “criam” moeda. Veja o exemplo a seguir: Intermediação financeira –Um banco recebe R$ 100.000,00 de um cliente como depósito em sua conta-corrente –Suponha que a taxa de depósito compulsório seja de 40% (percentual de depósitos que os bancos devem deixar nono Banco Central) . Ou, seja, do total depositado, o banco pode emprestar R$ 60.000,00 para outros clientes. –Parte desses R$ 60.000,00 pode ser depositado também em uma conta bancária. Supondo que R$ 30.000,00 seja depositado, o banco pode emprestar R$ 18.000,00 para outro cliente (60%), e assim por diante. Intermediação financeira • Nesse mecanismo, os R$ 100.000 de moeda manual iniciais tornam-se bem mais que R$100.000,00 em moeda escritural e vários correntistas, simultaneamente, tornam-se donos de parte desse valor. Dessa forma, a moeda escritural existe em maior quantidade que a moeda manual. • Esse efeito chama-se criação de moeda pelos bancos ou “multiplicador bancário” • É papel do governo interferir na quantidade de moeda existente no mercado, como forma de influenciar as taxas de juros e os níveis de inflação. Isso ocorre através da política monetária. • Da mesma forma, o governo também influencia diretamente na renda disponível das pessoas, através da política fiscal. • Esses assuntos serão abordados nas próximas aulas. Mercado Financeiro - Prof. Marco Arbex 12 Textos base • LIMA, I. S; LIMA, G. A. S F.; PIMENTEL, R. C. Curso de Mercado Financeiro. São Paulo: Atlas, 2009 • ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. 11ed. São Paulo: Atlas, 2012
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