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mercado financeiro e de capital

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A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Por meio do conhecimento da economia é que se forma uma visão mais ampla e crítica de todo o funcionamento do mercado de capitais, permitindo que se responda às diversas questões que envolvem poupança, investimento, desenvolvimento, avaliação e riscos. O objetivo deste capítulo é conhecermos um pouco da economia sob dois aspectos: o primeiro deles está relacionado aos problemas básicos da economia e à formação de preços no mercado tendo como base inicial a formação da demanda e a formação da oferta (individual e total); o segundo aspecto está relacionado à renda nacional e ao equilíbrio, tendo como foco central o consumo, a poupança e o governo. 1 Mercado Financeiro e de Capital – 8 – 1.1 Os problemas econômicos básicos, a demanda e a oferta A essência dos problemas econômicos está em equacionar o binômio: “necessidades ilimitadas versus recursos escassos”. A partir dessa verdade, as sociedades enfrentam o problema de racionar os recursos, o que constitui na procura de melhor administrá-los. A melhor administração dos recursos implica na plena utilização e por suposto sua melhor combinação como, por exemplo, a questão do plástico como gerador de energia e não como material para reciclagem. Por outro lado, a utilização plena dos recursos quer dizer que não se pode justificar o desemprego ou subemprego de qualquer parcela da população mobilizável para fins produtivos ou ainda a existência de ociosidade na utilização dos equipamentos de produção e outros recursos patrimoniais. A busca da melhor combinação quer dizer que as sociedades enfrentam o problema de melhor combinar os fatores humanos e patrimoniais, bem como canalizar os fatores disponíveis para os setores que possam produzir exatamente aqueles bens e serviços que melhor atendam aos desejos da coletividade. Dessa forma, é com a eliminação da ociosidade e a incorporação dos contingentes desempregados nos fluxos de produção e a promoção da ótima combinação dos recursos disponíveis que as economias se tornam capazes de atender com maior eficiência as necessidades e desejos da coletividade. O que significa, então, limite máximo da eficiência produtiva e as melhores alternativas para a canalização dos recursos limitados? Essa eficiência máxima implica a mobilização de todas as possibilidades de produção da economia enquanto as melhores alternativas dependem de opções sociais e políticas do governo. Sejam quais forem as opções, sempre haverá um limite máximo: o aumento da produção de uma dada classe de bens implica a redução da produção de uma outra classe, a não ser que tenha ocorrido um aumento nos recursos acumulados. Por exemplo: suponha uma economia que disponha de certo volume de capital, certa quantidade de terra, trabalho, capacidade – 9 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais tecnológica e empresarial. No entanto, mesmo com um volume de produção diversicado, jamais poderá alcançar quantidades innitas. Aceitando que, mesmo com o melhor treinamento da mão de obra, com a melhor tecnologia, as melhores terras férteis e com a capacidade de produção máxima, seu resultado será sempre limitado em função da escassez desses recursos. Supondo que uma determinada economia produza no limite máximo de sua capacidade dois produtos. Diante da constatação anterior, o emprego máximo de sua capacidade em um dos produtos revela a redução do outro – a possibilidade de produção. Na realidade, as cidades enfrentam a escassez dos recursos produtivos quando devem optar pela pavimentação de ruas, construção de novos edifícios públicos, extensão das redes de água e iluminação, entre outros. O programa com certeza deve deixar de lado algum investimento importante devido à escassez de recursos, como vimos anteriormente. O caso notável da antiga URSS que optou pela tecnologia de ponta pelo custo do conforto das moradias, o pequeno desenvolvimento dos bens de consumo direto como os duráveis e não duráveis. Vejamos mais claramente este exemplo com o gráco a seguir: Gráfico 1 – O caso notável da URSS: alimento versus armamento 0 10 20 30 40 50 60 70 80 A B C D 10 20 30 40 50 60 Canhões Manteiga Fonte: Elaborado pelo autor. Mercado Financeiro e de Capital – 10 – O gráco acima mostra exatamente esse problema das opções. Ao decidir, por exemplo, produzir mais canhões (saindo do ponto B para o ponto C do gráco), a economia de um país, neste caso a extinta URSS, diminui sua produção de manteiga (que representa os alimentos). A recíproca também é verdadeira. Ao aumentar a produção de manteiga (saindo do ponto C para o ponto B do gráco), ela diminui a produção de canhões (armas), aumentando assim a produção de alimentos. Em função do binômio recursos escassos versus necessidades ilimitadas, chegamos a constatação do primeiro e fundamental problema que as ciências econômicas tem que enfrentar. Dessa forma, a partir da plena utilização dos recursos produtivos e das opções, podemos, com o auxílio de um gráco, entender melhor essa problemática. Tal gráco chama-se Curva de Possibilidades de Produção. Como seu nome já declara, esse gráco nos revela as possibilidades máximas de produção de um país num determinado período de tempo – funcionando, para simplicar, sempre com dois produtos. Aproveitando o mesmo gráco anterior, mas agora pensando em dois produtos quaisquer (X e Y), vejamos os pontos notáveis deste gráco denominado curva de possibilidade de produção. Gráfico 2 – Curva de possibilidades de produção O P Q R Produto X Produto Y Fonte: Elaborado pelo autor. – 11 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais 1.1.1 Os pontos notáveis da curva de possibilidades 2 Ponto O: pleno desemprego – no ponto O, a economia estaria operando em pleno desemprego, o que significa a não utilização dos recursos disponíveis – produção igual a zero. No entanto essa situação somente se apresenta ao nível teórico ou em casos extremos, como: guerras, grandes catástrofes etc. 2 Ponto P: capacidade ociosa – no ponto P, a economia estaria operando numa situação prática muito comum que é com certa capacidade ociosa. Nesse ponto estaria a economia com máquinas paradas, subutilização, parcela da população desempregada etc. 2 Ponto Q: pleno emprego – no ponto Q, a economia estaria numa situação ideal, mas dificilmente alcançável. Embora represente um dos objetivos da política econômica do governo, essa situação é mais teórica. 2 Ponto R: nível impossível de produção – o ponto R evidencia um ponto fora da curva de possibilidade, dessa forma um ponto impossível de ser atingido. No entanto, esse ponto poderá ser alcançado em períodos futuros, desde que ocorram deslocamentos positivos da curva de possibilidades preestabelecida. 1.2 Deslocamentos das curvas de possibilidades de produção As curvas de possibilidade de produção movimentam-se ao longo do tempo, sobretudo em épocas em que surgem novas técnicas, novos recursos, novas possibilidades de produção que não se conhecia. Um exemplo clássico é a Revolução Industrial. É possível ocorrer dois tipos de deslocamento das curvas: os deslocamentos positivos e os negativos. Enquanto o deslocamento positivo ocorre em função da expansão ou melhoria dos recursos disponíveis (o que resulta de situações normais), o deslocamento negativo ocorre em função da diminuição ou desqualificação dos recursos disponíveis que resulta de situações anormais. Mercado Financeiro e de Capital – 12 – Vejamos abaixo os dois tipos de deslocamentos: o positivo e o negativo 2 Deslocamento positivo – a revolução da microeletrônica na metade dos anos 1970 que possibilitou o aumento do emprego dos recursos e uma maior inserção da mão de obra técnica em todo o sistema produtivo. Gráfico 3 – Deslocamento positivo da curva de possibilidades de produção 0 Produto X Produto Y Fonte: Elaborado pelo autor. 2 Deslocamento negativo – a guerra iniciada também nos anos 1970 em Moçambique (na África) onde a destruição foi quase que total, fazendo com que os recursos disponíveis chegassem quase a zero. Gráfico4 – Deslocamento negativo da curva de possibilidades de produção 0 Produto X Produto Y Fonte: Elaborado pelo autor. – 13 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais 1.3 Teoria elementar de funcionamento do mercado 1.3.1 Teoria elementar da demanda – a demanda do indivíduo por uma mercadoria – bem ou serviço A quantidade de uma mercadoria que um indivíduo pretende comprar durante um determinado período de tempo é função ou depende do preço da mercadoria em questão; da sua renda monetária; do preço das outras mercadorias e do gosto e preferência. Assim podemos escrever a demanda da seguinte forma: Qdx = f (Px; R; Py; G) Onde: Px = preço do bem em questão. R = renda do consumidor (seu salário). Py = preço dos outros bens (substitutos ou complementares). G = gosto ou preferência do consumidor, assim como seus hábitos de consumo. Pela variação do preço da mercadoria, sob a consideração de que mantemos constante a renda desse indivíduo, os seus hábitos e o preço de outras mercadorias (supondo a condição ceteris paribus1 ), chegamos à função de demanda do indivíduo pela mercadoria. Equação2 : Qdx = a – b Px 1 Ceteris Paribus: Trata-se de uma expressão que considera cada efeito, cada variável (PX, PY, Y e G/P), separadamente, fazendo a hipótese de que tudo o mais permaneça constante. Exemplo: se estamos variando o PX, então ceteris paribus para todas as demais, ou seja, PY, Y e G/P não variam, não alteram. 2 A equação da demanda possui o formato de uma reta, trata-se portanto da equação da reta. Nesse sentido temos: “a” representando o intercepto da equação e “b” representando o coe- Mercado Financeiro e de Capital – 14 – Suponha que a função demanda para um indivíduo referente à mercadoria x é Qdx = 8 – Px, ceteris paribus. Substituindo os vários preços da mercadoria x na função demanda, nós obtemos os valores da demanda individual mostrados na tabela a seguir. Tabela 1 Preço (Px) 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Quantidade (Qdx) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 A função de demanda do indivíduo (dx) pela mercadoria x mostra as quantidades alternativas dessa mercadoria x que ele está propondo comprar para as várias alternativas de preço dessa mercadoria, quando se mantêm todos os demais fatores constantes. Vejamos gracamente como isso pode car: Gráfico 5 – Demanda de um indivíduo para uma mercadoria 0 Qdx Px 7 8 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 7 8 Dx Fonte: Elaborado pelo autor. ciente angular ou a declividade da reta. Como se trata de demanda, este (–b) mostra sua declividade negativa. – 15 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais A curva de demanda nos mostra que, num determinado tempo, se o preço de x é $7, o indivíduo se propõe a comprar uma unidade de x num período especificado (esse período pode ser uma semana, um mês, um ano ou qualquer outro período de tempo relevante). Se o preço de x é de $6, o indivíduo se propõe à compra de 2 unidades de x no período de tempo especificado, e assim por diante. Desse modo, os pontos da curva da demanda representam alternativas que se apresentam ao indivíduo em determinados pontos do período de tempo que se considera. 1.3.2 A lei da demanda decrescente No quadro e no gráfico anterior da demanda, observamos que quanto mais baixo o preço de x maior a quantidade de x procurada pelo indivíduo. Esse relacionamento inverso entre preço e quantidade procurada se reflete na inclinação negativa da curva de demanda, como verificamos no gráfico anterior – a isso nos referimos usualmente como lei de demanda decrescente. 1.3.3 A demanda do mercado por uma mercadoria A demanda do mercado ou a demanda agregada por uma mercadoria nos mostra as quantidades alternativas nas quais essa mercadoria é procurada num período de tempo, em vários preços alternativos, por todos os indivíduos que compõem o mercado. A demanda do mercado por uma mercadoria depende, assim, de todos os fatores que determinam a demanda individual e, ainda, do número de compradores dessa mercadoria existentes no mercado. Geometricamente, a curva da demanda do mercado por uma mercadoria é obtida pelo somatório horizontal de todas as curvas de demanda individuais por essa mercadoria. Ex: se existem dois indivíduos idênticos no mercado, um deles com a demanda pelo bem x dado por Qdx = 8 – Px, a demanda do mercado Qdx é obtida como se segue: Mercado Financeiro e de Capital – 16 – Tabela 2 Px $ Qd1 Qd2 Qdx 8 0 0 0 4 4 4 8 0 8 8 16 Figura 1 – Soma das demandas. 0 4 8 4 8 Qd1 0 4 8 4 8 Qd2 Px 0 4 8 4 8 Qdx d1 d2 + Px Px = 12 16 Dx=d1+d2 Demandas individuais Demanda do mercado Fonte: Elaborado pelo autor. Podemos observar que a demanda do mercado é a soma das demandas individuais. 1.3.4 Teoria elementar da oferta 1.3.4.1 A oferta de uma mercadoria por produtor individual A quantidade de uma mercadoria que um único produtor se propõe a vender num determinado período de tempo é função ou depende do preço da mercadoria e do custo de produção dos produtores em geral. Para se obter a função de oferta de um produtor e a curva de oferta de uma mercadoria, alguns fatores que inuenciam o custo de produção devem ser mantidos constantes (a condição ceteris paribus). Essas condições são as seguintes: a tecnologia, o suprimento dos insumos necessários para a produção da mercadoria e, para mercadorias agrícolas, as condições climáticas. – 17 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Qsx = f (Px; custo de produção; tecnologia; condições climáticas). Obs.: O custo de produção é dado por mão de obra, matéria-prima, materiais secundários, energia elétrica consumida na produção. Mantendo-se assim, todos esses fatores e variando apenas o preço da mercadoria, chegaremos à função oferta e à curva de oferta de um produtor individual para a mercadoria. Supondo que um produtor individual tenha como função de oferta para a mercadoria x: Qsx = –40 + 20 Px, ceteris paribus. Onde : Qsx = Quantidade de oferta do produto x Px = Preço do produto x Pela substituição dos preços correntes de x na função de oferta, chegamos ao quadro de oferta do produtor mostrado na tabela a seguir: Tabela 3 Px Qsx 6 80 5 60 4 40 3 20 2 0 Transpondo para o gráco cada par ordenado de valores, chegamos à curva de oferta do produtor. Como no caso da demanda, os pontos da curva de oferta representam alternativas que se apresentam para o produtor em um determinado período de tempo. Mercado Financeiro e de Capital – 18 – Gráfico 6 – Curva de oferta do produtor 0 Qsx Px 1 2 3 4 5 6 20 40 60 80 Sx Fonte: Elaborado pelo autor. 1.3.4.2 A forma da curva de oferta Na tabela e no gráco da oferta, vemos que quanto mais baixo o preço de x, menos a quantidade de x será ofertada pelo produtor. O inverso, naturalmente, também é verdadeiro. Essa relação direta entre preço e quantidade ofertada reete uma curva de oferta crescente. No entanto, embora a curva de oferta seja geralmente crescente, a sua inclinação poderá ser muitas vezes zero, innita ou mesmo negativa, não sendo prudente fazermos uma generalização. 1.3.5 A oferta de mercado para uma mercadoria A oferta de mercado ou oferta agregada de uma mercadoria nos dá as quantidades alternativas da mercadoria ofertada num período de tempo, aos vários preços alternativos, por todos os produtores dessa mercadoria que operam no mercado. A oferta de mercado da mercadoria depende de todos os fatores que determinam a oferta dos produtores individuais e do número de produtores dessa mercadoria que operam no mercado. Vejamos um exemplo: – 19 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Se existem 100 produtores idênticos no mercado, cada um dos quais com uma função de oferta da mercadoria x dada por Qsx = – 40 + 20Px ceteris paribus, a oferta de mercado Qsx é obtida da seguinte forma: Qsx = – 40 + 20Px cet. par. sx = do produtor individual Qsx = 100 (Qsx) cet. par. sx = de mercado Qsx = (– 40 · 100) + (20Px · 100) ou Qsx = (– 40 + 20Px) · 100 Qsx = – 4 000 + 2 000Px Construindo a tabela: Para Px = 6 Qsx = – 4 000 + 2 000 · 6 Qsx = 8 000 Para Px = 5 Qsx = – 4 000 + 2 000 · 5 Qsx = 6 000 Para Px = 4 Qsx = –4 000 + 2 000 · 4 Qsx = 4 000 Para Px = 3 Qsx = – 4 000 + 2 000 · 3 Qsx = 2 000 Para Px = 2 Qsx = – 4 000 + 2 000 · 2 Qsx = 0 Tabela Px Qsx 6 8 000 5 6 000 4 4 000 3 2 000 2 0 Mercado Financeiro e de Capital – 20 – Gráfico 7 – Curva de oferta de mercado para uma mercadoria 0 Qsx Px$ 1 2 3 4 5 6 2 000 4 000 6 000 8 000 Sx Fonte: Elaborado pelo autor. 1.4 O equilíbrio do mercado O equilíbrio se refere às condições do mercado, as quais, uma vez atingidas, tendem a persistir. Em economia isso ocorre quando a quantidade demandada de um bem no mercado, na unidade de tempo, iguala a quantidade ofertada do bem ao mercado nessa mesma unidade de tempo. Geometricamente, o equilíbrio ocorre na intercessão das curvas de demanda e oferta do mercado. O preço e a quantidade para os quais existe esse equilíbrio são conhecidos, respectivamente como preço e quantidade de equilíbrio. Se utilizarmos os exemplos anteriores, ou seja, da demanda do mercado e da oferta do mercado, podemos determinar o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio para a mercadoria x como se segue: Px Demanda (Qdx) Oferta (Qsx) 6 2 000 8 000 5 3 000 6 000 – 21 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Px Demanda (Qdx) Oferta (Qsx) 4 4 000 4 000 Equilíbrio 3 5 000 2 000 2 6 000 0 Gráfico 8 – Equilíbrio do mercado – oferta X demanda 0 Qx Px 1 2 3 4 5 6 2 000 4 000 6 000 8 000 Sx Dx e Fonte: Elaborado pelo autor. No ponto “e”, de equilíbrio, não existe nem excesso nem escassez da mercadoria e o mercado é normal. Ceteris paribus, o preço e a quantidade de equilíbrio tendem a persistir ao longo do tempo. Acima desse ponto temos excesso de oferta. Por outro lado, abaixo desse ponto temos excesso de demanda. A outra forma de conhecermos o equilíbrio é a forma matemática Qdx = Qsx. Mercado Financeiro e de Capital – 22 – 1.5 Renda nacional e equilíbrio Em função das necessidades ilimitadas e dos recursos serem escassos, a economia dos países registram, em determinados momentos, elevados níveis de produção, investimento e consumo. Por outro lado, em alguns momentos, observa-se um baixo volume de produção, desemprego elevado, baixo consumo e desestímulo ao investimento: é a situação de crise econômica. Esse hiato que se estabelece entre a produção obtida com o uso de fatores em desemprego, e aquela que potencialmente se poderia obter com o pleno emprego dos fatores de produção disponíveis, representa um custo social que deveria ser evitado. Dessa forma, o objeto da macroeconomia é estudar os elementos que determinam o nível de produção, de emprego e o de preços, numa situação de curto prazo. 1.5.1 Renda e dispêndio Para compreendermos o conceito de renda nacional de equilíbrio, é preciso saber a distinção entre renda e dispêndio. Enquanto a renda mede o fluxo de pagamentos dos fatores de produção, o dispêndio mede o fluxo dos gastos em bens e serviços de consumo e investimentos da economia. No entanto, os dispêndios tornam-se pagamentos que remuneram os fatores que produzem os bens e serviços, demonstrando dessa forma que renda e dispêndio representam medidas diferentes, mas de um mesmo fluxo. Com isso a renda nacional de equilíbrio é aquela em que a remuneração dos fatores de produção coincide com os gastos em bens e serviços de consumo e investimentos. É possível ampliar um pouco mais os conceitos acima, esclarecendo, ainda, que o dispêndio corresponde à demanda agregada, ao passo que a produção corresponde à oferta agregada. – 23 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais 1.5.2 A oferta agregada e demanda agregada Através do aumento da produção física, aumento dos preços, ou a combinação de ambos, as empresas respondem aos acréscimos de demanda do sistema econômico. Assim, enquanto a oferta agregada representa a oferta total de bens e serviços, a demanda agregada representa a procura total por tais bens e serviços. Passaremos ao estudo do equilíbrio do fluxo econômico, partindo-se inicialmente sem governo e sem a comunicação com o resto do mundo para, num momento seguinte, incluirmos o governo e as relações externas. 1.5.3 O equilíbrio sem o governo e sem relações externas A oferta total baseia-se na expectativa dos empresários quanto às possibilidades de vendas. As firmas responderão a qualquer estímulo da procura e, quando a oferta se igualar à procura, o ponto de equilíbrio terá sido determinado. Isso pode ser expresso da seguinte forma: Y = C + I Onde: Y = produção ou oferta C = consumo I = investimento Y é a produção dos empresários ou a oferta. C + I é o total da procura (lembrando da hipótese inicial onde não há governo, nem comércio internacional), visto que os bens e serviços são procurados ou para serem consumidos pelos indivíduos ou procurados pelas próprias firmas para serem investidos. Mercado Financeiro e de Capital – 24 – A quantia a ser investida ou a procura de investimentos também é uma decisão feita pelos empresários autonomamente. A decisão de consumir ou poupar, no entanto, será feita pelos consumidores individuais. Quanto ao consumo, este é determinado pela renda do indivíduo, que quanto maior, maior será seu gasto. No entanto, qual parcela será gasta em consumo e qual parcela será poupada? Embora dependa exclusivamente da vontade do indivíduo, essa parcela destinada ao consumo chamamos de propensão marginal a consumir, ao passo que a parcela destinada à poupança chamamos de propensão marginal a poupar. Tanto a parcela destinada ao consumo como a parcela destinada à poupança podem ser expressas, numa única função, denominada função consumo. A função consumo representa a soma do consumo dos indivíduos de uma comunidade, dado certos níveis de renda possíveis. Gráfico 9 – A função consumo (Y) C 100 200 300 400 500 600 200 300 400 500 C=CO+b(Y) 100 600 Fonte: Elaborado pelo autor. – 25 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais C = nível de consumo Y = nível de renda C0 = consumo mínimo de coletividade b = propensão marginal a consumir Representando na abscissa (Y) os níveis de renda, e na ordenada (C) os níveis de consumo é possível determinar a função consumo. A função consumo é uma função linear que demonstra que mesmo para uma renda igual a zero, haverá um consumo mínimo da coletividade (C0) para a sua sobrevivência. Outra maneira de verificar esse consumo mínimo é conceber a hipótese de que este se origina de poupanças anteriores – ou seja, sempre haverá esse mínimo de consumo – que representa uma constante na função consumo. Ainda há a propensão marginal a consumir (b), que demonstra a relação entre um acréscimo no consumo desejado em decorrência de um acréscimo na renda da coletividade: representando o coeficiente angular da reta (função consumo): b C Y = ∆ ∆ Assim, a função consumo será a soma daquela constante com a propensão marginal a consumir da renda: C = C0 + b(Y) Análise do exemplo: A constante C para o caso acima apresentado pode ser verificada diretamente no gráfico onde para um nível de renda igual a zero C será igual a 100 unidades monetárias. Vejamos: Mercado Financeiro e de Capital – 26 – Nível de renda Consumo Y C 0 100 100 150 200 200 a partir desse ponto, sempre haverá uma poupança positiva 300 250 400 300 500 350 600 400 Quanto à propensão marginal a consumir, expressa por b, esta pode ser denida a partir dos diversos níveis de renda e consumo diante dos seus respectivos acréscimos, se não vejamos: b C Y = ∆ ∆ logo temos que C C Y Y 2 1 2 1 − − b= − − 150 100 100 0 b= = 50 100 0 5, Disso podemos expressar nossa função consumo para o exemplo apresentado: C = 100 + 0,5 (Y) Observemos com atenção o ponto onde o consumo se iguala à renda. Este denota que toda a renda, para esse nível, será despendida em consumo. No entanto, a partir daí, haverá uma poupança, que pode ser demonstrada no gráco a seguir. Através de uma reta de inclinação de 45º diante da origem, que transforma distâncias horizontais (renda) iguais a distâncias verticais (consumo e poupança), podemos vislumbrar a parte que cabe à poupança. Vejamos: – 27 – A atividade econômica paracompreender o mercado de capitais Gráfico 10 – Poupança (Y) C 100 200 300 400 500 600 200 300 400 500 C=CO+b(Y) 100 600 Y=C poupança=150 consumo=350 0 Fonte: Elaborado pelo autor. Ao longo da reta Y = C, sempre teremos um consumo igual à renda. Comparando-se essa reta com a função consumo, podemos determinar a poupança e o consumo. Por exemplo, com uma renda de 500, o consumo será de 350 (C = 100 + 0,5 (500) = 350). A poupança é dada pela diferença entre a função consumo e a reta de 45º ( nesse caso a poupança será igual à renda menos o consumo, isto é, 500 – 350 = 150). A hipótese é de que a propensão marginal a consumir (b) sempre será menor que 1 (um), de modo que haverá sempre uma propensão marginal a poupar maior que zero. 1.5.3.1 O equilíbrio Voltando ao equilíbrio, este será determinado quando a oferta for igual à procura ou quando a poupança for igual aos investimentos: Y = C + I (1) C = C0 + b(Y) (2) Mercado Financeiro e de Capital – 28 – Substituindo 2 em 1 temos: Y = C0 + b(Y) + I Y – b(Y) = C0 + I Y (1 – b) = C0 + I Y C I b = + − ( ) ( ) 0 1 logo Y C I b = + − ( ) ( ) 0 1 Onde: C0 = consumo mínimo de coletividade b = propensão marginal a consumir I = investimento Exemplo: digamos que o nível de investimento planejado é igual a 30 (determinado exogenamente, ou seja, determinado autonomamente pelos empresários) e a função consumo é a mesma do exemplo anterior [C = 100 + 0,5 (Y)]), a renda de equilíbrio será: Y C I b = + − ( ) ( ) 0 1 Onde: C0 = 100 I = 30 b = 0,5 – 29 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Substituindo: Y = + − ( ) ( , ) 100 30 1 0 5 Y = 260 Gracamente podemos obter o nível de renda de equilíbrio quando a oferta total for igual à procura total. Para obtermos a procura total, somamos os investimentos à função consumo. Gráfico 11 – Nível de renda de equilíbrio (Y) C + I 100 200 300 400 500 600 200 300 400 500 C = 100 + 0,5(Y) 100 600 Y = C + 1 C + I 0 260 260 130 C, I, P 130 Fonte: Elaborado pelo autor. Assim, teremos a reta C + I, que representa a procura total, onde no ponto em que ela corta a reta de 45º, teremos o ponto de equilíbrio, onde Y, na abscissa, é igual a C + I na ordenada e, consequentemente, a oferta total será igual à procura total. Com uma renda de 260, o consumo será de: C = 100 + 0,5 (260) = 230 e a poupança será de 260 – 230 = 30. O investimento planejado também é de 30; então P = I e a economia está em equilíbrio. Mercado Financeiro e de Capital – 30 – Voltando à renda nacional de equilíbrio, estamos prontos para definir a função poupança. Pudemos vislumbrar anteriormente que a poupança é na verdade a parcela da renda nacional não gasta em bens e serviços de consumo. Dessa forma a função poupança pode ser obtida da seguinte forma: Y = C + S; mas C = C0 + bY, então Y = C0 + bY + S ; fazendo a poupança igual à renda menos o consumo: S = – (C0 + bY) + Y S = – C0 – bY + Y logo: S = – C0 + Y(1 – b) Onde: S = poupança C0 = consumo mínimo de coletividade Y = nível de renda b – 1 = Propensão marginal a poupar É importante notar, antes de mais nada, que a diferença (1 – b) é a propensão marginal a poupar, onde a poupança é uma função crescente do nível de renda, porque a propensão marginal a poupar é positiva. Notemos, ainda, que a função poupança é a imagem espelhada da função consumo, ou seja: a baixos níveis de renda, a poupança é negativa, refletindo assim o fato de que o consumo excede a renda; inversamente, a níveis suficientemente altos de renda, a poupança torna-se positiva e assim reflete o fato de que nem toda a renda é gasta em consumo. Vimos anteriormente que, na função consumo, a propensão a consumir era representada pelo próprio coeficiente b e este sempre será menor que 1 (um). A Propensão Marginal a Poupar (PMS), corresponde ao coeficiente da variação absoluta na poupança pela variação absoluta na renda da coletividade. – 31 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Dessa forma, considerando a Propensão Marginal a Consumir (PMC) e a PMS, sua soma sempre será igual a 1 (PMC + PMS = 1). Vejamos gracamente essa nova função em nosso exemplo: Gráfico 12 – A renda nacional com a função poupança (Y) C 100 200 300 400 500 600 200 300 400 500 C = CO + b(Y) 100 600 Y = C 0 -100 S = –CO + (1 – b)Y poupança = 150 consumo = 350 Fonte: Elaborado pelo autor. 1.6 A renda nacional com o governo Estudamos até o presente momento as variáveis fundamentais para a renda de equilíbrio, mas não incluímos participação do governo nesse processo. Dessa forma, o objetivo agora é introduzirmos a variável governo para a determinação da renda de equilíbrio. O governo pode afetar a renda de equilíbrio de duas formas: em primeiro lugar, pode ocorrer através das compras governamentais de bens e serviços, que representam um componente da demanda agregada; em segundo lugar, os impostos e transferências que afetam a relação entre produto e renda. Mercado Financeiro e de Capital – 32 – Vejamos então como cam as equações apresentadas com a entrada do governo: Considerando o lado esquerdo da identidade contábil abaixo como sendo a despesa da relação e o lado direito a alocação da renda: C + I Y C + S C + I + G Y C + S + (IR – T) Onde: O sinal significa identidade e não simplesmente igualdade3 C = consumo I = investimento Y= equilíbrio S = poupança IR = impostos T = transferências Para que não haja confusão com o I de investimentos, vamos fazer com que os impostos sejam representados por IR e as transferências por T. Note que as compras do governo G representam as despesas, enquanto os impostos IR, menos as transferências T, representam a alocação da renda. Daqui para frente o consumo não mais depende da renda simplesmente, mas sim da renda disponível Yd, que é a renda líquida disponível para a despesa das famílias depois de pago os impostos e recebidos os pagamentos de 3 Em matemática o sinal igual signica que um valor é o mesmo que o outro. Por outro lado o sinal identidade signica que um termo da equação é a imagem idêntica a outros dois termos. Diferente da igualdade. Nas equações que exprimem a demanda agregada, a renda nacional e o produto nacional normalmente nos referimos a identidade ou seja, pode-se dizer que, ao mesmo tempo, Y é idêntico a C + I + G e a C + S + (IR – T). – 33 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais transferências do governo. Dessa forma, a função consumo do indivíduo será a renda recebida (por exemplo seu salário) mais as transferências que o governo faz menos os impostos pagos (nesse caso o imposto de renda). Consiste pois na renda menos os impostos, mais transferências, Y + T – IR. A função consumo fica: C = C0 + bY logo C = C0 + bYd . Como a renda disponível é Y + T – IR temos: C = C0 + b(Y + T – IR) Onde: C = consumo C0 = consumo mínimo de coletividade b = propensão marginal a consumir Y = nível de renda T = transferências IR = impostos No entanto, como os impostos representam uma parcela da renda, podemos dizer que os impostos IR são na verdade (iY), com isso podemos substituir na equação anterior. Vejamos: C = C0 + b(Y + T – IR) logo C = C0 + b(Y + T – iY) Simplificando a expressão temos: C = C0 + bT + bY – biY C = (C0 + bT) + b(1 – i)Y Podemos observar, a partir dessa equação, que a presença do governo sob a forma de transferências T eleva a despesa de consumo autônoma pela propensão marginal a consumir, da renda disponível b, vezes o montante das transferências. A presença do imposto de renda, ao contrário, reduz a despesa de consumo a cada nível de renda. A redução surge porque o consumo de uma família está mais relacionado à renda disponível do que à renda Mercado Financeiro e de Capital – 34 – propriamente dita e o imposto de renda reduz a renda disponível relativa àquele nível de renda. Enquanto a propensão marginal a consumir da renda disponível permanece sendo b, a propensão a consumir da renda agora é b(1 – i) Onde: 1 – i = parcela da renda que resta depois de pagos os impostos 1.6.1 Renda de equilíbrio Após todas essas considerações estamos prontos para determinar o equilíbrio:sendo a Y = C + I + G temos: Y = (C0 + bT) + b(1 – i)Y + I + G logo Y = (C0 + bT + I + G) + b(1 – i)Y Onde: Y = nível de renda C0 = consumo mínimo de coletividade bT = gastos induzidos pelas transferências líquidas I = investimentos G = compras do governo b (1 – i)= propensão a consumir da renda disponível Y = nível de renda – 35 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais Ao observarmos a equação acima, percebemos que o governo faz muita diferença. Eleva os gastos autônomos do montante das compras do governo, G, e dos gastos induzidos pelas transferências líquidas, bT. Ao mesmo tempo, o imposto de renda diminui o multiplicador. Podemos substituir o primeiro termo da equação por A, que representa os gastos autônomos, então teremos: A = C + I + G + bT Y = A + b(1 – i)Y resolvendo a equação em Y teremos: A = – b(1 – i)Y + Y A = – bY + biY + Y logo temos que A = Y( 1– b(1 – i) ) Y A b i = − − ( )     1 1 Considerações finais Três pontos merecem ser destacados: o primeiro refere-se aos problemas básicos da economia. Dado que os recursos são efetivamente escassos e as necessidades são ilimitadas, esse é de fato o maior desafio dos países. O segundo ponto refere-se à formação dos preços no mercado, que ocorre quando a oferta e a demanda se interceptam estabelecendo um nível de preços que pode perdurar por algum tempo ou podem mudar face o comportamento do consumidor ou dos ofertantes. O terceiro ponto refere-se à formação da demanda agregada e seu equilíbrio. Percebemos que para uma economia obter uma expansão na sua demanda agregada, não depende unicamente do governo, mas de todos os agentes envolvidos no sistema econômico; são eles: as famílias (indivíduos) que vão gastar suas rendas para adquirir bens e serviços e pouparem; as empresas que vão investir para ofertarem produtos e serviços e finalmente o governo, que desempenha o papel de demandante de produtos e serviços e, portando, realiza gastos e ofertante de produtos e serviços gerando renda. Mercado Financeiro e de Capital – 36 – Ampliando seus conhecimentos Keynes e a economia de Pleno Emprego (KEYNES, 1988) Keynes foi quem usou primeiro esse tipo de análise de curto prazo em 1936, chegando a uma importante conclusão quanto ao funcionamento de uma economia. Lembrando da competição perfeita onde havendo desemprego, os preços dos fatores caíriam, o que faria com que os empresários contratassem o excedente, levando a economia automaticamente ao nível de pleno emprego. Keynes sugeriu que a economia poderia, perfeitamente, estabilizar-se num ponto aquém do nível de pleno emprego, visto que os preços, principalmente da mão de obra, são inflexíveis para baixo. Em outras palavras, mesmo havendo desemprego, os operários não se ofereceriam para trabalhar por menos do que o salário estabelecido. Keynes chamou a atenção de todos para o fato de que, para a economia chegar ao nível de pleno emprego, é necessário que a procura agregada aumente. Atividades 1. O maior desafio das Ciências Econômicas é resolver o problema do binômio escassez de produtos e necessidades ilimitadas. Nesse sentido, a curva de possibilidades de produção é um bom exemplo do quanto esse binômio é difícil de se resolver. Imaginado um país que – 37 – A atividade econômica para compreender o mercado de capitais produza apenas trigo e educação, é possível afirmar que a produção de trigo será satisfeita na mesma medida em que a construção de novas escolas? 2. Considerando que o preço de equilíbrio de um produto, por exemplo o kg de arroz, ocorre quando a curva de oferta de um produtor intercepta a curva de demanda de um indivíduo, como ocorre o preço de equilíbrio se pensarmos em todo o mercado de arroz? 3. A função consumo é uma função linear que demonstra que mesmo para uma renda igual a zero, haverá um consumo mínimo da coletividade. Nesse caso, se uma comunidade onde não há renda alguma podemos pensar que essa função consumo também terá um consumo mínimo? O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária Para o estudo do Sistema Financeiro Nacional faz-se necessária uma abordagem fundamentada nos princípios das instituições que o formam, particularmente aquelas representadas pelos bancos, uma vez que todo o processo de intermediação nanceira é baseado nas suas origens. Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é compreender a formação do Sistema Financeiro Nacional e a política monetária. Para tanto este capítulo está dividido em quatro partes: na primeira discutiremos as origens do Sistema Financeiro Nacional a partir de um breve histórico; na segunda parte apresentamos a estrutura do sistema nacional e sua importância na economia; na terceira discutimos os tipos de moeda em poder do público e, por m, na quarta parte, discutiremos a política monetária. 2 Mercado Financeiro e de Capital – 40 – 2.1 Breve histórico da formação do Sistema Financeiro Nacional Ao chegar ao Brasil, o príncipe regente D. João foi aconselhado pelo então ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, D. Rodrigo (conde de Linhares), a instalar um “banco de troco” que tinha por finalidade fazer chegar aos cofres da Coroa o ouro disponível em poder do público. Em 12 de outubro de 1808 foi criado o primeiro Banco do Brasil, definido como banco de depósitos, descontos e emissão. Além dessas atividades, havia outras ligadas à comercialização de pedras preciosas. As operações financeiras do governo já sedimentavam seu escopo na incipiente instituição financeira. O primeiro Banco do Brasil sofreu em sua estrutura os abalos provocados pela falta de austeridade da Coroa, no que concerne a sua política de gastos. A luta pela independência e o movimento de consolidação política contribuíram para a debelação gradativa do Banco, e por decreto da Assembleia Legislativa, foi liquidado em 23 de setembro de 1829. Essa liquidação se traduziu num ônus socioeconômico, pois o banco estava intimamente ligado às rotinas da população. Mais tarde, em 1836, surgiram novas instituições, inclusive um novo Banco do Brasil, como também os primeiros bancos estrangeiros. A partir do século XX e pelo decreto 14.728 de 16 de março de 1921, foi instituída a Inspetoria Geral dos Bancos, subordinada ao Ministério da Fazenda, que tinha como propósito fiscalizar os bancos, além de normatizar as questões ligadas a exportações e operações cambiais. Em 2 de fevereiro de 1945, foi criada a Superintendência da Moeda e do Crédito com a missão de controlar o mercado monetário e de iniciar a organização do Banco Central (conhecido hoje como Bacen). O período pós-guerra foi marcado pelo crescimento industrial nos estados do sul, iniciando-se um processo de substituição de importações de bens de consumo duráveis. Predominava a Lei de Usura que limitava os juros a 12% ao ano, o que impedia o governo de financiar o crescimento industrial através da emissão de títulos públicos. O resultado foi o processo inflacionário – 41 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária na medida em que a única forma de financiamento era a emissão primária de moeda para satisfazer as necessidades financeiras. O resultado desse processo levou os bancos, por prudência, a emprestar dinheiro no curto prazo, sob o risco de promover um desequilíbrio de seu caixa por saques inesperados. Com base nesse cenário, não havia dúvidas de que seria necessário rever a estrutura do Sistema Financeiro Nacional. A reformulação de todo o sistema ocorreu entre 1964 e 1965 com a criação do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central que constitui a base atual do Sistema Financeiro Nacional (SFN) com a incorporação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 1976. 2.2 A estrutura do Sistema Financeiro Nacional O Sistema Financeiro Nacional é definido [...] como o conjunto de instituições e instrumentos financeiros que possibilitam a transferência de recursos dos ofertadores finais para os tomadores finais e criam condições para que os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado. (RUDGE; CAVALCANTE, 1996, p. 47) Entende-se como ofertadores finais comoos agentes superavitários que possuem excedente de renda, ou seja, ao final de um determinado período (mês por exemplo) suas rendas são maiores do que seus gastos, e portanto sobra dinheiro para estes agentes. Por outro lado, entende-se como os agentes tomadores finais aqueles agentes deficitários que não dispõem de excedente de renda e por isso necessitam de recursos (poupança alheia) para gastar com consumo ou investimentos. Esses estão dispostos a pagar juros pelo capital tomado. A denominação finais surge para evidenciar a chamada intermediação financeira. Nesse sentido, quando uma instituição oferece recursos para um tomador final, esses recursos são oriundos dos ofertadores finais e não do superávit daquela instituição. Da mesma forma, a captação não se relaciona Mercado Financeiro e de Capital – 42 – com a cobertura de seu déficit, e sim para repassá-lo para os tomadores finais para que cubram, dessa forma, seu próprio déficit. O sistema financeiro pode ser dividido em dois grupos de sistemas: o normativo e o operativo. No subsistema normativo encontram-se as autoridades monetárias, como o Conselho Monetário Nacional (CMN); o Banco Central (Bacen) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O CMN é o órgão máximo do sistema financeiro, onde através de suas resoluções, circulares e instruções, que o Bacen fiscaliza, controla e regula a atuação dos intermediários financeiros. O subsistema operativo é constituído pelas instituições financeiras públicas e privadas que atuam no sistema financeiro. Podemos agrupar essas instituições conforme abaixo. As que são normatizadas pelo Conselho Monetário Nacional: 2 instituições financeiras bancárias captadoras de depósitos à vista; 2 bolsas de mercadorias e futuros, bolsas de valores e sociedades corretoras; 2 demais instituições financeiras e administradores de recursos de terceiros. As que são normatizadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados: 2 sociedades de capitalização e demais entidades abertas de previdência complementar. As que são normatizadas pelo Conselho de Gestão de Previdência Complementar: 2 entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) A figura a seguir revela a estrutura do Sistema Financeiro Nacional. – 43 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária Figura 1 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional Sistema Financeiro Nacional Instituições financeiras bancárias Bolsa de mercadorias e futuros, bolsas de valores e sociedades corretoras Demais instituições financeiras e administradores de recursos de terceiros Sociedades de capitalização CMN Susep Bacen CVM SPC BB BNDES CEF IRB CNSP CGPC Instituições especiais Entidades abertas de previdência complementar Entidades fechadas de previdência complementar Sistema operativo Sistema normativo Fonte: LAGIOIA, 2007. 2.3 Funções das instituições do Sistema Financeiro Nacional: o subsistema normativo 2.3.1 Conselho Monetário Nacional (CMN) Criado pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, em substituição ao Conselho da SUMOC (Superintendência da Moeda do Crédito), o CMN tem como nalidade formular a política monetária, fazendo com que o progresso econômico e social do país se constitua no principal objetivo. Integram o CMN o ministro da Fazenda (presidente do CMN), o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o presidente do Bacen. Mercado Financeiro e de Capital – 44 – Suas principais atribuições: 2 Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia e seu processo de desenvolvimento – entende- -se como meio de pagamento qualquer instrumento que formalize um pagamento num processo de intermediação de trocas ou ainda de poder liberatório. Particularmente nesse caso trata-se da quantidade de papel-moeda em poder do público mais os saldos de depósitos à vista nos bancos. 2 Regular o valor interno da moeda, prevenindo ou corrigindo face à inflação ou deflação de origem interna ou externa e face aos desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais1 – o valor interno da moeda está ligado a uma sinalização inflacionária ou deflacionária. Com isso, o controle da oferta da moeda representa o esforço para o alcance dessa regulação. 2 Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos do país – o valor externo da moeda é bem representado pela taxa de câmbio. Essa taxa poderá ser motivadora de exportação ou importação de acordo com sua depreciação (quando cai o valor da moeda) ou apreciação (valorização: quando aumenta o valor da moeda) respectivamente, contribuindo para uma situação da balança comercial de forma superavitária ou deficitária. Assim, quando há uma apreciação (valorização), caem os preços das importações e aumenta o preço das exportações do país em questão para as outras nações. A recíproca também é verdadeira, ou seja, quando há uma depreciação (desvalorização) da moeda, o preço das importações aumenta e o preço das exportações cai. 2 Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras – entende-se por liquidez a capacidade de tornar um ativo em dinheiro o mais rápido possível. Quando há solvência, significa a capacidade de poder arcar com liquidação de débitos, 1 O termo conjuntura econômica define de forma mais dinâmica o fluxo e refluxo das atividades de uma economia. Nesses termos, um fenômeno conjuntural negativo é a queda, por exemplo, da produção e do nível de emprego, de declínio dos preços e lucros. São exemplos a crise financeira norte-americana em 2008 e a crise de 1929. – 45 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária estabelecendo assim uma condução de credibilidade ao sistema. A insolvência, o oposto, de uma instituição financeira, é algo que contamina outros setores da economia. 2 Coordenar as políticas monetária, cambial, creditícia, fiscal e da dívida pública, interna e externa – uma economia supostamente está em harmonia se essas políticas estão funcionando em sincronia. Dificilmente uma economia alcança a justiça, a expansão e o desenvolvimento econômico sem a coordenação dessas políticas. 2.3.2 A Lei 4.595 atribui ainda ao CMN 2 Autorização da emissão de papel-moeda. 2 Fixação dos coeficientes dos encaixes obrigatórios sobre os depósitos à vista e a prazo. 2 Regulamentação das operações de redesconto. 2 Formulação das diretrizes ao Bacen para operações com títulos públicos. 2 Regulação das operações de câmbio e de política cambial. 2 Aprovação do orçamento monetário elaborado pelo Bacen. 2.3.3 Banco Central do Brasil (Bacen) O Bacen é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda, sendo o órgão executivo central do sistema financeiro. Funciona como secretaria executiva do CMN, cabendo-lhe a responsabilidade de cumprir as disposições que regulam o funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e as normas expedidas pelo Conselho. É considerado o “Banco dos Bancos”. Suas principais funções são: 2 execução da política monetária; 2 emissão de papel-moeda; 2 recebimento dos depósitos à ordem ou voluntários; Mercado Financeiro e de Capital – 46 – 2 realização das operações de redesconto; 2 operações de open market; 2 controle do crédito e da taxa de juros; 2 fiscalização das instituições financeiras e a concessão da autorização para o seu funcionamento; 2 administração das reservas cambiais do país. 2.3.4 Comissão de Valores Mobiliários A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda. Ela é responsável por regulamentar, desenvolver, fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários2 , onde são negociados os títulos emitidos pelas empresas para captar recursos destinados ao financiamento de suas atividades. Sua principal função é a de fiscalizar as bolsas de valores e a emissão de valores mobiliários negociados nessas instituições. 2.3.5 Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) é o órgão responsável por fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados. Suas principais funções são: 2 regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalizaçãodos que exercem atividades subordinadas ao CNSP, bem como a aplicação das penalidades previstas; 2 fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. 2 Documento que certifica a propriedade de um bem ou de um valor. O termo se aplica genericamente a todos os valores mobiliários. Distinguem-se dois tipos de títulos: os comerciais e os títulos de renda. – 47 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária 2.3.6 Superintendência de Seguros Privados (Susep) Segundo o Ministério da Fazenda (SUSEP, 2004) a Superintendência de Seguros Privados (Susep) é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, sendo responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização. Suas principais funções são: 2 fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, na qualidade de executora da política planejada pelo CNSP. 2.3.7 Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) é uma sociedade de economia mista com controle acionário da União, jurisdicionada ao Ministério da Fazenda, com o objetivo de regular o cosseguro, o resseguro e a retrocessão, além de promover o desenvolvimento das operações de seguros no país. O resseguro é o seguro do seguro. Quando uma companhia assume um contrato de seguro superior à sua capacidade financeira, ela necessita repassar esse risco, ou parte dele, a uma resseguradora. Nesse sentido, o resseguro é uma prática comum, feita em todo o mundo, como forma de mitigar o risco, preservar a estabilidade das companhias seguradoras e garantir a liquidação do sinistro ao segurado (IRB, 2008). 2.3.8 Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC) O Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC) é um órgão colegiado que integra a estrutura do Ministério da Previdência Social e cuja competência é regular, normatizar e coordenar as atividades da entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2008). Mercado Financeiro e de Capital – 48 – 2.3.9 Secretaria de Previdência Complementar (SPC) A Secretaria de Previdência Complementar (SPC) é um órgão do Ministério da Previdência Social, responsável por fiscalizar as atividades das entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) (BANCO CENTRAL DO BRASIL). 2.3.10 Instituições especiais Entre as instituições que operam no subsistema normativo, há algumas com características diferenciadas. São chamados de instituições especiais – Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e Caixa Econômica Federal – por exercerem atribuições de interesse do Governo Federal e ao mesmo tempo, pertencerem ao subsistema operativo. 2.4 Funções das instituições do Sistema Financeiro Nacional: o subsistema operativo 2.4.1 Bancos comerciais Os bancos comerciais são instituições financeiras públicas ou privadas que têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral. Suas principais atribuições: 2 receber depósitos; 2 efetuar empréstimos; 2 manter títulos federais, estaduais e municipais; 2 manter encaixes voluntários no Bacen com o intuito de atender às operações de redesconto e o serviço de compensação de cheques. – 49 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária 2.4.2 Bancos múltiplos São bancos que podem operar simultaneamente com a autorização do Bacen, carteiras de banco comercial, de investimento, de crédito imobiliário, de crédito, financiamento e investimento, arrendamento mercantil (leasing) e de desenvolvimento, constituindo-se em uma só instituição financeira de carteiras múltiplas, com personalidade jurídica própria. 2.4.3 Bolsas de mercadoria e futuros As bolsas de mercadoria e futuros são associações privadas civis, sem fins lucrativos, com o objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações realizadas em pregão ou em sistema eletrônico. 2.4.4 Bolsas de valores As bolsas de valores, de acordo com o disposto na Resolução 1.656/89 do CMN, constituem-se como associações civis, sem fins lucrativos e tendo por objetivo, entre outros, manter local adequado ao encontro de seus membros e à realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado por seus membros, pela autoridade monetária e, em especial, pela CVM. 2.4.5 Sociedades corretoras As sociedades corretoras são instituições financeiras compostas como sociedades anônimas ou sociedades por quotas de responsabilidade limitada. Sua função essencial é a de promover a aproximação entre compradores e vendedores de títulos e valores mobiliários, realizados nas bolsas de valores, através de pregões. Dessa forma, as corretoras desempenham um papel de unificadoras do mercado. Mercado Financeiro e de Capital – 50 – 2.4.6 Demais instituições financeiras e administradoras de recursos de terceiros Essas instituições são formadas pelas seguintes entidades: 2 agências de fomentos – financiar capital fixo e de giro associado a projetos na unidade da federação onde tenham sede; 2 bancos de investimentos – financiar as atividades produtivas para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros; 2 cooperativas de crédito – conceder crédito rural e urbano somente a associados, por meio de títulos, empréstimos, financiamentos e realizar aplicação de recursos no mercado financeiro. 2.4.7 Sociedades de capitalização e demais entidades abertas de previdência complementar São entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que negociam contratos (títulos de capitalização) que têm por objetivo o depósito periódico de prestações pecuniárias (em dinheiro) pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido prazo contratado, o direito de resgatar parte dos valores depositados corrigidos por uma taxa de juros estabelecida contratualmente; conferindo ainda, quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2008). 2.4.8 Entidades abertas de previdência complementar São entidades constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. – 51 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária 2.4.9 Entidades fechadas de previdência complementar São organizações sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos e somente são acessíveis, aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Essas entidades são comumente denominadas de Fundos de Pensão. 2.5 Espécies de moedas usadas pelo público Antes de começar a compreender a política monetária e suas implicações na economia é preciso reconhecer as espécies de moedas usadas pelo público, pois são elas que se tornam objeto da política monetária. 2.5.1 A moeda corrente A moeda corrente é composta de papel-moeda e de moeda metálica. No entanto nem toda moeda corrente em circulação é mantida pelo público. Parte é mantida pelo governo, pelo Bacen, e parte pelos bancos comerciais. Os depósitos dos bancos comerciais no Bacen são classificados na categoria de dinheiro governamental. Esses depósitos, que são simplesmente registros, servem como reservas para os bancos comerciais e são considerados equivalentes às notas do Bacen, desde que as notas e as reservas possam ser trocadas entre si a qualquer tempo a um custo igual a zero. Esses depósitos são tratados como apenas registros contábeis e não como notas legais do Bacen por questão de eficiência. Os depósitos dos bancoscomerciais, como o Bacen, raramente mudam de propriedade, e o uso de apenas lançamentos contábeis elimina o custo de impressão que seria necessário se tivesse que existir uma correspondência em notas. 2.5.2 Os depósitos nos bancos comerciais Um depósito bancário é uma conta que registra a quantidade de dinheiro depositada num banco por um indivíduo, empresa etc. Mercado Financeiro e de Capital – 52 – Os depósitos bancários podem ser classificados em dois tipos: 2 depósitos que são movimentados por cheques ou depósitos à vista e a curto prazo; 2 depósitos a prazo. Uma definição ampla de oferta monetária inclui os depósitos a prazo, enquanto uma definição estreita não os leva em consideração. Em virtude das diferenças entre depósitos à vista e a curto prazo e outras formas de depósitos, os economistas têm sugerido definições alternadas para moeda e que são simbolizadas por notações curtas: M1; M2; M3 etc. O M1 é a moeda corrente e depósitos à vista e a curto prazo; o M2 é o M1 mais cadernetas de poupança mais depósitos a prazo; M3 é o M2 mais certificados de depósitos3 . 2.5.3 O Bacen e a moeda de alta potência O Bacen controla a quantidade de moeda de alta potência (moeda de alta potência é aquela gerada pelo Banco Central quando este emite um título no leilão primário que pode ser negociado pelos bancos que a compraram no mercado secundário) por intermédio da operação de venda e compra de títulos governamentais4 . Um título governamental pode ser comprado diretamente do público ou pelo público numa operação chamada de mercado aberto. Quando um título é comprado do público, um depósito no Bacen é criado em nome do vendedor, aumentando o volume da moeda de alta potência. Quando o Bacen vende um título governamental, uma cadeia oposta de eventos ocorre e a quantidade de moeda de alta potência é reduzida. Essa operação, que recebe o nome de operação de mercado aberto, é o mais efetivo instrumento que o Bacen tem para controlar a quantidade de moeda de alta potência e, subsequentemente, a quantidade de moeda existente na economia. 3 Para efeito deste capítulo não discutiremos o M4 que é o mais abrangente dos conceitos. Ele é o resultado da soma de M3 com os títulos de emissão do sistema financeiro, como os depósitos a prazo, letras de câmbio e letras hipotecárias. São excluidos os estoques desses títulos mantidos em carteiras próprias das instituições financeiras. 4 Os títulos governamentais são documentos emitidos pelo governo prometendo pagar um valor fixo em datas específicas ao detentor do mesmo. – 53 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária 2.6 Objetivo da política monetária e a demanda agregada A política monetária tem por finalidade fazer com que a economia do país, indivíduos, famílias, empresas e governo, tenham ao seu dispor a quantidade de dinheiro necessária às suas atividades. Por outro lado, essa definição deve ser somada à outra, que possa garantir o equilíbrio, a expansão e o desenvolvimento econômico, qual seja: o uso do controle da oferta de dinheiro e da taxa de juros, no país. Com essas definições, é possível perceber que o dinheiro entra na atividade econômica do país, e causa todos os seus efeitos sobre ela, sejam bons ou maus. O esquema dessa ligação entre o dinheiro e a economia nacional pode ser verificado a seguir, quando analisa-se a relação dinheiro e a demanda agregada. O Governo, por diversas maneiras, pode num dado momento aumentar a oferta de dinheiro no país; mas quem aumenta a oferta de dinheiro pode também diminuí-la, aplicando os mecanismos às avessas. O aumento da oferta de dinheiro traz como consequência a baixa da taxa de juros, facilitando a tomada de empréstimos, ao passo que sua redução dificultaria a tomada de empréstimos. O dinheiro abundante e juro baixo incentivam os empresários a novos investimentos, ou a aumentos de produção: os lucros esperados são superiores aos juros baixos. Mas os indivíduos e famílias também se endividam em bens duráveis e em aquisição de imóveis: as prestações caem dentro de suas rendas. O investimento e o consumo aumentam, e assim aumenta a demanda agregada. O aumento da demanda agregada, se não há pleno emprego, significa aumento da produção nacional e, pois, desenvolvimento do país. No entanto, o aumento da demanda agregada e da produção significa que, no país, está havendo mais negócios, de todos os tipos, mais trocas. Dessa forma é preciso mais dinheiro para servir de intermediário a essas novas trocas. Assim o que começou com uma injeção de dinheiro novo acaba por pedir nova injeção de dinheiro. Mercado Financeiro e de Capital – 54 – 2.6.1 Os revezes da política monetária No item anterior foi possível vislumbrar que a política monetária buscou estimular as atividades do país. Por outro lado ela pode ser manejada para debelar uma situação de inflação (aumento generalizado dos preços): dessa forma, os instrumentos da política monetária são manipulados para diminuir a oferta de dinheiro, a fim de obter todas as consequências que isso traz: a elevação da taxa de juros, a diminuição do investimento e do consumo, a retração da demanda agregada etc. A implementação da política monetária está sujeita a desvios causados por imprevistos, ou por erros, ou por atos deliberados das autoridades. Se a economia está em pleno emprego, um erro expansionista na moeda (aumento da quantidade de moeda em circulação) e no crédito gerará a inflação. Por outro lado, se o país está em recessão, ou em estagnação, pode haver expansão da oferta monetária, e, não obstante, não haver expansão econômica nenhuma, porque os indivíduos e as empresas não encontrarão razão alguma para usar do dinheiro barato, e aplicá-lo em gastos de consumo e/ou investimento. Da mesma forma, pode o país estar em recessão, ou em estagnação, e haver até mesmo inflação, e de nada adiantar uma política monetária fácil – na verdade há ocasiões em que a política monetária nada pode fazer. 2.6.2 Os instrumentos de política monetária Os principais meios pelos quais as autoridades monetárias controlam a oferta de dinheiro e a taxa de juros, no país, são os seguintes: 2 depósitos à ordem do Banco Central – conforme estejam obrigados a ter um depósito maior, ou menor, no Bacen, os bancos comerciais terão menos, ou mais dinheiro para dar emprestado; 2 reservas de caixa – igualmente, conforme sejam maiores ou menores, as reservas que os bancos comerciais conservem para atender à movimentação de seus depósitos à vista, menores, ou maiores, serão seus recursos para ofertar dinheiro – há um mínimo de segurança abaixo do qual não podem baixar essas reservas; – 55 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária 2 refinanciamento compensatório – são depósitos a curto prazo, até 180 dias, normalmente, a baixo juro, que o Bacen faz nos bancos comerciais, alimentando-os de recursos para empréstimos a curto prazo; 2 taxa de desconto – é o que o banco comercial cobra do seu cliente para emprestar-lhe (descontar) dinheiro sobre um título comercial – se for baixa, facilita o crédito; 2 taxa de redesconto – é o que o Bacen cobra do banco comercial para emprestar-lhe dinheiro (redescontar) sobre um título que descontou – se é baixa, facilita que o banco comercial se reabasteça de dinheiro, e prossiga com seus descontos; 2 “operações de open market” – se o Bacen adquire títulos da dívida pública que estão em poder das instituições financeiras e dos particulares, aumenta a quantidade de dinheiro existente na economia do país; se vende esses títulos, diminui – no primeiro caso, como sempre que há aumento da quantidade de dinheiro, desce a taxa de juros; no segundo caso, há a elevação da taxa de juro; 2 fixação da taxa de juros – todas as medidas anteriores, quando redundam em aumentar a oferta de dinheiro, fazem cair a taxa de juro, tornado ainda mais fáceis os empréstimos; e quando redundam em diminuir a oferta de dinheiro, fazem subir a taxa de juro, tornando mais difícil tomar empréstimos. Além disso, o governo pode fixar a taxa de juro diretamente, e, isso tanto no seu aspecto ativo(empréstimo recebidos pelas instituições financeiras), como no seu aspecto passivo (empréstimos recebidos pelas empresas e por particulares). Essas fixações podem ser gerais; ou especiais, favorecendo, ou dificultando, certas linhas de atividade; 2 racionamento do crédito – o governo pode determinar a diminuição geral do crédito em todo o país, para combater a inflação: menor oferta geral de dinheiro. Ou apenas em certas linhas de produção ou de consumo; 2 seletividade do crédito – o governo pode favorecer a oferta de dinheiro para certos gastos de investimento ou de consumo, mediante a facilidade de crédito em certas linhas; Mercado Financeiro e de Capital – 56 – 2 vendas à prestação – as vendas à prestação dos bens duráveis de consumo podem ser, conforme o caso, um poderoso estimulante da produção, ou da inflação. 2.6.3 A eficácia da política monetária O que se tem conseguido na prática com a política monetária é sua comprovada eficiência no combate à inflação que nasce do excesso de demanda. Por outro lado, no combate da recessão, nem sempre ela é eficaz: pode haver dinheiro abundante, pode a taxa de juros ser baixa, e, não obstante, os empresários não investem e os indivíduos não consomem, de modo que a demanda agregada não aumenta, e as atividades econômicas não melhoram. 2.6.3.1 Limitações da política monetária É possível verificar pelo menos três limitações da política monetária, são elas: 2 as medidas que o governo toma podem ser neutralizadas, ou enfraquecidas, pela ação das entidades financeiras, das grandes empresas e até dos indivíduos, por exemplo: contra uma política anti-inflacionária de corte na oferta de dinheiro, esses agentes podem colocar em circulação suas reservas como poupanças, aplicações, aumentando a velocidade de circulação da moeda, fazendo com que o processo inflacionário se restabeleça; 2 por outro lado, uma política de dinheiro abundante e juros baixos, destinada a aumentar a demanda, pode fazer com que os capitais fujam do país, onde o juro é mais alto, enfraquecendo o investimento interno, deixando de ter o efeito desejado de estimular a demanda agregada; 2 ou uma política de corte na oferta de dinheiro, para diminuir a demanda e reduzir a inflação, faz a taxa de juros subir, de modo que os capitais externos afluem, os juros baixam, a demanda agregada aumenta, e com isso tem-se a volta da inflação. Dessa forma a política monetária, não raro, necessita do apoio de outra política – a política fiscal. – 57 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária 2.6.3.2 Política monetária e política fiscal Retomando o anterior, pode-se observar que na verdade não só uma dessas políticas não dispensa a outra, como na verdade a correta aplicação de uma exige o auxílio da outra. Dessa forma vejamos dois casos. 2 Numa dada situação o governo aumenta a oferta de dinheiro e obtém a baixa da taxa de juros, para estimular a demanda agregada. No entanto as empresas não tomam empréstimos porque não preveem demanda para sua produção. Para resolver o problema, a política fiscal se encarrega de, através do dispêndio público – leia-se investimentos –, fornecer a demanda necessária5 , e a atividade econômica se estimula, com seus efeitos multiplicativos. 2 Numa outra situação, suponha que o governo faça uma redução de impostos para estimular a demanda agregada, e eliminar a recessão. No entanto, a menos que seja aumentada, ao mesmo tempo, a oferta de dinheiro, a taxa de juros subirá, porque o governo vai ter de tomar dinheiro emprestado, para cobrir as suas despesas, que ficaram a descoberto; e, com juros altos, não é possível o aumento da demanda agregada, porque as empresas e os indivíduos não tomam empréstimos. Dessa forma, o aumento adequado da oferta de dinheiro vai impedir que a taxa de juros aumente. 5 Uma das funções da política fiscal é provocar a demanda (ou fornecer a demanda necessária) numa situação de desaceleração da economia. Ela o faz através de gastos públicos e de investimento. Por exemplo: imagine uma situação de desaceleração da economia onde o nível de desemprego é alto. A política fiscal, através do investimento (e gastos) governamental, pode resolver isso por exemplo na construção de uma estrada. Ao construir uma estrada ela estará forçando o setor de construção civil a contratar mais pessoas (aquelas que estavam desempregadas); a comprar mais matéria-prima para a construção da estrada; por sua vez os fornecedores de matéria-prima vão precisar de mais pessoas e mais material e uma cadeia positiva e fecunda de desenvolvimento ocorre. Portanto a política fiscal pode fornecer (provocar) essa demanda para o sitema econômico. Mercado Financeiro e de Capital – 58 – Considerações finais Diante do que foi visto neste capítulo devemos destacar pelo menos dois aspectos essenciais. O primeiro deles está relacionado à estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Embora ele seja bastante complexo, sua importância é fundamental para o desenvolvimento coordenado das atividades econômicas do país. O segundo aspecto está relacionado à política monetária. Como vimos, seu principal objetivo é fazer com que os agentes disponham de dinheiro suficiente para demandar bens e serviços e, nesse sentido, estimular a demanda agregada. Por outro lado, vimos que somente a política monetária, não raro, pode resolver sozinha um processo inflacionário ou recessivo, necessitando, dessa forma, da política fiscal. Ampliando seus conhecimentos Corrida aos bancos e oferta de moeda (MANKIW, 1999, p. 609) Embora na vida real você não tenha, provavelmente, testemunhado nunca uma corrida aos bancos, você já deve ter visto alguma em filmes como Mary Poppins e a Felicidade não se compra. Uma corrida aos bancos ocorre quando os depositantes suspeitam de que o banco esteja às vésperas da falência e, em consequência, “correm” ao banco para retirar o dinheiro depositado. As corridas aos bancos são um problema para os bancos em um sistema de reservas fracionárias. Como o banco mantém em reserva apenas uma fração dos depósitos, não pode atender aos pedidos de todos os seus depositantes. Mesmo se, de fato, o banco estiver solvente (significando que seu ativo supera o passivo), ele não terá suficiente dinheiro em caixa para proporcionar a todos os seus clientes um acesso imediato – 59 – O Sistema Financeiro Nacional e a política monetária ao seu dinheiro. Quando ocorre uma corrida, o banco é obrigado a fechar suas portas até que alguns empréstimos feitos pelo banco sejam reembolsados ou até que algum emprestador de última instância forneça os recursos necessários ao atendimento dos depositantes. As corridas aos bancos complicam a oferta de moeda. Um exemplo desse problema ocorreu durante a Grande Depressão, no início dos anos 30. Depois de uma onda de corridas aos bancos e de fechamento de bancos, famílias e banqueiros se tornaram mais cautelosos. As famílias retiraram seus depósitos dos bancos, preferindo manter a moeda na forma de moeda corrente. Essa decisão reverteu o processo de criação de moeda na medida em que os banqueiros reagiram à queda das suas reservas reduzindo a concessão de empréstimos. Ao mesmo tempo, os banqueiros aumentaram a razão de reserva de modo a ter em caixa dinheiro suficiente para atender à demanda de seus depositantes em corridas futuras. A razão de reserva mais elevada também reduziu a oferta de moeda. De 1929 a 1933, a oferta de moeda caiu 28% […] Nos dias de hoje o Governo Federal garante a segurança dos depósitos na maioria dos bancos. Atividades 1. O Sistema Financeiro Nacional é definido como o conjunto de instituições e instrumentos financeiros que possibilitam a transferência de recursos dos ofertadores finais para os tomadores finais e criam condições para que os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado. Nesse sentido, quem são os ofertadores finais? Mercado Financeiro e de Capital – 60 – 2. Dado que a moeda corrente é composta de papel-moeda e de moeda metálica e nem toda moeda corrente em circulação é mantida pelo público, quem fica com a outra parte dessamoeda corrente? 3. A política monetária tem por finalidade fazer com que a economia do país, indivíduos, famílias, empresas e governo, tenham ao seu dispor a quantidade de dinheiro necessária às suas atividades. Nesse sentido, a política monetária mostra-se mais eficiente no combate à inflação que nasce do excesso de demanda mas não no combate da recessão. Por que isso ocorre? Os mercados financeiros: monetário, crédito, capitais e cambialConsiderando que na economia existem agentes que, de um lado possuem superávit em seus orçamentos (ao m de um determinado período de tempo sobra dinheiro) e de outro, agentes que possuem dé cit (ao m de um determinado período falta dinheiro), é necessário que a economia possibilite a transação entre esses dois grupos. 3 Mercado Financeiro e de Capital – 62 – Semelhante à ideia de mercado de bens e serviços, onde os agentes se encontram num determinado momento para demandar produtos e serviços pagando por eles, os mercados financeiros (também conhecido como mercado do dinheiro) possibilitam o encontro dos mesmos agentes, no entanto com objetivos diferentes: de um lado, obter liquidez (os deficitários) e de outro lado fornecer liquidez (os superavitários). Neste encontro entre os agentes e das diferentes configurações, volume de recursos, prazos e formas de remuneração pela liquidez surgem quatro tipos de mercados específicos: o mercado monetário; o mercado de crédito, o mercado de capitais e o mercado cambial. Assim, o objetivo deste capítulo é compreender as características fundamentais de cada tipo de mercado e sua função no contexto da economia. 3.1 O mercado monetário: generalidades Na medida em que as autoridades monetárias como, por exemplo, o Banco Central, não consegue interferir diretamente no cotidiano dos agentes econômicos (famílias e empresas) para aumentar ou reduzir o consumo – as autoridades interferem de forma indireta através das políticas monetárias – surge o mercado monetário que induz os agentes econômicos a alterarem seu perfil de consumo, estruturado de forma a controlar a liquidez monetária da economia. Os papéis que são negociados nesse mercado são de curtíssimo e de curto prazo de resgate e de alta liquidez. Nesse mercado, os principais papéis que são negociados são aqueles emitidos pelo Banco Central do Brasil (Bacen), com objetivo de executar a política monetária (por exemplo, o Bônus do Banco Central – BBC); pelo Tesouro Nacional emitidos com o objetivo de financiar o orçamento público (por exemplo, Notas do Tesouro Nacional – NTN e Letras do Tesouro Nacional – LTN), além dos títulos públicos emitidos pelos Estados e municípios e aqueles emitidos exclusivamente entre instituições financeiras (por exemplo Certificados de Depósitos Interfinanceiros (conhecidos também por Interbancários) – CDI, os Certificados de Depósitos Bancários – CDB e debêntures. – 63 – Os mercados financeiros: monetário, crédito, capitais e cambial Uma das características mais marcantes desse mercado é que grande parte dos papéis públicos e privados negociados são escriturais (não tangíveis), quer dizer, não são emitidos fisicamente, o que exige um elevado grau de organização para a liquidação e transferência. Imagine você que nos lê e que deseja adquirir um dos papéis acima como, por exemplo, um CDB. Reflita como será difícil para o banco que emitiu esse papel controlar, liquidar e transferir o rendimento gerado por esse CDB para você, se em nenhum momento você recebeu do banco um documento. Na verdade o único controle que você terá é o acompanhamento do seu extrato bancário informando que você adquiriu o tal CDB, de quanto é o capital, e qual é a posição de liquidação no dia. Dada essa complexidade, as negociações com esses títulos são rigorosamente controladas e custodiadas por dois grandes sistemas denominados Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados (Cetip). Na verdade esses dois sistemas são grandes computadores que têm por objetivo final promover a boa liquidação das operações do mercado monetário, propiciando maior segurança e autenticidade e segurança aos negócios realizados. No entanto o Selic assim como o Cetip guardam suas diferenças. O Selic foi criado em 1979 pelo Bacen e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) com objetivo de controlar e liquidar financeiramente as operações de compra e venda de títulos públicos e manter sua custódia física e escritural. Os negócios realizados são acertados diretamente entre os operadores das instituições financeiras credenciadas a operar no mercado monetário, que repassam as informações, via terminal de computador, ao Selic, para que ocorra a transferência do dinheiro. O Cetip, por sua vez, foi criado mais tarde, em 1986, apresentando características semelhantes ao Selic, mas com a diferença que nesse sistema só operam títulos privados, como por exemplo, os Certificado de Depósitos Bancários (CDB), Recibo de Depósitos Bancários (RDB), debêntures, Certificado de Depósitos Interbancários (CDI) etc. Por outro lado, algumas vezes esse sistema opera com títulos públicos a condição que estes estejam em poder do setor privado. Mercado Financeiro e de Capital – 64 – 3.1.1 Os títulos públicos e o mercado monetário Na mesma medida, mas em proporções diferentes, em que você, eu e os outros agentes econômicos temos num determinado período de tempo problemas de liquidez e passamos a ser tomadores de recursos, o governo, não raro apresenta esse mesmo comportamento. Nesse sentido, o governo nas suas três esferas (federal, estadual e municipal) capta recursos no mercado emitindo títulos representativos da dívida pública. A diferença entre as três esferas é que, enquanto os títulos da esfera federal apresentam maior aceitação e liquidez no mercado, os da esfera estadual e municipal apresentam pouca aceitação e liquidez mais baixa, além de serem mais restritos quanto a sua circulação. Dado que os títulos da esfera estadual e municipal apresentam baixa liquidez e são restritos quanto a sua circulação, este capítulo não tratará desses papéis, focando nosso estudo nos títulos da esfera federal. Assim, os títulos da dívida pública do Governo Federal classificam-se pela natureza de suas emissões, e suas principais características estão listadas a seguir1 . Antes, porém, é importante deixar claro que a partir do ano 2000, o Bacen não pode mais emitir títulos da dívida pública. Isso ocorreu por resolução do Conselho Monetário Nacional com a Lei de Responsabilidade Fiscal – 4 de maio de 2000. 3.1.1.1 Títulos do Tesouro Nacional Letras do Tesouro Nacional (LTN) Tratam-se de títulos que são negociados com deságio (desconto), pagando ao investidor uma quantia inferior a seu valor de face. O valor de face é o valor declarado no título, mas ao ser liquidado este perde parte de seu valor. Exemplo: imagine um agente que adquiriu uma LTN com valor de face igual R$100.000,00. Considerando que o desconto é de 10%, o investidor receberá somente R$90.000,00 (R$100.000 · 0,1 = R$10.000 logo R$100.000 – R$10.000 = R$90.000 ). Quanto ao prazo desses títulos, estes 1 Por uma questão didática, apresentaremos apenas os principais títulos. – 65 – Os mercados financeiros: monetário, crédito, capitais e cambial são definidos no momento de sua emissão. As formas de emissão das LTNs ocorrem por oferta pública, podendo ser ao par, com ágio ou deságio, ou direta, não podendo nesse caso serem colocados por valor inferior ao par2 . Letras Financeiras do Tesouro (LFT) São títulos que têm seus rendimentos definidos pela média da taxa Selic (overnigth3 ), garantindo uma rentabilidade de mercado ao investidor. São papéis, cujos prazos de resgate são definidos por ocasião de sua emissão. O investidor recebe, por ocasião do resgate, o valor nominal acrescido do rendimento respectivo. Notas do Tesouro Nacional (NTN) Esses títulos oferecem rendimentos pós-fixados e atrelados a um indexador da economia4 . Os juros são pagos periodicamente e o prazo mínimo de emissão

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