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LITERATURA PORTUGUESA I Gabarito AP1

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GABARITO DA AP1 – Literatura Portuguesa I – 2017-1 
 
 
Instruções: 
 Escreva à tinta (azul ou preta) e com a maior legibilidade possível. 
 Não escreva em tópicos. 
 Utilize o mínimo de 10 (cinco) e o máximo de 20 (vinte) linhas para cada 
resposta. 
 Devolva a folha de perguntas junto com as respostas. 
 
Pontuação: 
 3 (três) questões – cada uma vale 30 pontos; 
 Objetividade, clareza, coerência, coesão e correção do texto valem 10 pontos. 
 
 
 
 
QUESTÃO 1 
 
Que diferenças traz a obra Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, em 
relação aos Lusíadas quanto ao “ser português” nos aspectos do território, do 
deslocamento e da escrita? 
 
A resposta deve comentar: 
 1º) o que é “ser português” como a afirmação da identidade de uma nação que 
se torna tema recorrente na literatura portuguesa desde Fernão Lopes 
(separando portugueses de espanhóis), de Camões (na narrativa do milagre de 
Ourique, separando portugueses cristãos de árabes maometanos); 
2º) o fato de o romance de Garrett tematizar no século XIX o “ser português”, 
(esta noção de identidade nacional construída por séculos), por uma inversão 
do projeto de Os Lusíadas: 
a) quanto ao território, ao mostrar uma nação degenerada, dividida entre 
liberais e absolutistas, em guerra civil como se vê no episódio encaixado da 
menina dos rouxinóis, e no trajeto feito pelo Autor pelas cidades percorridas e 
decadentes até Santarém; 
b) quanto ao deslocamento, por escolher fazer uma viagem, não por mares 
nunca dantes navegados Tejo a fora, mas pela própria pátria Tejo a dentro; 
c) quanto à escrita, o abandono do tom épico em favor da coloquialidade, do 
romanesco (a novela), do registro ensaístico (reflexões ao longo da obra), da 
intertextualidade, da autorreferencialidade, da conversa com o leitor, etc. 
 
 
 
QUESTÃO 2 
 
A Ilustre Casa de Ramires pode ser considerada uma “casa portuguesa, com 
certeza”? Responda a esta pergunta valendo-se do trecho a seguir que encerra 
o romance: 
 
- Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem 
vocês, (…) quem ele me lembra? 
- Quem? 
- Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquele todo de Gonçalo, a 
franqueza, a doçura, a bondade, a imensa bondade, que notou o Sr. Padre 
Soeiro... Os fogachos e entusiasmos, que acabam logo em fumo, e juntamente 
muita persistência, muito aferro quando se fila à sua idéia... A generosidade, o 
desleixo, a constante trapalhada nos negócios, e sentimentos de muita honra, 
uns escrúpulos, quase pueris, não é verdade?... A imaginação que o leva 
sempre a exagerar até à mentira, e ao mesmo tempo um espírito prático, sempre 
atento à realidade útil. A viveza, a facilidade em compreender, em apanhar... A 
esperança constante nalgum milagre, no velho milagre de Ourique, que sanará 
todas as dificuldades... A vaidade, o gosto de se arrebicar, de luzir, e uma 
simplicidade tão grande, que dá na rua o braço a um mendigo... Um fundo de 
melancolia, apesar de tão palrador, tão sociável. A desconfiança terrível de si 
mesmo, que o acovarda, o encolhe, até que um dia se decide, e aparece um 
herói, que tudo arrasa... Até aquela antiguidade de raça, aqui pegada à sua 
velha Torre, há mil anos... Até agora aquele arranque para a África... Assim todo 
completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem ele me lembra? 
- Quem?... 
- Portugal. 
 
(EÇA DE QUEIRÓS, A ilustre casa de Ramires, s.d. Cap. XII, p. 229b) 
 
A resposta deve comentar: 
1º) o sentido de “casa portuguesa” que atravessa o romance, a começar pelo 
título que simboliza o próprio Portugal, sua identidade nacional, que remonta 
ao presente de Portugal e aos ancestrais do personagem Gonçalo, quando 
este escreve a sua novela para recuperar sentido mais “puro” desta 
portugalidade. 
2ª) o trecho citado mostrando a conjugação entre o personagem Gonçalo e o 
próprio Portugal daquela época, cheio das contradições como, por exemplo: 
“Até aquela antiguidade de raça, aqui pegada à sua velha Torre, há mil anos... 
Até agora aquele arranque para a África...” No caso deste exemplo, há uma 
crítica à falta de rumos da pátria na época do autor, Eça de Queirós. 
 
QUESTÃO 3 
 
A partir dos últimos versos de “O sentimento dum ocidental”, discuta a 
problematização da identidade portuguesa realizada no poema, situando o 
autor, sua época e importância para a literatura portuguesa: 
 
E, enorme, nesta massa irregular 
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes, 
A Dor humana busca os amplos horizontes, 
E tem marés, de fel, como um sinistro mar! 
 
 
A resposta deve: 
1º) nomear o poeta – Cesário Verde – sua época – final do século XIX- e sua 
importância pelo caráter moderno de sua poesia, cuja fusão de impressionismo 
e alta sensibilidade, influenciou o próprio Fernando Pessoa. 
2ª) abordar o título do poema “O sentimento dum ocidental”” levando-nos a 
pensar no português cujo identidade é a mais ocidental do Ocidente. Esta 
pátria está representada pela cidade de Lisboa que é percorrida pela figura do 
poeta cujos sentimentos são torturados pelo passado glorioso em contraste 
com o presente decadente; 
3º) comentar os últimos versos citados que encerram as 4 partes do poema 
(ao gás, anoitecer, noite fechada e madrugada) com imagens que se 
assemelham a uma foto panorâmica tirada a certa distância da cidade/país 
“sepulcral”, sob a mira de um sujeito lírico. Este se une a uma dor universal 
(“humana”) mais especialmente a uma dor portuguesa da qual busca libertar-
se em “amplos horizontes” tendo em vista o passado de amargura (“fel”) que os 
portugueses passaram depois de encerrada a era das navegações. A Dor 
enorme tem “marés de fel” que, ao contrário do mar venturoso, é um “sinistro 
mar”.

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