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PARA LER E INTERPRETAR TEXTO Ben-Hesed O QUE É TEXTO? Texto é, literalmente, um tecido verbal estruturado de tal forma que as ideias formam um todo coeso, uno, coerente. A imagem de tecido contribui para esclarecer que não se trata de feixe de fios entrelaçados (frases que se inter-relacionam). . O QUE É TEXTO? Todas as partes de um texto devem estar interligadas e manifestar um direcionamento único. Assim, um fragmento que trata de diversos assuntos não pode ser considerado texto. Da mesma forma, se lhe falta coerência, se as ideias são contraditórias, também não constituirá um texto. Se os elementos da frase que possibilitam a transição de uma ideia para outra não estabelecem coesão entre as partes expostas, o fragmento não se configura texto O QUE É TEXTO? Essas três qualidades - unidade, coerência e coesão - são essenciais para a existência de um texto. Um texto é mais ou menos eficaz dependendo da competência de quem o produz, ou da interação de autor-leitor, ou emissor- receptor. O QUE É TEXTO? O texto exige determinadas habilidades do produtor, como conhecimento do código, das normas gramaticais que regem a combinação dos signos. A competência na utilização dos signos possibilita melhor desempenho. CONTEXTO Define-se como informações que acompanham o texto. Por isso, sua compreensão depende da compreensão do contexto. Assim sendo, não basta a leitura do texto, é preciso retomar os elementos do contexto, aqueles que estiveram presentes na situação de sua construção. O contexto deve ser visto em suas duas dimensões: estrutura de superfície e estrutura de profundidade. CONTEXTO A estrutura de superfície considerada os elementos do enunciado, enquanto a estrutura de profundidade considera a semântica das relações sintáticas. Num caso, o leitor busca o primeiro sentido pelo produzido pelas orações; no outro, vasculha a visão do mundo que informa o texto. O contexto pode ser imediato ou situacional. CONTEXTO O contexto imediato relaciona-se com os elementos que seguem ou precedem o texto imediatamente. São os chamados referentes textuais. O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse contexto acrescenta informações, quer históricas, quer geográficas, quer sociológicas, quer literárias, para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. INTERTEXTO Além do contexto, a leitura deve considerar que um texto pode ser produto de relações com outros textos. E essa referência e retomada constante de textos anteriores recebe o nome de paráfrase, paródia, estilização. A paráfrase pode ser ideológica ou estrutural. No primeiro caso. O desvio é mínimo: varia a sintaxe, mas as ideias são as mesmas. Há apenas uma recriação das ideias. Pode-se entender a paráfrase ideológica como simples tradução de vocábulos, ou substituição de palavras por outras de significado equivalente. INTERTEXTO No segundo caso há uma recriação do texto e do contexto. O comentário crítico, avaliativo, apreciativo, o resumo, a resenha, a recensão são formas parafrásticas estruturais de um texto. A estilização exige recriação do texto, considerando, sobretudo procedimentos estilísticos. O desvio em relação ao texto, original é maior do que no caso da paráfrase. INTERTEXTO Na paródia, o desvio é total; às vezes invertem- se as ideias, vira-se o texto do avesso. Há uma ruptura, uma deformação propositada, tendo em vista mostrar a inocência do texto original ou simplesmente apresentar outras ideias que o texto original omitiu ou não se interessou em expor. PARÁFRASE Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a idéia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano Sant'Anna em seu livro "Paródia, paráfrase & Cia" (p. 23): TEXTO ORIGINAL Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). PARÁFRASE Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’. Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? Eu tão esquecido de minha terra... Ai terra que tem palmeiras Onde canta o sabiá! (Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”). PARÁFRASE E DE PARÓDIA Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança do sentido principal do texto que é a saudade da terra natal. PARÓDIA A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. PARÓDIA Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse processo há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. TEXTO ORIGINAL Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). PARÓDIA Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar os passarinhos daqui não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”). PARÓDIA O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil. 1 SEPARAR FATO E OPINIÃO 01 .TOCANDO EM FRENTE (Almir Sater / Renato Teixeira) Ando devagar porque já tive pressa E levo esse sorriso porque já chorei demais Hoje me sinto mais forte, mais feliz, Quem sabe eu só levo a certeza De que muito pouco eu sei Ou nada sei Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas e das maçãs É preciso amor para poder pulsar É preciso paz para poder sorrir É preciso chuva para florir Penso que cumprir a vida seja simplesmente CONTINUAÇÃO Compreender a marcha e ir tocando em frente Como um velho boiadeiro levando a boiada Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu sou Estrada eu vou Todo mundo ama um dia Todo mundo chora um dia A gente chega e no outro vai embora Cada um de nós compõe a sua história E cada ser em si Carrega o dom de ser capaz E ser feliz APÓS LER ATENTAMENTE O TEXTO, RESPONDA ÀS QUESTÕES: 1. Assinale mais de uma alternativa que esteja de acordo com o texto: a. ( ) Para o poeta, a vida deve ser levada, tocada como uma boiada, pois não conseguimos entender a imprevisibilidade de ambas. b. ( ) Só é possível ser feliz nesta jornada, depois de um toque de Deus, o velho boiadeiro, que nos impulsiona pela longa estrada da vida. c. ( ) Só através do choro individual e de outros é que descobrimos o valor de um sorriso. d. ( ) Manhãs, maçãs e chuva fazem parte da nossa história, já que não somos donos do nosso destino. e. ( ) Segundo o poeta, para se viver, é necessário entender o andamento da jornada e continuar vivendo. DICAS RÁPIDAS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Ler todo o texto; Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura; Ler o texto pelo menos umas três vezes; Ler com perspicácia, sutileza; Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; Partiro texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão; Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente; Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão; Marcar a resposta correta apenas quando for entregar a avaliação. INTERPRETAÇÃO 2. Coloque V para as afirmativas e F para falso, de acordo com o texto: a. ( ) Viver é uma aprendizagem, fruto da observação atenta das alegrias e dos sofrimentos pelos quais passamos. b. ( ) Ser feliz é o destino de todos os seres humanos, independendo das chegadas e das partidas. c. ( ) A consciência do significado da vida e o dom da capacidade de construirmos a nossa história nos deixa mais fortes, mais felizes. d. ( ) O poeta tem hoje um sorriso de serenidade porque nunca levou a vida com ligeireza. e. ( ) Para podermos saborear a vida, precisamos vivenciar a paz e o amor, entre outros fatores que nos mostram que é possível compormos a nossa história com serenidade. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 4. Nos versos 5 e 6, o poeta demonstra que se considera um homem: a. ( ) orgulhoso b. ( ) sem cultura c. ( ) experiente d. ( ) humilde e. ( ) sem rumo definido. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 5. Como era a vida do poeta no passado? Comprove sua resposta com versos da poesia. MARQUE A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA: 3. Há várias comparações no texto que nos leva a concluir que o poeta fala: a. ( ) da boiada b. ( ) do boiadeiro c. ( ) do sabor das frutas d. ( ) dos dias vividos e. ( ) do dom da felicidade de cada um de nós GABARITO Questão 1. Alternativas a, c, e Questão 2. a. (V) b. (F) c. (V) d.(F) e.(V) Questão 3. Alternativa (e) Questão 4. Alternativa (d) Questão 5. A vida do poeta era agitada e sofrida, demonstrado nos versos 1 e 2 REFERÊNCIAS BECHARA, Evanildo. Lições de Português pela Análise Sintática. Editora Lucema. Rio de Janeiro, RJ. 2001. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Editora Lucema. Rio de Janeiro, RJ. 2001. CIPRO NETO, Pasquale e INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua Portuguesa. Editora Scipione. São Paulo, SP. 2003. CUNHA, Celso e CINTRA, Luiz F. Lingley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, RJ. 2001. GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, RJ. 2004. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia, 7.ed. São Paulo: Ática, 2000.
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