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Introdução ao Estudo da Teologia por Marcelo Amorim

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INTRODUÇÃO 
AO ESTUDO DA 
TEOLOGIA 
 
 
 
 
 
Por Marcelo Amorim 
 
 
 
 
 
Igreja Presbiteriana Renovada – Penha Circular 
2 
 
Sumário 
Agradecimentos ....................................................................................................................................4 
1. Introdução ao Estudo da Teologia ..............................................................................................5 
1.1. Questões introdutórias são vitais para o estudante novato, pois irão preveni-lo das armadilhas de 
estudo teológico. ....................................................................................................................... 6 
1.2. A teologia vai muito alem da doutrina ou de um resumo descomplicado do ensino bíblico. ......... 6 
1.3. Vivemos em uma época em que a filosofia é ignorada, ate mesmo por estudantes de teologia. ...... 6 
1.4. O entendimento da natureza é fundamental. ..................................................................... 6 
1.5. Costumamos desdenhar o “pensamento humano” e a “sabedoria humana”. ............................. 6 
1.6. Precisamos entender a verdadeira natureza da ortodoxia. ..................................................... 7 
1.7. Cada geração é chamada a tomar posse, de forma renovada, da eterna verdade de Deus. ........... 7 
1.8. Tendemos a nos levar muito a serio. ................................................................................. 7 
1.9. Historicamente, tendemos a ver todas as verdades como de igual importância. ......................... 7 
1.10.As gerações recentes não se mostram capazes de fazer autocrítica. .............................................. 7 
1.11.Temos uma historia rica. .................................................................................................... 8 
2. Afinal, quem precisa de teologia? ................................................................................................8 
3. Sobre ser Teólogo ..................................................................................................................... 10 
a) Teologia como sapientia (sabedoria) ................................................................................... 10 
b) Teologia como scientia (ciência) ......................................................................................... 10 
c) Teologia como orthopraxis (ação correta) ............................................................................. 10 
3.1. O teólogo como guardião da verdade. .............................................................................. 11 
3.1.1. O que é fé? ......................................................................................................... 11 
a) Tomás de Aquino, sobre fé. ........................................................................................... 12 
b) Martinho Lutero, sobre fé. ............................................................................................ 12 
c) João Calvino, sobre fé. ................................................................................................. 13 
d) Fé em busca de conhecimento. ....................................................................................... 14 
3.1.2. O que é heresia? ............................................................................................... 15 
3.1.3. O teólogo como preservador da tradição............................................................ 16 
4. Introdução a Teologia Sistemática (Prolegômenos) ................................................................. 18 
4.1. Deus: O Pressuposto Metafísico ................................................................................ 18 
4.1.1. A base racional para o teísmo: a alternativa ao monismo .................................... 19 
O argumento cosmológico a favor da existência de Deus ............................................................ 19 
O argumento teleológico a favor da existência de Deus .............................................................. 21 
O argumento ontológico a favor da existência de Deus .............................................................. 23 
3 
 
O argumento moral a favor da existência de Deus .................................................................... 24 
4.2. Milagres: O pressuposto sobrenatural ...................................................................................... 24 
4.3. A revelação: O pressuposto revelacional .................................................................................. 26 
4.4. Lógica: O pressuposto racional ................................................................................................ 27 
Uma defesa das leis do pensamento ........................................................................................... 27 
A lógica de Deus .................................................................................................................... 28 
A lógica esta ontologicamente sujeita a Deus ............................................................................... 28 
Racionalidade ou Racionalismo? ............................................................................................... 28 
4.5. Significado: O pressuposto semântico ..................................................................................... 29 
A objetividade do significado .................................................................................................... 29 
4.6. Verdade: O pressuposto epistemológico .................................................................................. 30 
A importância da definição de verdade ....................................................................................... 30 
A definição de verdade ............................................................................................................ 31 
A verdade não é “aquilo que faz sentir bem” ............................................................................... 32 
A verdade é aquilo que corresponde ao seu objeto ................................................................ 33 
O problema da historia: como a historia e a verdade se relacionam ........................................ 33 
Teologia como verdade: Ate que ponto nossa verdade é verdadeira? ...................................... 35 
5. Fontes de autoridade na teologia.................................................................................................. 36 
5.1. O método teológico ........................................................................................................... 37 
5.2. O quadrilátero de Wesley .................................................................................................. 38 
a) Escrituras ...................................................................................................................... 38 
b) Razão ........................................................................................................................... 38 
c) Tradição ........................................................................................................................ 39 
d) Experiência .................................................................................................................... 39 
5.3. O trilátero luterano .......................................................................................................... 40 
6. Fontes e Autoridades .................................................................................................................... 41 
1. A Bíblia ............................................................................................................................ 41 
2. A igreja e/ou Tradição ........................................................................................................42 
3. Razão e/ou Experiência ....................................................................................................... 43 
Referencias Bibliográficas ................................................................................................................. 44 
 
 
 
4 
 
 
Agradecimentos 
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, sem Ele nada do que foi feito teria 
sido. Ao Espírito Santo, meu amigo fiel, pela ajuda e companhia, das quais não abro mão 
durante toda a minha vida. À Cristo o único Filho, pela salvação e graça, das quais se faz 
necessário espalhar a todo o mundo. 
A minha esposa, sempre paciente, que alem de ter paciência com as horas 
dedicadas ao estudo, por muitas vezes ajudou na digitação, na companhia e na força. À 
Sarah, minha linda filha, benção de Deus e meu entusiasmo de vida. 
Estendendo também aos meus amigos acadêmicos que me ajudaram direta ou 
indiretamente. Ao grupo de estudos Bereanos, lugar onde muitas informações e duvidas 
são sanadas. 
À serva de Deus Raquel Soares, a idealizadora desse projeto. E ao Pastor Ivan, pela 
oportunidade de juntos crescermos na Graça e no Conhecimento. 
 
Pb. Marcelo Cordeiro de Amorim 
Seu servo. 
 
Bons estudos a todos! 
 
5 
 
1. Introdução ao Estudo da Teologia 
 
Quando comecei a estudar teologia, achava o material monótono e quase sempre 
ficava ansioso para chegar logo “ao que realmente importa”. Hoje, compreendo que 
chegar “ao que realmente importa” sem analisar as questões preliminares é, na melhor 
das hipóteses, ingenuidade e, na pior, um verdadeiro perigo. O mesmo principio se aplica 
ao teólogo, talvez ainda mais seriamente. Os teólogos medievais chamavam a teologia 
sistemática de “a rainha das ciências”, porque de certa forma ela estava interligada a todas 
as áreas do conhecimento, não apenas ao conhecimento bíblico. Esse fato levou à 
compreensão de que o empreendimento teológico era abrangente e exigia uma 
mentalidade sintética, diferente da que se aplicava a qualquer outra disciplina. 
Vivemos na era da especialização. A ideia de alguém neste século escrever uma 
summa medieval, abrangendo todo o conhecimento humano, é uma piada. Cada 
especialização, seja secular, seja sacra, possui uma lente particular através da qual 
contempla o estudo de sua disciplina, bem como um jargão próprio para discuti-la. Isso 
quase sempre impede os não especialistas de entabular uma discussão inteligente (na 
maioria dos casos, apenas o entendimento rudimentar lhes é acessível), e, uma vez que 
não possuem um mapa mental, não compreendem o jargão nem conhecem a literatura. 
De certa forma, o estudo da teologia ainda é abrangente e precisa incorporar 
verdades de todas as fontes em suas considerações. Assim, o teólogo precisa ter pelo 
menos um conhecimento elementar de muitas disciplinas, ainda que não venha a se 
tornar especialista em nenhuma que não seja a dele própria. Num outro sentido, a 
disciplina da teologia é técnica como qualquer outra. Os teólogos desenvolveram um 
jargão que utilizam para se comunicar uns com os outros. Para o iniciante, compreender 
o jargão que usamos diariamente pode ser tarefa assustadora. Termos como “união 
hipostática” (será que é regulada pelas Federações do Comercio e da Indústria?), 
“Trindade econômica” (que relação tem a economia com o estudo de Deus?), 
“substituição vicária” (é quando você usa margarina em vez de manteiga numa receita de 
bolo?) e “justificação” (tem algo que ver com a digitação de textos?) podem parecer tão 
estranhos e incompreensíveis quanto frases em latim (existem muitas em teologia). 
Mesmo assim, cada termo está densamente recheado de sentido teológico. Empregamos 
esses termos não para demonstrar conhecimento, mas porque eles agilizam a 
comunicação. 
Também temos nosso panteão de autoridades, que costumamos citar, e o 
estudante novato pode ficar confuso ao ouvir nomes como Calvino, Lutero, Barth, 
Agostinho, Orígenes, Anselmo, Schleirmacher e outros mencionados de modo prosaico 
no meio de uma conversa ou numa preleção. Se o estudante não tiver consigo um cartão 
de memorização, ficará totalmente desnorteado, tentando discernir quem ensinou o que 
e se ele era considerado ortodoxo ou herético. 
 
Por estranho que pareça, quando se trata de estudos bíblicos e teológicos, é 
necessário certo domínio da disciplina para entender as questões introdutórias! Vou 
procurar apresentar essas questões tendo em mente o nível básico. Mau alvo é simplificar 
sem me tornar simplista. Para isso, vou apresentar algumas questões importantes para o 
estudante de teologia: 
 
 
6 
 
1.1. Questões introdutórias são vitais para o estudante novato, pois irão preveni-lo das 
armadilhas de estudo teológico. 
A teologia é quase sempre entendida como uma disciplina de contexto que 
apresenta verdades eternas e imutáveis e que, portanto, não precisa do tipo de introdução 
que encontramos em disciplinas exegéticas. Apesar de muitas vezes agirmos com base na 
pressuposição tacita de que “aquilo que desconhecemos não nos pode machucar”, isso 
não é de forma alguma verdadeiro. Já observei inúmeros casos de alunos que, não 
obstante o bom treinamento na “verdade”, nos tempos de seminário, ministrando 
segundo o entendimento de sua tradição teológica particular, tiveram sua fé abalada 
quando avançaram nos estudos e, em alguns casos, até a perderam, porque seu 
treinamento não os preparou para o que iriam enfrentar ao sair da sombra estreita de sua 
tradição. Ter pouco conhecimento é perigoso, e ter muito pouco conhecimento pode ser 
realmente perigoso. Se entramos num campo de estudo imaginando que um único livro 
nos apresentará a verdade, seremos facilmente ofuscados por materiais desconhecidos, e 
nossa confiança poderá ser abalada até as estruturas. Ainda que usado e abusado, o velho 
adágio “prevenir é melhor do que remediar” continua valido. 
 
1.2. A teologia vai muito alem da doutrina ou de um resumo descomplicado do ensino bíblico. 
A teologia envolve reflexão secundaria sobre a doutrina, de modo que se perceba 
suas implicações e aplicações. Os assuntos da teologia são complexos. O estudante novato 
é muitas vezes tentado a adotar a atitude: “Deus disse isso; eu creio nisso; não se fala mais 
nisso”. Embora essa atitude seja, por um lado, recomendável por refletir obediência a 
Deus e a sua autorrevelação, por outro lado é inadequada quando o assunto é o 
entendimento da revelação de Deus e a explicação do conceito à nossa cultura. Esse 
método pode ser útil para contemplar a forma, mas falha na compreensão do significado 
e da significância do que foi dito. 
 
1.3. Vivemos em uma época em que a filosofia é ignorada, ate mesmo por estudantes de 
teologia. 
São poucos os grandes seminários evangélicos em que a filosofia seja um pré-
requisito, um padrão adotado recentemente, coisa de quinze anos atrás. A teologia e a 
filosofia andam lado a lado. Não se pode entender, explicar ou fazer teologia sem 
conhecer filosofia. 
 
1.4. O entendimento da natureza é fundamental. 
Como primeiro principio, os evangelicais afirmam que a verdade existe e que 
Deus nos deu a verdade, por meio das escrituras. Historicamente, no entanto, sempre 
tiveram dificuldades em lidar com o fato de que a Igreja tem diante de si dois livros de 
revelação: as Escrituras e o livro da natureza. Uma vez que Deus é o autor de ambos, deve 
haver um relacionamento mútuo, uma interdependência entre eles. Precisamos, portanto, 
compreender a natureza do relacionamento entre esses dois livros escritos por Deus e suas 
implicações. 
 
1.5. Costumamos desdenhar o “pensamento humano” e a “sabedoria humana”. 
Ao interagir com o texto revelado das escrituras, não levamos em conta nossa 
condição de seres humanos e nos esquecemos de que o que flui dessa interação é 
interpretação humanafalível da verdade divina (esta infalível e inerrante), não a própria 
verdade divina infalível. Em resumo, falhamos em ver uma distinção entre a verdade em 
7 
 
si mesma e a compreensão que temos dessa verdade. Até mesmo na condição de 
redimidos, permanecemos, na melhor das hipóteses, finitos e falíveis. Nivelar nosso 
entendimento da verdade divina com a verdade de Deus em sua plenitude é arrogância 
descarada. Ainda assim, caímos nesse erro. 
 
1.6. Precisamos entender a verdadeira natureza da ortodoxia. 
A ortodoxia envolve a crença correta, mas essa crença não é estática, uma vez que 
Deus nos revelou grandes números de verdades. Precisamos começar com a fé que foi de 
uma vez por todas entregue aos santos e, então, incorporar a verdade descoberta 
progressivamente na fé já estabelecida. A ortodoxia deve crescer e progredir; deve estar 
aberta à correção e ao desenvolvimento; não deve ser estática, nem defensiva, nem morta. 
 
1.7. Cada geração é chamada a tomar posse, de forma renovada, da eterna verdade de Deus. 
Isso significa que devemos examinar de maneira critica a configuração da fé que 
herdamos e compara-la com a própria revelação de Deus. Nossa atitude deve ser 
semelhante à dos bereanos, que não aceitaram o ensino de Paulo apenas pelo fato de ser 
ele um pregador convincente nem rejeitaram imediatamente seu ensino por ser uma 
novidade. Em vez disso, pesquisaram as Escrituras para ver se as coisas que Paulo dizia 
eram condizentes com elas. O processo de tomar posse da verdade pode ser comparado 
com as dores do crescimento intelectual do adolescente que esta entrando na idade 
adulta. Em algum ponto do processo, ele terá de refletir sobre o ensino recebido dos pais 
e conscientemente determinar a validade ou não das coisas ensinadas. A falibilidade 
humana opera em níveis diversos. Quase sempre, grande parte do que foi ensinado será 
aceito, enquanto outras coisas, às vezes muito caras para os pais, serão rejeitadas. 
 
1.8. Tendemos a nos levar muito a serio. 
Cremos estar envolvidos num assunto muito serio, pois o destino eterno de seres 
humanos depende de estarmos certos. Também por causa de nossa seriedade, colocamo-
nos na posição de guardiães da verdade de Deus, ou melhor, daquilo que entendemos ser 
a verdade de Deus. Devemos ter em mente que, em nossas especulações teológicas, não 
podemos manter em coesão a substância da realidade por meio de nossos ensinamentos: 
apenas descrevemos o que existe à parte de nós mesmos. Como certo teólogo, 
acertadamente, observou há mais de um século: “ninguém é totalmente ortodoxo, a não 
ser o próprio Deus”. Se nos vemos como pessoas obrigadas a estar certas em cada detalhe, 
sucumbiremos à tentação de Adão e Eva no jardim, isto é, ao desejo de ser igual a Deus. 
 
1.9. Historicamente, tendemos a ver todas as verdades como de igual importância. 
Doutrinas como a da criação recente ou do arrebatamento pré-tribulacionista da 
Igreja em geral são vistas como equivalentes em importância às doutrinas da divindade de 
Cristo e de sua morte expiatória. Por não termos aprendido a priorizar as doutrinas, 
tendemos a remeter às trevas exteriores os que não pronunciam corretamente nossos 
“chiboletes”. Veremos que é sábio estabelecer uma classificação das doutrinas alicerçadas 
na fé cristã fundamental e aprenderemos como esta foi expressa nos credos antigos e 
resumida na afirmação de que o ensino verdadeiramente cristão deve ser “sustentado por 
toda a Igreja, em todos os lugares e em todas as épocas”. 
 
1.10.As gerações recentes não se mostram capazes de fazer autocrítica. 
8 
 
As batalhas teológicas do inicio do século XX geraram uma mentalidade 
protecionista: “Temos de preservar a fé antiga dos ataques do modernismo”. Na verdade, 
temos um debito de gratidão para com os nossos precursores, por terem tido a disposição 
de lutar pela fé contra uma religião que, ostentava o nome de cristianismo, negava todas 
as doutrinas centrais da fé histórica. Como declarou um evangelical contemporâneo, 
preferimos nos acomodar no vale do paradoxo e erigir nossos castelos a avançar em 
direção a novas descobertas. A exemplo dos que se acomodaram no castelo, tendemos a 
nos comparar com nós mesmos, pratica que o apostolo Paulo classifica como “insensatez” 
(2 Coríntios 10.12). 
 
1.11.Temos uma historia rica. 
Bernardo de Chartel disse, no século XII: “Somos como anões sentados nos 
ombros de gigantes e, como anões, só seremos capazes de ver enquanto estivermos nos 
ombros de gigantes”. Teólogos jovens e iniciantes devem ter consciência de que sua 
tradição não é a única na qual Deus tem agido. Todos os que se denominam cristãos 
compartilham de uma herança comum, quer o reconheçamos, quer não. Não ousemos 
ignorar aqueles que foram ensinados pelo Espírito através dos tempos, mesmo que 
pareçam diferentes de nós. 
 
Esses são alguns motivos que me levaram a escrever essa apostila. Minha esperança 
é que ele seja útil como introdução ao maior estudo de todos, a teologia. Lembre-se de 
que não é necessário concordar com uma ideia para aprender com ela. Em geral, o maior 
aprendizado e o melhor crescimento vem pela interação com aqueles dos quais 
discordamos, e a razão não é outra senão que eles nos fazem pensar, em vez de permitir o 
refugio das respostas prontas e das verdades não testadas, ainda que recebidas por 
herança. Não precisamos temer os que avaliam nossa fé, se ela estiver estabelecida sobre 
o fundamento vivo de Jesus Cristo. 
 
2. Afinal, quem precisa de teologia? 
 
A palavra “teologia” é composta de dois termos gregos: theos (“Deus”) e logos 
(“Palavra”, “Afirmação”, “Discurso”, “Linha de Argumentação”). Assim, em termos 
simples, o teólogo é alguém que tem conhecimento ou fala acerca de Deus, e teologia é 
aquilo que se pensa ou se diz a respeito de Deus. 
Quando eu tinha uns 10 anos de idade, meu passarinho de estimação morreu. 
Pouco depois, eu e minha irmã Priscila conversávamos sobre a morte e o que aconteceu 
depois dela. Enquanto cavávamos na terra e enchíamos um caminhão de brinquedo com 
terra, chegamos à conclusão de que, quando você morre, vai para o céu e vive lá. Mais 
tarde, quando você morre no céu, vai para o outro céu seguinte e vive lá, e assim por 
diante, até completar sete céus. Embora fossemos crianças muito pequenas, quando 
confrontados com questões de vida, morte e Deus, portamo-nos, no sentido mais básico, 
como teólogos praticantes, desenvolvendo uma teologia (bem peculiar, é verdade, mas 
ainda assim uma teologia) enquanto cavávamos na terra e brincávamos com nosso 
brinquedo. 
Toda vez que pensamos em Deus, envolvemo-nos com a teologia. A pergunta, 
portanto, não é se seremos teólogos; não temos escolha quanto a isso. Pelo contrario, a 
questão é que tipo de teólogos seremos; bons ou maus, responsáveis ou irresponsáveis. 
9 
 
As escrituras nos convocam ao estudo disciplinado. Paulo exorta, em 1 Coríntios 
14.20: “Irmãos, deixem de pensar como crianças. Com respeito ao mal, sejam crianças; 
mas, quanto ao modo de pensar, sejam adultos”. Entretanto, muitos de nós nunca 
assumimos a responsabilidade pela maturidade teológica. Embora despendamos muito 
esforço em nossa profissão, talvez até mesmo fazendo um doutorado, muitos de nos são 
como o astrônomo que disse ao teólogo: “Não entendo por que vocês, teólogos, fazem 
tanto caso da predestinação e do supralapsarianismo, dos atributos comunicáveis e 
incomunicáveis de Deus, da graça imputada ou infusa e de coisas assim. Para mim, o 
cristianismo é simples, é a Regra de Ouro: “Façam aos outros o que vocês querem que 
eles lhes façam”. 
A isso, o teólogo respondeu, em tom casual: “Acho que entendo o que você quer 
dizer, pois fico perdido nessa sua conversa a respeito de estrelas explodindo, universo em 
expansão, entropia e perturbações astronômicas. Para mim, a astronomia é simples: 
“Brilha,brilha, estrelinha...”. 
É assim que muita gente enxerga teologia: algo sem vida, uma coleção de ideias 
unidas pelos meios artificiais de complexas racionalizações e argumentos. Embora seja 
verdade que a teologia sozinha é sem vida, a vida espiritual sem estrutura é, na melhor das 
hipóteses, ineficaz e inútil para propósitos práticos. A resposta ao dilema é reunir a vida á 
estrutura que ira suporta-la. 
O amor a Jesus, ainda que essencial, não é o bastante. A teologia não é 
unicamente para os profissionais teólogos, professores, pastores ou mesmo professores da 
Escola Bíblica Dominical. Cada um de nós tem a obrigação de se tornar um teólogo 
competente. Em vez de encarar a teologia como pressuposições a serem aprendidas, 
devemos considera-la um ato de adoração. Deus nos confiou sua revelação, em toda a sua 
riqueza e inteireza multiforme, mas não nos deu uma teologia. Ele se revelou por meio de 
suas obras e palavras na historia humana, em seus encontros com indivíduos em varias 
épocas e lugares. Ele se revelou de modo mais completo na pessoa e na obra de Jesus 
Cristo, mas essa revelação esta em forma de narrativa, como historia. Nossa tarefa é 
organizar o material e fazer dele um todo coerente, de modo que sejamos capazes de 
compreender mais plenamente quem é Deus e o que ele tem feito. Retribuímos a ele o 
fruto de nosso labor quando o compreendemos e compreendemos sua obra. A missão da 
teologia é sujeitar todas as coisas ao senhorio de Cristo. Embora dependemos do trabalho 
de outros que vieram antes de nós, temos uma responsabilidade pessoal diante de Deus 
pelo nosso entendimento. 
Nosso chamado não é para sermos bebes, e sim para crescermos continuamente. 
Ainda que muitos fatores estejam relacionados à maturidade espiritual alem do 
conhecimento teológico, esse conhecimento faz parte da maturidade. Jesus ordenou: 
“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu 
entendimento” (Mateus 22.37). O alvo é estar sempre pronto a dar uma resposta aos que 
indagarem a nossa fé (1 Pedro 3.15). Essa exigência nos coloca diretamente no meio da 
disciplina da teologia, que é e sempre será dinâmica, uma obra em progresso, pois o 
entendimento humano finito é, por definição, incapaz de compreender inteiramente e de 
uma vez por todas a verdade infinita. 
 
 
 
 
 
10 
 
3. Sobre ser Teólogo 
 
Numa entrevista durante sua viagem aos Estados Unidos, perguntaram a Karl 
Barth, o grande teólogo suíço do século XX, já perto do fim da vida, qual a mais profunda 
ideia teológica que tinha ouvido. Barth respondeu: “Jesus me ama, isso eu sei, pois a 
Bíblia assim me diz”. Ainda assim, Barth escreveu mais de 6 milhões de palavras em sua 
obra Dogmática da Igreja para explicar sua teologia. O cerne do cristianismo é simples, mas 
não é nada simplista. Embora os teólogos sejam seres humanos finitos e pecadores, 
mesmo assim são convocados a estudar o infinito e, em ultima analise, a obter um 
conhecimento de Deus em todos os aspectos. 
Quando ingressamos nos nossos primeiros estudos sobre teologia, geralmente 
tentamos aprender as doutrinas básicas e fazer que “nossa teologia tenha os pés no chão”. 
Ao fazer isso, a maioria de nós confia em nosso professor e adora de maneira acrítica o 
que é ensinado. De inicio, isso não é um problema. A mensagem básica do cristianismo é 
simples, e um curso básico de teologia também tende a ser algo sem muitas complicações. 
As dificuldades começam quando percebemos que a mensagem básica do cristianismo foi 
interpretada de varias formas ao longo dos séculos. O que torna, as vezes, o estudo da 
teologia ainda mais ameaçador é que muitos termos latinos e alemães entraram no 
vocabulário padrão dos nossos estudos ao longo dos séculos. 
A teologia é comumente entendida como sapientia, scientia ou orthopraxis. 
Embora, esses modelos de teologia sejam necessários para uma teologia saudável, 
não se consegue captar as tensões e dinâmicas inerentes ao estudo teológico. Assim, em 
vez de nos concentrarmos em primeira instancia a um sistema teológico, devemos nos ater 
a tarefa fundamental do teólogo, mesmo sendo ele estudante de teologia básica. Para isso 
eu enfatizo três aspectos do trabalho do teólogo que são: ser guardião da verdade, cientista e 
contextualizador. 
 
a) Teologia como sapientia (sabedoria) 
O alvo da teologia como sapientia (ou sabedoria) é orientar de modo relacional o 
cristão para Deus. Nesse modelo, a teologia é percebida como mais que proposições a 
respeito de Deus, mais que a aceitação de crenças abstratas. Em vez disso, ela aponta para 
um relacionamento com Deus baseado em confiança pessoal. Esse foi o modelo 
empregado por Agostinho e, mais tarde, pelos puritanos. William Ames, o pai teológico 
dos puritanos da Nova Inglaterra, define a teologia como o “ensino do viver para Deus”. 
 
b) Teologia como scientia (ciência) 
Durante a Idade Media, com a ascensão do escolasticismo, a teologia era 
concebida como scientia, ou seja, ciência. Na verdade, era a “rainha das ciências”. Os 
escolásticos medievais compuseram as grandes summas, tratados teológicos que resumiam 
todo o conhecimento teológico ou, em alguns casos, todo o conhecimento humano. A 
teologia era a disciplina acadêmica que reinava e exercia a hegemonia sobre todas as 
outras áreas de estudo. 
 
c) Teologia como orthopraxis (ação correta) 
Mais recentemente, com o surgimento da teologia da libertação, um novo modelo 
de teologia emergiu, o qual vê a orthopraxis, isto é, a ação correta no mundo, em vez da 
doutrina correta, como o alvo da tarefa teológica. Mas não são apenas os teólogos da 
11 
 
libertação que adotaram esse lema. Até mesmo na comunidade evangelical, alguns 
adotaram essa perspectiva, mas com ênfase muito diferente. 
R. J. Rushdoony insiste em que a tarefa da teologia sistemática não pode ser 
simplesmente um exercício de pensamento nem apensa uma sistematização do 
pensamento bíblico. Deve ser pensamento para a ação em termos de conhecer, obedecer e 
honrar a Deus no cumprimento de seu mandato (...). Esta relacionado com o que 
acontece na igreja, no Estado, na escola, na família, nas artes, nas ciências, nas vocações e 
em tudo o mais. A teologia sistemática não é um fim em si mesmo: é um meio para 
alcançar um fim, ou seja, o avanço do Reino de Deus, para submeter todas as coisas as 
senhorio de Jesus Cristo. 
 
3.1. O teólogo como guardião da verdade. 
 
As palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas confie-as a homens fieis 
que sejam também capazes de ensinar outros (2 Timóteo 2.2) 
 
(...) que batalhassem pela fé de uma vez por todas confiada aos santos (Judas 3) 
 
O cristianismo esta fundamentado na convicção de que a verdade existe e que 
Deus PE sua fonte e autor. A verdade de Deus a respeito da condição espiritual da 
humanidade e do remédio para essa condição está revelada na Palavra de Deus, as 
Escrituras. As Escrituras são normativas para a fé e para a vida, mas a Bíblia não é uma 
teologia sistemática sem nos apresenta exposições doutrinarias organizadas. É um livro 
que trata de assuntos concretos e da atividade de Deus na Historia, culminando na vida, 
morte e ressurreição de Jesus Cristo. As escrituras apontam para Jesus como o único meio 
de estabelecer em relacionamento com deus (João 14.6), e essa é a mensagem de redenção 
em Jesus que a Igreja foi incumbida de proclamar. Essa é a fé “de uma vez por todas 
confiada aos santos”. No entanto, a igreja primitiva descobriu que até mesmo o simples 
anuncio: “Cristo morreu pelos nossos pecados” estava impregnado de premissas 
teológicas formais. Essas premissas foram inferidas do texto bíblico e explicadas, nim 
processo que deu origem à mais formal disciplina da teologia que reconhecemos hoje em 
dia. 
 
3.1.1. O que é fé? 
 
Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamose a prova das coisas que não vemos (Hebreus 11.1). 
 
Qualquer discussão sobre teologia ou sobre algum estudo teológico, feita de modo 
apropriado, deve iniciar com um compromisso prévio de fé. Mas o que é fé? A resposta 
parece obvia: fé é a crença em alguma coisa. Entretanto, se tomarmos como ponto de 
partida o grego, em vez do português, os termos traduzidos por “fé” e “crer” no NT (pistis 
ou pisteuo), a questão fica um pouco mais complicada. A terminologia grega engloba tanto 
o cognitivo (o que cremos) quanto o pessoal (em quem cremos). Ambos os aspectos 
aparecem na historia da igreja, enfatizamos nas obras de diversos teólogos. 
O aspecto duplo do entendimento da fé no NT pode ser visto pela simples leitura 
de varias passagens. A ideia de que pistis envolva crer numa afirmação pode ser percebida 
nos evangelhos, bem com em Hebreus e Tiago. Por exemplo: “Se vocês cressem em 
Moises, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto porem, que não creem 
12 
 
no que ele escreveu como crerão no que eu digo?” (João 5.46,47). Mesmo nos escritos de 
Paulo, que talvez mais que qualquer outro escritor no NT destaque o aspecto da 
“confiança” na fé, encontramos a mesma ênfase cognitiva: “Por essa razão Deus lhes envia 
um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira” (2 Tessalonicenses 2.11). Nesse caso, 
a crença falsa! O mais comum é que o objeto da crença sejam as afirmações do evangelho. 
Por exemplo: “Ora, se morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos” 
(Romanos 6.8). Esses poucos exemplos demonstram que o conceito de fé do NT, 
conforme expresso na terminologia de pistis, tem conteúdo intelectual especifico. 
No entanto, a forma verbal pisteuo em geral contém a ideia de confiança pessoal, 
uma confiança que envolve a disposição da vontade. No NT, isso é percebido na 
expressão do verbo pisteuo combinado com uma preposição que introduz o objeto dessa 
confiança, a preposição eis (“em” ou “dentro de”) ou epi (“em” ou “sobre”). Essa 
construção destaca o compromisso pessoal com o objeto da fé, normalmente Jesus ou 
Deus: “Quem crê no filho tem a vida eterna; já quem rejeita o Filho não verá a vida, mas 
a ira de Deus permanece sobre ele” (João 3.36); “Eles responderam: ‘Creia no Senhor 
Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa’”(Atos 16.31); “Isso esta na Escritura: Eis que 
ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e que nela crer não será, de modo 
algum, envergonhado”(1 Pedro 2.6). Ocasionalmente, algumas versões traduzem pisteuo 
epi simplesmente por “confiar”, como em Romanos 4.5: “Aqueles que (...) confia em 
Deus, que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça”. 
Fica evidente que o NT vê a fé como a crença e a confiança. Quando o termo é 
usado, normalmente há elementos de ambos, em vez de uma referencia a crença ou a 
confiança. No que diz respeito à “fé salvadora”, amos os elementos devem estar presentes, 
mas quando lemos vários teólogos, notamos que um dos dois elementos quase sempre é 
priorizado. 
 
a) Tomás de Aquino, sobre fé. 
Tomás de Aquino é representante da tradição católica romana. Seus ensinos sobre 
fé são complexos e contem muitas variações sutis. Seus temas mais importantes tem a fé 
como assentimento e como formada pelo amor. Por um lado, a fé é um assentimento 
intelectual a alguma crença oposta; a preposições; mas essa fé não é mero conhecimento, 
porque conhecimento como tal não obriga a mente a crer numa proposição como tal. Na 
avaliação de Aquino, as verdades da fé não são autoevidentes. A mente precisa ser levada 
ao assentimento por uma escolha deliberada da vontade. Em seguida, Aquino propõe que 
o conteúdo essencial do crer, o Credo niceno e o Credo apostólico sejam cridos 
explicitamente, enquanto outros ensinos da Igreja sejam cridos implicitamente. Uma fé 
como essa obtém sua certeza da infalível autoridade da Igreja Católica Romana. 
“Portanto, na pratica, ter fé significa dar assentimento aos artigos de fé definidos pelos 
credos da igreja e, ao mesmo tempo, estar disposto a aceitar qualquer outra coisa que seja 
proposta para que você creia por aqueles que exercem o oficio de ensino da igreja”. 
Para Aquino, a fé se torna um habito da mente, em contraste com uma serie de 
ações desconexas. É nesse ponto que o segundo aspecto da fé é percebido: a fé formada 
pelo amor. Um bom hábito é aquele infundido por Deus, em vez de autogerado. Como 
tal, é uma virtude teológica. É um habito da mente que proporciona vivido assentimento 
intelectual a coisas não vistas. A fonte desse habito é o amor, a amizade com Deus. 
 
b) Martinho Lutero, sobre fé. 
13 
 
A objeção dos reformadores foi especificamente a essa “fé formada pelo amor”. Os 
reformadores, em particular Martinho Lutero, opuseram-se ao ensino intelectualmente 
orientado sobre a fé e, como resposta, enfatizaram o aspecto da confiança. O ensino de 
Lutero sobre a fé é chamado de fidúcia, “confiança”. Os críticos de Lutero afirmam, de 
maneira equivocada, que sua posição encontra segurança não nos sacramentos e 
doutrinas, mas no sentimento subjetivo, na busca por sentir-se perdoado. De fato, Lutero 
enfatiza o aspecto confiança da fé, como resposta a intelectualização exagerada da fé 
tomista. Ele não negava que a fé fosse assentimento, mas insistia em que ela era mais que 
isso. O que preocupava Lutero era o que ele chamava de “fé histórica”, um mero 
assentimento intelectual ao relato do evangelho. (Nesse sentido, até satanás crê, e essa fé 
não salva). Lutero insistia em que é preciso ter uma confiança que arrisque tudo na 
promessa do evangelho. Lutero disse: 
 
Devemos notar que existem das formas de crer. Uma forma é crer acerca de Deus, 
como faço quando creio que aquilo que é dito de deus é verdadeiro; do mesmo modo, 
quando creio naquilo que é dito dos turcos,do diabo ou do inferno. Essa fé é mais 
conhecimento, ou observação, do que fé. A outra forma é crer em Deus, como faço quando 
não somente creio que aquilo que é dito a respeito dele verdadeiro, mas ponho minha 
confiança nele, me entrego a ele e me atrevo a lidar com ele, crendo, sem duvida, que ele 
será para mim e fará comigo exatamente aquilo que é dito dele. 
 
Lutero afirmava claramente a dupla natureza da fé que aparece no NT; tanto no 
aspecto cognitivo quanto a apropriação pessoal da verdade. A descrença não é heresia, 
como no entendimento de Aquino, mas muito mais uma falta de confiança. Lutero 
reconhecia a natureza proposicional da fé, de que ela envolve o “pensar corretamente 
sobre Deus”. Esse pensar correto tem origem na compreensão do conteúdo do evangelho, 
a revelação de Deus. 
 
c) João Calvino, sobre fé. 
Em João Calvino, encontramos ainda outra ênfase: a do “reconhecimento”. 
Calvino considerava ambíguo o termo “fé” e, consoante com seu método exegético, não 
procurou encaixar todas as suas conclusões numa estrutura ordenada. Embora a 
exposição do reformador não tenha a precisão de Aquino, ela respira um realismo 
existencial que esta ausente no teólogo dominicano. Nisso Calvino soa estranhamente 
moderno. Em certo lugar, ele afirma: “De fato, enquanto ensinamos que deve a fé ser 
certa e seguranão imaginamos alguma certeza que de nenhuma duvida seja tangida, nem 
uma segurança que de nenhuma inquietude seja atacada”. 
Calvino via quatro componentes da fé: 
 
1. Conhecimento 
2. A boa vontade de Deus como objeto do conhecimento 
3. Os fundamentos do conhecimento 
4. Meios interiores, pelos quais o conhecimento é compartilhado. 
 
Observe que o objeto da fé não é uma lista de preposições, mas a benevolência, a 
boa vontade de Deus a nosso favor. Essa fé tem um componente existencial que se parece 
com o conhecimento de alguém muito próximo, em vez da observação cientifica empírica. 
O conhecimento é, na verdade, reconhecimento. A fé é concebida dessa forma porque seu 
14 
 
reconhecimento é umaresposta a Deus, que manifesta sua vontade e é diferente de 
outros tipos de conhecimento que tem origem nas coisas disponíveis à nossa percepção 
sensorial. 
No sistema de Aquino, o conceito de fé implícita fazia que a fé, de certo modo, 
dependesse da ignorância. Calvino, porem, é enfático em dizer que esse negocio não é 
adequado. 
 
A fé se não assenta na ignorância, mas no conhecimento, e esse (conhecimento), 
certamente, não apenas em Deus (em si), como também da divina vontade. Pois, nem disto 
alcançamos a salvação: ou porque estamos prontos a abraçar por verdadeiro tudo quanto a 
Igreja haja prescrito, ou porque lhe relegamos a função de indagar e conhecer. (Alcançamo-
la), porem, quando reconhecemos que, feita reconciliação através de Cristo (2Co 5.18-19), 
Deus nos é o Pai propicio (e) Cristo nos foi dado, na verdade como justiça, santificação e 
vida. Por este conhecimento, digo (-o), não pela submissão de nosso sentir, obtemos ingresso 
no Reino dos Céus. 
 
No entendimento de Calvino, a fé envolve não somente a cabeça, mas também o 
coração. A fé genuína permanecerá depois de enxergar aquele que é invisível em meio a 
provação e perseguição. Para Calvino, descrença é acreditar que Deus esta contra nós. É 
ver Deus como inimigo. Em Jesus Cristo, o que crê vê Deus como realmente é e 
compreende que, mesmo na disciplina, ele não é inimigo, e sim um bom pai que trabalha 
no melhor interesse do filho. 
 
d) Fé em busca de conhecimento. 
Ainda que as explicações do tipo “a fé se parece com” sejam distintas, elas trazem 
também uma “semelhança familiar”. A fé envolve um elemento intelectual e um 
elemento de confiança pessoal. Quando se trata da disciplina da teologia, os teólogos 
precisam permanecer no domínio da fé. A atitude apropriada parece ser a de Agostinho e 
de Anselmo, fides quaerens intellectum, “fé em busca de entendimento”, em oposição à 
perspectiva racionalista que afirma: “Eu compreendo para que possa crer”. Os teólogos 
começam e prosseguem sempre no contexto da fé. Até mesmo quando usam 
instrumentos críticos para verificar a verdade, isso é feito no contexto de um 
relacionamento com o Deus vivo revelado em Jesus Cristo. Entendem a própria finitude e 
condição decaída, reconhecem que o finito não, a tarefa de incorporar todo o 
conhecimento em sua compreensão teológica é, em ultima analise, irrealizável. Alem 
disso, os teólogos entendem que os efeitos do pecado comprometeram a perspectiva até 
mesmo do cristão mais devoto, afetando sua percepção e articulação. Em alguma medida, 
todo labor teológico é provisório e necessita de avaliação critica. 
Embora a teologia seja por definição uma disciplina intelectual, sua pratica se 
inicia e progride na fé. À medida que o conteúdo intelectual é assinalado de maneira mais 
completa, o conhecimento de Deus é mais inteiramente aprendido, e a fé, em vez de ficar 
para trás, é enriquecida e alimentada. O conhecimento teológico aumentado no contexto 
da fé não leva ao perigo da heresia, e sim à maturidade verdadeira, que compreende mais 
adequadamente o objeto próprio da fé e destrona concepções erradas e idolatras. Uma 
perspectiva como essa procura testar todas as coisas, reter o que é bom e rejeitar o que é 
errado. 
 
 
15 
 
3.1.2. O que é heresia? 
A cultura ocidental de hoje parece ter perdido seu centro espiritual. Com o 
advento do mundo pós-moderno, o próprio conceito de verdade é negado. A igreja é 
marginalizada e se torna cada vez mais irrelevante, até mesmo na vida dos que se 
identificam como cristãos. Sistemas de crenças são trocados por “experiência de 
adoração”, e o entendimento teológico, mesmo entre os evangélicos, esta no nível mais 
baixo da historia. No fim da década de 1990, o sociólogo George Barna realizou uma 
pesquisa sobre os evangélicos. Ele concluiu que os que adotam o rotulo “evangelical” e 
frequentam a igreja são, na maioria, os “mais suscetíveis a pensar que ‘evangelical’ se 
refere à condição de ser apaixonado pela fé ou pela religião, talvez até mesmo como 
fanático, mas que o termo tem pouca relação com perspectivas teológicas”. Um professor 
de NT, que ensina num grande seminário evangélico, comentou em diversas ocasiões 
que, embora a erudição evangélico nunca tenha estado num nível superior, a situação 
hoje é como se as igrejas tivessem entrado numa nova “Idade das Trevas”, no que diz 
respeito ao conhecimento das Escrituras. Eu acrescentaria que as trevas se estendem ao 
conhecimento da teologia. 
Muitos cristãos percebem a teologia como uma discussão abstrata de tópicos 
como: “Quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete?”. Por isso a descartam como 
irrelevante para a vida. Esse fenômeno não é novo, mas o anti-intelectualismo teológico se 
tornou uma avalancha virtual, que entrou na igreja. O conceito de ortodoxia, as 
doutrinas básicas da igreja que identificam como cristã e os credos que tiveram origem 
nos grandes concílios ecumênicos dos séculos IV e V são em geral considerados de pouca 
importância. 
As ideias de ortodoxia e de seu contraponto, a heresia, são praticamente 
desconhecidas. Na verdade, é comum o sentimento de orgulho quando se adota uma 
postura teológica oposta à que a igreja sempre afirmou. O que não se reconhece é que a 
heresia; o ensino rejeitado pela igreja; é recusada por uma razão: em ultima analise, ela 
retira um elemento-chave do evangelho. É preciso perguntar: “O que acontece com 
aquele que aceita e vive de acordo com ensinos heréticos?” FitzSimons Allison é de 
opinião que a heresia, a despeito de prevalecer no mundo de hoje, é essencialmente cruel 
para com aquele que a adota: “As vitimas desses ensinos são incentivados ou a escapar do 
mundo e de sua humanidade básica, por meio de algum tipo de fuga de morte, ou a usar 
a religião para fundamentar, e isolar ainda mais, seu ego autocentrado da necessidade de 
amar e ser amado”. 
O problema do ensino herético é que ele satisfaz o desejo natural do coração 
humano decaído. A heresia reflete a maneira em que gostaríamos que as coisas fossem, e 
não o modo em que Deus as estabeleceu. Allison observa: “As heresias satisfaz as 
tendências mais indignas do coração humano. É impressionante que tão pouca atenção 
tem sido dada a estes aspectos da heresia: sua crueldade e sua indulgencia para o pecado”. 
A acusação contra a ortodoxia é de que ela é chata, sem imaginação e 
protecionista, enquanto a heresia é ousada, criativa e inovadora. Embora possa haver 
algumas verdades nessa acusação, no sentido de que os defensores da ortodoxia às vezes 
são chatos, intolerantes e até mesmo cruéis e que os defensores da ortodoxia às vezes são 
chatos, intolerantes e até mesmo cruéis e que os heréticos às vezes são sinceros e altruístas 
ao propagar suas convicções (quase sempre crenças que contêm uma verdade parcial, 
enquanto ignoram o contexto mais abrangente e as implicações dessa crença), a recíproca 
é verdadeira. Os heréticos às vezes são repressivos, cruéis e intolerantes, enquanto os 
ortodoxos são altruístas e magnânimos. Atanásio, bispo de Alexandria do século IV, 
16 
 
sofreu perseguição durante anos por defender a ortodoxia, enquanto seus oponentes 
heréticos desfrutam uma onda de apoio popular e imperial. 
Em geral, o termo “ortodoxia” é usado com referencia às decisões dos primeiros 
quatro concílios ecumênicos da igreja. Os artigos dos credos que tiveram origem nesses 
concílios não definiam a doutrina, mas estabeleciam os limites para as discussões 
subsequentes da Trindade e da pessoa de Cristo como Deus e homem. Apesar de não 
serem afirmações perfeitas e refletirem as formas de pensamento da igreja primitiva, elas 
passaram pelo teste do tempo. A verdade da doutrina ortodoxa impediu o cristianismo de 
“ser absorvido no paganismo” e de degenerar numa seita meramente legalista. 
Dito isso, devo admitir que existe na ortodoxia uma tendência de sedesviar para 
outro tipo de “heresia”. Embora um credo seja uma afirmação de fé, não é um fim em si 
mesmo. É um mapa, direcionado para uma realidade maior. Esse mapa, porem, quase 
sempre acaba confundido com a própria realidade. O endosso forçado de um credo ou 
declaração doutrinaria é, as vezes, o que se exige em lugar de uma fé viva em Deus, para 
quem o credo aponta. Assim, a ortodoxia “correta” da à luz “uma nova forma de heresia, 
uma heresia do espírito em vez da doutrina”. Esse fenômeno consiste ainda em outra 
critica contra a ortodoxia. 
A razão de distinguir a heresia da ortodoxia surge do fato de que as ideias têm 
consequências, assim como os ensinos. A questão crucial aqui diz respeito à verdade, um 
conceito impopular em nosso mundo pós-moderno. Lesslie Newbigin diz dessa fuga da 
verdade: “O relativismo que não deseja falar sobre a verdade, mas somente sobre ‘o que é 
verdadeiro para mim’, é uma evasão da seria questão da vida. É a marca de uma trágica 
perda de coragem em nossa cultura contemporânea. É um sintoma preliminar de morte”. 
Subjaz a toda essa discussão a verdade da qual o profeta Jeremias testemunhou: 
“O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável” (Jeremias 
17.9). João Calvino disse a mesma coisa, mas de outra maneira: o coração é uma 
“perpétua fabrica de ídolos”. O termo “heresia” é derivado do grego haireisthai 
(“escolher”). O termo não implica uma escolha neutra: existe um fator espiritual-moral 
subjacente. Nem a heresia nem a ortodoxia podem ser qualificadas como mero exercício 
intelectual. Há um inescapável fator ligado ao coração. O bispo anglicano Jeremy Taylor 
observa: “A heresia não é um erro de entendimento, mas um erro da vontade”. Samuel 
Taylor Coleridge adiciona sua contribuição: “Fé não é precisão de lógica, mas retidão de 
coração”. 
 
3.1.3. O teólogo como preservador da tradição 
Apesar das trevas atuais, a tradição evangélica construiu no passado, de forma 
consciente, sua compreensão teológica com base nas Escrituras. Ao fazê-lo, no entanto, 
não teve o senso de continuidade histórica com a tradição cristã mais ampla. Isso é 
particularmente verdadeiro em relação à America do Norte. O estudioso da historia da 
igreja Kenneth Scott observa que os protestantes americanos do século XIX tendiam “a 
ignorar os progressos ocorridos no cristianismo do velho mundo depois do século I”. 
Uma pressuposição comum era (e é) a de que a teologia é simplesmente construída sobre 
a bíblia, ou que o sistema de entendimento teológico é simplesmente “a visão da Bíblia 
sobre si mesma”. Em alguns campos, o grito de “Nenhum credo, mas a Bíblia somente” 
literalmente desligou alguns grupos de sua herança cristã e evangélica. Tal conceito, 
porem, implica que o Espírito Santo não ensinou coisa alguma à igreja nos últimos vinte 
séculos. 
17 
 
A mentalidade de que somente a Bíblia é a autoridade e a fonte da teologia às 
vezes tem efeito divisório. Como resultado, grupos se separam em razão de diferenças no 
entendimento das escrituras – quase sempre, sem qualquer padrão de referencia ou 
principio orientador alem do compromisso com a autoridade bíblica. A mentalidade da 
“Bíblia somente” em geral é acompanhada de um biblicismo ingênuo, que presume um 
“sentido literal” para o texto e nega, normalmente de maneira implícita, que qualquer 
leitura do texto bíblico envolva interpretação. 
Durante os últimos quinze anos do século XX, surgiu uma ênfase renovada na 
natureza permanente das doutrinas centrais da fé cristã no interior da comunidade 
evangélica. O teólogo metodista da Universidade Drew, Thomas Oden, tornou-se o 
catalisador. Em meio à destruição de seu otimismo liberal, ele descobriu as fontes antigas 
da teologia cristã nos escritos dos antigos pais da igreja (a patrística). Esses escritos 
estabelecem o fundamento e proporcionaram os parâmetros para o desenvolvimento da 
compreensão do cristianismo posterior. Ele entendeu a verdadeira natureza da herança 
cristã e teve de encarar o fato de que muito da erudição exegética e teológica moderna 
consistia na manipulação da Escrituras, a fim de dizer aquilo que o exegeta/teólogo 
queria dizer. Sua convicção acerca da importância da herança teológica comum da igreja 
ternou-se tão forte que ele produziu uma teologia sistemática em três volumes, na qual 
afirma seu propósito de não dizer nada que seja novo. Sua lógica merece ser repetida: 
 
Prefiro os exegetas antigos, que expressam concordância, aqueles cujos pensamentos 
são caracterizados mais por criatividade individual, brilhantismo controvertido, retórica 
impressionante ou gênio especulativo. A avaliação de referencias pode ser comparada a uma 
pirâmide de fontes cujo firme fundamento são as Escrituras canônicas. O centro estável da 
pirâmide são os escritores cristãos do consenso dos cinco primeiros séculos. Acima deles, estão 
os melhores escritores medievais, seguidos pelos mestres do consenso da Reforma e da 
Contrarreforma na parte mais alta e estreita. Os interpretes mais recentes estão no topo da 
pirâmide, mas somente aqueles poucos que melhor compreendem e expressam a mente da 
Igreja histórica de todas as culturas e épocas. 
Meu compromisso é não tentar virar a pirâmide de cabeça para baixo, como fazem os 
teólogos corporativistas, que tendem a valorizar apenas o que é mais recente. As fontes mais 
remotas, e não as mais atuais, é que são citadas como pertinentes, não por alguma nostalgia 
que apenas simpatiza com o que é antigo, mas porque a antiguidade é um critério autentico em 
qualquer testemunho histórico [...]. 
Meu propósito é delinear os pontos de concordância substancial entre as tradições do 
Oriente e do Ocidente – católica, protestante e ortodoxa – quanto à questão do poder da graça 
na formação espiritual. Ouvirei atentamente, procurando o consenso ecumênico histórico 
recebido pelos que creem nas mais variadas línguas, ambientes sociais e culturas, seja o 
consenso da tradição africana, da pré-europeia ou Europa cristã, seja ele expresso por 
mulheres ou por homens, seja do segundo ou do primeiro milênio cristão, seja pós ou pré-
constantino [...]. 
Quem são os principais exegetas consensuais a quem esse argumento sempre apela? 
Acima de tudo, são os concílios ecumênicos e os primeiros sínodos os mais citados como 
representantes da mente da Igreja que crê. São os quatro mestres ecumênicos proeminentes 
da tradição cristã oriental (Atanásio, Basílio, Gregório de Nazianzo e João Crisóstomo), bem 
como os ocidentais (Ambrosio, Jerônimo, Agostinho e Gregório, o grande) e outros a quem a 
Igreja tem concedido valor perene por afirmarem acuradamente pontos abrangentes do 
consenso ecumênico. 
 
O apelo cristão à autoridade das escrituras é fundamental, mas não pode ficar 
isolado de outros fatores. Mesmo os heréticos e os sectários reivindicam sustentar a 
autoridade das escrituras, embora proclamem doutrinas que se distanciam da fé recebida 
18 
 
da Igreja. Em que base, então, podemos decidir quem esta certo e quem esta errado? A 
opinião de que a exegese acurada da Bíblia seja o arbitro definitivo é atraente, mas, em 
ultima analise, acaba falhando. É que esse critério não reconhece que as decisões 
exegéticas feitas por qualquer interprete são tomadas no contexto de uma tradição 
interpretativa, não de uma postura objetiva e neutra. 
O conceito de uma tradição com autoridade surgiu muito cedo na historia da 
igreja, à medida que novos ensinos ameaçavam a doutrina recebida. De fato, esse conceito 
foi fundamental para o surgimento do conceito de sucessão apostólica. A sucessão 
apostólica, como entendida no principio, não se referia à transmissão da autoridade 
espiritual dos apóstolos, e sim a doutrina apostólica, que era passada de geração a geração. 
Já no inicio da historia da igreja, os bispos assumiram o oficio do ensino e viam a si 
mesmos como aquelesa quem fora confiada a preservação, proteção e proclamação da 
verdade do evangelho. As sementes desse conceito são encontradas nas escrituras, quando 
Paulo exorta a Timóteo: “As palavras que me ouviu dizer na presença de muitas 
testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2 
Timóteo 2.2). Assim, existe um cerne de doutrina apostólica que deve ser passada de uma 
geração para outra. 
 
4. Introdução a Teologia Sistemática (Prolegômenos) 
 
A teologia evangélica é definida como um discurso a respeito de Deus que enfatiza 
a existência de certas crenças cristãs essenciais, que incluem, mas não limitam, a 
infalibilidade e inerrância da Bíblia, a tri-unidade de Deus, o nascimento virginal de 
Cristo, a divindade de Cristo, a total suficiência do sacrifício expiatório de Cristo pelos 
pecados, a ressurreição física e miraculosa de Cristo, a necessidade da salvação somente 
pela fé – somente através da graça de Deus, baseada somente na obra de Cristo – o 
retorno corporal físico de Cristo a este mundo, a felicidade eterna e consciência dos 
salvos, e o castigo eterno e consciente dos não-salvos. 
A teologia é dividida em varias categorias: 
 
a. Teologia Bíblica, que é o estudo da base bíblica da teologia. 
b. Teologia Histórica, que é o debate teológico dos grandes expoentes da igreja 
cristã. 
c. Teologia Sistemática, que é a tentativa de construir um corpo consistente e 
compreensível a partir do conjunto completo da revelação de Deus, seja ela a 
revelação especial (bíblica) ou geral (natural). 
 
Antes de entrarmos de fato na sistemática, que é aquilo que mais temos pressa, 
precisamos entender alguns pressupostos. Tenho certeza que se o Pb Iesus estivesse 
lecionando nesse curso, esse seria sua parte preferida. Em geral os historiadores permeiam 
bem por esses espaços. 
De modo geral, sem pressupostos, não há comunicação. E para a teologia 
sistemática, os pressupostos são o leite materno necessário nos primeiros meses de um 
bebe. O adulto não se mantém com ele, mas não seria um adulto se não tivesse se 
alimentado por ele. Eu diria que embora seja algo maçante e desinteressante, é um mal 
necessário. 
 
4.1. Deus: O Pressuposto Metafísico 
19 
 
A existência de um Deus teísta é o alicerce da teologia cristã. Se o Deus do teísmo 
cristão tradicional não existe, a teologia evangélica, logicamente, desmorona. Tentar 
construir uma teologia sistemática evangélica sem o fundamento do teísmo tradicional é o 
mesmo que querer levantar uma casa sem uma estrutura. 
 
O significado da Metafísica 
O teísmo é o pressuposto metafísico da teologia evangélica. Ele é fundamental 
para todo o restante do desenvolvimento do nosso pensamento, como estrutura que 
confere significado para tudo o mais. Não faz sentido falar da Biblia como palavra de 
Deus, se esse Deus não existe. Semelhantemente, não faz sentido falar de Cristo como 
Filho de Deus, sem que haja um deus que possa ter gerado um filho. Da mesma forma, os 
milagres, como atos de Deus, não são possíveis sem que exista um Deus capaz de realizar 
estes atos especiais. De fato, toda a teologia evangélica esta baseada neste alicerce 
metafísico chamado Teísmo. 
 
 
A definição da Metafísica 
A metafísica (lit. meta, “alem de”; física, “as coisas físicas”) é o estudo do ser ou da 
realidade. É o estudo do ser como ente, no sentido de algo oposto ao estudo do ser como 
físico (que seria o campo da Física), ou do ser como matemático (que seria o campo da 
Matemática). O termo “metafísica” é normalmente utilizado de forma intercambiável com 
“ontologia”(lit. ontos, “ser”; logia, “estudo do”). 
 
A teologia evangélica implica o teísmo metafísico 
A teologia evangélica implica uma compreensão especifica da realidade, e existem 
muitas visões a respeito do mundo que se apresentam incompatíveis com as 
reivindicações do pensamento evangélico. Por exemplo, o evangelicalismo crê que Deus 
existe alem deste mundo (“mundo” neste caso, significando “todo o universo criado”) e 
que foi Ele que trouxe esse universo à existência. Ela também abarca a crença de que este 
Deus é um ser eterno, infinito, absolutamente perfeito, e pessoal. O nome dado a esta 
visão, de que Deus criou tudo que existe, é “teísmo” (Deus criou tudo), em oposição ao 
“ateísmo” (Deus não existe em absoluto) e o “panteísmo” (Deus é tudo). Todas as outras 
cosmovisões (incluindo o panteísmo, o deísmo, o deísmo finito, e o politeísmo) são 
incompatíveis com o teísmo. Se o teísmo é verdadeiro, todos os não-teísmo são falsos, já 
que o contrario do verdadeiro é o falso. 
 
4.1.1. A base racional para o teísmo: a alternativa ao monismo 
Tomas de Aquino depois de desenvolver alguns argumentos, trouxe uma resposta 
plausível que torna o teísmo viável. Muitos foram os argumentos propostos, porem 
apenas quatro deles conseguiu dominar os debates ao longo dos séculos: o argumento 
cosmológico, o teológico, o ontológico, e o moral. 
 
O argumento cosmológico a favor da existência de Deus 
Nesse argumento existe duas formas básicas: a horizontal e a vertical. O 
argumento horizontal, conhecido como argumento de “kalam” (palavra árabe com 
significado “eterno”), defende a existência de um indiciador para o universo. O 
argumento vertical propõe que há um sustentador do universo. Um pressupõe um causa 
original e o outro uma causa atual. O argumento horizontal foi assumido por Boaventura 
20 
 
(1217-1274), que seguiu a linha de raciocínio de certos filósofos árabes. Entretanto, o 
argumento vertical encontra a sua expressão máxima em Tomas de Aquino. 
A essência do argumento da forma horizontal é a seguinte: 
 
a. Tudo teve um começo, teve também uma causa. 
b. O universo teve um começo. 
c. Portanto, o universo teve uma causa. 
 
A primeira premissa (“Tudo teve um começo, teve também uma causa”) é 
normalmente considerada auto-explicativa, já que algo diferente seria equivalente à 
alegação ridícula de que o nada é capaz de produzir alguma coisa. Ate David Hume, um 
cético infame, confessou: “Jamais partiu de mim uma proposição tão absurda como a de 
que algo possa surgir sem uma causa efetiva”. 
A segunda premissa (“O universo teve um começo”) é defendida tanto filosófica 
quanto cientificamente. Filosoficamente argumenta-se que: 
 
a. Um numero infinito de momentos não pode ser transposto. 
b. Se houvesse um numero infinito de momentos antes de hoje, o hoje jamais teria 
chegado, já que um numero infinito de momentos não pode ser transposto. 
c. Mas o hoje chegou. 
d. Portanto, houve somente um numero finito de momentos antes de hoje (isto é, um inicio 
dos tempos). E tudo que tem inicio, tem, necessariamente, um iniciador. Portanto, o 
mundo temporal teve um iniciador (causa). 
 
A evidência cientifica para um mundo com um inicio vem da chamada teoria do 
Big Bang, defendida pela maior parte dos astrônomos contemporâneos. Existem varias 
linhas de evidencias convergentes a respeito do universo de tempo-espaço ter tido inicio. 
Primeiro, o universo esta perdendo sua energia útil (a segunda lei da 
termodinâmica), e o que esta perdendo a força não pode ser eterno (de outra forma, ele já 
teria entrado em colapso neste momento). Uma entidade não pode perder uma 
quantidade de energia que é infinita. 
Segundo, considera-se que o universo se encontra em expansão. Portanto, quando 
o quadro de movimento do universo é feito de forma reversa, tanto de forma lógica 
quanto matemática, chegamos a um ponto onde ele se torna um “nada” (isto é, um ponto 
onde não existe nem espaço, nem tempo, nem matéria). Portanto, o universo literalmente 
veio a existência a partir do nada. Mas o nada é incapaz de produzir alguma coisa. 
Terceiro, o eco da radiação devolvido pelo universo, que foi descoberto por dois 
cientistas vencedores do premio Nobel – Arno Penzias e Robert Wilson – temo 
cumprimento de onda idêntico ao que é liberado por uma explosão gigantesca. 
Quarto, a grande massa de energia resultante de tamanha explosão que é predita 
pelos proponentes do Big Bang foi, na verdade, descoberta pelo telescópio Hubble, em 
1992. 
Quinto, a própria teoria geral da relatividade de Einstein exigia um começo para o 
tempo, um ponto de vista ao qual ele resistiu por anos, e até chegou a defender com um 
fator atenuante que ele mesmo introduziu no seu argumento, a fim de evitar sua 
contestação, e pelo qual, mais tarde, ele mesmo viria a se sentir constrangido. 
As evidencias filosóficas e cientificas cumulativa a favor da origem do universo 
material proporcionam uma forte razão para concluir que precisa haver uma causa não-
21 
 
física para a origem do universo físico. O astrônomo agnóstico Robert Jastrow admite que 
esta é uma conclusão que claramente favorece o teísmo. Depois de revisar as evidencias de 
que o cosmos teria um começo, o físico britânico Edmund Whittaker concordou: “É mais 
simples postular a criação ex nihilo – a vontade divina constituindo a natureza a partir do 
nada”. Jastrow conclui: “ Que existem o que eu ou outra pessoa qualquer chamaria de 
forças sobrenaturais em ação, é, no momento, no meu modo de ver, um fato 
cientificamente comprovado”. 
 
Já a forma vertical do argumento cosmológico inicia com a contingencia presente 
existente do cosmos e insiste que precisa haver um Ser atualmente necessário como causa 
de tudo. Tanto o argumento horizontal, como o vertical, pressupõe um cosmos 
preexistente, contudo, o argumento horizontal parte de um universo que teve um começo, 
e o segundo considera que o universo tem um ser (neste exato momento). Um enfatiza a 
origem e o outro enfatiza a conservação. 
O argumento de Tomas de Aquino sobre a contingência, de que, um ser 
contingente existe; ou seja, um ser que existe, mas pode não existir. Um Ser Necessário é 
aquele que existe, mas não pode não existir. Desdobra-se da seguinte forma: 
 
a. Qualquer coisa que existe, mas que pode/pudesse não existir, precisa necessariamente 
de uma causa para a sua existência, já que a mera possibilidade da existência não 
explica a existência de algo. A mera possibilidade de algo existir não significa nada. 
b. Porem, o nada não tem a capacidade de produzir alguma coisa. 
c. Portanto, algo necessariamente existe como base para tudo que existe e que poderia não 
existir. Em suma, é uma violação do principio da causalidade dizer que um ser 
contingente é capaz de explicar a sua própria existência. 
 
Outra maneira de colocar esta forma do argumento vertical é perceber que se algo 
contingente (acidental) existe logo um Ser Necessário precisa existir: 
 
a. Se tudo fosse acidental, haveria a possibilidade de nada ter existido. 
b. Só que algumas coisas existem (Por exemplo, eu existo), e a existência delas é inegável, 
pois é necessário que eu exista para ser capaz de afirmar que não existo. 
c. Assim, se algum ser contingente (acidental) agora existe, um Ser Necessário precisa 
existir, pois, de outra forma, não haveria base para a existência desse ser acidental. 
 
O argumento teleológico a favor da existência de Deus 
Há diversas variações deste argumento, sendo que a mais famosa delas deriva de 
William Paley, que utilizou a analogia do construtor de relógios. Da mesma forma que 
cada relógio é construído por alguém, e como o funcionamento do universo é muitíssimo 
mais complexo do que o de um relógio, temos que deve haver um Construtor do 
Universo. Em suma, o argumento teleológico argumenta a partir do projeto (desingn) a 
favor de um Projetista (Designer) Inteligente. 
 
a. Todos os projetos implicam um projetista. 
b. Existe um grande projeto para o universo. 
c. Portanto, também deve haver um Grande Projetista na origem do universo. 
 
22 
 
A primeira premissa é conhecida a partir da nossa própria existência; em todas as 
ocasiões nas quais vemos um projeto complexo, sabemos pelo nossa experiência previa 
que ele surgiu da mente de um projetista. Relógios implicam construtores de relógio; 
edifícios implicam arquitetos; quadros implicam pintores; e mensagens codificadas 
implicam um remetente inteligente. Sabemos que isto é verdade porque observamos isto 
ocorrer. Da mesma forma, quanto mais fascinante o projeto, tanto mais fascinante será o 
projetista. 
Precisamos aprender olhar com cuidado, as complexidades tanto quanto as 
especificidades das coisas. Um floco de neve, por exemplo, ele apresenta os mesmos 
modelos específicos que se repetem de maneira complexa. Na empresa em que trabalho, 
existe um laboratório gamológico, que classifica pedras preciosas, e mais interessante do 
que ver o trabalho final de uma pedra lapidada, é ver a complexidade e a especificidade 
dela quando retirada da natureza. Ou ainda, ver especificidade de uma célula viva, que ao 
mesmo tempo tem uma complexidade de informações encontradas, maiores do que o 
numero de palavras encontradas em um dicionário. Dessa forma, acreditar que a vida 
ocorreu sem uma causa inteligente é o mesmo que acreditar que um dicionário é o 
resultado de uma explosão em uma editora gráfica. 
O escritor Michael Behe, em seu livro Darwin’s Black Box (A caixa preta de 
Darwin), apresenta vários exemplos de complexidade que não poderiam ser fruto da 
evolução em passos gradativos. Vejamos o que ele diz: 
 
Ninguém na universidade de Harvard, ninguém nos institutos nacionais de saúde 
pública, nenhum membro da academia nacional de ciências, nenhum vencedor do prêmio 
Nobel_ ninguém em absoluto é capaz de fornecer um relato detalhado sobre como um cílio, 
a visão, a coagulação sanguínea, ou qualquer outro processo bioquímico complexo, possa ter 
ocorrido nos moldes da teoria proposta por Darwin. Só que aqui estamos nós. Todas estas 
coisas chegaram até aqui de alguma maneira; se não foi nos moldes propostos por Darwin, 
como foi? 
São numerosos os outros exemplos de complexidade irredutível, incluindo aspectos 
da reduplicação do DNA, do transporte de elétrons, da síntese dos telômeros, da fotossíntese, 
da regulação da transcrição, e mais (...) (Portanto,) a vida na terra no seu nível mais 
fundamental, nos seus componentes mais críticos, é o produto de uma atividade inteligente. 
 
 Behe acrescenta: 
 
A conclusão do projeto inteligente flui naturalmente dos próprios dados 
apresentados _ não dos livros sagrados ou de crendices sectárias. A inferência de que os 
sistemas bioquímicos foram desenvolvidos por um agente inteligente é um processo 
enfadonho que não requer quaisquer tipos de novos princípios de lógica ou ciência (...) 
(Portanto,) o resultado destes esforços cumulativos para a investigação celular _ para a 
investigação da vida a nível molecular _ é um grito alto, claro e direto de “projeto!”. O 
resultado é tão objetivo e tão significativo que precisa ser considerado como uma das 
maiores conquistas da história da ciência. Uma descoberta que rivaliza com as de Newton e 
Einstein. 
 
Outro apoio para o argumento teleológico vem do principio antrópico, que propõe 
que, a partir da sua própria gênese, o universo foi detalhadamente afinado para 
proporcionar o surgimento da vida humana. 
23 
 
Por exemplo, o oxigênio representa 21 por cento da atmosfera. Se o nível fosse de 
25 por cento, haveria grandes queimadas no planeta, e se fosse de 15 por cento, os seres 
humanos morreriam sufocados. Se a força gravitacional fosse alterada somente em parte 
em dez elevado à quadragésima potencia (dez seguido de quarentena zeros), o sol não 
existiria e a lua colidiria com a terra ou se desprenderia em direção ao espaço. Se a força 
centrifuga do movimento planetário não se equilibrasse perfeitamente com as forças 
gravitacionais, nada poderia manter em orbita ao redor do sol. Se o universo estivesse seexpandindo a uma taxa de um milionésimo menor do que a atual, a temperatura na terra 
seria de 10.000 graus Celsius. Se júpiter não tivesse com a sua formação atual, a terra 
estaria sendo bombardeada com matéria espacial. Se a crosta terrestre fosse mais espessa, 
haveria uma transmissão excessiva de oxigênio, o que inviabilizaria a vida. Se ela fosse 
mais fina, a atividade vulcânica e tectônica tornariam a vida, igualmente impossível. E se a 
rotação da terra levasse mais de 24 horas, as diferenças de temperatura entre a noite e o 
dia seriam demasiadamente grande. 
O astrônomo ex-ateísta Alan Sandage chegou a seguinte conclusão: 
 
O mundo é demasiadamente complicado em todos os seus detalhes para que a sua 
existência seja atribuída simplesmente ao acaso. Estou convencido de que a existência de 
vida sobre o planeta, com toda a ordenação que vemos em cada um dos organismos, é 
simplesmente muito boa, vista como um todo [...] Quanto mais se aprende de bioquímica, 
mais inacreditável se torna, a não ser que se tenha algum tipo de principio organizador – 
um arquiteto, para os que creem [...] 
 
O grande Albert Einstein, da mesma forma, declarou: “a harmonia da lei natural [...] 
revela uma inteligência com tamanha superioridade que, comparada a ela, todo pensamento 
sistemático e toda atividade humana não passam de reflexo completamente insignificante”. 
 
O argumento ontológico a favor da existência de Deus 
A palavra “ontológico” deriva do termo grego ontos, que significa “ser”. Este é o 
argumento que compreende desde a ideia de um Ser Perfeito ou Necessário até a 
existência real de um ser nestes moldes. Existem duas formas deste argumento. Um deriva 
da ideia de um Ser Perfeito e a outra de um Ser Necessário. 
 
A primeira forma de argumento expõe o simples conceito de Deus como um Ser 
absolutamente perfeito e exige que creiamos na sua existência. De forma simples é: 
 
a. Deus é, por definição, um Ser absolutamente perfeito. 
b. A existência é uma perfeição. 
c. Portanto, Deus precisa existir. Se Deus não existisse, Ele deixaria de ter uma das 
perfeições, a saber, a existência. E se Deus não tivesse uma das perfeições, Ele não seria 
absolutamente perfeito. Mas Deus é, por definição, um Ser absolutamente perfeito. 
Portanto, um Ser absolutamente perfeito (Deus) precisa existir. 
 
Desde a época de Immanuel Kant, tem sido largamente aceito que esta forma de 
argumento ontológico é invalida, porque a existência não é perfeição. O contra-argumento é 
que a existência não acrescenta nada ao conceito de uma coisa; ela somente lhe serve de 
exemplo concreto. A nota de dinheiro na minha mente pode ser exatamente as mesmas 
24 
 
propriedades ou características que aquela que esta em minha carteira. A única diferença 
é que eu tenho um exemplo concreto da segunda. 
 
A segunda forma de argumento ontológico, é a de um Ser Necessário: 
 
a. Se Deus existe, precisamos concebê-lo como um Ser Necessário; 
b. Mas, por definição, um Ser Necessário não pode não existir; 
c. Portanto, se um Ser Necessário pode existir, Ele então precisa existir. 
 
A maior parte dos teístas não acredita que o argumento ontológico, assim 
apresentando, seja suficiente para provar a existência de Deus. Isto não significa que ele 
não seja útil. Mesmo que o argumento ontológico não consiga provar a existência de 
Deus, ele consegue provar algumas coisas que se referem a sua grandeza, se Deus existe. 
Por exemplo, ele demonstra que se Deus existe mesmo, Ele precisa existir 
necessariamente. Ele não pode deixar de existir, nem pode existir de forma acidental. 
 
O argumento moral a favor da existência de Deus 
As raízes do argumento moral a favor da existência de Deus são encontradas em 
Romanos 2.21-15, onde o apostolo Paulo fala que a humanidade é indesculpável porque 
tem a “lei escrita no coração”. Nos últimos 250 anos, este argumento tem sido proposto 
de diversas formas, sendo que sua forma mais popular vem de C. S. Lewis. O cerne do 
argumento segue a seguinte estrutura básica: 
 
a. A lei moral implica um Legislador Moral. 
b. Existe uma lei moral objetiva. 
c. Portanto, existe também um Legislador Moral objetivo. 
 
A primeira premissa é auto-evidente. Uma lei moral é um preceito, e preceitos são 
passados por preceptores. Ao contrario das leis da natureza (que são somente descritivas), as 
leis morais são preceptivas. Elas não descrevem o que as coisas são; elas prescrevem como 
elas deveriam ser. Elas não são somente uma descrição da maneira como as pessoas se 
comportam, mas imperativos de como deveriam se comportar. 
A força do argumento moral a favor da existência de Deus está na segunda 
premissa – aquela que afirma a existência de uma lei moral objetiva. Ou seja, existe uma 
lei moral que não somente é prescrita pelos seres humanos, mas também para os seres 
humanos. A questão é se existe alguma evidencia a favor de um preceito objetivo e 
universal que englobe todos os seres humanos. 
 
 
4.2. Milagres: O pressuposto sobrenatural 
 
A teologia evangélica esta edificada sobre o sobrenatural. O nascimento virginal 
de Cristo, o seu ministério cheio de milagres, a sua ressurreição física dos mortos e a sua 
ascensão corpórea ao céu são apenas alguns dos numerosos milagres essenciais para o 
cristianismo bíblico. O sobrenatural é um pressuposto tão importante para a teologia 
ortodoxa que, sem ele, o cristianismo histórico ruiria. Para citar o apostolo Paulo: “E, se 
Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim 
somos também considerados como falsas testemunhas de Deus [...] E, se Cristo não 
25 
 
ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que 
dormiram em Cristo estão perdidos” (1 Co 15.14-18). 
A fim de explicar o que se quer dizer com um ato sobrenatural, precisamos de 
uma compreensão inicial do que significa a lei natural. A lei natural é entendida como a 
forma normal, ordenada e geral através da qual o mundo opera. Em contraste, um 
milagre – na sua definição mais básica – é uma forma incomum, irregular e especifica 
através da qual Deus age nos limites deste nosso mundo. 
Os milagres são sobrenaturais, mas não antinaturais. Como declarou o famoso 
físico Sir George Stokes: “Pode ser que o evento ao qual chamamos de milagre tenha 
ocorrido não pela suspensão das leis da operação normal, mas pela superadição de algo 
que, normalmente, não entra em operação”. Em outras palavras, quando um milagre 
ocorre, não se trata de uma violação ou contradição das leis naturais de causa e efeito, 
mas sim de um novo efeito produzido pela introdução de uma causa sobrenatural. 
Neste ponto precisamos de uma descrição bíblica do que é um milagre. A bíblia 
utiliza três palavras básicas para esta descrição: sinal, maravilha e poder. 
Cada uma das palavras utilizadas para descrever um “milagre” carrega consigo 
uma conotação peculiar. Quando o significado de cada uma delas é combinado, 
vislumbramos um quadro completo dos milagres bíblicos. Como é o caso do uso 
veterotestamentário da palavra “sinal”. Embora a palavra hebraica para “sinal” (oth) seja, 
as vezes, utilizada para se referir a coisas naturais, tais como as estrelas (Gn 1.14), ou o dia 
de sábado (Ex 31.13), ela normalmente leva consigo um significado sobrenatural, ou seja, 
algo que foi designado por Deus que tem um significado especial atribuído. 
O primeiro uso da palavra sinal pode ser encontrado na previsão divina entregue a 
Moises a respeito da libertação de Israel do jugo egípcio, para que este servisse a Deus, a 
qual ocorreu no monte Horebe. Deus prometeu: “Certamente eu serei contigo; e isto te 
será por sinal de que eu te enviei” (Ex 3.12). Quando Moises perguntou a Deus: “Mas eis 
que não crerão, nem ouvirão a minha voz, por que dirão: O Senhor não te apareceu” (Ex 
4.1), o Senhor

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