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Apostila - Teologia Sistemática I

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Setembro/ 2019
Professor/autor: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3Teologia Sistemática I | FTSA | 
SUMÁRIO
 Teologia Sistemática I - Introdução e Teontologia
Unidade II - Observando o fenômeno da teologia
Introdução..............................................................................................................................04
1. Teologia como ciência.......................................................................................................08
2. Teologia e experiência da fé.............................................................................................15
3. Teologia e palavra de Deus..............................................................................................20
4. Teologia, dúvida e refl exão crítica....................................................................................31
Unidade II - A estruturação da teologia cristã
Introdução..............................................................................................................................42
1. Caminhos históricos..........................................................................................................44
2. O paradigma moderno: o iluminismo...............................................................................54
3. A crise teológica na modrnidade......................................................................................64
4. Teologia pública.................................................................................................................75
Unidade III - O ser de Deus no Antigo Testamento
1. O conhecimento de Deus..................................................................................................91
2. Deus no Antigo Testamento: os patriarcas...................................................................101
3. Deus no Antigo Testamento: tradição mosaica............................................................112
4. Deus no Antigo Testamento: liga tribal e monarquia....................................................123
5. Deus no Antigo Testamento: exílio e pós-exílio............................................................134
Unidade II - A estruturação da teologia cristã
Introdução............................................................................................................................150
1. Fundamentação bíblica nos principais escritos............................................................151
2. Trindade............................................................................................................................162
3. Os atributos de Deus.......................................................................................................176
4. O conhecimento de Deus e a vivência da fé..................................................................184
| Teologia Sistemática I | FTSA4
 UNIDADE 1 – OBSERVANDO O FENÔMENO DA TEOLOGIA
Introdução
Essa disciplina é a primeira de um grupo de quatro, que ocorrerão ao 
longo do curso de graduação, que procura cobrir a área de Teologia 
Sistemática, também conhecida como Dogmática Cristã. Olhando 
desde uma perspectiva mais abrangente, é como se tivéssemos uma 
única disciplina dividida em quatro blocos para tratarmos das principais 
doutrinas cristãs.
Ao chamarmos essa disciplina de “sistemática” queremos nos referir à 
tentativa de organizar em sistemas as ideias e os conceitos da fé cristã. 
Ao chamarmos de “dogmática” o que focamos é o tema do dogma, ou 
seja, um princípio fundamental inquestionável da fé aceito como verdade 
última. Podemos pensar também que, de certa forma, as expressões 
sistemática e dogmática estão assim relacionadas entre si: a sistemática 
seria o caminho metodológico de organização do pensamento produzido 
pela dogmática.
Vejamos como o teólogo Jürgen Moltmann discute essa questão:
Qualquer “summa” teológica consistente, qualquer 
sistema teológico, reivindica a totalidade, a perfeita 
organicidade e a coerência universal: De princípio, 
deve-se poder dizer algo sobre o todo e sobre cada 
parte. Todos os meus enunciados devem ser isentos de 
contradições a ajustar-se mutuamente. A arquitetura 
deve ser “como saída de uma fundição, inteiriça”. 
Todo sistema teórico, inclusive o teológico, ostenta 
por isso ao menos um certo atrativo estético. Mas 
nisso reside também o seu poder de sedução: os 
sistemas poupam a muitos leitores, e certamente aos 
5Teologia Sistemática I | FTSA | 
deslumbrados, o pensamento crítico pessoal e uma 
decisão independente e responsável, porque não se 
apresentam para serem discutidos. Resisti por isso à 
tentação de desenvolver um sistema teológico, mesmo 
que fosse um sistema “aberto”.
A própria concepção da dogmática, familiar e 
consolidada, despertou hesitações em mim. Na 
linguagem política de César Augusto, “dogma” 
signifi cava decreto (Lc 2,1). Um decreto não pode 
ser discutido criticamente e acima de tudo não pode 
ser negado; se necessário, é aplicado pela força. 
Evidentemente, o conceito teológico do dogma e da 
dogmática está muito longe desta postura. Todavia, ele 
envolve também o sabor, e muitas vezes também o gesto 
positivo de uma sentença defi nitiva, que não admite 
réplica. Mesmo quando não é fruto de dogmatismo, o 
pensamento dogmático se expressa na teologia com 
clara preferência de teses; teses, porém, não colocadas 
em discussão, mas sim como enunciados que postulam 
ou a concordância ou a rejeição, nunca um pensamento 
independente e a responsabilidade pessoal. Induzem 
o ouvinte a pensar segundo elas, não segundo o seu
pensamento próprio (200, p. 11).
Com base na argumentação de Moltmann, podemos ver que o dogma, 
mesmo sendo um entendimento da revelação divina, principalmente 
expresso nas Escrituras Sagradas, é o resultado de uma formulação 
fi nita e contextual que contém, de forma imprecisa, a revelação. Por isso, 
ele deve sempre ser visitado, ao longo do tempo, e avaliado para a sua 
confi rmação ou reformulação diante de um novo momento contextual 
que se apresente. O dogma pressupõe a discussão e diálogo permanente, 
| Teologia Sistemática I | FTSA6
assim como uma responsabilidade por parte de quem o adota. O sistema, 
por sua vez, carrega em si essa pretensão de completude, de entender e 
explicar um conceito como um todo ou as várias partes que o forma. Aqui 
também, vemos que embora os sistemas tenham sido gerados por meio 
da refl exão contínua ao longo da história, em determinado momento eles 
foram assumidos como acabados, excluindo a possibilidade de novas 
refl exões e novos entendimentos que possam surgir com a mudança dos 
contextos humanos.
Por outro lado, ao estudarmos a história da igreja, dos seus concílios e de 
sua teologia, percebemos que a revisão dos conceitos teológicos sempre 
ocorreu. Compreensões das doutrinas, mesmo no tempo bíblico, já foram 
alvo de discussão e reformulação. Apenas como exemplo do que aconteceu 
na igreja primitiva, posso citar os casos do Concílio de Jerusalém (Atos 15) 
e do ensino de Apolo (Atos 18:24-19:7). Isso sem considerar toda a teologia 
do Antigo Testamento que foi reelaborada no Novo. Um dos exemplos mais 
explícitos desse esforço de reelaboração é o livro de Hebreus.
Nesse difícil processo de tentar compreender os conceitos teológicos, 
a área de Teologia Sistemática ou Dogmática, acabou se tornando a 
responsável por organizar o estudo dos dogmas da Igreja. Mas ao invés de 
pensarmos em dogmas, que podem ter uma conotação mais pesada para 
o efeito do estudo e refl exão, preferimos pensar em doutrinas. A expressão
doutrina representa o conceito de um corpo de ensino, que inclui tanto o
conteúdo quanto a ação, e está voltada para a instrução dos participantes
do povo de Deus, com especialatenção aos novos convertidos.
Por razões pedagógicas, a Sistemática clássica tem construído o seu 
ensino em torno de sete grandes doutrinas: (1) Deus, (2) Cristo, (3) Espírito 
Santo, (4) Criação (mais concentrada no ser humano), (5) Salvação, (6) 
Igreja e (7) Últimas coisas. Normalmente, está incluída na Sistemática 
uma Introdução à Teologia, que trata do seu objeto, método e história, 
que recebe o nome técnico de prolegômenos.
7Teologia Sistemática I | FTSA | 
Saiba mais
As sete áreas clássicas da Teologia Sistemática:
1. Teontologia ou Teologia Própria (teo = Deus + onto = ser ou
existência)
2. Cristologia (cristo = ungido, se referindo ao Messias judaico que
veio a ser Jesus)
3. Pneumatologia (pneuma = vento, que acompanha a ideia
hebraica de ruach, aplicada ao Espírito divino)
4. Antropologia Teológica (antropo = ser humano, mas trata da
criação como um todo)
5. Soteriologia (soter = salvação ou salvador)
6. Eclesiologia (eklesia = assembleia, que transliterada forma a
expressão igreja)
7. Escatologia (eschata ou eschaton = últimas coisas, referentes
ao fi m da história humana)
Há quem defenda a ideia de que o estudo da Missão, ou a Missiologia, 
deveria compor uma oitava área da Sistemática. Outros já pensam que 
a Missiologia deveria ser o fundamento ou pano de fundo para o estudo 
das sete grandes áreas. Enfi m, é claro que existem outras doutrinas 
ensinadas pela igreja e que fazem parte da vida cristã, mas até aqui, tem-se 
concordado com a elaboração sistematizada apenas dessas sete citadas, 
tentando-se incluir outros assuntos à medida que elas são estudadas. É 
de fundamental importância ter em mente que essas doutrinas, embora 
didaticamente separadas, não são conceitos estanques e independentes. 
Ao contrário, cada uma das doutrinas está intrinsecamente associada a 
outra o que torna o seu estudo uma composição de ideias na tentativa de 
compreensão da revelação divina como um todo.
| Teologia Sistemática I | FTSA8
 1. Teologia como ciência
A Teologia, no caso da cultura brasileira, pode ser comparada ao 
futebol ou à medicina. Ela é um daqueles campos do saber que todo 
mundo conhece um pouco e, possivelmente, tem alguma opinião 
formada ou algum palpite para dar. No caso do futebol, por ser algo 
tão arraigado na cultura e por contar com um excesso de informação e 
exploração por parte das mídias, normalmente, faz com que saibamos 
quais são as razões dos sucessos e fracassos de um time, qual deve 
ser o melhor esquema tático de jogo, a melhor escalação, etc. Com a 
medicina acontece algo parecido. Em um passado não muito distante, 
nos acostumamos aos tratamentos e remédios caseiros, por isso, não 
nos constrangemos em receitar e indicar caminhos para a resolução 
de problemas de doenças e enfermidades. Em dias mais recentes, pela 
falta de rigor na fi scalização na prescrição e venda de medicamentos, 
também nos tronamos capazes de indicar aos outros aqueles remédios 
que funcionaram em nosso tratamento pessoal. Em ambos os casos os 
discursos e apropriações do conhecimento se dão sem nenhum estudo, 
pesquisa ou formação específi ca. Quando há algum estudo, via de regra, é 
superfi cial, inconsistente e sem qualquer orientação. No caso do futebol, 
podemos afi rmar que as consequências dessa participação opinativa 
generalizada não causam danos às pessoas. Já no caso da medicina 
popular, as consequências podem vir a ser nocivas e catastrófi cas.
O que ocorre com a Teologia é que a religiosidade é um fenômeno 
humano que inclui todas as pessoas. Até mesmo os ateus têm opinião 
sobre assuntos teológicos. No Brasil, mais ainda, por se tratar de um país 
colonizado sob a custódia da Igreja Romana, que instituiu o catolicismo 
como religião ofi cial durante a conquista portuguesa. Nesse sentido, 
todas as pessoas sabem algo sobre Teologia. Ou ainda, alguns já sabem 
tudo e resistem a conhecer mais ou de maneira diferente. Esse tipo 
de comportamento é agravado por estarmos lidando com o campo da 
religiosidade e da fé, que na maioria das nossas igrejas, veem a Teologia 
como um conjunto de dogmas inquestionáveis.
9Teologia Sistemática I | FTSA | 
Acredito que a maioria das pessoas, quando perguntadas, defi niriam 
Teologia como o estudo de Deus. O impasse, no entanto, nessa defi nição 
é que aquilo que seria o objeto do nosso estudo é, por essência, 
inalcançável. O que estou afi rmando, com base no entendimento do 
que vem a ser qualquer tipo de ciência, é que ela pressupõe um objeto 
de estudo com o qual se estabelece uma relação de aproximação e, 
por assim dizer, de manipulação desse objeto. Quer dizer, em algumas 
ciências esse pressuposto é mais perceptível que em outras. Por exemplo, 
as ciências biológicas têm como objeto de estudo os seres vivos, sejam 
eles, as plantas, os animais ou os seres humanos. Elas constroem o 
seu conhecimento observando, analisando, propondo e testando suas 
teorias e práticas usando os próprios organismos vivos. As ciências 
exatas, ainda que tenham um forte componente teórico, possuem como 
objeto de estudo as relações, descritas em forma de equações e leis, que 
são estabelecidas no mundo material humano. A Matemática e a Física, 
por exemplo, embora mais teóricas, encontram nas Engenharias a sua 
aplicação e aproximação mais palpável desse objeto que é o universo 
material. Ali é possível realizar testes e experimentos que comprovem 
as teorias. As chamadas ciências humanas, também bastante teóricas e 
complexas, partem do fenômeno humano, como objeto, ao tentar estudá-
lo em suas ações, comportamentos, relações, conhecimento, raciocínio, 
emoções, etc. Mesmo não sendo consideradas exatas, seu objeto de 
estudo, os seres humanos, ainda continua acessível e manipulável no 
sentido da observação e testes do conhecimento.
| Teologia Sistemática I | FTSA10
Saiba mais
Classifi cação da Ciência
A palavra ciência deriva do latim “scientia” e signifi ca “conhecimento”. 
A partir do momento em que as ciências tornam-se autônomas, 
passam a ser classifi cadas em ciências formais, ciências da 
natureza e ciências humanas. As ciências formais recebem esse 
nome porque seus objetos de estudo não têm existência concreta, 
como a matemática e a lógica. As ciências da natureza são aquelas 
que estudam objetos que têm existência concreta, como a biologia, a 
química, a física e a geografi a. As ciências humanas são aquelas que 
estudam aspectos relacionados com o comportamento humano.
Essa classifi cação é didática, ou seja, ajuda-nos a compreender 
melhor os diferentes objetos de conhecimento e a diversidade 
de métodos à qual precisamos recorrer para investigá-los. No 
entanto, essa classifi cação é insufi ciente, pois não se refere aos 
objetos de conhecimento que necessitam de métodos diversos. 
Também temos que considerar as novas ciências que surgem e 
que apresentam traços das ciências humanas, das ciências da 
natureza e das ciências formais simultaneamente.
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fi losofi a/seis-topicos-fundamentais-
sobre-fi losofi a-ciencia.htm
A Teologia, no entanto, tendo, em tese, como objeto o ser de Deus, não 
poderia ser considerada uma ciência por causa da falta de acesso ao 
seu objeto. Elaborando um pouco mais essa afi rmação, o que ocorre é 
que Deus, em nossa própria defi nição, é algo que está além do alcance 
humano. Se o ser humano é material, fi nito e temporal, Deus é imaterial, 
infi nito e eterno. Aqui recorremos aos conceitos de físico e metafísico, 
imanente e transcendente. O ser humano faz parte do mundo físico, das 
coisas criadas, esse em que vivemos, tocamos, sentimos, percebemos 
e podemos acessar como objetos de estudo. Deus, por outro lado, é 
11Teologia Sistemática I | FTSA | 
metafísico, está além do físico, ou seja, inacessível a nós, que pertencemos 
e estamos limitados ao mundo físico. O ser humano é imanente, pertence a 
esse mundo e se faz representar pelas coisas dele. Deus é transcendente, 
pertence a uma realidade que não se faz representar pelas coisasdesse 
mundo, ou pelo menos, apenas por aproximações produzidas pelo ser 
humano para o seu próprio entendimento.
Ora se a Teologia não é o estudo de Deus, tendo-o como objeto 
propriamente dito, o que é, então? Permanecendo ainda com o termo 
Teologia, composto por teo e logia ou logos, podemos pensar que ela é 
o discurso, fala ou palavra (logos) sobre Deus. Obviamente, portanto, a
Teologia é uma tarefa humana. Somos nós quem falamos de Deus, sobre
Deus ou a partir de uma perspectiva divino-humana. Mas com base em
que objeto fazemos isso? Qual é o objeto da Teologia, então?
Exercício de fi xação - 01
Considerando a temática da Teologia e seu objeto, responda: Qual 
o principal argumento para a afi rmação de que o objeto da Teologia,
como ciência, é inalcançável?
a) O fato de a Teologia não ser uma ciência e sim uma descrição da revelação 
divina;
b) A transcendência do ser divino;
c) A limitação da revelação divina;
d) O desconhecimento da Palavra de Deus;
e) A falta de esforço humano no conhecimento, estudo e pesquisa.
Consideremos, a princípio, a argumentação de Clodovis Boff que gira 
em torno da fé. Boff defi ne a fé como elemento central da teologia. 
No entanto, aquilo que ele apresenta como fé é um conceito bastante 
elaborado e complexo. Para ele, “o que desperta a teologia é a fé e o 
espírito crente. Mas antes de qualquer determinação particular (visão, 
experiência, prática), a fé, em sua raiz mais profunda, é irrupção do 
‘ser novo’, da ‘vida nova’”. Além disso, “podemos destacar na fé três 
| Teologia Sistemática I | FTSA12
componentes principais: a experiência, a inteligência e a prática. Assim, 
a fé tem algo de afetivo, de cognitivo e de normativo”. Tendo a fé essas 
três dimensões, abrangendo a integralidade da vida humana, para Boff, 
ela se torna “simultaneamente princípio, objeto e objetivo da teologia”. 
Mas, em que sentido o objeto da Teologia é a fé? Boff procura esclarecer:
A teologia é a fé mesma que se vertebra, a partir de dentro, em discurso 
racional. É o desdobramento teórico da fé. É o seu desabrochamento 
intelectual. Teologia é fi des in status scientae (a fé em estado de ciência). 
É o pathos que toma a forma do logos, a experiência que se faz razão. É 
a sabedoria no modo do saber.
A teologia não acrescenta materialmente um pingo de luz 
à fé. Desenvolve apenas seu conteúdo material. Desdobra 
suas virtualidades latentes. É a ratio estendendo o 
intellectus: a razão explanando a intuição. Portanto, a fé é 
como a enteléquia da teologia, isto é, sua forma dinâmica 
interna. É o seu conatus, sua alma viva e inquieta. 
[...] Como se vê, a teologia como discurso se distingue do 
discurso da fé, tal a confi ssão. Dá-se entre as duas certa 
ruptura — uma ruptura no nível da forma, especifi camente 
da linguagem. A teologia é mutável, diversifi cada, enquanto 
a fé tem um caráter absoluto, defi nitivo. (1999, p. 31).
A elaboração do conceito de fé, para Boff, recebe um alto grau de consideração 
levando-a, sem que seja explicitamente mencionado, ao nível da experiência 
mística. O crer em Deus envolve a integralidade da vida humana e por causa 
da união mística do imanente com o transcendente, possui aspectos que 
estão além da investigação científi ca racional. Isso signifi ca dizer que 
apenas alguns aspectos da fé tornam-se objeto da Teologia, enquanto tarefa 
investigativa humana. Outros aspectos da fé, como o da crença, inserida 
no âmbito da experiência mística, não podem constituir-se em objeto, 
tornando-se inexplicáveis e inexauríveis. Por causa desse encaminhamento, 
Boff acaba tendo que recorrer a um desdobramento do objeto da Teologia, 
separando-o em objeto formal e material:
13Teologia Sistemática I | FTSA | 
1. O objeto material defi ne a coisa de que uma ciência 
trata. É como se alguém fi zesse um “corte vertical” 
na espessura mesma do ente e delimitasse nele uma 
região, para dela em seguida se ocupar. Trata-se do 
“quê” de um saber (objetum quod).
Sinônimos de “objeto material” são: matéria-prima, 
temática, assunto, questão.
2. O objeto formal indica o aspecto segundo o qual se 
trata o ente escolhido. É como se fi zéssemos agora um 
“corte horizontal” no objeto material, a fi m de captar-lhe 
um nível ou camada. Aqui temos não o “quê”, mas sim 
o “como” de um saber.
Sinônimos de “objeto formal” são: aspecto, dimensão, 
faceta, lado, nível, razão específi ca.
(1999, p. 41).
Explorando ainda mais essa ideia, Boff defi ne o objeto material como 
sendo o próprio “Deus e tudo o que se refere a ele, isto é, o mundo 
universo: a criação, a salvação e tudo o mais” (1999, p. 43). Já o objeto 
formal “é ‘Deus enquanto revelado’. Ora, o Deus revelado é o Deus bíblico, 
o Deus do Evangelho, o Deus salvador [...] Por outras palavras, trata-se 
sempre de Deus enquanto visto ‘à luz da fé’. Essa última diz a perspectiva
própria da teologia” (1999, p. 44). Concluindo, Boff afi rma:
Portanto, a teologicidade de um discurso não consiste 
no seu objeto material, mas sim no seu objeto formal. É 
esse que determina se um discurso é ou não é teológico.
Ser teólogo é assumir uma ótica particular. É ver tudo à 
luz de Deus. Em outras palavras: é ver em tudo o Divino. 
Deus e sua ação. Pode-se assim dizer que o teólogo 
usa os óculos da fé. Numa outra fi gura, fazer teologia 
é Cristo nos pegar pela mão e nos levar pelo mundo, 
fazendo-nos ver as cosias como ele as vê (1999, p. 45).
| Teologia Sistemática I | FTSA14
Ainda que a Teologia, como dito anteriormente, tenha que lidar com a 
tensão constante entre o imanente e o transcendente, o acessível e o 
não acessível, ao estabelecer como teológico o caminho que se dá pela 
experiência subjetiva da fé, expressa por Boff como sendo Cristo nos 
conduzindo pelo mundo, encontramos, novamente, um impasse com a falta 
de um objeto mais palpável e aberto à investigação coletiva. Na tentativa 
de vencer esse impasse, Boff indica uma alternativa mais concreta:
Importa darmo-nos conta que, embora a fé constitua um 
só ato sintético, rico de múltiplas determinações, das 
quais destacamos três: a fé-experiência, a fé-palavra 
e a fé prática, é precisamente através da segunda 
dimensão, a da fé-palavra, que se nos transmite o 
conteúdo noético essencial da fé e, portanto, o princípio 
inteligível da teologia [...] Por isso, devemos dizer que, 
ultimamente, a fonte determinante da teologia é a 
Palavra de Deus, como prefere a tradição protestante, 
ou a Revelação, como costuma dizer a tradição católica 
(1999, pp. 110-111).
É nesse ponto que quero concentrar a nossa atenção. Mesmo sendo a fé 
composta por elementos que fogem ao inteligível, tangível e investigável, 
é na concretização da revelação divina, por meio de sua Palavra, que 
encontramos a fonte principal para o estudo teológico. Certamente, 
esse ponto crucial para a tradição protestante reformada, pode não ter 
a mesma consideração e tratamento por parte da tradição católica ou 
mesmo de alguns ramos mais recentes do evangelicalismo. Assim, é 
a Palavra de Deus, mais especifi camente as Escrituras ou a Bíblia, que 
acaba por se constituir o principal objeto da Teologia. Tentando esclarecer 
um pouco mais essa afi rmação e presente argumentação, consideremos 
a discussão em torno da fé-experiência e o seu uso na Teologia.
15Teologia Sistemática I | FTSA | 
2. Teologia e experiência da fé
São raríssimos os casos de pessoas que tenham chegado à fé por meio 
da investigação científi ca do texto bíblico ou de outras literaturas, feita 
individualmente, de modo independente. A grande maioria das pessoas 
passam a crer ou, na linguagem popular, se convertem, por meio de uma 
experiência de fé. Ainda que para se chegar a essa experiência tenha 
havido algum tipo de argumentação lógica, via pregações, conversas, 
folhetos, mensagens, etc., ela possuía uma abordagem mais existencial 
e emotiva do que científi ca, no rigor do termo.
Mais que isso, a partir do momento em que se instaura a fé, por meio 
de uma experiência, que podemos chamar de mística, imediatamentejá 
estaremos elaborando uma teologia, no sentido de produzimos falas e 
discursos sobre Deus. Todas as pessoas, então, são teólogas, porque 
falam algo sobre Deus. Mas, que tipo de teologia é essa? Essa teologia 
é o resultado da tentativa de entendimento e explicação a si mesmas e 
às outras pessoas da experiência de fé. Ela é baseada na experiência, 
quer seja do primeiro evento, quer seja de eventos subsequentes que se 
dão, principalmente, na participação nas comunidades em momentos 
de culto, louvor, oração, etc. De imediato, essa experiência deve, ou 
deveria, produzir resultados e tornar-se concreta na vida da pessoa, 
assumindo uma forma prática na transformação do caráter, nas ações, 
comportamentos e relacionamentos. Talvez, apenas após algum tempo 
experimentando e praticando a fé, surja o interesse por uma investigação 
mais profunda, que inclua o estudo de cunho mais formal, ou acadêmico, 
ou científi co sobre essa fé. Em suma, vemos aqui o tripé da fé proposta 
no tópico anterior: experiência, prática e inteligência.
Com base nessa breve argumentação, poderíamos até pensar em três 
teologias ou três discursos teológicos. O primeiro discurso é aquele que 
procura falar e tentar explicar a experiência da fé. O segundo, é o discurso 
feito não necessariamente com palavras, mas com ações, tornando prático 
| Teologia Sistemática I | FTSA16
aquilo em que se diz crer. O terceiro é o resultado do uso do raciocínio 
e lógica buscando construir um fundamento amplo e coletivo sobre o 
que se crê. Olhando para as três teologias, o que deveríamos perceber é 
que os discursos crescem em complexidade do primeiro para o terceiro 
tipo. Em outras palavras, ao tentarmos construir um discurso, quando 
partimos da experiência, difi cilmente teremos uma plataforma de diálogo 
comum, uma vez que a experiência é subjetiva, ou seja, pertence ao 
sujeito, ao indivíduo que passa por ela. Estamos lidando aqui com a esfera 
do testemunho, que possui sua importância e utilidade para a fé, mas 
que contribui pouco para a elaboração doutrinária. Estamos adentrando 
também em um terreno delicado no que diz respeito às tradições e 
denominações cristãs. As tradições pentecostais e suas derivações dão 
um tratamento diferente à experiência comparadas às tradições mais 
antigas, históricas ou reformadas. O surgimento do pentecostalismo se 
dá fortemente centrado na experiência mística, produzindo um discurso 
teológico mais fl uido no que se refere à construção das estruturas 
doutrinárias. Já as tradições reformadas, centralizam o seu discurso mais 
na argumentação lógica baseada no estudo das Escrituras, com o auxílio 
do método científi co, tendo supremacia sobre qualquer experiência.
Exploremos um pouco mais essa diferenciação. Por exemplo, 
suponhamos que alguém diga que viu, ouviu ou sentiu algo, da parte 
de Deus, e que aquilo tem um desdobramento ou consequência 
para os outros ao seu redor. Se esse fato ocorre em um ambiente 
pentecostal, uma vez que a experiência é tida como fundamental para 
o discurso teológico, a tendência é que as pessoas deem crédito, sem 
a necessidade de discussões racionais elaboradas, e acatem o que foi 
dito. No entanto, qualquer nova experiência tende a ser avaliada tendo 
como referência outras experiências passadas já que também existe um 
discurso teológico anterior, embora, não necessariamente estruturado, 
escrito ou doutrinariamente sistematizado. Juan Sepúlveda, um teólogo 
pentecostal chileno, esclarece um pouco essa perspectiva a partir do seu 
próprio contexto, mas que se aplica igualmente ao caso brasileiro:
17Teologia Sistemática I | FTSA | 
Em síntese, no pentecostalismo chileno a centralidade da 
experiência sobre a doutrina será muito mais marcante 
do que no pentecostalismo de origem americana.
É exatamente essa centralidade da experiência religiosa 
que abriu um campo extremamente propício para a 
inserção da experiência pentecostal na cultura popular 
chilena. À medida que a oferta é de um encontro 
intenso com Deus, comunicada mais com a linguagem 
do corpo e dos sentimentos do que com a razão, o 
pentecostalismo abre um novo espaço para que os 
setores populares se expressem religiosamente.
[...] Considerando o que já foi dito, não surpreende que, 
entre as pessoas que atuam no âmbito da teologia 
acadêmica ou outros observadores das chamadas 
igrejas históricas, seja um lugar-comum a afi rmação de 
que o pentecostalismo chileno “não tem teologia” [...] 
Todavia, essa objeção parece apontar para algo mais 
profundo. O pentecostalismo, como expressão religiosa, 
tem seu fundamento mais na experiência (subjetiva) de 
Deus do que na revelação (objetiva) divina.
[...] Naturalmente, uma teologia que parte da 
experiência terá uma linguagem e uma metodologia 
próprias, diferentes da clássica teologia conceptual 
[...] Como a experiência não pode ser reduzida a 
conceitos, uma teologia que nasce da experiência deve, 
necessariamente, ser uma teologia narrativa, como o é, 
em grande dose, a teologia bíblica.
A partir dessa perspectiva se pode afi rmar, com toda 
certeza, que o pentecostalismo chileno tem sua 
teologia. Essa teologia, porém, tem de ser buscada nos 
testemunhos (1996, pp. 66-68).
| Teologia Sistemática I | FTSA18
O que ocorre com a teologia, tomando como referência o caso do 
pentecostalismo, é que tendo a experiência mística como principal 
conteúdo, o estudo e a formulação doutrinária fi cam limitados. Ainda que 
alguém argumente que as experiências possuam fundamento bíblico, 
o que é observado e analisado não é o texto bíblico em si, mas sim as
próprias experiências, para efeitos de produção teológica. As experiências
chegam a um grau de relevância tal que podem vir a infl uenciar a exegese e
hermenêutica das Escrituras, fazendo com que o resultado da leitura possa
acabar sendo forçadamente adaptado às experiências. Outra objeção que
podemos levantar é a difi culdade de estabelecermos parâmetros que possam
verifi car, ou não, a validade das experiências. Como podemos afi rmar se
uma experiência testemunhada é aceitável para a construção teológica?
Uma opção seria a verifi cação da validade por meio de outra experiência,
semelhante àquilo que o apóstolo Paulo propõe em 1 Coríntios 14:26-27:
“Portanto, que diremos, irmãos? Quando vocês se reúnem, cada um de vocês
tem um salmo, ou uma palavra de instrução, uma revelação, uma palavra em
uma língua ou uma interpretação. Tudo seja feito para a edifi cação da igreja.
Se, porém, alguém falar em língua, devem falar dois, no máximo três, e alguém
deve interpretar”. Outra opção seria a validação por parte de um líder mais
experiente, que assumiria essa responsabilidade. No entanto, o que vemos
é que a validação acaba sendo uma questão coletiva de concordância sobre
alguma experiência e não uma avaliação lógica e referendada por algo que
esteja além da experiência, como por exemplo a Palavra.
Exercício de fi xação - 02
Sobre o tema “A experiência e a Teologia”, é correto afi rmar que:
a) A experiência não pode ser considerada como fonte válida para o
conhecimento teológico;
b) A experiência é um aspecto objetivo no discurso teológico uma vez que
é compartilhada pela comunidade de fé;
c) A experiência é um dos discursos possíveis, porém, de difícil elaboração
doutrinária;
d) A experiência é o aspecto mais importante na elaboração do discurso
teológico uma vez que expressa a fé genuína de quem encontrou a Deus;
e) A experiência é uma via de discurso da fé prática.
19Teologia Sistemática I | FTSA | 
Assim funciona a fé. Ela é sempre uma questão coletiva. Qualquer 
expressão individual da fé só faz sentido dentro de um grupo ou 
comunidade. Caso a expressão de fé seja algo totalmente individual, ela 
será tratada como loucura ou excentricidade. O problema, no entanto, 
é que a coletividade que atesta a contribuição da experiência para a 
teologia não é ampla o sufi ciente para representar todas as tradições 
cristãs. As experiências que ocorrem em um grupo específi co não 
conseguem ser transmitidascomo fundamentação teológica para outros 
grupos. Novamente, fi ca faltando algo que esteja além da experiência 
e seja válido e aceito por todos para a construção das doutrinas da fé 
cristã, entendidas como, em grande parte, comuns a todas as tradições.
É exatamente nesse ponto de tensão que queremos inserir o estudo 
da Teologia. Sem desvalorizar a importância da experiência, porém, 
reconhecendo a sua limitação intrínseca como plataforma inicial para a 
refl exão e discussão, propomos estudar a Teologia a partir das Escrituras, 
explorando o aspecto da fé inteligência, racional, cognitiva. Ao invés de 
validarmos as Escrituras com base em nossas experiências, propomos 
o processo inverso, ou seja, avaliarmos as nossas experiências com 
base no texto bíblico. Mas muito além disso, a teologia que queremos 
construir é a da busca pelos ensinos (doutrinas) revelados por Deus em 
sua Palavra. São essas doutrinas que deverão ser a referência para a 
nossa vida, transformando a teologia em prática, e referendando a nossa 
experiência com a realidade divina.
A fé é algo profundo e complexo na vida humana. Pode-se dizer que ela é 
anterior à própria teologia. No entanto, a experiência de fé é um mistério 
que apenas nos insere em um outro universo que é o do conhecimento 
do objeto último da mesma. Na experiência de fé somos alcançados por 
Deus, mas após esse evento desvenda-se um caminho de busca pelo 
conhecimento desse mesmo Deus. Uma vez que temos a Palavra revelada 
como algo concreto, é ela que se constituirá no principal objeto de nossa 
busca pelo conhecimento de Deus, acima mesmo da experiência mística. 
É na Palavra que encontramos o fundamento comum e de concordância 
entre todos aqueles que tiveram a experiência fé em Cristo.
| Teologia Sistemática I | FTSA20
3. Teologia e Palavra de Deus
O desafi o que se insere nesse momento, considerando a tarefa teológica 
de estudo e estruturação das doutrinas cristãs, tendo como seu objeto 
fundamental a Palavra de Deus, é o de estabelecermos alguns caminhos 
de aproximação desse fenômeno literário. Antes de qualquer coisa, 
a Palavra de Deus, conforme estamos considerando, é o que se faz 
representar pela Bíblia Sagrada. Por sua vez, a bíblia é um livro ou uma 
coletânea de livros. Ela foi formada por textos escritos por muitas pessoas 
ao longo de muito tempo, por isso, é um fenômeno literário. Como tal, 
exige uma aproximação específi ca que considere a sua formação, ou 
seja, escrita, edição, cópia, canonização, etc.
Embora a Teologia Sistemática não aborde o assunto da formação da 
bíblia, alguns estudiosos procuram, a título de introdução, comentar sobre 
esse percurso, uma vez que a mesma constitui o principal objeto de estudo 
e fonte das doutrinas. Minha intenção, portanto, não é esgotar o assunto, 
nem tampouco tecer comentários detalhados sobre a formação da bíblia, 
na particularidade de cada livro, falando sobre datação, autoria, estilo, 
objetivo, variações, etc., e sim estabelecer um pano de fundo que nos auxilie 
na consideração de alguns pressupostos que podem interferir na opção 
metodológica que faremos na construção das propostas doutrinárias.
A maneira como nos aproximamos da bíblia determina a maneira como 
fazemos teologia! Este é um dos aspectos mais importantes para essa 
disciplina ou, talvez, para todo o estudo da Teologia. O que quero dizer 
com isso é que a forma como encaramos os textos que compõem a 
bíblia irá determinar a forma como elaboramos o nosso entendimento do 
conteúdo ali presente e a construção das doutrinas.
O que está por trás dessa afi rmação, às vezes de forma inconsciente, é 
como consideramos o fato de a bíblia ser a Palavra de Deus. No passado, 
alguns teólogos sugeriram a seguinte refl exão sobre a relação entre a 
bíblia e a Palavra de Deus: seria a bíblia a Palavra de Deus ou conteria 
a bíblia a Palavra de Deus? A diferença entre as duas opções está na 
21Teologia Sistemática I | FTSA | 
perspectiva que podemos ter sobre o fenômeno literário. A primeira opção, 
que considera a bíblia como idêntica à Palavra de Deus, é defendida por 
aqueles que entendem que a Palavra de Deus está em cada letra do texto. 
Assim, a forma editorial que acabou chegando até nós, considerando todo 
o processo histórico, desde a tradição oral, passando pela escrita, até a 
seleção do cânon, faz parte de um mesmo e grande milagre de revelação 
divina. A segunda opção entende que a Palavra de Deus não está na 
particularidade de cada palavra registrada e sim na mensagem que o texto 
carrega, sendo a percepção da revelação apreendida pelo exercício da 
exegese e da hermenêutica — interpretação —, e atestada pela comunidade 
de fé. Os que adotam a primeira opção também tendem a defender aquilo 
que se convencionou chamar de inerrância e infalibilidade do texto, 
baseado em sua literalidade. Os que defendem a segunda opção tendem 
a falar sobre inerrância e infalibilidade não do texto, mas da mensagem 
divina, encontrada na análise do texto e sua interpretação.
Glossário
Inerrância – conceito de que o texto bíblico não contém erros em 
sua composição literária, quer sejam linguísticos ou de conteúdo. 
Essa ideia abrange o entendimento de que nas Escrituras não 
ocorrem contradições ou imprecisões, mesmo quando o conteúdo 
implica em assuntos que se relacionam às ciências como história, 
arqueologia, física, etc.
Infalibilidade – conceito de que o texto bíblico não contém erros, 
contradições ou imprecisões, especifi camente, referentes ao que 
ele afi rma sobre assuntos de fé e prática.
Em torno dessa discussão estamos, na realidade, considerando alguns 
conceitos, de forma implícita, que dizem respeito ao fenômeno literário da 
bíblia. Esses conceitos são: revelação, inspiração e iluminação. O motivo 
para tratarmos desses conceitos nessa disciplina se dá por duas razões 
principais. A primeira, já mencionada, é por causa da consideração da 
| Teologia Sistemática I | FTSA22
bíblia como o objeto principal de estudo da Teologia. A segunda razão 
é que a metodologia que usaremos para a construção das doutrinas 
não será, prioritariamente, a sistematização argumentativa clássica e 
sim a teologia bíblica, que será melhor detalhada, como aproximação 
metodológica, mais à frente na disciplina.
Vejamos, então, em mais detalhes esses três conceitos associados ao 
fenômeno literário da Palavra de Deus.
3.1. Revelação
Revelar signifi ca tirar o véu de sobre algo, descobrir, trazer à luz aquilo 
que estava oculto. Deus é aquele que está oculto ao ser humano em sua 
condição de criador, por isso, argumenta Wolfhart Pannenberg,
Conhecimento humano de Deus, porém, pode ser 
conhecimento verdadeiro, correspondente à realidade de 
Deus, somente sob a condição de ter sua origem na própria 
divindade. Deus somente pode ser conhecido quando ele 
próprio se dá a conhecer. A sublimidade da realidade de 
Deus torna-se inatingível para o homem se ela não se dá 
a conhecer por si mesma [...] Se o conhecimento humano 
de Deus fosse concebido de tal modo que o ser humano 
arrancasse, por suas próprias forças, da divindade o mistério 
da sua natureza, ter-se ia realizado de antemão um equívoco 
em relação à divindade do referido deus. Um conhecimento 
nesses termos em todo caso não seria conhecimento de 
Deus, porque seu próprio conceito estaria em contradição 
com a idéia de Deus. Por isso conhecimento de Deus jamais 
é possível a não ser por meio de revelação (2009, p. 263).
Para conhecermos a Deus, então, ele tem que se fazer conhecido. 
A isso chamamos revelação. Mas como Deus se revela? A Teologia 
clássica tem proposto três vias para a revelação divina: a natureza ou as 
coisas criadas, as Escrituras ou a sua Palavra, e Jesus Cristo ou a sua 
23Teologia Sistemática I | FTSA | 
encarnação. Quanto à revelação que há na natureza, sobre Deus, Paul 
Tillich oferece a seguinte explicação:
Embora nada se tornasse portador da revelação por 
suas qualidades extraordinárias, estas qualidades 
determinam a direção na qualuma coisa ou evento 
exprime nossa preocupação última e nossa relação 
com o mistério do ser. Não há diferença entre uma 
pedra e uma pessoa em sua potencialidade de se 
tornar portadores de revelação, entrando em uma 
constelação revelatória. Mas há uma grande diferença 
entre elas com respeito ao signifi cado e verdade das 
revelações midiatizadas através delas. Uma pedra 
representa um número bastante limitado de qualidades 
que são capazes de apontar para o fundamento do 
ser e sentido. Uma pessoa representa as qualidades 
centrais e, por implicação todas as qualidades que 
podem apontar ao mistério da existência. Há, contudo, 
qualidades em uma pedra para as quais a pessoa não 
é explicitamente representante (o poder de suportar, 
resistir, etc.). Tais qualidades podem tornar uma pedra 
um elemento auxiliar na revelação através de uma 
pessoa, por exemplo, a metáfora “rocha das idades” 
aplicada a Deus (1987, pp. 104-105).
Como qualquer via revelatória, ela é limitada na caracterização do ser 
divino, sendo insufi ciente para explica-lo completamente, mesmo 
considerando que o próprio ser humano faz parte dessa via. Por isso, 
fi camos na carência de outros meios para o conhecimento de Deus, pelo 
menos naquilo que ele deseja mostrar. A via mais cabal, então, é a sua 
encarnação, ou seja, mesmo na limitação da forma humana, esvaziada da 
própria divindade, é na pessoa de Jesus que ocorre o ápice da revelação. 
Jesus é Deus falando e vivendo entre os humanos, comunicando de 
maneira plena aquilo que quer revelar. A teologia reformada afi rma que a 
revelação divina cessou em Jesus Cristo. Tillich esclarece que:
| Teologia Sistemática I | FTSA24
O cristianismo reivindica estar baseado na revelação 
em Jesus, o Cristo, como sendo revelação fi nal. Esta 
reivindicação estabelece a igreja cristã. E, onde esta 
reivindicação estiver ausente, o cristianismo deixou 
de existir [...] O cristianismo muitas vezes afi rmou, 
e certamente deveria afi rmar sempre, que há uma 
revelação contínua na história da igreja. Neste sentido, 
a revelação fi nal não é última. Só se última signifi ca 
a última revelação genuína, revelação fi nal pode ser 
interpretada como a última revelação. Não pode haver 
revelação na história da igreja, cujo ponto de referência 
não seja Jesus como o Cristo. Se outro ponto de 
referência for buscado e aceito, a igreja cristã terá 
deixado seu fundamento. Mas revelação fi nal signifi ca 
mais do que última revelação genuína. Signifi ca a 
revelação decisiva, plena, inexcedível, aquela que é o 
critério de todas as outras. Esta é a reivindicação cristã. 
E esta é a base da teologia cristã (1987, p. 116).
Antes de prosseguirmos, julgo apropriado tecer um comentário sobre 
o conceito de revelação que estamos desenvolvendo. O que a teologia 
reformada defende é que a revelação de Deus aos seres humanos, 
naquilo que concerne à história da salvação ou mesmo à comunicação 
de quem ele é, esgotou-se em Jesus Cristo. Dessa forma, não há mais 
nada a ser revelado, nada que venha a ser uma novidade, quer seja sobre 
Deus quer seja sobre o ser humano e sua salvação. No entanto, o uso 
da expressão revelação continua sendo usado no cotidiano da igreja. 
Alguém pode dizer, Deus me revelou tal coisa ou Deus está nos revelando 
aquela outra coisa como igreja. Nesses casos, o que ocorre é o uso da 
expressão aplicada a uma situação contextual específi ca e que se torna 
um desvendar de algo até então desconhecido. Não se considera, no 
entanto, que haja a possibilidade de que esse tipo de revelação venha 
a trazer algo novo, adicional, àquilo que já ocorreu no passado ao falar 
de Deus e que teve o seu ápice em Jesus. Trata-se de algo particular, 
25Teologia Sistemática I | FTSA | 
pessoal ou coletivo, mas que não altera a revelação divina sobre si, sua 
essência e sua vontade para a humanidade.
Retomando o raciocínio anterior, constatamos que apenas alguns 
privilegiados tiveram a possibilidade de ver o Deus encarnado, ou seja, 
o acesso a essa via revelatória foi encerrado na morte de Jesus. O que 
ocorre, entretanto, é que outro caminho de revelação já estava disponível 
na história humana. Esse caminho permanece até hoje entre nós, que é a 
Palavra de Deus. Aliás, é pela Palavra que conhecemos, indiretamente, a 
revelação fi nal, que é Jesus. É pelo registro nas Escrituras que tomamos 
conhecimento da encarnação, somando esse conteúdo à principal via 
que temos acesso na atualidade.
Até aqui o que fi zemos foi apenas destrinchar um pouco o conceito de 
revelação. O que ainda não elaboramos, contudo, foi o entendimento 
de como, de modo prático, se deu a revelação por meio das Escrituras. 
É importante explorarmos um pouco esse assunto porque ele será 
determinante para as possibilidades de entendimento de alguns recursos 
que nos auxiliam na construção da teologia bíblica das doutrinas. 
Recorremos, então, a uma tentativa de explicação de Wilfrid Harrington:
É claro que, se devemos ser fiéis aos dados da Bíblia, 
não devemos compreender a “revelação” apenas no 
sentido de afirmações de verdade abstrata, puramente 
especulativa; devemos compreendê-la no sentido que 
inclina todo o campo da automanifestação de Deus, 
devemos abarcar tanto ações como palavras — pois 
Deus não é essência abstrata, mas uma pessoa viva. E 
o mediador ou intérprete dessa revelação não é apenas 
o “profeta” que “recebeu” uma visão ou oráculo, e, em 
seguida, o transmitiu a outros; ele é, antes de tudo, um 
homem que teve um encontro com Deus, um homem 
que chegou a conhecer o Salvador e Criador, que 
experimentou o amor criador e salvífi co de Deus.
| Teologia Sistemática I | FTSA26
Restringir a revelação estritamente à assim chamada 
“profecia” acarretaria o risco de negligenciar todo o 
contexto existencial da ação, da história e da intervenção 
pessoal que cerca a Palavra falada de Deus como Palavra 
viva e vivida. Fracassar em reconhecer a revelação nos 
eventos da história sagrada como na iluminação concedida 
aos profetas signifi caria um perigoso empobrecimento da 
extrema riqueza daquele encontro que Deus oferece aos 
homens na Bíblia (1985, p. 36).
Destaco, a seguir, algumas ideias interessantes na argumentação de 
Harrington. Para ele, a revelação não é um processo de apresentação de 
“afi rmações de verdade abstrata”. Deus não se automanifestou ditando 
conceitos, proposições, ou fazendo construções verbais, na forma de 
frases abstratas e genéricas, pela fala ou escrita de seus intermediários, 
aqui identifi cados como “profetas”1. Antes, revelou-se por meio de 
situações concretas da vida desses “profetas”, em suas experiências 
pessoais, ações e palavras, inseridas em situações históricas e 
existenciais concretas. Deus não se revelou, ditando aquilo que deveria 
ser escrito, ipsis litteris — letra por letra —, pelos autores do texto sagrado. 
O processo que ocorreu foi a transmissão das experiências com Deus, 
primeiro na forma oral e depois na forma escrita, narradas por aqueles 
que as vivenciaram, a partir de seus próprios contextos, limitados em 
seus conhecimentos históricos e científi cos. É por causa disso que para 
tomarmos conhecimento amplo da revelação necessitamos estudar a 
história, a geografi a, a arqueologia, as línguas originais, os fenômenos 
literários, etc. de tudo o que circunscreve a vida daqueles que transmitiram 
suas experiências a nós.
1 O uso do termo profeta entre aspas é para caracterizar aqueles que serviram como 
intermediários da Palavra divina na formação do texto. O termo não está restringindo 
essa ação à conhecida função do profeta, ofi cial ou independente, assim identifi cado 
nas Escrituras. Todos os que participaram na formação do texto sagrado são, assim, 
considerados “profetas”.
27Teologia Sistemática I | FTSA | 
Exercício de aplicação - 03
Tendo em vista o conceito de Revelação, como podemos entender 
este processo no que se refere à composição da Bíblia?
a) Deus se revelou falando verbalmente tudo o que deveria ser escrito;
b) Deusse revelou estruturando literalmente todos os conceitos 
necessários para a vida humana;
c) Deus se revelou por meio de expressões gerais que valem para qualquer 
situação da vida humana;
d) Deus se revelou ditando a sua mensagem especifi camente aos profetas 
escritores;
e) Deus se revelou usando as situações de vida experimentadas pelo povo 
em sua relação contextual com ele.
3.2. Inspiração
Aprofundando um pouco mais o estudo da revelação, desenvolveremos 
o conceito de inspiração, que está diretamente atrelado ao conceito de 
revelação. Podemos dizer que a revelação se deu por meio da inspiração 
divina dada aos “profetas” ou aos autores. É estranho notar, contudo, que 
a expressão “inspirada por Deus” (theopneustos) aparece apenas uma 
vez na bíblia e que, curiosamente, foi ela que mais marcou a maneira 
como costumamos defender o processo de registro escrito da Palavra 
de Deus: “Toda a Escritura é inspirada por Deus [...]” (2 Timóteo 3:16). 
Complementando esta ideia temos o texto da carta de Pedro que trata 
da profecia em geral, mas que, por conseguinte, tem sido aplicado à 
inspiração na produção das Escrituras: “Antes de mais nada, saibam que 
nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois 
jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram 
da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:20-21). O texto 
de Pedro está em consonância com a compreensão veterotestamentária 
da “inspiração” profética, por isso, não recorre a uma nova expressão 
| Teologia Sistemática I | FTSA28
(theopneustos), e sim a uma fórmula mais antiga (pheromenoi) que é a 
de ser “impelido”, “guiado”, “conduzido”, “movido” a falar (elalesan), pelo 
Espírito de Deus (pneumatos agiou), ou seja, signifi cando ser inspirado.
Mesmo havendo uma distância entre a fala e a escrita profética, os 
dois atos são considerados equivalentes, no sentido de reproduzirem a 
Palavra de Deus, uma vez que, em certo sentido, a escrita é o registro 
da fala. Olhando para as Escrituras, no entanto, não temos apenas o 
registro das falas proféticas, propriamente ditas, dos profetas de ofício. 
O que temos é o registro das muitas falas, por meio de narrativas de 
experiências históricas do povo de Deus, dos vários outros profetas 
no sentido amplo. Assim como a nação de Israel era simbolicamente 
um reino de sacerdotes, também acabou se constituindo um reino de 
profetas ao transmitirem a Palavra de Deus. Mas o desafi o que temos é 
o de defi nir o que entendemos por inspiração ou por alguém ser impelido 
pelo Espírito na representação do registro da Palavra de Deus.
Especifi camente no caso dos profetas de ofício, podemos vir a entender 
que esse processo se dava por meio de uma experiência de êxtase, 
visão ou audição, de uma manifestação divina, ou o que chamamos de 
teofania. Um exemplo clássico é o de Moisés, considerado o primeiro 
grande profeta do povo de Israel (Êxodo 3:1-4:17; 33:7-11). Outros 
exemplos são os de Samuel, (1 Samuel 3:1-4), Isaías (Isaías 6:1-13) e 
Ezequiel (Ezequiel 1:1ss). A maioria, no entanto, tem a sua contribuição 
profética associada à fórmula “veio a palavra de Javé (SENHOR), 
dizendo”, sem qualquer descrição ou explicação de como se dava esse 
processo. Tirando os possíveis casos de teofanias, imaginamos que se 
tratava de uma convicção pessoal e íntima, que levava o profeta a se 
manifestar como recipiente de uma mensagem divina. Na maioria dos 
casos não aparece qualquer alusão à manifestação do Espírito de Deus, 
porém, esse entendimento parece ter sido construído, no passado, e estar 
implícito na compreensão teológica da tradição do Antigo Testamento. O 
texto de Números 11:16-30 aponta para essa construção, da associação 
do Espírito de Deus como promotor da fala profética. Algo semelhante é 
narrado em 1 Samuel 10:9-13 quando trata da autenticação da escolha 
de Saul como rei de Israel.
29Teologia Sistemática I | FTSA | 
Em suma, o que se entendia é que aqueles que falavam em nome de 
Deus, eram conduzidos intimamente pelo próprio Deus e o povo aceitava 
suas palavras, quer seja pelo comportamento coerente ao conteúdo das 
mensagens, quer seja pelo critério estabelecido na Lei, registrado em 
Deuteronômio 13:1-5, de não falar algo contraditório à própria Lei. Mas 
como mencionei anteriormente, não estamos tratando exclusivamente 
do caso clássico da profecia e sim do entendimento da inspiração como 
fonte de produção das Escrituras como Palavra de Deus. Não foram os 
profetas de ofício quem escreveram a maioria dos textos e sim outros 
autores dos quais não temos informações precisas. Mas o povo, por meio 
da vivência e registro de suas experiências, passou a considerar alguns 
textos como sagrados e como expressões válidas do ensino de Deus para 
a vida. Aqueles que transmitiram pela tradição oral, e depois escreveram, 
são considerados, portanto, profetas, porque falam a Palavra de Deus, 
impelidos pelo mesmo Espírito que esteve com os profetas clássicos. 
Não me parece que haja aqui a exigência de qualquer manifestação 
sobrenatural ou teofania. O processo indica ser complexo, mas ainda 
assim dirigido por Deus. Harrington apresenta a seguinte argumentação:
Devemos estar conscientes de que a maior parte dos 
livros do Antigo Testamento é obra de muitas mãos, obra 
que se desenvolveu através de um longo período, talvez 
séculos. Todos aqueles que colaboraram na produção 
de cada livro, quer tenham escrito a substância dele 
quer tenham simplesmente acrescentado alguns 
detalhes, foram inspirados. A maioria deles não tinha 
consciência de estar sendo movidos por Deus; daqui 
em diante, nós também consideraremos apena o 
lado humano da Bíblia e a consideraremos como um 
empreendimento coletivo, a obra de todo um povo que 
depositou na Bíblia, através dos séculos, os tesouros de 
sua tradição. Ela é a literatura de um povo, entrelaçada 
na história desse povo (1985, p. 13).
| Teologia Sistemática I | FTSA30
Algumas pessoas podem pensar no processo de inspiração como algo 
quase similar ao da psicografi a ou de uma possessão especial, mas o 
que Harrington propõe é que o registro se deu de forma inconsciente, 
por parte dos autores, de que estavam escrevendo a Palavra de Deus. A 
inspiração aqui é entendida como uma condução silenciosa do Espírito 
de Deus, ao longo de séculos, por meio de autores e editores, em meio 
aos contextos, histórias e desafi os da vida do povo de Israel na relação 
com seu Deus.
3.3. Iluminação
Outro conceito atrelado à revelação é o de iluminação. Na verdade, todas 
são expressões que tentam dar conta da complexidade da revelação 
divina. Rapidamente, digamos que a revelação divina se dá por meio 
da inspiração de pessoas para produzirem e registrarem a sua Palavra 
à humanidade, mas ela não termina aí, pois, Deus também nos auxilia 
no entendimento da sua mensagem. A esse entendimento, tido também 
como sendo patrocinado por seu Espírito, chamamos iluminação. 
A iluminação também pode ser entendida como a inspiração para o 
entendimento, fechando o circuito da revelação. Alguns textos bíblicos 
elaboram essa ideia: João 16:12-15; Romanos 16:25-27; Efésios 1:17-
18; 1 Coríntios 2:6-16. Mas assim como a inspiração não está sendo 
considerada como algo imediato, dado como um pacote pronto, por um 
processo de êxtase, o mesmo ocorre com a iluminação. O entendimento 
da Palavra, mesmo tendo o auxílio do Espírito, exige esforço e aplicação 
no estudo e conhecimento, usando as nossas faculdades mentais.
A iluminação para o entendimento não ocorre sem o conhecimento, por 
exemplo, das Escrituras como um todo. Aliás, esse alerta está presente 
na própria bíblia. O profeta Oséias, por exemplo, chama a atenção do 
povo de Israel dizendo “Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. 
Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito 
como meus sacerdotes; uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, 
eu também ignorarei seus fi lhos” (Oséias 4:6), e convida: “Conheçamos 
o Senhor; esforcemo-nospor conhecê-lo” (Oséias 6:3). Aqui vemos a 
31Teologia Sistemática I | FTSA | 
necessidade de conhecimento para a vida e de esforço para que ele seja 
alcançado. Jesus, debatendo com os teólogos de sua época, afi rma: 
“Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o 
poder de Deus!” (Mateus 22:29). Lucas ao elogiar os crentes de Beréia, por 
sua postura no tratamento daquilo que era ensinado, indica um caminho 
para todos: “Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, 
pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos 
os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo” (Atos 17:11).
O apóstolo Paulo é aquele mais deu ênfase no uso da mente e da razão 
na busca do que ele chama de “pleno conhecimento” (epignosis) dos 
mistérios de Deus. Falando dos judeus, aqueles que foram responsáveis 
pela maior parte da escrita e transmissão da revelação presente 
no Antigo Testamento, ele critica a possibilidade de haver uma alta 
consideração por Deus mas sem o necessário entendimento: “Pois 
posso testemunhar que eles têm zelo por Deus, mas o seu zelo não 
se baseia no conhecimento” (Romanos 10:2). Até mesmo em atos que 
podemos considerar menos racionais, como a oração e o louvor, ele nos 
adverte: “Então, que farei? Orarei com o espírito, mas também orarei 
com o entendimento [noi = mente]; cantarei com o espírito, mas também 
cantarei com o entendimento” (1 Coríntios 14:15). Sua argumentação 
mais longa procura elaborar como se dá esse processo de iluminação 
para o conhecimento da revelação divina que ocorre em uma íntima 
relação entre o ser humano e sua mente, e o Espírito de Deus e sua mente, 
formando em nós o que ele chama de mente de Cristo (1 Coríntios 2:6-
16). Esse é o desafi o que está diante de nós.
4. Teologia, dúvida e, reflexão crítica
A curiosidade e a pergunta são marcas do ser humano desde muito cedo. 
Antes de conseguir falar, ainda engatinhando, as crianças, movidas por 
um cérebro ávido pela descoberta do mundo, se aventuram a testar e 
provar tudo o que está a seu redor. Logo depois surgem os por quês e 
os questionamentos que, muitas vezes, testam a paciência dos adultos. 
| Teologia Sistemática I | FTSA32
Grande parte dessa curiosidade que impulsiona o conhecimento vai sendo 
deixada para trás à medida que crescemos, provavelmente freada pelos 
limites e censuras impostas pelos ambientes, estruturas e instituições 
que passam a governar a vida e as relações humanas.
Os ambientes teológicos, principalmente os eclesiásticos, são, em sua 
maioria, cerceadores da dúvida. Os questionamentos são, de modo 
geral, vistos como afrontas aos dogmas e à fé. É claro que existem aí 
elementos de controle do discurso religioso e de manutenção do poder, 
não explícitos, exercidos por parte da liderança, nessa ação de restrição. 
Alguns chegam a aplicar o subterfúgio do uso impróprio de textos 
bíblicos como autenticadores dos mecanismos de tolhimento da dúvida 
(ex. Romanos 4:19-20; 14:23; Hebreus 6:11-12; Tiago 1:6-8). Estes textos 
procuram contrastar a atitude de fé, no sentido da crença e confi ança, 
com a atitude de falta de fé, ou seja, da falta de confi ança. Os textos, 
no entanto, não estão tratando da dúvida como expressão natural da 
curiosidade e propulsora da busca pelo conhecimento. Ainda assim, esta 
dúvida é tratada como falta de fé, pelo menos na teologia expressa por 
algumas instituições e grupos e, por isso, passa a ser repelida.
Podemos afi rmar que o fazer teológico necessita da dúvida para realizar 
a sua tarefa. Sendo a Teologia uma ciência investigativa e de constante 
construção, considerando o fato de ser, sobretudo, humana e fi nita, mas 
que busca a compreensão daquilo que é infi nito, é na curiosidade que 
ela se desenvolve. Às vezes, a dúvida, não necessariamente, conduz a 
descoberta de algo novo. Ela pode apenas confi rmar o que já se sabe 
diante de alguma nova situação ou contexto, ou ainda expressar aquilo 
que já se conhece de maneira mais adequada àquele contexto.
Exercício de reflexão - 04
Refl ita como a dúvida contribui para a sua refl exão pessoal e 
produção de teologia a partir de suas experiências e história de vida.
33Teologia Sistemática I | FTSA | 
4.1. A dúvida aplicada à busca pelo conhecimento
Minha intenção agora é explorar um pouco mais a ideia de que é na 
dúvida curiosa que podemos encontrar um fator motivador para a 
investigação teológica. Reforço a ideia de que este tipo de dúvida é 
diferente da falta de fé. Pelo contrário, é porque cremos em Deus que 
tentamos, curiosamente, compreendê-lo. Vale a pena trazer à mente que 
a fé é vivenciada diante de um paradoxo constante, como elaborado no 
evangelho de Marcos: “Se podes?, disse Jesus. Tudo é possível àquele 
que crê. Imediatamente o pai do menino exclamou: Creio, ajuda-me a 
vencer a minha incredulidade!” (Marcos 9:23-24). Na língua original as 
expressões creio (pisteuo) e incredulidade (apistia) possuem a mesma 
raiz, oriunda da expressão fé (pistis). Por isso, uma possibilidade de 
tradução seria: “tenho fé, mas ajuda-me na minha falta de fé”.
De modo semelhante, o apóstolo Paulo também aborda esse paradoxo da 
fé usando a experiência de Abraão. Em Romanos 4, ele elabora o tema da 
fé e da justifi cação, ou salvação, e diz que Abraão “contra toda esperança, 
em esperança creu” (v. 18). Ao explicar o paradoxo na experiência de 
Abraão, Paulo usa como referência o texto de Gênesis 17:17: “Abraão 
prostrou-se com o rosto em terra; riu-se e disse a si mesmo: Poderá 
um homem de cem anos de idade gerar um fi lho? Poderá Sara dar à luz 
aos noventa anos?”. A expressão rir-se (tsachaq), em hebraico, carrega 
a ideia de divertir-se, brincar, zombar, ou seja, caracterizando, no relato, 
um riso de dúvida. Comprovando a tese de que o autor de Gênesis está 
construindo a noção bíblica do paradoxo da fé, logo no capítulo 18, ele a 
expande usando quase que a mesma construção de frases anterior:
“Onde está Sara, sua mulher?”, perguntaram. “Ali na 
tenda”, respondeu ele. Então disse o Senhor: “Voltarei 
a você na primavera, e Sara, sua mulher, terá um fi lho”. 
Sara escutava à entrada da tenda, atrás dele. Abraão 
e Sara já eram velhos, de idade bem avançada, e Sara 
já tinha passado da idade de ter fi lhos. Por isso riu 
consigo mesma, quando pensou: “Depois de já estar 
| Teologia Sistemática I | FTSA34
velha e meu senhor já idoso, ainda terei esse prazer?” 
Mas o Senhor disse a Abraão: “Por que Sara riu e disse: 
‘Poderei realmente dar à luz, agora que sou idosa?’ 
Existe alguma coisa impossível para o Senhor? Na 
primavera voltarei a você, e Sara terá um fi lho”. Sara 
teve medo, e por isso mentiu: “Eu não ri”. Mas ele disse: 
“Não negue, você riu” (Gênesis 18:9-15).
Paulo, entretanto, opta por não aprofundar a discussão sobre a presença da 
dúvida proposta pelo autor de Gênesis e prefere destacar apenas o papel 
da fé ou da esperança que vence a desesperança. Ainda assim, olhando 
para as nossas próprias experiências de fé, sabemos que vivemos o dilema 
de crer que não existe “coisa impossível para o Senhor”, mas devido às 
circunstâncias e à desesperança, lutamos internamente afi rmando a nossa 
confi ança, olhando para o passado, e caminhando na reafi rmação dessa fé.
Se as coisas são realmente assim, não está em jogo aqui a fé em Deus e 
sim a busca pelo conhecimento gerada por uma dúvida curiosa que quer 
entender. Mais uma vez, recorro ao personagem Abraão para reforçar esse 
raciocínio. Curiosamente, o texto que quero usar como referência para 
a próxima argumentação encontra-se no mesmo capítulo 18 do livro de 
Gênesis, dos versículos 16 a 33. O relato da história apresentada possui uma 
construção bem interessante, parecendo querer ressaltar a importância da 
dúvida curiosa na construção da elaboração do pensamento teológico.
A narrativa de Gênesis 18:16-33 nos ensina que a dúvida teológica é lícita e 
própria, ela produz conhecimento e aprofundamento da relação com Deus. 
Abraão parece concluir que não apenaspode se aproximar de Deus com 
suas dúvidas e curiosidades, como também que o amor e a misericórdia 
de Deus são maiores que sua ira, afi nal, ele é essencialmente amor. Abraão 
não precisou questionar indefi nidamente, ainda que tenha sido necessário 
um longo processo de elaboração teológica. Em determinado momento, 
sua refl exão e o conhecimento obtido foram sufi cientes sanar a sua dúvida, 
aquilo que havia motivado a investigação teológica.
35Teologia Sistemática I | FTSA | 
4.2. A reflexão crítica aplicada à busca pelo conhecimento
Se a dúvida curiosa é a mola propulsora da investigação teológica, a 
refl exão é o seu caminho. Imagino que a origem do termo refl exão venha 
primeiramente da Física, do fenômeno que ocorre com a luz ao se propagar 
no meio e incidir sobre uma superfície. Explicando melhor, pensemos em 
um espelho. Quando estamos diante de um espelho, o nosso corpo, ou 
a luz emitida por ele, se propaga pelo ar, atinge a superfície do espelho 
e retorna para nós. Os nossos olhos, então, conseguem captar essa luz 
refl etida fazendo com que possamos nos enxergar. Esse é um processo 
contínuo. Enquanto houver luz e estivermos diante do espelho haverá 
refl exão. Aplicando esse conceito da Física, de forma metafórica ao 
pensamento humano, a refl exão seria o processo de idas e vindas de 
uma ideia em nossa mente. Por conseguinte, a refl exão crítica é aquela 
que consegue emitir opiniões e atribuir valores àquilo que é pensado.
Saiba mais
Refl exão crítica
Refl exão crítica é uma tomada de consciência; examinar ou analisar 
fundamentos e razões de alguma coisa. Refl etir criticamente é a 
atitude de investigar e para isso é necessário conhecer aquilo que é 
investigado, sem nenhum tipo de preconceitos e pré-conceitos.
Refl etir criticamente também é posicionar-se a partir de um conjunto 
de informações conquistadas com a pesquisa. Alguns termos usados 
quando se fala em refl exão crítica é não julgar o livro pela capa; não 
julgar o fato ou objeto sem antes conhecer criteriosamente suas 
intenções, origem, autores, etc.
Refl exão crítica é uma refl exão abrangente, questionadora e autônoma, 
é fazer com que um indivíduo vá além do que ele lê ou ouve, buscando 
diferentes perspectivas para analisar um mesmo fato. É o fato de 
não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as 
situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; 
jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido como 
um todo (http://www.signifi cados.com.br/refl exao-critica/).
| Teologia Sistemática I | FTSA36
Ressalto alguns pontos interessantes da defi nição apresentada sobre 
refl exão crítica:
Conhecer o que é investigado sem pré-conceito;
Posicionar-se a partir de um conjunto de informações conquistadas com 
a pesquisa;
Ser abrangente, questionadora e autônoma;
Ir além do que lê ou ouve;
Buscar diferentes perspectivas;
Não aceitar como óbvias e evidentes a existência cotidiana.
A maioria dos discursos teológicos que conheço, vindos dos crentes 
comuns e também de alguns líderes e pastores, segue o percurso inverso 
do proposto pela refl exão crítica. Há muito discurso pronto, pré-concebido, 
sem a devida pesquisa e de segunda mão. Há muito pouco conhecimento 
e sobra de preguiça. Poucos são os que conhecem a fundo a própria bíblia, 
a principal fonte de revelação. Muitos são os que ignoram as línguas 
originais, as formas literárias, a história, a geografi a, os contextos, mas têm 
a petulância de encerrarem discursos sem refl etirem minimamente.
A narrativa da experiência de Abraão é um exemplo de intencionalidade 
investigativa, porém, o apóstolo Paulo nos oferece um encaminhamento 
ainda mais interessante. A bíblia nos informa sobre o currículo de Paulo, 
de sua formação no judaísmo como alguém culto e como um teólogo bem 
preparado: “Fui instruído rigorosamente por Gamaliel na lei de nossos 
antepassados, sendo tão zeloso por Deus quanto qualquer de vocês 
hoje” (Atos 22:3); “fariseu, fi lho de fariseus” (Atos 23:6); “No judaísmo, 
eu superava a maioria dos judeus da minha idade, e era extremamente 
zeloso das tradições dos meus antepassados” (Gálatas 1:14). Todo o 
seu conhecimento da Lei e do judaísmo, no entanto, teve que ser revisto 
à luz do encontro com o Cristo ressurreto no caminho para Damasco. 
Para isso, ele passou três anos nas regiões da Arábia (Gálatas 1: 17-18) 
e calcula-se que ainda mais uns dez anos2 no anonimato antes de iniciar 
2 Este período é estimado com base nas datas oferecidas pelo estudo de Werner Kümmel 
(1982, p. 326).
37Teologia Sistemática I | FTSA | 
seu ministério missionário. O resultado foi a produção de muitos textos e 
a primeira sistematização da teologia cristã. Por isso, quero tomar o seu 
livro mais teológico e denso, que é a carta aos Romanos, para basear a 
minha defesa sobre a importância da refl exão no estudo da teologia.
Certamente Paulo também teve formação e conhecimento da cultura e 
fi losofi a grega, e ele parece usar a argumentação lógica e retórica na 
construção do texto de Romanos. No fundo, seu encaminhamento pode 
ser considerado didático e nos auxilia a prestar atenção no uso da refl exão. 
Paulo faz impressionantes setenta e quatro perguntas em sua carta3. 
Parece que ele tem a intenção de externar a dinâmica do seu próprio 
raciocínio, ou talvez antecipar os nossos possíveis questionamentos, 
ou, pelo menos, estimular a nossa refl exão. Esse método serve como 
exemplo daquilo que deveríamos fazer natural e constantemente diante 
do estudo e conhecimento de Deus, que são as perguntas e a busca por 
mais aprofundamento.
4.3. A autocrítica aplicada à busca pelo conhecimento
Considero que a maior virtude de um teólogo, e por que não dizer do 
crente, seja a humildade. Aquele que acha que sabe, tende à soberba. 
Pior, aquele que pensa que sabe algo sobre Deus corre o risco de querer 
ser ou agir como ele. Como diz Paulo:
Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do 
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os 
seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! Quem 
conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu 
conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o 
recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas 
as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém 
(Romanos 11:33-36).
3 Romanos 2:3, 4, 21-23; 3:1, 3, 6, 7, 8, 9, 31; 4:1, 3, 9, 10; 6:1, 2, 3, 15, 16, 21; 7:1, 7, 13, 24; 
8:24, 31, 32, 33, 34, 35, 9:14, 19, 20, 21, 22-24, 30, 32; 10:6, 7, 8, 14, 15, 18, 19; 11:1, 2, 4, 7, 
11, 15, 34, 35; 13:3; 14:10.
| Teologia Sistemática I | FTSA38
Paulo, que talvez tenha sido o maior teólogo bíblico, afi rma que os 
juízos e os caminhos de Deus são impossíveis de serem explorados ou 
investigados (insondáveis e inescrutáveis). Outra emblemática narrativa 
bíblica é a do livro de Jó em que ele e seus amigos procuram entender e 
formular teologias sobre o que teria acontecido na sua vida. Depois do 
longo desenrolar de argumentações, de todo tipo, Deus, simplesmente, 
apresenta uma série de perguntas a Jó, que fi cam sem resposta (Jó 38-
41), das quais destaco apenas as que estão na introdução do trecho 
apontado: “Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade. 
Disse ele: Quem é esse que obscurece o meu conselho com palavras 
sem conhecimento? Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe 
perguntas, e você me responderá. Onde você estava quando lancei os 
alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto” (Jó 38:1-4). 
Também o livro de Provérbios indica o caminho da sabedoria dizendo: 
“Confi e no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio 
entendimento [...] Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema ao 
Senhor e evite o mal” (Provérbios 3:5,7). E, é claro, lembramos a célebre 
expressão “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos 
humildes” (Tiago 4:6).
O reconhecimento da nossa incapacidade de compreensão e 
entendimento nos propõe um caminho de humildade e de busca 
constante. Igualmente, essa postura deveria trazer aos palcosonde 
ocorrem os diálogos e discussões teológicas o respeito pelo outro e 
a abertura para ouvir, sabendo que todos estão na mesma condição 
e busca. Por isso é necessário que façamos uma autocrítica sobre o 
nosso nível de conhecimento, estudo e maturidade. A grande maioria dos 
cristãos possuem pouco conhecimento. Isso se deve em parte à falência 
da chamada Escola Bíblica ou Escola Dominical que durante muito tempo 
serviu como formação para os membros das igrejas desde a infância. 
Outro motivo é a atual forte ênfase na experiência, mística ou sensorial, 
em detrimento do raciocínio e da aplicação das doutrinas na vida prática. 
A concentração da vida religiosa nas atividades do culto reforça ainda 
mais esse quadro. Os momentos litúrgicos que priorizam as experiências 
sensoriais têm recebido mais destaque do que os momentos de ensino. 
39Teologia Sistemática I | FTSA | 
Mesmo as mensagens têm tido um caráter mais apelativo às questões 
existenciais do que um foco na construção do conhecimento das 
doutrinas cristãs. As outras atividades, como as reuniões familiares, 
de grupos ou células, têm priorizado mais a comunhão e o reforço das 
mensagens dos cultos do que proposto algum currículo educacional às 
pessoas. O resultado disso é a falta de conhecimento generalizada e a 
superfi cialidade na fé.
Precisamos ser honestos nesse processo de autocrítica e admitir 
que a maior parte do conhecimento teológico não se dá pela via da 
investigação e estudo profundo. Ela se dá pela repetição daquilo que se 
ouve em sermões, palestras, estudos, conferências, letras de cânticos, 
testemunhos e experiências de outros. Para reverter essa situação, 
é preciso humildade, dedicação, esforço e abertura para trilhar esse 
caminho desafi ador de tentar conhecer a Deus.
Exercício de aplicação - 05
Levando-se em conta aquilo que foi discutido até aqui, na 
aplicabilidade da dúvida, da refl exão e da autocrítica na busca pelo 
conhecimento, podemos concluir que:
a) Toda essa postura é uma demonstração da falta de fé em Deus;
b) Toda essa postura nos move a um entendimento mais profundo;
c) Toda essa postura é uma tentação diabólica;
d) Toda essa postura é válida, mas apenas nos casos bíblicos;
e) Toda essa postura é fruto da confusão mental causada pelo 
pecado
Conclusão
A Teologia é uma atividade humana que deve ser encarada de maneira 
natural e responsável, ainda que possa ser desenvolvida e motivada pelo 
prazer da descoberta. Seu alvo fi nal é a vida, como um todo. A busca 
| Teologia Sistemática I | FTSA40
pelo entendimento da revelação, do projeto de Deus para o ser humano, 
pode se dar de maneira estruturada, sistematizada ou não, mas precisa 
ter a consciência de que é uma tarefa de todos os creem, incluindo as 
pessoas e as instituições que compõem esse ambiente.
A fé é algo profundo e complexo na vida humana. Pode-se dizer que ela é 
anterior a própria teologia. No entanto, a experiência de fé é um mistério 
que apenas nos insere em um outro universo que é o do conhecimento 
do objeto último da mesma. Na experiência de fé somos alcançados por 
Deus, mas após esse evento desvenda-se um caminho de busca pelo 
conhecimento desse mesmo Deus. Uma vez que temos a Palavra revelada 
como algo concreto, é ela que se constituirá no principal objeto de nossa 
busca pelo conhecimento de Deus, acima mesmo da experiência mística. 
É na Palavra que encontramos o fundamento comum e de concordância 
entre todos aqueles que tiveram a experiência fé.
É muito importante refl etirmos sobre a maneira como compreendemos 
a revelação divina. Se por um lado a revelação é algo dado, apresentada 
de forma extática e estática, não haverá espaço para a construções e 
discussões, muito embora tenhamos que reconhecer que na história cristã 
não tenhamos chegado a um entendimento único e universal sobre o seu 
conteúdo. Se por outro lado, a revelação se dá em meio a participação 
humana, tanto na sua produção quanto interpretação, nos vemos diante 
da grande tarefa de apresenta-la com uso de nossos recursos mentais, 
ao que denominamos como Teologia.
E é por meio da curiosidade, do questionamento ou da dúvida que busca 
esclarecimento que podemos encontrar um estímulo para o estudo. Essa 
busca pelo conhecimento não se dará sem o esforço do raciocínio, do uso 
das faculdades mentais e da refl exão crítica sobre aquilo que se estuda. 
Todo esse processo pressupõe o reconhecimento da nossa limitação 
frente a imensidão do ser de Deus. É a postura de humildade que nos 
permite escutar e dialogar com quem pensa diferente, além de estarmos 
abertos para o estudo e o conhecimento daquilo que ainda não sabemos.
41Teologia Sistemática I | FTSA | 
Enfi m, a Teologia é um discurso ou a composição dos nossos discursos 
sobre Deus. Ela é a expressão verbal, normalmente escrita, sobre o nosso 
entendimento acerca de Deus e da experiência de fé. Mesmo os textos 
bíblicos, entendidos como revelação, são os registros dos discursos 
do povo de Deus, por meio de vários autores e editores, referentes a 
tempos, espaços e contextos específi cos. Da mesma forma, as tradições 
teológicas registram os discursos daquilo que um ou mais grupos 
entenderam sobre Deus e a fé ao longo da história da igreja com todas 
as suas variações e vertentes. A nós, estudantes de Teologia, cabe a 
investigação, o estudo, o diálogo e a proposição de caminhos rumo ao 
futuro do Reino de Deus sobre a terra e a vida humana.
Referências
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 
1999.
HARRINGTON, Wilfrid J. Chave para a Bíblia: a revelação, a promessa, a 
realização. São Paulo: Paulinas, 1985.
KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: 
Paulinas, 1982.
MOLTMANN, Jürgen. Trindade e Reino de Deus: uma contribuição para a 
Teologia. Petrópolis: Vozes, 2000.
PANNENBERG, Wolfhart. Teologia sistemática. Volume 1. Santo André: 
Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2009.
SEPÚLVEDA, Juan. Características teológicas de um pentecostalismo 
autóctone: o caso chileno. In: GUTIÉRREZ, Benjamin; CAMPOS, Leonildo 
S. Na força do Espírito. São Paulo: Pendão Real, 1996.
SIGNIFICADOS. “Refl exão crítica”. Disponível em: http://www.signifi cados.
com.br/refl exao-critica/). Acessado em 01 de agosto 2015.
TILLICH, Paul. Teologia sistemática. 2 ed. São Paulo: Paulinas; São 
Leopoldo: Sinodal, 1987.
| Teologia Sistemática I | FTSA42
UNIDADE 2 – A ESTRUTURAÇÃO DA TEOLOGIA CRISTÃ
Introdução
A busca pelo conhecimento de Deus e a consequente produção da 
teologia como discurso humano é uma jornada de todos os crentes, 
vista tanto a partir de uma perspectiva individual quanto comunitária. Até 
aqui desenvolvemos algumas ideias gerais sobre a razão de ser desse 
discurso e a importância da fé, que surge na experiência, mas que tem na 
Palavra de Deus o seu principal objeto de estudo. Esta Palavra revelada 
por inspiração divina e compreendida pela ação iluminadora do Espírito 
de Deus, nos incita à investigação movida pela dúvida curiosa de quem 
procura conhecer o seu objeto de fé último. Assim nasce a teologia, como 
uma reação ao fato de termos iniciado esse caminho de conhecimento 
de Deus. E aí ela se apresenta com a intenção de compartilhar o 
conhecimento entre os que já creem, mas também de comunica-lo aos 
que ainda não conhecem.
No entanto, dado o volume de estudo — todas as Escrituras —, a 
necessidade de ferramentas de auxílio — história, arqueologia, línguas, 
etc. — bem como a preocupação da igreja na preparação de sua liderança, 
a teologia passou a ser estruturada de diversas formas ao longo da 
história. Outras motivações também contribuíram para a elaboração da 
teologia, que foi recebendo diferentes contornos e tratamentos. Apenas 
como exercício de análise e investigação, na tentativa de entender 
as nossas origens e herança, apresentarei um panorama histórico e 
conceitual de como a teologia se organizou no passado. Depois, indicarei 
alguns pressupostos importantes para a tarefa de fazer teologia.
De início temos

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