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02-25_-_b_Direito_à_vida

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC/Concórdia
Curso de Direito
Direito Constitucional II
Prof. Mauro J. Matté
Aula n. 03-B
(25-02-14)
DIREITO À VIDA
1 - Conceito
A vida é o principal direito individual, pois o exercício dos demais direitos depende da existência deste. 
De todos os direitos individuais é o direito à vida, indiscutivelmente, o mais relevante e a base de todos os outros. Em apertada síntese, é o direito de não ter interrompido o processo vital, senão pela morte espontânea e inevitável.�
Vida é o estado que se encontra o ser animado e morte é a cessação desta condição, diagnosticada como o fim das funções vitais. O tempo de vida das pessoas é contado em dias, meses e anos. Não se consideram as horas. Portanto, se a pessoa nasce ao meio dia, a meia noite completará um dia de vida.�
2 – Abrangência
O direito à vida compreende o de nascer, permanecer vivo (existência), defender a própria vida, de não ter o processo vital interrompido senão pela morte natural. Além disso, há uma outra acepção: a de ter uma vida digna (art. 1º, III e art. 170, da CF). 
Conforme será visto adiante, o conceito jurídico de vida envolve questões complexas, especialmente no que diz respeito ao seu início e término.
O art. 5º, caput, da CF, engloba o direito de não ser morto (salvo em caso de guerra - arts. 5º, XLVII, “a” e arts. 121 a 128 do Código Penal) e de ter uma vida digna. A vida digna é assegurada pela proibição de tortura, penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, respeito à integridade física e moral do preso e demais direitos assegurados ao mesmo (art. 5º, III, XLVII, “b” a “e”, XLIX, LXII, LXIII, LXIV, LXV). 
A vida não é um direito fundamental absoluto, pois o art. 5º, XLVII, “a”, da CF excepciona esse direito, permite sua relativização nos casos de guerra.
2.1 – Início da vida
A Constituição não define quando começa a vida e nem a partir de quando se inicia a proteção da mesma, deixando isso para a legislação infraconstitucional. O Código Civil, em seu art. 2º diz que ela é protegida desde a sua concepção.
Segundo o STF, o embrião congelado (art. 5º da Lei n. 11.105/05) não tem os mesmos direitos assegurados ao que foi implantado no útero (ADI 3510/DF). O STF entendeu que a utilização de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro, congelados a mais de três anos e com o consentimento dos genitores, podem ser utilizados para pesquisa, pois a pessoa física ou natural é somente aquela que sobrevive ao parto (ADI 3510). Para existir vida humana, é preciso que o embrião tenha sido implantado no útero humano. Tem que haver a participação ativa da futura mãe. O zigoto (embrião em estágio inicial) é a primeira fase do embrião humano, a célula-ovo ou célula-mãe, representa uma realidade distinta da pessoa natural, porque ainda não tem cérebro formado. Em outras palavras, a vida se inicia com a nidificação do óvulo no útero. Enquanto está sendo gestado no útero é nascituro� e se torna pessoa natural quando nasce (se desliga do ventre) com vida. O embrião é um ser vivo, é humano, todavia ainda não é uma pessoa humana.
O Nascituro tem capacidade de ser parte em processo judicial como autor ou réu, o qual é representado por sua mãe. É detentor de alimentos gravídicos (Lei n. 11.804/08). 
O Código Penal protege a vida antes do seu nascimento, após o nascimento (o de sobreviver) e mesmo depois da cessação desta (arts. 124 a 128, 121 e 122 e 209 a 210). O Código Civil (arts. 13 a 15) e a Lei n. 9.434/97 seguem a mesma linha.
Por outro lado, na ADPF 54 (que tratou da interrupção de gravidez de feto anencéfalo – Informativo do STF n. 661) o STF declarou que para existir vida humana precisa de atividade cerebral. Ver isso de forma mais aprofundada no item 3.7 a seguir.
2.1.1 – Diferença entre vida e personalidade
A pessoa física ou natural adquire a personalidade jurídica com o nascimento com vida (art. 2º CC). É um ente de existência visível. A Pessoa Jurídica é o ente de existência ideal. Nascituro é o concebido no ventre materno e que está por nascer. Não é pessoa, mas já possui direitos. Há três teorias a respeito:
a) Teoria Natalista: o nascituro não é pessoa e possui mera expectativa de direitos, só os adquirindo se nascer com vida (STF ADIn 3510 – Lei Biosegurança).
b) Teoria da Personalidade Condicional: o nascituro possui direitos sob condição suspensiva, pois ao nascer já possui alguns direitos como à vida, mas só adquire personalidade completa se nascer com vida.
c) Teoria Concepcionista: entende que o nascituro é pessoa desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais (alimentos – Lei 11.804/08; curador arts. 877 e 878 CPC; pode receber herança; ser indenizado por danos morais; pagamento de seguro aos pais pela morte de filho no ventre em acidente de trânsito - REsp 1.120.676).
O STF adotou a teoria natalista.
3 – Decorrências do Direito à Vida
 3.1 – Integridade física 
É o respeito absoluto à integridade corporal de todo e qualquer ser humano. A proteção a esse bem jurídico se manifesta no art. 5º da CF pela proibição de tortura (inc. III), proibição de penas cruéis (inc. XLVII, “e”) e proteção da integridade física aos presos (inc. XLIX). A Súmula Vinculante n. 11/08 do STF só autoriza o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou perigo a integridade física.
A integridade física pressupõe o direito de a pessoa não ter separada de si seus órgãos e tecidos. O STF, através da Reclamação 2040/DF (Glória Treves teve a placenta utilizada para exame de DNA) declarou que mesmo quando separado do corpo, a proteção constitucional permanece. A integridade física compreende:
3.1.1 -	Proibição de Venda de órgãos
A Constituição veda qualquer tipo de comercialização de órgãos e tecidos (art. 199, § 4º), mas permite a doação em vida ou após a morte pelos familiares (Lei n. 9.434/97). 
A diminuição do próprio corpo é vedada (art. 13 do CC). No entanto, é admitida a doação de órgãos para fins de transplante (art. 13, parágrafo único do CC). A retirada do órgão ou tecido pode se dar quando o doador está vivo ou após a morte do mesmo.
A doação de órgãos ou tecidos quando em vida, pode ocorrer mediante os seguintes requisitos (Lei n. 9.434/97):
a) Órgãos duplos ou regeneráveis;
b) Pessoas da mesma família (se não for, precisa da autorização do CRM);
c) Gratuidade;
d) Intervenção do MP - a qual, pode ser de forma administrativa (basta comunicar o MP). A Lei exige apenas a comunicação.
Doação de leite materno, sêmen, óvulo, medula e sangue não se exigem os requisitos acima (só a gratuidade).
A doação após a morte pode se dar do corpo como um todo ou de partes separadas de órgãos ou tecidos (art. 14 do CC). O beneficiário não pode ser escolhido. A lei estabelece uma fila. É nula a indicação de beneficiário pós-morte, mesmo para familiares. O ato de disposição é revogável a qualquer tempo.
O ato de disposição é sempre para depois da morte.
O art. 4º da Lei n. 9.434/97 colide com o art. 14 do CC, pois um diz que o consentimento é da família e o outro diz que é do titular. O Enunciado 277 JDC diz que se teve declaração do titular prevalece. No entanto, o entendimento que predomina é de que a família pode dispor, por ser norma especial. Pessoa indigente não pode ter extração de órgãos para transplante, mas podem ser usados para pesquisa (estudo da medicina).
3.1.2 -	Vedação de Auto-Amputação
A diminuição do próprio corpo (amputações de partes indesejadas - apotemnofilia ou amelotatista), mediante vontade própria é vedada (art. 13 do CC).
3.1.3 -	Autorização Para Intervenções Cirúrgicas
Toda intervenção médica ou cirúrgica depende do consentimento do paciente, exceto se houver necessidade urgente (art. 15 do CC). Pelo qual, não pode ocorrer internação forçada (só por exigência médica) e o paciente tem o direito de indenização por violação do médico do dever de informação ou pela ausência de informação adequada antes de se submeter a qualquerintervenção cirúrgica.
As Testemunhas de Geová se recusam a transfusão de sangue. Não há confusão entre o direito à vida e de liberdade de crença religiosa, pois, os dois pertencem a personalidade. O conflito é entre a integridade física e a liberdade de crença. A maioria entende que a integridade física prevalece e é possível a transfusão forçada. Alguns autores entendem que eles têm o direito de se recusar, pois na crença deles eles deixarão de pertencer à religião e não terão mais uma vida digna. Em se tratando de emergência, supõe-se que não há manifestação válida pelo seu estado clínico e a transfusão deve ser efetuada. O incapaz, menor de idade, também deve sofrer a transfusão.
3.2 - Integridade moral
A vida não se resume ao aspecto físico, envolve, também, valores imateriais, como os morais. A moral é uma valor ético-social de como ela é vista perante a sociedade, assim como, de como ela se sente perante os membros da sociedade. Pelo qual, se tornou um bem indenizável (art. 5º, V e X). 
A integridade moral envolve o bom nome, a boa fama e a reputação. São atributos necessários para que a pessoa possa conviver harmoniosamente em sociedade. Sem esses atributos, a pessoa fica reduzida à condição de animal. 
As ofensas à honra constituem crime (arts. 138 a 145 do CP).
3.2.1 – Nome da Pessoa Natural
Decorre do direito à vida da pessoa natural a sua correta identificação através da atribuição de um nome e seu respectivo registro. A lei determina que ao nascer seja atribuído um nome à pessoa física, sendo obrigação dos pais ou responsáveis efetuar o seu registro (art. 52 da Lei n. 6.015/73), o qual deve ser realizado, em regra, no prazo de 15 dias (art. 50 da Lei n. 6.015/73). O nome diz respeito a individualização da pessoa. Sendo o nome direito da personalidade, pertence a pessoa. A partir da maioridade tem um ano (até os 19) para promover a mudança de forma imotivada do nome (arts. 56 a 58 da Lei n. 6.015/73). Isso confirma que o titular tem o direito de escolher seu nome.
O nome tem três componentes: prenome; sobrenome (patronímico) e; agnome (art. 16 do CC). Prenome identifica a pessoa. Sobrenome ou patronímico identifica a origem familiar. Agnome é partícula diferenciadora para pessoas da mesma família e nome (filho, neto, sobrinho, segundo, etc.). Para gêmeos com mesmo nome é necessário.
3.2.2 – Integridade Psíquica 
A integridade psíquica está relacionada com o direito à honra, à privacidade. Tendo em vista que este direito fundamental, também, está ligado ao direito fundamental de segurança, ele será estudado mais adiante, na aula de “segurança”, mais especificamente no “direito de privacidade”.
3.2.3 – Integridade Intelectual
A integridade intelectual está relacionada à criação, é o direito de autoria ou autoral. Tendo em vista que este direito fundamental está mais relacionado ao direito fundamental de segurança, ele será estudado mais adiante, na aula de “segurança”, mais especificamente ao tratar da “proteção da imagem”.
3.3 – Temas Polêmicos Sobre a Integridade Física e Moral
3.3.1 – Mudança de Sexo
A Resolução 1.955/10 do Conselho Federal de Medicina - CFM reconhece que o transexualismo é doença. É uma patologia, porque há uma dicotomia entre sexo físico e o psíquico (corpo de um, sexo e cabeça de outro). A mente acaba atrofiando o órgão indesejado. A medicina recomenda tratamento psiquiátrico e se esse se demonstrar infrutífero pode ser efetuado o tratamento físico (cirurgia de mudança de sexo), o qual implica na mudança de registro civil. O STJ firmou entendimento de que transexual operado tem direito de mudar, tanto, o nome quanto o estado civil, não precisando constar o motivo (STJ Homologação de Sentença Estrangeira n. 1058 da Itália).
3.3.2 – Barriga de Aluguel
O termo conhecido como “barriga de aluguel” é a gestação em útero alheio. É permitido desde que respeite os seguintes limites: 
a) maioridade e capacidade da mãe biológica e da hospedeira; 
b) sejam ligadas por vínculos familiares; 
c) impossibilidade gestacional da mãe biológica (não pode ser um mero capricho); 
d) gratuidade do aluguel de barriga (barriga de comodato). Quando presente todos esses requisitos a maternidade é atribuída à mãe biológica e não à hospedeira. 
3.4 – Pena de morte
A pena de morte é a pena capital que consiste em tirar a vida do criminoso em função da gravidade do delito cometido ou do seu alto grau de periculosidade que ele oferece para a sociedade.
A pena de morte é proibida (art. 5º, XLVII, “a”), salvo em caso de guerra externa e nas restritas hipóteses estabelecidas no Código Penal Militar. Essa proibição decorre da existência de possibilidade de erro judiciário (irreversível), de que essa pena não contribui para a diminuição da criminalidade e o respeito ao princípio humanitário que visa a indisponibilidade desse direito, mesmo pelo Estado. 
No caso de guerra externa declarada (art. 84, XIX da CF) ela é permitida de forma excepcional, com o objetivo de preservar a defesa e soberania do Estado. A guerra interna ou civil não permite a pena de morte.� O Código de Processo Penal Militar prevê que a pena de morte em caso de guerra externa declarada deve ser executada mediante o fuzilamento. 
3.5 – Suicídio
O suicídio é o ato voluntário de tirar a própria vida. As decepções, dificuldades, dores, aborrecimentos, fanatismos e outras situações podem levar a pessoa a querer tirar a própria vida. No entanto, por mais dura que seja a jornada, ninguém pode evadir-se da mesma mediante a subtração da sua própria vida. 
A morte não é um direito subjetivo, pois, em outras palavras, a vida é um bem jurídico indisponível e pertence ao Estado ao qual cabe tutelar, inclusive quando as pessoas sofrem de doenças maníaco-depressivas com tendências de suicídio, devendo fornecer o tratamento adequado para que a preserve (STF – RE-AgR 393.175/RS).
O CP tipifica como crime o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122).
3.6 – Eutanásia
Eutanásia é o “homicídio piedoso” ou “morte doce”, realizada a pedido do próprio doente, ante a sua incurabilidade e sofrimento.� Ela pode ser ativa ou passiva (ortotanásia).�
Os que a defendem, alegam que a pessoa tem direito a uma vida digna e o sofrimento que esta se submete não atende a esse princípio. A minoração e abreviação do sofrimento através de uma morte digna atenderia isso.
No entanto, a Constituição Federal não acolhe essas teorias, pois não há faculdade para que o homem possa dispor de sua própria vida ou de sua morte.
A prática da eutanásia é punida como homicídio privilegiado (art. 121, § 1º, do CP).
3.7 – Aborto
Aborto é a interrupção da gravidez antes do seu termino normal, com a expulsão do feto do ventre materno de forma espontânea ou provocada.
Os que são contrários a legalização do aborto, defendem que: a) O direito à vida inicia com a concepção e qualquer medida descriminalizadora do aborto é insuficiente para proteger esse direito de forma adequada; b) A legalização do aborto poderia aumentar expressivamente o número de casos. Por outro lado, os favoráveis a legalização do aborto, defendem: a) Os direitos fundamentais da gestante, a autonomia reprodutiva e a liberdade de escolha; b) Direito à privacidade da mulher é amplo e suficiente para que ela possa escolher se deve ou não abortar; c) Direito à saúde pública, a fim de evitar abortos clandestinos.
Em função do que prevê o art. 5º, caput, da CF, a descriminalização generalizada de todo e qualquer tipo de abordo é tida por inconstitucional pelo fato de a vida ser um direito individual. Nem mesmo através de Emenda Constitucional é possível a sua viabilização (art. 60, § 4º, IV, da CF). No entanto, ele pode ocorrer quando devidamente justificado, para proteger um bem jurídico maior, como ocorre quando a gestação coloca em risco a vida da mãe ou quando a gravidez decorre da prática de estupro (art. 128, I e II, do CP).
O STF, através da ADPF 54 (que tratou da interrupção de gravidez de feto anencéfalo), julgou que o fetoque não formou cérebro (anencéfalo) não possui vida, pois esta se caracteriza pela existência de atividade cerebral. 
Anencefalia é a malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência parcial do encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural durante o desenvolvimento embrionário. Para o diagnóstico dessa anomalia, é necessária a constatação da ausência dos hemisférios cerebrais, do cerebelo e de um tronco cerebral rudimentar ou a inexistência parcial ou total do crânio. Ou seja, sob o ângulo biológico, o início da vida pressupõe não só a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, como também a sua viabilidade e o feto anencéfalo não apresenta essa condição.
O Conselho Federal de Medicina, mediante a Resolução 1.752/2004, consignou serem os anencéfalos natimortos cerebrais. Desse modo, eles jamais podem se tornar pessoas. O anencéfalo não tem vida em potencial, de sorte que não se pode cogitar de aborto eugênico a interrupção da gravidez deste, pois, para tanto, haveria de se pressupor a futura vida extrauterina. Por ser o anencéfalo absolutamente inviável, não seria titular do direito à vida, motivo pelo qual o conflito entre direitos fundamentais seria apenas aparente, dado que, em contraposição aos direitos da mulher, não se encontraria o direito à vida ou à dignidade humana de quem estivesse por vir. O feto anencéfalo, mesmo que biologicamente vivo, porque feito de células e tecidos vivos, é juridicamente morto, de maneira que não detém proteção jurídica. Tanto é, que o § 1º do art. 3º da Lei n. 9.434/97 conceitua a morte com o fim da atividade cerebral, de modo que seria impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do anencéfalo, natimorto cerebral. Pelo qual, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configura crime contra a vida, porquanto se revela conduta atípica.
Fora dessas situações o aborto afronta o direito individual à vida. Portanto, o aborto em função de deficiências físicas no feto (que não seja anencéfalo), de gravidez decorrente de relação extraconjugal, situação de pobreza dos pais e por outros motivos são inconstitucionais. 
3.8 – Tortura
É a imposição de qualquer sofrimento físico ou mental (moral), mediante violência ou grave ameaça, com a finalidade de obter informação ou confissão, para poder provocar qualquer ação ou omissão de natureza criminosa, em razão de discriminação racial ou religiosa, bem como forma de aplicação de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo a indivíduos submetidos à guarda do Estado ou de outra pessoa (art. 5º, III, XLIII e XLIX e Lei n. 9.455/97).
A Constituição procura preservar a higidez física e mental da pessoa.
4 – Extinção da vida
Ocorre com a morte e com ela os direitos relativos à vida (se extingue a personalidade). A morte é a cessação da vida e pode se dar pelo diagnóstico médico ou de forma presumida.
4.1 – Morte Diagnosticada
A morte é diagnosticada pelo fim das funções vitais do organismo: respiração, circulação e atividade cerebral. O diagnóstico da morte deve ser efetuado de acordo com os conhecimentos médicos existentes. Para fins de transplante a Lei n. 9.434/97 exige a verificação da morte encefálica.
Ou seja, em termos médicos, há dois processos que evidenciam o momento morte: o cerebral e o clínico. O primeiro consiste na parada total e irreversível das funções encefálicas, em consequência de causa conhecida, ainda que o tronco cerebral esteja temporariamente em atividade. O segundo é a parada irreversível das funções cardiorrespiratórias, com a finalização das atividades cardíaca e cerebral pela ausência de irrigação sanguínea, de maneira a resultar em posterior necrose celular.
Para fins de realização do registro de óbito, quando não for possível o atestado médico, o fato deve ser atestado por duas testemunhas (art. 77 da Lei n. 6.015/73).
4.2 – Morte Presumida
Quando o corpo da pessoa não é encontrado para diagnosticar a sua morte, está pode ser declarada judicialmente de forma presumida. A morte presumida pode ser sem a decretação de ausência (art. 7º do CC) ou com decretação de ausência (art. 22 do CC). Será sem decretação de ausência quando é extremamente provável a sua morte por ter estado em perigo de vida ou tenha desaparecido em guerra ou feito prisioneiro. Será com decretação de ausência quando a pessoa desaparece e dela não se tem notícias. Nessa última hipótese os bens da mesma são transferidos provisoriamente para os herdeiros e depois de um determinado período (dez anos) são transferidos definitivamente. 
BIBLIOGRAFIA
BERNARDI, Sílvia Waltrick. JANCZESKI, Célio Armando (coord.). Constituição Federal Comentada. Curitiba:Juruá, 2010.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21. ed., São Paulo:Malheiros, 2007.
BULOS, Uadi Lammêgo. Direito Constitucional. 4. ed., São Paulo:Saraiva, 2009.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed., Coimbra, Portugal:Almedina, 2003.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 8. ed., Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2007.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. ed., São Paulo:Malheiros, 2001.
� BERNARDI, Sílvia Waltrick. JANCZESKI, Célio Armando (coord.). Constituição Federal Comentada. Curitiba:Juruá, 2010, p. 48.
� BULOS, Uadi Lammêgo. Direito Constitucional. 4. ed., São Paulo:Saraiva, 2009, p. 444.
� Nascituro é o ser concebido no ventre materno, mas ainda não nascido, o qual possui diversos direitos, entre os quais o da sucessão (arts. 2º, 542, 1.798 e 1.799, I, todos, do Código Civil).
� BULOS, Uadi Lammêgo. Direito Constitucional. 4. ed., São Paulo:Saraiva, 2009, p. 448.
� BULOS, Uadi Lammêgo. Direito Constitucional. 4. ed., São Paulo:Saraiva, 2009, p. 446.
� Sobre o assunto, ver: BERNARDI, Sílvia Waltrick. Dignidade No Limite Da Vida E A Autonomia Do Paciente Sem Possibilidade Terapêutica De Cura Sob A Ótica Dos Direitos Fundamentais.