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Aula 02 – Fator de Segurança considerando a probabilidade de ruína. Prof.Dr. Paulo Márcio Fernandes Viana Introdução As fundações de uma obra são projetadas e executadas considerando a premissa básica do desempenho competente e da segurança - DS. Para tanto, uma investigação criteriosa e o acompanhamento pós-processo construtivo é de fundamental importância. Segundo Aoki e Cintra (2003) o principal papel da fundação é “receber e suportar as solicitações provenientes da superestrutura com segurança, economia e durabilidade”. Para Gusmão Filho (2006) as obras geotécnicas (fundações) quando não apresentam DS pode acarretar no não funcionamento, conforme previsto em projeto, podendo levar a ruptura com perdas de vidas e prejuízo. Sob qualquer aspecto negativo o Engenheiro irá responder a processo, por incerteza, dolo, negligência, omissão ou incompetência. Para quantificar o DS de uma obra existe a tendência da substituição da análise determinística pela probabilística (qual a probabilidade da obra em apresentar ruína?). Pode-se adaptar o item 5 da ABNT/NBR 6118 para obras de fundações, considerando uma obra com bom desempenho aquela que apresente: capacidade resistente, desempenho em serviço e durabilidade. O DS pode ser avaliado pela teoria das probabilidades que possibilita considerar o universo de ações e variações de valores que uma obra esta submetida. Para tanto, é de fundamental importância considerar o equilíbrio estático da fundação. A figura 1 apresenta o equilíbrio estático de um sistema de fundação. 1 Figura 1. Equilíbrio estático de um sistema de fundação (Aoki, 2002). No sistema apresentado na Figura 1 os carregamentos e resistências são variáveis, podendo apresentar dispersões que devem ser consideradas no cálculo. A Figura 2 apresenta um histograma de resistências (R) e solicitações (S) de uma obra típica. Solicitação (S) Resistência (R) f (%) FSP S F M R A FGA FGB B SM SK RKB RKA RM (S), (R) FSG Figura 2. Diferenças entre Fator de Segurança, Fator de Garantia e Fator de Segurança Parcial. 2 Basicamente, pode-se considerar de modo alternativo ao Fator de Segurança Global, o conceito probabilístico do Fator de Garantia (FG) ou do Fator de Segurança Parcial (FSP). M K S RFG [1] RmFSPFS ... [2] Onde: K M R M K S R R S S ; ; F = Coeficiente parcial de majoração das solicitações (O valor do coeficiente de majoração das solicitações F fixado na norma ABNT/NBR 8681 vale 1,4) e M = Coeficiente parcial de minoração das resistências (A ABNT/NBR 6122 fixa o valor mínimo do coeficiente de minoração das resistências M = 1,2 para obra controlada e de M = 1,5 para obra não controlada). Os valores de M e F são independentes e não deveriam ser fixados arbitrariamente, entretanto pode-se fixar valores mínimos (Aoki e Cintra, 2003). A solicitação e resistência característica podem ser definidas por: SMK SS .645,1 [3] RMK RR .645,1 [4] Os coeficientes de variação das solicitações e resistências são: M S S S [5] M R R R [6] Probabilidade de Ruína e Riscos Devido às incertezas inerentes das solicitações e resistências qual seria a probabilidade de uma concorrência entre as curvas do histograma? A Figura 3 ilustra as funções que compõem a probabilidade de ruína, bem como a 3 possibilidade de ocorrência de solicitações inesperadas coincidentes com resistências baixas. Isto de fato pode ocorrer afetando a estabilidade: no caso de combinações (resistência, solicitações e geometria), erros atípicos, eventos excepcionais, falta de manutenção, etc. No caso da funcionalidade, esta pode ser afetada por deformações, vibrações, fissuras e recalques excessivos. Ainda, com respeito à durabilidade: Agentes intempéricos. (Aoki, 2002; Gusmão Júnior, 2006). A obra deve ser dimensionada para atender os estados limites últimos – ELU e ELUt segundo definido pela ABNT/NBR 8681. Solicitação (S) Resistência (R) f (N) fS(x) fR(x) A PF x = (S), (R) Figura 3. Probabilidade de Ruína. (Aoki, 2002 – Modificado) A probabilidade total de ruína pode ser definida como sendo a área hachurada abaixo do ponto A. 0 ).().( dxSfRFP SRF [7] 4 A função PF esta representada pela linha pontilhada na Figura 3. Para cálculo da área hachurada tem-se A = FR(x) = FR(R). Fazendo a integração do produto desta função pela densidade de probabilidade de solicitação fS (y ≤ S) para valores de 0 ≤ y < ∞. Deste modo, quanto maior a área, maior a probabilidade de ruína e menos confiável é a fundação. Sharp (1975) adaptado em Gusmão Júnior (2006) apresenta a Tabela 1 considerando o potencial de risco de uma obra geotécnica. Tabela 1. Classificação do potencial de risco Sharp (1975) apud Gusmão Júnior (2006). Categoria Perdas de Vida Perdas econômicas Baixo Nenhuma Perda e não há casas na área Pequena ou desprezível Significativa Poucas Apreciável [Agricultura, indústria e a própria obra] Alto Mais do que poucas Excessiva Índice de Confiabilidade A Figura 4 apresenta o método Aoki e Cintra (2003). Figura 4. Método do índice de confiabilidade. Aoki e Cintra (2003). 5 Como apresentado na Figura 4 à ruína ocorrerá quando Z = 0 ou R ≤ S. O desvio padrão de Z é expresso: 2122 RSZ [8] E o índice de confiabilidade pode ser expresso como sendo: Z MM SR [9] Carga admissível e probabilidade de ruína A carga admissível correspondente a uma probabilidade de ruína PF, segundo proposta apresentada, pode ser estimada pela equação: ZMadm RP . [10] Em que: Padm = carga admissível correspondente a uma probabilidade de ruína PF; RM = Resistência média; – índice de confiabilidade e Z – Desvio padrão da margem de segurança Z. Considerando S = 0 resulta: ).1( RMadm RP [11] Em que: R = Coeficiente de variação da Resistência Média = R/RM. 6 Exemplo de aplicação Considere um estaqueamento para 12 pilares com estacas pré-moldadas de = 70 cm. A Tabela E1 apresenta a solicitação e resistência estimada em cada estaca. Calcule o FSi, FSG, FG, Verificar Coef. Parciais, a probabilidade de Ruína e a carga admissível deste estaqueamento. Tabela E1. Solicitação e resistência estimada em cada estaca. Pilar Estaca S (kN) R (kN) 1 1 800 1203 1 700 1203 2 700 1203 3 700 1203 2 4 700 1203 1 700 1203 3 2 700 1203 1 700 1266 4 2 700 1266 1 700 1266 2 700 1266 3 700 1266 5 4 700 1266 6 1 700 1266 1 650 1203 2 650 1203 7 3 650 1203 1 700 1203 2 700 1203 3 700 1203 8 4 700 1203 1 700 1203 2 700 1203 3 700 1203 9 4 700 1203 1 566,7 1266 2 566,7 1266 10 3 566,7 1266 1 712,5 1624 2 712,5 1624 3 712,5 1624 4 712,5 1624 11 5 712,5 1624 7 6 712,5 1624 7 712,5 1624 8 712,5 1624 1 712,5 1624 2 712,5 1624 3 712,5 1624 4 712,5 1624 5 712,5 1624 6 712,5 1624 7 712,5 1624 12 8 712,5 1624 Referências Bibliográficas ABEF – Associação Brasileira de empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia. Manual de Especificações de Produtos e de Procedimentos ABEF, 2aEdição, 282p, 1999. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT/NBR 6122 - Projeto e Execução de Fundações, 1996. Aoki, N. Novo conceito de carga admissível de fundação profunda baseado em probabilidade de ruína. Geosul´2002, p131-139; _NBR 6118 - Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado _NBR 6484 - Execução de Sondagens de Simples Reconhecimento dos Solos _NBR 7250 - Identificação e Descrição de Amostras de Solos Obtidos em Sondagens de Simples Reconhecimento dos Solos _NBR 8036 - Programação de Sondagens de Simples Reconhecimento dos Solos para Fundações de Edifícios _NBR 12069 - Ensaio de Penetração de Cone in situ (CPT) _NBR 6489 - Prova de Carga Direta Sobre o Terreno de Fundação _NBR 12131 - Estacas: Prova de Carga Estática _NBR 13208 - Estacas: Ensaio de Carregamento Dinâmico _NBR 8044 - Projeto Geotécnico _NBR 8681 - Ações e Segurança nas Estruturas _NBR 9061 - Segurança de Escavação a Céu Aberto 8 9 CINTRA, J.C.A, AOKI, N. Carga admissível em fundações profundas, EESC/USP:São Carlos:, 1999. GUSMÃO FILHO, J. Desempenho de Obras Geotécnicas. Recife: UFPE, 2006, 528p.
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