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geografia_e_ensino

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Metodologia do ensino 
de geografia
Vicente de Paula LeãoInês Aparecida de Carvalho Leão
PEDAGOGIA
Graduação
Vicente de Paula LeãoInêz Aparecida de Carvalho Leão
METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA
MEC / SEED / UAB2013
L433m LEÃO, Vicente de Paula Metodologia do ensino de geografia / Vicente de Paula Leão, Inêz Aparecida de Carvalho Leão. — São João del-Rei, MG : UFSJ, 2013. 89p. Curso de Graduação em Pedágogia. 1. Geográfia geral 2. Método I. CARVALhO LEÃO, Inêz Aparecida de II. TítuloCDU: 911
Reitor Valéria Heloísa KempCoordenador UAB Carlos Alberto RaposoCoordenadora NEAD/UFSJ Marise Maria Santana da RochaComissão Editorial: Fábio Alexandre Matos
 Alexandre Carlos Eduardo
 Geraldo Tibúrcio
 José do Carmo Toledo
 José Luiz de Oliveira
 Leonardo Cristian Rocha
 Geraldo Roberto de Souza(Presidente)
 Maria do Carmo Santos Neta
 Maria Rita Rocha Carmo
 Marise Maria Santana da Rocha
 Rosângela Branca do Carmo
 Terezinha Lombello
Edição Núcleo de Educação a Distância
 Comissão Editorial - NEAD-UFSJCapa/Diagramação 
 Eduardo Henrique de Oliveira Gaio
SUMÁRIO
PRA INÍCIO DE CONVERSA ............................................................................................ 07
UNIDADE 1 - O PROFESSOR DE GEOGRAFIA E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO 
DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ........................................................................... 09
1.1 - AÇÃO DOCENTE E CONHCECIMENTO GEOGRÁFICO .................................. 11
UNIDADE 2 - CATEGORIAS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS: PAISAGEM ............. 17 
1 - A PAISAGEM E SEUS ELEMENTOS ESTRUTURANTES ...................................... 19
2.1.1- A interdependência dos elementos da natureza e a paisagem ................................. 20
2. 2 - PAISAGEM E CULTURA ........................................................................................... 26
UNIDADE 3 - CATEGORIAS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS: LUGAR E 
TERRITÓRIO ....................................................................................................................... 33 
3.1 - O LUGAR ....................................................................................................................... 35
3.1.1 - Um lugar para chamar de seu ................................................................................... 40
3. 2 - O TERRITÓRIO .......................................................................................................... 45
3. 3 - O LUGAR E SUAS TERRITORIALIDADES ........................................................... 48
UNIDADE 4 - O ESPAÇO GEOGRÁFICO E SUAS MULTIDIMENSÕES ................... 57
4.1- O ESPAÇO GEOGRÁFICO ......................................................................................... 59
4. 2 - A CIDADE ONDE VIVEMOS ..................................................................................... 68
4.3 - CARTOGRAFIA ESCOLAR E REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO ...................... 77
PRA FINAL DE CONVERSA ............................................................................................... 83
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 84
5
“O conhecimento geográfico produzido na escola pode ser o explicitamento 
do diálogo entre a interioridade dos indivíduos e a exterioridade das 
condições do espaço geográfico que os condiciona”. (REGO, 2000, p. 08)
7
Para início de conversaEu percorro em automóvel a baía de Napóles, da Península de Sorrente, fechada ao sul pelo cabo Misena, onde os romanos tinham 
instalado a sua frota, nos Campos Flegreanos – é o seu limite ao 
norte. Decidi evitar as autoestradas. Sigo os painéis indicadores 
onde existem. Em outros lugares, guio-me pela paisagem: aqui, 
devo tomar o caminho da esquerda para me aproximar do mar e evitar o Vesúvio. Eis calçadas mal conservadas, em bairros comuns: 
saí sem me dar conta da via que seguia e que era ligeiramente mais 
importante que as outras; devo tomar a próxima rua à direita para reencontrar a estrada certa (CLAVAL, 2011, p.16).
Você já parou para pensar como todos nós utilizamos nossos conhecimentos geográficos 
todos os dias? Perceba quanto de geografia está presente na transcrição acima. Todos 
nós, em diferentes níveis, mobilizamos esses saberes, que vão desde a nossa capacidade de nos localizarmos a partir de referências como norte, sul, leste, oeste e/ou pontos de 
referência que podem ser uma montanha, uma árvore, um rio, uma península ou pontos 
culturalmente construídos, como uma ponte, um prédio, uma igreja, uma escola.
Quando perguntamos aos graduandos do Curso de Geografia e/ou Pedagogia “O que é 
Geografia?” ou “qual o objeto de ensino da Geografia”? Ouvimos respostas que evidenciam 
uma grande deficiência em relação à compreensão da Geografia enquanto ciência, o seu objeto de estudo e os seus conceitos básicos. É comum uma variedade enorme de respostas 
que deixam claro, tanto o desconhecimento absoluto de qual é o objeto de estudo da 
Geografia, bem como a definição desse objeto. Portanto, nosso primeiro passo é conhecer 
um pouco mais sobre o objeto de estudo da Geografia.
Não obstante o reconhecimento de que existem várias geografias (diferentes correntes do 
pensamento geográfico) e de que todos são livres para se alinhar a qualquer uma delas, 
acredita-se que alguns caminhos podem ser comuns e, portanto, devem ser considerados 
na construção do raciocínio geográfico. 
Uma reflexão sobre a epistemologia da Geografia nos permite uma opção fundamentada 
sobre o que ensinar. É fundamental que a escolha do que ensinar considere o aluno como interlocutor. Assim, devemos levar em consideração o seu espaço de vivência, para, no 
processo pedagógico, promover a interlocução desses saberes com o ensino de Geografia. 
8
Reconhecer o aluno como interlocutor é permitir que os seus conhecimentos prévios 
sobre Geografia sejam os mediadores da formação dos conceitos próprios desta ciência e 
das estratégias para comunicar esse conhecimento, bem como a importância desse saber 
no contexto social em que se encontra o aluno.
Acredita-se que o professor deve ser capaz de entender que os conhecimentos geográficos e seus conteúdos programáticos são meios para o desenvolvimento das competências e 
habilidades necessárias à aquisição de saberes necessários à leitura do espaço de vivência dos alunos.
Os Autores
9
O PROFESSOR DE GEOGRAFIA E O PROCESSO DE 
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO 
“Eu atravesso as coisas — e no meio da travessia não vejo! só estava 
era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o 
senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai 
dar na outra banda é num ponto mais embaixo, bem diverso do 
que em primeiro se pensou [...]. O real não está na saída nem na 
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia [...]”. (ROSA, 1986, p 26-52) 
Objetivo 
•	 Entender os pressupostos básicos que norteiam o trabalho do professor na 
construção do conhecimento geográfico e do seu ensino nas séries iniciais.
unidade 1
10
11
unidade 1
1.1 - AÇÃO DOCENTE E CONHCECIMENTO GEOGRÁFICO
A ação docente requer uma reflexão constante sobre “O que ensinar” “Como Ensinar” 
e “Por que Ensinar”. O professor deve se fazer essa pergunta constantemente. Diante 
das inúmeras possibilidades, o professor deve definir quais conteúdos deve ensinar para 
determinada faixa etária e nível de escolaridade. É importante, ao definir “o que ensinar”, 
entender que os conteúdos não possuem uma estrutura própria; por essa razão, dependem 
da ciência de referência da qual fazem parte.
A definição sobre o que ensinar exige a compreensão de que os conteúdos dispostos de forma fragmentada não possuem uma estrutura própria. Assim, a escolha dos conteúdosrequer uma reflexão epistemológica sobre a Geografia. Isso permite, no processo 
pedagógico, uma escolha fundamentada sobre o que ensinar. Segundo Amorim, “poucos 
geógrafos ao longo da história sentiram necessidade de refletir sobre as bases da geografia. 
A maioria nem se dava conta de que uma suposta epistemologia implícita fundamentava 
a sua prática”. (2002, p.77)
Entre as várias geografias ensinadas na graduação e na escola básica, é possível encontrar 
pontos de convergência que possibilitem a construção de uma linguagem comum para a 
aquisição do raciocínio geográfico. A construção dessa linguagem deve estar presente na 
formação do graduando e no ensino da Geografia na escola básica. 
Entende-se que a prática se encontra fundamentada pela epistemologia. Assim, o 
reconhecimento do objeto de estudo da Geografia é o primeiro passo para uma reflexão 
teórica sobre fundamentos e métodos dessa ciência. Para Santos,
O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da 
própria sociedade que lhe dá vida. Todavia, considerá-lo assim é uma 
regra de método cuja prática exige que se encontre paralelamente 
através da análise, a possibilidade de dividi-lo em partes. Ora, a 
análise é uma forma de fragmentação do todo que se caracteriza 
pela possibilidade de permitir, ao seu término, a reconstituição desse todo. (1982, p.19)
Conhecer Geografia é o primeiro passo para ensinar Geografia. Esse conhecimento 
permite, no processo pedagógico, definir “o que ensinar”. Ao trabalhar temas como 
relevo, hidrografia, população, urbanização, por exemplo, é importante saber que esses 
conteúdos devem guardar estreita relação com o objeto de estudo da Geografia, que é o 
12
espaço. Os conteúdos ganham sentido quando articulados com a ciência de referência. 
Para tanto, os professores precisam entender que estes conteúdos e as categorias mais 
gerais carregam em si a estrutura lógica da Geografia. A aquisição de conceitos básicos 
desta ciência conduzirá à capacidade de abstração e de generalização, ou seja, pensar os fenômenos estudados em diferentes escalas tendo como referência a escala do cotidiano, o espaço vivido pelo aluno. 
O professor preocupado apenas com o progresso da ciência não desenvolve habilidades inerentes ao ato de ensinar. Já os professores preocupados com a ciência e com a aprendizagem dos alunos buscam, constantemente, conhecer para ensinar. O “saber 
ensinar” encontra-se fundamentado pela didática (como ensinar) e exige do professor 
habilidade para, no diálogo com os alunos, promover a ressignificação dos saberes por 
meio da interlocução didática. É desse encontro/confronto de significados (Geografia do 
professor e Geografia dos alunos) que nasce o “saber ensinado”.
Para Chevallard, “os saberes escolares devem se aproximar ao máximo dos saberes 
científicos de referência. Por mais que o saber escolar seja distinto do saber científico.” 
(1995, p. 23) O professor deve legitimar a sua prática pelo “pensar geográfico”.Conforme Callai ,
Percebe-se, assim, a importância da linguagem, como construção 
social e cultural, nas práticas de ensino, entendendo que sua essência 
é a de significar, ou seja, dar significado, atribuir significado às coisas 
(etimologicamente, ensino é exatamente isso – ensinar, dar signos). 
Para desenvolver, então, um modo de pensar geográfico, é preciso 
que os alunos, ao lidar com os signos e representações, formem 
conceitos que instrumentalizem esse pensamento. Esses conceitos 
permitem aos alunos localizarem-se e dar significados aos lugares e 
às suas experiências sociais e culturais, na diversidade em que elas se realizam. (2006, p. 73)
O professor comprometido com a aprendizagem dos alunos preocupa-se com o 
conhecimento a ser ensinado e com os procedimentos didáticos que permitirão a 
transformação dos conteúdos específicos em aprendizagem. É comum a ideia de que 
para ser professor basta dominar determinado conteúdo de uma ciência. É certo que 
o conhecimento do que ensinar é uma condição prévia, visto que as práticas não se 
desenvolvem no vazio. Contudo, é fundamental entender que, conforme Freire, “ensinar 
13
unidade 1
13
não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou 
a sua construção”. (2004, p.47), 
Os alunos devem ser estimulados para o exercício da autonomia, precisam pensar de 
forma independente para que sejam capazes de, no seu percurso de vida, se apropriar 
dos conhecimentos propiciados pelo meio no qual se materializará sua ação. Nesse 
sentido, retornamos às três perguntas iniciais “o que ensinar” (conteúdos específicos e sua 
articulação com a ciência de referência); Como ensinar (saberes inerentes à ação docente 
e ao tratamento didático adequado para o ensino de determinado conteúdo) e por último “por que ensinar”. O professor formador não deve preocupar-se apenas com o conteúdo 
a ensinar, pois sua conduta profissional, seus valores éticos, seu compromisso com um 
ensino transformador e libertário e com sua profissão são fonte de inspiração para os 
licenciandos. A escola e o ensino de Geografia cumprem um importante papel social e 
político na formação dos educandos. Conforme Freire “ensinar exige a corporificação 
da palavra pelo exemplo” (2004, p. 34). Somente um professor comprometido com a 
democracia, com princípios éticos e com a valorização da vida poderá inspirar seus 
alunos. Seus exemplos e os valores por ele defendidos inspiram para a liberdade e para 
a construção de uma sociedade mais justa. Assim, ao se perguntar: por que ensinar? O professor estará buscando sentido para sua ação. Conforme Freire, “Me movo como 
educador porque, primeiro, me movo como gente”. (2004, p. 94) Portanto, é fundamental 
que o ensino de Geografia, usando um termo freiriano, esteja impregnado de sentido. 
Sobre o ensino de Geografia, Sene afirma que
Podemos ensinar uma geografia mais interessante, dinâmica e útil 
tornando a relação ensino-aprendizagem gratificante e prazerosa. 
Para tanto, acreditamos que é importante: Aproximar o discurso 
geográfico do dia a da dos estudantes; Romper com a dicotomia 
Geografia física/ geografia humana; Discutir novas temáticas (e atualizar antigas) e incorporar ao nosso instrumental as novas 
tecnologias que têm surgido com a revolução técnico-científica; 
Somar à nossa linguagem específica – a cartografia – outras linguagens (literatura, poesia, artes plásticas, música, história em 
quadrinhos, caricatura, fotografia etc.) e os meios de comunicação 
através dos quais elas são veiculadas (cinema, rádio, televisão, jornal, internet etc.), assim como os lugares do cotidiano onde 
essas manifestações aparecem: ruas, praças, exposições, feiras etc. Valorizar os conceitos, categorias e procedimentos próprios da nossa disciplina. (2010, p. 4)
14
Nosso propósito é refletir sobre a Geografia, seu objeto de estudo e categoria de análise 
e a importância de seu ensino na Escola Básica. Mas qual Geografia deve estar presente 
no curso de formação de professores? Nas palavras de Monteiro, “Diferentes geografias 
ou disciplinas geográficas tendem a se cristalizar ao sabor dos impulsos ideológicos, 
pretendendo cada ramo estruturar-se em saberes constituídos.” (1998, p.133 apud hISSA, 
2002, p. 227) Busca-se estabelecer alguns pressupostos teóricos da Geografia como 
ciência e como disciplina escolar. Como afirma Paganelli, 
[...] se, para os alunos que ingressam no curso de Geografia, o conhecimento 
do pensamento geográfico os induz em questões epistemológicas e 
metodológicas dos objetos de análise da Geografia, para os licenciados atuantes em uma prática de ensino, a análise das correntes da ciência, 
dos conceitos e categorias permite-lhe definir melhor os objetivos da 
Geografia como disciplina escolar, realizar a passagem dos conteúdos 
da ciênciaà disciplina escolar, ou seja, situar o papel da Geografia nos 
currículos do ensino fundamental e médio, tendo claro o papel educativo 
da Geografia na escola e na sociedade. (2006, p. 150)
Nas unidades que se seguem trataremos de algumas categorias de análise da Geografia 
que permitem o entendimento do objeto de estudo desta ciência e o papel da Geografia 
escolar na escola básica. Começaremos pelo conceito de paisagem; mas, antes de iniciar 
a próxima unidade, assista ao vídeo “Conceitos básicos da Geografia” do professor José Willian Vesentini. 
 SAIBA MAIS...
Conceitos básicos da GeografiaDisponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=kWeDhaNelyk&feature=related>. Acesso em: 25/11/2012
 ATIVIDADES1- No vídeo sobre conceitos básicos da Geografia, o autor apresenta o conceito de 
escala geográfica. Tendo como referência esse conceito, explique qual a importância 
de ensinar Geografia na escala em que os fenômenos são percebidos pelos alunos da escola básica.
15
unidade 1
2- Leia a frase abaixo:
“Para desenvolver, então, um modo de pensar geográfico, é preciso que os alunos, 
ao lidar com os signos e representações, formem conceitos que instrumentalizem 
esse pensamento.” (CALLAI, 2006, p. 73)
Exemplifique o que a autora afirma no texto.
17
CATEGORIAS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS: PAISAGEM
A vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo 
lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe 
ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; 
o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que 
as nossas próprias sensações; nelas, (...) temos que fundamentar a realidade da nossa vida. Fernando Pessoa (1982, p. 223)
Objetivos 
•	 Entender a importância do conceito de paisagem na Geografia e a relação entre 
forma e conteúdo como constituintes do espaço geográfico, bem como a forma como os elementos da paisagem são percebidos.
•	 Compreender as atribuições de valores simbólicos de cada cultura e aqueles que 
atribuímos individualmente às formas percebidas pelos nossos sentidos.
unidade 2
19
unidade 2
2. 1 - A PAISAGEM E SEUS ELEMENTOS ESTRUTURANTES
Certamente, se você pedir para os seus alunos definirem o conceito de paisagem, eles 
escreverão sobre aspectos estéticos da paisagem. Em seu conceito cotidiano a paisagem está associada ao belo. Conforme Cavalcanti, 
Para os alunos, buscando seus conceitos cotidianos, há que considerar 
as relações muito fortes que fazem entre o conceito de beleza; para 
eles a paisagem é uma vista bonita, um lugar panorâmico, belo muitas vezes intocado ainda pelo homem. há uma associação entre paisagem e natureza. É sempre uma imagem idealizada e estática. (2006, p. 38)
Contudo, de acordo com o geógrafo Milton Santos, a paisagem é “tudo aquilo que nós 
vemos o que nossa visão alcança. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo 
que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, 
odores, sons etc.” (1988, p. 61). Se a paisagem é o que percebemos através dos nossos 
sentidos, ela existe a partir da forma como vemos o mundo: é, portanto, resultado da 
subjetividade do nosso olhar. Através do olhar selecionamos o que é importante e que possui sentido para nós. Os objetos da paisagem são percebidos de forma diferente pelas 
pessoas. Veja a foto que segue.
FIGURA 01 - Rio de janeiroFonte: Google imagens, 2012.
20
 ATIVIDADES
O que você percebe observando essa foto? Utilize o Fórum de debate e escreva sobre essa paisagem. Depois compare com as respostas de seus colegas.
Com seus alunos da escola básica você poderá desenvolver uma atividade pedindo que eles saiam da sala de aula e, após percorrerem um determinado trajeto, fotografem e/ou 
desenhem um elemento da paisagem da escola, depois peça que cada aluno explique por 
que ele escolheu aquele aspecto da paisagem. Você perceberá que os alunos apresentarão 
fotos diferentes: isso ocorre porque a percepção da paisagem é seletiva. A partir desses relatos reconstitua as diferentes paisagens, percebidas por cada aluno e faça-os perceber 
que, embora tenham percorrido o mesmo trajeto e observado as mesmas paisagens os 
objetos fotografados serão diferentes. Vemos através do filtro do nosso olhar, de olhares carregados de história e cultura. 
A sistematização do conceito de paisagem proposta por Cavalcanti (2006, p. 38) apresenta 
a relação entre forma e conteúdo. O visível é a forma e encontra-se na superfície, enquanto 
o conteúdo é a essência e guarda o movimento dos elementos da natureza e da sociedade. 
Os solos e o relevo terrestre, os rios, a vegetação são resultados da dinâmica da natureza. A interdependência desses elementos com o clima forma as paisagens. Entender como 
esses elementos atuam na formação do solo é fundamental para que o homem possa conhecer os limites e possibilidades na natureza e, assim, planejar de forma mais racional suas ações. 
2.1.1- A interdependência dos elementos da natureza e a paisagem
A fauna, a flora e o relevo guardam evidências de que em um passado distante os continentes 
estavam unidos. Através dos movimentos das placas tectônicas, conhecido com Tectônica 
de Placas, estes continentes foram separados e ganharam a forma que conhecemos hoje. Veja na ilustração seguinte.
21
unidade 2
Tectônica de Placas
FIGURA 02 - Tectônica de PlacasFonte: Wikipedia, 2012.Juntamente com a Tectônica de Placas o Vulcanismo constitui um importante agente 
interno na criação do relevo e na composição dos gases que formam a nossa atmosfera. 
Veja na imagem que segue a formação do Monte Fuji no Japão e de um lago na Islândia, a partir da ação do vulcanismo.
FIGURA 3 - Monte Fuji no Japão. Fonte: Ebah, 2012
22
Nas imagens seguintes é possível visualizar a formação de um lago em uma cratera de um 
vulcão que, ao longo dos anos, deixou de ser ativo.
FIGURA 4 - Lago na Islândia. Fonte: Ebah, 2012
Outros agentes externos do relevo seguem seu trabalho constante na modelagem do relevo 
e na formação dos solos. Veja, nas palavras de TEIXEIRA, a ação dos agentes externos chamados de intemperismo.
O intemperismo é o conjunto de modificações de ordem física 
(desagregação) e química (decomposição) que as rochas sofrem ao 
aflorar na superfície da Terra. [...] Os fatores que controlam a ação do intemperismo são o clima (variação sazonal de temperatura 
e distribuição das chuvas), o relevo, (que influi no regime de 
infiltração e drenagem das águas), a fauna e a flora (fornecem 
matéria orgânica para reações químicas e remobilizam materiais), a rocha parental (com resistência diferenciada aos processos de 
alteração intempérica) e, finalmente, o tempo de exposição da 
rocha aos agentes intempéricos. (2009, p. 40)
Nas imagens seguintes, é possível constatar a influência do intemperismo na modelagem das paisagens.
23
unidade 2
23
FIGURA 5 - Formas de intemperismo. 
Fonte: Meioambiente.culturamix, 2012.
O intemperismo, entre outras coisas, é o responsável pela formação dos solos; sendo 
assim, dele depende a vida no planeta, uma vez que sobre os solos estão as plantas que se 
encontram na base da cadeia alimentar. Veja na imagem que segue a ação dos organismos 
vivos no solo que geram o intemperismo biológico.
FIGURA 6 - O solo 
Fonte: Mariana Ideias Fora da Caixa, 2012.
24
A paisagem se forma pela interdependência dos elementos da natureza; é, portanto, resultado de forças de diferentes agentes como vulcanismo, tectonismo, clima, rios, vegetação, ciclo da rocha etc. Todos esses agentes em movimento, ao longo de milhões de 
anos, deram origem às paisagens e continua sobre elas interagindo. Veja, nas palavras de hissa como se dá a interdependência dos elementos da natureza na formação da planície, 
A planície é o rio. Ela não existe sem a sua presençarecortante, 
líquida e paciente. Em seu trabalho secular, o rio é veículo de 
transporte. Carrega partículas menores nas estações secas; abandona as maiores nas curvas mais lentas do conjunto de 
seus meandros: entretanto, quando chega o verão chuvoso, o rio 
solidário acolhe a tempestade e transforma-se nela. Assim, além de 
partículas menores, quase sempre conduzidas, ele carrega ainda grandes blocos de pedra e pesados troncos de madeira. Tudo desce com a tempestade do rio. Ao longo do tempo secular, trabalham 
juntos na modelagem da planície, os ventos e os furacões que invadem os continentes, as águas das tempestades, os materiais carregados para o nível de base desde o topo mais elevado da 
vertente, as finas águas de inverno e o próprio. Outros elementos 
da Natureza também contribuem para o avanço da obra sempre inacabada. (2002, p. 22),
Quando olhamos a paisagem enxergamos apenas o rio, a planície e sua vegetação. Contudo, vários agentes da natureza (invisíveis) estão atuando para sua construção e modelagem. 
Veja na foto abaixo um exemplo do que se diz.
FIGURA 7 - Planície FluvialFonte: Google, 2012.
25
unidade 2
 SAIBA MAIS...Veja mais paisagens associadas ao vulcanismo emhttp://www.ebah.com.br/content/ABAAABhNcAE/vulcanismo
Com os seus alunos da escola básica você poderá pedir que estes fotografem elementos 
da paisagem natural e, a partir dessas imagens, reflitam sobre os elementos da natureza 
que atuaram para sua formação. Você ainda poderá construir uma maquete do relevo de alguma parte da sua cidade. Veja no link http://domfelipe.humanas.zip.net/
FIGURA 8 - Maquete do relevoFonte: Domfelipe.humanas, 2012
Complemente as informações trabalhadas nesta unidade assistindo aos vídeos que 
seguem. Eles possuem uma linguagem didática que possibilitará um maior entendimento 
das questões presentes nessa unidade.
 SAIBA MAIS...Para conhecer mais sobre esses temas assista aos vídeos:Planet Earth: Amazing nature scenery
http://geographicae.wordpress.com/category/geographicae-tv/
26
Como Nasceu Nosso Planeta
http://www.youtube.com/watch?v=NvTPoOxAusw&feature=related
O antigo Amazonashttp://www.youtube.com/watch?v=genLd4StCb0
O solohttp://www.youtube.com/watch?v=TNciROVbLbg
A terra vista do espaço
http://www.youtube.com/watch?v=3JlLbxJpyWk&playnext=1&list=PL16D354AB62BDB1E4&feature=results_main
 ATIVIDADEApós assistir aos vídeos, você deverá produzir uma sinopse para esses vídeos: 
Como Nasceu Nosso Planeta; O solo; O antigo Amazonas. Ou seja, imagine que 
você é o responsável pela divulgação desses documentários e terá que convencer outras pessoas a assistirem. Quais argumentos você usaria?
2. 2 - PAISAGEM E CULTURA
Outra possibilidade de estudo da paisagem refere-se às atribuições de valores simbólicos 
a estas paisagens. Através da nossa cultura atribuímos sentidos e valores aos objetos 
observados. Veja um exemplo: 
O que você pensa sobre a foto que segue?
FIGURA 9 - A CaabaFonte: Wikipedia,2012
27
unidade 2
OBS: A Caaba é uma construção cúbica de 15,24 metros de altura e é cercada por muros de 10,67 metros e 12,19 metros de altura. Ela está permanentemente coberta por uma 
manta escura com bordados dourados que é regularmente substituída. 
Muitos devem ter pensado “Como é estranho pessoas reverenciarem uma pedra!”. Agora veja a foto seguinte.
Figura 10 - A CruzFonte: Canção Nova, 2012.
Alguém achou estranho um grupo de pessoas reverenciando dois pedaços de madeira cruzados? 
A cruz, para os cristãos, possui um significado religioso, ela é reverenciada em memória 
de Cristo, que nela foi crucificado. Já a Caaba possui um significado para os muçulmanos. 
Através do filtro do nosso olhar atribuímos valor e sentido aos objetos. Os valores e os 
usos dados aos objetos são, portanto, resultado da cultura e do meio em que vivemos. No 
meio rural, o berrante é um instrumento de trabalho para o boiadeiro, mas, para quem 
vive nas cidades, é apenas um ornamento. O mesmo objeto possui usos diferentes, que 
mudam de acordo com o lugar em que ele se encontra. Para Cavalcanti ,
No ensino da Geografia, é necessário a formação do conceito de paisagem, 
que pressupõe a concepção de que os espaços têm uma forma que 
expressa seu conteúdo (o movimento social), de que a paisagem revela as relações de produção da sociedade, seu imaginário social, suas crenças, seus valores, seus sentimentos. (2006, p. 38) 
28
Sem desconsiderar os conceitos cotidianos dos alunos, o professor deve buscar o diálogo que possibilite novas formas de entendimento da paisagem. O aluno deve ser instrumentalizado 
com o pensamento crítico e ser capaz de superar os aspectos superficiais da paisagem 
para chegar ao seu significado. Segundo os PCNs do Ensino Médio de Geografia 
como uma unidade visível do arranjo espacial que a nossa visão 
alcança [...]. A paisagem é percebida pelos sentidos e nos chega de maneira informal ou formal, ou seja, pelo senso comum ou de modo 
seletivo e organizado. Ela é produto da percepção e de um processo seletivo de apreensão, mas necessita passar a conhecimento 
espacial organizado, para se tornar verdadeiro dado geográfico. 
A partir dela, podemos perceber a maior ou menor complexidade da vida social. Quando a compreendemos dessa forma, já estamos 
trabalhando com a essência do fenômeno geográfico. (1999, p.312),
Assim, o estudo das paisagens nos permite revelar os processos – naturais ou humanos – 
que estiveram e estão presentes na sua constituição em diferentes tempos. Rolnik afirma: 
É como se a cidade fosse um imenso alfabeto com o qual se montam 
e desmontam palavras e frases. É esse aspecto que permite que o próprio espaço da cidade se encarregue de contar a sua história. A 
consciência disso leva, hoje, a que se fale muito em preservação de 
bens arquitetônicos, isto é, a não-demolição de construções antigas. 
Trata-se de impedir que esses textos sejam apagados. (1998, p. 33)
O patrimônio cultural da humanidade, materializado na paisagem, constitui esse imenso 
alfabeto, como afirma a autora, uma vez destruídos, perdemos um importante instrumento 
para entendermos a cultura e as identidades das sociedades que ali existiram. 
A paisagem é apreendida de forma individual. Para chegarmos ao seu significado, é necessário superar seus aspectos aparentes. Para Santos, 
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a 
realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; 
dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre 
deformada. Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como 
aspecto, para chegar ao seu significado. A percepção não é ainda 
o conhecimento, que depende de sua interpretação, e esta será 
tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por 
verdadeiro o que é só aparência. (1988, p. 62)
29
unidade 2
Para não corrermos o risco de tomar como verdadeiro, o que é só aparente é necessário 
buscarmos um olhar que transite da aparência à essência. Para isso, é fundamental 
trabalhar o conceito de paisagem de tal modo que seja pensado em conjunto com outras 
categorias de análise da Geografia. 
Veja, na imagem seguinte, a sistematização do conceito de paisagem proposto por Cavalcanti (2006, p.38).
Figura 11 - Sistematização do conceito de paisagem
A sistematização proposta pela autora ajuda-nos a entender algumas questões trabalhadas 
nesta unidade. A paisagem é a forma, e sua constituição depende da interdependência 
dos elementos da natureza e da ação humana. A percepção da paisagem é seletiva e está 
associada à história de vida e à cultura dos sujeitos. De acordo com Hissa e Oliveira,
Formas, superfícies e paisagens são feitas de imagens. A geografia propõe-se ao seu estudo, buscando a sua compreensão, a sua leitura, a sua representação, a sua interpretação. Pode-se dizer 
que seja disso feita a geografia, para que se restrinjaàs definições 
30
e compreensões tradicionais da disciplina: do estudo que procura 
desenvolver sobre superfícies, formas, paisagens. Entretanto, o 
estudo das superfícies implica o estudo de processos através dos 
quais as imagens, perceptíveis aos sentidos – especialmente ao olhar –, são produzidas. De um modo geral, os estudos desses processos têm sido negligenciados, diante da prevalência dos paradigmas 
que interpretam a disciplina como o estudo do que está diante dos 
olhos. Também por isso, provavelmente, pensar as superfícies e as 
imagens – destituídas de sua natureza – tem sido uma tarefa difícil, 
a despeito da sua importância. Não há a imagem em si mesma: 
as imagens são os olhos que vêem as imagens. Imagens são 
representações, portanto. Os olhos são, por sua vez, mediadores 
do processo de interpretação do que se vê. Percebe-se a escuridão 
(invisibilidade) e a imagem (luz) através de mediadores. Diz-se que se percebe a imagem de forma indireta. Não se pode olhar e ver 
de forma objetiva, absoluta, direta. Vê-se através de espelhos. Vê-
se através de imagens interiores das quais os olhos são apenas um 
instrumento. Assim, também pertencente ao território dos olhos – 
controlados pelo pensamento – a imagem é sempre um produto da subjetividade. (2004, p. 34) (Grifo nosso)
Vemos através do conjunto de imagens interiores que povoam nosso imaginário. 
São essas imagens que iluminam o objeto observado e atribuem a ele sentido. Muitas dessas imagens foram construídas historicamente e, portanto, estão permeadas 
pelos estereótipos do nosso tempo, sobretudo aqueles impostos pela mídia. Um olhar condicionado por esses estereótipos sempre verá a Amazônia como o pulmão do mundo, 
um árabe como terrorista e um favelado como criminoso. Cabe ao ensino de Geografia 
crítico libertar-se dessas imagens interiores que condicionam nosso olhar.
 REFLITA
Um ecossistema no estágio de clímax, como a Floresta Amazônica, é estável no que 
se refere à produção e ao consumo de alimento. Em outras palavras, tudo o que o 
ecossistema amazônico produz é consumido por ele mesmo. A fotossíntese global e 
a respiração total do ecossistema estão em equilíbrio; o gás carbônico produzido na 
respiração é consumido na fotossíntese, enquanto que o oxigênio que a fotossíntese 
libera é consumido pela respiração de todos os organismos da Floresta. Essa ideia, 
obviamente, contradiz a noção antiga de que a Floresta Amazônica seria o “pulmão 
do mundo”. 
31
unidade 2
Fonte:
http://www.soeconomia.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=745&Itemid=113Acesso em: 19/01/13
Como sugestão de atividades aos alunos da escola básica, você pode pedir aos seus 
que observem e descrevam a paisagem do caminho que percorrem para chegar até 
a escola. Peça-lhes que elaborem um texto no qual eles tenham que responder: 
O que vocês observaram? 
O que mudou com o passar do tempo? 
Esse texto poderá ser ilustrado com fotos dos pontos observados.
 SAIBA MAIS...
Saiba mais sobre o conceito de paisagem lendo o texto
“Trajetória do conceito de paisagem na Geografia” Disponível no site:http://www.geoplan.net.br/material_didatico/Schier_2003_conceito%20de%20paisagem.pdf
E assistindo ao documentário “Janelas da Alma” Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg>. Acesso em: 12 de Mar. de 2013
 ATIVIDADES1- Explique de que forma o estudo da paisagem nos ajuda a entender o espaço 
geográfico. 2- Comente a frase 
“Não há a imagem em si mesma: as imagens são os olhos que vêem as imagens. 
Imagens são representações” (HISSA & OLIVEIRA 2004, p. 34).
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CATEGORIAS DE ANÁLISES GEOGRÁFICAS: LUGAR E 
TERRITÓRIO
Pedro viu a uva e não viu ave que, de cima, enxergava a parreira e 
não vê a uva. O que Pedro vê é diferente do que vê a ave. Assim Paulo Freire ensinou Pedro um princípio fundamental da epistemologia: 
a cabeça pensa onde os pés pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma da outra como entre a visão de Ptolomeu, ao observar o sistema solar 
com os pés na Terra, e a de Copérnico, ao imaginar-se com os pés no Sol. (BETTO, 2001, p.7)
Objetivos 
•	 Reconhecer a importância do conceito de Lugar e Território na produção do Espaço. 
•	 Entender o Lugar como a porção do espaço constituinte da tríade cidadão-identidade-lugar.
•	 Compreender a relação dialética entre local e global na produção do Espaço/Território.
•	 Entender as relações entre paisagem, lugar e suas territorialidades.
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3.1 - O LUGAR
O mundo feito de contradições, de diversidade, é o mundo que vemos nas paisagens 
humanas; contudo, é mais do que forma, é a sociedade que, ao criar o espaço, reproduz a 
si mesma. O espaço é, portanto, o mediador do processo de reprodução da sociedade. A 
paisagem adquire a forma de quem a criou, constitui o meio no qual a cultura é o agente. 
Sendo assim, a paisagem guarda estreita relação com o lugar que, de acordo com os PCNs 
de Geografia do Ensino, 
[...] é a porção do espaço apropriável para a vida, que é vivido, reconhecido 
e cria identidade. [...] Guarda em si o movimento da vida, enquanto 
dimensão do tempo passado e presente. [...] É no lugar que ocorrem as 
relações de consenso e conflito, dominação e resistência. É a base da 
reprodução da vida, da tríade cidadão-identidade-lugar, da reflexão sobre o cotidiano, onde o banal e o familiar revelam as transformações 
do mundo e serve de referência para identificá-las e explicá-las. Médio (1999, p. 313) Conforme Claval, 
[...] não há compreensão possível das formas de organização do espaço 
contemporâneo e das tensões que lhes afetam sem levar em consideração 
os dinamismos culturais. Eles explicam a nova atenção dedicada à preservação das lembranças do passado e a conservação das paisagens. 
[...] Não se trata mais da interação do homem com a natureza na 
paisagem, mas sim de uma forma intelectual na qual diferentes grupos culturais percebem e interpretam a paisagem, construindo os seus 
marcos e significados nela. Nesta perspectiva, a paisagem é a realização e 
materialização de idéias dentro de determinados sistemas de significação. 
Assim, ela é humanizada não apenas pela ação humana, mas igualmente pelo pensar. Cria-se a paisagem como uma representação cultural. (1999, p. 420)
As formas criadas pelo homem resultam de processos históricos nos quais convivem, 
dialeticamente, uma cultura homogeneizadora, construída a partir de parâmetros globais, e uma cultura local, resultante de valores e costumes remanescentes. Para Santos, “A ordem global busca impor, a todos os lugares, uma única racionalidade. E os lugares respondem ao Mundo seguindo os diversos modos de sua própria racionalidade.” (1996, 
p.272) A maneira como o estudo do mundo é feito, em fragmentos, impede a percepção 
das relações estabelecidas entre os lugares e as regiões. Deixa-se de trabalhar um aspecto 
fundamental para a compreensão do espaço, que é a noção de escala geográfica. Conforme 
36
Magnolli e Araújo, “O uso de diferentes escalas geográficas proporciona a apreensão de 
características diversas dos fenômenos e processos espaciais.” (2005, p. 5) Castro afirma 
que
A análise geográfica dos fenômenos requer objetivar os espaços na escala 
em que eles são percebidos. Este pode ser um enunciado ou um ponto de 
partida para considerar, de modo explícito ou subsumido, que o fenômeno observado, articulado a uma determinada escala, ganha um sentido particular. Esta consideração poderia ser absolutamente banal se a prática 
geográfica não tratasse a escala a partir de um raciocínio analógico com 
a cartografia, cuja representação de um real reduzido se faz a partir de 
um raciocínio matemático. Este que possibilita a operação através da qual a escala dá visibilidade ao espaço mediante sua representação, muitasvezes se impõe, substituindo o próprio fenômeno. É verdade que para os 
geógrafos as perspectivas da grande e da pequena escala ainda se fazem 
por analogia àquelas dos mapas, fruto da confusão entre os raciocínios espacial e matemático. (1995, p.120-121)
O entendimento das diferentes escalas geográficas constitui um valioso instrumento conceitual para o estudo do espaço. As transformações na paisagem revelam as relações 
entre o local e o global e permitem situar a importância da escala geográfica na compreensão 
do espaço. Veja no esquema proposto por Cavalcanti (2006, p. 36) como o local e o global se articulam.
Figura 12 - Sistematização do conceito de lugar
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Para Cavalcanti “A primeira ideia associada a lugar que tem sido trabalhada no ensino e 
que pode estar associada a uma representação social desse conceito é a de um ponto no 
espaço, ou seja, quando se fala em lugar pensamos imediatamente em um local.” (2006, p. 36) Dessa forma, o professor deve trabalhar em sala de aula os pontos de referência dos 
alunos e permitir que estes apresentem lugares com os quais eles estabelecem relações cotidianas (sua casa, a rua, a escola, um praça etc.). Os alunos podem registrar fotos de 
pontos de um lugar que para eles constitui uma referência. 
 ATIVIDADES
Encaminhe para o Fórum temático a foto de um lugar que foi ou é importante para 
você. Explique qual o significado deste lugar.
A arte é uma importante aliada da Geografia na compreensão do conceito de lugar. 
Veja alguns exemplos de textos que nos auxiliam na reflexão sobre o sentimento de pertencimento a um lugar.
Saudosa MalocaAdoniran Barbosa
Si o senhor não “tá” lembrado
Dá licença de “contá”
Que aqui onde agora está
Esse “edifício arto”
Era uma casa véiaUm palacete assombradado
Foi aqui seu moçoQue eu, Mato Grosso e o JocaConstruímo nossa malocaMais, um diaNóis nem pode se alembráVeio os homi c’as ferramentasO dono mandô derrubáPeguemo todas nossas coisasE fumos pro meio da ruaAprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caíaDuia no coração
Mato Grosso quis gritáMas em cima eu falei:
38
Os homis tá cá razão Nós arranja outro lugar 
Só se conformemo quando o Joca falou: 
“Deus dá o frio conforme o cobertor” E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim 
E prá esquecê nóis cantemos assim: 
Saudosa maloca, maloca querida, Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas 
Saudosa maloca,maloca querida, Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
A “maloca querida” é um espaço de referência, pois lá o personagem do texto passou dias 
felizes de sua vida; este é, portanto, uma porção de espaço que guarda o movimento da 
vida e possui uma história. Para muitos é apenas uma maloca, mas para este personagem 
é um lugar especial. A sua destruição significa a perda da memória material de tempos passados.
É por essa razão que o lugar constitui a tríade cidadão-identidade-lugar. A identidade 
está tão fortemente ligada ao lugar que, uma vez separado deste, o cidadão perde um 
importante referencial de sua personalidade. Veja na foto que segue um exemplo do que se diz:
 Figura 13 - Turma do Sítio do Pica-pau Amarelo.Fonte: Menina-voadora, 2012.
Como pensar os personagens da foto sem o “Sitio do Pica-Pau-Amarelo”? Em sua obra Monteiro Lobato estabelece fortes vínculos de pertencimento entre seus personagens e o lugar. 
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unidade 3
Na música “Meu pequeno Cachoeiro”, Roberto Carlos fala da saudade de sua terra natal.
Meu pequeno Cachoeiro (Cachoeiro de Itapemirim)Roberto CarlosEu passo a vida recordando 
de tudo quanto aí deixei Cachoeiro, Cachoeiro vim ao Rio de Janeiro pra voltar e não voltei!Mas te confesso na saudade 
as dores que arranjei pra mim pois todo o pranto destas mágoas ainda irei juntar nas águas do teu Itapemirim
Meu pequeno Cachoeiro vivo só pensando em ti 
ai que saudade dessas terras entre as serras doce Terra onde eu nascí!
Meu pequeno Cachoeiro vivo só pensando em ti 
ai que saudade dessas terras entre as serras doce Terra onde eu nascí!Recordo a casa onde eu morava o muro alto, o laranjal 
meu flambuaiã na primavera 
que bonito que ele era 
dando sombra no quintalA minha escola, a minha rua os meus primeiros madrigais ai como o pensamento voa ao lembrar a Terra boa 
coisas que não voltam mais!
Meu pequeno Cachoeiro vivo só pensando em ti 
ai que saudade dessas terras entre as serras doce Terra onde eu nascí(Falando)- Sabe meu Cachoeiro, 
eu trouxe muita coisa de você 
e todas essas coisas me fizeram saber crescer e hoje eu me lembro de você, me lembro e me sinto criança outra vez!
40
Quantas vezes uma imagem, um cheiro, ou sabor nos fazem lembrar um lugar. O homem 
constrói o espaço, é por ele construído, e é por isso que os lugares que contribuíram para construir nossa identidade não se separam de nós, mesmo depois de abandonarmos esses 
lugares. Lembranças alegres e tristes de lugares são tempos que permanecem definindo 
o que somos. Nas palavras de Henri Lefbvre, “Nós pertencemos ao que nos pertence”, 
os lugares de referência permanecem em nossas lembranças mesmo quando separados deles. 
3.1.1 - Um lugar para chamar de seu
Para Freire, “saber que devo respeito à autonomia e à identidade do educando exige de 
mim uma prática em tudo coerente com esse saber.” (2004, p. 61) É nesse sentido que 
Freire questiona: 
Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas 
da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a 
poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das 
populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por 
que não há lixões nos corações dos bairros ricos e mesmo puramente 
remediados dos centros urbanos? [...] Por que não estabelecer uma 
“intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais dos alunos e a 
experiência social que eles têm como indivíduos? (2004, p. 30)
A comunicação exige, portanto, troca de significados. Assim, mais do que uma transposição 
didática, pretende-se trabalhar o significado de interlocução didática. Somente a partir 
do encontro de saberes de quem ensina (professor e seus conceitos científicos) com os 
saberes dos alunos (conceitos cotidianos) é que ocorre a aprendizagem. Esses saberes 
guardam, portanto, uma relação dialética. O diálogo que respeita a autonomia dos 
educandos reconhece seus saberes e rompe com a “educação depositante” na qual o aluno 
é apenas um recipiente vazio a ser preenchido pelos saberes do professor. Conforme Freire, 
a educação que busca a autonomia dos educandos “supera o velho magister dixit em que 
pretendem esconder-se os que se julgam ‘proprietários’, ‘administradores’ ou ‘portadores’ 
do saber.” (1970, p. 55)
O cerceamento da fala do aluno impede a construção do conhecimento através da problematização dialógica. Conforme LeSann, 
41
unidade 3
[...] o estudo da geografia passa pela leitura do mundo, construída a 
partir de representações pessoais [...]. O ato de reconhecer implica o de 
conhecer, ou seja, a formação de uma representação mental do ‘sujeito’ 
ou, ainda, seu conhecimento prévio: para tanto reconhecer é necessário conhecer! (2007, p.117)
A educação, como caminho para a incorporação dos saberes do educando, exige a aceitação do contato entre os diferentes saberes constituídos. Conforme Piletti, 
Um dos baluartes da antipedagogia é o professor aferrado às “suas” 
verdades, como se fossem absolutas e eternas. Este espécime é bastante 
freqüente entre os pretensos “especialistas”, aqueles que supervalorizam 
a denominada “competência técnica”, que descartam os aspectos 
pedagógicos do ensino como irrelevantes, que têm verdadeiro horror à 
“política”. Esquecem ou fingem esquecer que a parte só tem sentido no 
todo; que uma especialidade cognitiva só tem razãode ser quando inserida 
na totalidade e dentro dela percebida; que um dos maiores obstáculos à 
aprendizagem é a dificuldade que têm os aprendizes de integrarem as 
diversas matérias do conhecimento em um todo articulado; que conteúdos e formas de ensino mantêm uma estreita interdependência. (1991, p.171)
É no lugar que os saberes empíricos são construídos. As experiências vividas pelos alunos devem ser o ponto de partida para a problematização de temas presentes no ensino de 
Geografia. Segundo Callai,
A partir dos interesses da criança, podem-se desencadear diversas 
atividades para buscar e realizar o exercício da palavra e o esforço de ler o mundo. Poderíamos apontar para o estudo de determinadas realidades, 
que, se consideradas como uma situação geográfica, seriam desenvolvidas a partir do reconhecimento do lugar, pode ser da rua, da casa da família, pode ser do bairro, ou da escola, ou mesmo da cidade. O fundamental 
é saber do que se pode partir, e se a curiosidade for exercitada na sala 
de aula, as crianças mesmas podem definir o que estudar. Na verdade, o 
conteúdo que será considerado não é de modo algum o mais importante. 
O mais significativo é saber de parte do professor o que se quer. Aprender 
a ler, por meio do componente curricular da geografia, lendo o mundo. 
Ler o lugar, para compreender o mundo em que vivemos. (2005, p.04)
42
Todo lugar é impregnado de vivência. O autor utiliza um exemplo de sua infância em que suas tias se reuniam para fazer biscoitos na casa de sua avó. Era um momento feliz, todos 
irmanados na tarefa de fabricar o pão de queijo, as roscas, a broa de fubá e as torradinhas. 
Às crianças cabia a tarefa de colher o alecrim no campo para fazer as vassouras que 
iriam varrer o forno depois de aquecido. A lenha já havia sido recolhida pelos adultos. 
Enquanto o forno se aquecia era o momento de fazer a massa e colocar a conversa em dia. 
A vizinhança também participava. Assim, as relações de contiguidade eram fortalecidas. 
Ao final ocorria a partilha das guloseimas. 
Esse é um momento no tempo que não existe mais; contudo, o lugar ainda está lá, a casa, 
o forno, essa é a lembrança material daquele tempo. Sempre retorno àquele momento 
quando sinto o gosto e/ou o cheiro de um biscoito que acabou de sair da fornalha. Todos 
nós somos feitos de lugares que foram e/ou são definidores de nossa cultura e dos valores 
que nos permeiam. Mais do que um simples encontro para fazer biscoito, aquele momento era importante para fortalecer a identidade cultural de um lugar, aprendia-se a fazer 
biscoito, a compartilhar, a dividir tarefas, a trabalhar em equipe, a ordem fundante era a solidariedade. Para Claval,
Os lugares nos falam de enraizamento, do pitoresco, do exotismo. Nas 
cidades modernas, evocam também o suor, a dor, dos homens, a corrida 
indefinida que efetuam na perseguição de um tempo que lhes escapa; em 
outros lugares, através dos corpos abandonados sobre a areia dourada, a 
dois passos da ressaca que os embalam, é o lazer, o prazer, o esquecimento das preocupações. (2011, p. 229)
Os lugares são, assim, resultados de forças internas e externas que se entrelaçam, se sobrepõem e buscam legitimação. Às vezes ocorre o encontro de lugares e de culturas, em 
outros casos é o confronto. Poderíamos então falar do encontro/confronto de povos, de 
culturas. É assim que as paisagens são construídas e as territorialidades definidas. Veja um 
exemplo do que se diz na carta do chefe Seatlle respondendo ao interesse do Presidente dos Estados Unidos em comprar suas terras.
A Carta do Índio
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta 
carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver 
dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz 
mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A 
carta:
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“O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande 
chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois 
sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois 
sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O 
grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza 
com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha 
palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos 
apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada 
folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão 
de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo 
quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la ele vai embora. 
Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. 
Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, 
mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser 
um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E 
que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou 
a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o 
espelho d’água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma 
de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o 
mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar 
que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais 
como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco 
que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um 
fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas 
matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, 
porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo 
quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
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Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não 
tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são 
muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos 
das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos 
bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia 
foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: 
o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma 
maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele éDeus de todos. E 
quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada 
por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco 
também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, 
quando as matas misteriosas federem a gente, quando as colinas escarpadas se 
encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as 
águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais 
as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões 
do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por 
serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na 
venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os 
nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das 
pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque 
nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a 
protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com 
toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, 
e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo 
Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o 
nosso destino comum.”
Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/cartaindio.htmAcesso em 02/12/12
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A partir da carta do chefe Seattle, podemos pensar em uma atividade (com os alunos da 
escola básica), em que estes possam registrar mudanças na paisagem do lugar onde vivem, 
rua e/ou cidade, e a partir destas mudanças refletirem sobre as forças, locais ou externas, 
presentes que promoveram tais mudanças. Podemos também trabalhar com fotos da 
cidade em diferentes épocas e analisar o que ocorreu ao longo do tempo; para tanto, é 
importante valorizar os depoimentos daqueles que testemunharam essas mudanças (pais, tios, avós, vizinhos etc.).
 ATIVIDADES1. Escreva uma poesia ou relato em homenagem a um lugar que foi ou é um espaço de referência para você.
2. Explique de que forma ocorre a relação entre o local (lugar de referência) e 
o Global na produção do espaço. Cite exemplos a partir de suas experiências ou de fatos veiculados pela mídia. 
3. 2 - O TERRITÓRIO 
Conforme Brunet, “O território diz respeito à projeção sobre o espaço determinado de 
estruturas específicas de um grupo humano, que inclui a maneira de repartição, gestão e 
ordenamento desse espaço.” (1992, p. 436) Dessa forma, todos nós estamos submetidos a alguma forma de ordenamento territorial. Cabe ao professor mediar a relação entre os conhecimentos cotidianos – frutos da relação do aluno com o lugar – com o conhecimento 
científico para entender as possibilidades e limites das fronteiras que demarcam os 
territórios e compõem os espaços de vivência. Para que os alunos possam realizar a leitura 
do mundo em que vivem o conceito de Território é fundamental. Segundo Rafestin, 
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação 
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em 
qualquer nível. Ao apropriar de um espaço concreta ou abstratamente 
(por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço. 
Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para passar do “espaço ao território: “A produção de um espaço, o território nacional, 
espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos 
e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos 
comerciais e bancários, autoestradas e rotas aéreas etc.”. O território, nessa perspectiva, um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia 
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e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo 
poder [...]. O conceito de Território está diretamente ligado às relações entre os indivíduos. (1993, p. 50)
Para Cavalcanti, o conceito de território está ligado “a uma problemática relacional de 
indivíduos em seus lugares de prática, que resulta em formas espaciais, compostas de 
tessituras, nós e redes.” (2006, p. 39) A autora propõe a seguinte sistematização:
FIGURA 14 - Sistematização do conceito de Território 
A construção do conceito de território com os alunos será facilitada à medida que estes forem 
capazes de entender suas próprias experiências em seus espaços de vivência para, a partir daí, 
entenderem conflitos territoriais em diferentes escalas geográficas. De nada adianta trabalhar 
com alunos das séries iniciais conflitos geopolíticos em escalas superiores se estes não possuem 
capacidade de abstração para compreender tais conflitos. Novamente citando LeSann, “O ato 
de reconhecer implica o de conhecer.” (2007, p.117) Assim, os fenômenos estudados devem guardar estreita relação com a capacidade de abstração de cada faixa etária de aprendizagem.
47
unidade 3
Ao longo de sua trajetória na escola básica o aluno deverá ser capaz de estabelecer ligações 
entre as relações de poder que se estabelecem em seu espaço de vivência com as relações de poder em escalas superiores. A escolha dos conteúdos a serem trabalhados deve 
respeitar a capacidade cognitiva de cada aluno. Assim, devem se trabalhar os conflitos 
territoriais na escala em que estes podem ser percebidos pelos alunos. Conforme Rafestin, o processo de produção do território se dá em diferentes escalas,
Do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações pequenas 
ou grandes, encontram-se atores que ‘produzem’ o território. De fato, o 
Estado está sempre organizando o território nacional [...] O mesmo se 
passa com as empresas e outras organizações [...]. O mesmo acontece 
com o indivíduo que constrói uma casa [...]. Essa produção de território se inscreve perfeitamente no campo de poder de nossa problemática 
relacional. Todos nós elaboramos estratégias de produção, que se chocam 
com outras estratégias em diversas relações de poder. (1993, p. 152-153) 
Essas estratégias de organização do espaço são o produto da atividade humana sobre a 
superfície terrestre. As novas territorialidades, impostas, sobretudo, pelo Estado e pela 
grande empresa capitalista, entram em conflito com as territorialidades estabelecidas pela população em seu espaço de vivência. As fronteiras são criadas para demarcar os novos 
territórios, elas não podem ser capturadas pelo olhar ou pela fotografia. Para Foucher, 
As fronteiras são estruturas espaciais elementares, de forma linear, 
que exercem funções de descontinuidade geopolítica, de delimitação e demarcação, nos três registros do real, do simbólico e do imaginário. A descontinuidade interpõe-se entre as soberanias, as histórias, as 
sociedades, as economias, os Estados, freqüentemente – mas não sempre 
– também entre as línguas e as nações. No registro real, é o limite espacial 
de exercício de uma soberania [...] O simbólico remete à participação em 
uma comunidade política inscrita num território que lhe pertence: é um sinal identitário. O imaginário conota as relações com o outro, vizinho, amigo inimigo, e, portanto, as relações da comunidade política com a sua 
própria história e seus mitos fundadores [...]. A fronteira não é, então, um 
limite funcional banal, com simples funções jurídicas ou fiscais. (1991, p.32)
A importância da contextualização do ensino resideno fato de que o pensamento parte de uma realidade particular para estabelecer generalizações em escalas superiores. Um 
exemplo bastante elucidativo ocorreu na infância de um dos presentes autores. Ele cresci 
em uma casa do interior de Minas Gerais com amplo quintal e vários tipos de árvores 
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frutíferas. Seus dois irmãos e ele estabeleceram uma forma de convívio pacífico para a distribuição das frutas. Quem avistasse primeiro a fruta, colocava as iniciais de seu nome 
nela ainda verde para, quando madura, o seu descobridor tivesse o direito de saboreá-la. 
Raramente, o acordo era rompido e a territorialidade do quintal estava definida. Contudo, 
sua irmã – excluída do acordo – não respeitava a partilha dos bens territoriais estabelecida 
pelos meninos. Por não ter sido convidada a discutir e ratificar o acordo, sua irmã não se 
sentia obrigada a cumpri-lo. O conflito estava estabelecido, uma vez que não se aceitava 
a incorporação de “um ser” não pertencente ao “planeta dos meninos”. Sem o poder e os 
instrumentos de repressão necessários para impor essa ordem, o quintal estava aberto 
para os conflitos geradores de novas territorialidades. Esse episódio da infância do autor 
contribui para o entendimento da importância da utilização da realidade particular para 
o estabelecimento de generalizações em escalas superiores. A partir do conhecimento que 
adquiri sobre o conceito de território, foi possível estabelecer as conexões com a realidade 
vivida em sua infância. 
Assim, quando tratamos de conflitos territoriais estamos pensando sobre diferentes 
interesses que se contrapõem em funções de ódios enraizados historicamente e por 
interesses econômicos, políticos e/ou culturais. O território é a base material para o 
exercício do poder; assim, o grupo que controlar o território terá maior poder. 
A relação de pertencimento a um lugar é um fator que contribui para o entendimento da disposição de alguns povos em defender o seu território. Assim, o entendimento dos conceitos de lugar e território contribuem para os estudos de diferentes fenômenos 
geográficos, sobretudo aqueles relacionados com a Geografia política, econômica e da população. 
 ATIVIDADES
Utilize o Fórum Temático para socializar exemplos de estratégias que você utilizou 
para exercer o controle de um território em algum momento da sua vida.
3. 3 - O LUGAR E SUAS TERRITORIALIDADESAlguns anos vivi em Itabira.Principalmente nasci em Itabira.
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unidade 3
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. 
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, 
é doce herança itabirana.(...) Tive ouro, tive gado, tive fazendas. hoje sou funcionário público. 
Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! Confidência do Itabirano - Carlos Drummond de Andrade
Desde cedo aprendemos que brincar com crianças de outros bairros significa entrar em contato com novas territorialidades com suas relações de domínio e poder. Jogar uma 
partida de futebol significa respeitar regras que são definidas para ocupação do campo de 
futebol. Se dois grupos quiserem utilizar a quadra ao mesmo tempo precisarão, primeiro, 
definir qual esporte será praticado; se não houver acordo e ambos os grupos quiserem 
ocupar o mesmo espaço, o conflito estará estabelecido. No nosso dia a dia, estabelecemos 
relações em escala local que nos ajudam a entender o que acontece no mundo. Segundo os 
PCNs de Geografia para as séries iniciais, 
Por meio da observação e descrição, os alunos podem reconhecer essa 
presença em seus hábitos cotidianos, na configuração e localização de seu bairro e de sua cidade ou ainda nas atividades econômicas, sociais 
e culturais com as quais têm contato direto ou indireto. Essa percepção pode ser ampliada mediante a comparação com a presença da natureza em outros bairros, em diferentes regiões do Brasil e em outros lugares do mundo. (1997, p. 89)
Esses PCNs apontam como objetivo para essa fase da aprendizagem que a criança deve 
“reconhecer, na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridos, as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua coletividade, 
de seu grupo social.” Isso implica entender, também, as territorialidades desses grupos sociais.
É importante respeitar a capacidade cognitiva dos alunos e encontrar a melhor linguagem 
para introduzir os temas necessários à formação dessas crianças. Veja como a figura que se segue contribui para a construção desse raciocínio.
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Figura 15: Transformações da PaisagemFonte: Editora Saraiva, 2012.
O espaço na figura mostra diferentes paisagens naturais e culturais, são essas mesmas 
paisagens que fazem parte do nosso dia a dia, saber refletir como elas se formaram e 
são constantemente modeladas ou reconstruídas é um saber geográfico. Como nos diz 
Lacoste, “é necessário saber pensar o espaço, para saber nele se organizar, para saber nele 
combater”. (2008, p.115)
Ouça a música de Paula Fernandes “Seio de Minas” e depois leia a letra. Link para a música http://www.kboing.com.br/paula-fernandes/1-1068987/
Seio de Minas - Paula FernandesEu nasci no celeiro da arte No berço mineiro Sou do campo da serra 
Onde impera o minério de ferroEu carrego comigo no sangue Um dom verdadeiro De cantar melodias de Minas No Brasil inteiroSou das Minas de ouro 
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unidade 3
Das montanhas Gerais 
Eu sou filha dos montes Das estradas reaisMeu caminho primeiro Vi brotar dessa fonte Sou do seio de Minas Nesse estado um diamante. 
Com os seus alunos, procure identificar quais são as formas naturais e culturais que compõem a paisagem de Minas Gerais e como esses elementos se articularam ao longo da 
história deste Estado. Como é o relevo mineiro e como este se formou, como é o relevo da 
cidade onde você mora? Quais são riquezas minerais de Minas Gerais? E sob quais relações 
de poder elas foram e são exploradas? Como ocorreu a relação entre o local e o global 
na exploração dessas riquezas? Com o declínio da mineração, o que ficou na paisagem 
das cidades que compõem o circuito da Estrada Real? Essas são apenas algumas questões 
que podem ser problematizadas a partir da letra dessa música. Agindo assim, estaremos 
cumprindo um dos objetivos propostos pelos PCNs das séries iniciais que diz “Saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da paisagem, sobretudo 
por meio de ilustrações e da linguagem oral”. (1997, p. 131)
Vejamos outro exemplo refletindo sobre a letra da música “Sampa”, de Caetano Veloso. Ouça a música acessando o link: http://www.letras.com.br/#!caetano-veloso/sampa . Acesso em: 29/11/12
SAMPA - Caetano VelosoAlguma coisa acontece no meu coração 
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João 
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi 
Da dura poesia concreta de tuas esquinas 
Da deselegância discreta de tuas meninas Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução Alguma coisa acontece no meu coração 
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto 
Chamei de mau gosto o que vi De mau gosto, mau gosto 
É que Narciso acha feio o que não é espelho 
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E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho 
Nada do que não era antes quando não somos mutantes 
E foste um difícil começo 
Afasto o que não conheço 
E quem vende outro sonho feliz de cidade Aprende de pressa a chamar-te de realidade 
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso 
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas 
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas 
Dafeia fumaça que sobe apagando as estrelas Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços 
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva 
Panaméricas de áfricas utópicas, túmulo do samba Mais possível novo Quilombo de Zumbi E novos baianos passeiam na tua garoa E os novos baianos te podem curtir numa boa. 
O personagem da música chega a São Paulo e não se identifica de imediato com a cidade, 
uma vez que este não entendia a “dura poesia concreta de tuas esquinas e a deselegância 
discreta de tuas meninas.” Assim, como na letra da música, tendemos a achar feio o que não 
nos pertence e com os quais ainda não estabelecemos vínculos afetivos “afasto o que não 
conheço.” Isso acontece com vários migrantes que são separados do seu lugar de origem. 
Uma vez em um novo lugar, é preciso estabelecer um processo de reterritorialização, o 
que nem sempre é fácil. No caso do personagem da música, esse vínculo de pertencimento 
permitiu uma reterritorialização a partir do momento em que ocorreu a ”completa 
tradução” da nova cidade. Um novo sentimento surge, “Alguma coisa acontece no meu 
coração/ Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João”.
Você já sentiu algo parecido? Já viveu a experiência de sair de um lugar querido e ter 
que se adaptar em outro desconhecido? Pense que esse fenômeno acontece em várias partes do mundo. Grupos de pessoas são obrigados a sair de sua terra natal por motivos 
econômicos, religiosos, políticos (conflitos armados). Segundo ACNUR (O Alto Comissário 
das Nações Unidas para Refugiados) existem muitos milhões de refugiados no mundo. 
Veja no texto que segue
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unidade 2
Existem mais de 43 milhões de refugiados no mundo, diz ONU
DRAMA Crianças afegãs refugiadas em favela de Islamabad, no Paquistão, nesta 
segunda-feira (20). Afeganistão é o país com mais refugiados.
A quantidade de pessoas forçadas a abandonar suas casas por causa de guerras ou desastres naturais passou dos 43 milhões de pessoas em todo o mundo - o 
equivalente à população total de Colômbia. Segundo dados divulgados nesta segunda (20) pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), em ocasião do Dia Internacional do Refugiado, 2010 teve o maior número de refugiados dos últimos 15 anos.
Desse total, o relatório classifica 15,4 milhões como refugiados, ou seja, pessoas forçadas a abandonar seus países, 27,5 milhões como pessoas deslocadas de suas casas, mas em seus próprios países, e 850 mil solicitantes de asilo em outros países. Segundo a Acnur, apenas 25 milhões desse total recebem alguma assistência 
das Nações Unidas. A situação mais crítica é a de cerca de 15 mil crianças órfãs 
ou separadas de seus pais que pedem asilo, a maior parte deles na Somália ou Afeganistão.
Os afegãos continuam representando a maioria dos refugiados no mundo: 3 
milhões de pessoas abandonaram o país, seguidos pelos iraquianos (1,6 milhão) 
e os somalis (770 mil). O Paquistão é o país que mais recebeu refugiados (1,9 
milhão), seguido do Irã (1,1 milhão) e Síria (1 milhão). No Brasil, existem 4.357 pessoas vivendo como refugiadas.
O relatório se refere ao ano de 2010, mas a situação dos refugiados pode ser pior. Em 
2011, conflitos armados como os ocorridos na Líbia ou na Costa do Marfim podem 
ter aumentado o número de refugiados. Nesta semana, por exemplo, a Turquia viu a chegada de milhares de refugiados vindo da Síria, fugindo dos confrontos entre manifestantes e as forças do ditador sírio Bashar al-Assad.
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Sentimento antirefugiados
Um dos dados ressaltados pelo Acnur é que, diferente do que diz o senso comum, a maioria dos refugiados não foge para os países desenvolvidos. Cerca de 80% refugiados buscam abrigos em outros países em desenvolvimento. A Alemanha, 
país desenvolvido que mais abrigou refugiados, recebeu três vezes menos do que 
o Paquistão.
Segundo António Guterres, Alto Comissário da ONU para os Refugiados, o 
crescimento do sentimento antirefugiados que se vê na Europa e Estados Unidos não encontra fundamento na realidade. “Os temores de uma suposta inundação 
de refugiados nos países industrializados são exagerados, ou erroneamente 
confundidos com questões de migração. Enquanto isso, os países mais pobres têm 
que lidar com esse problema”, explica.
A situação também gera um impacto econômico muito forte nas economias dos 
países em desenvolvimento. Por exemplo, para cada dólar do Produto Interno Bruno (PIB) per capita do Paquistão, o país precisa atender 710 refugiados, enquanto na 
Alemanha esse impacto é de 17 refugiados para cada dólar.
Para Guterres, o mundo está fracassando em resolver os problemas dos refugiados. “Países em desenvolvimento não podem continuar a carregar esse fardo sozinho. 
O mundo industrializado deve resolver esse desequilíbrio. Precisamos acelerar as 
iniciativas de paz em conflitos para que os refugiados possam voltar para casa”, 
disse. Segundo o relatório, apenas 197 mil refugiados conseguiram retornar às suas casas em 2010, o menor número desde 1990. Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI242751-15227,00.html. Acesso em: 28/11/12
Podemos dizer que esses refugiados, assim como alguns imigrantes pelo mundo, encontram-se conforme haesbaert, “em um processo de reterritorialização espacialmente 
descontínuo e extremamente complexo”. (1994 p.214)
 SAIBA MAIS...
Para saber mais sobre esse tema leia o texto completo, acessando o link 
http://www.planificacion.geoamerica.org/textos/haesbaert_multi.pdf
Vários povos que se deslocaram ao longo da história, por diferentes motivos, construíram 
em seu novo país múltiplas territorialidades e acrescentaram às culturas pré-existentes 
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unidade 2
novos hábitos e costumes. É o caso do povo brasileiro, formado por povos autóctones e vindo de diferentes lugares do planeta. 
Um dos objetivos do ensino de Geografia para as séries iniciais é “conhecer e valorizar os modos de vida de diferentes grupos sociais, como se relacionam e constituem o espaço 
e a paisagem em que se encontram inseridos.” (PCNS, p.96) Cultura, paisagem, lugar e 
espaço estão tão fortemente interligados que não podemos pensar um sem o outro. Veja a 
tradução do que se diz nas palavras de Guimarães Rosa.
SERTÃO
Guimarães Rosa*
“O senhor vê aonde é o SERTÃO? (...). O senhor tolere: isto é o SERTÃO. Uns querem que 
não seja: que situado Sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de 
rumo, terras altas, demais do URUCUIA (...). LUGAR SERTÃO SE DIVULGA: é onde os 
pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa 
de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade 
(...). Sertão é o sozinho (...). (...) Jagunço é o Sertão (...). O Sertão tem medo de tudo (...). O 
senhor sabe: Sertão é onde manda quem é forte (...). Deus mesmo, quando vier, que venha 
armado! (....) o Sertão se sabe só por alto (...). (...) Sertão velho de idades. (...) Sertão que se 
alteia e se abaixa (...). Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o 
poder do lugar (...). – O senhor não é do Sertão. Não é da terra(...). (...)no centro do Sertão, 
o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo! (...) Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão 
é quando menos se espera (...) . O Sertão aceita todos os nomes: AQUI É O GERAIS, lá é o 
Chapadão, lá acolá é a Caatinga (...). – O SERTÃO É BOM. Tudo aqui é perdido. Tudo aqui 
é achado (...). No Sertão até enterro simples é festa(...). Sertão foi feito é para ser sempre 
assim: alegrias (...). Ah, tempo de jagunço tinha mesmo que acabar, cidade acaba com o 
Sertão. Acaba? (...) só se sai do Sertão é tomando conta dele a dentro(...). O Sertão não tem 
janelas nem portas (...). O Sertão está em toda parte(...). O Sertão é do tamanho do mundo 
(...).

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