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MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 1 A utilização do flúor como método de controle e prevenção da cárie dentária teve início quando este foi incorporado às águas de abastecimento público; Sabendo que a eficácia da prevenção está relacionada à presença constante deste elemento no meio bucal, métodos de aplicação tópica foram criados a partir de compostos e substâncias fluoretadas para interferir na dinâmica do processo carioso; A administração do flúor, seja sistêmica ou tópica, tem ação local, com o objetivo de diminuir o produto de solubilidade do esmalte e dentina pela redução do tempo de desmineralização através da rápida precipitação da fluorapatita na estrutura dental, e aumentar a eficácia do processo de remineralização. MECANISMO DE AÇÃO (FLÚOR TÓPICO) Após a ingestão do flúor e sua liberação no meio bucal, independente do método, serão formados a fluorapatita e o fluoreto de cálcio. Para que isso ocorra, a concentração deve estar acima de 1000 ppm F. No dentifrício ela varia entre 1000 e 1500 ppm; Alguns estudiosos defendem a ideia que dentifrícios com concentração inferior a 550 ppm não tem efetividade na prevenção da cárie dentária; A aplicação tópica do flúor permite que haja maior formação do fluoreto de cálcio, que apresenta baixa velocidade de dissolução e retenção prolongada na superfície do elemento dentário, formando um reservatório de íon flúor que será liberado no meio bucal diante de um desafio cariogênico; A associação dos métodos tópicos e sistêmicos diminuirá a prevalência de cárie dentária. FATORES QUE INTERFEREM NA FORMAÇÃO DO FLUORETO DE CÁLCIO (CaF2) Concentração de flúor na aplicação; pH do meio (quanto mais ácido, melhor); Flúor: pode ser acidulado (indicado para prevenção da cárie) ou neutro (indicado para pacientes com sensibilidade); Tempo de aplicação (não há diferença quando aplicado por 01 ou 04 minutos para a formação de fluoreto de cálcio, portanto, a disciplina preconiza o tempo de 01 minuto); Estrutura mineralizada (a formação de fluoreto de cálcio é mais eficiente na dentina, devido à associação entre a apatita carbonata e flúor, causando maior mineralização que no esmalte); Tempo de erupção dental (maior incorporação de fluoreto quando está em fase erupção); MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 2 Condição do elemento dental (dentes com manchas brancas de cárie apresentam maior formação de fluoreto se comparado a um dente hígido). MÉTODOS TÓPICOS DE APLICAÇÃO DE FLÚOR Solução para bochechos; Aplicação tópica de flúor (ATF); Vernizes; Dentifrícios fluoretados; Materiais odontológicos liberadores de flúor; Dispositivos de liberação lenta do fluoreto. SOLUÇÃO PARA BOCHECHOS HISTÓRICO 1950: desenvolvimento de uma técnica que fosse simples, efetiva, rápida e de aplicação tópica, surgindo então soluções concentradas de fluoreto de sódio; 1965: com a utilização deste método houve uma redução de 80% da cárie dentária na Escandinávia, e até hoje essa região o menor índice de cárie dentária do mundo; 1970-1980: os bochechos fluoretados foram incluídos nos programas escolares, uma vez que apresentava boa relação custo-benefício quando feitos corretamente; Estudos mostram que a associação do consumo de água fluoretada e o bochecho fluoretado contribuem para a redução da cárie dentária, e em relação a frequência, o bochecho diário tem resultados melhores que a aplicação semanal; Atualmente, este método não é o mais eficaz porque a prevalência da cárie dentária encontra-se polarizada em determinados grupos sociais, isto é, não está distribuída homogeneamente entre a população; A relação custo-benefício desse método depende do tipo de intervenção e do índice de cárie dentária da população (polarização). TÉCNICA A aplicação pode ser diária (0,05% - 225 ppm), semanal (0,2% - 900 ppm) ou quinzenal; Não é necessário que o cirurgião-dentista aplique a técnica, pois qualquer pessoa treinada é capaz de conduzir o procedimento; Uso diário/semanal através do bochecho de 10 ml por 1 minuto, seguido pela expectoração. MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 3 INDICAÇÕES Devido ao uso disseminado de dentifrícios fluoretados e a ingestão de água fluoretada, indica-se esse método para indivíduos com alto risco a cárie dentária (alto índice, polarização); Exposição a água de abastecimento sem flúor; Exposição a água de abastecimento com baixas concentrações de flúor; Quando o CPOD médio é maior que 3 aos 12 anos de idade (menos de 30% dos indivíduos do grupo são livres de cárie dentária aos 12 anos); Populações com condições socioeconômicas que indiquem baixa exposição a dentifrícios fluoretado; Dificuldade motora; Pacientes em tratamento ortodôntico. VANTAGENS Facilidade de aplicação; [Relativo] baixo custo. DESVANTAGENS Contraindicado para crianças de idade pré-escolar, pelo alto risco de ingestão do flúor; Mínimo de 25 bochechos ao ano, sem longos tempos de interrupção, para que tenha boa eficácia. APLICAÇÃO TÓPICA DE FLÚOR (ATF) FORMAS DE APRESENTAÇÃO Fluoreto de sódio 2%; Solução de fluoreto estanhoso 8%; Flúor-Fosfato Acidulado (1,23%). FLUORETO DE SÓDIO 2% [Técnica de Knutson e Armstrong, 1943]: O modo de aplicação do flúor é realizado em 04 aplicações de 04 minutos e intervalo de aplicação de 04 a 05 dias; Indicação: fase de erupção dos dentes (03, 07, 10 e 13 anos de idade); MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 4 Atualmente ela não é utilizada, pois alguns compostos utilizados semestralmente ou anualmente apresentam melhor eficácia. FLUORETO ESTANHOSO 8% Vantagem: aplicação única; Desvantagem: a solução é instável, devendo ser preparada no momento da aplicação; irritação ao tecido gengival; gosto metálico; manchas ou pigmentação do dente devido a presença do estanho; Apresenta melhores resultados quando das aplicações semestrais, comparado com as aplicações anuais; Atualmente não é tão utilizado. FLÚOR-FOSFATO ACIDULADO 1,23% ASSOCIADO AO GEL DE ÁCIDO ORTOFOSFÓRICO 0,1% É o método mais utilizado e indicado devido ao pH ácido e maior reatividade com o esmalte; Aplicações: anuais, semestrais ou quadrimestrais; Não ingerir alimentos ou líquidos durante 30 minutos após a aplicação; Não há risco de fluorose; Tempo de aplicação: 01 minuto; Espuma: apresenta composição semelhante ao gel e uma quantidade menor de fluoreto é utilizada durante a aplicação, sendo mais segura em questão de toxicidade. A incorporação de fluoreto ao esmalte é semelhante quando se emprega espuma ou gel. VANTAGENS Baixo custo; Viscosidade (propriedade: tixotropia - quando sofre pressão ou tracionamento o gel se torna menos viscoso e se espalha por todo o elemento dentário); Não causa irritação gengival; Praticidade (utilização de moldeiras); Não necessita de profilaxia prévia (recomenda-se para remover o evidenciador de placa); Maior liberação de flúor no esmalte; Maior estabilidade; Não produz manchas e pigmentos. MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 5 INDICAÇÕES Pacientes com risco a cárie em superfícies lisas, verificado através do IHOS (moderado-alto); Pacientes com alto risco a cárie radicular; Pacientesem tratamento ortodôntico com aparelho fixo; Grupos especiais (radiação, fluxo salivar reduzido); Crianças cujos molares deveriam estar selados, mas por algum motivo não estão. TÉCNICA Gel: moldeiras para aplicação de flúor ou isolamento relativo; Espuma: moldeira para aplicação de flúor bem adaptada; Não ultrapassar 40% do volume da moldeira: risco de extravasar e ser ingerido; Passo a passo: profilaxia > lavar, secar e isolar o dente > testar/adaptar a moldeira > posicionar o paciente com o corpo inclinado para frente (para evitar a ingestão do excesso de flúor) > carregamento da moldeira/aplicação do gel > tempo de utilização: 01 minuto > sugar a saliva e remover o excesso do gel com algodão > orientação do paciente. DENTIFRÍCIO FLUORETADO Método individual e coletivo mais utilizado; Pioneiros: Escandinávia e Reino Unido; Brasil: 1988; Os dentifrícios fluoretados constituem um método de grande efetividade, pois é capaz de estimular a remoção do biofilme e a exposição do elemento dentário a constantes concentrações de flúor; É método coletivo porque depende da Vigilância Sanitária para determinar as concentrações adequadas de flúor nos dentifrícios; Contraindicado para crianças menores de 3 anos devido ao risco de ingestão (utilizar dentifrícios de baixa concentração ou sem flúor, além de monitorar a escovação). Entretanto, a utilização de dentifrícios influencia programas de escovação supervisionada, motivando as crianças a escovar os dentes; Os componentes ativos do creme dental são: fluoreto de sódio e monofluorfosfato de sódio, que agem liberando o flúor ao entrar em contato com a fosfatase presente na saliva; A concentração máxima permitida é de 0,15% de F (ou 1500 ppm), que deve estar na forma ionizada para ter ação preventiva contra a cárie dentária; Cremes dentais com fluoreto de cálcio não são efetivos contra a cárie. MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 6 VERNIZES Foram criados e disponibilizados no mercado, inicialmente na Alemanha, em 1960. Somente nessa época ele era de grande eficiência devido a sua segurança, facilidade, rapidez e um método de aplicação rápida e barato; O objetivo é prolongar o tempo de contato do fluoreto com a superfície dentária; A eficácia na prevenção da cárie só ocorre na concentração de 2,26% de F ou 23.000 ppm; Estudos clínicos randomizados mostraram redução de 46% da cárie dentária quando se utiliza esse método; Realizar, no mínimo, duas aplicações anuais, podendo ser utilizado na saúde pública até quatro aplicações anuais para fins terapêuticos. Técnica: profilaxia > lavar, secar e isolar > aplicação do verniz fluoretado; Vantagens: prevenção em população de idade pré-escolar e ausência de riscos a fluorose dentária; Desvantagem: necessita de profilaxia; Indicações: são as mesmas para os bochechos fluoretados. MATERIAIS ODONTOLÓGICOS LIBERADORES DE FLÚOR O Cimento de Ionômero de Vidro (CIV) é um dos principais materiais que liberam flúor na cavidade bucal. Apresenta ligação química com esmalte e dentina e liberação de flúor nas margens das restaurações; Desvantagens: baixa resistência ao desgaste e instabilidade de cor; O CIV modificado por resina apresenta resistência maior que o CIV convencional; Possui capacidade de recarga, que faz com que o íon flúor permaneça constante no meio bucal. Entretanto, é necessário utilizar outros métodos tópicos para que ocorra a recarga; Indicações: selante de fóssulas e fissuras, cimentação de bandas ortodônticas e bráquetes, ART (Tratamento Restaurador Atraumático). DISPOSITIVOS DE LIBERAÇÃO LENTA DE FLUORETO Criado para não depender da colaboração dos pacientes; É um adesivo de aproximadamente 04 mm colado na superfície vestibular do molar, que libera flúor de forma constante que varia de 0,02 a 1 mg de F/dia com duração média de 180 dias e é seguro em relação a toxicidade; MÉTODOS TÓPICOS PARA APLICAÇÃO DO FLÚOR – SAÚDE COLETIVA II DIEGO MARDEGAN Página 7 Indicações: crianças com risco a cárie dentária, prevenção de cárie radicular, pacientes com xerostomia, grupos de baixo nível socioeconômico e pacientes em tratamento ortodôntico; Alguns estudos dizem que não há comprovação científica sobre esse método para prevenção da cárie, pois atualmente o indivíduo tem acesso a várias fontes de flúor.