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Pesquisa em Serviço Social

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Pesquisa em Serviço Social: a dimensão investigativa da profissão
introdução
Há que se considerar que as pesquisas em Serviço Social têm contribuído para avanços significativos em diferentes campos da ação profissional, no âmbito das políticas públicas, no enfrentamento das expressões da questão social em diferentes momentos históricos, na construção da proposta curricular e definição dos seus fundamentos teóricos e metodológicos, na consolidação do projeto ético-político profissional, entre outros aspectos.
Interessa-nos demarcar que o contexto de nossas inquietações e reflexões refere-se às décadas de 1980 e 1990. Os anos 80 marcam uma etapa de amadurecimento da produção teórica profissional, sendo a Universidade a grande protagonista deste processo. Já os anos 90 representam avanços quanto à consolidação do projeto ético-político da categoria, o que repercutiu nas proposições destinadas à formação profissional e no direcionamento social da mesma; aspectos essenciais para o desenvolvimento crítico, consolidação e construção da própria natureza da atividade.
Segundo Iamamoto (2001), o Serviço Social é um tipo de trabalho especializado, expresso sob a forma de serviços, possui objeto, instrumentos e têm produtos. Logo, não pode ser associado a práticas pontuais, imediatistas, conservadoras e desvinculadas de uma reflexão crítica.
uma prática qualificada é exigida ao assistente social a realização de estudos e pesquisas com vistas na compreensão das causas constitutivas e determinantes dos fatos sociais nos quais atua, além da produção de conhecimento acerca dos mesmos.
Marcos históricos e expressões do Serviço Social
A maior parte dos temas de pesquisa dos anos 80,e que prosseguem abordadas nos anos 90, refere-se às políticas públicas na sua interface com o Estado.Exemplo disto é a temática Seguridade Social, a partir de seu marco histórico que é a Constituição Federal de 1988. Recentemente, vêm avançando as investigações sobre a sociedade civil, os processos de gestão e controle das políticas públicas e o papel dos Conselhos de Direitos. Também ganha ênfase o campo de preocupação relativo aos usuários do Serviço Social, muito embora na sua relação com as políticas públicas.
Em 1993 a regulamentação da LOAS garante maioridade jurídica à assistência social, trazendo-a para o campo do direito com responsabilização do Estado, e expressa a recusa da tradição clientelista, assistencialista e tutelar presente, ainda, em suas ações. A assistência social adquire estatuto de política pública e enfrenta, desafios: superar o caldo cultural marcado por essas características que, muitas vezes, norteiam as ações do Estado e das entidades sem fins lucrativos, atuantes nesta esfera da política pública; avançar em relação ao processo de avaliação da gestão da política em suas diferentes instâncias; consolidar um processo de controle social, com efetiva participação da sociedade civil. Além disso, propõe-se a assegurar financiamento adequado à complexidade das ações de enfrentamento à pobreza, da garantia dos mínimos sociais, do desenvolvimento de ações de prevenção, de proteção e inclusão social e de repensar as ações destinadas à família de baixa renda, que preconizam o caráter intersetorial e o rompimento com a segmentação da família em suas unidades. A família brasileira, devido às transformações em termos de composição e significados, especialmente a família de baixa renda, reclama por respostas coerentes às suas demandas. O lugar da família no âmbito das políticas públicas é uma questão que merece aprofundamento e está em debate no contexto da profissão.
A discussão da Reforma Curricular preocupa-se em aprofundar a reflexão sobre a dimensão técnico-operativa do Serviço Social, de forma coerente com a dinâmica societária e capaz de apreender esta dinâmica em sua totalidade e processualidade histórica. Neste contexto, a pesquisa surge como uma preocupação formativa. Trata-se de um desafio a ser enfrentado e proposto pelas novas diretrizes curriculares.
A pesquisa tem sido privilegiada, em alguns contextos, no âmbito da profissão, estimulando a atitude investigativa na postura e no exercício profissional. Em sua trajetória histórica, a profissão, ao construir e reconstruir um legado teórico, estabelece diálogo crítico com outras áreas do conhecimento, sendo importante interlocutora no campo das reflexões sobre a questão social e seu enfrentamento através da política pública. Neste sentido, destacamos as ações,eventos acadêmicos, discussões e produções dos profissionais do campo sociojurídico, que nos últimos anos vêm ganhando expressão ao promover o debate sobre as particularidades da prática profissional neste campo.
Porém, ao mesmo tempo em que muito já se fez e sem conquistou, nas duas últimas décadas do século 20, a pesquisa continua sendo uma exigência que as vicissitudes do mundo contemporâneo colocam à profissão, o que carece de maiores investimentos e uma postura do profissional de permanente crítica e indignação com as manifestações sociais do modelo de desenvolvimento econômico, que sujeita a maioria da população ao processo de exclusão social
Práticas e representações da pesquisa, restritas ao meio acadêmico favorecem a falta de iniciativas e investimentos na preparação do profissional como pesquisador. Reconhecemos que a própria inserção da profissão na divisão sociotécnica do trabalho impõe limites quanto aos investimentos institucionais, para fomento à pesquisa, quanto ao reconhecimento da sua produção,bem como quanto à incorporação da prática investigativa pelos profissionais. Romper com a dicotomia prática profissional versus pesquisa científica é o desafio que se coloca à profissão. E aqui é importante afirmar que o rompimento será feito através de um processo mediado pelo movimento da própria realidade
A particularidade da pesquisa para o Serviço Social
A categoria ‘particularidade’ vem contribuir para uma aproximação ao processo sócio-histórico em quea pesquisa ganha expressão e força no âmbito do Serviço Social, em especial, considerando as décadas de 1980 e 1990. Para Lukács (1970, p.103-104), a particularidade se constitui de “um campo de mediações”,a partir do qual podemos apreender o movimento dialético do universal ao singular: “O movimento pelo particular; é um membro intermediário real, tantona realidade objetiva quanto no pensamento que a reflete de um modo aproximativamente adequado”.
O questionamento sobre a particularidade da pesquisa em Serviço Social estabelece o reconhecimento da necessidade de inserir esta discussão no contexto socioeconômico, político e cultural contemporâneo, buscando apreender as determinações mais gerais e sua repercussão/incidência no âmbito da prática singular desta profissão, principalmente quando enfrenta as demandas sociais e as exigências de seu equacionamento.
A categoria ‘particularidade’, em sua complexidade e riqueza ontológica, possibilita-nos compreender a pesquisa em sua vinculação orgânica com a prática profissional. Esta vinculação se constrói no movimento histórico da própria profissão e se constitui como possibilidade de avanço teórico-prático, coerente com todo singular ao universal e vice-versa é sempre mediatizado
Dimensões da particularidade da pesquisa no Serviço Social
É fundamental compreender o processo de produção de conhecimento, como elemento de transformação da realidade social pela mediação do trabalho, reconhece uma das expressões da práxis,como uma das objetivações possíveis do trabalho humano frente aos desafios colocados pela relação entre o homem, a natureza e a sociedade. Neste contexto, a pesquisa ganha significado ontológico, ou seja, existencial e laborativo, pois faz parte da natureza humana perguntar pelo desconhecido para, através das possibilidades de respostas, atender às necessidades do homem em suas dimensões individual e coletiva, produzindo e reproduzindo sua própria existência, não de forma mecânica, mas de forma complexa, processual, contraditória e histórica.
“[...]
a pesquisa é constitutiva e constituinte da prática profissional do Serviço Social, sendo determinada pela sua natureza interventiva e pela inserção histórica na divisão sociotécnica do trabalho”(BOURGUIGNON, 2005).É constitutiva e constituinte porque faz parte da natureza da profissão e aparece e se desenvolve socialmente, ao desvendar a complexidade do real e nele buscar as possibilidades de intervenção. Articulada a este pressuposto e na sua interface, a este texto interessa, também, a centralidade que as pesquisas desenvolvidas pelo Serviço Social garantem aos sujeitos que delas são participantes, bem como o alcance social destas pesquisas, considerando a sua repercussão nas organizações sociais, em que trabalha o assistente social, e nas condições de vida dos sujeitos que requisitam sua prática profissional. o projeto ético-político do Serviço Social
Como campo de mediações, a particularidade manifesta a possibilidade de compreensão do movimento e das relações presentes nos fenômenos. Ao se pensar pesquisa, enquanto particularidade, estamos refletindo sobre os processos e elementos que mobilizam, inspiram e sustentam a atitude investigativa e a prática da pesquisa no âmbito do Serviço Social.
A prática da pesquisa no Serviço Social se põe como construção histórica que se processa na medida em que a profissão enfrenta as demandas sociais decorrentes do agravamento da questão social, em suas múltiplas manifestações, tendo como referência a perspectiva teórico-metodológica crítica que sustenta a produção de conhecimento e a intervenção na profissão. 
Neste processo, a profissão sofre determinações estruturais que, contraditoriamente, tanto a desafiam, como, por vezes, lhe criam barreiras, impedindo que, na sua singularidade, muitos profissionais ainda não percebam a vinculação orgânica entre intervenção/investigação.
A centralidade dos sujeitos nas pesquisas do Serviço Social
Há uma lacuna nas produções sobre a pesquisa em Serviço Social, que é justamente a questão da centralidade do sujeito e sua preservação no processo metodológico de investigação do real e conseqüente produção de conhecimento profissional. Neste caso,estamos nos referindo ao sujeito demandatário da prática profissional, beneficiário/usuário das políticas públicas, que como cidadão deve ser considerado protagonista de sua própria história e não dado ou fonte de informação. Preocupar-se com o sujeito implica em não perder de vista o contexto sócio-histórico em que se insere e em que se dão as relações entre o profissional assistente social e o cidadão.
O grande desafio para o pesquisador assistente social, que se preocupa com a centralidade do sujeito ‘enquanto condição ontológica e não como estratégia metodológica de pesquisa’, é possibilitar através da pesquisa maior visibilidade ao sujeito, à sua experiência e ao seu conhecimento, cuja natureza, se desvendada, poderá permitir desenvolver práticas cada vez mais comprometidas ética e politicamente com a realidade, buscando no coletivo e na troca de saberes alternativas de superação das condições de privação e exclusão social.
 PESQUISA E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL: APONTAMENTOS PARA REFLEXÃO
A pesquisa é um instrumento utilizado como forma de coletar informações acerca de uma realidade, buscando compreendê-la de maneira sistematicamente organizada. Através da pesquisa é possível conhecer coisas novas ou refutar conhecimentos já existentes, podendo confirmá-los ou negá-los. Assim, o conhecimento científico sempre inacabado.
É importante ressaltar que nem toda pesquisa é pesquisa científica. . Para ser científica é preciso: coletar informações e analisá-las com profundo rigor teórico, técnico, metodológico e ético, confrontando as informações obtidas. Também é indispensável a comunicação à comunidade científica por parte do pesquisador daquilo que se pretende investigar. . A pesquisa científica também é caracterizada por proporcionar a produção de conhecimento universais. 
 A abordagem quantitativa ocorre quando o pesquisador busca descrever uma realidade,
Os objetos de atenção profissional, no âmbito da pesquisa e no âmbito da intervenção, trazem à tona a experiência e o conhecimento destes sujeitos, os quais precisam ser compartilhados, compreendidos e traduzidos à luz de um diálogo crítico com o corpo de conhecimentos já acumulados pelo Serviço Social.
A preocupação com a centralidade que o sujeito ocupa nas pesquisas do Serviço Social não é ocasional, revela que a profissão tem suas ações e preocupações pautadas nas demandas dos usuários, que se expressam através das histórias de vida que trazem às organizações sociais, nas relações que movimentam no seio da família, do trabalho e da sociedade, nas raízes e expressões culturais que demonstram, nas carências socioeconômicas e políticas que exigem posicionamento do assistente social.
A pesquisa para o Serviço Social deve gerar um conhecimento que reconheça os usuários dos serviços públicos como sujeitos políticos que são, capazes, também, de conhecer e intervir em sua própria realidade com autonomia, desvencilhando-se das estratégias de assistencialismo, clientelismo e subalternidade, tão presentes nas ações governamentais e políticas públicas. As pesquisas têm como possibilidade latente a valorização do povo, da riqueza de suas histórias, de suas experiências coletivas, mobilizadoras de novas formas de sociabilidade. Apreender estes elementos contribuirá para o desenvolvimento de uma prática capaz de possibilitar aos usuários e destinatários das políticas públicas e dos serviços sociais a experiência de “Assumir-se como ser social e histórico [...]”, ou seja, assumir-se “[...] como ser pensante, comunicante, transformador, criador (FREIRE, 1996, p. 41)
Estamos nos referindo a um sujeito que tem em sua natureza uma dimensão coletiva, pois em sua singularidade e relações particulares expressa vinculações de classe. O que não pode ocorrer, e este é um cuidado metodológico que precisamos desenvolver, é subtrairmos, no processo da pesquisa, a condição de sujeito deste cidadão e enfatizarmos a sua condição de objeto.
Em nosso trabalho, consideramos que a relação com o sujeito se faz através da pesquisa de natureza quantitativa e/ou qualitativa. Não deve ser mérito apenas das pesquisas qualitativas a busca do compreender o sujeito, em uma perspectiva crítica, pois não podemos descartar que o sujeito também se revela através dos dados quantitativos, estes trazem à tona expressões concretas de sua realidade, quando trabalham condições de vida, renda, ocupação. O diferencial está na forma como tratamos estes dados, buscando revelar o quê e o para quê, e por que enfatizamos o quantitativo. São as determinações objetivas, expressas através da pesquisa, que podem fundamentar análises sobre a riqueza da realidade, avaliar projetos e programas sociais e redirecionar ações que garantam a dignidade deste sujeito e os seus direitos sociais, civis e políticos. Precisamos evidenciar que os dados quantitativos não expressam apenas o desenvolvimento econômico de um país, mas como este desenvolvimento incide sobre as condições de vida do cidadão.
 Assim, a relação que o Serviço Social deve estabelecer com o conhecimento do sujeito participante de sua investigação/intervenção deve sustentar-se no diálogo crítico, capaz de gerar conhecimentos novos e propiciar a elevação do nível de consciência deste sujeito. A sua experiência e conhecimento alicerçam-se em dinâmicas concretas da realidade, as quais precisam ser transformadas através de ações políticas – ações que sejam, também capazes de resgatar a condição de sujeito de direitos e capazes de romper com as tramas que determinam a condição de subalternidade.
o retorno e alcance social das pesquisas em Serviço Social
Orientado pelo compromisso ético-político, o conhecimento construído pelos profissionais precisa ganhar força social e romper com os muros da academia e do próprio Serviço Social, para ser capaz de, através de uma prática crítica e propositiva, interferir
nas condições de vida do cidadão. A preocupação com o retorno e alcance social de nossas produções refere-se a uma intenção de fazer o caminho de volta, isto é, retornar à realidade que sustentou a produção de conhecimento e mobilizar ações que transformem esta realidade, seus sujeitos e a própria profissão, alargando seus horizontes e potencializando seus objetivos, suas competências e habilidades profissionais.
 E o impacto, no contexto da pesquisa, refere-se às dimensões das transformações e mudanças operadas na profissão, nas condições materiais de existência dos sujeitos/usuários, nas ações dos profissionais de Serviço Social, nas organizações em que o profissional atua, tendo como mediação o acúmulo de conhecimentos produzidos pela profissão.
Evidenciamos uma dimensão essencialmente política neste aspecto, no sentido de que o conhecimento produzido deve ter uma direção estratégica para uma intervenção profissional, comprometida com processos concretos que garantam materialidade ao seu projeto ético-político
Pesquisa e sso
A pesquisa surge no Serviço Social a partir da década de 1970 num contexto histórico marcado pela eclosão dos movimentos sociais, pela introdução do pensamento marxista no processo de formação profissional e diante do processo de reconceituação da profissão.
A pesquisa, nesse momento histórico, insere-se no Serviço Social em nível de pós--graduação (em mestrados e doutorados), tornando-se obrigatória na formação profissional dos Assistentes Sociais somente em 1982, com a aprovação do currículo mínimo do curso de Serviço Social, o que garante sua inserção no âmbito da graduação, permitindo ampliar a produção do conhecimento.
A pesquisa vai se inserindo no Serviço Social não apenas como uma matéria básica, mas como um princípio que deve está presente no exercício profissional nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais
A atitude investigativa no Serviço Social possui desafios e para superá-los implica em:
romper com o entendimento da profissão como sendo esta de caráter meramente interventivo. 
tornar indissociável a relação teoria e prática;
qualificar o corpo docente e discente para a pesquisa;
 ter profundo conhecimento teórico-metodológico, sem as marcas do ecletismo e, portanto, com o estabelecimento da discussão plural;
 fazer a articulação investigação e intervenção, portanto atendendo as demandas institucionalmente postas nos campos da prática, não perdendo de vista a pesquisa da realidade concreta na qual está inserido o profissional.
A partir da incorporação da pesquisa no Serviço Social já é possível apreender o amadurecimento teórico-metodológico e ético político na profissão, a sua maior visibilidade no conjunto das Ciências Sociais, produção do conhecimento, não somente sobre a formação e prática profissional, mas também sobre temas com os quais nos deparamos no cotidiano de nossas ações. É importante ressaltar que através da pesquisa sólida e rigorosa, o assistente social compreende o seu papel profissional no contexto das relações sociais, numa perspectiva de totalidade social.
Essa preocupação com a pesquisa pelo Serviço Social se revela como uma análise da complexidade da profissão, inserida e construída dentro de um contexto histórico de desenvolvimento do capitalismo. Desse modo, busca-se ir para além da aparência dos fatos, descobrindo caminhos que permitam apreender à essência da realidade justificando “a razão do existir da teoria e da ciência” (SETUBAL, 2007).
A partir da década de 1980 com base na instituição do currículo mínimo do Serviço Social a pesquisa passa a ser exigência para a profissão e a categoria profissional começa a concebê-la como indissociável da prática profissional e que embora as demandas sociais e institucionais imponham a priorização das ações para resolução de problemas oriundos da questão social, cabe ao assistente social refletir sobre a realidade na qual está inserido. Assim, quanto mais se conhece a realidade melhor é possível nela intervir.
A pesquisa qualitativa tem como objetivo precípuo analisar a realidade em sua totalidade, não se contentando com o imediatamente posto. Busca-se com ela a compreensão dos aspectos que constituem determinado fenômeno. Tanto o pesquisador quanto o pesquisado são participantes ativos do processo investigativo
Todavia, uma parcela dos profissionais alega que a falta de tempo impossibilita a realização da pesquisa devido à quantidade de demandas institucionais a serem atendidas. Esse aspecto revela duas hipóteses: a primeira refere-se a falta de organização durante o exercício profissional; e a segunda remete à prioridade dada pelos assistentes sociais à execução de suas ações. Tais posturas vão de encontro às exigências atuais do perfil dos assistentes sociais em que “a complexidade da realidade exige profissionais que não apenas respondam as suas demandas, mas que as compreendam nos seus significados sociais e que pela sua intervenção lhes atribua novos e mais críticos significados”. (GUERRA, 2005, p. 02)
Assim, conforme Fraga (2010) a atitude investigativa é o que favorece ao assistente social o rompimento com o pragmatismo, proporciona a inquietação e reflexão constantes, determinando assim uma prática profissional coerente e consistente, valendo-se o profissional da intencionalidade e do planejamento, provocando ações com alcance social.
o assistente social deverá imprimir em sua intervenção profissional uma direção, sendo necessário, para isto, conhecer e problematizar o objeto de sua ação profissional, construindo sua visibilidade a partir de informações e análises consistentes — atitude investigativa. Concomitantemente, o trabalho do AS deverá ser norteado por um plano de intervenção profissional objetivando construir estratégias coletivas para o enfrentamento das diferentes manifestações de desigualdades e injustiças sociais, numa perspectiva histórica que apreenda o movimento contraditório do real. Isto pressupõe?
a) pesquisar dados de realidade quantitativos, pois de acordo com Martinelli (1994), as pesquisas quantitativas são imprescindíveis para trazer retratos da realidade, dimensionar os problemas que se investiga;
b) investigar sobre as informações qualitativas da realidade. Conforme Martinelli (1994), as metodologias qualitativas aproximam pesquisador/sujeitos pesquisados, permitindo ao primeiro conhecer as percepções dos segundos, os significados que atribuem a suas experiências, seus modos de vida, ou seja, oferece subsídios para trabalhar com o real em movimento, em toda a sua plenitude;
c) desvendar e problematizar a realidade social, apreendendo os modo e as condições de vida dos sujeitos com seus condicionantes histórico sociais, econômicos e culturais, e também seus anseios, desejos, necessidades, demandas;
d) intervir na realidade social com base na apreensão do movimento contraditório do real, a partir do seu desvendamento e problematizaçãoe também de pesquisas sobre dados da realidade dos sujeitos.
 Serviço Social é uma profissão investigativa e interventiva. Portanto, as análises de seus estudos e pesquisas precisam ser realizadas a partir de situações concretas e possuir utilidade social, não interessando o conhecimento realizado apenas com finalidade descritiva e contemplativa. Para que os estudos e pesquisas tenham utilidade social é fundamental.
 A atitude investigativa no cotidiano de trabalho do assistente social
A Abepss (1996), na proposta das Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, postula como princípios da formação profissional (entre outros), o estabelecimento das dimensões investigativa e interventiva como princípios formativos que devem perpassar a formação profissional e da relação teoria e realidade; recomenda a questão do caráter interdisciplinar nas várias dimensões do projeto de formação profissional do assistente social.
a grade curricular do curso deve possibilitar uma indissociabilidade nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão. “A postura investigativa é um suposto para a sistematização teórica e prática do
exercício profissional, assim como para a definição de estratégias e o instrumental técnico que potencializam as formas de enfrentamento da desigualdade social” (Abepss, 1996, p. 67). A Pesquisa16em Serviço Social, é apresentada como uma das matérias básicas do curso.
O AS exerce sua atividade profissional em diversos espaços, âmbitos, áreas, segmentos populacionais e em diferentes setores. Dessa multiplicidade de possibilidades de atuação advém também uma variedade de processos de trabalho, o que exige desse profissional um arsenal de conhecimentos variados.
Esse arsenal de conhecimentos ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo do qual o assistente social precisa apropriar-se no seu âmbito de atuação profissional varia, desde os considerados específicos, decorrente da área de Serviço Social propriamente dita, como também apropriações sobre legislações políticas sociais, conhecimento e habilidade de trabalhar em equipes, interfaces com poder público local, articulação de redes e com instâncias locais diversas, o que requer, além da formação generalista, apropriações aprofundadas dependendo da inserção sócio-ocupacional. 
acerca da atitude investigativa no exercício profissional do assistente social, é importante ter presente que o atual Código de Ética do Assistente Social prevê como um dos seus onze princípios fundamentais a questão do compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva de competência profissional.
O que seria, então, a propalada atitude investigativa? Remete a uma postura aberta do sujeito para investigar, a permanente curiosidade, expectativa para aprender e entender o inesperado, o acaso, o que extrapola suas referências e o leva a ir além. A atitude investigativa consiste numa postura inquieta e curiosa, por isso é fundamental na bagagem cotidiana do profissional. A ausência dessa postura pode levar à cristalização das informações, à estagnação do aprendizado profissional, o que, consequentemente, comprometerá o compromisso do assistente social com a qualidade dos serviços prestados à população usuária.
Nessa perspectiva, Battini refere que a atitude investigativa é a permanente busca do novo pela reconstrução de categorias teórico-metodológicas de leitura e intervenção na realidade social.
a atitude investigativa torna possível a superação da visão pragmática na ação profissional, centrada na imediaticidade dos fatos e que privilegia sequências empíricas. Além disso, no exercício profissional do AS, a atitude investigativa desmistifição fato de que só fazem ciência ou só agem cientificamente aqueles que têm o privilégio de construir o saber, ou seja, os assistentes sociais que estão inseridos nas academias como docentes e pesquisadores, uma vez que tal atitude propicia desvendar, pelas mediações, a realidade aparente.
As ações profissionais dos assistentes sociais, por serem tecidas no cotidiano, não podem ser repetitivas, rotineiras e esvaziadas de sentido, ao contrário, é justamente daí que advém a sua preciosidade,
O assistente social tem uma ação profissional que se tece no dia a dia dos usuários, na particularidade de suas vidas, conforme a mesma autora explicita, transita entre demandas, carências e necessidades que se constituem de ações múltiplas. Sendo assim, esse profissional é desafiado a superar-se constantemente, reconhecendo a realidade sócio-histórica em que vive e trabalha, tornando-se protagonista da construção do projeto ético-político da categoria, que deve assegurar a ampliação da liberdade, ser atuante na consolidação da democracia, garantindo a todos os sujeitos maior equidade e justiça social, enfrentando as contradições e desigualdades socialmente produzidas.
O assistente social possui uma profissão com características muito singulares,[...] ele tem uma profissão que, como um leque, podem ser ventiladas muitas possibilidades de atuação, conforme acentua Carvalho (2005, p. 52).
Por outro lado, porém, a dinâmica das relações que forjam a intervenção do AS não se inscreve na superfície, no aparente; é preciso resgatar o seu movimento penetrando na sua essência, e isto implica e constitui uma postura investigativa permanente. Para se apreender o trabalho do AS deve-se situá-lo no contexto das relações sociais concretas de cada sociedade, pois a ação do AS é um produto humano construído historicamente. Conforme
 são fundamentais as categorias totalidade e historicidade inseridas no movimento do real, de maneira que seja possível conceber a ação profissional do AS como uma atividade de desvendamento e transformação da realidade, portanto de investigação e intervenção social.
 A partir do processo de vida real é possível decifrar as questões que se colocam na singularidade do sujeito, conhecer a realidade social em que está inserido, apreendendo os seus modos e condições e vida com seus condicionantes históricos, sociais, econômicos e culturais, porém também os seus anseios, desejos, necessidades e demandas.
Nesse sentido, é preciso considerar as mudanças tecidas na sociedade, pois as transformações que emergem na cena contemporânea e em curso alteram significativamente o tecido social e, consequentemente, o cenário e o palco onde são engendradas as relações sociais. Tais alterações produzem novas necessidades na sociedade, pois, diante do quadro caótico do contexto de agudização da questão social, cada vez mais são imprescindíveis profissionais comprometidos com o enfrentamento das mais variadas expressões da questão social, profissionais que tenham, conforme sinaliza Iamamoto (1998, p. 80),
O exercício profissional do assistente social: uma equação tensionada pela 
postura investigativa e pela interdisciplinaridade
O trabalho em conjunto tem sido uma tendência discutida como uma possibilidade em diversas áreas, não somente no Serviço Social. Atualmente profissionais estão cada vez mais se conscientizando de que o trabalho solitário e isolado compromete as intervenções. No cotidiano de atuação profissional do AS não parece ser diferente; o que talvez precise mudar é o despertar generalizado dos profissionais no sentido de envidar esforços para que seja construída uma trajetória de trabalho conjunta, cada área oferecendo a sua contribuição e especificidade. Dada a importância da questão às intervenções na área de Serviço Social, abordar-se-á teoricamente a discussão sobre as relações entre as áreas do saber.
o destacar que pensar interdisciplinaridade pode ensejar alguns equívocos — como a globalização de atividades —, no sentido de que pode ser realizada por apenas um profissional [...] como se exterioriza a tão propalada interdisciplinaridade, sem que se afaste da hierarquização entre as áreas do saber que o empobrece e banaliza.
A interdisciplinaridade precisa ser pensada como uma necessidade de interação e busca dos profissionais das diferentes áreas do conhecimento. No vernáculo pátrio, a palavra interdisciplinar (inter + disciplinar) refere-se ao que é comum a duas ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento, enquanto multidisciplinar (de mui(i) + disciplina) abrange ou refere-se a muitas disciplinas (Ferreira, 1999).
Pode-se dizer que algumas das grandes limitações para se desenvolver um trabalho interdisciplinar são a falta de tempo, a sobrecarga de trabalho que demarca esse período em que se vive e a falta de oportunidades para planejamentos em equipe, surgindo, assim, a internet como alternativa para trabalhar conjuntamente, de maneira virtual.
No Serviço Social, a interdisciplinaridade pode ser trabalhada como uma possibilidade já nos cursos de formação de graduação. Isso pode ser viabiliza-do na medida em que:
a) há uma profunda articulação do conhecimento advindo de uma formação que se pretende generalista, voltado para a busca da unidade;
b) o campo de atuação do Serviço Social é múltiplo e amplo, o que o torna particularmente complexo e promissor na interação, troca e parceria na intervenção profissional;
c) o projeto profissional da categoria prima
por princípios profissionais que enaltecem a liberdade, a defesa dos direitos humanos, a luta pela ampliação e consolidação da cidadania, a defesa da democracia, o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, a garantia do pluralismo, o compromisso com a qualidade dos serviços prestados e com o aprimoramento intelectual. Tais princípios só se concretizam pela necessária articulação com outras categorias profissionais na luta pela equidade e justiça social que possibilitam o brilho coletivo.
Sendo assim, a atitude interdisciplinar exige um exercício que precisa ser construído e conquistado aos poucos, a cada dia, nas ações cotidianas dos profissionais de diferentes áreas, pois são diversas as atitudes propostas pela autora que precisam ser desenvolvidas: atitude de busca de alternativas, de espera, de reciprocidade, de humildade, de perplexidade, de desafio, de envolvimento e comprometimento, atitude de responsabilidade e também de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida
 um alerta para o fato de que, individualmente, não é possível transformar a realidade constituir nesse momento para atender a tantas demandas postas no cotidiano. Por isso é fundamental o sujeito coletivo e a superação da perspectiva do fazer profissional do sujeito solitário, Martinelli (1998b)
 a atenção para a divisão e fragmentação de saberes que muitas vezes permeiam a atuação dos diferentes profissionais e que levam à fragilização de suas intervenções.
Tendo-se clareza de que os saberes são sempre marcados pela incompletude e insuficiência de intervenções, o diálogo entre as diferentes áreas pode ser um caminho para se consolidar as atitudes necessárias à interação,
Fazenda (2003, p. 69-70), “a metodologia interdisciplinar parte de uma liberdade científica, alicerça-se no diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, criar, de ir além e exercita-se na arte de pesquisar [...] na qual se desenvolva a capacidade criativa de transformar a concreta realidade”.
A interlocução entre as diferentes áreas do saber constitui-se como um movimento interno de transformação das ciências, precisa estar aberta para o diálogo, pois não emerge espontaneamente, mas exige uma luta árdua por mudança de posturas, construídas tanto no plano individual quanto no coletivo, daí a relevância da interdisciplinaridade.
A atitude investigativa no cotidiano de trabalho do assistente social precisa ser concebida na medida em que possibilita uma ação profissional reflexiva nutrida pela intencionalidade e pelo planejamento. A ação planejada define um horizonte direcionado pelo desbravamento de ações permeadas de intencionalidade, portanto, plenas de sentido
Sendo assim, a ação do assistente social precisa ser norteada pela equação a seguir: postura investigativa + intervenção profissional + interdisciplinaridade = ação profissional com alcance social, que, por sua vez, será mediada pela intervenção nas diversas manifestações da questão social. Tal equação só adquirirá inteligibilidade e alcance social na medida em que for pautada pela interdisciplinaridade. Além disso, é fundamental ao assistente social intencionalidade e clareza de finalidade, edificados com os princípios éticos construídos pela coletividade da categoria profissional no seu projeto ético-político e fortalecido pelas ações conjuntas com as diversas categorias profissionais e com os usuários em geral. 
Para que seja possível ao assistente social fortalecer seus espaços de atuação profissional na contemporaneidade é necessário um aprendizado da inter-disciplinaridade, apreendida como uma possibilidade no exercício profissional, em que os esforços conjuntos sejam conjugados em prol da população usuária, onde seja possível despir a alma dos profissionais de preconceitos e despertá-los para “aprender a desaprender” para intervir de forma consistente, crítica, competente e, principalmente, propositiva e coletiva.
Finalmente, a atitude investigativa é o que fomenta uma ação do assistente social consistente, consequente e vice-versa. Enquanto a atitude investigativa é um movimento constante de busca, questionamentos, debruçamentos, planejamento para atuar na profissão, a ação profissional é consequência e, ao mesmo tempo, subsídio para essa investigação. Sendo assim, é preciso se desvencilhar dos limites do pragmatismo e incorporar a postura investigativa na ação do assistente social.
referencias
SANTOS, Elisangela Moura; OLIVEIRA, Greice Rodrigues de; MONTEIRO, Clarissa Augusto Barreto .SERVIÇO SOCIAL: DAS PRÁTICAS MERAMENTE INTERVENTIVAS À PESQUISA. Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais | Aracaju | v. 13 | n.14 | p. 163-171 | jul./dez. 2011
Disponivel em: http://www.unit.br/Publica/2011.2/Humanas/SERVI%C3%87O%20SOCIAL%20%20DAS%20PR%C3%81TICAS%20MERAMENTE%20INTERVENTIVAS.pdf acesso em:19/11/13
BOURGUIGNON , Jussara Ayres. A particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social. Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p. 46-54 2007
Disponivel: http://www.scielo.br/pdf/rk/v10nspe/a0510spe.pdf acesso em:19/11/13
FRAGA, Cristina Kologeski . A atitude investigativa no trabalho do assistente social. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 101, p. 40-64, jan./mar. 2010
Disponivel em:http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n101/04.pdf acesso em:19/11/13

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