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RESUMO PARA PROVA DIREITO PENAL E CRIMINOLOGIA TEORIA DO CRIME

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RESUMO DIREITO PENAL PROF FABRIZIO
A LEI DE TALIÃO consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada retaliação. Esta lei é frequentemente expressa pela máxima olho por olho, dente por dente. É a lei, registrada de forma escrita, mais antiga da história da humanidade.
AS ESCOLAS PENAIS - Escolas: Clássica, Positiva
Escola Clássica – CRIME é um ente jurídico, pois consiste na violação de um direito; PENA (1) É forma de prevenção de novos crimes, defesa da sociedade: “punitur ne peccetur” (pune-se para que não se peque); PENA (2) É uma necessidade ética, reequilíbrio do sistema (inspiração em Kant e Hegel: punitur quia peccatum est).
Escola Positiva – CRIME decorre de fatores naturais e sociais; DELINQUENTE não é dotado de livre-arbítrio; é um ser anormal sob as óticas biológica e psíquica; PENA funda-se na defesa social; objetiva a prevenção de crimes. Deve ser indeterminada, adequando-se ao criminoso para corrigi-lo (é a chamada teoria absoluta da pena; quando visar recuperação do condenado é a teoria relativa; nosso CP adota a teoria eclética ou mista, eis que os fins da pena é punir o condenado e ao mesmo tempo regenerá-lo, ou ao menos tentar).
OBS.: Garofalo (criador do termo Criminologia) vê a pena como forma de eliminar o criminoso grave, defendendo até a pena de morte. Para ele, o delinqüente típico é um ser a quem falta qualquer altruísmo, destituído de qualquer benevolência e piedade, são os epitetados de “assassinos”.Três categorias de criminosos: a) assassinos;b) violentos ou enérgicos; c) ladrões e neurastênicos. Ainda acrescentou um quatro grupo, o daqueles que cometem crimes contra os costumes, aos quais chamou de criminosos cínicos. Garófalo era um defensor da pena de morte sem qualquer comiseração.
	RESUMO DOS DELITOS E DAS PENAS CESARE BECCARIA
Cesare Bonesana, marquês de Beccaria, nasceu a 15 de março de 1738, na cidade de Milão. Por aquelas plagas sempre se destacou. Formou-se em Direito pela Universidade de Parma em 1758, mas seus ensinamentos perduram até a nossa contemporaneidade. Em 1763, quando iniciou seu labor no preparo da confecção do livro ora exposto ganhou notoriedade ao dar o primeiro grito de revolta contra as brechas desumanas do sistema penal daquela época. Diante de seu comportamento impertérrito, Cesare sofreu várias perseguições, cominando inclusive na acusação de que ele era extremamente herético, título este que naquela época causava um enorme desconforto para o cotidiano de uma pessoa.
Sua inteligência e sensibilidade para alavancar assuntos jurídicos lhe premiam até hoje com inúmeros leitores assíduos de suas obras. Suas palavras ecoam no universo caminhando por quase 300 anos, mas parecem tão hodiernas quanto às escrituras atuais.
Logo na gênese do seu indelével “Dos Delitos e Das Penas”, Cesare nos demonstra com estesia e de forma sábia sua percepção sobre poder e sociedade:
“Entretanto, numa reunião de homens, percebe-se a tendência contínua de concentrar no menor número os privilégios, o poder e a felicidade, e só deixar à maioria miséria e debilidade”.
Reparem na consciência que Beccaria possuía e, mesmo que de maneira discreta, deixou tipograficamente grafado para a posteridade a sua visão e seu pensamento a respeito do desprezo pela maioria humilde da sociedade. Devemos atentar que há 300 anos, essa idéia da concentração de rendas e privilégios entre os poderosos já imprimia certa rotina, na nublada e arcaica Itália.
Continuando a leitura deste clássico, páginas à frente nos deparamos com o ensino profícuo de Beccaria em referência à Lei. Ele reverencia a Lei, demonstrando de forma cabal que nada nem ninguém deve ser maior que a Lei. A Lei, depois a Lei, e a Lei, para só depois se usar dos institutos auxiliares do Direito. Cesare naquele momento hasteava de forma brilhante a fulgurante bandeira do Estado Democrático de Direito. Beccaria asseverou:
“E a partir do momento em que o juiz se faz mais severo do que a lei, ele se torna injusto, pois aumenta um novo castigo ao que já foi prefixado. Depreende-se que nenhum magistrado pode, mesmo sob o pretexto do bem público, aumentar a pena pronunciada contra o crime de um cidadão”.
Ele entendia que a prática política ou social de majorar punições ou criar novas atitudes senão por força legal, atentaria diretamente contra a sociedade e contra o sistema jurídico, ultrajando, assim, a segurança que o cidadão deveria ter nos seus representantes.
Prosseguindo dedilhando a obra de Beccaria, encontramos uma sentença pela qual ele afirma que a sociedade romana deveria ser exemplo para as demais no quesito “respeito às decisões judiciais”.
“Entre os romanos, quanto cidadãos não vemos, acusados anteriormente de crimes bárbaros, mas em seguida serem reconhecidamente inocentes [pela justiça], receberem do amor do povo, os primeiros cargos do Estado?”.
E prossegue:
“Um homem não pode ser considerado culpado antes da sentença do juiz; e a sociedade apenas lhe pode retirar a proteção pública depois que seja decidido que ele tenha violado as normas em que tal proteção lhe foi dada”.
Mais uma vez ele reforça que as decisões judiciais devem ser respeitadas e serem modelos de segurança para a sociedade. Mormente devemos comentar que tal prática só será realmente aplicada quando a sociedade acreditar que as nossas cortes e nossos aplicadores do Direito são honestos e justos.
Apreciando cada vez mais a leitura do livro, vemos o quanto Beccaria foi além, ele não se conteve somente em demonstrar o que acontecia por aqueles dias, emitindo sua opinião, ele lecionou modelos de conduta e formas de se buscar a justiça mais certeira e integral. Vejamos o que ele lecionava acerca dos testemunhos:
“Deve-se, portanto, conceder à testemunha maior ou menor confiança, na proporção do ódio ou da amizade que tem ao acusado e de outras relações mais ou menos estreitas que ambos mantenham”.
Podemos achar que tal ensinamento não passa de um requisito óbvio atualmente em nossos tribunais, quando o magistrado perquire acerca do parentesco, da afinidade, da amizade e da discórdia, mas não esqueçamos que ele falava sobre isso nos negros dias do século XVI.
Ainda no capítulo testemunho, Beccaria exprime um comentário muito pertinente relativo a homens consociados a grupos ou fraternidade, vejamos:
“Deve-se, igualmente, dar menos crédito a um homem que faz parte de uma ordem, ou de casta, ou de sociedade privada, cujos usos e máximas são geralmente desconhecidos, ou não são idênticos aos dos usos comuns, pois, além de suas próprias paixões, esse homem ainda tem as paixões da sociedade da qual é membro”.
Isso faz muita diferença quando ao funcionar em um processo a testemunha possui esses predicados excêntricos.
A preocupação de Beccaria no estudo exaustivo dos delitos e das penas era idealizar no final uma sentença justa e pura. O sonho de Beccaria era alcançar um dia em que o exame conjeturatório de um cidadão fosse pautado sob a correção íntegra de uma sociedade justa e sem máculas.
Ele mostrava muita preocupação no comportamento contumaz de seus concidadãos em caluniarem o próximo com o simples desejo de ver penas injustas e cruéis. Nesse âmbito ele exclamava:
“Contudo, todo governo, seja republicano ou monárquico, deve aplicar ao que calunia a pena que infligiria ao acusado se fosse culpado”.
Essa seria a fórmula mais justa para coibir os excessos de calúnia naquele dado momento de comportamentos abusivos na sociedade.
Citamos mais acima no texto sobre a forma indelével que Beccaria defendia a importância e a realeza que possui a Lei, neste sentido ele liderou um movimento de vanguarda contra a tortura, e uma das bandeiras mais defendidas, consistia de que a Lei deveria ser o remédio para os males jurídicos da sociedade.
 
Nesta seara Beccaria palestra:
 
“Aí está uma proposição muito simples: ou o crime é certo, ou é incerto. Se for certo, apenas deve ser punido com a pena que a lei fixa, e a tortura é inútil, porque não se tem mais necessidade das confissões
do acusado. Se o crime é incerto, não é hediondo atormentar um inocente? Efetivamente, perante as leis, é inocente aquele cujo delito não está provado”.
 
O princípio da presunção de inocência já era ansiado pelos quatro cantos, e nesta grafia Beccaria homenageia e ratifica um dos princípios com mais beleza existente em nossas Ciências Jurídicas. Também diagnosticamos nessas linhas a sua indignação diante da tortura, prática bastante conhecida em sua época. Neste sentido Beccaria com seu pensamento sociológico demonstra de forma cabal a certeza da expressão: “violência gera violência”, senão vejamos:
“Os países e os séculos em que se puseram em prática os tormentos mais atrozes, são igualmente aqueles em que se praticaram os crimes mais horrendos”.
Esta afirmação me lembra a célebre frase de Alexandre Lacassagne, que apresentou a seguinte idéia: “A sociedade tem os criminosos que merece”.
Beccaria conseguiu condensar e demonstrar de maneira mais clara que as punições devem ser comensuradas no bojo da Lei, e que fora disso é temerário.
Para encerrar a profícua leitura desse clássico do italiano Cesare Beccaria, visualizamos a fórmula simples, clara, objetiva e certa em nossa opinião para iniciar o processo de restauração de nossa sociedade globalizada. Tal ensinamento realmente é digno de um encerramento a “chave de ouro”.
“Finalmente, a maneira mais segura, porém ao mesmo tempo mais difícil de tornar os homens menos propensos a prática do mal, é aperfeiçoar a educação”.
Pitágoricamente permito-me também imprimir a minha visão e minha efusividade em compartilhar da idéia de Beccaria, e consolido parafraseando Pitágoras, dizendo que “Educando a criança, jamais será necessário punir o adulto”.
Gostaria de findar o artigo proclamando: Cesare Beccaria, vós que é um jurisconsulto célebre, pode ter certeza que até os nossos dias também cinzentos do século XXI, Vossa Excelência detém inúmeros epígonos buscando seu estilo exemplar de luta pela Justiça.
I - Dos Delitos e Das Penas – Cesare Beccaria
O autor declara realizar no livro uma análise dos pareceres dos jurisconsultos, mas, somente, no âmbito criminal. Propõe-se a, criticar, examinar, abusos dos séculos anteriores a ele. Retoma as fontes da moral que, pelo autor, são a Revelação, as leis e a convenção social. Esta última é o foco do livro, pois, segundo ele, os pareceres estão nesta inclusos. Beccaria coloca as leis naturais e divinas como imutáveis e constantes; impondo uma ressalva às naturais, as quais podem variar de acordo com a vantagem, ou tomando-se imprescindível. Porém, esta mudança é feita pela avaliação das “relações complicadas das inconstantes combinações que governam os homens”.
Beccaria propõe, como ideal, que houvesse distribuição equitativa das vantagens entre os membros da sociedade. Porém, na realidade concentram-se privilégios em poder de poucos. Assim sendo, somente as leis podem impedir ou pôr fim nestes abusos.
Junta-se a isto o fato de ocorrer inércia quando aos males que atormentam a sociedade, até os últimos extremos; e é, então, que se remetiam estes males. As leis, até hoje, não puderam mudar de vez este quadro de concentração de privilégios, pois não são feitas por observadores da natureza buscando o bem comum.
A história mostra que as leis nasceram como instrumentos das paixões da minoria; e não foram elaboradas como convenções estabelecidas entre homens livres. O autor mostra indignação com a barbárie das penas em uso nos tribunais da época, e, ainda, com a ausência de crítica sobre isto e sobre os erros acumulados há séculos. Reconhece, também, que este abuso de poder é considerado direito por poderosos.
Beccaria põe como proposta a indicação de princípios gerais dos delitos; e, também, aponta uma séria de questões que dizem sobre a finalidade da lei, sua eficácia, influência dos costumes sobre ela, entre outros assuntos.
II - Origem das penas e do direito de punir
Segundo o autor, a lei [e a moral política] deve estar “baseada em sentimentos indeléveis do coração do homem”. Ninguém faz graciosamente o sacrifício de uma parte de sal liberdade apenas visando o bem comum. Na origem das agrupações, as liberdades foram sacrificadas para haver mais segurança; entra, então, em cena o poder soberano. O depósito destas liberdades seria a lei; a qual não é o suficiente para evitar o despotismo. Por este fato, e para este motivo, foram criadas penas a estas leis.
Estas penas devem ser sensíveis, segundo o autor, pois deste modo impediriam que as paixões particulares superassem o bem comum. Por dever ser posta de lado a liberdade, escolhe-se a menor parcela dela, somente a que se faz necessária. A reunião das pequenas parcelas [de todos] fundamenta a possibilidade de punir do Direito. Quando não houver este fundamento, não haverá justiça e nem poder de direito; é um poder de fato, porém, usurpado.
“As penas que vão além da necessidade de manter o deposito da salvação pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas serão quanto mais sagrada e inviolável for a segurança e maior a liberdade que o poder soberano propiciar aos súditos.
III - Consequência desses princípios
1º) As leis [penais] podem indicar penas de cada delito, e o direito de estabelecê-las cabe ao legislador, apenas. O magistrado não pode aplicar pena não prevista em lei (“nulla poena sine praevia lege”); ele é injusto, também, quando é mais severo que a lei, aumentando, por exemplo, o efeito da lei.2º) Deve haver intermédio do magistrado para decidir se o soberano ou o acusado está correto quanto a um determinado caso, pois a terceira pessoa é imparcial. Ao soberano não compete julgar.
3º) a crueldade nos castigos é inútil, sendo, então, odiosa e injusta.
IV – Da Interpretação das leis
“As leis tomam sua força da necessidade de guiar os interesses particulares para o bem geral”
Beccaria, logo após essa afirmação, coloca o poder soberano como interprete da lei; verifica-se, então, com o juiz se fora cometido algum delito. O juiz deve fazer um silogismo; a premissa maior seria a lei; a ação, a menos; e a sentença; a consequência. Se houve excesso a esta ação, há incerteza quanto ao julgamento. Para Beccaria, consultar o espírito das leis [penais] é um erro, devendo manter-se apenas às letras delas.
Deve haver essa prisão ao texto da lei, pois cada homem tem uma opinião, pode haver paixões decidindo e julgando, e há frequente mudança de ideias e ideais; logo a lei assegura que o delito seja julgado e punido da mesma maneira em dois tribunais diferentes, faz com que haja uma mesma justiça.
Seguindo, literalmente, a lei o cidadão é protegido de abuso de tiranos e, também, pode desviar-se da prática criminosa ao identificá-la de tal forma, pois o texto da lei diz.
V – Da Obscuridade das Leis
A obscuridade das leis é um mal tanto quanto é a arbitrariedade, pois aquela precisa ser interpretada. Para livrar o domínio da lei de um pequeno grupo, deve-se traduzir os códigos legais, e tornar a lei conhecida do povo; assim, com “o texto sagrado das leis nas mãos do povo”, há menos delitos. Com isso é esperado que o conhecimento e a certeza das penas freiem as paixões, que levam ao cometimento de delitos.
Não haverá sociedade com forma fixa de governo pela força de um corpo político sem a disseminação do conhecimento legal, somente haverá força dos que compõe esse grupo. Se não há instante estável no pacto social, não existirá resistência quanto ao tempo e as vontades humanas. Essa disseminação é feita através da imprensa, que faz do público o depositário das leis; assim como foi, segundo o autor, a imprensa que fez a Europa deixar o estado de barbárie. Neste capítulo, Beccaria ainda critica expressivamente a nobreza e o claro.
VI – Da Prisão
Trata-se do direito de prender os cidadãos de modo discricionário, poder que tem o magistrado. Deste modo, a prisão continua tendo o caráter essencial que a penas à lei cade indicar, entretanto, é indicado pelo juiz. Esclarece-se aqui que a lei deve estabelecer fixamente quais indícios de delito
um acusado pode ser preso.
Ainda neste capitulo, o autor afirma que serão possíveis prisões com provas mais fracas quando as penas forem mais suaves e as prisões não forem um lugar horrível de desespero e fome. Aponta-se alguns erro na justiça criminal: há emprego de força e poder, não justiça; há, na mesma prisão, detentos inocentes (suspeitos) e criminosos convictos; entre outros.
“As leis e os usos de um povo estão sempre atrasados vários séculos em relação aos progressos atuais (...)”
VII – Dos indícios do delito e da forma dos julgamentos
Há dois tipos de provas quanto à quantidade, as de um fato que se apóiam todas entre si, e as que independem uma das outras. Às primeiras não importam o número de provas, pois destruindo uma (mais verossimilhante) as outras não valem; ao segundo tipo, quanto mais provas melhor. Quanto à qualidade, também, há outros dois grupos, perfeitas e imperfeitas. As perfeitas não existe possibilidade de inocentar o acusado, as imperfeitas mantém a possibilidade de inocência.
Ao juiz cabe a constatação dos fatos, quando a lei é clara e exata; quando necessárias destreza e habilidade na investigação das provas, o bom senso é suficiente ao magistrado. O melhor julgamento, de fato, seria o feito por iguais, não ocorrendo, então, sentimentos de desigualdade; o julgamento deve, ainda, ser público e obter legitimidade.
VIII – Das Testemunhas
A confiança que se deposita em uma testemunha deve ser medida pelo interesse que ela tem em dizer ou não a verdade; deve-se, portanto, ceder à testemunha maior ou menor confiança, na proporção do ódio ou da amizade que tem ao acusado e de outras relações mais ou menos estreitas que ambos mantenham. Houve abusos diversas vezes cometidos, como considerar nulos os testemunhos de condenados e de mulheres.
Arrolar testemunhas pode parecer adiar um processo, entretanto, procrastinações são necessárias, pois, assim, não há arbítrio do juiz e faz o povo entender que julgamentos são feitos formalmente e não pelo interesse.
Há necessidade de que não seja apenas uma testemunha. É dada maior importância às testemunhas quanto mais atrozes os crimes. O discurso da testemunha é, também, muito importante, pois se ele tiver a intenção de incriminar e não puder ser repetido com a mesma intensidade e tonalidade não pode ser considerado.
IX – Dos interrogatórios sugestivos
O único interrogatório deve ser sobre a forma do cometimento do crime e de suas circunstâncias. Quem se negar a responder o interrogatório ao juiz deve sofrer pena pesada estabelecida por leis; deve ser muito pesada devido a ofensa para a justiça. Assim como as confissões não são necessárias quando provas comprovam a autoria do crime; também não são necessários interrogatórios quando se foi verificado o crime.
X – Dos Juramentos
O juramento é uma contradição entre leis e sentimentos naturais, não há como exigir de um acusado que diga a verdade, quando seu interesse é esconder. Destrói-se a força do sentimento religioso [ao jurar em nome de Deus]; por este motivo, entre outros, o juramento é uma mera formalidade, tanto é inútil que o juramento nunca faz com que o acusado diga a verdade.
XI – Da tortura
A tortura é uma barbárie consagrada pelo uso na maioria dos governos até a época de Beccaria; porém, ela demonstra o direito da força, pois inflige pena ao cidadão quando não se sabe se é inocente ou não. Pode haver crime certo ou incerto, se é certo deve ser punido pela lei fixa, se não deve ser considerado inocente. Esta prática [tortura] assemelha-se ao ordálio, usado no direito divino (Direito Canônico na Idade Média), a única diferença é que o foco da tortura é a confissão, enquanto no ordálio as marcas eram provas de crime.
Este método faz o inocente “confessar” crimes também, ou seja, o meio de separação de inocentes e culpados une as duas classes. O resultado pode ser trágico quando o inocente fraco confessa e o culpado forte é tido como inocente. Portanto, o aquele está numa situação desfavorável; enquanto este, numa situação favorável.
Pode ser usado para conhecer cúmplices, pois quem acusa a si mesmo acusa a outros mais facilmente. Porém, o autor acreditava que, uma vez sob o risco de serem pegos, os cúmplices manteriam-se longe do crime e a sociedade de novos atentados. Há exemplos de que isso não acontece, como no caso de grupos criminosos, onde o réu, mesmo confessando, não acusa cúmplices por medo de sanção maior do grupo.
Beccaria crê que a origem tenha sido religiosa, até pelo ato da confissão.
XII – Da duração do processo e da sua prescrição
“Cabe tão-somente às leis determinar o espaço de tempo que se deve utilizar para a investigação das provas do crime, e o que se deve conceder ao acusado para que se defenda.”
Para crimes hediondos não deve haver qualquer prescrição em favor do culpado.
O tempo que é empregado na investigação das provas e o que determina a prescrição não devem ser aumentados em virtude da gravidade do delito que se persegue. Separa- se então duas categorias de delitos: Grandes e Pequenos. São separados, dentre outros critérios, pela verossimilhança, sendo o primeiro menos verossimilhante e o segundo mais.
XIII – Dos crimes iniciados; dos cúmplices; da impunidade
O princípio de um crime deve ser castigado, mas de forma mais branda, por se tratar da vontade de cometer um crume. Busca-se prevenir até tentativas iniciais do crime; porém, a punição deve ser mais branda para também fazer com que a pessoa que iniciou o crime não busque completá-lo.
Há tribunais que oferecem impunidade para cúmplice que trair seus colegas, considerado uma covardia do legislativo e, logo, do soberano, mas que pode funcionar. A impunidade pode encorajar o povo e prevenir grandes delitos; propõe que seja feita lei geral para isto, ao invés de declaração especial num caso particular.
XIV – Da moderação das penas
A função dos castigos é de impedir o culpado de tornar-se futuramente prejudicial à sociedade, e afastar a sociedade do caminho do crime, ou seja, a função da pena é utilitarista. “Quanto mais terríveis forem os castigos, tanto mais cheio de audácia será o culpado em evitá-los. Praticará novos crimes, para subtrair-se à pena que mereceu pelo primeiro.
” Historicamente, verifica-se que onde as penas foram mais cruéis, foram os lugares onde cometeu-se maior número de crimes hediondos. Nota-se que para surtir efeito, o mal causado pela pena deve superar o bem retirado pelo crime.
Porém, a crueldade das penas tem dois resultados: é difícil estabelecer proporção entre delito e pena, pois sempre haverá superação do limite humano; os tormentos mais terríveis podem provocar impunidade. O autor expõe que o rigor das penas deve estar de acordo com o atual estado do país.
XV – Da pena de morte
Esta pena não é baseada em direito algum, é, apenas, uma guerra considerada necessária contra um cidadão da sociedade; fora isto, ela nunca pôs fim ao cometimento de delitos. Este castigo tem menos efeito do que uma pena de longa duração; uma pena perpétua pode afastar o crime de qualquer cidadão. O que a pena de morte proporciona é um arrependimento fácil de última hora, a perpetuidade da pena daria uma comparação dos males praticados. Para finalizar, é dito que nenhum homem tem direito legítimo sobre a vida de outro.
XVI – Do banimento e as confiscações
É discutido se deve ser feita confiscação de bens devido ao banimento, a perda de bens é pena maior que o exílio. Se a lei determinar que todos os laços entre o condenado e a sociedade estão quebrados, pode haver confiscação. Porém, isto pode fazer de um inocente um criminoso.
XVII – Da infâmia
Não é uma pena que decorre das leis, mas do povo; deve ser rara para não abalar o poder da opinião pública, e sua própria força. Também, não deve recair sobre muitas pessoas.
XVIII – Da publicidade e da presteza das penas
“Quanto mais rápida for a aplicação da pena e mais de perto acompanhar o crime, tanto mais justa e útil será.” Trata-se da prisão preventiva, encarceramento tempo suficiente para a instrução do processo.
Tratando do processo, o autor indica o contraste entre a demora do magistrado e a pressa do acusado. “Uma pena muito retardada torna menos estreita a união dessas duas ideias: crime e punição.”
XIX – Dos asilos
Para o autor, há pouca diferença entre impunidade e asilo, que é abrigo contra a ação das leis. Porém, ele entende que um crime deve ser castigado somente no país em que foi cometido.
XX – Do uso de pôr a cabeça a prêmio
Entre os diversos argumentos do autor, os que mais são gravados são: o que ele tece quanto a debilidade da nação que precisa de ajuda para se defender, por não ter força; e o da criação de mais cem crimes para a prevenção de um.
XXI – Que as penas devem ser proporcionais aos delitos
O meio utilizado pela legislação para prevenir o crime deve ser mais forte à medida que é mais danoso ao bem público. Busca-se uma proporção entre delito e pena. Se não há essa proporção não se faz na mente da população diferença entre crimes. É necessário que sejam estabelecidas divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos crimes.
XXII – Da medida dos delitos
A exata medida é o prejuízo causado à sociedade. A intenção não infere na grandeza do crime, pois tal sentimento varia em todos os homens e no próprio indivíduo.
XXIII – Divisão dos delitos
São considerados delitos somente ações que tendam à destruição da sociedade ou aos que a representam, ações que afetam o cidadão quanto à existência, bens ou honra, ou ações que executem atos contrários aos determinados em lei ou executem atos os quais a lei proíbe – visando o bem público.
XXIV – Dos crimes de lesa-majestade
Grande crime, prejudicial à sociedade. Deve ser considerada a moral e, também, o local do ato.
XXV – Dos atentados contra a segurança dos particulares e sobretudo das violências
Existem atentados contra existência, contra honra e contra propriedade. Beccaria inclui no primeiro grupo violências por parte da nobreza e dos juízes. O autor afirma que as penas devem ser as mesmas independentemente da posição social.
XXVI – Das injúrias
Elas são punidas pela infâmia, a punição tem força vinda da opinião pública; esta evita os males que não podem ser evitados pela lei. A injúria tem como fundamento a honra, que é algo complexo, composto tanto de ideias complexas como de ideias simples. É possível a ação da opinião pública num ambiente de extrema liberdade política, no caso, as monarquias modernas, com tirania controlada pela lei.
XXVII – Dos duelos
O autor defende que quem incitou o duelo deve ser castigado, enquanto o outro participante não, por, apenas, defender sua honra.
XXVIII – Do roubo
É feita a divisão entre roubo com violência e sem, o que dá base para a diferença entre assalto e furto. O primeiro deve ser punido com pena em dinheiro, não tendo essa possibilidade – para não gerar pobreza e mais violência – pode ser punido com a escravidão. Ao segundo deve ser acrescido pena corporal.
XXIX – Do contrabando
O contrabando produz ofensa ao soberano e à nação, mas não deve haver infâmia, pois não afeta suficientemente o povo para provocar sua indignação. A vantagem do contrabando é diretamente proporcional ao número de direitos existentes.
XXX – Das falências
Faz-se diferença entre a falência por ação de má-fé e de boa-fé. Portanto, há de existir em lei a distinção entre faltas graves e leves, não se pode deixar à arbitrariedade de um magistrado. Deste modo, previnem-se as falências por fraude, e recuperam-se a economia dos homens de boa-fé.
XXXI – Dos crimes que perturbam a tranquilidade pública
“(...) os cidadãos devem conhecer o que precisam fazer para serem culpados, e o que necessitam evitar para serem inocentes.”
XXXII – Da ociosidade
Não se admite ociosidade por parte do governo, devendo ele ser partícipe nas relações sociais; porém, há um tipo de ociosidade que é aceitável e pode ser vantajosa, dando maior liberdade e riqueza ao cidadão.
XXXIII – Do suicídio
Embora seja um crime, o autor acredita que não é um delito que deve ser punido pelo homem, mas sim por Deus, que é o único que pode punir após a morte. Sendo assim, a pena ou lei para este delito é injusta e sem utilidade, porque a pena recairia sobre a família, que é inocente.
XXXIV – De alguns delitos difíceis de serem constatados
Trata-se do adultério, da pederastia e do infanticídio. O primeiro é comum porque as leis não são fixas e porque é natural a atração pelo sexo oposto, não deve haver – embora exista – quase punição, pois ela é um incentivo. A pederastia é um desvio das paixões do homem escravizado pela sociedade. As leis não procuram prevenir estes delitos com os melhores meios possíveis.
XXXV – De uma espécie particular de crime
Trata aqui da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. Diz-se que somente religiões com fundamentos pouco estáveis recorrem à força. E que, por vezes as punições religiosas perturbam a calma pública.
XXXVI – De algumas fontes gerais de erros e de injustiças na legislação
- E, antes de tudo, das falsas ideias de utilidade
Um exemplo de falsa ideia de utilidade é observar mais as necessidades particulares que as públicas. Sendo assim, essas falsas ideias são fonte de erros e injustiça. As injustiças são próprias da sociedade, e não da natureza; o delito cometido em natureza é vantajoso, por vezes, em sociedade não há proveito no prejuízo de outrem.
XXXVII – Do espírito de família
É fonte de injustiças na legislação; quanto ao legislador, ele considerou a sociedade um conjunto de famílias e não de indivíduos para criar barbaridade e vícios. Pelas leis serem obras dos chefes de família, a sociedade é dividida por família, assim o espírito monárquico penetra na república. Assim como na república, os filhos numa família mantêm-se sob o domínio ou proteção dos pais pela vantagem que lhes é oferecida.
XXXVIII - Do espírito do fisco
Anteriormente à época do autor, as penas eram, apenas, de ordem pecuniária. A preocupação do juiz era em conseguir confissão do acusado para benefício do fisco; buscava-se, assim, um culpado no réu, e não a verdade.
XL – Dos meios de prevenir crimes
É preferível prevenir os delitos a puni-los, tenta-se proporcionar o máximo possível de bem aos homens e livrá-los do máximo de males. Atos não prejudiciais que são tidos como proibidos fazem, simplesmente, com que ocorra novos crimes. A melhor maneira de prevenir os delitos seria a formulação de legislação com maior clareza; a legislação exata substitui a incerteza da lei – através de revoluções. Porém, para que houvesse um permanente estado de sociedade, sem retorno à barbárie, foi preciso a utilização da religião, e a ilusão de uns poucos que erraram com boa intenção. Somente a religião seria capaz de fazer os homens obedecerem as leis a princípio.
XLI – Conclusão
A pena deve conter as seguintes características: publicidade, prontidão, utilitarismo, a menor possível dependendo de cada caso, proporcional ao crime e prevista em lei.
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
Art 1º - PRINCIPIOS DA LEGALIDADE E DA ANTERIORIDADE DA LEI
Não há crime se lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Art 2º - IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
COMENTÁRIO: no âmbito do artigo nº 2 do código penal, PARAGRAFO ÚNICO a lei só retroage em prol do réu, ou seja, se for para beneficiá-lo.
Abolitio Criminis: Exclui crime – Volta atrás, remove punição. Volta a ser réu primário - desaparecem os efeitos penais apenas.
Novatio Legis in Mellius: Surge uma lei mais branda, deixa a pena menor, durante ou após o julgamento a lei retroage pró-reu.
Novatio Legis in Pejus: A lei quando aumentar a pena do crime cometido pelo réu, não pode retroagir de forma prejudicial para o
réu – Ultratividade da lei.
Art 3º - ULTRATIVIDADE DAS LEIS PENAIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS
A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o tempo de sua duração ou cessadas as circunstâncias que determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.
Art 4º - TEMPO DO CRIME
Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
COMENTÁRIO: Tempo - Ação
Art 6º - LUGAR DO CRIME
Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou onde deveria se produzir o resultado.
COMENTÁRIO: Lugar – Onde praticado, e resultado (MISTO). No âmbito do processo penal, existe a exceção do julgamento no local da ação do criminoso.

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