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Filosofia e Sociologia(Karl Marx)

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CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICA
EMENTA
SURGIMENTO DAS CIENCIAS SOCIAIS. MODO DE PRODUÇÃO E MAIS VALIA. CLASSES SOCIAIS. ESTADO, DOMINCAÇÃO E PARTIDOS. A PERSPECTIVA NAS SIENCIAS SOCIAIS. CULTURA E SOCIEDADE. APARELHOS DE PRODUÇÃO DA SOCIEDADE. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA.
O SURGIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Podemos dizer que o aparecimento das  Ciências  Sociais  foi o RESULTADO DE PROBLEMAS PRÓPRIOS DA SOCIEDADE  em determinado momento do desenvolvimento do  capitalismo: EXODO RURAL, URBANIZAÇÃO, MOVIMENTOS REIVINDICATÓRIOS, VIOLENCIA, POBREZA,para os quais os saberes já instituídos(na Ciência, Filosofia e Religião) não eram suficientes e nem adequados para uma explicação  convincente. 
Então ocorre uma ruptura na forma de se pensar a realidade social a partir da qual se abandona paulatinamente o senso comum e as  explicações que atribuem os problemas da vida humana à justiça divina, ao acaso das próprias coisas ou à imperfeição "natural" do próprio homem em sociedade.
Nas primeiras etapas do desenvolvimento das Ciências Sociais, os cientistas, inspirados pelas Ciências da natureza e física buscam adaptar  os procedimentos de investigação das mesmas para as questões sociais emergentes. Tentaram identificar nos objetos, nos fenômenos e acontecimentos regras e conceitos que cumprissem o papel de "átomo" da sociedade ou elementos primordiais da  capazes de explica a composição dos mais diferentes "tecidos" sociais tal como se explicam a questão orgânica. Isso era uma maneira de garantir a objetividade das Ciências Sociais. 
A FAMILIARIDADE COMO SOCIAL OU O SOCIAL COMO EXOTICO.
Os fenômenos sociais são normalmente "coisas" próximas, com as quais temos contatosfrequentes no dia-a-dia e em relação às quais já possuímos algum conhecimento (senso comum). Pense em casos como o consumo de droga, a imigração, o desemprego, a educação, a violência e etc. Vejamos com mais detalhe o exemplo da educação: certo indivíduo já foi aluno, agora tem filhos que andam na escola, é vizinho de um Professor e cunhado de uma Contínua, passa todos os dias ao pé de duas escolas, vê notícias na TV sobre a educação, etc. 
Essa familiaridade com o social pode constituir um obstáculo epistemológico caso leve a pessoa a pensar que já sabe o suficiente sobre o assunto, que as crenças do senso comum bastam e que portanto não é preciso investigar mais. O que é um erro, pois mesmo que essas crenças sejam verdadeiras é preciso investigar para aprofundar o conhecimento e saber justificaraquiloquesesabe.Nesse exercício de reflexão entre o exótico e o familiar cabe-nos uma reflexão: se o familiar se torna exótico e o exótico não é exatamente um território ameaçador, que deve ser rejeitado, mas sim um espaço onde serão formadas novas possibilidades de relações sociais que precisam ser compreendidas. 
O CONCEITO DE "MODO DE PRODUÇÃO" EM KARL MARX 
Por "Modo de Produção", devemos entender a maneira como se organiza o processo pelo qual o homem age sobre a natureza material para satisfazer as suas necessidades. “Produzir é (…) trabalhar”, pondo “em movimento forças” que ajam sobre a natureza (p.67). Estas forças variam com a história e com a sociedade. O trabalho é assim não só “um processo (…) entre um homem e a natureza”, mas “supõe uma forma de sociedade” realizando-se em certas “condições sociais”, as “relações sociais de produção”.
Relações deProdução:(Capitalista): Ao modo de produção capitalista corresponde essencialmente uma relação social “entre duas classes”. Destas, uma [a burguesia], por ter o “monopólio dos meios de produção e do dinheiro”, explora a outra [a classe trabalhadora], que não é proprietária de nada exceto a sua “força de trabalho” que se vê forçada a vender.
O “objetivo da produção” é aqui o objetivo da burguesia: a criação de mais-valia para a acumulação privada de capital, não a satisfação das necessidades da maioriadosmembrosdasociedade.
Segundo Karl Marx, “... na produção social da sua vida, os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais” (Marx, Engels, Obras Escolhidas,tomoI,p.530,Edições“Avante”,1982). Quaisquer que elas sejam, as relações de produção assumem as três funções seguintes:
-determinar a forma social do acesso às fontes e ao controlo dos meios de produção;redistribuir a força de trabalho social entre os diversos processos de trabalho que produzem a vida material organizam e descrevem esse processo;
-determinar a forma social de divisão, redistribuição dos produtos do trabalho individual e coletivo e, por essa via, as formas de circulação ou não circulação dessesprodutos.MeiosdeProdução: Os meios de trabalho incluem os "instrumentos de produção" (máquinas, ferramentas), as instalações (edifícios, armazéns, silos etc), as fontes de energia utilizadas na produção (elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de transporte. 
Mais-valia
Marx chamou de mais-valia a diferença entre o valor adicionado pelos trabalhadores (incorporado às mercadorias produzidas) e o salário que recebem. A mais-valia definida desta maneira é em tudo semelhante ao trabalho gratuito que escravos ou servos entregavam a seus senhores. É uma forma disfarçada de transferência de um excedente para a classe dominante.A mais-valia é a base para os lucros, os juros das aplicações financeiras e para todas as formas de rendimentos vinculados à propriedade. A apropriação da mais-valia é o fundamento da divisão das classes sociais nocapitalismo.
Alienação
O homem, através da alienação torna-se estranho a ele mesmo; não se reconhece a si mesmo; o trabalho o tornou estranho; aquilo que produz lhe é estranho; a atividade tornou-se massificante, penosa, desgostosa por que ela tornou-se exclusivamente um meio de subsistência. A alienação, segundo Marx, "é situação resultante dos fatores materiais dominante da sociedade, e por ele caracterizada, sobretudo no setor capitalista, em que o trabalho do homem se processa de modo a produzir coisas que imediatamente são separadas dos interesses e do alcance de quem as produziu, para se transformaremindistintamenteemmercadorias".	
QUESTIONÁRIO
1. Defina modo de produção e trabalho segundo Marx.
2. Como se caracteriza as relações de produção no sistema capitalista? E qual oobjetivodaBurguesianessarelação?
3. O que você entende quando Marx afirma que as Relações de Produção são necessárias,mas,nãodavontadedohomem?
4. Quais as funções das relações de produção?
5. O que são os Meios de Produção?
6.DefinaMais-Valia.
7. Defina Alienação dentro do sistema de produção.
CLASSES SOCIAIS
Encontrar uma definição de classe social não é tarefa nada fácil, ainda mais quando o tema não gera uma definição consensual entre estudiosos das mais diferentes tradições políticas e intelectuais. Porém, uma coisa é certa! Todos estão de acordo com o fato de as classes sociais serem grupos amplos, em que a exploração econômica, opressão política e dominação cultural resultam da desigualdade econômica, do privilégio político e da discriminação cultural, respectivamente.
Os principais conceitos de classe na tradição do pensamento social são: classe social e luta de classes de Karl Marx e estratificação social de Max Weber. De modo geral, no cotidiano, o cidadão comum tende a confundir as definições de classe social.
A concepção de organização social de Karl Marx e Friedrich Engels se baseia nas relações de produção. Nesse sentido, em toda sociedade, seja pré-capitalista ou capitalista, haverá sempre uma classe dominante, que direta ou indiretamente controla ou influencia o controle do Estado; e uma classe dominada, que reproduz a estrutura social ordenada pela classe dominante e assim perpetua a exploração.
Numa sociedade organizada, não basta a constatação da consciência social para a manutenção da ordem, pois a existência social é que determina a consciência. Em outras palavras, os valores, o modo de pensar e de agir emuma sociedade são reflexos das relações entre os homens para conseguir meios para sobreviver. Assim, as relações de produção entre os homens dependem de suas relações com os meios de produção e que, de acordo com essas relações, podem ser de proprietário/não proprietário, capitalista/operário, patrão/empregado. Os homens são diferenciados em classes sociais. Aqueles homens que detêm a posse dos meios de produção apropriam-se do trabalho daqueles homens que não possuem esses meios, sendo que os últimos vendem a força de trabalho para conseguir sobreviver. A luta de classes nada mais é do que o confronto dessas classes antagônicas. Essa é a concepção marxista de classe social.
Com o desenvolvimento do capitalismo industrial e na modernidade, a linguagem comum confunde com frequência o uso do termo classe social com estrato social. Para Weber, a estratificação das classes sociais é estabelecida conforme a distribuição de determinados valores sociais (riqueza, prestígio, educação, etc.) numa sociedade, como: castas, estamentos e classes.
Em Weber, as classes constituem uma forma de estratificação social, em que a diferenciação é feita a partir do agrupamento de indivíduos que apresentam características similares, como por exemplo: negros, brancos, católicos, protestantes, homem, mulher, pobres, ricos, etc.
Em se tratando de dominação de classe, estabelecer estratos sociais conforme o grau de distribuição de poder numa sociedade é tarefa bastante árdua, porque o poder sendo exercido sobre os homens, em que uns são os que o detêm enquanto outros o suportam, torna difícil considerar que esse seja um recurso distribuído, mesmo que de forma desigual, para todos os cidadãos. Assim, as relações de classe são relações de poder, e o conceito de poder representa, de modo simples e sintético, a estruturação das desigualdades sociais. Para Weber, o juízo de valor que as pessoas fazem umas das outras e como se posicionam nas respectivas classes, depende de três fatores: poder, riqueza e prestígio; que nada mais são que elementos fundamentais para constituir a desigualdade social.
ESTADO, DOMINAÇÃO E PARTIDOS
Estado e dominação nos pressupostos de Marx
Karl Heinrich Marx (1818-1883) nasceu em Treves, capital da província alemã doReno. Como filósofo político, economista e teórico social de origem judaica exerceu grande influência no pensamento socialista e nos movimentos políticos revolucionários dos séculos XIX e XX. Durante sua conturbada vida escreveu diversas obras, sendo que, “O Capital” (1867) é considerado a mais importante.
Discutir o Estado em Marx torna-se uma tarefa um tanto árdua já que não há uma obra específica deste autor que sintetize a sua teoria do Estado. Diante disso, é necessário recorrer as suas idéias esparsas encontradas ao longo de toda a sua obra e tentar extrair delas trechos relevantes sobre o seu pensamento, pois, como podemos observar a sua concepção de Estado vai se desenvolvendo à medida que Marx vai explicitando as suas análises sobre o regime capitalista de produção. Quanto à teoria de dominação em Marx, podemos dizer que ela está intimamente ligada ao Estado, pois, este é um instrumento de dominação de classe.
Compreendemos que Marx estava preocupado com as relações e determinações recíprocas entre o Estado e a sociedade numa ótica diferente daquela de Hegel (1770-1831). Tanto é que em sua obra “Introdução a uma Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” (1842), Marx faz algumas críticas às teses políticas deste autor, sendo que, a mais importante se refere à concepção do Estado como organismo. Em linhas gerais, Hegel em sua obra acaba por deduzir de uma idéia abstrata de Estado como totalidade superior e anterior à família e à sociedade civil.
Em suas críticas Marx acusa Hegel de utilizar o método especulativo, isto é, dedução sem observação e sem respeito à realidade histórica do seu tempo e também sem estudos que pudessem comprovar como foi se formando o Estado moderno. Observamos que quando Marx faz suas críticas a Hegel ele acaba por superar também os filósofos políticos anteriores a Hegel, pois, Marx faz uma inversão das relações entre sociedade civil e Estado.
Para Marx, ao contrário desses filósofos políticos, é a sociedade civil entendida como um conjunto das relações econômicas que explica o surgimento do Estado, seu caráter, a natureza de suas leis, etc. E tem mais, enquanto que os filósofos modernos acreditavam que o Estado se encaminhava para um aperfeiçoamento cada vez maior, Marx, ao contrário, acreditava que o Estado estava fadado a sua extinção na futura sociedade sem classes.
Marx compreende o Estado como uma relação entre a infraestrutura e a superestrutura. A infraestrutura é a base econômica, ou melhor, é o conjunto das relações de produção que corresponde a um passado determinado do desenvolvimento das forças produtivas. Já a superestrutura tem como parte principal o Estado que é constituído pelas instituições jurídicas e políticas e por determinadas formas de consciência social (ideologia). Para Marx o Estado como superestrutura que é, depende da sociedade civil compreendida como a base econômica e é na sociedade civil que se formam as classes sociais e onde são também revelados os antagonismos de classe que são inconciliáveis na visão marxista. O Estado é resultado de um determinado grau de desenvolvimento econômico que está ligado à divisão da sociedade em classes, sendo que, para Marx, o Estado nasce da luta de classes.
De acordo com Marx, a Revolução Francesa representou a primeira grande vitória da burguesia no sentido de ocupar o poder político e assim organizar o Estado de modo a favorecer seus interesses. Para nosso clássico, não existe nenhum Estado neutro, este é sempre um instrumento de dominação da classe proprietária sobre a classe trabalhadora. Os partidos, que hora se revezaram na luta pelo poder, consideravam a conquista do Estado como a mais importante presa do vencedor (MARX, 1990). Quando o autor fala do Estado como domínio de classe ou como ditadura de uma classe sobre a outra, ele está quase sempre se referindo ao Estado burguês, Estado este que ele esboça muito bem na sua obra “As lutas de classe na França” (1850), onde descreve os acontecimentos franceses entre 1848 e 1850.
Na visão marxista o Estado é o aparelho ou conjunto de aparelhos cuja principal função é tentar impedir que o antagonismo de classe degenere em luta. Entretanto, este mesmo Estado não se atém a mediar os interesses das classes opostas, mas acaba por contribuir e reforçar a manutenção do domínio da classe dominante sobre a classe dominada. Temos aqui, portanto, a dominação de uma classe sobre as outras, ou seja, o poder organizado de uma classe para oprimir outra, sendo o Estado a expressão dessa dominação de classe.
Devido aos acontecimentos relatados em sua obra “O 18 Brumário de Luís Bonaparte“ (1852), Marx escreve que o Estado vai se constituindo como um estranho para a sociedade, ou seja, um organismo com suas próprias leis internas, com a sua burocracia e com a sua estrutura, a ponto de parecer independente. O Estado encontra-se num processo de contínua centralização burocrática, militar e policial que oprime toda a sociedade como se fosse um corpo separado, mas ao mesmo tempo ele exprime o poder da classe dominante. Segundo Marx somente a ditadura do proletariado poderia destruir essa máquina imensa na qual se transformou o Estado.
Marx acreditava que a luta de classes conduziria à ditadura do proletariado, ou seja, o proletariado, em luta contra a burguesia e através da revolução, transformar-se-ia em classe dominante. Esta ditadura conduziria à supressão de todas as classes, isto é, a ditadura do proletariado tendo como objetivo a eliminação do antagonismo das classes tende à gradual extinção do instrumento de domínio de classe que é o Estado. Dessa forma, o Estado em que à classe dominante é o proletariado está destinado a ser o último, ou melhor, ele é uma transição para uma sociedade sem classes.Por fim podemos dizer que para Marx, comoteórico da revolução, o Estado nasce da sociedade, nasce das classes, é a expressão da luta de classes e da dominação de uma delas, ou melhor, o Estado é a forma de dominação de uma classe sobre as outras.
Estado e dominação nos pressupostos de Weber
Diferentemente de Marx que estava preocupado com as relações sociais decorrentes do modo de produção capitalista, numa tentativa de elaborar uma teoria sistemática da estrutura e das transformações sociais, Weber tem como ponto de partida nos seus estudos a ação social, a conduta humana dotada de sentidos. A originalidade maior de Weber consiste no seu propósito de incluir o ponto de vista e as percepções subjetivas dos atores humanos no centro do estudo da sociedade. Além disso, Marx e Weber interpretam diferentemente o desenvolvimento do fenômeno capitalista. Para Marx são exclusivamente os fatores econômicos que em última instância, determinam o curso da história. Weber recusa qualquer modelo monista e determinista na explicação do desenvolvimento social. Para ele, o princípio metodológico utilizado por Marx é inadequado para a compreensão do real na sua totalidade e inesgotável complexidade.
Karl Emil Maximilian Weber (1864-1920) como sociólogo e economista com forte formação em História, é fruto também do século XIX e é considerado um dos maiores sociólogos do século XX. Ele nasceu em Erfurt na Alemanha e escreveu diversas obras entre elas podemos destacar “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (1905) e “Economia e Sociedade”, publicada em 1921, após a sua morte, por sua esposa Marianne Weber.O autor escreveu suas obras numa época em que os principais países da Europa ocidental tinham mudado consideravelmente em relação ao tempo em que Marx desenvolveu suas ideias, isto é, algumas sociedades economicamente avançadas do ocidente já tinham alcançado certo grau de maturidade econômica sem passar pela revolução proletária que Marx previu.
Weber em suas obras procurou formular categorias gerais que pudessem ser aplicadas a todos os períodos históricos. Um dos conceitos chave da sociologia weberiana é o de dominação e o autor o define como “a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas dentro de determinado grupo de pessoas” (WEBER, 1991:3-35). Segundo Birnbaum (1994:100), o conceito de dominação weberiano serviu não somente para descrever as estruturas de dominação, mas também para descrever toda a organização da sociedade. Da mesma forma que vimos em Marx, a teoria de dominação em Weber também se encontra ligada ao Estado.
O Estado racional weberiano é definido como uma comunidade humana que pretende o monopólio do uso legitima da força física dentro de determinado território (WEBER, 1991). O Estado assim é a única fonte do direito de uso à violência e se constitui numa “relação de homens dominando homens” e essa relação é mantida por meio da violência considerada legítima. Segundo nosso autor, para que um Estado exista é necessário que um conjunto de pessoas obedeça à autoridade alegada pelos detentores do poder no referido Estado e por outro lado, para que os dominados obedeçam é necessário que os detentores do poder possuam uma autoridade reconhecida como legítima. Dessa forma, observamos que para Weber existem dois elementos essenciais que constituem o Estado: a autoridade e a legitimidade. Desses dois elementos Weber apresenta três tipos puros de dominação legítima, cada um deles gerando diferentes categorias de autoridade. Esses tipos são classificados como puros porque só podem ser encontrados isolados no nível da teoria, combinando-se quando observados em exemplos concretos.
O primeiro deles é a dominação tradicional. Significa aquela situação em que a obediência se dá por motivos de hábito, porque tal comportamento já faz parte dos costumes. É a relação de dominação enraizada na cultura da sociedade. A dominação tradicional se especifica por encontrar legitimidade na validade das ordenações e poderes de mando herdados pela tradição. Os que exercem a dominação estão determinados pela tradição. Os dominados não são membros de uma associação, mas companheiros ou súditos do senhor. Pode haver ou não quadro administrativo. As relações do quadro administrativo (quando existe um) com o soberano não são determinadas pelo dever do cargo, mas pela fidelidade pessoal. Não se obedece a uma ordem estatuída, mas à pessoa delegada pela tradição. As ordens são legítimas em parte pela força da tradição, em parte pelo arbítrio do soberano em interpretar essa tradição.
O segundo tipo de dominação é a carismática. Nela, a relação se sustenta pela crença dos subordinados nas qualidades superiores do líder. Essas qualidades podem ser tanto dons supostamente sobrenaturais quanto a coragem e as inteligências inigualáveis. A dominação carismática se especifica por encontrar legitimidade no fato de que a obediência dos dominados é uma obediência ao carisma e ao seu portador. Carisma é a qualidade extraordinária de uma personalidade considerada sobrenatural, sobre-humana ou mágica. A obediência é obediência ao líder enquanto portador de carisma. A administração se dá sem qualquer quadro racional, sem regras fixas, hierarquia ou competências. Simplesmente o chefe carismático cria ou anuncia novos mandamentos (direitos, normas, punições, etc) pela "revelação" ou por sua vontade de organização.
O último tipo de dominação é a dominação legal, ou seja, através das leis. Nessa situação, um grupo de indivíduos se submete a um conjunto de regras formalmente definidas e aceitas por todos os integrantes. São essas regras que determina ao mesmo tempo a quem e em que medida as pessoas devem obedecer. A dominação racional-legal se especifica por encontrar legitimidade no direito estatuído de modo racional, com pretensão de ser respeitado pelos membros da associação. O direito racional é um conjunto abstrato de regras a serem aplicadas em casos concretos. A administração racional supõe cuidar dos interesses da associação, nos limites da lei. O soberano está sujeito à lei. Há uma ordem de caráter impessoal. Quem obedece, não obedece à pessoa do soberano, mas obedece ao direito e o faz como membro da associação. O exercício da autoridade racional depende de um quadro administrativo hierarquizado e profissional, "separado" do poder de controle sobre os meios de administração. A administração racional se caracteriza, tipicamente, pela existência de uma burocracia. Correspondem ao tipo de dominação legal não apenas a estrutura moderna do Estado, mas toda organização, empresarial ou não, que disponha de um quadro administrativo hierarquizado.
Weber como teórico da ação, não via a dominação da mesma forma que Marx como algo inconsciente, pelo contrário ele acreditava que a dominação pudesse ser consciente, pois, para o nosso autor, mesmo quando o homem escolhe pacificamente, ainda assim há dominação. Na visão weberiana a dominação estará sempre presente, o que interessa é que ela seja considerada correta, aceita e legitima.
Estado e dominação nos pressupostos de Durkheim
O terceiro autor que propomos analisar a sua constituição de Estado é Émile DaviDurkheim (1858-1917) que nasceu na cidade de Épinal na França e, assim como Marx, dentro de uma família judaica. Como filósofo e sociólogo Durkheim escreveu diversas obras, entre outras: “A Divisão do Trabalho Social” de 1893 (tese de doutorado) e sua obra póstuma “Lições de Sociologia” que se trata de uma compilação de manuscritos do autor que foi editada em 1950.
Durkheim não concebeu uma teoria do Estado. Assim como Marx, ele idealizou uma forma de Estado a qual defendia por considerá-la a melhor pelo menos para a França do seu século. Para ele o Estado deveria funcionar como agente para garantir a organização moral da sociedade e deveria atuar como centro de organização mental dos grupos secundários, ou seja, aqueles grupos que refletiam os objetivos da coletividade (BELLAMY, 1994:169).
Na visão durkheimiana seriam esses grupos secundários que dariam origem a sociedade política e esta éque estabeleceria o Estado como seu órgão eminente encarregado de representar uma autoridade soberana. Dessa forma, Durkheim subordina o Estado à sociedade e, assim posto, a simples existência do Estado é insuficiente à existência das sociedades e do próprio indivíduo, pois:
“O Estado não se move com suas próprias forças, ele tem de seguir o rastro dos obscuros sentimentos da multidão. Ao mesmo tempo, entretanto os poderosos meios de ação de que dispõe o tornam capaz de exercer uma pesada repressão sobre os mesmos indivíduos de quem, por outro lado, permanece servo” (DURKHEIM, s.d. apud GIDDENS, 1998:116).
Para o nosso autor os grupos secundários são de grande importância por duas razões essenciais. A primeira delas, é que esses grupos são mais diretamente responsáveis pela educação do indivíduo, por forjar sua identidade. A segunda razão diz respeito ao papel que desempenham como contrapeso à força do Estado e como mediadores dos interesses mais específicos dos indivíduos que representam. Dessa forma, os grupos secundários seriam aqueles que equilibrariam o poder do Estado e este teria como uma de suas funções legitimarem e garantir o individualismo, ou seja, seria o Estado quem afirmaria e faria respeitar os direitos do indivíduo. Segundo Durkheim, a nossa individualidade moral é um produto do Estado, pois, é ele que “tende a assegurar a individuação mais completa que o estado social permita. Longe de ser o tirano do indivíduo, ele é quem resgata o indivíduo da sociedade” (DURKHEIM, 2002:96). Por outro lado, Durkheim não descartava a ideia do Estado absolutista, pois, para ele o Estado se torna absolutista na medida em que os agrupamentos secundários, que deveriam intervir entre o Estado e o indivíduo, não estão plenamente desenvolvidos nas sociedades modernas (GIDDENS, 1998).
O Estado durkheimiano não seria o detentor de um poder executivo, mas sim deliberativo. A sua principal tarefa é ser um órgão cuja responsabilidade é elaborar certas representações que deveriam ser aprovadas pela coletividade, dessa forma, seria ele quem deveria legislar para formular as normas e o ethos do conjunto da sociedade.
Em suma, Durkheim defende a ideia de que o indivíduo é produto da sociedade como um todo e sua existência só se torna real mediante a atuação do Estado. Entretanto, é somente com um equilíbrio de forças entre os grupos secundários e o Estado que o indivíduo pode existir de fato, afinal, “é desse conflito de forças sociais que nascem as liberdades individuais” (DURKHEIM, 2002:8).
Esclarecemos que apesar de o Estado não ser objeto especial de estudo para nenhum destes três clássicos da Sociologia, todos eles de alguma forma formaram noções de um Estado.Respeitando a distinção das análises sociológicas dos autores aqui vistos, que por vezes são até complementares, podemos concluir que em Marx, existe a concepção do Estado-coisa, ou seja, Estado instrumento de uma classe social. O Estado não detém poder.
O poder de Estado é sempre o exercício de uma classe social. O Estado liberal é apenas o uso da violência social, isto é, um aparelho de repressão e de dominação. Dessa forma, o legado deixado por Marx sobre o Estado se configura mais como uma crítica.
Já Weber faz uma análise normativa sobre o Estado. Para este clássico o Estado moderno é a probabilidade dele possuir o monopólio legítimo da força física: Estado-coação. Além da repressão, o Estado moderno existe como um tipo puro de dominação. Para Weber, a dominação racional-legal, dominação burocrático-moderna, pode existir como um mecanismo de integração dos indivíduos à ordem moderna. Ao contrário de Marx, Weber não acreditava que o aparato burocrático do Estado pudesse ser superado pelos meios revolucionários.
Durkheim considerava o Estado como representante da sociedade, sem explorar a possibilidade deste representar apenas a elite dominante. Ao contrário de Weber, Durkheim subordinava o Estado à sociedade. Ao contrário de Marx, Durkheim rejeitava a idéia do desaparecimento do Estado e acreditava que na sociedade moderna haveria uma expansão da jurisdição estatal. Além destas diferenças, Durkheim considerava que na sociedade moderna o Estado ocuparia o lugar da Igreja, pois o considerava como principal agente de implementação ativa dos valores do individualismo moral. Fazendo uma analogia com os órgãos do corpo humano, Durkheim comparava o Estado ao cérebro que operava por via de órgãos intermediários dentro do complexo sistema nervoso de uma sociedade diferenciada. Para este clássico o Estado é um órgão por excelência de disciplina moral.
REFERENCIAS
BELLAMY, Richard. Liberalismo e sociedade moderna. São Paulo: Editora da UNESP, 1994. p. 107-195
	Weber. In: GERTS, René E. (org)
	Max Weber e Karl Marx. São Paulo: Hucitec, 1994. 
BIRNBAUM, Norman. Interpretações conflitantes sobre a gênese do capitalismo: Marx e Capítulo IV, p. 9-119.
DURKHEIM, Émile Davi. Lições de sociologia: a moral, o direito e o Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social clássico e contemporâneo. São Paulo: Editora da UNESP, 1998.
MARX, Karl. Introdução a uma Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. In: Temas de Ciências Humanas n. 2. São Paulo: Grijalbo, 1977.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Edições Mandacaru, 1990.
MARX, Karl. As lutas de classe na França. In: Textos. São Paulo: Alfa-Ômega, s.d. Volume 3.
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Editora UNB, 1991. Volume I, capítulo I e I, p. 3-35; 139-162. Volume I, p. 517-580.
A perspectiva nas Ciências Sociais
Ciência política é o estudo da política — dos sistemas políticos, das organizações e dos processos políticos. Envolve o estudo da estrutura (e das mudanças de estrutura) e dos processos de governo — ou qualquer sistema equivalente de organização humana que tente assegurar segurança, justiça e direitos civis. Os cientistas políticos podem estudar instituições como empresas, sindicatos, igrejas, ou outras organizações cujas estruturas e processos de ação se aproximem de um governo, em complexidade e interconexão.
Existe no interior da ciência política uma discussão acerca do objeto de estudo desta ciência, que, para alguns, é o Estado e, para outros, o poder. A primeira posição restringe o objeto de estudo da ciência política; a segunda amplia. A posição da maioria dos cientistas políticos, segundo Maurice Duverger, é essa visão mais abrangente de que o objeto de estudo da ciência política é o poder.O termo "ciência política" foi cunhado em 1880 por Herbert Baxter Adams, professor de História da Universidade Johns Hopkins.
A ciência política é a teoria e prática da política e a descrição e análise dos sistemas políticos e do comportamento político.
A ciência política abrange diversos campos, como a teoria e a filosofia políticas, os sistemas políticos, ideologia, teoria dos jogos, economia política, geopolítica, geografia política, análise de políticas públicas, política comparada, relações internacionais, análise de relações exteriores, política e direito internacionais, estudos de administração pública e governo, processo legislativo, direito público (como o direito constitucional) e outros.
A ciência política emprega diversos tipos de metodologia. As abordagens da disciplina incluem a filosofia política clássica, interpretacionismo, estruturalismo, behaviorismo, racionalismo, realismo, pluralismo e institucionalismo. Na qualidade de uma das ciências sociais, a ciência política usa métodos e técnicas que podem envolver tanto fontes primárias (documentos históricos, registros oficiais) quanto secundárias (artigos acadêmicos, pesquisas, análise estatística, estudos de caso e construção de modelos).
Ainda que o estudo de política tenha sido constatado na tradição ocidental desde a Grécia antiga, a ciência política propriamente dita constituiu-se tardiamente. Esta ciência, no entanto, tem uma nítida matriz disciplinar que a antecede como a filosofia moral, filosofiapolítica, política econômica e história, entre outros campos do conhecimento cujo objeto seriam as determinações normativas do que deveria ser o estado, além da dedução de suas características e funções.
Muitos pesquisadores colocam que a ciência política difere da filosofia política e seu surgimento ocorreria, de forma embrionária, no século dezenove, época do surgimento das ciências humanas, tal como a sociologia, a antropologia, a historiografia, entre outras.
CULTURA E SOCIEDADE
A temática enunciada no título envolve conceitos que, embora se relacionem, são completamente distintos. E isso já é um primeiro problema: trata-se de ver a sociedade e a cultura a partir da ótica da sociologia, da antropologia ou da filosofia? Trata-se de frisar que a sociologia, ou a filosofia, têm uma palavra a respeito da sociedade e outra sobre a cultura? É a sociedade que produz a cultura ou a sociedade já é uma manifestação cultural?
Neste texto vamos apresentar algumas reflexões que terão esses elementos como ponto de partida. Temos claro que estas reflexões exigem maior aprofundamento. Entretanto, justamente por que o tema exige maior reflexão é que não vamos nos furtar aos nossos comentários e, justamente por isso, queremos propor a reflexão, não para falar de sociologia, mas para entender a relação da sociedade com a cultura. E para isso nos utilizaremos tanto de critérios sociológicos como filosóficos.
Uma escolha
Não vamos nos deter na complexidade da relação entre nossos eixos temáticos: sociedade e cultura. Vamos partir de uma escolha. Vamos assumir que as ciências humanas, têm uma forma específica de tratar a sociedade a qual, por sua vez, é resultante de processos culturais. Portanto estamos assumindo que a sociedade não é anterior, mas resultante – pois construção humana – de processos culturais específicos. Dessa forma nosso ponto de partida para entender a sociedade é a afirmação de que ela pode ser compreendida a partir de manifestações específicas. Em função disso podemos dizer que a compreensão da sociedade somente é possível se nos referirmos a agrupamentos humanos específicos. E esses agrupamentos também são resultantes de processos específicos. Disso se conclui que nenhum grupo humano é igual a outro; pode-se falar de aproximações, mas não podemos nos esquecer que os fenômenos sociais não se repetem: nem no mesmo grupo social nem em outros grupos, distantes ou correlatos. 
Em poucas palavras podemos dizer que as diferentes construções sociais produzem as diversas sociedades. Os comportamentos de uma família são distintos de outras; as manifestações sócio-culturais de uma cidade são distintas de outras; a formação de cada país é específica e não se repete. Um exemplo histórico comprova essa afirmação. África do sul e Estados Unidos são países com culturas completamente distintas, embora seus processo de colonização tenham sido originários da Inglaterra. Brasil e vários países da África foram colonizados por portugueses, e não se pode dizer que na África existam vários brasis nem que o Brasil seja uma repetição da África. Isso reforça o que estamos afirmando: os elementos culturais formam cada sociedade específica.
Além disso, precisamos ter claro, como sugere Berges e Luckmann (2004), que embora as realidades tenham existências independentes da vontade humana, são percebidas de forma subjetiva. “A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um todo coerente” (BERGER; LUCKMANN, 2004, p. 35). Em razão disso podemos dizer que se a percepção é subjetiva sua interpretação também o será. Essa interpretação subjetiva está relacionada à consciência que o indivíduo tem do real que o circunda.
Outro elemento que não podemos deixar de ter claro é que ao falarmos de sociedade e de cultura estamos nos referindo a fenômenos tipicamente humanos. Trata-se de realidades humanas e, portanto, nosso olhar tem o ser humano como ponto de partida. É ele que produz cultura, sendo uma das manifestações culturais a vida social ou vida em sociedade. E aqui, novamente entra a afirmação da subjetividade: 
“A consciência é sempre intencional; sempre ‘tende para’ ou é dirigida para objetos. Nunca podemos aprender um suposto substrato de consciência enquanto tal, mas somente a consciência de tal ou qual coisa. Isto assim, é pouco importando que o objeto da experiência seja experimentado como pertencendo a um mundo físico externo ou apreendido como elemento de uma realidade subjetiva interior”. (BERGER; LUCKMANN, 2004, p. 37)
A constatação inicial, portanto, é a existência do ser humano em suas diferentes características. O ser humano é uma realidade, mas é uma realidade que atua e interfere nos fenômenos e, ao mesmo tempo, produz indagações com vista na interpretação dos fenômenos da natureza e humanos. Tendo isso presente podemos nos colocar a seguinte indagação: O que é o ser humano? Que ser é esse que chamamos de humano? O que o caracteriza e o diferencia de outros seres existentes.
O Ser humano e outros existentes
O Ser Humano se percebe no mundo e se vê completamente diferente das demais realidades existentes. É ele quem dá sentido a existência dos existentes. Dá sentido porque pensa, porque se socializa e porque manipula os elementos da realidade, gerando cultura. Além disso, e sem entrar no mérito da discussão religiosa, pode-se dizer que o ser humano transcende à realidade humana.
Reflitamos essas afirmações.Partimos de uma constatação: praticamente todas as correntes de filosofia, de sociologia, de antropologia procuram dar uma explicação para esta realidade à qual se chama de ser humano. Dessas explicações um ponto parece ser comum e sobre a qual as vozes se fazem unânimes: o fato do homem ser pensante.
Pensar não é só o que se pode entender etimologicamente, com a palavra, dizendo que o ser humano é capaz de pesar, avaliar, estabelecer valores. Esse pensar refere-se também à capacidade humana de fazer escolhas; aliás o ser humano avalia, justamente, para fazer escolhas. Portanto o ser humano é aquele que avalia, escolhe, e faz isso a partir de um processo reflexivo que exige uma postura introspectiva. Esta por sua vez deriva da capacidade de abstração. Na verdade quando dizemos diz que o ser humano é capaz de pensar pretendemos afirmar que ele é capaz de falar, ou de se comunicar a respeito das realidades com as quais não está em contato imediato. Ele pode representá-las, mentalmente e nisso se dá um processo de reflexão, pois se trata de “voltar a ver” o que não está presente.
Outra característica do ser humano é a da sociabilidade. Daí vem a clássica afirmação aristotélica dizendo que “o Homem é um ser social”. A sociabilidade, ou a capacidade de viver, sobreviver e existir em coletividade parece ser o que mais bem caracteriza o homem. Entretanto aqui precisa se fazer uma ressalva. Não nos parece que o ser humano seja, essencialmente, um ser social, mas se faz social a partir de suas necessidades e para superar seus medos e suas limitações em relação aos outros e em relação ao mundo.
Dizendo de outra forma: o ser humano é um ser sectário e tende a se isolar e a viver isolado. Socializa-se porque se percebe impotente diante da natureza, mais forte que ele. E, por ter medo de não sobreviver procura ajuda de outros seus semelhantes. Assim se faz sociável numa atitude tipicamente egocêntrica, medrosa e aproveitadora. Para fugir de seus medos e disfarçar sua fraqueza aproveita-se da fraqueza dos seus semelhantes. Assim sendo o viver em sociedade é apenas uma forma de o homem se preparar para se isolar depois de se aproveitar das fraquezas dos outros seres, como ele, fracos e medrosos. Afinal, o que é nosso lar, se não nosso esconderijo?
APARELHOS DE PRODUÇÃO DA SOCIEDADE
Louis Althusser (Birmandreis, Argélia, 16 de outubro de 1918 — Paris, 22 de outubro de 1990) foi um filósofofrancês de origem argelina. Louis Althusser morreu de ataque cardíaco em 22 de outubro de 1990, aos 72 anos.
Seu nome foiuma homenagem ao seu tio paterno, que havia morrido na Primeira Guerra Mundial. Segundo o filósofo, sua mãe pretendia casar-se com esse tio, mas, após a morte deste e apenas em função disso, casou-se com o pai de Althusser. Ele também acreditava ser tratado como um substituto do tio falecido pela mãe, ao que ele atribui um grande dano psicológico.
Após a morte de seu pai, Althusser, sua irmã e sua mãe se mudaram para Marseille, onde ele cresceu. Em 1937 ele se uniu ao movimento da juventude católica. Althusser era um aluno brilhante, sendo aceito no prestigiado École Normale Supérieure (ENS) em Paris. Entretanto, ele não pôde freqüentar a escola, pois estava convocado para a Segunda Guerra Mundial e, como a maioria dos soldados franceses, ficou aprisionado em um campo de concentração. Althusser era um prisioneiro relativamente feliz, permanecendo no campo até o final da guerra, ao contrário dos demais soldados, que fugiram para lutar - motivo pelo qual Althusser se puniu mais tarde.
Após a guerra, finalmente Althusser pôde freqüentar a École Normale Supérieure. Entretanto, sua saúde mental e psicológica estava severamente abalada, tendo, inclusive, recebido a terapia de eletrochoques em 1947. A partir de então, Althusser sofreu de enfermidades periódicas durante o resto de sua vida. A Ecole Normale Supérieure foi simpática a sua condição, permitindo que ele residisse em seu próprio quarto na enfermaria, onde ele viveu por décadas, a não ser em períodos de internação hospitalar.
Marxista, filiou-se ao Partido Comunista Francês em 1948. No mesmo ano, tornou-se professor da Ecole Normale Supérieure.
Em 1946 Althusser conheceu Hélène Rytmann, uma revolucionária de origem judaico-lituana, oito anos mais velha. Ela foi sua companheira até 16 de novembro de 1980, quando foi estrangulada pelo próprio Althusser, num surto psicótico. As exatas circunstâncias do ocorrido não são conhecidas - uns afirmam ter se tratado de um acidente; outros dizem que foi um ato deliberado. Althusser afirma não se lembrar claramente do fato, alegando que, enquanto massageava o pescoço da mulher, descobriu que a tinha matado. A justiça considerou-o inimputável no momento dos acontecimentos e, em conformidade com a legilação francesa, foi declarado incapaz e inocentado em 1981.
Cinco anos mais tarde, em seu livro L'avenir dure longtemps, Althusser refletiu sobre o fato, pretendendo reivindicar uma espécie de responsabilidade por seus atos quando do assassinato, o que gerou uma polêmica entre seus correligionários e detratores, sobre tal responsabilidade ser filosófica ou real. Althusser não foi preso mas foi internado no Hospital Psiquiátrico Sainte-Anne, onde permaneceu até 1983. Após esta data, ele se mudou para o norte de Paris, onde viveu de forma reclusa, vendo poucas pessoas e não mais trabalhando, a não ser em sua autobiografia.
	
Diversas posições teóricas de Althusser permaneceram muito influentes na filosofia marxista . O ensaio Sur le jeune Marx, constante de Pour Marx, faz uso de um termo do filósofo da ciência Gaston Bachelard ao propor uma "corte epistemológico" (coupure épistémologique) entre os escritos do jovem Marx, inspirados em Hegel e Feuerbach, e seus textos posteriores, propriamente marxistas. Seu ensaio Marxisme et Humanisme, também de Pour Marx, é uma forte afirmação de anti-humanismo na teoria marxista, condenando ideias como o "potencial humano" e o "ser-da-espécie" (Gattungswesen), que são freqüentemente apresentadas por marxistas como uma superação da ideologia burguesa de humanidade. 
No ensaio Contradiction et surdétermination, Althusser usa o conceito de sobredeterminação, oriundo da psicanálise (uberdeterminierung), a fim de substituir a ideia de "contradição" por um modelo mais complexo de casualidade múltipla, em situações políticas (uma ideia muito próxima do conceito de hegemonia de Antonio Gramsci).
A rejeição dos hegelianos parte da própria negação de estruturas hegelianas em Marx, onde a totalidade expressiva de Hegel cede lugar, na proposta althusseriana, ao "todo-estruturado". É um todo sobredeterminado com níveis e instâncias relativamente autônomas: na configuração social há, diferente da lógica dialética, "todos parciais", sem prioridade de um centro. Em nível do econômico opera-se a rejeição da unicausalidade econômica da história e das lutas sociais atribuindo-se a instâncias, até então determinadas do discurso marxista (como o político e ideológico), o peso de instâncias decisivas, dominantes em ser determinantes. Essa renovação na explicação marxista dos processos sociais superou efetivamente os extremismos de se imputar invariavelmente a causa econômica a todos os acontecimentos sociais e políticos, negando-se a realidade dos fatos ou invertendo-se a sua lógica. A rejeição da totalidade expressiva hegeliana, que nos marxistas anteriores significava determinação e dominância só do econômico, ganha assim estatuto de verdade e respeitabilidade na análise social. Althusser satisfaz, nesse caso, o problema do político dominando historicamente sobre (às vezes até contra) o econômico na sociedade. Althusser é amplamente conhecido como um teórico das ideologias, e seu ensaio mais conhecido é Idéologie et appareils idéologiques d'état (Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado). O ensaio estabelece seu conceito de ideologia, que relaciona o marxismo com a psicanálise. A ideologia, para ele, deriva dos conceitos do inconsciente e da fase do espelho (de Freud e Lacan, respectivamente), e descreve as estruturas e sistemas que permitem um conceito significativo do eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis - é impossível escapar das ideologias ou não ser-lhes subjugado.
A ideologia, para Althusser, é a relação imaginária, transformada em práticas, reproduzindo as relações de produção vigentes. Na realização ideológica, a interpelação, o reconhecimento, a sujeição e os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE), são quatro categorias básicas.Em seu discurso sobre a Ideologia é patente sua preocupação em encontrar o lugar da submissão espontânea, o seu funcionamento e suas conseqüências para o movimento social.Para ele, a dominação burguesa só se estabiliza pela autonomia dos aparelhos (de produção e reprodução) isolados.
O mito do Estado, como entidade incorporada pelos cidadãos e como instituição acima da sociedade, aparece, também no estruturalismo marxista de Althusser sob a forma de "a instituição além das classes e soberana". Assim os Aparelhos Ideológicos do Estado são a espinha dorsal de sua teoria.
A teoria dos Aparelhos Ideológicos de Estado constrói uma visão monolítica e acabada de organização social, onde tudo é rigidamente organizado, planejado e definido pelo Estado, de tal sorte que não sobra mais nada para os cidadãos. Não há mais nenhuma alternativa a não ser a resignação ante o Estado onipresente e absolutamente dominante.
A visão extremamente simplista dos aparelhos ideológicos como meros agentes para garantir o desempenho do Estado e da ideologia atraiu para Althusser as freqüentes críticas de funcionalismo. Isto se deve ao fato de que ele não inclui nas suas preocupações questionamentos, sobre o surgimento desses aparelhos ideológicos e sobre sua lógica, conforme a época. Não há a noção de continuidade histórica e cada fase é uma fase em si, dentro da qual as diferentes instituições se articulam, sempre de forma relativa. Assim a igreja - ou a religião -, por exemplo, não é o resultado de uma sedimentação histórico-cultura de ideias e visões do mundo, trabalho de séculos dos organizadores da cultura; não, a igreja é a instituição e seu funcionamento só é captado dentro da lógica respectiva do momento analisado. A dimensão da "tradição de todas as gerações mortas que oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos" (Marx) desaparece.
A obra
Althusser é considerado um dos principais nomes do estruturalismo francês dos anos 1960, juntamente com Claude Lévi-Strauss, Jacques Lacan, Michel Foucault ou JacquesDerrida. Marxista, filiou-se ao Partido Comunista Francês em 1948. No mesmo ano, tornou-se professor da École Normale Supérieure.Autor de obras lidas e traduzidas no mundo inteiro como Lire Le Capital (1965), Pour Marx (1965) ou Positions (1976).Muitos manuscritos foram publicados após a sua morte dando uma imagem completa dessa obra rica, radical e contraditória
Sua principal tese é o anti-humanismo teórico que consiste em afirmar a primazia da luta de classes e criticar a individualidade como produto da ideologia burguesa. Sua fama se deve também ao fato de ter cunhado o termo "aparelhos ideológicos de Estado" e analisado a ideologia como espécie de prática em toda e qualquer sociedade e não somente como erro ou engano que o suposto iluminismo eliminaria. Uma excelente mas incompleta biografia foi publicada em francês por Yan Moulier-Boutang. A melhor apresentação de sua obra em inglês foi feita por Gregory Elliot.
Os primeiros trabalhos de Althusser incluem o volume Lire le Capital, que coleta a análise de Althusser e seus estudantes durante uma releitura filosófica d'O capital de Karl Marx. O livro reflete sobre o status filosófico da teoria marxista como "crítica da Economia política" e sobre sua finalidade.
Diversas posições teóricas de Althusser permaneceram muito influentes na filosofia marxista. O ensaio Sur le jeune Marx, constante de Pour Marx, faz uso dum termo do filósofo da ciênciaGaston Bachelard ao propôr uma "ruptura epistemológica" entre os escritos do jovem Marx, inspirados em Hegel e Feuerbach, e seus textos posteriores, propriamente marxistas. Seu ensaio Marxisme et Humanisme, também de Pour Marx, é uma forte afirmação de anti-humanismo na teoria marxista, condenando ideias como o "potencial humano" e o "ser-da-espécie" (Gattungswesen), que são frequentemente apresentadas por marxistas como uma superação da ideologia burguesa de humanidade. No ensaio Contradiction et surdétermination, Althusser usa o conceito de superdeterminação, oriundo da psicanálise, a fim de substituir a ideia de "contradição" por um modelo mais complexo de casualidade múltipla, em situações políticas (uma ideia muito próxima do conceito de hegemonia de Antonio Gramsci).
Althusser também é amplamente conhecido como um teórico das ideologias, e seu ensaio mais conhecido é Idéologie et appareils idéologiques d'état (Notes pour une recherche). O ensaio estabelece seu conceito de ideologia, também originário do conceito gramsciano de hegemonia. Ao passo que a hegemonia é determinada, em última análise, por forças políticas, a ideologia se deriva dos conceitos do inconsciente e da fase do espelho (de Freud e Lacan, respectivamente), e descreve as estruturas e sistemas que permitem um conceito significativo do eu. Estas estruturas, para Althusser, são tanto agentes de repressão quanto são inevitáveis - é impossível escapar das ideologias ou não ser-lhes subjugado. A distinção entre ideologia e ciência, ou filosofia, não é assegurada em definitivo pela "ruptura epistemológica": esta ruptura não é um evento determinado cronologicamente, mas sim um processo. Ao invés de uma vitória assegurada, tem-se uma luta contínua contra a ideologia: "A ideologia não tem história".
Os Aparelhos Ideológicos de Estado
O Estado
A tradição marxista concebe o estado como um aparelho repressivo, uma máquina de repressão que permite às classes dominantes assegurar a sua dominação sobre a classe operária, extorquindo desta última a mais-valia. O Estado é, antes de qualquer coisa, o Aparelho de Estado, termo que compreende não somente o aparelho especializado, mas também o exército (que intervém como força repressiva de apoio em última instância), o Chefe de Estado, o Governo e a Administração, definindo o Estado como força de execução e de intervenção repressiva a serviço da "classe dominante".
O essencial da teoria marxista do Estado
O Estado (e sua existência em seu aparelho) só tem sentido em função do poder de Estado (manutenção ou tomada do poder de Estado), muito embora eles sejam duas coisas distintas entre si. O Aparelho de Estado pode permanecer de pé sob acontecimentos políticos que afetem a posse do poder de Estado.
Para os clássicos do marxismo:
O Estado é o Aparelho repressivo do Estado;
Deve-se distinguir o poder de Estado do Aparelho de Estado;
O objetivo da luta de classes diz respeito ao poder de Estado e, conseqüentemente, à utilização do Aparelho de Estado pelas classes;
O proletariado deve tomar o poder do Estado para destruir o aparelho burguês existente, substituí-lo em uma primeira etapa por um aparelho de Estado completamente diferente (proletário) e elaborar nas etapas posteriores um processo radical, o da destruição do Estado (fim do poder de Estado e de todo Aparelho de Estado).
Os Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE)
Os clássicos do marxismo, em sua prática política, trataram do Estado como uma realidade mais complexa do que a definição da teoria marxista do Estado; porém, não a exprimiram numa teoria correspondente.Gramsci também o fez: para ele, o Estado não se resumia ao Aparelho (repressivo) de Estado, compreendendo também certo número de instituições da sociedade civil. Entretanto, Gramsci não sistematizou suas intuições, que permaneceram no estado de anotações.
Na teoria marxista, o Aparelho (repressivo) de Estado compreende o governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, a prisões, etc. Repressivo porque o Aparelho de Estado em questão funciona através da violência (física ou não, como a violência administrativa), pelo menos em situações limite.
Os Aparelhos Ideológicos de Estado designam realidades que se apresentam na forma de instituições distintas e especializadas. São eles:
AIE religiosos (o sistema das diferentes Igrejas);
AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas e privadas);
AIE familiar;
AIE jurídico;
AIE político (o sistema político, os diferentes Partidos);
AIE sindical;
AIE cultural (Letras, Belas Artes, esportes, etc.);
AIE de informação (a imprensa, o rádio, a televisão, etc.).
Os Aparelhos Ideológicos de Estado não se confundem com o Aparelho (repressivo) de Estado, consistindo nos seguintes pontos essa diferença:
Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto que existe uma pluralidade de Aparelhos Ideológicos de Estado.
Enquanto que o Aparelho (repressivo) de Estado pertence inteiramente ao domínio público, a maior parte dos Aparelhos Ideológicos de Estado remete ao domínio privado. Tais instituições privadas podem ser consideradas Aparelhos Ideológicos de Estado, pois a distinção entre o público e o privado é intrínseca ao Direito burguês e o domínio do Estado lhe escapa, estando além do Direito. O Estado (da classe dominante) não é nem público e nem privado, sendo a condição de distinção entre estes dois últimos. Não importa se as instituições que compõem os Aparelhos Ideológicos de Estado são públicas ou privadas, o que importa é o seu funcionamento e instituições privadas podem funcionar perfeitamente como Aparelhos Ideológicos de Estado. Gramsci também chegou a essa conclusão.
O Aparelho Repressivo de Estado funciona predominantemente através da violência e secundariamente através da ideologia, enquanto que os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam predominantemente através da ideologia e secundariamente através da violência, seja ela atenuada, dissimulada ou simbólica. Os Aparelhos Ideológicos de Estado moldam por métodos próprios de sanções, exclusões e seleções não apenas seus funcionários, como também as suas ovelhas.
Embora diferente, constantemente combinam suas forças. Apesar de sua aparência dispersa, os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam todos predominantemente através da ideologia, que é unificada sob a ideologia da classe dominante. Então, além de deter o poder do Estado e, conseqüentemente, dispor do Aparelho (repressivo) de Estado, a classe dominante também é ativa nos Aparelhos Ideológicos de Estado.
De fato, nenhuma classe pode, de forma duradoura, deter o poder doEstado sem exercer sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos de Estado simultaneamente. Comprovando sua afirmação, Althusser alerta para a preocupação de Lênin em revolucionar, entre outros, o Aparelho Ideológico de Estado escolar, de modo a permitir ao proletariado soviético que se apropriara do poder garantir o próprio futuro da ditadura do proletariado e a passagem para o socialismo.
A partir dessa afirmação, pode-se concluir que os Aparelhos Ideológicos de Estado são meios e também lugar da luta de classes, pois neles a classe no poder não dita tão facilmente a lei quanto no Aparelho (repressivo) de Estado e também porque a resistência das classes exploradas pode neles encontrar formas de se expressar.Assim, de forma bastante resumida, distingue-se o poder de Estado do Aparelho de Estado, o qual compreende dois corpos: o corpo das instituições que constituem o Aparelho Repressivo do Estado e o corpo das instituições que representam a unidade dos Aparelhos Ideológicos de Estado. Atualmente, todo Aparelho Ideológico de Estado concorre – cada um da maneira que lhe é própria – para um mesmo fim, que é a reprodução das relações de produção, isto é, das relações de exploração capitalista.
Althusser e a Educação - O Aparelho Ideológico de Estado escolar
No passado, o número dos Aparelhos Ideológicos de Estado era maior, sendo a Igreja o dominante, reunindo funções religiosas, escolares, de informação e de cultura. A Revolução Francesa resultou não apenas na transferência do poder do Estado para a burguesia capitalista comercial, resultando também no ataque ao Aparelho Ideológico de Estado número um - a Igreja -, substituída em seu papel dominante pelo Aparelho Ideológico de Estado escolar. Na verdade, enquanto o Aparelho Ideológico de Estado político ocupava o primeiro plano no palco, na coxia o Aparelho Ideológico de Estado escolar foi estabelecido como dominante pela burguesia.
A escola se encarrega das crianças de todas as classes sociais desde a mais tenra idade, inculcando nelas os saberes contidos da ideologia dominante (a língua materna, a literatura, a matemática, a ciência, a história) ou simplesmente a ideologia dominante em estágio puro (moral, educação cívica, filosofia). E nenhum outro Aparelho Ideológico de Estado dispõe de uma audiência obrigatória por tanto tempo (6h/5dias por semana) e durante tantos anos - precisamente no período em que o indivíduo é mais vulnerável, estando espremido entre o Aparelho Ideológico de Estado familiar e o Aparelho Ideológico de Estado escolar.
Segundo Althusser, raros são os professores que se posicionam contra a ideologia, contra o sistema e contra as práticas que os aprisionam. A maioria nem sequer suspeita do trabalho que o sistema os obriga a fazer ou, o que é ainda pior, põem todo o seu empenho e engenhosidade em fazê-lo de acordo com a última orientação (os métodos novos). Eles questionam tão pouco que pelo próprio devotamento contribuem para manter e alimentar essa representação ideológica da escola, que hoje faz da Escola algo tão natural e indispensável quanto era a Igreja no passado.
Althusser tradicionalmente se afirmava como marxista, mas seu modo de pensar a educação também pode ser enquadrado na perspectiva funcionalista-durkheimiana, já que em Althusser a educação tem uma papel tão fundamental quanto em Durkheim. Mas enquanto este último analisa a conservação do "equilíbrio social", Althusser busca a ruptura, a revolução. Para Althusser, o papel da educação e suas operações são determinados fora dela, na base econômica da sociedade – perspectiva um tanto próxima a da de Bourdieu embora este último tenha incluído a especificidade da reprodução do capital simbólico.
Teoria Crítico-Reprodutivista
Althusser foi o primeiro crítico-reprodutivista no qual a teoria crítico-reprodutivista foi proposta (em suas várias vertentes) por teóricos franceses de esquerda, identificados com o marxismo, críticos da sociedade capitalista, defensores do ideário de Maio de 1968.
Os crítico-reproduvistas denunciam o caráter perverso da escola capitalista, onde a escola da maioria reduz-se totalmente à inculcação da ideologia dominante, enquanto as elites se apropriam do saber universal nas escolas particulares de boa qualidade, reproduzindo, assim, as contradições inerentes e necessárias ao capitalismo.
O enfoque crítico-reprodutivista enfatiza o aspecto político em detrimento da técnica, denunciando o caráter reprodutor da escola. A escola é vista como reprodutora porque fornece às diferentes classes e grupos sociais, formas de conhecimento, habilidades e cultura que não somente legitima a cultura dominante, mas também direcionam os alunos para postos diferenciados na força do trabalho (Giroux, 1988).A perspectiva crítico-reprodutivista se revela capaz de fazer a crítica do existente, de explicitar os mecanismos desse existente, mas não tem proposta de intervenção na realidade. Limita-se apenas a constatar que é assim e não pode ser de outra forma.
Saviani rotula as teorias de Althusser, Bourdieu/Passeron e Baudelot/Establet de crítico-reprodutivista. Segundo ele, a teoria pedagógica crítico-reprodutivista erra porque acredita que a educação não tem poder de determinar as relações sociais, ao mesmo tempo em que é por elas determinada. Ela pressupõe, erroneamente que, dada uma sociedade capitalista, a educação apenas e tão somente reproduz os interesses do capital. Por isso, ela "não apresenta proposta pedagógica, além de combater qualquer uma que se apresente", deixando os educadores de esquerda que atuem em sociedades capitalistas sem perspectivas: sua única alternativa honesta seria abandonar a ação educacional, que seria sempre "necessariamente reprodutora das condições vigentes e das relações de dominação (características próprias da sociedade capitalista)".
O Período Critico-Reprodutivista brasileiro foi um período de avanço da consciência ingênua dos educadores para uma concepção mais crítica da educação escolar.
Referências
Althusser, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
Fusari, J.C. Tendências históricas do treinamento em educação - Série Ideias, n. 3, São Paulo: FDE, p. 13-27, 1992.
Giroux, H. A Pedagogia radical e o intelectual transformador. In: Escola crítica e política cultural. 2ª ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1988.
Oliveira, A. C. F. Razões "humanas" para esquecer Louis Althusser. Alceu, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 09, p. 114-131, jul-dez. 2004.
Ramos, R. J.; Jardim, L. C. Althusser e Barthes: Vértices epistemológicos. FAMECOS, Porto Alegre, n. 17, p. 110-116, jan-abr. 2002.
Saviani, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. 2ª ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
Silva, G. M. D. Sociologia e Educação: um debate teórico e empírico sobre modernidade. Enfoques – Revista Eletrônica, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 01, p. 66-117, 2002.
FUNÇAO SOCIAL DA EMPRESA
As constantes mudanças na estrutura da economia durante a passagem das décadas trouxeram a constante necessidade de alteração nos organismos sociais. O feudalismo, com seu tímido comercio, passou por importantes evoluções estruturais durante as Cruzadas, como a criação de cidades, a descentralização do poder das mãos dos senhores feudais, e a criação de grandes feiras para trocas de produtos de todo o mundo. Tais mudanças foram as impulsionadoras de um novo sistema comercial, o mercantilismo, que, por sua vez, trouxe uma nova ideia de consumo e valor do dinheiro. O ouro e a prata passaram a serem os grandes medidores de riqueza entre as nações, que por sua vez, buscavam o total equilíbrio através do incentivo a indústria e a agricultura.
O incentivo a indústria foi de fundamental importância para a economia atual. A Revolução Industrial extinguiu o poder das mãos daqueles que produzem o bem ou fazem parte do seu processo de produção. Também surgiu neste período a figura do intermediário nas relações comerciais.
O trabalhador não tinha mais opção, além de trabalhar nas indústrias,e em péssima situação. O capitalismo era defendido pelos principais doutrinadores da época e o Estado não interferia na economia, tendo adotado a teoria econômica da “mão invisível”.A preocupação com o bem estar dos trabalhadores, e de modo geral, com os reflexos de determinada atividade na sociedade, iniciou-se 30 anos atrás. Os operários uniram-se e através dos sindicados começaram a impor suas ideais e expor a necessidade de melhores condições de trabalho. Assim surgiu a função social da empresa.
Esta se relaciona a ideia de que a empresa, juntamente com o Estado, também é responsável pelo bem estar social. De forma especifica, por meio de seus trabalhadores, propiciando boas condições de trabalho e preocupando-se com seu bem estar; de forma geral, com a preocupação que os efeitos que a atividade empresarial traz a sociedade.
Histórico
As mudanças sofridas pela sociedade no decorrer dos séculos influenciaram de forma direta a atual estrutura econômica mundial.Para compreender a importância da função social da empresa é preciso fazer uma analise do desenvolvimento das relações comerciais.
A evolução da atividade econômica passou por três momentos fundamentais, o feudalismo; o mercantilismo; e a industrialização (GUIMARAES, pag.211-212).
O feudalismo caracteriza-se principalmente pela política de independência dos feudos. Cada senhor feudal era responsável por seus servos e permitia que os mesmos plantassem em suas terras como forma de subsistência. Em contrapartida, os servos deviam obediência ao seu senhor e trabalhavam, na maior parte do ano, nas terras em que os lucros serviam ao senhor feudal. A Igreja era o órgão mais importante e quem ditava as normas, sendo o bem público sua principal meta.
Nesta época, o comércio era bastante limitado. As cidades eram pequenas e quase inexistentes, os pequenos mercados visavam apenas a negociação de produtos agrícolas. 
Com as Cruzadas, aqueles pequenos mercados expandiram-se, transformando-se em grandes feiras que vendiam produtos de todo o mundo. Tal desenvolvimento comercial impulsionou o crescimento das cidades e o surgimento da classe burguesa. O dinheiro passou a ter mais valor que a terra.
A economia das cidades tinha como base a atividade das corporações, que estabeleceram o preço justo, baseado na matéria prima e no trabalho do artesão. Houve uma significativa mudança no nível econômico da população que acabou por influenciar o preço das mercadorias, que antes era justo, passou a ser determinado pelo mercado. O lucro passou a ser o fator principal.
O surgimento da nova classe, a burguesia, impulsionou o maior crescimento das cidades e o aumento do poder econômico. O sistema feudal não sustentava mais a crescente demanda da população.Tais mudanças desencadearam o surgimento de um novo momento histórico relevante, o mercantilismo. 
Sua principal diferença estava na perda do domínio da Igreja perante a população e no crescente aumento do poder do Estado. A pátria deveria ser desenvolvida e protegida, enquanto que a colônia tinha como principal finalidade a exploração sem preocupação com o desenvolvimento ou com o social.A filosofia econômica de tal período determinava três preceitos básicos: A aquisição de prata e ouro era o que determinava se um Estado era, ou não, rico; O país buscava sua autonomia econômica; E, para tanto, o Estado incentivava o crescimento agrícola e industrial.
“A exploração de novas terras, o desenvolvimento acelerado do comércio e o enriquecimento dos mercadores e banqueiros não significaram, porém, uma prosperidade generalizada. No período compreendido entre os séculos XVI e XVII era estarrecedor o número de mendigos que vagavam pelas ruas e estradas de vários países da Europa” (GUIMARÃES, pág.213);
O desenvolvimento de uma economia voltada para todo o país influenciou na alteração do sistema de produção de bens. As cooperativas deixaram de existir, dando espaço à produção em grande escala e os artesãos passaram de donos a empregados assalariados.
O industrialismo surgiu após as significativas alterações que a política mercantilista trouxe para os trabalhadores. O desenvolvimento das indústrias criou uma nova classe de trabalhadores, os assalariados, que produziam o bem, mas não era os donos do mesmo, assim como criou, também, a figura do intermediário.
As máquinas passaram a ter um papel fundamental na produção, no qual estas consistiam em um grande investimento, ao contrario dos trabalhadores, que recebiam salários cada dia menores e tinham que adequar-se ao ritmo das maquinas, que tinham importância maior para os proprietários das indústrias.
A Revolução Industrial impediu o trabalho independente, e diminuiu a qualidade de vida da sociedade e o padrão de vida dos trabalhadores. Enquanto houvesse outros empregos, as pessoas hesitavam trabalhar nas indústrias, por ser um trabalho estafante e muito mal remunerado. 
A economia era regida pela teoria da “mão invisível”, de Adam Smith, o direito a não intervenção na propriedade privada era plenamente defendido, acima de qualquer outro, cada um poderia produzir o que desejava e vender também o que lhe interessava. O comércio deveria ser livre e se autorregular, longe de influências estatais.
A teoria da mão invisível, que era contrária a qualquer tipo de protecionismo, incitou o desenvolvimento de monopólios. Quanto maior a produção e a oferta, maior a necessidade de novos mercados, daí a política colonialista e imperialista, que explorava cada vez mais as colônias. Os doutrinadores criavam teorias, de acordo com estes, baseadas na resolução natural do conflito, mas que, na verdade, defendiam o desenvolvimento do capitalismo sem nenhuma responsabilidade com o social, somente visando a importância da propriedade privada.
“Os economistas, pretendendo "objetividade científica" da economia dentro dos moldes das ciências físicas, passaram a formular "leis econômicas" para explicar e prever os fenômenos da sociedade. Na realidade, porém, essa pretensa neutralidade e 'isenção de valores atribuída às ciências sociais serviu para mascarar sob a forma de "leis naturais" conceitos fundamentalmente ideológicos. Muitas das "leis" foram mutiladas pela economia clássica "coincidentemente" se adequavam maravilhosamente às necessidades do sistema capitalista. A "doutrina malthusiana", por exemplo, atribuiu a miséria dos trabalhadores não aos lucros excessivos, mas a uma "lei natural". A solução não estaria, portanto, nem nas restrições governamentais nem em revoluções, mas em se reprimir a procriação através do "controle natural". Para tomar mais forte essa "objetividade", a investigação científica deu prioridade aos dados quantitativos, sendo suas proposições muitas vezes expressas em complexas formulações matemáticas. Fórmulas sofisticadas para o cálculo das atividades econômicas foram desenvolvidas em profusão. Criou-se o culto da quantificação. Índices, taxas, estatísticas de probabilidade assumiram importância primordial. Tomou-se preponderante uma maneira de pensar e analisar os fatos que foi chamada por Georges de "raciocínio aritmomórfico". "É" ou "não é" seriam categorias totalmente distintas e mutuamente excludentes. Não se levava em consideração a nebulosidade do "é-não-é". Fechavam-se os olhos ao conflito e às contradições dialéticas. A não-consideração da dimensão qualitativa na análise dos empreendimentos econômicos teve graves efeitos para a sociedade global. As florestas, o subsolo, a fauna e o próprio homem, tudo enfim que representasse fonte de lucro passou a ser alvo de uma exploração sem escrúpulos” (GUIMARAES, pag.214);A atividade empresarial tinha como principal fim o lucro e concentrava-se somente nos critérios econômicos.
Conceito
“A função social da empresa representa um conjunto de fenômenos importantes para coletividade e é indispensável para a satisfação dos interesses inerentes à atividade econômica” (ALMEIDA, pag.141).
O conceito de função social da empresa engloba a idéia de que esta não deve visar somente o lucro, mas também preocupar-secom os reflexos que suas decisões têm perante a sociedade, seja de forma geral, incorporando ao bem privado uma utilização voltada para a coletividade; ou de forma específica, trazendo realização social ao empresário e para todos aqueles que colaboraram para alcançar tal fim.
Bulgarelli, apud Almeida defende que: “A função social da empresa deve ser entendida como o respeito aos direitos e interesses que se situam em torno da empresa”.
Comparato, apud Almeida diz que: 
“[...] a função social da propriedade não se confunde com as restrições legais ao uso e gozo dos bens próprios; em se tratando de bens de produção, o poder-dever do proprietário de dar à coisa uma destinação compatível com o interesse da coletividade transmuda-se, quando tais bens são incorporados a uma exploração empresarial, em poder-dever do titular do controle de dirigir a empresa para a realização dos interesses coletivos.”
É importante para o desenvolvimento desta que suas metas não sejam voltadas somente para o lucro, mas também se preocupar com os interesses da sociedade, adotando-se um posicionamento “progressista”. As empresas, juntamente com o Estado, têm a responsabilidade de assegurar os direitos da sociedade.
Como mostra Zanoti, 
“apenas há direito sobre a propriedade, se esta atentar para o bem-estar social. Caso contrário, não há propriedade na acepção jurídica do termo, eis que despida das condições legais positivadas no ordenamento jurídico pátrio que legitimam o domínio sobre ela, não possuindo, como conseqüência, valor econômico.”
Assim, a idéia de responsabilidade social da empresa está ligada ao conceito de função social da propriedade e da livre iniciativa. Desta forma, o empresário pode utilizar todos os meios possíveis para alcançar a finalidade de sua atividade, desde que observe os ditames legais.
Deve-se expor que a função social da empresa não é sinônima de filantropia empresarial. A última tem como impulsionador a voluntariedade, movida por algum sentimento religioso ou até por propaganda empresarial. Seu auxílio é eventual, descompromissado, não existe obrigação da empresa de acompanhar o desenvolvimento do projeto apoiado, a resolução do conflito discutido.
Objetivo econômico e objetivo social
A acumulação de capital passou a ter importância fundamental na sociedade atual. As empresas visam o lucro e a propriedade privada ao invés do social, e os trabalhadores perderam o poder sobre o bem produzido e o próprio processo de produção.
A relação entre o interesse econômico da empresa e a responsabilidade social tem três importantes vertentes. A primeira, chamada de “postura tradicional”, defende que a empresa, ao adotar a responsabilidade social, cometeria uma irresponsabilidade, já que o principal objetivo desta é gerar lucros, dividendos para os acionistas.
Friedman, apud Guimarães, diz: 
“- o objetivo das empresas numa economia de mercado, onde a competição é muito acirrada, é a maximização dos lucros;
- as ações dos executivos das empresas devem ser sempre voltadas para o objetivo do lucro, de forma a melhor remunerar os acionistas;
- investimento por parte da empresa na área social, para qualquer tipo de público (interno ou externo, empregados ou a sociedade) é uma forma de lesar os acionistas, de diminuir seus ganhos;
- procedendo com responsabilidade social a empresa estará se autotributando e, ao invés de ser elogiada, deveria ser processada.”
A segunda vertente defende idéia oposta à primeira. Para esta, o beneficio social deve prevalecer acima do beneficio econômico. Para os defensores de tal idéia, não deveria haver propriedade privada e os benefícios econômicos devem ser sempre compartilhados.
Por fim, há os “progressistas”, que defendem a idéia de que o lucro é justo e necessário, assim como a consciência social. Ambos são primordiais para o crescimento igualitário da sociedade.
Como as empresas utilizam grandes recursos da sociedade para o desenvolvimento de sua atividade, é justo que seja revertido em favor da própria alguns benefícios gerados de seus recursos. Keith Daves afirma: "A longo prazo, quem não usa poder de uma maneira que a sociedade considera responsável tenderá a perder esse poder".
É importante, também, que a empresa, ao desenvolver um projeto, durante sua criação, não se envolva somente com o lucro que poderá resultar, mas também deve observar os custos sociais para que possa ser tomada tal decisão.
Por fim, apesar das empresas não estarem obrigadas diretamente a envolver-se com algumas resoluções de caráter social, é imperativo que estas prestem assistência na resolução de tal questão. Afinal, todos são beneficiados por uma sociedade justa e equilibrada.
Kreitlon cita importantes doutrinadores, MATTEN, CRANE & CHAPPEL, 2003; CARROLL & BUCHHOLTZ, 2000; GENDRON, 2000; GIBSON, 2000; DONALDSON & PRESTON, 1995; LOGSDON & PALMER, 1988, que defendem três abordagens sobre a responsabilidade social da empresa. A primeira, conhecida como “normativa”, dita que as empresas, assim como outras atividades da sociedade, devem passar sempre por um julgamento ético. Para os defensores desta, a responsabilidade social da empresa é diretamente ligada a responsabilidade moral, a um dever moral.
A segunda, denominada “abordagem contratual”, é mais pragmática, com um viés sociológico. Wood, apud Kreitlon, afirma que:
“A idéia básica por trás da responsabilidade social empresarial é que empresas e sociedade são sistemas interdependentes, e não entidades distintas; portanto, é natural que a sociedade possua certas expectativas em relação ao que sejam comportamentos e resultados corporativos adequados.”
Entende-se que a empresa e a sociedade estão em constante interação, interligadas por um contrato social, no qual a primeira está sujeita a um controle por parte da segunda.
Por último, a terceira concepção denomina-se “abordagem estratégica”, propõe que aquilo, a médio e a longo prazo, que é bom para a sociedade também é bom para a empresa, pois esta pode: 
Tirar proveito das oportunidades de mercado decorrentes de transformações nos valores sociais se souber antecipar-se a ele o comportamento socialmente responsável pode garantir-lhe uma vantagem competitiva; uma postura proativa permite antecipar-se a novas legislações, ou mesmo evitá-las (Jones, apud Kreitlon).
Função social da empresa e princípios norteadores
As atividades exercidas pelas empresas, como dito, devem visar, além de sua atividade fim, a função social das mesmas, voltadas para a sociedade.
É necessário que haja a observância de alguns princípios básicos, que ao reger a atividade empresarial, garantam a observância dos interesses sociais.
Princípio da Dignidade Empresarial:
Defende que a atividade fim da empresa, para ser alcançada, deve cumprir, durante o percurso, tanto a função econômica quanto a função social da empresa. A atividade deve ser equilibrada e sem nenhum abuso econômico. Deve observar os preceitos constitucionais e a ética nas relações custo X beneficio.
Princípio da Boa-Fé Empresarial:
A empresa deve contratar de forma justa, observando a justiça contratual. Deve buscar a resolução dos efeitos de seus negócios jurídicos, reunindo normas e princípios éticos, buscando o equilíbrio do livre mercado com os interesses sociais.
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana:
A atividade econômica não pode estar voltada somente para o bem estar econômico de pouco, do empresário e seus acionistas, sem importar-se com as condições dos trabalhadores.
“O que tem um preço pode ser substituído por alguma coisa equivalente; o que é superior a todo preço e, portanto, não permite nenhuma equivalência, tem uma dignidade’. Substancialmente, a dignidade de um ser racional consiste no fato de que ela ‘não obedece a nenhuma lei que não seja instituída por ele mesmo’. A moralidade, como condição dessa autonomia legislativa, é, portanto, a condição da dignidade do homem e moralidade e humanidade são as únicas coisas que não têm preço [...]”. (Kant, apud Zanoti)
A Constituição Federal de 1988

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