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Aula – Prof. Anderson Araújo de Medeiros NOÇÕES INICIAIS DE DIREITO CIVIL – PARTE 3. 1. DIREITO CIVIL Etimologicamente, “civil” refere-se a cidadão. O direito civil pode ser traduzido como o Direito do Cidadão. Posto isso, conceituamos o Direito Civil como o ramo do Direito que disciplina todas as relações jurídicas da pessoa, seja uma com as outras (físicas e jurídicas), envolvendo relações familiares e obrigacionais, seja com as coisas (propriedade e posse). O direito civil também pode ser conceituado como o complexo de normas, princípios e regras que disciplinam as relações privadas desde antes do nascimento até depois da morte do ser humano. Constitui ramo do direito privado, regulador das relações obrigacionais, patrimoniais e familiares dos indivíduos entre si e perante a comunidade em toda a vida social. Personalidade, autonomia privada, liberdade negocial, propriedade, direito hereditário, solidariedade social, constitutem alguns dos elementos que definem o direito civil de hoje. 2. OBJETO O direito civil estuda os embriões, a concepção, a gestação, o nascimento, a aquisição da personalidade, a constituição de pessoas jurídicas, os bens, as relações jurídicas entre pessoas e bens, as relações obrigacionais das pessoas entre si, os contratos, a empresa e o comércio, a família, a morte e sua sucessão, etc. O direito civil acompanha as pessoas desde a sua concepção até após a sua extinção, conferindo tutela a todas essas fases. 3. HISTÓRICO SINTETIZADO DO CÓDIGO CIVIL ATÉ A ATUAL ESTRUTURA CIVILISTA BRASILEIRA Todo o direito civil remonta à denominada Roma Antiga. Não ignoramos a importância da cultura grega para o direito, nem mesmo o direito dos antigos. Contudo, cremos que a nossa matriz histórica começa a ser definida, efetivamente, no Império Romano, quando o direito civil abrangia temas de índole penal, administrativa, processual entre outros. Nesta época se destaca a presença de elementos nitidamente individualistas no direito civil. Não se falava em jurisdição, nem em Estado, como se fala na atualidade (elementos da modernidade). Entretanto, já se iniciava uma construção jurídica sobre importantes elementos do direito que até hoje subsistem. A idéia da família, da herança e do patrimônio como em todas as limitações históricas que naturalmente poderiam existir já se encontravam presentes naquele direito civil e se projetaram para a Idade Média. O direito civil regia a vida dos cidadãos romanos independentes. Na Idade Média, tanto o direito germânico, quanto o direito canônico, surgiram de modo a influenciar o até então soberano Direito Romano. Enquanto o direito civil romano se destacava por ser nitidamente individualista, a influência do foi no sentido de socializar as relações jurídicas à luz do interesse coletivo. A da época, por sua vez, também exerceu forte influência na construção desse cenário, advogando para si elementos de espiritualidade, de ideário, de eticidade, entre outros. A autoridade da igreja à época exerceu forte influência sobre o direito civil. Nada obstante, é bom que se lembre o fato de muitos dos elementos utilizados pelo Direito Canônico se originarem do próprio Direito Romano. De qualquer modo, o direito romano foi revisado, sofrendo reflexões dos elementos germânicos e religiosos até o declínio da era medieval (Sec. XVI) e surgimento do absolutismo (Sec. XVII). Com o absolutismo (Sec. XVII) que se seguiu e, finalmente, depois do Renascimento, veio à lume o Estado Moderno e a Burguesia, com o seu liberalismo econômico e suas revouções (americana e francesa). Surgem às forte influência da era napoleônica. A propósito, o Codigo Civil de Napoleão de 1804 ainda hoje é prestigiado, servindo como modelo a vários países, como na Alemanha e no Brasil. O Estado Moderno se apresenta para garantir a defesa da propriedade e das liberdades privadas (e longe não havia salvação) se apresenta como nova matriz teórica. O direito anglo-americano surge como novo elemento de influência jurídica, é o direito privado. 4. CÓDIGO CIVIL DE 1916 O primeiro Código Civil brasileiro coube à autoria de Clóvis Beviláqua, professor da Faculdade de Direito de Recife. O projeto Clóvis Beviláqua recebeu no Senado importante parecer de Rui Barbosa e foi promulgado em 01 de janeiro de 1916, entrando em vigor em 01 de janeiro de 1917. O Código Civil de 1916 foi construído mediante as influências do Código Civil Napolônico de 1804 e do Codigo Civil alemão de 1896, especialmente a estrutura defendida por Savigny de uma Parte Geral e uma Parte Especial. O Código Civil de 1916 também optou por separar-se do Direito Comercial, mantendo a dualidade dos Diplomas Jurídicos. Trata-se de um código patrimonialista, agrário, conservador e individualista, que seguiu a lógica do iluminismo. Criado sobre a égide de uma sociedade colonial, patriarcal, rural, e escravagista, valores como o trabalho, a igualdade e a função social da propriedade não estavam presentes neste primeiro Cpodigo Civil Brasileiro. Este Código sobreviveu por mais de 80 anos mas não foi capaz de se sustentar diante das mudanças sociais que se seguiram após a sua publicação. O Brasil evoluiu entre o direito liberal ao direito social democrata. A gota d´água foi o advento de uma nova ordem constitucional em 1988, cidadã e fundada na tutela do ser humano dígno, o que causava grave descompasso em relação a um Código Civil patrimonialista fincado na ordem do ter. Por conta disto, veio lume novo debate em razão da necessidade de se elaborar um novo código, algo capaz de está atualizado à frente de tantos fatos novos. 5. CÓDIGO CIVIL DE 2002 Em 1967, Miguél Reale, José Carlos Moreira Alves, Augustinho Alvim, entre outros, foram responsáveis pela criação dos artigos de lei que hoje sustentam o Código Civil de 2002, após apresentação do anteprojeto em 1972 e que culminou com 26 anos de espera e mudanças em seu texto. Além de revogar totalmente o Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002 derrogou a parte geral de Código Comercial de 1850, unificando as relações civis e comerciais, entre outras significativas mudanças. Também é importante notar que o Código Civil atual contempla inédita preocupação principiológica, elegendo a eticidade, a operabilidade e socialidade como os três pilares sobre os quais se construiu o texto legislativo. ETICIDADE OPERABILIDADE SOCIALIDADE Dever jurídico de condição das relações jurídicas de forma proba, com valores sociais e morais, boa fé e equidade. Coporifica-se através de cláusulas abertas (gerais) com conceitos indeterminados. Boa fé subjetiva # Boa fé objetiva. Ex. Boa fé, função social, etc. As normas são mais fáceis de serem interpretadas, com uso de interpretações coloquiais, priorizando o acesso a justiça (CF). Uso de um português menos rebuscado. Quebra do paradígma liberal-individual e ascensão do transindividual. Consagração dos princípios do solidarismo social, justiça distributiva e diminuição das desigualdades sociais (bases constitucionais). Ex. Função social da propriedade, dos contratos. Efetiva-se definitivamente o chamado Direito Civil Constitucional no Brasil. 6. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL Nada melhor do que conferir espaço para um olhar sob a lente constitucional, abordando a migração de importantes institutos do direito civil para a Constituição Federal de 1988. Encontramos dois fenômenos bem distintos que se baseiam nessa teoria. O primeiro, a publicização do direito civil; e o segundo, a constitucionalização do direito civil, ambos se relacionam diretamente com a nova ordemconstitucional e o novo momento do estudo do direito civil. Publicização do Dir. Civil Constitucionalização do Dir. Civil Existência de normas de ordem pública na seara civil. Ex. função social da propriedade, função social dos contratos, função social da família. Migração de regras do direito privado para o direito constitucional. A constituição assume o papel de eixo central ou de elemento harmonizador do ordenamento jurídico. Abre-se o caminho da despatrimonialização do direito civil, sendo retirados do seu centro imediato institutos como a propriedade e o contrato, os quais cedem seus lugares ao homem, sua dignidade, bem estar e procura da justiça social. Ao lado dessa responsabilização, infere-se o rompimento do individual, o qual cede espaço para o social. Mitiga-se o paradígma liberal-individual, pois o constitucionalismo de 1988 não mais confere espaço para o singular em detrimento do coletivo. Chega-se ao solidarismo.
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