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004 Noções iniciais Dir Civil - parte 3

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Aula – Prof. Anderson Araújo de Medeiros 
NOÇÕES INICIAIS DE DIREITO CIVIL – PARTE 3. 
1. DIREITO CIVIL 
Etimologicamente, “civil” refere-se a cidadão. O direito civil pode ser traduzido 
como o Direito do Cidadão. 
Posto isso, conceituamos o Direito Civil como o ramo do Direito que disciplina 
todas as relações jurídicas da pessoa, seja uma com as outras (físicas e 
jurídicas), envolvendo relações familiares e obrigacionais, seja com as coisas 
(propriedade e posse). 
O direito civil também pode ser conceituado como o complexo de normas, 
princípios e regras que disciplinam as relações privadas desde antes do 
nascimento até depois da morte do ser humano. 
Constitui ramo do direito privado, regulador das relações obrigacionais, 
patrimoniais e familiares dos indivíduos entre si e perante a comunidade em 
toda a vida social. 
Personalidade, autonomia privada, liberdade negocial, propriedade, direito 
hereditário, solidariedade social, constitutem alguns dos elementos que 
definem o direito civil de hoje. 
2. OBJETO 
O direito civil estuda os embriões, a concepção, a gestação, o nascimento, a 
aquisição da personalidade, a constituição de pessoas jurídicas, os bens, as 
relações jurídicas entre pessoas e bens, as relações obrigacionais das pessoas 
entre si, os contratos, a empresa e o comércio, a família, a morte e sua 
sucessão, etc. 
O direito civil acompanha as pessoas desde a sua concepção até após a sua 
extinção, conferindo tutela a todas essas fases. 
3. HISTÓRICO SINTETIZADO DO CÓDIGO CIVIL ATÉ A ATUAL 
ESTRUTURA CIVILISTA BRASILEIRA 
Todo o direito civil remonta à denominada Roma Antiga. Não ignoramos a 
importância da cultura grega para o direito, nem mesmo o direito dos antigos. 
Contudo, cremos que a nossa matriz histórica começa a ser definida, 
efetivamente, no Império Romano, quando o direito civil abrangia temas de 
índole penal, administrativa, processual entre outros. 
Nesta época se destaca a presença de elementos nitidamente 
individualistas no direito civil. Não se falava em jurisdição, nem em Estado, 
como se fala na atualidade (elementos da modernidade). Entretanto, já se 
iniciava uma construção jurídica sobre importantes elementos do direito que até 
hoje subsistem. A idéia da família, da herança e do patrimônio como em todas 
as limitações históricas que naturalmente poderiam existir já se encontravam 
presentes naquele direito civil e se projetaram para a Idade Média. 
O direito civil regia a vida dos cidadãos romanos independentes. 
Na Idade Média, tanto o direito germânico, quanto o direito canônico, surgiram 
de modo a influenciar o até então soberano Direito Romano. Enquanto o direito 
civil romano se destacava por ser nitidamente individualista, a influência do 
foi no sentido de socializar as relações jurídicas à luz do 
interesse coletivo. A da época, por sua vez, também exerceu 
forte influência na construção desse cenário, advogando para si elementos de 
espiritualidade, de ideário, de eticidade, entre outros. A autoridade da igreja à 
época exerceu forte influência sobre o direito civil. Nada obstante, é bom que 
se lembre o fato de muitos dos elementos utilizados pelo Direito Canônico se 
originarem do próprio Direito Romano. 
De qualquer modo, o direito romano foi revisado, sofrendo reflexões dos 
elementos germânicos e religiosos até o declínio da era medieval (Sec. XVI) e 
surgimento do absolutismo (Sec. XVII). 
Com o absolutismo (Sec. XVII) que se seguiu e, finalmente, depois do 
Renascimento, veio à lume o Estado Moderno e a Burguesia, com o seu 
liberalismo econômico e suas revouções (americana e francesa). 
Surgem às forte influência da era napoleônica. A propósito, o 
Codigo Civil de Napoleão de 1804 ainda hoje é prestigiado, servindo como 
modelo a vários países, como na Alemanha e no Brasil. O Estado Moderno se 
apresenta para garantir a defesa da propriedade e das liberdades privadas (e 
longe não havia salvação) se apresenta como nova matriz teórica. O direito 
anglo-americano surge como novo elemento de influência jurídica, é o direito 
privado. 
4. CÓDIGO CIVIL DE 1916 
O primeiro Código Civil brasileiro coube à autoria de Clóvis Beviláqua, 
professor da Faculdade de Direito de Recife. O projeto Clóvis Beviláqua 
recebeu no Senado importante parecer de Rui Barbosa e foi promulgado em 01 
de janeiro de 1916, entrando em vigor em 01 de janeiro de 1917. 
O Código Civil de 1916 foi construído mediante as influências do Código Civil 
Napolônico de 1804 e do Codigo Civil alemão de 1896, especialmente a 
estrutura defendida por Savigny de uma Parte Geral e uma Parte Especial. 
O Código Civil de 1916 também optou por separar-se do Direito Comercial, 
mantendo a dualidade dos Diplomas Jurídicos. 
Trata-se de um código patrimonialista, agrário, conservador e 
individualista, que seguiu a lógica do iluminismo. Criado sobre a égide de 
uma sociedade colonial, patriarcal, rural, e escravagista, valores como o 
trabalho, a igualdade e a função social da propriedade não estavam presentes 
neste primeiro Cpodigo Civil Brasileiro. 
Este Código sobreviveu por mais de 80 anos mas não foi capaz de se sustentar 
diante das mudanças sociais que se seguiram após a sua publicação. O Brasil 
evoluiu entre o direito liberal ao direito social democrata. 
A gota d´água foi o advento de uma nova ordem constitucional em 1988, 
cidadã e fundada na tutela do ser humano dígno, o que causava grave 
descompasso em relação a um Código Civil patrimonialista fincado na ordem 
do ter. 
Por conta disto, veio lume novo debate em razão da necessidade de se 
elaborar um novo código, algo capaz de está atualizado à frente de tantos fatos 
novos. 
5. CÓDIGO CIVIL DE 2002 
Em 1967, Miguél Reale, José Carlos Moreira Alves, Augustinho Alvim, entre 
outros, foram responsáveis pela criação dos artigos de lei que hoje sustentam o 
Código Civil de 2002, após apresentação do anteprojeto em 1972 e que 
culminou com 26 anos de espera e mudanças em seu texto. 
Além de revogar totalmente o Código Civil de 1916, o Código Civil de 2002 
derrogou a parte geral de Código Comercial de 1850, unificando as relações 
civis e comerciais, entre outras significativas mudanças. 
Também é importante notar que o Código Civil atual contempla inédita 
preocupação principiológica, elegendo a eticidade, a operabilidade e 
socialidade como os três pilares sobre os quais se construiu o texto legislativo. 
ETICIDADE OPERABILIDADE SOCIALIDADE 
Dever jurídico de condição 
das relações jurídicas de 
forma proba, com valores 
sociais e morais, boa fé e 
equidade. Coporifica-se 
através de cláusulas 
abertas (gerais) com 
conceitos indeterminados. 
Boa fé subjetiva # Boa fé 
objetiva. Ex. Boa fé, 
função social, etc. 
As normas são mais 
fáceis de serem 
interpretadas, com uso 
de interpretações 
coloquiais, priorizando 
o acesso a justiça 
(CF). Uso de um 
português menos 
rebuscado. 
Quebra do paradígma 
liberal-individual e 
ascensão do 
transindividual. 
Consagração dos 
princípios do solidarismo 
social, justiça distributiva 
e diminuição das 
desigualdades sociais 
(bases constitucionais). 
Ex. Função social da 
propriedade, dos 
contratos. 
 Efetiva-se definitivamente o chamado Direito Civil Constitucional no Brasil. 
6. DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL 
Nada melhor do que conferir espaço para um olhar sob a lente constitucional, 
abordando a migração de importantes institutos do direito civil para a 
Constituição Federal de 1988. 
Encontramos dois fenômenos bem distintos que se baseiam nessa teoria. O 
primeiro, a publicização do direito civil; e o segundo, a constitucionalização 
do direito civil, ambos se relacionam diretamente com a nova ordemconstitucional e o novo momento do estudo do direito civil. 
Publicização do Dir. Civil Constitucionalização do Dir. Civil 
Existência de normas de ordem 
pública na seara civil. Ex. função 
social da propriedade, função social 
dos contratos, função social da 
família. 
Migração de regras do direito privado 
para o direito constitucional. A 
constituição assume o papel de eixo 
central ou de elemento harmonizador 
do ordenamento jurídico. 
 
Abre-se o caminho da despatrimonialização do direito civil, sendo retirados 
do seu centro imediato institutos como a propriedade e o contrato, os quais 
cedem seus lugares ao homem, sua dignidade, bem estar e procura da justiça 
social. Ao lado dessa responsabilização, infere-se o rompimento do individual, 
o qual cede espaço para o social. 
Mitiga-se o paradígma liberal-individual, pois o constitucionalismo de 1988 não 
mais confere espaço para o singular em detrimento do coletivo. Chega-se ao 
solidarismo.

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