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ANAIS Editores Félix H. D. González Raquel Fraga e S. Raimondo Beatriz Riet-Correa Rivero Porto Alegre, Brasil 2016 Catalogação na fonte: Ana Vera Finardi Rodrigues – CRB 10/884 S612 Simpósio Nacional da Vaca Leiteira (3. : 2016 : Porto Alegre). Anais do 2º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira / Editores: Félix H. D. González, Raquel Fraga S. Raimondo, Beatriz Riet Correa Rivero. – Porto Alegre, 2016. 301 p. ; il. ISBN 978-85-66094-19-0 1. Medicina veterinária : vacas leiteiras I. González, Félix H. D. II. Raimondo, Raquel Fraga S. III. Rivero, Beatriz Riet Correa CDD 636.2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Veterinária Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias Núcleo RuminAção – Ensino, pesquisa e extensão Editores Félix Gonzalez, MV, Dr Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias. Professor Titular, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre, RS, Brasil. 91.540- 000 felix.gonzalez@ufrgs.br Raquel Fraga e S. Raimondo, MV, Dr Núcleo RuminAção-Ensino, Pesquisa e Extensão em Ruminantes. Professora Adjunta, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre, RS, Brasil. 91.540-000 rfraimondo@gmail.com Beatriz Riet-Correa Rivero, MV, Dr Núcleo RuminAção-Ensino, Pesquisa e Extensão em Ruminantes. Professora Adjunta, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves 9090. Porto Alegre, RS, Brasil. 91.540-000 beatrizriet@hotmail.com Palestrantes Carla Bittar, Agr, Dr Professora Associada, Departamento de Zootecnia, ESALQ, Universidade de São Paulo. carla@esalq.usp.br Júlio Viégas, Agr, Dr Professor Titular, Departamento de Zootecnia, Universidade federal de Santa Maria. jviegas.ufsm@gmail.com Marcelo Cecim, MV, PhD Professor Associado, Departamento de Clínica de Grandes Animais, Universidade Federal de Santa Maria. mcecim@ufsm.br Francisco Rennó, MV, Dr Professor Associado, Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo. francisco.renno@usp.br Marcelo Maronna, MV, Dr Professor Substituto, Medicina de Grandes Ruminantes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultor técnico. mmaronna@terra.com.br Eduardo Paulino da Costa, MV, Dr Professor Titular, Departamento de Veterinária, Universidade Federal de Viçosa. epcosta@ufv.br Ronaldo Gargano, MV, MSc Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo. rggargano@usp.br Márcio Nunes Correa, MV, Dr Professor Associado, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, Coordenador do Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária (NUPEEC). marcio.nunescorrea@gmail.com Fernando Nogueira de Souza, MV, Dr Pós- doutorando, Veterinary Clinical Immunology Research Group, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo. nogueirasouza@yahoo.com.br André Dalto, MV, Dr Professor Adjunto, Departamento de Medicina Animal, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. andredalto@yahoo.com.br Comissão Organizadora Felix Gonzalez Raquel Fraga e S. Raimondo Beatriz Riet-Correa Rivero José Zacarias Rampi Henrique Jacobi Matheus Fagundes Mariana Lange Capa e contra-capa Henrique Jacobi Sumário Alimentação e manejo de bezerras leiteiras Carla Maris Machado Bittar ................................................ 1 Alimentação e manejo da novilha leiteira Júlio Viegas ....................................................................... 35 Monitoramento de bem-estar e saúde em rebanhos leiteiros Marcelo Cecim .................................................................. 65 Utilização de fontes de ácidos graxos na alimentação de vacas leiteiras: potenciais e desafios F.P. Rennó, T.H. da Silva, C.S. Takiya, T.A. Del Valle, G.G. da Silva, F. Zanferari, L.G. Ghizzi, E.M.C. Zilio ... 101 Estratégias para melhorar a eficiência reprodutiva em vacas leiteiras M.M. Dias, A.B. Machado, E.P. da Silva ....................... 139 A importância do escore corporal nas lesões de casco em bovinos leiteiros Ronaldo Gargano, Fábio C. Pogliani .............................. 175 Infecções uterinas puerperais e pós-puerperais na vaca E.P. Costa, V.L.D. Queiroz, S.D. Vieira, S.V.P. Alves, A.H.A. Costa ................................................................... 203 Como melhorar a eficiência da gestão na propriedade leiteira M.N. Corrêa, M.M. de Ávila, R.C.B. Grazziotin, J.P.S. Falson, L.J. de Souza, O.Z. Buchain, C.C. Brauner ........ 237 Mastite bovina: diagnóstico e ferramentas de controle F. N. Souza, M.G. Blagitz, K.R. Santos, M.B. Heinemann, M.M. Cerqueira, A.M. Della Libera ................................ 259 Prefácio A presente publicação reúne as palestras proferidas durante o 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira, que o Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias e o Núcleo RuminAção, da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, organizaram em novembro de 2016 na cidade de Porto Alegre. Esta atividade de extensão dá sequencia a série de simpósios iniciada em 2014, para atualizar conhecimentos em diversas áreas de clínica, nutrição e metabolismo da vaca leiteira, com apoio logístico de alunos do último ano do curso de Medicina Veterinária da UFRGS. Nesta ocasião, participaram docentes da Universidade de São Paulo (Carla Bittar, Francisco Rennó, Ronaldo Gargano e Fernando Nogueira de Souza), da Universidade Federal de Pelotas (Márcio Correa), da Universidade Federal de Santa Maria (Júlio Viégas e Marcelo Cecim), da Universidade Federal de Viçosa (Eduardo Paulino da Costa) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Marcelo Maronna e André Dalto). A todos eles nosso sincero agradecimento por compartilhar seu tempo e seu conhecimento. Especiais agradecimentos ao professor Carlos Bondan da Universidade de Passo Fundo, que atuou como moderador e à Universidade UniRitter (Laureate International Universities) por servir de anfitriã durante três anos consecutivos. Também agradecemos às empresas que se vincularam e apoiaram este evento: Bayer, Kera, Agener e União Tecnopec, bem com as entidades Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Grande do Sul (Sovergs) a Buiatria-RS e a Milkpoint. Os editores Porto Alegre, novembro de 2016 1 Alimentação e manejo de bezerras leiteiras1 Carla Maris Machado Bittar Universidade de São Paulo 1. Introdução O manejo e a alimentação de bezerras são determinantes das taxas de morbidade e mortalidade, assim como do desempenho animal durante esta fase e a fase subsequente, tendo forte impacto na planilha de custo de animais de reposição. Os sistemas criação são bastante variados e parte do rebanho nacional ainda cria bezerros ao pé da vaca, com aleitamento natural; enquanto outra fração realiza o aleitamento artificial e utiliza tecnologias que aumentam a eficiência do sistema (Santos& Bittar, 2015). O manejo alimentar de bezerras tem início no fornecimento de colostro e culmina com o processo de desaleitamento dos animais, importante para a manutenção do desempenho de animais recém desaleitados. 1 Bittar, C. 2016. Alimentação e manejo de bezerras leiteiras. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p.1-34. 2 2. Cuidados com a recém-nascida Os cuidados com as bezerras recém-nascidas começam ainda antes de seu nascimento, quando vacas pré-parto são vacinadas contra patógenos que acometem animais jovens. Devido ao tipo de placenta dos bovinos, os bezerros recém-nascidos são desprovidos de imunoglobulinas (Ig) circulantes, dependendo do consumo de colostro para aquisição da chamada imunidade passiva (Davis & Drackley, 2002). Dessa forma, dos cuidados com o bezerro recém- nascido, o fornecimento de colostro é o mais importante para a redução nas taxas de mortalidade e morbidade (Besser and Gay, 1994), assim como o desempenho durante sua vida (Faber et al., 2005). O sucesso da colostragem depende basicamente de três fatores: 1) tempo para fornecimento; 2) qualidade do colostro (concentração de Ig); e 3) volume de fornecimento (Quigley, 1996). A concentração de imunoglobulinas no colostro tem sido tradicionalmente utilizada como sinônimo de qualidade, no entanto, a carga bacteriana e a presença de patógenos como também devem ser consideradas (Stewart et al., 2005). O colostro tem composição um pouco diferente do leite, apresentando menores teores de lactose, mas maiores teores de gordura, sólidos totais, minerais e vitaminas, e principalmente proteína (Tabela 1). O maior teor de proteína do colostro se deve principalmente ao maior teor de Ig. Conforme as 3 ordenhas, a composição do colostro vai sendo alterada até a secreção ser considerada como leite. Tabela 1. Alteração na composição de colostro conforme as ordenhas Colostro (ordenha pós-parto) Parâmetro 1 2 3 Leite Gravidade especif. 1,056 1,040 1,035 1,032 Sólidos, % 23,9 17,9 14,1 12,9 Proteína, % 14,0 8,4 5,1 3,1 Caseína, % 4,8 4,3 3,8 2,5 IgG, mg/mL 48,0 25,0 15,0 0,6 Gordura, % 6,7 5,4 3,9 3,7 Lactose, % 2,7 3,9 4,4 5,0 Adaptado de Foley & Otterby (1978) A relação linear entre gravidade específica do colostro e concentração de anticorpos permite o uso de um densímetro, chamado de colostrômetro, para o monitoramento da qualidade de colostro (Figura 1). Entretanto, como a gravidade específica é dependente da temperatura, as leituras devem seguir as recomendações do fabricante, de modo a não super ou subestimar a qualidade. O colostro pode ser classificado em três faixas, de acordo com a concentração de Ig: 1) Baixa qualidade: < 22 mg/mL; 2) Média qualidade: 22-50 mg/mL; e 3) Alta qualidade: > 50 mg/mL. Outra ferramenta que pode ser utilizada para avaliação da qualidade do colostro é o refratômetro de Brix (Figura 1), o qual tem uma 4 menor dependência da temperatura para avaliação. Quando utilizamos o refratômetro, consideramos o colostro como de alta qualidade quando o mesmo apresenta leituras superiores a 22% (Quigley et al., 2013). Para se garantir uma adequada transferência de imunidade, o colostro de alta qualidade deve ser fornecido logo após o nascimento ou o mais rápido possível, uma vez que a absorção de Ig é reduzida com o passar do tempo, não ocorrendo após 24h de nascimento (Godden, 2008). Assim, a transferência de imunidade passiva é dependente da capacidade de absorção de Ig (fator tempo) e da quantidade de Ig ingerida (fator qualidade). A adequada transferência de imunidade passiva adequada ocorre quando o animal apresenta às 48 horas de vida, concentração maior ou igual a 10 mg/mL, sendo 15 mg/mL o ideal, o que é garantido pelo fornecimento de colostro de boa qualidade (> 50 mg/mL) nas primeiras horas de vida. Quando estes valores não são alcançados, as taxas de mortalidade são significativamente aumentadas. Figura 1. Colostrômetro e refratômetro utilizados na avaliação de qualidade de colostro. 5 A recomendação é que os animais recebam 10% de seu peso ao nascer nas primeiras 6h após o nascimento, sendo importante que a primeira refeição ocorra o mais cedo possível. Considerando que os animais devem apresentar concentração sérica de IgG> 10 mg/mL, que o volume de plasma de bezerros (~6,5% PV) e a que a eficiência aparente de absorção de IgG é de 25%, obtém-se uma massa de IgG de 104 g, sendo esta a dose necessária no fornecimento fornecida (Davis & Drackley, 1998). Assim, de acordo com a qualidade do colostro, o volume fornecido deve ser alterado para que o consumo final seja de aproximadamente 100 g de IgG. Para garantir este consumo, quando o animal não mama voluntariamente o colostro, o uso de sonda esofágica é recomendado. A aquisição de imunidade passiva pelos animais pode ser monitorada através de leituras com refratômetro de proteína ou de Brix do soro destes animais até por volta das 48 h de vida. Existe alta correlação de proteína sérica e de Brix com a concentração de Ig no soro de bezerros (Deelen et al., 2014), o que permite inferir sobre o sucesso da colostragem. Quando se utiliza o refratômetro de proteína os seguintes valores de leitura são considerados: 1) transferência passiva adequada: > 5,5 g/ dL; transferência passiva moderada: 5,0- 5,4 g/dL; transferência passiva insuficiente: < 5,0 g/dL (Quigley, 2001). Quando o refratômetro de Brix é utilizado, considera-se adequada transferência quando se obtém leituras > 8,4% (Deelen et al., 2014). 6 A formação de um banco de colostro na propriedade garante a disponibilidade de colostro de boa qualidade e em quantidade suficiente para todos os recém-nascidos. Alguns trabalhos mostram que a conservação em geladeira pode ser feita durante até uma semana, enquanto a conservação em freezer, mais utilizada em fazendas leiteiras, pode ser feita por até um ano sem redução na qualidade (Davis & Drackley, 1998). O colostro deve ser congelado em porções que facilitem seu descongelamento, que deve ser em banho-maria com temperatura de até 50°C (Elizondo-Salazar et al., 2010), para que não tenha sua qualidade reduzida. Além de prover anticorpos aos animais até que estes tenham seu sistema imune ativo, o consumo de colostro tem impacto na vida futura. Faber et al. (2005) mostraram que animais colostrados com maiores volumes de colostro de alta qualidade apresentaram maior taxa de crescimento e maiores produções de leite na primeira e segunda lactação. Embora a colostragem seja a atividade mais importante a ser realizada com a recém-nascida, outras práticas de manejo também são necessárias no primeiro dia de vida. A cura do umbigo deve ser realizada ao nascer, e repetida pelo menos duas vezes ao dia, utilizando-se solução de iodo 5-7%. A cura deve ser feita por imersão do cordão, de preferência com o animal em pé, de forma que partículas e sujidades sejam lavadas com o excesso de iodo. Em torno de 3-4 dias o cordão já deve estar completamente mumificado e ter se destacado do animal. A cura inadequada do umbigo é uma 7 das causas de morte de animais jovens em decorrência da formação de abscessos e de entrada de patógenos na circulação do animal. A identificação e a pesagem do animal ao nascer são importantes para o acompanhamento da vida produtiva do animal. Através da identificação e da anotação de data de nascimento e peso, uma agendapode ser elaborada para cada animal contendo as datas de desaleitamento, vacinação, vermifugação, etc. Além disso, a pesagem do animal ao nascer permitirá a avaliação do manejo alimentar durante o aleitamento. 3. Manejo alimentar Os sistemas de aleitamento podem ser divididos em natural e artificial. O aleitamento natural ainda ocorre em propriedades leiteiras, geralmente quando animais não especializados para a produção de leite são utilizados, não havendo possibilidade de se ordenhar as vacas sem a presença do bezerro. Um levantamento nacional mostra que ainda em torno de 35% das propriedades leiteiras (Paraná, São Paulo e Minas Gerais) ainda tem bezerros mamando diretamente de suas mães (Santos & Bittar, 2015). O sistema natural de aleitamento não é o mais adequado do ponto de vista de manejo de bezerros, pois não permite o conhecimento do volume de leite consumido. Este sistema resulta em grande variação no desempenho de animais contemporâneos em resposta a variação na produção de leite de suas mães, maior ou menor volume 8 disponibilizado ao animal, e a consequente variação no consumo de concentrado, como mostrou o trabalho de Campos et al. (1993). Já no sistema de aleitamento artificial, os animais recebem volumes conhecidos e controlados de dieta líquida através de mamadeiras, bibeirões, baldes, containers ou até mesmo aleitadores automáticos. Os utensílios utilizados para o fornecimento são igualmente eficientes e resultam em mesmo desempenho animal (Otterby & Linn, 1981), desde que a higiene dos mesmos seja adequada. Caso isso não ocorra, maior frequência de diarreia e redução no desempenho pode ocorrer, principalmente com o uso de utensílios com bicos. Enquanto o balde tem a vantagem de ser de simples higienização, reduzindo os problemas com diarreias, tem a necessidade de treinamento dos animais. Já as mamadeiras, não exigem treinamento, atendem parte da necessidade comportamental de mamar e resultam em maior secreção de saliva e enzimas digestivas. No entanto, estão normalmente associadas a maior ocorrência de diarreias devido a resíduos da dieta líquida. Outra desvantagem das mamadeiras é maior tempo para alimentação. No entanto, como frisado por Davis & Drackley (1998) as mamadeiras com capacidade para 2 L fazem com que o produtor muitas vezes entenda que este volume é suficiente para os animais, independentemente do sistema de aleitamento. Independentemente do tipo de utensílio utilizado para o aleitamento, fornecer dieta líquida para um grande número de animais é uma tarefa laboriosa e demorada. O aleitador automático, 9 que pode ou não ter o fornecimento de concentrado acoplado, é provido de um único bico, sendo a dieta liberada após a identificação do bezerro por sistema eletrônico. O uso do aleitador automático permite que animais em programas de alimentação intensiva realizem um maior número de refeições, reproduzindo o comportamento natural de alimentação como mostrou o trabalho de Jensen (2009). No caso do uso de baldes para aleitamento intensivo, o maior número de alimentações aumenta o custo com mão de obra. O aleitamento coletivo, sem alimentador automático, mas com contêineres com bicos de mamadeira também tem sido empregado por alguns produtores, sendo mais indicado quando o fornecimento é à vontade. Embora este sistema reduza de forma marcante o tempo gasto com o aleitamento, reduzindo custos com mão de obra, requer atenção especial para a formação de lotes homogêneos do ponto de vista de peso e tamanho dos animais, reduzindo problemas de dominância. Da mesma forma, é importante que o número de bezerros no lote seja menor que o número de bicos disponíveis, reduzindo problemas de dominância. A temperatura da dieta líquida a ser fornecido deve ser próxima à temperatura corporal do animal, sendo isso ainda mais importante para regiões de clima frio. Quando a dieta é fornecida fria pode haver recusa e também menor desempenho animal devido a menor secreção de enzimas. Já a frequência de alimentação deve ser de pelo menos duas vezes ao dia, considerando-se o volume 10 fornecido. Em situações naturais estes animais realizam várias mamadas, consumindo até 12 L por dia. O leite é um dos componentes que mais onera o custo de criação de bezerras leiteiras. Dessa forma, o desaleitamento precoce ou a adoção de dieta líquida de menor custo, pode reduzir o custo final da novilha de reposição. No Brasil, a maior parte das fazendas fornece leite ou leite descarte, proveniente de vacas com mastite e/ou resíduo de antibióticos e menos de 15% dos produtores adotam sucedâneos como dieta líquida (Santos & Bittar, 2015). A oferta de leite descarte nas propriedades tem sido um obstáculo para o fornecimento de dieta líquida de melhor qualidade para bezerros leiteiros. Muitos produtores não consideram as taxas aceitáveis de vacas com mastite no rebanho (1,0%, Santos & Fonseca, 2007) e nem que estes animais reduzem sua produção em torno de 10%, pelo fato de que este leite tem um destino: o bezerreiro. Assim, transferem o problema da sala de ordenha para o bezerreiro quando fornecem este leite com alta carga bacteriana, resíduo de antibióticos e composição nutricional variada aos bezerros em aleitamento. Além de perderem com a venda deste leite e com a queda na produção das vacas, tem perdas econômicas relacionadas ao menor desempenho dos bezerros, normalmente devido ao aumento na ocorrência de diarreias, e consequentemente com maior gasto com medicamentos e tempo de mão de obra para o atendimento de animais doentes. 11 Entre as vantagens do uso de sucedâneos no aleitamento de bezerros estão, além da economia, devido ao menor preço quando comparado com o leite integral, a possibilidade de aumento na quantidade de leite a ser comercializada pelo produtor, o fornecimento de dieta líquida com composição sempre constante e a independência do aleitamento com relação aos horários de ordenha. Entretanto, a qualidade do sucedâneo, principalmente a fonte proteica, é o fator determinante para a obtenção de resultados semelhantes aos observados com o fornecimento de leite integral (NCR, 2001). Durante as primeiras semanas de vida, o fornecimento de dieta líquida de qualidade é essencial para garantir desempenho satisfatório dos animais. Durante a fase de aleitamento, 70% do custo total com alimentação e manejo estão relacionados ao fornecimento de leite (Bittar, 2007), o que faz com que produtores busquem alternativas de dieta líquida de menor custo. De acordo com Heinrichs et al. (1995), diversos sistemas e práticas de manejo de animais em aleitamento vêm sendo adotados com o objetivo de reduzir o custo com a criação destes animais. A decisão no uso de sucedâneo deve se basear em seu custo por litro diluído, comparado ao preço do leite vendido à indústria, mas principalmente em sua composição. O mercado tem uma grande variedade de produtos disponíveis para o aleitamento de bezerros, sendo importante o entendimento de que estes produtos não são igualmente 12 recomendados para bezerros de todas as idades e sistemas de aleitamento. Uma vez que bezerros jovens não tem aparato enzimático para digestão de fontes de proteína ou carboidrato de origem vegetal até por volta da terceira semana de vida, é importante que o sucedâneo tenha basicamente ingredientes de origem láctea. Os teores de proteína vão variar conforme o sistema de aleitamento (de 20 até 28% na MS), enquanto os teores de gordura são menos variáveis (entre 16 e 18% na MS). Muito embora as fonteslácteas sejam mais recomendadas, proteína isolada de soja pode também ser utilizada com algum sucesso. A quantidade de fibra de uma formulação é um bom indicativo da inclusão de fontes de proteína de origem vegetal. Quanto maior a inclusão destas fontes, maior será o teor de fibra da fórmula. Os sucedâneos para bezerros com menos de 3 semanas de idade não devem apresentar mais que 0,15% de fibra bruta em sua composição. Embora os altos teores de fibra bruta indiquem a inclusão de proteína de origem vegetal, valores menores que 0,15% não garantem sua ausência. Isso ocorre devido às tecnologias para retirada de carboidratos solúveis e também fibras da proteína da soja, por exemplo. Outro aspecto interessante com o fornecimento de sucedâneos é a possibilidade de inclusão de aditivos que tenham ação profilática contra diarreias, como os probióticos, prebióticos e acidificantes, resultando em melhor aproveitamento da dieta líquida. Em relação ao volume de dieta fornecida, podemos ter dois sistemas de aleitamento: convencional e intensivo. O sistema de 13 aleitamento convencional consiste no fornecimento de dieta líquida no volume de 10% do peso vivo (PV) da bezerra (Jasper & Weary, 2002), o que normalmente representa 4 L diários. Quando a dieta líquida é o sucedâneo, este deve conter 20-22% de PB e 15-20% de gordura, sendo reconstituído a 12,5% de sólidos (Cowles et al., 2006). Este sistema tem como objetivo estimular o consumo de concentrado para favorecer o desenvolvimento das papilas do rúmen permitindo o desaleitamento precoce, reduzir o risco de enfermidades e os gastos de alimentação e manejo. Entretanto, esta quantidade padronizada de dieta líquida fornecida aos animais geralmente atende pouco mais que as exigências de mantença, inviabilizando altas taxas de crescimento (Flower & Weary, 2001). Ainda assim, este sistema de aleitamento é adequado para alguns sistemas de produção, com taxas de crescimento em torno de 400 g/d, sendo o mais utilizado no Brasil (Santos & Bittar, 2015). Já o aleitamento intensivo tenta imitar o comportamento alimentar natural do bezerro, preconizando o fornecimento de dieta líquida em volumes acima de 20% do PV do bezerro, normalmente representando 8 L/d. No entanto, o número de refeições nem sempre é maior do que dois, o que não representa o comportamento de mamada dos animais quando estão com suas mães. Este tipo de sistema em geral utiliza sucedâneos com um conteúdo de proteína bruta igual ou superior a 25%, gordura em quantidades semelhantes ao sistema convencional (15-20%), e sólidos totais entre 12,5-17,5% (Cowles et al., 2006). Aumentando as quantidades de dieta líquida 14 fornecidas para os bezerros, aumenta-se a taxa de crescimento (Jasper & Weary, 2002; Borderas et al., 2009), e o potencial de produção futura destes animais (Soberon et al., 2012). Dentro do conceito de aleitamento intensivo podemos aleitar bezerros de três diferentes formas. No sistema ad libitum os animais tem acesso ilimitado a dieta líquida, a qual deverá estar acidificada ou ser fornecida através de aleitadores que preparem o sucedâneo no momento da manada. Neste sistema, embora haja um programa de alimentação fixando volumes máximos liberados em um determinado período de tempo, o animal decide em que momento deseja mamar, fazendo com que o aleitamento seja mais próximo do que ocorreria naturalmente. No sistema intensivo propriamente, o animal recebe entre 15 e 20% do seu PV em dieta líquida, em duas ou mais refeições. Já no sistema programado (step-up/step-down), o volume de dieta líquida e variável, sendo normalmente reduzido (step-down) no final do período de aleitamento como estratégia para o aumento no consumo de concentrado. Embora o custo de produção possa ser reduzido com o fornecimento de menor quantidade de dieta líquida, volumes inferiores a 4 L não fornecem nutrientes suficientes para desempenho adequado devido ao baixo consumo de energia e proteína (Tabela 2). Além de resultar em maiores taxas de crescimento e, portanto, bezerras mais pesadas ao desaleitamento, o fornecimento de maiores volumes de dieta líquida pode aumentar o potencial de produção de leite futuro destes animais. Vários estudos mostram que 15 o potencial de produção de leite pode estar relacionado a efeitos do consumo controlado ou alimentação ad libitum do nascimento até os 42 ou 56 dias de vida (Foldager & Krohn, 1994; BarPeled et al., 1997; Foldager et al., 1997). Tabela 2. Potencial de ganho de acordo à quantidade de leite fornecida e ao consumo de energia metabólica e proteína bruta. L/dia Consumo MS (g) Consumo de EM (Mcal) Ganho permitido pela EM (g) Consumo de PB (g) Ganho permitido pela PB (g) 2 250 1,34 -- 65,5 139 4 500 2,68 354 127 380 6 750 4,03 756 190 627 8 1000 5,37 1050 254 868 Baseado em equações do NRC (2001). MS: matéria seca, EM: energia metabólica, PB: proteína bruta. De acordo com estes estudos, o aumento no consumo de nutrientes antes dos 56 dias de vida resultou em aumento da produção de leite durante a primeira lactação, que variaram de 450 a 1400 kg a mais, quando comparados com bezerras alimentadas com dieta mais restrita durante o mesmo período (Tabela 3). O estudo de Soberon et al. (2012) mostra a consistência do efeito do fornecimento de maiores volumes de dieta líquida no potencial de produção de leite futuro dos animais. Avaliando quase 1900 dados de um rebanho comercial e do rebanho da Universidade de Cornell, estes autores mostraram que para cada 1 kg de ganho de peso diário a mais, houve aumento de 970 kg de produção na primeira lactação. No entanto, estes resultados foram observados em animais aleitados 16 com sucedâneos contendo 28% de PB e 15 ou 20% de gordura. Os dados corroboram as sugestões de Van Amburgh & Drackley (2005) para alterações nas recomendações para a nova edição do NRC, com maiores exigências de proteína para animais em maiores taxas de crescimento. Tabela 3. Produção de leite de vacas com consumo de nutrientes 50% superior que o recomendado durante o período de aleitamento. Estudo Diferença em relação ao controle (kg) Foldager & Krohn, 1991 1405s Foldager et al., 1997 519t BarPeled et al., 1998 453t Ballard et al., 2005 700s Drackley et al., 2007 835s Raeth-Knight et al., 2009 718ns Terre et al., 2009 624ns Morrison et al., 2009 0ns Rincker et al., 2011 416ns Soberon et al., 2012 552s s Significativo; t tendência; ns não significativo Da mesma forma que ocorre para animais pré-púberes, quando em crescimento acelerado, bezerras leiteiras devem receber dieta com maior relação proteína:energia de forma que a composição do ganho não seja afetada de forma negativa (Blome et al., 2003). Assim, sucedâneos com maiores teores de PB devem ser fornecidos 17 em sistemas de aleitamento intensivo para que o potencial de produção de leite destes animais seja aumentado. Soberon et al. (2012) concluem que a taxa de crescimento de bezerras responde por 22% da variação na produção de leite na 1ª lactação. No entanto, Van Amburgh e Drackley (2005) já haviam sugerido que 20% da variação na produção de leite na primeira lactação poderiam ser explicados pela taxa de crescimento até ao desaleitamento. De acordo com estes autores, as bezerras devem duplicar o seu peso ao nascer ou crescer a uma taxa que lhes permita duplicar o seu peso ao nascer até o desaleitamento. Assim, vários resultados de pesquisa comprovam que o aleitamento intensivo pode ter efeitos em longo prazo sobreo desempenho dos animais, podendo ser uma boa estratégia de alimentação e grande oportunidade de aumentar o potencial de produção dos animais, contrapondo o sistema de desaleitamento precoce tradicionalmente utilizado. Por outro lado, pesquisas mostram que o aleitamento intensivo pode reduzir o consumo de concentrado, e consequentemente retardar o desenvolvimento ruminal, uma vez que o consumo de concentrado está negativamente relacionado ao volume de leite fornecido. O desaleitamento no momento em que animal apresenta o rúmen parcialmente desenvolvido é essencial para que o desempenho após o desaleitamento não seja prejudicado. Um dos objetivos na fase de aleitamento é estimular o consumo de concentrado. Durante esta fase o animal desenvolverá o sistema de digestão próprio de ruminantes e, ao final, deverá estar 18 apto a sobreviver e crescer apenas se alimentando de dieta sólida composta de concentrado e volumoso. A fase de transição de pré- ruminante para ruminante está relacionada ao desenvolvimento do rúmen, onde se estabelecerão bactérias amilolíticas num primeiro momento, e depois celulolíticas e metanogênicas. Além do estabelecimento de bactérias, que cumprirão o papel de fermentadores, o animal deve ter estruturas capazes de absorver e metabolizar os produtos finais dessa fermentação, ou seja, um rúmen funcional, com papilas desenvolvidas. Na fase pré-ruminante, a dieta é basicamente líquida, o principal órgão digestivo é o abomaso, a fonte de energia é principalmente glicose e a proteica totalmente proveniente da dieta. No ruminante, a dieta está na forma sólida, as fontes de energia utilizadas pelo animal são os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e glicose proveniente de digestão intestinal, e a fonte proteica é composta de proteína microbiana e proteína sobrepassante. Durante a fase de transição estas duas situações se misturam e o manejo alimentar será determinante de uma transição mais lenta ou mais precoce. A colonização microbiana, disponibilidade de água de bebida, além do desenvolvimento da capacidade absortiva são fatores importantes e sinais de ocorrência de desenvolvimento ruminal. Entretanto, o fator determinante para que isto ocorra é o consumo de alimento sólido o mais cedo possível. Devido à alta taxa de fermentação de grãos, com grande quantidade de carboidratos fermentáveis até ácidos propiônico e butírico, estes são os principais 19 promotores do desenvolvimento ruminal precoce. Por outro lado, diversos trabalhos mostram que carboidratos estruturais originados de forragens são fermentados até ácido acético, contribuindo pouco para o desenvolvimento de papilas ruminais. O crescimento normal e desenvolvimento do trato digestório do ruminante podem ser alterados pelo consumo de alimentos concentrados ou volumosos, níveis de inclusão, sua forma física, entre outros fatores (Tabela 4). Porém, a composição química e os produtos finais resultantes da fermentação é que tem mostrado maior influência no desenvolvimento do epitélio ruminal (Nocek et al., 1984; Khan et al., 2016). Assim, o concentrado será fornecido desde os primeiros dias de vida e deverá ser formulado com teores de FDN que permitam manutenção de pH adequados. Segundo o NRC (2001), o concentrado deve apresentar teores aproximados de 18% de proteína bruta (PB) na matéria original, 80% de nutrientes digestíveis totais (NDT), e níveis de FDA entre 6 e 20% e FDN entre 15 e 25%. O teor de proteína no concentrado de bezerros leiteiros recomendado pelo NRC vem sendo questionado por pesquisadores. Segundo Drackley (2003), bezerros consumindo concentrado com 22% de PB apresentaram maior eficiência. No entanto, vários trabalhos mostram que o teor de 18% de PB no concentrado é adequado para bezerros em aleitamento (Luchini et al., 1991; Akayezu et al., 1994; Hill et al., 2001). Desta forma, tem sido sugerido que concentrados para bezerros contenham 18% de PB na 20 matéria original, utilizando-se de preferência farelo de soja como fonte principal. Tabela 4. Efeito de alimentos concentrados ou de forragem em parâmetros de desenvolvimento ruminal. Parâmetro Concentrado Forragem Peso do rúmen + ++ Volume do rúmen + ++ Diferenciação/crescimento de papilas ++ + Cetogênese/concentração de BHB + + Motilidade ruminal/taxa de passagem + ++ Microrganismos ruminais Bactérias Amilolíticos Celulolíticos Protozoários - + Ácidos orgânicos (lactato, C2, C3, C4) ++ + Acetato:propionato - + Butirato ++ + Lactato + - pH ruminal - + Capacidade tampão/ruminação - + Saúde ruminal/paraqueratose - + Adaptado de Khan et al. (2016) Os teores da fração fibra recomendados pelo NRC (2001) devem ser respeitados. Valores superiores às recomendações indicam a inclusão de ingredientes de menor digestibilidade para animais com o rúmen em desenvolvimento. Por outro lado, teores de FDN ou FDA abaixo da recomendação podem resultar em problemas como acidose ruminal e paraqueratose. 21 A forma física do concentrado inicial pode afetar o consumo, sendo de interesse econômico o fornecimento de concentrados sob formas físicas que estimulem o consumo precocemente. Segundo Coverdale et al. (2004), o tamanho de partícula da ração também pode afetar o ambiente ruminal, a produção de AGCC, além da estrutura e a função das papilas ruminais. Rações finamente moídas reduzem o pH ruminal, principalmente devido a menor ruminação e menor fluxo de saliva (Santini et al., 1983), reduzindo consequentemente a população de bactérias celulolíticas (Beharka et al., 1998). Assim, Warner et al. (1973) sugerem que pelo menos 50% das partículas que compõem o concentrado inicial sejam maiores que 1,19 cm. Os maiores efeitos do tamanho de partícula no desempenho animal são observados no consumo de concentrado, no ganho de peso e no desenvolvimento ruminal. Alguns trabalhos recentes avaliaram o efeito da forma física do concentrado inicial e não foram observadas diferenças no consumo ou no ganho de peso quando compararam concentrados peletizados com farelados para bezerros em aleitamento (Franklin et al., 2003; Ziegler et al., 2006; Bittar et al., 2009). Independentemente do fornecimento de leite, o animal deve receber água de boa qualidade já na primeira semana de vida. O fornecimento de água no mesmo horário do fornecimento do leite pode levar ao consumo descontrolado de água, afetando a formação do coágulo no abomaso. A disponibilidade de água está diretamente relacionada ao consumo de concentrado e à recuperação de quadros 22 de diarreia. A falta de acesso à água pode levar a reduções no consumo de concentrado e ganho de peso da ordem de 30% (Jenny et al., 1978). 4. Desaleitamento O desaleitamento precoce é uma ferramenta de manejo muito importante do ponto de vista econômico na produção de fêmeas de reposição. O custo de alimentação dos animais é reduzido com a interrupção no fornecimento da dieta líquida, a manutenção de misturas concentradas como dieta principal e a introdução de volumosos. Adicionalmente, o menor tempo demandado para a alimentação desses animais reduz o custo com mão-de-obra. Segundo Quigley (1996), o animal está pronto, do ponto de vista fisiológico, quando atinge o consumo de 700 g/d de concentrado durante três dias consecutivos. Produtores tem utilizado três diferentes critérios, ou uma combinação destes para desaleitamento: 1) consumo de concentrado; 2) idade do animal; e/ou 3) peso do animal. Tradicionalmente o desaleitamento vinha sendo realizado aos60 dias, idade que os animais alcançam consumo adequado para que o desaleitamento possa ser realizado sem prejuízos no ganho de peso. Entretanto, este consumo é alcançado por animais em aleitamento convencional nesta idade. No caso de aleitamento intensivo, menor consumo será observado de acordo com o volume de dieta líquida fornecida. Assim, a idade não é o critério mais adequado quando 23 utilizado sem considerar o consumo. Por outro lado, uma vez que existem diferenças de peso ao nascer, utilizar um consumo fixo como critério para o desaleitamento implica em bezerros mais leves devendo ter um consumo maior em porcentagem de peso vivo. Assim, Greenwood et al. (1997) sugerem que o consumo adequado para o aleitamento deva ser de 1,5% do peso ao nascer dos animais. Dessa forma, o ideal é que o produtor utilize uma combinação de critérios e realize o desaleitamento quando o animal apresentar maturidade anatômica e metabólica, mantendo suas taxas de ganho de peso na fase subsequente. A adaptação do animal ao alimento sólido é fundamental para que o desaleitamento ocorra com sucesso. O desaleitamento é um fator de estresse para o bezerro o qual é forçado a várias mudanças: 1) sua principal fonte de nutrientes muda da forma liquida para a forma sólida; 2) a quantidade de matéria seca que o animal recebe é diminuída com o não fornecimento do leite; 3) o bezerro deve se adaptar ao tipo de digestão e fermentação própria de ruminantes; 4) mudanças de manejo e instalações geralmente ocorrem juntamente com o desaleitamento (Quigley, 1996). A adaptação do animal à fermentação é essencial para que a taxa de crescimento do animal não seja afetada. Para isso, o animal deve ter o rúmen parcialmente desenvolvido e capaz de absorver e metabolizar produtos finais da fermentação antes do desaleitamento. Com base em resultados da literatura, diversos autores recomendam o desaleitamento dos animais de forma abrupta em 24 relação ao sistema de desaleitamento gradual realizado por alguns produtores (Otterby & Linn, 1981; Davis & Drackley, 1998). O desaleitamento gradual é dificultado, devido à falta de operacionalidade do processo, principalmente em grandes rebanhos. Por outro lado, o desaleitamento de forma gradual reduz o estresse dos animais e ainda estimula o consumo de concentrado. 5. Instalações e conforto Durante o período de aleitamento as bezerras são constantemente desafiadas pelo ambiente. Muitos fatores contribuem para o bem-estar de bezerros em fazendas leiteiras, incluindo: instalações e ambiente, manejo nutricional e sanitário, manipulação e interação com o tratador, dinâmica de rebanho, além de práticas comuns como transporte, descorna, remoção de tetos. Os objetivos gerais das instalações para bezerros são a proteção dos extremos térmicos e climáticos, acesso adequado ao alimento, garantir a segurança no que diz respeito a ferimentos e controlar a saúde e bem-estar dos bezerros. Tanto os sistemas de instalação individual quanto em grupo podem ser projetados para atender a todas estas necessidades. No entanto, muitos tipos de instalação podem atender todas estas premissas em relação ao bem- estar, mas o sucesso ainda depende de gestão adequada. Assim, quando se pensa em um abrigo para melhor alojar bezerras, existem 25 quatro requisitos fundamentais que devem ser considerados: 1) ventilação; 2) isolamento; 3) conforto; 4) economia. No mundo todo existem variadas formas de criação de bezerras em aleitamento –criação em abrigos individuais, baias coletivas ou individuais, construções fechadas ou abertas– variando de acordo com o local da exploração, o sistema de produção e, principalmente, o custo para sua construção. Ambientes satisfatórios para bezerros recém-nascidos e em crescimento devem proporcionar conforto físico, térmico, psicológico e comportamental. Cada uma dessas áreas pode ser uma fonte de estresse para os bezerros, que posteriormente podem predispor os animais a comprometimento de sua resposta imunitária, das taxas de crescimento, e finalmente do bem-estar propriamente dito. Embora o conforto térmico e físico do ambiente para bezerros tenha sido amplamente avaliado, apenas recomendações gerais foram desenvolvidas para satisfazer as necessidades comportamentais específicas de bezerros leiteiros. As necessidades comportamentais em um ambiente incluem a ausência de frustração, o sentimento de segurança e ausência de possibilidade de lesão, comportamento social de rebanho e interações com o tratador adequadas. A individualização tem como objetivo principal a redução na disseminação de doenças, muito embora existam desvantagens do ponto de vista comportamental. Em um levantamento sobre os sistemas de criação brasileiros, as diarreias foram apontadas como o principal problema de saúde de bezerras, seguidas pelos problemas 26 respiratórios (Santos & Bittar, 2015). Embora estas duas doenças tenham forte relação com falhas no programa de colostragem, estão também fortemente relacionadas com as instalações e o manejo das mesmas. Como a transmissão dos principais patógenos que causam doenças em bezerros é do tipo oral-fecal, seja através do contato entre animais ou uso de utensílios (baldes, cochos) com limpeza inadequada, a individualização entre os animais é considerada um dos princípios fundamentais de um bom sistema de criação. A individualização dos animais também facilita a alimentação, evitando problemas com dominância, e permite um controle mais rígido do consumo individual, tanto de concentrado quanto de água, e da saúde do animal. Em levantamento nacional, 45% das propriedades cria bezerras leiteiras de forma individualizada, mas este percentual cresce para 64% quando se avalia somente propriedades com produção acima de 700 L/d (Santos & Bittar, 2015). Existem diferentes sistemas individualizados como o sistema tie-stall, o sistema de baias individuais, mas o mais comumente utilizado são os abrigos. Nestes sistemas, os animais normalmente têm acesso individualizado a água e ao concentrado em baldes ou cochos, o que permite controle de consumo. Ainda, o aleitamento é realizado de forma individual sendo utilizados baldes, mamadeiras ou ainda bibeirões (baldes com bico). Assim, o controle da nutrição é também individualizado, de forma que se pode avaliar o manejo alimentar de acordo com os ganhos obtidos. Já a criação de bezerras em sistemas coletivos se baseia no princípio de que os bezerros leiteiros são 27 animais de rebanho (gregários) e o alojamento em grupo permite o desenvolvimento de comportamento social. O alojamento coletivo permite a manifestação de comportamentos lúdicos, ou seja, o exercício e o jogo entre bezerros dentro do grupo. Assim, a criação de animais em lotes tem sido considerada como mais adequada do ponto de vista de bem-estar e comportamento animal por alguns pesquisadores. No entanto, é sabido que este sistema resulta em maior disseminação de doenças, além dos problemas associados à mamada-cruzada e falta de controle de consumo individual de dieta líquida ou sólida, dependendo do sistema de alimentação. Os animais podem ser criados em piquetes, em galpões abertos com pisos ripados ou não e ainda em galpões fechados. Independentemente do tipo de alojamento, é importante que o ambiente seja ventilado e com áreas de sombra disponível. Quando os animais são criados em piquetes, a área deve ser bem drenada impedindo a formação de barro na época das chuvas e a sombra pode ser natural ou artificial. Uma desvantagem deste tipo de alojamentoé a possibilidade de desenvolvimento de mamada cruzada, associado ou não ao hábito de beber urina, comportamentos considerados problemáticos. Além de problemas como traumas e inflamações de úbere, podem ocorrer problemas no umbigo ou na orelha dos animais, regiões com preferência de mamada. Os sistemas de criação coletiva podem ser manejados para aleitamento também coletivo, quando se usam containers. Neste sistema é de extrema importância a homogeneidade do tamanho do 28 lote, de forma a reduzir problemas de competição e variado volume de dieta líquida consumida. A grande desvantagem desse sistema é o fato de que não se tem controle algum sobre o consumo de dieta líquida ou sólida, parâmetros importantes para a tomada de decisão do desaleitamento, por exemplo. Este problema pode ser resolvido com sistemas de aleitamento individual para animais criados em lotes, com a utilização de containers com divisões internas, que separe o volume de dieta líquida para cada animal. A adoção de canzil para contenção dos animais no horário de alimentação também é uma alternativa. Este sistema tem a vantagem de permitir que os animais sejam mantidos por um período de tempo após o consumo da dieta líquida, até que percam o estímulo da mamada, reduzindo a ocorrência de mamada cruzada. Já com uso de aleitador automático existe a possibilidade fornecimento de dieta líquida ad libitum ou com quantidade programada e controlada por computador de acordo com a idade do animal e manejo nutricional. Embora muitos trabalhos venham mostrando benefício deste tipo de alimentação por ser semelhante à maneira como o animal se alimentaria normalmente, estes sistemas podem ter várias desvantagens. Diarreias e doenças respiratórias podem se espalhar mais rapidamente quando este tipo de alojamento e de alimentação é adotado. Assim como nos sistemas individualizados, nos sistemas coletivos o treinamento do tratador é decisivo para o sucesso da criação de bezerros, com altas taxas de crescimento e baixas taxas de 29 morbidade e mortalidade. Ainda mais importante que nos sistemas individualizados, tratadores com atitudes positivas trazem grandes benefícios ao sistema de criação. A manifestação de comportamentos lúdicos depende do atendimento de necessidades básicas como alimentação adequada, acesso a sombra e água, conforto e sensação de segurança. Animais assistidos por tratadores positivos são menos reativos e mais ativos na expressão de comportamentos lúdicos, o que acaba refletindo também no melhor desempenho e menor frequência de enfermidades (Schuetz et al., 2012). Abordar e manipular o animal para práticas de manejo como pesagem, aplicação de vacinas, diagnóstico de doenças ou uma simples medida de temperatura é mais difícil em sistemas coletivos onde o animal está solto e misturado a outros animais. Métodos rápidos para diagnóstico de doenças têm sido estudados no que se refere a alterações no comportamento ou no consumo da dieta líquida. 6. Considerações finais A criação de bezerras é ainda um dos gargalos nos sistemas de produção de leite, principalmente devido às taxas de mortalidade e o impacto que estas têm nas planilhas de custo. Além disso, reduzidas taxas de crescimento devido a falhas na colostragem, associada a manejo alimentar e alojamento inadequados também trazem prejuízos ao sistema de produção. O manejo alimentar é determinante do desempenho dos animais durante a fase de 30 crescimento e pode ainda afetar a produção futura de bezerras leiteiras, sendo uma boa oportunidade de aumentar a produtividade do rebanho. 7. 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Propriedades que não cuidam de maneira adequada de seus animais jovens acabam apresentando índices zootécnicos, como por exemplo, a idade ao primeiro parto (IPP), muito aquém do ideal. Como consequência o produtor irá pagar um preço elevado por este descuido devido ao aumento no tempo de permanência de animais não produtivos no rebanho e também devido à diminuição do número 2 Viégas, J. 2016. Alimentação e manejo da novilha leiteira. In: 3º Simpósio Nacional da Vaca Leiteira. Anais. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p.35-64. 36 de animais para a comercialização, visto que nestas propriedades a mortalidade, morbidade e o descarte involuntário são também muito elevados. A desatenção inicia, frequentemente, a partir do desaleitamento ficando mais visível a partir dos seis meses de idade, quando ocorre a interrupção do fornecimento do alimento concentrado e a novilha passa a ser alimentada preferencialmente com volumosos. Apesar da alimentação e manejo de novilhas ser uma das atividades mais fáceis de ser realizada, considerando as demais categorias, é necessário redobrar os cuidados com a velocidade de crescimento dos animais e avaliar se essa alimentação está de acordo com a raça em criação. Somente um crescimento adequado irá permitir que asnovilhas alcancem aos quinze meses de idade o peso ideal para a concepção e que aos vinte e quatro meses de idade tenham o seu primeiro bezerro. Ter como meta destes dois momentos na vida da novilha é sinônimo de eficiência técnica e de maior rentabilidade na atividade. A primeira parição aos 24 meses é viável, pois apresenta uma série de vantagens, sendo que o manejo de novilhas, na maioria das situações, é uma questão de vigilância e bom senso de técnicos e produtores. Todo o planejamento de gestão e manejo alimentar do rebanho jovem da propriedade leiteira deve partir do estabelecimento de metas bem claras como a idade pretendida para o primeiro parto. 37 O produtor deve ter em mente que ao optar por 24, 30 ou 36 meses como idade ao primeiro parto (IPP) para as suas novilhas estará optando por níveis diferentes de investimento e, consequentemente, por benefícios distintos. Na medida em que a propriedade leiteira se aproxima de um índice de 24 meses para a IPP estará alcançando o máximo de eficiência técnica, sem descuidar, na sequência, que o intervalo entre partos (IEP) se aproxime de 12 meses. Não existe nenhum impedimento biológico que determine que uma fêmea não possa parir com 24 meses de idade tendo alcançado um peso adequado, e que mantenha uma vida produtiva e saudável. Novilhas que parem mais precocemente também são mais rentáveis para a propriedade, não somente devido ao número de bezerras produzidas e à produção de leite que aumentam, mas igualmente pela possibilidade de ganho genético entre gerações. É esperado que com a diminuição do intervalo entre gerações ocorra um ganho genético expresso por maior produção de leite e de seus componentes. Se isto não está ocorrendo o programa de melhoramento genético da propriedade deve ser revisado com urgência. Na medida em que diminui a IPP o ganho genético será acelerado, desde que a escolha dos touros melhoradores esteja sendo feita de maneira correta, ao mesmo tempo, esta mudança deverá estar em consonância com a taxa de descarte e reposição das vacas leiteiras. 38 São exatamente os rebanhos em que as primíparas parem precocemente os que apresentam a produção total de leite e de seus componentes mais elevada, independente de considerar somente o lote de primíparas ou de todo o rebanho (Lefebvre et al., 2002). A lógica é a mesma em relação aos animais que apresentam maior peso ao primeiro parto. A questão da longevidade de animais que parem precocemente poderia ser questionada, entretanto, as primíparas que parem tardiamente são aquelas que apresentam maior risco de serem descartadas antes do tempo. Para que os objetivos da criação de novilhas sejam atingidos basta um manejo apropriado e um programa alimentar bem equilibrado para manter uma taxa de desenvolvimento corporal aceitável. A redução da IPP acarreta em redução dos custos fixos e variáveis na medida em que as novilhas passam a produzir leite mais cedo, amortizando mais rapidamente os gastos com as fases de cria e recria. Uma novilha que venha a parir pela primeira vez com 36 meses de idade permanece mais um ano dentro da propriedade se alimentando sem trazer retorno econômico imediato. Caso isto ocorra com uma novilha de alto padrão genético, devido a algum problema sanitário, metabólico ou de manejo, a propriedade até poderá absorver este custo, entretanto, se esta é a situação real, e a propriedade possui um lote significativo de animais entre 24 e 36 meses sem produzir, o prejuízo será muito maior. À medida que ocorre atraso na IPP estão sendo geradas novas categorias de novilhas que não produzem leite. Isto é 39 antieconômico, pois aumenta os custos de produção e diminui a renda do produtor. Na medida em que o produtor consegue reduzir a idade ao primeiro parto de suas novilhas de 36 para 24 meses os custos fixos diminuem em torno de 40%. Assim, é possível concluir que o ponto mais positivo da redução da IPP é exatamente a redução do número de novilhas na propriedade. Como consequência mais atenção e espaço é proporcionado para as demais novilhas permitindo maior aporte de alimento com a finalidade de manter uma taxa de crescimento adequada, necessária para atingir a meta de peso para a cobertura aos 15 meses de idade. Para facilitar a gestão da atividade o produtor rural deve estabelecer, juntamente com o técnico que lhe dá suporte metas claras e factíveis conforme a saúde financeira da propriedade. Os indicadores que devem ser visualizados como metas para a categoria de novilhas são os que seguem: idade a cobertura de 13 a 15 meses; idade ao primeiro parto de 22 a 24 meses; peso vivo após o parto próximo a 550 kg; altura ao parto de 143 cm; escore de condição corporal ao 1º cio de 3,0 a 3,5; escore de condição corporal ao parto de 3,0 a 3,5; ganho de peso de 3 a 12 meses de idade, preferencialmente entre 0,750 e 0,850 kg/dia (não superior a 0,900 kg/d). Para que se consiga manter as metas previamente estabelecidas é fundamental que os animais mantem um ritmo de crescimento constante. Evidente que o ritmo de crescimento dos bovinos jovens é determinado pelo padrão genético da raça e/ou 40 linhagem escolhida, ou seja, cada animal tem o seu potencial de crescimento que é delimitado pela sua herança genética, mas que pode ser limitado fortemente pelo ambiente onde se encontra. De nada adianta o produtor investir em animais de alto mérito genético se o sistema alimentar não atende as exigências mínimas para mantença e crescimento. Importância similar tem as instalações e o manejo reprodutivo e sanitário que também influenciam o crescimento das novilhas. A exploração do potencial genético, a partir do fornecimento de um ambiente adequado que permita a expressão deste potencial, é de fundamental importância para a obtenção de bons rendimentos na atividade leiteira. Considerando que a novilha tenha passado por uma fase de cria adequada, recebendo o colostro em quantidade adequada logo nas primeiras horas de vida, o que lhe confere a imunidade passiva, e que tenha apresentado crescimento adequado, ou seja, o mais próximo possível de 0,500 kg/dia, seguramente será obtido um animal saudável para prosseguir a recria. É fundamental que nos primeiros quatro meses da recria a bezerra ainda continue recebendo alimento concentrado, a fim de garantir um bom aporte de matéria seca e consequentemente suportar uma taxa de crescimento aceitável, (0,600 a 0,650 kg/dia) mesmo após o estresse do desaleitamento. A produção de leite da futura vaca é função do número de células secretoras que compõem o parênquima das glândulas mamárias, da taxa de secreção de cada célula secretora e ou alvéolo (aqui entendido, como a unidade fundamental de secreção) e do 41 aporte de nutrientes para os alvéolos. Qualquer situação que venha a restringir a máxima expressão de um destes fatores trará como consequência um impacto negativo na produção, neste sentido o ambiente tem um papel fundamental. Toda e qualquer condição ambiental que represente uma fonte de estresse para a novilha irá determinar, igualmente uma redução na máxima expressão de um dos fatores acima citados. A literatura é farta em informações relacionadas à necessidade de limitação do ganho médio diário de peso vivo (GMD) das novilhas até o estabelecimento da puberdade (Van Ambrurgh et al., 1998; Radcliff et al., 2000). Como a puberdade não ocorre em um momento fixo da vida da novilha estipulou-se que entre os três e doze meses de idade o GMD deve ser mantido em no máximo 0,750 kg/dia, momento no qual otecido mamário apresenta crescimento alométrico. Esta limitação visa evitar o excesso de deposição de gordura na glândula mamária, o qual ocorreria em detrimento da adequada formação do tecido secretor de leite, ocasionando redução na produção de leite ao longo da vida produtiva da futura vaca. Assim, ganhos superiores a estes, proporcionados por dietas com maior densidade energética, seriam possíveis somente após a novilha ter atingido a puberdade. Se o bezerro nascer com um bom peso ao parto (próximo de 40 kg, considerando raças pesadas) e apresentar um bom GMD (mínimo 0,500 kg/dia) nos primeiros três meses, não há efetiva necessidade de ganhos superiores a 0,750 kg/dia. A novilha terá 42 capacidade de chegar aos 15 meses de idade pesando 360 kg de PV, estando apta para a reprodução. Por outro lado, estudos têm demonstrado que ganhos de peso superiores a 0,750 kg/dia não induzem, necessariamente, a redução na quantidade de tecido parenquimático e consequente menor produção de leite (Silva et al., 2002a; Silva et al., 2002b). Novilhas que apresentam crescimento mais rápido em um determinado grupo de animais são aquelas com menor deposição de gordura corporal e, portanto, menor quantidade de gordura corporal nas glândulas mamárias. Desta maneira entre distintas novilhas, aquela que apresenta rápido crescimento e destina a energia para ganho muscular, não apresentando ganho excessivo de condição corporal, certamente será uma vaca com maior produção leiteira. Uma boa forma de verificar esta situação é por meio da avaliação da altura em conjunto com a condição corporal, ou seja, serão animais com menor escore de condição corporal e, portanto, mais altos. Assim, a novilha atingir os 140 cm de altura se reveste de importância. Esta velocidade de crescimento certamente está associada a maior produção natural de somatotropina, com efeito benéfico sobre a repartição de nutrientes e no crescimento do tecido mamário. Aparentemente, a leptina tem um papel fundamental no crescimento mamário. A leptina é um hormônio produzido pelo tecido adiposo, em condições de dietas ricas em energia. Conforme Silva et al. (2002b), animais obesos, apresentam níveis de leptina 43 mais elevados, e quando o hormônio foi adicionado em meio de cultura com células epiteliais em proliferação a síntese de DNA foi reduzida em 25%. Em várias propriedades no Brasil, mais notadamente na Região Sul é ainda comum observar a preferência por animais jovens com condição corporal mais elevada. Neste sentido, o produtor deveria evitar realizar a avaliação de condição corporal do seu próprio rebanho, devido à tendência de subestimar o escore de seus animais. Observam-se em algumas propriedades animais jovens atingindo 400 kg de PV já aos 10 meses de idade, o que configura uma situação de custo de alimentação elevado e prejuízo certo no futuro. Esse peso é excessivo até mesmo para animais com 15 meses de idade. Entretanto, mesmo que determinadas novilhas tenham um metabolismo para rápido crescimento e maior deposição de tecido muscular, muitos outros fatores ambientais podem determinar o acúmulo excessivo de gordura e a consequente redução na produção de leite da futura vaca. Dietas como as baseadas em silagem de milho, tipicamente utilizadas, na fase de recria, favorecem maior deposição de gordura e consequentemente limitações de ganho de peso devem ser impostas. Como ainda não existe alguma forma prática de avaliação do crescimento do tecido mamário, passível de ser utilizado em nível de propriedade, ganhos de peso mais conservadores ainda são recomendados, evitando-se ganhos próximos ou acima de 0,900 kg/dia. 44 Neste sentido a Figura 1 ilustra bem a relação entre GMD de novilhas leiteiras e a produção estimada de leite na primeira lactação. A máxima produção é obtida quando o GMD está próximo de 0,800 kg/dia, com uma amplitude aceitável de GMD entre 0,700 e 0,900 kg/dia. Importante verificar que não somente ganhos elevados, como ganhos reduzidos acabam por promover perdas na produção de leite da futura vaca. Figura 1. Relação entre ganho de peso vivo em novilhas pré-puberes e a produção media de leite na primeira lactação, estudo de meta-análise (Fonte: Zanton & Heinrichs, 2005). Na Figura 2 são apresentadas diferentes simulações do desenvolvimento ponderal de novilhas leiteiras. A novilha um é a que está mais próxima do “ideal” para o desenvolvimento de um bom animal leiteiro de raças de grande porte, com a cobertura sendo 45 realizada aos 15 meses (357 kg de peso vivo) e o parto ocorrendo aos 24 meses de idade (500 kg de peso vivo). Esta novilha nasceu com 45 kg de peso vivo e apresentou os seguintes ganhos de peso conforme cada etapa de vida: 0,450 kg/dia do nascimento ao desaleitamento; 0,650 kg/dia do desaleitamento aos 6 meses de vida; 0,750 kg/dia dos 6 aos 12 meses de vida; 0,750 kg/dia dos 12 aos 15 meses (cobertura); 0,522 kg/dia desde a cobertura até os 24 meses (parto). Nas duas últimas fases poderiam ser adotados ganhos de pesos superiores caso as vacas da propriedade sejam mais pesadas, o que é típico de animais em condições de confinamento. Foi realizada uma simulação para a novilha um partindo dos 357 kg de peso vivo na cobertura para 550 kg de peso vivo no parto o que corresponderia a um ganho médio diário de 0,704 kg/dia. Nesta situação a média de ganho de peso de todo o período seria de 0,691 kg/dia, o que está longe de ser um ganho de peso extraordinário. As novilhas dois e três representam animais que tiveram um crescimento inicial mais lento, mas que em períodos de crescimento isométrico da glândula mamária é possível lhes fornecer uma dieta com maior densidade energética, permitindo ganhos de peso mais elevado. Por outro lado o produtor também pode decidir por partos mais tardios se o nível de investimento for muito elevado. 46 Figura 2. Simulação de diferentes ritmos de desenvolvimento ponderal de novilhas leiteiras de raças grandes (Fonte: Viégas, 2010) A tomada de decisão por parte do produtor se faz necessária principalmente se o IPP do rebanho já estiver próximo dos 24 meses. Em um primeiro momento deverá ser decidido se é válido manter uma fêmea como a novilha três no plantel ou se o melhor seria descartá-la e evitar problemas futuros. Deve ser considerado que o crescimento restrito nos meses iniciais de vida poderá ter reflexos no desempenho futuro da novilha. Tal medida dependerá da perspectiva do produtor em relação à recuperação do animal e ao elevado custo de criação, já que será necessário maior aporte de proteína e energia, ou seja, de alimentos de alta qualidade. Em um segundo momento, sendo a decisão de manter a novilha, deve ser definida a taxa de crescimento futuro, ou seja, entre um ganho de mais de 1,0 kg/dia com elevado custo ou um ganho de 0 100 200 300 400 500 600 0 6 12 18 24 30 Idade (meses) P es o vi vo (k g) novilha 1 novilha 2 novilha 3 Parto Cobertura Puberdade Nascimento 47 peso mais modesto, mesmo comprometendo a IPP. O problema de ganhos de peso muito elevados e repentinos após a cobertura, apesar de plenamente possíveis, é a probabilidade de um acúmulo importante de gordura no aparelho reprodutivo da novilha levando a complicações no momento do parto. Conforme a Figura 3 é possível observar que taxas de crescimento muito baixas levam ao atraso da maturidade sexual, ou seja, a puberdade é alcançada acima dos 18 meses quando as novilhas já deveriam estar gestando.
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