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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Disciplina FIS101 - Estrutura da Mate´ria I Notas de Aula Professor Newton Barros de Oliveira Trancrito por Bruno C. Credidio 1 de abril de 2014 Versa˜o 1.0 Este documento foi digitado em LATEX. O autor pede desculpas pelo grande nu´mero de erros de digitac¸a˜o e dos ca´lculos, bem como a falta das imagens. Para sugesto˜es e cr´ıticas pode ser enviado um e-mail para bruno.credidio@gmail.com. O autor ainda pretende fazer estas correc¸o˜es num futuro pro´ximo e prop´ıcio. 2 Universidade Federal da Bahia Suma´rio I Primeira Unidade 5 1 A Radiac¸a˜o Te´rmica e a Origem da Teoria Quaˆntica 7 1.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.2 O Corpo Negro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.3 Teorias Cla´ssicas da Radiac¸a˜o de Cavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.4 Aparato Experimental e Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2 A Teoria Quaˆntica de Einstein para o Efeito Fotoele´trico 13 2.1 Hipo´teses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 A Descoberta do Ele´tron e a Relac¸a˜o e/m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3 O Efeito Compton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.4 A Natureza Dual da Radiac¸a˜o Eletromagne´tica . . . . . . . . . . . . . . . . 18 II Segunda Unidade 21 3 A Teoria de Bohr para a Estrutura Atoˆmica 23 3.1 O A´tomo de Thomson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.2 O A´tomo de Rutherford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 3.3 A Estabilidade do A´tomo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.4 Os Espectros Atoˆmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.4.1 O Espectro do Hidrogeˆnio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.5 Estados de Energia no A´tomo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.5.1 Representac¸a˜o dos Nı´veis de Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.5.2 O Princ´ıpio da Correspondeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4 A Teoria Quaˆntica de Schro¨dinger 35 4.1 Part´ıculas e Ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.1.1 Os Postulados de De Broglie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.1.2 Noc¸o˜es sobre Difrac¸a˜o de Raio X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.1.3 Detalhes do Experimento Davidson-Germer . . . . . . . . . . . . . . 36 4.2 A Dualidade Onda-Part´ıcula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.3 Pacotes de Ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.4 O Princ´ıpio da Incerteza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 4.5 Os Valores Esperados de uma Grandeza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3 SUMA´RIO 5 Soluc¸o˜es da Equac¸a˜o de Schro¨dinger Independente do Tempo 49 5.1 Epotencial = 0, −∞ < x <∞ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5.2 Energia potencial na forma de degrau e energia total menor que o degrau. . 50 6 Exerc´ıcios 55 III Terceira Unidade 59 7 Soluc¸o˜es da Equac¸a˜o de Schro¨dinger Independente do Tempo - Conti- nuac¸a˜o 61 7.1 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 7.2 Barreira de Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 7.2.1 E < V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 7.2.2 E > V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 7.3 (5o Exemplo) Poc¸o de Energia Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 7.3.1 Etotal < V0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 7.4 7o Exemplo: O Oscilador Harmoˆnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 7.5 O A´tomo de Hidrogeˆnio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 8 Exerc´ıcios 85 8.1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 8.2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 8.3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 4 Universidade Federal da Bahia Parte I Primeira Unidade 5 Cap´ıtulo 1 A Radiac¸a˜o Te´rmica e a Origem da Teoria Quaˆntica 1.1 Introduc¸a˜o Sabe-se que corpos aquecidos emitem radiac¸a˜o numa ampla faixa de frequeˆncias. Sabe-se, tambe´m, que a emissa˜o de radiac¸a˜o e´ dependente da temperatura do corpo. Em tempe- raturas mais baixas, os corpos emitem mais na regia˜o infravermelha, e em temperaturas mais altas, emitem mais na regia˜o vis´ıvel, em direc¸a˜o ao azul ou violeta. A intensidade da radiac¸a˜o e´ definida como a energia irradiada por unidade de a´rea por unidade de tempo. Em 1879, Josef Stefan1 determinou experimentalmente (empiricamente) que a intensi- dade total da radiac¸a˜o emitida (energia total por unidade de a´rea por unidade de tempo) por um corpo aquecido era proporcional a` temperatura absoluta do corpo elevada a` quarta poteˆncia. Mas notou tambe´m que o valor da intensidade total dependia do tipo de corpo, mesmo estando a` mesma temperatura. Escreveu como: R = eσT 4 (1.1) Onde e e´ a emissividade do corpo, variando entre zero e um, a depender do tipo de corpo; σ e´ a constante universal de Stefan-Boltzmann; T e´ a temperatura absoluta do corpo e R e´ a intensidade total da radiac¸a˜o medida para todo espectro de frequeˆncias emitidas. A intensidade da radiac¸a˜o emitida por um corpo aquecido depende da faixa de frequeˆncias selecionada para realizar a medida da emissividade. Se selecionarmos medir a intensidade da radiac¸a˜o entre uma frequeˆncia ν e ν + ∆ν, teremos uma intensidade ∆R nessa faixa de frequeˆncias. Define-se a radiaˆncia espectral R(ν, T ) como a intensidade de radiac¸a˜o por unidade de frequeˆncia: R(ν, T ) = ∆R ∆ν , quando ∆ν → 0 (1.2) Experimentalmente, encontram-se curvas de radiaˆncia espectral com o seguinte aspecto: 1Josef Stefan nasceu em Klagenfurt, 24 de marc¸o de 1835 e morreu em Viena, 7 de janeiro de 1893. Foi um f´ısico e matema´tico. 7 CAPI´TULO 1. A RADIAC¸A˜O TE´RMICA E A ORIGEM DA TEORIA QUAˆNTICA Figura 1.1: Curvas da radiaˆncia espectral em func¸a˜o da frequeˆncia para diferentes tempe- raturas. ∞∫ 0 R(ν, T )dν = Intensidade total da radiac¸a˜o emitida pelo corpo aquecido. (1.3) As primeiras medidas experimentais precisas da radiaˆncia espectral foram feitas por Lummer2 e Pringsheim3 em 1899. A medida da intensidade da radiac¸a˜o se tornou poss´ıvel com a invenc¸a˜o do boloˆmetro, em 1878, por Samuel Pierpont Langlon. Usado inicialmente para medir a radiac¸a˜o do Sol em determinadas faixas de frequeˆncia. Outro fato experimen- tal tambe´m conhecido e que pode ser observado nas curvas de radiaˆncia espectral e´ que a frequeˆncia nos pontos de ma´ximo e´ proporcional a` temperatura. Isto e´ chamado de Lei do Deslocamento de Wien. νmax ∝ T ; νmax = βT (1.4) c = λν; β = T νmax (1.5) λmax · T = cte; β = T c/λ (1.6) cβ = Tλ (1.7) 2Otto Richard Lummer nasceu em Gera, Alemanha, 17 de julho de 1860 e morreu em Bresla´via, Poloˆnia, 5 de julho de 1925. Foi um f´ısico. 3Alfred Israel Pringsheim nasceu em Olawa, Poloˆnia, 2 de setembro de 1850 e morreu em Zurique, Su´ıc¸a, 25 de junho de 1941. Foi um matema´tico de confissa˜o judaica. Estudou na Universidade de Heidelberg e fez fortuna na construc¸a˜o civil. 8 Universidade Federal da Bahia 1.2. O CORPO NEGRO 1.2 O Corpo Negro O conceito de corpo negro ou radiador integral foi introduzido por Kirchoff em 1882. Por definic¸a˜o, e´ um corpo que absorve toda a radiac¸a˜o nele incidente. Superf´ıcies ?pintadas?com negro de fumo ou fuligem (uma forma de carbono amorfo) se aproximam bem da definic¸a˜o. Um modelo para um copo negro e´ o de uma cavidade com um pequeno orif´ıcio comunicando para o exterior. Uma radiac¸a˜o incidente no orif´ıcio atinge as paredes internas, ocorrendo um processo de mu´ltipla reflexa˜o/absorc¸a˜o. Essas absorc¸o˜es provocam elevac¸a˜o da temperatura do corpo. Diz-se que o orif´ıcio tem propriedades de um corpo negro pelo fato de absorver toda a radiac¸a˜o nele incidente. Por outro lado, se o corpo estiver aquecido, havera´ energia eletromagne´tica no interior da cavidade, e uma parte dessa energia saira´ pelo orif´ıcio. A ana´lise do espectro da radiac¸a˜o emitida dara´ informac¸o˜es do espectro da radiac¸a˜o do interior do corpo. (09/10) 1.3 Teorias Cla´ssicas da Radiac¸a˜o de Cavidade A origem do estudo da radiac¸a˜o dos corpos aquecidos estava relacionada com a necessi- dade de medir a temperatura dos autofornos usados na siderurgia pela ana´lise da ?luz? ou radiac¸a˜o emitida atrave´s das janelas de inspec¸a˜o dos fornos. A medida e o controle da temperatura sa˜o importantes para a qualidade da liga meta´lica produzida. A curva de radiaˆncia espectral mostrada anteriormente e´ a curva de um corpo negro aquecido. Va´rios modelos teo´ricos baseados na teoria cla´ssica do eletromagnetismo tentaram repro- duzir resultados obtidos experimentalmente sem sucesso. Wilhelm Wien tentou explicar o comportamento da curva usando a termodinaˆmica e a teoria eletromagne´tica de Maxwell e conseguiu demonstrar matematicamente a Lei do Deslocamento que tem seu nome em 1893: Encontrou tambe´m uma expressa˜o que se ajustava a` curva experimental para altas frequeˆncias apenas. FIG 1.3.1 Entre 1900 e 1905, Lord Rayleigh e James H. Jeans apre- sentaram uma teoria com hipo´teses diferentes da de Wien, que descreveremos a seguir. Consideraram uma cavidade com paredes meta´licas com temperatura uniforme T e admi- tiram que o interior da cavidade estava em equil´ıbrio te´rmico com as paredes. A radiac¸a˜o absorvida pelas paredes fazia os osciladores moleculares vibrarem e reemitirem de volta a radiac¸a˜o para o interior da cavidade. A superposic¸a˜o das ondas no interior da cavidade pro- duziria ondas estaciona´rias com no´s nas paredes. A energia me´dia dos osciladores poderia ser calculada pelo princ´ıpio da equipartic¸a˜o da energia da mecaˆnica estat´ıstica. Admitindo dois graus de liberdade para os osciladores correspondentes a`s duas direc¸o˜es de polarizac¸a˜o poss´ıveis para a onda eletromagne´tica. Em outras palavras, era admitido que o nu´mero de osciladores com uma certa energia podia ser calculado pela distribuic¸a˜o de probabilidades de Boltzmann para um ga´s ideal a uma temperatura T em equil´ıbrio te´rmico. Iniciaremos o racioc´ınio com um problema unidimensional, considerando uma cavidade de comprimento a ao longo do eixo Ox. FIG 1.3.2 Os osciladores das paredes geram ondas eletromagne´ticas que se propagam ao longo do eixo Ox nos dois sentidos. Consideremos que o vetor campo ele´trico esteja na direc¸a˜o Oy (uma poss´ıvel direc¸a˜o de polarizac¸a˜o). No espac¸o entre as paredes meta´licas, a onda estaciona´ria resultante da superposic¸a˜o das duas ondas pode ser genericamente descrita por: A condic¸a˜o de contorno nas superf´ıcies meta´licas impo˜e que o campo ele´trico seja nulo Unidade I 9 CAPI´TULO 1. A RADIAC¸A˜O TE´RMICA E A ORIGEM DA TEORIA QUAˆNTICA em x = 0 e x = a para qualquer instante de tempo: Ou seja, nem todas as frequeˆncias sa˜o permitidas, apenas aquelas mu´ltiplas de c/2a podem existir de modo permanente na cavidade. Temos, enta˜o, valores discretos e equidis- tantes de frequeˆncias poss´ıveis. A cada onda esta´ associada uma frequeˆncia da radiac¸a˜o. Contudo, como existem dois modos poss´ıveis de polarizac¸a˜o para a onda (vetor E na direc¸a˜o y, ou z ou combinac¸a˜o), podem existir duas ondas associadas a` mesma frequeˆncia. Para calcular a quantidade de ondas estaciona´rias existentes em um intervalo de frequeˆncias en- tre ? e ∆νmin, basta contar o nu´mero de frequeˆncias poss´ıveis nesse intervalo e multiplicar por dois. Chamaremos essa quantidade de N(ν)∆ν (essa quantidade e´ proporcional ao intervalo considerado). N(ν) e´ a quantidade de ondas por intervalo mı´nimo de frequeˆncias. Por exemplo, considere um intervalo: Entre ν e ν + ∆ν teremos m valores poss´ıveis de frequeˆncias: A quantidade de ondas associadas sera´ 2m. Observemos que, neste caso unidimensional, N(ν) = 4a/c na˜o depende de ν, pois 4a/c e´ constante. Para valores de frequeˆncia muito elevados (m muito grande, m?108), o intervalo c/2a sera´, relativamente, muito pequeno, e podemos considerar a aproximac¸a˜o diferencial ∆ν como dν. Consideremos, agora, uma cavidade tridimensional com forma de um cubo de arestas a paralelas a Ox, Oy e Oz, de paredes meta´licas a uma temperatura T . Nesta situac¸a˜o, podemos ter uma onda estaciona´ria proveniente da superposic¸a˜o de duas ondas que se propaguem em sentidos opostos em uma determinada direc¸a˜o do espac¸o, contanto que os componentes desta onda satisfac¸am a condic¸a˜o de contorno de valor do campo ele´trico zero nas paredes do cubo. Genericamente, a onda estaciona´ria pode ser escrita como: Se considerarmos os componentes do campo que propagam ao longo dos treˆs eixos, deveremos ter o campo se anulando nas paredes do cubo. Por exemplo, para a onda que se propaga ao longo do eixo Ox (vetor E na direc¸a˜o Oy ou Oz), temos: ”Duas polarizac¸o˜es” Como, em x = a deveremos ter Mas, 14/10// Se colocarmos mx, my e mz como um sistema de seis eixos ortogonais, a cada ponto do espac¸o definido por (mx,my,mz), teremos uma frequeˆncia poss´ıvel, e como os valores de mi variam de unidade em unidade, a densidade de pontos neste espac¸o (o nu´mero de pontos por unidade de volume) e´ igual a 1. O dobro do nu´mero de pontos contidos num volume arbitra´rio qualquer, vezes a densidade de pontos, da´ a quantidade de ondas poss´ıveis associadas a`queles valores de (mx,my,mz). O raio de uma superf´ıcie esfe´rica neste espac¸o vale: r = √ m2x +m 2 y +m 2 z = 2aν c (1.8) Como mx, my e mz sa˜o inteiros, o espac¸o esta´ restrito a um octante. O volume infinitesimal em coordenadas esfe´ricas para uma variac¸a˜o dr do raio e´ dado por: Vesfera = 4 3 pir3 (1.9) 1 8 Vesfera(octante) = 1 8 · 4 3 pir3 (1.10) 1 8 dVesfera = 1 �82 · �4 �3 pi�3r 2dr (1.11) 10 Universidade Federal da Bahia 1.3. TEORIAS CLA´SSICAS DA RADIAC¸A˜O DE CAVIDADE dVoctante = 1 2 · pir2dr (1.12) De (1.8), chegamos a: dVoctante = frac12pi ( 2aν c )2 2a c dV (1.13) Como a quantidade de pontos deste espac¸o vale 1, Quantidade de pontos em dVoctante = 4pia3 c3 ν2dν (1.14) A quantidade de ondas vale o dobro desse valor e e´ definida por N(ν)dν = 2 · 4pia 3 c3 ν2︸ ︷︷ ︸ N(ν) dν (1.15) O volume da cavidade e´ V = a3, assim: N(ν) = 8piV c3 ν2 (1.16) Observe que, neste caso, N(ν) e´ proporcional ao volume. O sistema de ondas estaciona´rias na cavidade e´ um sistema em equil´ıbrio te´rmico com as paredes a uma temperatura T . As ondas po˜em os osciladores moleculares da parede em estado de vibrac¸a˜o que, por sua vez, reemitem a radiac¸a˜o Um sistema mecaˆnico ana´logo e´ o de um ga´s confinado em um recipiente e em equil´ıbrio te´rmico. A distribuic¸a˜o de velocidades das mole´culas do ga´s preveˆ uma energia me´dia igual a 12KBT por mole´cula por grau de liberdade, sendo KB a constante de Boltzmann. Cada grau de liberdade esta´ associado a uma forma de energia (translacional, rotacional, vibracional, etc.). Considerando o sistema de ondas estaciona´rias da mesma forma que o ga´s e que os dois graus de liberdade correspondentes a` onda eletromagne´tica esta˜o associados a` energia armazenada no campo ele´trico e no campo magne´tico, cada ondatera´ uma energia me´dia igual a KT . Multiplicando pela quantidade de ondas com frequeˆncias entre ν e ν + dν, N(ν)dν teremos as energias das ondas estaciona´rias nessa faixa de frequeˆncias: Energia das ondas na faixa = KT · 8pi c3 V ν2dν (1.17) dEnergia V = ρ(ν)dν = ρ(ν)dν, ρ(ν) = KT · 8pi c3 ν2 (1.18) 21/10 Unidade I 11 CAPI´TULO 1. A RADIAC¸A˜O TE´RMICA E A ORIGEM DA TEORIA QUAˆNTICA 1.4 Aparato Experimental e Resultados Estando o aˆnodo positivo em relac¸a˜o ao ca´todo, os ele´trons emitidos pelo ca´todo, quando da incideˆncia da luz, sa˜o capturados pelo aˆnodo. A corrente indicada no microamper´ımetro depende da tensa˜o V conforme os gra´ficos seguintes: (Gra´fico 1) Com o potencial elevado (positivo), todos os ele´trons emitidos pelo ca´todo sa˜o captu- rados pelo aˆnodo caracterizando a regia˜o saturada. Com potencial zero (campo ele´trico nulo) existe corrente, o que demonstra que os ele´trons sa˜o emitidos com uma certa energia cine´tica. Com potencial negativo, o campo ele´trico desacelera os ele´trons emitidos e no potencial −V0 o campo e´ suficientemente intenso para impedir que o ele´tron mais veloz alcance o aˆnodo. Ou seja, o mais veloz dos ele´trons (energia cine´tica Kmax) e´ desacelerado pelo campo e na˜o consegue atingir o aˆnodo. Kmax = eV0 (1.19) Observa-se, pelas duas curvas, que o potencial de parada e´ independente da intensidade da luz. Variando-se a frequeˆncia da luz (cor), mantendo-se a intensidade constante, observa- se uma variac¸a˜o em V0 em func¸a˜o desta frequeˆncia. (Gra´fico 2) O resultado experimental mostra uma dependeˆncia linear entre o potencial de parada e a frequeˆncia. (Gra´fico 3) Na˜o se observa o efeito fotoele´trico para frequeˆncias menores do que a frequeˆncia de corte do metal. (Equac¸a˜o 2) 12 Universidade Federal da Bahia Cap´ıtulo 2 A Teoria Quaˆntica de Einstein para o Efeito Fotoele´trico 2.1 Hipo´teses A energia da onda eletromagne´tica e´ transferida para a mate´ria de modo discreto em “pacotes” de energia (posteriormente chamados de fo´tons) com valor (Eq. 3). Parte desta energia e´ usada para remover o ele´tron do material e o restante aparece na forma de energia cine´tica. ε = hν = W +K, onde: (2.1) W = Trabalho para arrancar o ele´tron do metal. K = Energia cine´tica que o ele´tron adquire. Alguns ele´trons esta˜o mais fortemente ligados ao metal (os ele´trons mais profundos) e outros esta˜o mais fracamente ligados, necessitando de menor trabalho para serem arranca- dos. Para estes ele´trons, a sobra de energia sera´ maior e teremos energia cine´tica ma´xima Kmax. W0 = Trabalho mı´nimo ou “Func¸a˜o Trabalho” (2.2) Quando a frequeˆncia ν for igual a frequeˆncia de corte νc, os ele´trons na˜o sa˜o mais ejetados e Kmax = 0. hνc = W0 (2.3) hν = W0 + eV0 (2.4) V0 = h e ν − W0 e (2.5) Comparando com a equac¸a˜o do primeiro grau: y = ax+ b (2.6) 13 CAPI´TULO 2. A TEORIA QUAˆNTICA DE EINSTEIN PARA O EFEITO FOTOELE´TRICO Portanto, podemos determinar a constante h/e pela medida da inclinac¸a˜o do gra´fico V0 × ν. A func¸a˜o trabalho tambe´m pode ser determinada pelo mesmo gra´fico, por ex- trapolac¸a˜o quando ν = 0, sendo conhecido o valor da carga eletroˆnica e, ou, ainda, pela frequeˆncia de corte νc obtida por extrapolac¸a˜o quando V0 = 0, sendo conhecido o valor de h. O valor da constante de Planck obtido pelo efeito fotoele´trico concorda muito bem com o valor obtido pela radiac¸a˜o de cavidade. O valor atual e´ 6, 6262 × 10−34 J/s. A teoria de Einstein do efeito fotoele´trico explica os fatos experimentais observados. O aumento da corrente com a intensidade da luz e´ devido a` maior quantidade de ele´trons arrancados por unidade de tempo devido ao maior nu´mero de fo´tons que se chocam com o metal por unidade de tempo sem, contudo, alterar o valor do potencial de parada (energia cine´tica ma´xima). O potencial de parada depende apenas da frequeˆncia da onda e da func¸a˜o tra- balho (caracter´ıstica do metal). O aparecimento imediato da corrente apo´s a incideˆncia da luz tambe´m esta´ de acordo com a teoria do efeito fotoele´trico, uma vez que a transfereˆncia de energia do fo´ton para o ele´tron e´ quase instantaˆnea. 2.2 A Descoberta do Ele´tron e a Relac¸a˜o e/m 1. Primeiras especulac¸o˜es que a eletricidade flu´ıa na forma de um grande nu´mero de cargas discretas feitas por Benjamin Franklin em 1750. 2. Experimentos de eletro´lise de Faraday em 1883 sugerem que a eletricidade existe somente em mu´ltiplos de uma unidade fundamental de carga. 3. Em 1874 Stoney calculou a carga ele´trica de um ı´on monovalente em uma soluc¸a˜o e chamou esta carga de “electron”. O valor calculado estava errado (1/16 do valor atual). 4. Nesta mesma e´poca, em 1870, haviam sido descobertos os raios cato´dicos por Sir William Crooks e, em 1897, Sir J. J. Thomson descobre que estes raios eram ele´trons carregados negativamente, se movimentando dentro do tubo em altas velocidades. 5. Em 1898, Thomson calcula o valor da carga elementar pela observac¸a˜o da velocidade de queda de pequenas got´ıculas de a´gua carregadas na atmosfera. Encontrou um valor 35% maior que o atual e, em 1903, encontra um valor 30% menor que o atual. 6. H. A. Wilson, em 1903, aplica um campo ele´trico ~E a uma nuvem de got´ıculas carregadas, de maneira a equilibrar o peso e manter a nuvem em suspensa˜o. Ele observa a presenc¸a de camadas de nuvem, indicando regio˜es com diferentes cargas na nuvem. 7. Em 1908, Robert Millikan e L. Begeman repetem o experimento, trabalhando com uma u´nica camada e encontraram um valor 16% menor que o atual. 8. Em 1910, Begeman encontra um valor 3% menor que o valor atual. Neste mesmo tempo, outros experimentos tambe´m reportavam valores pro´ximos para a carga eletroˆnica. Experimentos realizados por Rutherford e Geigen na emissa˜o de part´ıculas alfa espontaneamente em materiais radioativos. Em 1909, Millikan realiza o experimento da gota de o´leo para determinar a carga elementar. O experimento consistiu em pulveri- zar (atomizar) o´leo de forma a produzir pequenas gotas esfe´ricas eletrificadas e mediu a velocidade de queda e ascensa˜o das gotas entre duas placas de um capacitor. 14 Universidade Federal da Bahia 2.3. O EFEITO COMPTON 30/10/2013 Sob a ac¸a˜o da gravidade, uma pequena gota esfe´rica cai na atmosfera (ou em outro ga´s) com uma velocidade final constante dada pela fo´rmula de Stokes: (Eq. 1) Obs: Para uma medida mais precisa, o coeficiente de viscosidade deve ser corrigido em func¸a˜o do raio da gota e da pressa˜o atmosfe´rica, pela expressa˜o: (Eq.2) (Eq. 3) Sendo a velocidade de queda medida experimentalmente e todos os outros valores conhecidos, determina-se, enta˜o, o raio da gota. O pro´ximo passo consiste em aplicar o campo ele´trico de modo que a placa superior seja positiva com relac¸a˜o a` placa inferior e a gota movimente-se para cima com uma velocidade /v1 (velocidade final constante). (Imagem 1) Obs: Verifica-se, experimentalmente, que a velocidade final e´ diretamente proporcional a` forc¸a resultante aplicada quando a velocidade e´ pequena. Sem campo ele´trico, a forc¸a devido a` gravidade, vale: (Eq. 4) Com campo ele´trico, a forc¸a resultante para cima, vale: (Eq. 5) Chamando de /v a velocidade final sem campo e /v? a velocidade final com campo aplicado e notando que as velocidades finais sa˜o diretamente proporcionais a`s forc¸as, temos que: (Eq. 6) Logo, a carga total da gota pode ser determinada a partir das medidas das velocidades. Do resultado de inu´meras medidas, Millikan concluiu que as cargas observadas eram sempre um mu´ltiplo de um valor fundamental. O valor encontrado em 1917 /e=1,592x10E(-19)C. Posteriormente, novos experimentos com raios X e com gotas refinaram o resultado e o valor aceito atualmente e´ de /e=1,602x10E(-19)C. A Relac¸a˜o /e/m Muitos experimentosforam realizados para determinar a raza˜o entre a carga e a massa do ele´tron utilizando diversas te´cnicas. Utilizando-se o me´todo da deflexa˜o, destacam-se o me´todo de Thomson e o me´todo de Classen. No me´todo de Thomson utiliza-se o tubo de raios cato´dicos e um par de placas defletoras onde estabelece-se um campo ele´trico perpendicular a`s placas e um campo de induc¸a˜o magne´tica uniforme paralelo a`s placas e perpendicular ao feixe de ele´trons preenchendo o espac¸o entre as placas. (Imagem 2) Inicialmente, ajustam-se os dois valores de campo para que a forc¸a ele´trica seja igual a` forc¸a magne´tica e o feixe de ele´trons na˜o seja desviado: (Eq. 7) Determina-se, portanto, a velocidade do ele´tron a partir destes dois campos. Em seguida, aplica-se apenas o campo de induc¸a˜o magne´tica e mede-se o raio de curvatura do desvio da trageto´rio inicial. Esta trageto´ria passa a ser circular com raio /R: (Eq. 8) No me´todo Classen, utiliza-se um canha˜o eletroˆnico a partir do filamento aquecido que emite ele´trons que sa˜o acelerados por uma ddp conhecida. (Eq. 9) O feixe de ele´trons, enta˜o, entra em uma regia˜o de campo magne´tico uniforme onde descreve uma trajeto´ria circular. Mede-se, enta˜o, o raio da trajeto´ria. (Eq. 10) Em 1973, o valor de /e/m encontrado foi de 1,7588x10E11C/kg. 04/04/2013 2.3 O Efeito Compton Considerando o modelo corpuscular para a radiac¸a˜o incidente no momento da interac¸a˜o e aplicando-se a conservac¸a˜o da energia e da quantidade de movimento, pode-se estudar o efeito Compton. Vejamos: Considere, para a radiac¸a˜o X incidente de frequeˆncia ν, o fo´ton com energia E = hν. Os fo´tons devem ser considerados como part´ıculas sem massa de repouso mas com quantidade de movimento P . Uma part´ıcula relativ´ıstica que tem massa de repouso tem energia E = m0c 2√ 1− (vc )2 (2.7) Unidade I 15 CAPI´TULO 2. A TEORIA QUAˆNTICA DE EINSTEIN PARA O EFEITO FOTOELE´TRICO Onde m0 e´ a massa de repouso e v e´ a velocidade relativa do fo´ton. Como E = h/nu e´ finito e a velocidade do fo´ton e´ v = c, deveremos ter m0 = 0. A relac¸a˜o entre a energia de uma part´ıcula e a quantidade de movimento e´, em geral, dada por: E2 = p2c2 +m2c4 (2.8) Como, para o fo´ton, m0 = 0, p = E c (2.9) Ja´ que E = hν e que λ = cν , temos: p = hν c ou p = h λ (2.10) Consideremos que os ele´trons do alvo estejam praticamente em repouso (a energia do fo´ton de raio X e´ va´rias ordens de grandeza maior que a energia de ligac¸a˜o do ele´tron ao a´tomo): Da conservac¸a˜o da energia, devemos ter: E0︸︷︷︸ energia do fo´ton + m0c 2︸ ︷︷ ︸ energia de repouso = E1 + E (2.11) Da conservac¸a˜o da quantidade de movimento: ~p0 + 0 = ~p1 + ~p (2.12) E0 c ~µ0 = E1 c ~µ1 + ~p (2.13) Mas, E = E0 +m0c 2 − E1 (2.14) E′ = ( E0 +m0c 2 − E1 )′ (2.15) E′ = (E0 − E1)′ − 2 (E0 − E1)m0c2 +m20c4 (2.16) De (2.8), temos: p2c2 +�� � m2c4 = (E0 − E1)2 + 2 (E0 − E1)2m0c2 +���m20c4 (2.17) E de (2.13), vem: ~p = E0 c µˆ0 − E1 c µˆ1 (2.18) ~p · ~p = ( E0µˆ0 c − E1µˆ1 c ) · ( E0µˆ0 c − E1µˆ1 c ) = ( E0 c )2 − E0 c · E1 c (2.19) cos(θ)− E0 c · E1 c (2.20) cos(θ) + ( E1 c 2) (2.21) 16 Universidade Federal da Bahia 2.3. O EFEITO COMPTON ∆λ = h(1− cos(θ)) m0c (2.22) Esta expressa˜o concorda muito bem com os resultados experimentais. O ma´ximo desvio Compton ocorre para θ = pi rads. ∆λmax = 2h m0c = 4, 86× 10−12 m = 0, 0486 A˚ (2.23) Este valor ficou conhecido pelo nome histo´rico de comprimento de onda Compton dos ele´trons. Experimentos posteriores detectaram ele´trons ejetados do processo simultaneamente com a incideˆncia da radiac¸a˜o, confirmando o valor da energia e a direc¸a˜o dos ele´trons es- palhados. Ale´m da radiac¸a˜o espalhada em todas as direc¸o˜es, obedecendo a equac¸a˜o de Compton, a experieˆncia mostra ainda a presenc¸a de radiac¸a˜o com aproximadamente o mesmo comprimento de onda na mesma direc¸a˜o da radiac¸a˜o espalhada (radiac¸a˜o inalte- rada). Isso pode ser explicado no desenvolvimento teo´rico. Foi considerado que as energias dos ele´trons livres eram suficientemente pequenas quando comparadas a` energia do fo´ton incidente para que esses ele´trons pudessem ser considerados em repouso. Essa radiac¸a˜o tambe´m incide nos ele´trons mais internos que esta˜o fortemente ligados e que na˜o sa˜o eje- tados, mas que transmitem o impacto ao a´tomo inteiro, o qual possui uma massa muito maior que a do ele´tron. Para o Carbono, a massa e´ 22 mil vezes maior do que a do ele´tron que e´ ejetado. Substituindo essa massa na expressa˜o do deslocamento Compton (??), re- sulta em um valor muito pequeno para o desvio que na˜o e´ mensura´vel. Esse espalhamento sem mudanc¸a no comprimento de onda havia sido calculado classicamente por Thomson e recebeu o nome de espalhamento Thomsson. Nesse caso limite, a explicac¸a˜o cla´ssica e quaˆntica da˜o o mesmo resultado. 06/04/2013 Para a radiac¸a˜o eletromagne´tica de ”grande”comprimento de onda (onda de ra´dio, microondas e vis´ıvel), a energia do fo´ton e´ bem menor que a energia de ligac¸a˜o e predomina o espalhamento Thomson. Para Raio X, o espalhamento Compton e´ mensura´vel e na regia˜o dos raios gama, predomina o espalhamento Compton. A energia cine´tica do ele´tron espalhado cresce com o aumento da frequeˆncia da radiac¸a˜o incidente. Podemos calcular a raza˜o entre a energia cine´tica do ele´tron e a energia do fo´ton incidente. Da equac¸a˜o 1 E −m0c2︸ ︷︷ ︸ energia cine´tica do ele´tron espalhado = E0 − E1 = hν0 − hν1 (2.24) Ecine´rica = K hν0 = hν0 − hν1 hν0 = ν0 − ν1 ν0 = 1− ν1 ν0 (2.25) Mas c = λν .. ν = cλ : K hν1 = 1− λ1 − λ0 λ1 = ∆λ λ1 = ∆λ λ+ ∆λ = h m0c (1− cos(θ)) λ0 + h m0c (1− cos(θ)) (2.26) Como ∆λ e´ func¸a˜o do aˆngulo θ apenas, temos que quanto menor (maior energia do fo´ton incidente), maior sera´ a raza˜o entre a energia cine´tica e a energia do fo´ton incidente, Unidade I 17 CAPI´TULO 2. A TEORIA QUAˆNTICA DE EINSTEIN PARA O EFEITO FOTOELE´TRICO ou seja, quase toda a energia do fo´ton incidente e´ transformada em energia cine´tica do fo´ton espalhado. Exemplo 2.1 : Considere o efeito Compton para raios X com λ igual a 1,00 A˚ e raios gama com λ igual a 1, 88× 10−2 A˚(de uma fonte de Cs137), observando o desvio Compton a 90o. Resoluc¸a˜o: Para raios X, temos: ∆λ = h m0c · ( 1− cos(pi 2 ) ) = 6, 6× 10−34 9, 1× 10−31 · 3× 108 = 0, 024 A˚ (2.27) Para raios X, temos: K hν0 = 0, 0243 1− 0, 0243 = 0, 0237 = 2, 37% (2.28) Para raios γ K hν0 = 0, 0243 1, 88× 10−2 − 0, 0243 = 0, 564 = 56, 4% (2.29) Ou seja, mais da metade da energia do fo´ton incidente e´ transformada em energia cine´tica neste caso. 2.4 A Natureza Dual da Radiac¸a˜o Eletromagne´tica Os resultados experimentais mostram que a radiac¸a˜o eletromagne´tica pode ter carac- ter´ıstica ou ondulato´ria ou corpuscular a depender do experimento realizado. Os expe- rimentos de difrac¸a˜o mostram resultados compat´ıveis com a teoria ondulato´ria, enquanto que fenoˆmenos como o efeito fotoele´trico e o efeito Compton retratam da interac¸a˜o da radiac¸a˜o com a mate´ria so´ sa˜o compat´ıveis com a teoria corpuscular. Este aspecto dual e´, hoje, conhecido em muitas situac¸o˜es e plenamente estabelecido. Outro efeito interessante que tambe´m mostra a natureza corpuscular da radiac¸a˜o e´ a produc¸a˜o de raios X pelo choque de ele´trons em um alvo de metal duro como o Tungsteˆnio. Considere o arranjo experimental seguinte: Foto 3 (Aparato experimental) Os ele´trons sa˜o acelerados ate´ uma energia cine´tica k = eV e subitamente desacelerados quando se chocam com um alvo. A teoria eletromagne´tica preveˆ a emissa˜o de radiac¸a˜o de- vido a` desacelerac¸a˜o ocupandoum espectro cont´ınuo com o comprimento de onda variando de zero a infinito. Contudo, a experieˆncia mostra a existeˆncia de um comprimento de onda mı´nimo que depende da ddp de acelerac¸a˜o. Foto 4 (Gra´fico da intensidade x lambda, uma curva que surge em um lambda mı´nimo, cresce ate´ um pico, e cai assintoticamente) O ele´tron e´ desacelerado do choque com os a´tomos pesados do alvo. Se considerarmos que a quantidade de energia transmitida ao a´tomo e´ pequena por causa de sua grande massa, a quantidade de energia cine´tica perdida pelo ele´tron deve ser igual a` energia dos raios X emitidos. O ele´tron pode perder energia cine´tica em um ou va´rios choques consecutivos com diferentes a´tomos, de forma que raios X com diferentes comprimentos de onda podem ser emitidos. 18 Universidade Federal da Bahia 2.4. A NATUREZA DUAL DA RADIAC¸A˜O ELETROMAGNE´TICA Adotando o modelo corpuscular para o raio X emitido, a energia do fo´ton devera´ ser igual a` diferenc¸a entre as energias cine´ticas do ele´tron antes e apo´s o choque. hν = K −K ′ hc λ = K −K ′ hc λmin = K = eε (2.30) Se a energia cine´tica do ele´tron for para zero em um u´nico choque, teremos k′ = 0 e o ma´ximo valor poss´ıvel para a energia do fo´ton de raio X correspondendo ao mı´nimo valor de lambda. Esta expressa˜o esta´ de acordo com os resultados experimentais e tambe´m pode ser usada para encontrar o valor de h/e a partir das medidas de lambda mı´nimo e do potencial de acelerac¸a˜o. Exemplo 2.2 : O comprimento de onda mı´nimo do raio X produzido pelo choque de um ele´tron com energia de 40 keV vale 3, 11× 10−11 m. Estimar o valor de h/e. λmin = 3, 11× 10−11 h e = ελtextrmmin c = 40× 103 · 3, 11× 10−11 2, 99× 108 = 4, 147× 10 −15 V.s Exemplo 2.3 : Em que comprimento de onda um radiador de cavidade a 6000 K irradia mais por unidade de comprimento de onda? Gra´fico da radiaˆncia com um ma´ximo em um lambda max λmaxT = 2, 898× 10−3 m.K λmax = 2, 858× 10−3 6000 = 4830 A˚ Exemplo 2.4 : Um filme fotogra´fico e´ feito com AgBr. Sob incideˆncia da luz, o AgBr e´ dissociado formando Ag (escura) e Br. A energia mı´nima para dissociar este composto e´ da ordem de 10−19 J. Calcule o comprimento de onda de corte acima do qual na˜o sensibiliza o filme. Resoluc¸a˜o: A energia do fo´ton deve ser maior ou igual a` energia de dissociac¸a˜o. λ < hc 10−19 = 1, 99× 10−6m Unidade I 19 CAPI´TULO 2. A TEORIA QUAˆNTICA DE EINSTEIN PARA O EFEITO FOTOELE´TRICO 20 Universidade Federal da Bahia Parte II Segunda Unidade 21 Cap´ıtulo 3 A Teoria de Bohr para a Estrutura Atoˆmica 3.1 O A´tomo de Thomson (13/11/2013) Os resultados experimentais acumulados ao longo dos anos ate´ 1910 permitiam concluir que os a´tomos continham uma quantidade de cargas positivas igual ao nu´mero de ele´trons, mas na˜o se sabia como essas cargas estavam distribu´ıdas no a´tomo. O primeiro modelo da estrutura atoˆmica e´ devido a J. J. Thomson. Ele supoˆs que a carga positiva estava uniformemente distribu´ıda em uma esfera de raio aproximadamente igual a 10−10 m, valor estimado para o raio atoˆmico na e´poca. Os ele´trons estariam espalhados no interior dessa distribuic¸a˜o de cargas positivas e poderiam se movimentar. Suponhamos um a´tomo de Hidrogeˆnio. As cargas positivas tem, cada uma, valor igual a` carga do ele´tron, −e, e estariam distribu´ıdas numa esfera de raio R. Consideremos que um ele´tron em movimento esteja a uma distaˆncia r do centro em um determinado instante. Pela Lei de Gauss, o campo ele´trico nesta posic¸a˜o e´ dado pela carga Q interna a` superf´ıcie esfe´rica de raio r. E = 1 4piε0 1 r2 (3.1) q = e 4 3piR 3 4 3 pir3 = e r3 R3 (3.2) Enta˜o: E = 1 4piε0 e r 3 R3 r2 = 1 4piε0 e R3 r (3.3) A forc¸a ele´trica sobre o ele´tron (−e) sera´ radial de valor: F = − 1 4piε0 e2 R3 r (3.4) 23 CAPI´TULO 3. A TEORIA DE BOHR PARA A ESTRUTURA ATOˆMICA Forc¸a do tipo F = −kx que resulta em um movimento oscilato´rio com frequeˆncia angular: ω = √ k/m (3.5) e k = 1 4piε0 e2 R3 ' 2, 3× 102 N/m (3.6) E resulta em uma frequeˆncia: ν = ω 2pi = 1 2pi √ k m ' 2, 5× 1015 Hz (3.7) ...λ = c ν = 1200A˚ (3.8) Ou seja, a radiac¸a˜o emitida por esta carga oscilante estaria na regia˜o do ultravioleta distante e seria em uma u´nica frequeˆncia. Contudo, a experieˆncia mostra a existeˆncia de diversas linhas espectrais, em desacordo com este valor u´nico. 3.2 O A´tomo de Rutherford Enerst Rutherford, em 1911, propoˆs um modelo para o a´tomo baseado nos resultados experimentais do espalhamento de part´ıculas α por uma fina (aproximadamente 1µm) laˆmina de ouro. Part´ıculas α (nu´cleo de He´lio) emitidas por uma fonte natural eram colimadas e incidiam em um alvo, a folha de ouro. Um detector de ZnS (Sulfeto de Zinco) cintila ao receber a part´ıcula espalhada em uma dada direc¸a˜o. O nu´mero de cintilac¸o˜es por unidade de tempo e´ proporcional a` intensidade do feixe espalhado. A probabilidade de encontrar uma part´ıcula espalhada em grande aˆngulo (θ > pi/2) usando-se o modelo de Thomson para o a´tomo e´ extremamente baixa, praticamente zero. O experimento realizado por Geiger e Marsden (assistentes de Rutherford), em 1909, mostrou a presenc¸a de part´ıculas espalhadas para tra´s em quantidade mensura´vel. Rutherford, enta˜o, propoˆs um novo modelo para o a´tomo. A carga positiva deveria ocu- par uma pequena regia˜o no centro do a´tomo, sendo bastante concentrada. Uma part´ıcula α incidente na direc¸a˜o do nu´cleo poderia, enta˜o, ser desviada pela repulsa˜o coulombiana em grande aˆngulo. Consideremos que as massas dos a´tomos do alvo sejam suficientemente grandes para que possam ser consideradas em repouso quando interagirem com as part´ıculas α incidentes. Tomemos a origem do sistema de refereˆncia como sendo o centro de um nu´cleo atoˆmico do alvo. A forc¸a que age sobre a part´ıcula α ao se aproximar do nu´cleo e´ uma forc¸a coulombiana, uma forc¸a central e, portanto, o momento angular L da part´ıcula em torno do centro e´ constante. A regia˜o de interac¸a˜o e´ muito pequena e longe desta regia˜o podemos considerar trajeto´rias retas. Considere a figura a seguir: m e´ a massa da part´ıcula, ~v e´ a velocidade da part´ıcula antes da interac¸a˜o, ~v′ e´ a velocidade apo´s a interac¸a˜o (| ~v |= v), b e´ o paraˆmetro de impacto, L = mvb e´ o momento angular antes da interac¸a˜o e L′ = mv′b e´ o momento angular apo´s a interac¸a˜o. A energia cine´tica antes da interac¸a˜o e´ igual a` energia cine´tica apo´s a interac¸a˜o: 24 Universidade Federal da Bahia 3.2. O A´TOMO DE RUTHERFORD mv2 2 = mv′2 2 (3.9) v′ = v (3.10) Vale a equac¸a˜o: tg(θ) = qQ 4piε0L ( m 2E )1/2 (3.11) tg ( θ 2 ) = qQ 4piε0mvb ( ��m 2��m v2 2 ) (3.12) tg ( θ 2 ) = qQ 4piε0mbv2 (3.13) Observe que o aˆngulo de espalhamento depende do paraˆmetro de impacto. Em um experimento t´ıpico, um feixe de part´ıculas incide no alvo. Consideremos que N part´ıculas atingem o alvo e que existem n centros espalhadores por unidade de a´rea. O detector detecta part´ıculas no entre θ e θ+ dθ correspondente a`s part´ıculas incidentes com um paraˆmetro de impacto entre b e b+ db. Diferenciando (3.13) com relac¸a˜o a b, obtemos: 1 2 1 cotg ( θ 2 )dθ = − qQ 4piε0mv2 1 b2 db (3.14) Observe que o aumento em b (db > 0) produz uma diminuic¸a˜o em θ dθ < 0. As part´ıculas que estiverem entre b e b + db atravessara˜o a a´rea anular dσ = 2pibdb e uma quantidade dN de part´ıculas sera˜o desviadas e sera˜o detectadas entre θ e θ + dθ. A quantidade dN pode ser calculada como segue: Suponha que o feixe de part´ıculas tenha uma secc¸a˜o A ao se chocarcom o alvo. Tere- mos, enta˜o, N/A part´ıculas por unidade de a´rea chocando-se com o alvo. Existem n centros espalhadores por unidade de a´rea e, portanto, n ·A centros espalhadores na secc¸a˜o do feixe incidente. Cada centro espalhador contribui com uma a´rea dσ para as dN part´ıculas que estara˜o entre θ e θ + dθ. Portanto, n · A · dσ corresponde a` a´rea apresentada pelos espa- lhadores que produzira˜o espalhamento. O nu´mero de part´ıculas dN que sera˜o espalhadas sera´, enta˜o: dN = N A n ·Adσ︸ ︷︷ ︸ a´rea equivalente dos centros espalhados que desviara˜o part´ıculas entre θ e θ+dθ (3.15) dN = Nndσ (3.16) dσ = dN Nn (3.17) Contando-se dN e N em um certo intervalo de tempo na direc¸a˜o de θ e θ+dθ, teremos a determinac¸a˜o experimental de dσ. (18/11/2013) Unidade II 25 CAPI´TULO 3. A TEORIA DE BOHR PARA A ESTRUTURA ATOˆMICA Da equac¸a˜o (3.13), b = ( qQ 4piε0mv2 ) ︸ ︷︷ ︸ k cos (θ/2) sen (θ/2) (3.18) Da equac¸a˜o (3.14) db = − 1 2 cos2 (θ/2) ( 4piε0 qQ mv2 ) ︸ ︷︷ ︸ 1/k b2dθ (3.19) Mas, dσ = 2pibdb (3.20) Substituindo (3.13) e (3.14) em (3.20): dσ = 2pi k cos (θ/2) sen (θ/2) ( − 1 2 cos2 (θ/2) 1 k ) k2 cos (θ/2) sen (θ/2) dθ (3.21) = −pi cos (θ/2) sen3 (θ/2) k2dθ (3.22) = −pi cos (θ/2) sen (θ/2) sen4 (θ/2) k2dθ (3.23) dσ = pi 2 sen(θ) sen4 (θ/2) ( qQ 4piε0mv2 )2 |dθ| (3.24) E = qQ 4piε0rmin (3.25) rmin = qQ 4piε0E0 (3.26) A secc¸a˜o de choque dσ calculada por esta expressa˜o concordava bem com o valor expe- rimental determinado pela equac¸a˜o 4, mostrando a validade do modelo. Exerc´ıcio: Fazer o gra´fico de dσdθ da equac¸a˜o (3.24). A expressa˜o (3.24) e´ va´lida enquanto a mı´nima distaˆncia entre a part´ıcula α e o centro do nu´cleo for maior que o raio do nu´cleo. Caso contra´rio, a part´ıcula penetraria no nu´cleo. A mı´nima distaˆncia (o perie´lio mı´nimo) pode ser calculada para as part´ıculas incidentes com uma dada energia E considerando-se a situac¸a˜o em que a energia cine´tica e´ convertida em energia potencial completamente. A energia cine´tica Ec pode ser aumentada ate´ a situac¸a˜o em que a equac¸a˜o (3.24) produza valores de dσ que discordem dos valores experimentais, determinados por contagem. Para esta energia, teremos uma estimativa do raio do nu´cleo. O valor estimado por Rutherford foi de 10−14 m. 26 Universidade Federal da Bahia 3.3. A ESTABILIDADE DO A´TOMO 3.3 A Estabilidade do A´tomo As investigac¸o˜es de Rutherford levaram a concluir que o nu´cleo atoˆmico estava confinado em uma regia˜o cujo diaˆmetro era 104 vezes menor que o diaˆmetro atoˆmico. Os ele´trons deveriam ocupar o espac¸o restante mas na˜o se sabia como os ele´trons estavam distribu´ıdos neste espac¸o. O modelo planeta´rio para os ele´trons girando ao redor do nu´cleo e´ um modelo mecanicamente esta´vel, onde a forc¸a centr´ıpeta e´ a pro´pria atrac¸a˜o coulombiana. O movimento em o´rbita circular ou el´ıptica, contudo, e´ um movimento acelerado e o ele´tron deveria irradiar energia eletromagne´tica com uma frequeˆncia correspondente a` frequeˆncia da o´rbita. A energia eletromagne´tica irradiada teria de ser igual ao decre´scimo da energia mecaˆnica e o ele´tron teria sua velocidade aumentada juntamente com a diminuic¸a˜o do raio da o´rbita e acabaria por colapsar no nu´cleo. O tempo de vida de tal ele´tron foi calculado em 10−12 s para uma o´rbita com raio inicial de 10−10 m. A experieˆncia mostra que os a´tomos na˜o irradiam no estado natural e quando excitados, por exemplo, por uma descarga ele´trica irradiam em determinadas frequeˆncias bem defini- das bem caracter´ısticas daquelas substaˆncias que na˜o corresponde a` frequeˆncia calculada para a o´rbita do sistema planeta´rio. 3.4 Os Espectros Atoˆmicos Quando aquecemos um ga´s a altas temperaturas ou produzimos uma descarga ele´trica neste ga´s, podemos observar uma luz emitida. Passando esta luz por um prisma ou por uma rede de difrac¸a˜o, podemos observar que esta mesma luz e´ composta por diversos componentes com diferentes comprimentos de onda bem definidos constituindo o que chamamos de espectro de emissa˜o. O espectro de emissa˜o foi primeiro observado por Thomas Melvill em 1752 com muito pouca resoluc¸a˜o e, em 1859, Kirchhoff e Bunsen descobriram que o espectro de emissa˜o era caracter´ıstico do elemento qu´ımico. Em 1802, William Wollaston observou algumas linhas escuras no espectro da luz do Sol e em 1814, Fraunhofer descobre uma se´rie de linhas escuras no espectro solar que ficaram conhecidas como as raias de Fraunhofer. Verificou-se experimentalmente que a mesma linha espectral que aparece no espectro de emissa˜o do ga´s aquecido ou excitado tambe´m aparece com uma linha escura quando se faz a luz branca atravessar este ga´s quando este esta´ frio. Estas linhas escuras receberam o nome de linhas do espectro de absorc¸a˜o. Obs: Nem toda linha do espectro de emissa˜o aparece no espectro de absorc¸a˜o. 3.4.1 O Espectro do Hidrogeˆnio Foi observado que as linhas espectrais do hidrogeˆnio atoˆmico H aparecem formando grupos de linhas ou se´ries em que o espac¸amento entre as linhas vai diminuindo com a diminuic¸a˜o do comprimento de onda ate´ se tornar um cont´ınuo. Na regia˜o do vis´ıvel, tem-se o seguinte espectro: Em 1885, Johann Balmer encontrou uma fo´rmula emp´ırica para esta se´rie de linhas que tem o seu nome, Se´rie de Balmer com um erro de apenas 0,02%: Unidade II 27 CAPI´TULO 3. A TEORIA DE BOHR PARA A ESTRUTURA ATOˆMICA λn = c n2 n2 − 4 (3.27) n = 3, 4, 5, 6... (3.28) c = 3645, 6A˚ (3.29) (20/11/2013) E´ mais comum utilizar-se o inverso do comprimento de onda (1890, Rydberg) onde temos a expressa˜o: 1 λn = RH ( 1 22 − 1 n2 ) , n = 3, 4, 5... Rh = 10973731, 6 m −1 (3.30) RH ficou conhecido como a constante de Rydberg para o Hidrogeˆnio. Foram descobertas se´ries para o Hidrogeˆnio: 1. Se´rie de Lyman (UV) 1 λn = RH ( 1 12 − 1 n2 ) , n = 2, 3, 4... (3.31) 2. Se´rie de Balmer (Vis´ıvel e UV pro´ximo) 1 λn = RH ( 1 22 − 1 n2 ) , n = 3, 4, 5... (3.32) 3. Se´rie de Poshen (IV) 1 λn = RH ( 1 32 − 1 n2 ) , n = 4, 5, 6... (3.33) 4. Se´rie de Brachett (IV) 1 λn = RH ( 1 42 − 1 n2 ) , n = 5, 6, 7... (3.34) 5. Se´rie de Pfund (IV) 1 λn = RH ( 1 52 − 1 n2 ) , n = 6, 7, 8... (3.35) Temos, como fo´rmula geral: 1 λn = RH 1m2︸︷︷︸ define a se´rie 1 n2︸︷︷︸ define a linha na se´rie (3.36) 28 Universidade Federal da Bahia 3.4. OS ESPECTROS ATOˆMICOS Os metais alcalinos possuem fo´rmulas parecidas: 1 λn = RH ( 1 (m− a)2 − 1 (n− b)2 ) (3.37) Onde a e b sa˜o constantes para determinada se´rie. m e´ fixo para determinada se´rie e n e´ varia´vel. Na˜o havia nenhum modelo teo´rico que permitisse a deduc¸a˜o dessas fo´rmulas. Todas elas eram fo´rmulas emp´ıricas. O primeiro modelo teo´rico de sucesso e´ devido a Niels Bohr, em 1913. Neste modelo, Bohr usa algumas ideias cla´ssicas e novas ideias que envolvem a quantizac¸a˜o, influenciado pelas ideias de Planck e Einstein. Bohr postulou a existeˆncia de estados estaciona´rios do a´tomo nos quais na˜o ha´ emissa˜o de radiac¸a˜o. Estes estados correspondem a o´rbitas circu- lares produzidas pelo campo de forc¸a central coulombiano (momento angular constante). Como a forc¸a centr´ıpeta e a forc¸a ele´trica sa˜o iguais: Fc = Fe (3.38) mv2 �r = 1 4piε0 e2 r�2 (3.39) mv2 = 1 4piε0 e2 r (3.40) A energia potencial e´ o trabalho realizado pelo agente externo para levar o ele´tron do infinito ao ponto de coordenada r: Ep = − 1 4piε0 e2 r (3.41) A energia mecaˆnica e´ a soma da energia cine´tica com a potencial. Esta e´, enta˜o, de (3.40)e (3.41): Em = mv2 2 + ( − 1 4piε0 e r ) (3.42) = e2 8piε0r − e 2 4piε0r (3.43) Em = − e 2 8piε0 1 r (3.44) Vemos, portanto, que o estado estaciona´rio de energia constante corresponde a uma o´rbita de raio constante. No processo de emissa˜o da radiac¸a˜o (luz) pelo a´tomo, deveria haver uma variac¸a˜o da energia (diminuic¸a˜o) correspondente a` energia do fotos emitido. Unidade II 29 CAPI´TULO 3. A TEORIA DE BOHR PARA A ESTRUTURA ATOˆMICA hc λ = Ei − Ef (3.45) = − e 2 8piε0 1 ri − ( − e 2 8piε0 1 rf ) (3.46) = e2 8piε0 ( 1 rf − 1 ri ) (3.47) 1 λ = [ e2 8piε0hc ] ︸ ︷︷ ︸ constante ( 1 4rf − 1 ri ) (3.48) Esta expressa˜o tem a mesma forma da lei emp´ırica para 1/λ. Para que sejam equiva- lentes, deveremos ter: RH n2 = e2 8piε0ncrn (3.49) rn = [ e2 8piε0ncRH ] ︸ ︷︷ ︸ a0 (valor mı´nimo da o´rbita) n2 (3.50) = a0n 2 (3.51) A energia total pode ser expressa como: Etotal = − e 2 8piε0a0n2 (3.52) E a variac¸a˜o de energia ao passar de um estado En para um estado Em sera´: En − Em = hνn→m (3.53) hνn→m = e2 8piε0a0 ( 1 m2 − 1 n2 ) (3.54) ou 1 λn→m = [ e2 8piε0hca0 ] ︸ ︷︷ ︸ RH ( 1 m2 − 1 n2 ) (3.55) O raio mı´nimo a0 foi determinado em func¸a˜o do valor experimental de RH . E´ poss´ıvel expressa´-lo em termos de constantes fundamentais. Esperamos que para valores de n muito grandes, os resultados devam coincidir com os valores cla´ssicos pelo Princ´ıpio da Correspondeˆncia. Se considerarmos uma transic¸a˜o entre duas o´rbitas adjacentes, n+1→ n quando n� 1, teremos o seguinte valor para a frequeˆncia de radiac¸a˜o emitida: 30 Universidade Federal da Bahia 3.4. OS ESPECTROS ATOˆMICOS νn+1→n = e2 8piε0a0h ( 1 n2 − 1 (n+ 1)2 ) (3.56) = e2 8piε0a0h ( (m+ 12 − n2 (n+ 1)2n2 ) (3.57) = e2 8piε0a0n 2n+ 1 (n+ 1)2n2 (3.58) Como n� 1, νn+1→n = e2 �84piε0a0h �21 n3 (3.59) νn+1→n = e2 4piε0a0h 1 n3 (3.60) Este valor de frequeˆncia para a radiac¸a˜o deve coincidir com o valor da frequeˆncia de o´rbita, como preveˆ a teoria do Eletromagnetismo Cla´ssico. O comprimento l da o´rbita e´ 2pir. Assim: l = vr ⇒ 1 T = v l (3.61) = v 2pir (3.62) ν = v 2pir ⇒ ν2 = v 2 (2pir)2 m m (3.63) = e2 4piε0r 4pi2r2m (3.64) ν2 = e2 16pi3ε0r3m (3.65) Substituindo r por a0n 2: ν2 = e2 16pi3ε0ma30m 6 (3.66) Igualando (3.66) a` frequeˆncia quaˆntica ao quadrado: ν2n+1→n = e4 16pi2ε20h 2a20n 6 (3.67) e4 16pi2ε20h 2a20n 6 = e2 16pi3ε0ma30m 6 (3.68) e2 h2ε0 = 1 pia0m (3.69) a0 = h2ε0 pie2m (3.70) Unidade II 31 CAPI´TULO 3. A TEORIA DE BOHR PARA A ESTRUTURA ATOˆMICA Vemos assim que a0 e´ func¸a˜o das constantes fundamentais. Substituindo os valores, encontramos a0 = 0.529 A˚. A constante de Rydberg tambe´m pode ser expressa em termos das constantes funda- mentais, pois: RH = e2 8pihcε0a0 (3.71) = e2 8pihcε0 h2ε0 pie2m (3.72) = me4 8cε20h 3 ≈ 109600× 102 m−1 (3.73) O desenvolvimento teo´rico foi realizado a partir de uma comparac¸a˜o com a fo´rmula emp´ırica da se´rie de Balmer e isso nos leva a uma consequeˆncia importante nos poss´ıveis valores para o momento angular: L = mvr (3.74) L2 = me2 4piε0 r (3.75) Mas, como r = a0n 2: L2 = me2 4piε0 h2ε0 pie2m n2 (3.76) L2 = h2 4pi2 n2 (3.77) L = nh 2pi = n} (3.78) Com n ∈ N∗. Desta maneira, conclu´ımos pela quantizac¸a˜o do momento angular. (25/11/2013) n h 2pi = p · r (3.79) p = L r = nh/2pi n2a0 (3.80) O modelo atoˆmico de Bohr pode ser ”deduzido”se procedermos no sentido inverso, postulando treˆs itens fundamentais: 1. No a´tomo existem determinados estados estaciona´rios de energia em que o a´tomo na˜o irradia. O estado natural ou estado fundamental e´ o estado de energia mais baixa. Estes estados estaciona´rios podem ser calculados classicamente usando a Mecaˆnica Newtoniana e a Lei de Coulomb em um sistema de o´rbitas circulares. 32 Universidade Federal da Bahia 3.5. ESTADOS DE ENERGIA NO A´TOMO 2. Os estados estaciona´rios sa˜o aqueles que correspondem a` quantizac¸a˜o do momento angular que limita os raios das o´rbitas a valores discretos: L = n h 2pi = mv︸︷︷︸ p r (3.81) 3. Quando o ele´tron passa de um estado estaciona´rio de energia En para um outro Em com Em > En e´ emitido um fo´ton νn→m = En − Em h (3.82) A energia do estado fundamental (n = 1) para o Hidrogeˆnio vale: E1 = −l2 4piε0 1 2a0 = −13, 6 eV(1 eV = 10−19 V) (3.83) 13,6 eV e´ a energia que devemos fornecer ao ele´tron no estado fundamental para separa´- lo do nu´cleo, ou seja, a energia de ionizac¸a˜o. Enquanto o ele´tron estiver ligado ao a´tomo, sua energia estara´ quantizada com valor En. Apo´s absorver 13,6 eV, o ele´tron estara´ livre e qualquer energia maior que este valor tera´ a diferenc¸a E − 13, 6 eV transformada em energia cine´tica do ele´tron livre. Ao voltar para o estado fundamental (-13,6 eV), sera´ emitido um fo´ton de luz corres- pondente ao espectro discreto do ele´tron ligado, ou ao espectro cont´ınuo do ele´tron livre. 3.5 Estados de Energia no A´tomo A ideia da quantizac¸a˜o dos estados de energia surgiu com Planck no estudo da radiac¸a˜o do corpo negro. Foi considerada por Bohr no seu modelo do a´tomo com um ele´tron e, provavelmente, poderia ser estendida para outros a´tomos, pois o comportamento de emissa˜o de linhas espectrais e´ comum a todos os elementos. Frank e Hertz demonstraram, em 1914, de modo direto, que os a´tomos absorvem energia de modo seletivo - somente em determinados valores. A energia absorvida era proveniente de ele´trons em movimento, cuja energia cine´tica era absorvida pelo ga´s do a´tomo estudado, apenas quando a energia era de determinados valores. O arranjo experimental e´ mostrado a seguir: O filamento aquece o ca´todo que emite ele´trons. Os ele´trons sa˜o acelerados pela ddp existente entre A e C. Alguns ele´trons passam pelos furos do aˆnodo e chegam a` placa passando pelo amper´ımetro, onde a corrente pode ser medida. (02/12/2013) Foi encontrada a seguinte expressa˜o para a energia: E = −MZ2e4 (4piε0)22n2}2 [ 1 + α2Z2 n ( 1 nθ − 3 4n )] (3.84) Onde M e´ a massa reduzida, Z e´ o nu´mero atoˆmico, α e´ a constante de estrutura fina (nu´mero puro) e vale: Unidade II 33 CAPI´TULO 3. A TEORIA DE BOHR PARA A ESTRUTURA ATOˆMICA α = 1 4piε0 e2 } = 7, 297× 10−3 ≈ 1 137 (3.85) E nθ pode assumir valores de 1 a n. 3.5.1 Representac¸a˜o dos Nı´veis de Energia Apesar da grande quantidade de subn´ıveis de energia, nem todas as transic¸o˜es sa˜o observa- das experimentalmente, apenas transic¸o˜es em que nθi−nθf = ±1. Isto e´ chamado de Regra de Selec¸a˜o. Esta regra seleciona entre todas as transic¸o˜es previstas pela teoria e quais as que realmente ocorrem, e nem sempre se encontram numa raza˜o para uma determinada regra de selec¸a˜o. 3.5.2 O Princ´ıpio da Correspondeˆncia Enunciado por Bohr em 1923, este princ´ıpio tenta fazer o elo de ligac¸a˜o entre a Teoria Quaˆntica e a F´ısica Cla´ssica. E´ composto de duas partes: 1. As previso˜es da Teoria Quaˆntica para o comportamento de um sistema f´ısico devem coincidir com as previso˜es da f´ısica cla´ssica no limite em que os nu´meros quaˆnticos que especificam o sistema sejam muito grandes. 2. Uma determinada regra de selec¸a˜o deve ser va´lida para qualquer valor do nu´mero quaˆntico, de forma que as regras de selec¸a˜o usadas para obter a correspondeˆncia no limite cla´ssico tambe´m devem se aplicar no limite quaˆntico. Asegunda parte do princ´ıpio da correspondeˆncia nem sempre esta´ de acordo com as observac¸o˜es experimentais. Por exemplo, no modelo de Bohr para o a´tomo de Hidrogeˆnio, na˜o e´ necessa´rio se adotar uma regra de selec¸a˜o nθf −nθi = 1 para que a frequeˆncia da luz emitida numa transic¸a˜o corresponda ao valor cla´ssico quando n e´ muito grande; contudo, se observa experimentalmente transic¸o˜es em que nθf − nθi 6= 1 quando n e´ pequeno. 34 Universidade Federal da Bahia Cap´ıtulo 4 A Teoria Quaˆntica de Schro¨dinger 4.1 Part´ıculas e Ondas 4.1.1 Os Postulados de De Broglie Da teoria do efeito Compton, vimos que a radiac¸a˜o eletromagne´tica podia ser tratada como corpu´sculos (fo´tons) cuja energia e momento estavam relacionados por E = pc. Assim: E = hν = h � c λ = p�c (4.1) p = h λ (4.2) Em 1923, Louis de Broglie apresentou uma nova ideia na sua tese de doutorado. Ele postulou que, da mesma forma que uma radiac¸a˜o de comprimento λ possui um momento p, uma part´ıcula de momento p deveria ter o comprimento de onda associado pela mesma relac¸a˜o (4.2). Por exemplo, um ele´tron livre na˜o relativ´ıstico (com baixa velocidade) com energia cine´tica tem seu momento p: Ec = 1 2 mv2 (4.3) = p2 2m (4.4) p = √ 2mEc (4.5) Logo, o comprimento de onda associado a este ele´tron seria: λ = h√ 2mEc (4.6) Assim, um ele´tron com Ec = 100 eV tem λ = 1, 22 A˚, que e´ da ordem do espac¸amento atoˆmico entre a´tomos num cristal simples, como, por exemplo, o NaCl. Por outro lado, um pro´ton (mpro´ton = 1836×mele´tron) de mesma energia teria λ = 0, 028 A˚. Em 1925 foi verificado por Davidson e Germer que um feixe de ele´trons incidindo em uma amostra de Nı´quel policristalino deu origem a um feixe que defratava 50o com rela’c ao ao feixe incidente da mesma forma que seria produzido por um feixe de raios X. 35 CAPI´TULO 4. A TEORIA QUAˆNTICA DE SCHRO¨DINGER O espac¸amento entre os a´tomos de Nı´quel no cristal era de 2,15 A˚. O comprimento de onda necessa´rio para produzir a difrac¸a˜o de Bragg (Raio X) seria de 1,65 A˚e o valor do comprimento de onda calculado pela expressa˜o de De Broglie foi de 1,66 A˚. De alguma forma o ele´tron apresentava um comportamento ondulato´rio ao interagir com os a´tomos da rede cristalina, produzindo resultado ana´logo ao que seria produzido por uma radiac¸a˜o eletromagne´tica. 4.1.2 Noc¸o˜es sobre Difrac¸a˜o de Raio X Considere um arranjo cristalino de um mesmo tipo de a´tomo submetido a uma onda plana de raios X. Seja ϕ o aˆngulo formado pelo vetor de onda ~k (raio) e um plano cristalino escolhido entre os diversos planos poss´ıveis. Ao incidir em cada a´tomo da rede, o campo ele´trico oscilante da onda incidente coloca os ele´trons do a´tomo em oscilac¸a˜o com a mesma frequeˆncia. Esses ele´trons oscilantes reemitem radiac¸a˜o em todas as direc¸o˜es. Um ponto externo, distante quando comparado com o espac¸amento atoˆmico, recebe ondas de todos os a´tomos da rede cristalina e todas estas ondas interferem naquele ponto. Cada plano cristalino de uma famı´lia de planos paralelos ”reflete”radiac¸a˜o em todas as direc¸o˜es. Consideremos a reflexa˜o com aˆngulo de reflexa˜o igual ao de incideˆncia. Nesta situac¸a˜o, todos os raios refletidos (espalhados) estara˜o em fase e podemos representar o processo por um u´nico raio incidente e refletido. Se considerarmos agora dois planos cristalinos paralelos, uma parte da radiac¸a˜o incidente chega ao segundo plano ocorrendo o mesmo processo. A radiac¸a˜o que chega ao segundo plano percorre uma maior distaˆncia e portanto existe uma diferenc¸a de caminhos o´pticos. Se esta diferenc¸a de caminhos for um mu´ltiplo do comprimento de onda teremos uma interfereˆncia construtiva se: zd sin(ϕ) = mλ, m = 1, 2, 3... (4.7) Isto e´ chamado de lei de Bragg. No caso do cristal de Ni, o espac¸amento de caminhos o´pticos e´ 2l. A diferenc¸a sera´ 2d sin(ϕ) vale 0,91 A˚. E para l = d sin(ϕ) observar uma interfereˆncia construtiva quando o feixe refletido esta´ a 50o com o feixe incidente: 2ϕ+ 50o = 180o (4.8) ϕ = 65o (4.9) Enta˜o: λ = 2d sin(ϕ) m = 2× 0, 91× sin(65o) m (4.10) Para m = 1⇒ λ = 1, 65 A˚ (4.11) 4.1.3 Detalhes do Experimento Davidson-Germer Em V = 50 Volts e α = 50o apareceu um pico de detecc¸a˜o de ele´trons espalhados pela equac¸a˜o 36 Universidade Federal da Bahia 4.2. A DUALIDADE ONDA-PARTI´CULA λ = h√ 2mE = 1, 66 A˚. (4.12) Ja´ foram realizados experimentos de difrac¸a˜o com outras part´ıculas carregadas ou na˜o e ate´ mesmo com feixes moleculares de Hidrogeˆnio e feixes de a´tomos de He´lio. Todos eles mostravam as propriedades ondulato´rias das part´ıculas em movimento. Mais preci- samente, mostram que as part´ıculas chegam ao anteparo detector com uma distribuic¸a˜o na localizac¸a˜o ideˆntica a` figura de difrac¸a˜o de uma onda de mesmo comprimento de onda calculado de acordo com a relac¸a˜o de De Broglie: λ = h p (4.13) (04/12/2013) No mundo macrosco´pico, na˜o percebemos esses efeitos, pois λ e´ muito pequeno devido ao fato de h ser pequeno e p ser relativamente grande para corpos macrosco´picos em movimento. A figura de difrac¸a˜o produzida e´ impercept´ıvel nestas condic¸o˜es. E´ necessa´rio ter uma quantidade de movimento pequena e uma estrutura difratante com espac¸amento ”compat´ıvel”com o comprimento de onda (condic¸o˜es da O´ptica F´ısica) para se observar o efeito. Vale notar que a difrac¸a˜o de part´ıculas na˜o e´ um fenoˆmeno de interac¸a˜o coletiva das part´ıculas. Foram feitas experieˆncias de difrac¸a˜o de ele´trons onde praticamente se podia enviar um ele´tron de cada vez e se observou a chegada do ele´tron individualmente no anteparo que, ao longo do tempo, formaram uma distribuic¸a˜o ideˆntica a` de uma figura de difrac¸a˜o de uma onda eletromagne´tica. 4.2 A Dualidade Onda-Part´ıcula Vimos, anteriormente, que a radiac¸a˜o eletromagne´tica pode apresentar um comportamento ondulato´rio ou corpuscular a depender do experimento realizado. Da mesma forma, uma part´ıcula apresenta comportamento corpuscular ou ondulato´rio tambe´m a depender do experimento realizado. Somos, portanto, levados a formular um modelo dual onda-part´ıcula em que as condic¸o˜es experimentais definem o tipo de comportamento. Vale notar, contudo, que durante a interac¸a˜o temos uma ou outra face da dualidade mas na˜o ambas simultaneamente. Este fato experimental ficou explicitado no ”Princ´ıpio da Complementaridade”de Bohr. ”Os modelos corpusculares e ondulato´rios sa˜o comple- mentares. Se uma medida comprova o cara´ter corpuscular, esta mesma medida na˜o pode provar o cara´ter ondulato´rio e vice-versa. 4.3 Pacotes de Ondas De in´ıcio acreditava-se que a onda de De Broglie se propagava juntamente com a part´ıcula. Por exemplo, uma part´ıcula livre de momento p seria representada por uma onda senoidal do tipo Ψ = A sin(kx− ωt), k = 2pi λ , λ = h p , ω = 2piν (4.14) Unidade II 37 CAPI´TULO 4. A TEORIA QUAˆNTICA DE SCHRO¨DINGER Contudo, dois problemas apareceram. 1. A velocidade da fase da onda vf = λν pode ser calculada pela equac¸a˜o de De Broglie e pela relac¸a˜o de Einsten. E = hν...ν = E h = p2/2m h (4.15) Enta˜o: vf = �k �p p�2 2m�h = p 2m = � �mv 2��m = v 2 (4.16) Portanto, a onda se propagaria com metade da velocidade da part´ıcula 2. Uma onda com amplitude A constante na˜o poderia representar bem uma part´ıcula localizada no espac¸o, uma vez que uma onda deste tipo se estende de −∞ a +∞ e e´ perio´dica no espac¸o e no tempo. Estas duas dificuldades podem ser eliminadas se considerarmos uma onda com ampli- tude modulada. A amplitude da onda deveria ser zero longe da part´ıcula e ser diferente de zero nas vizinhanc¸as da part´ıcula. Ale´m disso, este ”pulso”deveria se propagar com a mesma velocidade da part´ıcula.Um pulso desta forma pode ser descrito por uma superposic¸a˜o adequada de ondas via transformada de Fourier, e, por isso, conhecido como um ”pacote de ondas”. Vejamos um exemplo simples de superposic¸a˜o de duas ondas ligeiramente diferentes em frequeˆncia e em comprimento de onda. Ψ1 = A sin(kx− ωt) (4.17) Ψ2 = A sin((k + dk)x− (ω + dω)t) (4.18) Ψtotal = A sin(kx− ωt︸ ︷︷ ︸ a ) + sin ((k + dk)x− (ω + dω)t)︸ ︷︷ ︸ b (4.19) (4.20) Como sin(a) + sin(b) = 2 sin ( a+b 2 ) cos ( b−a 2 ) : Ψtotal = 2A ( sin ( (2k + dk)x− (2ω + dω)t 2 )) cos ( (2kx− dωt) 2 ) (4.21) Ψtotal ≈ 2A sin(kx− ωt) cos ( dkx− dωt) 2 ) (4.22) Para um tempo t fixo (uma foto), temos a seguinte representac¸a˜o: A velocidade com que a amplitude modulada se move (do ”pacote”) e´ conhecida como ”velocidade de grupo”vg e e´ dada por: vg = dω dk (4.23) A velocidade de grupo e´ a velocidade da part´ıcula. Apesar do pacote de onda solucionar os dois problemas anteriores, ainda restam questo˜es a ser compreendidas: 38 Universidade Federal da Bahia 4.3. PACOTES DE ONDAS • Qual o significado f´ısico desta onda? • Qual e´ a forma real desta onda? • Como esta onda evolui no tempo no caso de uma part´ıcula na˜o-livre? Ou seja, quando a part´ıcula esta´ submetida a um determinado campo de forc¸a representado pela sua func¸a˜o Energia Potencial? As primeiras respostas a estas questo˜es comec¸am com os trabalhos de Erwin Schro¨dinger (Escola Polite´cnica Federal de Zurich). Por solicitac¸a˜o de Debye, Schro¨dinger deveria apresentar um colo´quio (palestra) sobre a teoria de De Broglie para que tivessem uma melhor compreensa˜o da teoria. Experimentos ja´ haviam mostrado a necessidade do comportamento ondulato´rio, mas a teoria ainda era insipiente. De in´ıcio, Schro¨dinger procurou encontrar uma ”Equac¸a˜o de Ondas”para as Ondas de Mate´ria de De Broglie, correspondente aos estados estaciona´rios de energia, baseando-se nas equac¸o˜es de ondas do eletromagnetismo cla´ssico. Para uma part´ıcula livre na˜o relativ´ıstica, propagando-se no eixo OX com p = h/λ = }k e a energia total e´ a pro´pria energia cine´tica E = p2/2m. Sabe-se do Eletromagnetismo que: (∇2 + k2)Ψ(x) = 0 (4.24) Como ∇2φ = ∂ 2φ ∂x2 + ∂2φ ∂y2 + ∂2φ ∂z2 (4.25) Temos que: ∇2Ψ = ∂ 2Ψ ∂x2 (4.26) Enta˜o, (4.24) fica: ∂2Ψ(x) ∂x2 = −k2Ψ(x) (4.27) Como k = p/}, fica: ∂2Ψ(x) ∂x2 = −p 2 }2 Ψ(x) (4.28) Ja´ que E = p2/2m, encontramos, finalmente: ∂2Ψ(x) ∂x2 = −2mE }2 Ψ(x) (4.29) Esta equac¸a˜o ficou conhecida como a Equac¸a˜o de Schro¨dinger na˜o-relativ´ıstica para uma part´ıcula de massa m. A pro´xima situac¸a˜o e´ considerar que a part´ıcula esta´ submetida a um campo de forc¸a de forma que sua energia total seja a soma da energia cine´tica com a potencial. Para encontrar a equac¸a˜o de ondas deste caso, Schro¨dinger apelou para a analogia O´ptico-Mecaˆnica descoberta por Hamilton. Pelas leis da Mecaˆnica Cla´ssica, a trajeto´ria Unidade II 39 CAPI´TULO 4. A TEORIA QUAˆNTICA DE SCHRO¨DINGER de uma part´ıcula em um campo de forc¸as com um potencial V (x) e´ ideˆntica a` trajeto´ria de um raio de luz em um meio de ı´ndice de refrac¸a˜o varia´vel dado por: n(x) = √ 1− V (x) E (4.30) De acordo com as leis da O´ptica Geome´trica. Ora, a equac¸a˜o da onda eletromagne´tica no caso estaciona´rio em um meio de ı´ndice varia´vel e´ dada por: (∇2 + n2(x)K20 )Ψ(x) = 0 (4.31) Onde K0 e´ o nu´mero de onda no va´cuo (equivalente a` part´ıcula livre): K20 = (p0 } )2 = 2mE }2 (4.32) Mas p0 = 2mE/}2, enta˜o: [ ∇2 + ( 1− V (x) ��E ) 2m��E }2 ] Ψ(x) = 0[ − } 2 2m ∂2 ∂x2 + V (x) ] Ψ(x) = E(x) (4.33) (4.34) Em geral: [ − } 2 2m ∇2 + V (x, y, z) ] Ψ(x, y, z) = E(x, y, z) (4.35) Esta e´ a equac¸a˜o diferencial de onda para o estado estaciona´rio para uma part´ıcula em um campo de forc¸a de potencial V (x, y, z) 09/12/2013 O pro´ximo passo consiste em considerar situac¸o˜es em que a energia potencial dependa da posic¸a˜o e do tempo (V = V (x, t)). Por exemplo, em um sistema de va´rias part´ıculas interagentes em movimento, a energia potencial na˜o depende apenas da posic¸a˜o, uma vez que a posic¸a˜o relativa entre as part´ıculas varia com o passar do tempo. A busca da equac¸a˜o de ondas, neste caso, torna-se mais complexa e, qualquer que seja o resultado encontrado, este so´ se justifica se for compat´ıvel com as observac¸o˜es experi- mentais. Uma poss´ıvel equac¸a˜o de ondas deve possuir algumas caracter´ısticas importantes: 1. Deve ser compat´ıvel com as relac¸o˜es de De Broglie e Einstein: λ = h p ( K = 2pi λ ) (4.36) ν = E h (ω = 2piν) (4.37) 40 Universidade Federal da Bahia 4.3. PACOTES DE ONDAS 2. Deve ser consistente com a equac¸a˜o da energia total: E = p2 2m + V (x, t) (4.38) 3. Deve ser linear na equac¸a˜o de onda Ψ(x, t), ou seja, a combinac¸a˜o linear de poss´ıveis soluc¸o˜es deve ser uma soluc¸a˜o. Esta linearidade e´ necessa´ria para permitir a inter- fereˆncia ou superposic¸a˜o das func¸o˜es de onda para ser compat´ıvel com os resultados experimentais, como o experimento de Davidson e Germer Como no caso da part´ıcula livre (caso particular), combinaremos as condic¸o˜es 1 e 2: hν = (hλ) 2 2m + V (x, t) hω 2pi = h k2pi 2m + V (x, t) }2k2 2m = }ω − V (x, t) (4.39) Em analogia com a teoria Eletromagne´tica, onde e´ comum se utilizar a notac¸a˜o com- plexa para uma onda harmoˆnica, faremos a hipo´tese que um pacote de ondas que representa o caso particular da part´ıcula livre possa ser descrito como uma superposic¸a˜o conveniente de ondas do tipo: Ψ(x, t) = Aei(kx−ωt) (4.40) pacote = ∑ αiΨi(x, t) (4.41) Observemos que ∂Ψ ∂x = Aikei(kx−ωt) (4.42) ∂2Ψ ∂x2 = A(ik)2ei(kx−ωt) = −k2Aei(kx−ωt) ∂2Ψ ∂x2 = −k2Ψ(x, t) (4.43) e ∂Ψ ∂t = −iωAei(kx−ωt) = −iωΨ(x, t) (4.44) A equac¸a˜o de ondas mais simples que pode ser montada com estas derivadas e com- pat´ıvel com a equac¸a˜o (4.39): } 2m 1 Ψ(x, t) ∂2Ψ ∂x2 (4.45) Unidade II 41 CAPI´TULO 4. A TEORIA QUAˆNTICA DE SCHRO¨DINGER E´ importante frisar que esta equac¸a˜o diferencial envolve uma segunda derivada com relac¸a˜o ao espac¸o e uma primeira derivada com relac¸a˜o ao tempo, sendo, portanto, diferente da equac¸a˜o de ondas do eletromagnetismo onde ambas as derivadas sa˜o de segunda ordem. Uma outra maneira de ”construir”esta equac¸a˜o consiste em partir da equac¸a˜o da energia (4.38) multiplicando por Ψ: p2 2m Ψ + V (x, t)Ψ = EΨ (4.46) e fazer a hipo´tese de que p e E podem ser substitu´ıdos pelos operadores diferenciais a seguir: p ⇐⇒ −i}∇ (4.47) E ⇐⇒ i} ∂ ∂t (4.48) Entendendo que p2Ψ ⇐⇒ (−i}∇)(−i}∇)Ψ p2Ψ ⇐⇒ −}2∇Ψ (4.49) Conforme dito anteriormente, a equac¸a˜o de Schro¨dinger so´ se justifica pela comparac¸a˜o de seus resultados com os resultados experimentais. Muitos problemas f´ısicos resolvidos pela equac¸a˜o de Schro¨dinger concordam bem com os resultados experimentais. Restam, ainda, duas questo˜es importantes a ser respondidas. 1. Qual e´ o significado f´ısico da func¸a˜o de onda? 2. Como associar os resultados das medidas f´ısicas a esta func¸a˜o? Experimentos de difrac¸a˜o de ele´trons realizados com muito baixa intensidade onde, praticamente, um ele´tron de cada vez e´ liberado em direc¸a˜o ao alvo, mostraram que o ele´tron difratado chegam ao anteparo detector um de cada vez, distribuindo-se ao longo do tempo como em uma figura de difrac¸a˜o. Cada ele´tron chega em uma posic¸a˜o diferente no anteparo, mas chegam com maior frequeˆncia nas regio˜es correspondentes aos picos de intensidade calculados pela teoria ondulato´ria. Em outras palavras, existe uma distribuic¸a˜o deprobabilidades do ele´tron chegar em um determinado ponto do anteparo. Em 1928, Max Born deu uma interpretac¸a˜o probabil´ıstica a` func¸a˜o de onda: ”A proba- bilidade P (x)dx de encontrar uma part´ıcula na posic¸a˜o x entre x e x+ dx em um instante t e´ igual ao quadrado do mo´dulo da func¸a˜o de onda vezes dx”. Assim: P (x)dx︸ ︷︷ ︸ probabilidade = |Ψ(x)|2dx (4.50) A func¸a˜o de onda Ψ(x, t) deve satisfazer a equac¸a˜o de Schro¨dinger que e´ uma equac¸a˜o de varia´veis complexas. Portanto, em geral, a func¸a˜o de onda e´ uma func¸a˜o complexa, com parte real e parte imagina´ria. A interpretac¸a˜o probabil´ıssima de Born associa a densidade de probabilidades (proba- bilidade por unidade de comprimento) ao quadrado do mo´dulo da func¸a˜o de onda que e´ 42 Universidade Federal da Bahia 4.4. O PRINCI´PIO DA INCERTEZA uma grandeza real positiva dependente da parte real e da parte imagina´ria da func¸a˜o de onda. |Ψ(x)|2 = Ψ∗(x, t)Ψ(x, t) (4.51) A interpretac¸a˜o probabil´ıstica impo˜e uma restric¸a˜o na func¸a˜o de onda. O fato da soma de todas as probabilidades de encontrar a part´ıcula na posic¸a˜o x (para todos os valores de x ter que ser igual a` unidade) impo˜e que: ∞∫ −∞ |Ψ|2dx = 1 (4.52) Essa condic¸a˜o e´ conhecida como Condic¸a˜o de Normalizac¸a˜o. (11/12/2013) 4.4 O Princ´ıpio da Incerteza Vimos que a func¸a˜o de onda que descreve o estado da part´ıcula nos da´ a densidade de probabilidade de encontrar a part´ıcula em uma determinada posic¸a˜o em um certo instante de tempo. Para determinarmos a posic¸a˜o de uma part´ıcula, ou seja, para realizarmos uma medida da posic¸a˜o, e´ necessa´rio interagir com a part´ıcula. Em outras palavras, para ”enxergar”a posic¸a˜o de um objeto e´ necessa´rio enviar luz (radiac¸a˜o) para este objeto e detectar a luz espalhada pelo mesmo. Quando a luz interage com uma part´ıcula, alguma quantidade de movimento e energia e´ transferida para a part´ıcula, alterando o seu estado inicial que, em princ´ıpio, e´ desconhecido. A luz espalhada pela part´ıcula chegara´ a um detector onde, fatalmente, sofrera´ algum processo de difrac¸a˜o. O detector pode ser o olho ou algum dispositivo sens´ıvel que localize a luz em uma pequena regia˜o do espac¸o (por exemplo, um pequeno orif´ıcio em frente a um material fotossens´ıvel. Para localizarmos a part´ıcula com precisa˜o no espac¸o, devemos interagir o mı´nimo poss´ıvel com ela. Caso contra´rio, esta mudara´ seu estado inicial. Isso pode ser realizado se incidirmos luz cujos fo´tons possuam muito pouca energia. Efo´ton = hν = hc λ (4.53) Ou seja, fo´tons com grande comprimento de onda. Estes fo´tons espalhados pela part´ıcula saira˜o em determinada direc¸a˜o e chegara˜o ao detector. Ao passar pelo orif´ıcio do detec- tor, sera´ formada uma figura de difrac¸a˜o tanto maior quanto maior for o comprimento de onda, ou seja, a imagem sera´ mais ”borrada”. Assim, ao interagir pouco com a part´ıcula, aumentamos a incerteza da sua visualizac¸a˜o. Vejamos uma ana´lise quantitativa: Suponhamos que desejemos localizar a posic¸a˜o y de um ele´tron em um feixe de ele´trons paralelos como na figura. Para isso, utilizaremos uma fenda estreita de largura ∆y e apenas os ele´trons que estiverem entre y e y+∆y atravessara˜o a fenda e sera˜o detectados no anteparo a` direita. Ao ser selecionado pela fenda, o feixe de ele´trons sofrera´ um processo de Unidade II 43 CAPI´TULO 4. A TEORIA QUAˆNTICA DE SCHRO¨DINGER difrac¸a˜o e chegara´ ao anteparo com maior probabilidade na regia˜o limitada pelos primeiros mı´nimos da figura de difrac¸a˜o. Antes de passar pela fenda, o feixe tinha um momento ~p: ~p = pxiˆ (4.54) Apo´s localizarmos um ele´tron no feixe medindo a coordenada y de um ele´tron do feixe passando pela fenda, o mesmo passa a ter uma componente de momento na direc¸a˜o jˆ, podendo ter qualquer valor entre −py1 e +py1, correspondente a` regia˜o de maior proba- bilidade. Da teoria da difrac¸a˜o, a posic¸a˜o do primeiro mı´nimo ate´ o centro da figura de difrac¸a˜o vale λl∆y , pois: sin(θ) ≈ tan(θ) = λl ∆y l = λ ∆y (4.55) Antes de passar pela fenda, py era zero, de forma que o ele´tron que chega ao primeiro mı´nimo sofreu uma variac¸a˜o ∆py = py1 − 0. Mas, py1 = p sin(θ) = p λ ∆λ (4.56) Assim, temos: ∆py = p λ ∆y (4.57) Mas, pela expressa˜o de DeBroglie, λ = h p ∆py = h ∆y ∴ ∆py∆y = h (4.58) Se aumentarmos a certeza na localizac¸a˜o y do ele´tron (∆y → 0), aumentamos a incer- teza ∆py (∆py →∞), a componente do momento associado a` esta varia´vel. Enquanto que, classicamente, podemos reduzir a perturbac¸a˜o do ato de medir, fazendo medidas mais delicadas, quanticamente isto na˜o e´ poss´ıvel. O ato de medir perturba o sistema de modo irrepara´vel. Ao ganharmos informac¸a˜o sobre o valor de uma coordenada, perdemos informac¸a˜o no momento associado a` esta coordenada. Observemos que, ao representarmos uma part´ıcula livre de momento ~p pela func¸a˜o de onda: Ψ(x, t) = Aei(kx−ωt) (4.59) (Verifique que satisfaz a equac¸a˜o de Schro¨dinger) Encontraremos que: P (x) = |Ψ(x, t)|2 = A2 (4.60) Ou seja, a densidade de probabilidade e´ independente de x. A certeza do valor de ~p (k na equac¸a˜o de onda), corresponde a` incerteza do valor de x (a part´ıcula pode estar em qualquer posic¸a˜o). 44 Universidade Federal da Bahia 4.5. OS VALORES ESPERADOS DE UMA GRANDEZA 4.5 Os Valores Esperados de uma Grandeza Como mencionamos anteriormente, o resultado de uma medida realizado num sistema mi- crosco´pico deve ser compreendido em termos probabil´ısticos. Por exemplo, no experimento de Davidson e Germer, um ele´tron pode chegar em qualquer posic¸a˜o, com excec¸a˜o dos pon- tos de mı´nimo no anteparo-detector, mas determinados pontos sera˜o atingidos com mais frequeˆncia do que outros pontos, originando um distribuic¸a˜o de probabilidades. A partir da interpretac¸a˜o probabil´ıstica da func¸a˜o de onda devido a Born, podemos calcular o valor me´dio ou o valor esperado para a medida de uma grandeza f´ısica que seja observa´vel. Assim, o valor me´dio da posic¸a˜o de uma part´ıcula, x =< x > = ∞∫ −∞ xP (x)dx (4.61) = ∞∫ −∞ x|Ψ(x, t)|2dx (4.62) = ∞∫ −∞ xΨ∗(x, t)Ψ(x, y)dx = ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t)xΨ(x, t)dx (4.63) De modo semelhante, podemos calcular o valor me´dio de uma grandeza f´ısica depen- dente de x, f(x) como: < f(x) >= ∞∫ −∞ Ψ∗f(x)Ψ(x, y)dx (4.64) Os valores me´dios do momento p(x) e da energia E podem ser calculados utilizando as expresso˜es dos operadores p e E. Vimos que a equac¸a˜o de Schro¨dinger poderia ser escrita pela aplicac¸a˜o desses operadores na equac¸a˜o da energia total. p ↔ −i} ∂ ∂x (4.65) E ↔ i} ∂ ∂t (4.66) Deste modo, o p me´dio fica: < p > = ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t)p(x)Ψ(x, t)dx (4.67) = ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t) ( −i} ∂ ∂x ) Ψ(x, t)dx (4.68) = −i} ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t) ∂Ψ(x, t) ∂x dx (4.69) Unidade II 45 CAPI´TULO 4. A TEORIA QUAˆNTICA DE SCHRO¨DINGER A posic¸a˜o da derivac¸a˜o dentro da integral e´ importante neste caso. Na˜o teria sentido escrever: 1. ∞∫ −∞ Ψ∗Ψ ∂ ∂x dx (4.70) 2. ∞∫ −∞ ∂ ∂x [Ψ∗Ψ] dx = Ψ∗Ψ]∞−∞ (4.71) = |Ψ|2]∞−∞ = P (x)]∞−∞ = 0− 0 Pois, considerando que, para problemas f´ısicos, a densidade de probabilidade deve ser nula em ∞ ou −∞, encontrar´ıamos p = 0 sempre. A troca de ordem de Ψ(x) ∂∂x com Ψ(x) ∂ ∂xΨ ∗(x) produz apenas uma troca no sinal de p me´dio, e na˜o tra´s nenhuma informac¸a˜o f´ısica adicional. < E > = ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t) [ i} ∂ ∂t ] Ψ(x, t)dx (4.72) = i} ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t) ∂ ∂t Ψ(x, t)dx (4.73) Ou, utilizando a equac¸a˜o da energia escrita em termos dos operadores: E = p2 2m + V (x, t) (4.74) < E > = ∞∫ −∞ Ψ∗(x, t) [ − } 2 2m ∂2 ∂x2 + V (x, t) ] Ψ(x, t)dx (4.75) Pode-se generalizar
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