Buscar

02FS_aula06_doc01

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

Ninguém aceitou a imposição 
A forma como foi feita a campanha da vacina revoltou do mais simples ao mais 
intelectualizado. Veja o que Rui Barbosa disse sobre a imposição à vacina: 
“Não tem nome, na categoria dos crimes do poder, a 
temeridade, a violência, a tirania a que ele se 
aventura, expondo-se, voluntariamente, 
obstinadamente, a me envenenar, com a introdução 
no meu sangue, de um vírus sobre cuja influência 
existem os mais bem fundados receios de que seja 
condutor da moléstia ou da morte.” 
Apesar do fim conflituoso, o sanitarista conseguiu resolver parte dos problemas e 
colher muitas informações que ajudaram seu sucessor, Carlos Chagas, a estruturar uma 
campanha rotineira de ação e educação sanitária. 
Pouco foi feito em relação à saúde depois desse período, apenas com a chegada dos 
imigrantes europeus, que formaram a primeira massa de operários do Brasil, começou-se a 
discutir, obviamente com greves e manifestações, um modelo de assistência médica para a 
população pobre. Assim, em 1923, surge a lei Elói Chaves, um marco no surgimento da 
Previdência Social Brasileira, criando as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs). Essas 
instituições eram mantidas pelas empresas que passaram a oferecer esses serviços aos seus 
funcionários. A União não participava das caixas. A primeira delas foi à dos ferroviários. Elas 
tinham entre suas atribuições, além da assistência médica ao funcionário e a família, 
concessão de preços especiais para os medicamentos, aposentadorias e pensões para os 
herdeiros. Detalhe, essas caixas só valiam para os funcionários urbanos. A assistência médica 
curativa prestada pelas CAPs era financiada pelas empresas e seus empregados. 
As CAPs cresceram bastante, sendo que algumas categorias profissionais já 
possuíam hospitais próprios e, em 1932, foram transformadas em Institutos de Aposentadorias 
e Pensões (IAPs). Esses Institutos atendiam trabalhadores de uma determinada categoria 
profissional e já havia alguma participação do Estado. Nesse momento, a contribuição era 
tripartite, sendo realizada pelos empregados, pela empresa e pelo Estado, que atuava 
mediando à base contributiva previdenciária. 
Esse modelo começa a mudar a partir da Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas 
toma o poder. É criado o Ministério da Educação e Saúde e as caixas são substituídas pelos 
Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) que, por causa do modelo sindicalista de Vargas, 
passam a ser dirigidos por entidades sindicais e não mais por empresas como as antigas 
caixas. Suas atribuições são muito semelhantes às das caixas, prevendo assistência médica. O 
primeiro IAP foi o dos marítimos. A União continuou se eximindo do financiamento do modelo, 
que era gerido pela contribuição sindical, instituída no período getulista. 
Quanto ao Ministério, ele tomou medidas sanitaristas, como a criação de órgãos de 
combate a endemias e normativos para ações sanitaristas. Vinculando saúde e educação, o 
ministério acabou priorizando o último item e a saúde continuou com investimentos irrisórios. 
Dos anos 40 a 1964, início da ditadura militar no Brasil, uma das discussões sobre 
saúde pública brasileira se baseou na unificação dos IAPs como forma de tornar o sistema mais 
abrangente. Entre os anos de 1945 e 1964, são criadas a carteira de trabalho, espécie de 
certidão de nascimento cívico, e o Ministério da Saúde. 
É de 1960, a Lei Orgânica da Previdência Social, que unificava os IAPs em um 
regime único para todos os trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas 
(CLT), o que excluía trabalhadores rurais, empregados domésticos e funcionários públicos. É a 
primeira vez que, além da contribuição dos trabalhadores e das empresas, se definia 
efetivamente uma contribuição do Erário Público. Mas tais medidas foram ficando no papel. Por 
volta de 1966 os IAPs existentes se fundem e é criado o Instituto Nacional de Previdência 
 
 
 
 
Social (INPS) para unificar e executar as políticas de previdência e assistência, com uma 
participação ainda maior do Estado. Foi criada a categoria dos pré-cidadãos, que eram aqueles 
que ocupavam lugar no processo produtivo, mas sem reconhecimento legal, e que eram 
excluídos das políticas públicas produzidas. A efetivação dessas propostas só aconteceu em 
1967 pelas mãos dos militares com a unificação de IAPs e a conseqüente criação do Instituto 
Nacional de Previdência Social (INPS). Surgiu então uma demanda muito maior que a oferta. A 
solução encontrada pelo governo foi pagar a rede privada pelos serviços prestados à 
população. Em 1977, é criado o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social, 
havendo maior cobertura da população (todos trabalhadores urbanos, formalmente inseridos 
no mercado de trabalho e parte dos trabalhadores rurais) e, consequentemente, aumento de 
gastos. Mais complexa, a estrutura foi-se modificando e acabou por criar o Instituto Nacional 
de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), em 1978, que ajudou nesse trabalho de 
intermediação dos repasses para iniciativa privada. Um pouco antes, em 1974, os militares já 
haviam criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), que ajudou a remodelar e 
ampliar a rede privada de hospitais, por meio de empréstimos com juros subsidiados. Toda 
essa política acabou proporcionando um verdadeiro boom na rede privada. Devemos 
considerar que, até então, quem precisasse de assistência médica deveria pagar diretamente 
por ela, ou ser atendido em instituições filantrópicas, ou estar formalmente inserido no 
mercado de trabalho. Esse último condicionante pode ser denominado de “cidadania regulada”, 
uma vez que os direitos do cidadão estavam condicionados não apenas à sua profissão, mas 
ao modo como a exercia. 
Quanto às ações de saúde pública ou preventiva (vacinação, saneamento, controle 
de endemias, etc.), elas eram de acesso universal, mesmo que funcionassem em paralelo às 
ações ditas curativas. Como resultado, o modelo de atenção à saúde era inadequado às reais 
necessidades da população como um todo e sem integralidade, devido á nítida separação 
existente entre a prevenção e a cura. 
De 1969 a 1984, o número de leitos privados cresceu cerca de 500%. De 74.543 
em 1969 para 348.255 em 1984. Como pode-se ver, o modelo criado pelo regime militar era 
pautado pelo pensamento da medicina curativa. Poucas medidas de prevenção e sanitaristas 
foram tomadas. A mais importante foi a criação da Superintendência de Campanhas da Saúde 
Pública (Sucam). 
Na década de 70, o mundo passa por uma crise no modelo de financiamento 
médico, devido à inflação médica gerada pelos próprios profissionais da área. A assistência 
médica curativa no Brasil tem sido caracterizada, em maior ou menor grau, por uma compra 
de serviços privados. Isso tem ocorrido, ora pelo pagamento direto do usuário ao médico, ora 
pelo pagamento indireto (pelas empresas), através de serviços próprios, conveniados ou 
comprados no mercado. 
Esta característica, junto à tecnificação crescente da Medicina e aos interesses 
privados com fortes lobbies, tem sido responsável por um crescimento desordenado dos gastos 
do setor saúde, sem que isso reflita em uma melhor assistência ou em melhores condições de 
saúde para a população assistida. 
Durante a transição democrática, finalmente a saúde pública passa a ter uma 
fiscalização da sociedade. Em 1981, ainda sob a égide dos militares, é criado o Conselho 
Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp). Com o fim do regime militar, 
surgem outros órgãos que incluem a participação da sociedade civil como o Conselho Nacional 
dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional dos Secretários Municipais 
de Saúde (Conasems). 
Se de um lado, a sociedade civil começou a ser mais ouvida, do outro, o sistema 
privado de saúde, que havia se beneficiado da política anterior,teve que arranjar alternativas. 
É nesse período que se cria e se fortalece o subsistema de atenção médico-suplementar. Em 
outras palavras começa a era dos convênios médicos. Surgem cinco modalidades diferentes de 
assistência médica suplementar: medicina de grupo, cooperativas médicas, auto-gestão, 
seguro-saúde e plano de administração. 
 
 
 
 
A classe média, principal alvo destes grupos, adere rapidamente, respondendo 
contra as falhas da saúde pública. O crescimento dos planos é vertiginoso. Em 1989, já 
contabilizam mais de 31 mil brasileiros, ou 22% da população, faturando US$ 2,4 bilhões. 
Ao lado dessas mudanças, os constituintes da transição democrática começaram a 
criar um novo sistema de saúde, que mudou os parâmetros da saúde pública no Brasil, o SUS, 
que será detalhado em outro momento. 
No Brasil o Movimento da Reforma Sanitária, no final da década de 70, e que 
culminou com a VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, propõe que a saúde seja um 
direito do cidadão, um dever do Estado e que seja universal o acesso a todos os bens e 
serviços que a promovam e recuperem. 
Deste pensamento resultaram duas das principais diretrizes do Sistema Único de 
Saúde (SUS), que são a universalidade do acesso e a integralidade das ações. 
 
No campo, fora dos hospitais. 
O trabalhador rural ficou por séculos excluído de qualquer auxílio sistemático à 
saúde. Somente em 1963, foi criado o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), 
que começa a prever aposentadoria e assistência médica. Tal negligência é historicamente 
explicada. Na criação das caixas de assistência, a elite cafeicultora e canavieira pressionou 
para que a novidade fosse limitada aos centros urbanos. Além disso, a mobilização social no 
interior sempre sofreu revezes com a falta de articulação. Com a criação do SUS, eles foram 
finalmente incluídos como cidadãos no sistema de saúde. Mas, os trabalhadores rurais ainda 
recebem tratamento à margem dos centros urbanos.

Outros materiais