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aguas vivas 2 antologia poesia evangelica

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ÁGUAS VIVAS 
2 
 
Antologia 
de Poesia Evangélica 
 
 
Antonio Costta ● Fabiano Medeiros ● Flávio 
Américo ● Florbela Ribeiro ● Jorge Pinheiro 
● Norma Penido ● Rui Miguel Duarte 
 
 
Blog Poesia Evangélica 
www.poesiaevanglica.blogspot.com 
 
 
 
Organização de Sammis Reachers 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Vinde, cantemos ao SENHOR, com 
júbilo, celebremos o Rochedo da 
nossa salvação. 
 
Saiamos ao seu encontro, com ações 
de graças, vitoriemo-lo com salmos.” 
 
Salmo 95:1,2 
4 
 
ÍNDICE 
 
Apresentação 6 
 
Prefácio 8 
 
Rui Miguel Duarte 11 
Anastasis .................................................................................................12 
Negação ..................................................................................................14 
Vale da Sombra da Morte .......................................................................16 
O Maior Amor ..........................................................................................18 
O Bom Pastor ..........................................................................................19 
Elias ........................................................................................................21 
No Paraíso ..............................................................................................23 
Paulo de Tarso na Prisão ........................................................................24 
Contagem ................................................................................................26 
Para o Fim ...............................................................................................28 
 
Fabiano Medeiros 30 
Amizade ..................................................................................................31 
Conversão ...............................................................................................32 
Espelho religião .......................................................................................33 
Brevidade ................................................................................................34 
Indriso do novo homem ...........................................................................36 
Poema de graça ......................................................................................37 
Autossalvação .........................................................................................40 
espírito da coisa ......................................................................................41 
Rondel da eleição ...................................................................................42 
Há lugar para todos os que me deu ........................................................43 
 
Antonio Costta 46 
Soneto Missionário ..................................................................................47 
Aliança com Deus ...................................................................................48 
Solidariedade ..........................................................................................49 
Conselhos ...............................................................................................50 
A Sagrada Escritura ................................................................................51 
Soneto Para a Mocidade .........................................................................52 
Nem Tudo Que Reluz é Ouro ou Prata ...................................................53 
“E Agora José” ........................................................................................54 
Um Juntador de Palavras ........................................................................55 
O Exemplo da Formiga ...........................................................................57 
 
Florbela Ribeiro 58 
Dá-me apenas .........................................................................................59 
Refugium .................................................................................................60 
5 
 
Aponta o olhar no tempo .........................................................................61 
Um Duelo do Destino ..............................................................................62 
Sob um novo Amanhecer ........................................................................63 
O segredo ...............................................................................................64 
Percebi ....................................................................................................65 
Proveniências .........................................................................................67 
Abriste-me a porta da vida ......................................................................68 
Sustentável Amor ....................................................................................69 
 
Flávio Américo 70 
...Eternidade...! ........................................................................................71 
Eterno Querido ........................................................................................72 
O Sermão do Tempo ...............................................................................73 
Saudade do futuro ...................................................................................75 
Amiga Fé .................................................................................................76 
Ser Mais do Que um Verbo .....................................................................77 
Uma Vida Dura e a Fé Que Dura ............................................................79 
Só Corro Atrás de Socorro ......................................................................80 
Uma pipa e o Vento ................................................................................82 
Louvor ao Deus pequenino .....................................................................83 
 
Norma Penido 85 
Companheiro de Jornada ........................................................................86 
Vida de Pastor .........................................................................................87 
Família, o sonho de Deus .......................................................................88 
Ele Nasceu ..............................................................................................89 
O Valor da Bíblia .....................................................................................90 
Bíblia .......................................................................................................92 
Mestre, como esquecê-lo? ......................................................................93 
Pai & Filho ...............................................................................................95 
Mãe .........................................................................................................97 
Os passos de um homem bom ...............................................................98 
 
Jorge Pinheiro 99 
Samaritana ............................................................................................100 
chove em Lampedusa! ..........................................................................102 
as tuas mãos .........................................................................................104quando partires .....................................................................................105 
nas estrelas ...........................................................................................106 
um livro por noite ...................................................................................107 
prece .....................................................................................................108 
no longínquo distante ............................................................................110 
encontros ..............................................................................................111 
o dia inundou a cidade ..........................................................................112 
 
Sugestões Literárias – Outros livros para download 113 
6 
 
Apresentação 
Em 2009, veio a lume a Antologia Poética Águas Vivas, 
destacando a obra de 10 poetas evangélicos contemporâneos. 
Dez expoentes dos mais diversos estilos poéticos, unidos num 
livro editado em formato eletrônico, trazendo uma riquíssima e 
edificante amostra de poesia, numa obra franqueada a todos os 
interessados, pois de circulação e cópia gratuitas. 
Já naquele momento, muitos talentosos poetas não puderam ser 
incluídos na obra, cujo projeto editorial inicial era dedicar-se a 10 
poetas somente. 
Pois eis que agora, em Julho de 2011, passados exatos dois anos, 
a semente que ficou germinou, e é com grande alegria que 
apresentamos aos leitores este segundo volume de Águas Vivas, 
imbuído do mesmo espírito da edição anterior, que é destacar e 
divulgar a excelente poesia cristã produzida atualmente por 
nossos irmãos, no Brasil e em Portugal. 
Desta feita estão antologiados sete autores, sendo quatro deles, 
os brasileiros: Antonio Costta, Fabiano Medeiros, Flávio Américo 
e Norma Penido; e três lusitanos: Florbela Ribeiro, Jorge Pinheiro 
e Rui Miguel Duarte, cada qual comparecendo com 10 poemas. 
Decerto e mais uma vez, outros poetas de excelência ficaram de 
fora, pois na presente edição optamos por trabalhar com um 
número menor de autores. Mas nossa expectativa é dar 
prosseguimento ao projeto Águas Vivas, vindo daqui a algum 
tempo a contemplar a obra de outros de nossos bardos, que têm 
exercitado com multiforme graça o dom divino que o Senhor lhes 
outorgou. 
7 
 
 
Querido leitor: tenha uma muito boa leitura, e não deixe de 
compartilhar este livro e estes poemas com seus amigos e 
irmãos. 
Ao fim deste volume, não deixe de conferir a sugestão de outras 
literaturas poéticas e devocionais ofertadas para download 
gratuito. 
Graça, paz e poesia! 
Sammis Reachers, organizador 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Prefácio 
 O projeto do poeta e antologiador Sammis Reachers não é 
tanto reunir vários e diferentes poetas cristãos evangélicos para 
que a quantidade, só por si, defina uma história, a história 
contemporânea dessa poesia dita evangélica. O seu projeto, 
guiado pela procura da qualidade poética dos poetas escolhidos, 
nesta Antologia nº 2 como na primeira, foi com toda a convicção 
erguer uma história de uma poética estruturada no ambiente 
temático da Bíblia Sagrada. E divulgá-la na língua comum de 
brasileiros e lusitanos, com a certeza de que a “poesia é o génio 
da própria língua”, como escreveu Eugénio de Andrade. 
 Não me pareceria jamais ético destacar uns poemas de 
outros, embora devesse destacar uns autores de outros pela 
diferença dos trabalhos poéticos que apresentam e pelo modo 
como abordam o labor do poema na sua escrita. Evidenciando 
inevitáveis ingenuidades, demonstrando leituras diversas de 
poesia, mas trabalho honesto, entrega total à arte de fazer 
versos. 
 É natural que uma antologia divulgadora apresente autores 
com discurso poético desigual, pelas sensibilidades, pela 
inspiração, pelo lugar concedido às epifanias poéticas. Esta não 
fugirá a esta quase regra, apontando no entanto a sua 
diversidade para linhas de força comuns. 
 A saber. Intimismos, cosmovisão sobre a contemporâneidade, 
religiosidade e espiritualidade q.b., relacionamentos cristãos, 
classicismos, poíéticas contextualizadas no Evangelismo, etc. 
9 
 
 Desde uma poética auto-biográfica onde o eu poético se assume 
sob a inspiração cristã e os sentimentos homónimos a uma 
poesia marcada pela objectividade de evangelizar através dela. 
 Os títulos de alguns poemas são esclarecedores dos tópicos 
acima desenvolvidos: Refugium e Percebi; As tuas mãos e 
Quando partires; Os passos de um homem bom; Amiga Fé, 
Amizade; Soneto Missionário; Família, O sonho de Deus; 
Anastasis e Paulo de Tarso na Prisão; Conversão e Autosalvação; 
etc. etc. 
 Em qualquer caso há em todos os poemas deste livro, 
obviamente nuns mais que noutros, uma discursividade 
controlada, um domínio já do conteúdo e da forma, do dizer e, 
sobretudo, do como dizer. 
 O leitor esclarecido no que concerne à contemporânea poesia 
dita de inspiração evangélica terá ocasião de o comprovar. 
 Aqui, limitar-me-ei a considerar o que este volume 
representa enquanto vontade de fazer poesia, de dar 
prossecução prática ao vocábulo originalmente grego, poiêtikê, 
que significa exactamente o descrever o modo como o poema se 
faz e não o produto acabado; e, depois, o que está mais 
generalizado, o termo poíesis que é, no fundo, fazer (a obra de 
arte). 
 Fazer uma poesia e o como se faz esse produto da arte, estão 
patentes nesta Antologia - que não representa nenhuma escola 
ou movimento, mas sentimentos estéticos-, cada poeta mostra-
se nos poemas que escreveu e entregou para publicação da 
coletânea. 
 Cada poeta tem em si o destino de prosseguir escrevendo, 
como se não pudesse parar e cada poema fosse, no momento da 
10 
 
criação, do “fazer”, um espelho onde não apenas se reflecte, mas 
para dentro do qual passa – como uma Alice de Lewis Carrol -
para a meta-história, para a meta-poesia, para o devir de si 
próprio*como*poeta. 
Cada poeta sabe, na sua carne e no seu espírito, qual é o mal da 
poesia – que tão bem definiu um poeta contemporâneo, 
laureado dos Estados Unidos, Billy Collins: “The trouble with 
poetry is / that it encourages the writing of more poetry” ( “O 
mal da poesia é / encorajar-nos a escrever mais poesia”). 
 
J.T.Parreira 
 
11 
 
Rui Miguel Duarte 
 
Rui Miguel Duarte licenciou-se em Línguas e Literaturas 
Clássicas na Universidade de Lisboa (Portugal), em 1991, e 
doutorou-se em Literatura na Universidade de Aveiro, em 
2006. Desenvolve actualmente pós-doutoramento. Reside em 
França (Herserange — Meurthe-et-Moselle), junto à tripla 
fronteira com a Bélgica e o Luxemburgo. Foi docente nos 
Ensinos Superior e Básico portugueses. Participou como 
tradutor na tradução interconfessional da Bíblia (A Bíblia 
para todos, Lisboa, Temas e Debates, 2009 e Lisboa, Sociedade 
Bíblica de Portugal, 2010). Tem escrito e divulgado poesia em 
“blogs” e na rede social Facebook. 
Tem editado um "e-book" de poemas (7 canções de um pai 
para sua filha in http://www.scribd.com/doc/28175160/7-
CANCOES-DE-UM-PAI-PARA-SUA-FILHA) e um livro em formato 
papel, em edição de autor, com a chancela de Sinapis Editores 
(Portugal), intitulado Muta Vox. 
Mantém o blog http://neaktisis.blogspot.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
ANASTASIS 
 
“Vamos ressuscitados, colher flores!” 
Miguel Torga, in “Convite” 
 
Madrugada 
primeiro dia do sábado 
dia de resgatar ojardim 
de revelar as pérolas 
de dentro do mundo da concha 
 
dia de colheres flores, 
Maria Madalena, 
e de anunciares aos irmãos, 
ainda dormentes 
nos seios da noite 
 
que deixem de indagar 
o estridor do oceano 
no pavilhão dos búzios 
e céleres acorram à cripta 
que despojada está da sua missão 
de para sempre dissimular à vista 
a carne rubra da rosa 
 
pois a esperança foi finalmente 
engrinaldada 
 
diz-lhes que a pedra se moveu 
e a sepultura deu rediviva 
o que não tinha cadeias para agrilhoar 
13 
 
 
leva-lhes esta flor 
em que a seiva livre de novo corre 
diz-lhes que é perene 
o seu perfume que à sua cor 
até o sol e a lua murcham 
 
diz aos irmãos, a Pedro a João 
e aos demais 
que o Mestre vive 
 
25/03/10 
 
 
14 
 
NEGAÇÃO 
 
“«Olha, Pedro», avisou-o Jesus, «não cantará hoje o galo sem que me 
tenhas negado três vezes»” 
Evangelho segundo Lucas 22:34 (versão A Bíblia para todos) 
 
Antes de o galo acordar o sol 
antes mesmo de a aurora multiplicar rosas 
ouvir-se-á o murmúrio das vozes 
no pátio 
e ao vento uma palavra não soprada 
 
O coração esconderá a vergonha 
lançá-la-á ao crepitar da fogueira 
acesa para aquecer corpos 
consumir fadigas e tristezas 
mas o ardor de um coração culpado 
fogo nenhum extingue 
antes mais o inflama 
 
O seu rosto será familiar 
cuspido e escarrado 
alguém o terá visto 
o braço direito desse Rei 
 
E ao vento uma palavra não balbuciada 
 
Sentados na roda dos coscuvilheiros, 
os olhos mirarão o homem 
de fronte suada de desassossego e fuga 
As vozes certificarão o que ele preferirá ignorar 
15 
 
terá sido um desses que terão partilhado a mesa com o Galileu 
e que tentará então com a aba do manto 
manter o anonimato 
 
As vozes darão carne à sombra que ele ansiará 
por abandonar numa esquina 
 
Mas fugirá o descanso desse coração incerto 
pois ao vento uma palavra NÃO será protestada 
 
E será este protesto quem acordará o galo, 
que então se lembrará que será a hora 
 
Outros olhos então pousarão nos seus 
os olhos condoídos do Mestre 
que lhe atravessarão a couraça da alma 
 
E na esquina onde se quis esquecer 
será aquela em que se reencontrará 
no espelho das lágrimas: ainda que a voz minta 
estas só sabem dizer a verdade 
e desconhecem a palavra 
NÃO 
 
20/11/09 
 
 
 
16 
 
VALE DA SOMBRA DA MORTE 
 
“Perguntou-lhe Simão Pedro: «Para onde vais, Senhor?» Jesus 
respondeu-lhe: «Para onde eu vou, tu não me podes seguir agora, mas 
hás-de seguir-me mais tarde.»” 
Evangelho segundo João 13:36 (versão A Bíblia para todos) 
 
Não podes, querido amigo, 
seguir-me agora 
sabes, tenho uma estrada diante de mim 
que tu não conheces 
pés nenhuns foram nela ainda 
experimentados 
o couro de sandálias nenhumas 
nas suas pedras jamais se gastou 
 
Querido amigo, 
o céu aqui não é de açucenas 
os penedos são gigantes espessos 
ao passarmos rente a eles 
acendem um véu negro no rosto 
do abismo 
o chão não é de pétalas 
mas tem arestas é pontiagudo 
como pregos que não descansam 
o sangue 
 
Sei que nele 
há um vale da sombra 
é todo o céu e toda a terra 
em peso sobre a minha cabeça 
17 
 
sombra da morte mais temível 
do que a própria 
morte 
 
esse vale foi moldado à forma 
rósea do meu corpo 
o meu sangue foi-lhe 
desde a Eternidade prometido 
poderei eu estancá-lo? 
 
Só eu, 
querido amigo 
só eu posso atravessá-lo 
 
deixa-me ir, querido amigo, 
até à outra fímbria do vale 
 
lá as águas dos riachos 
têm a cor do sol 
então ao meu chamado virás 
dirás que vens da minha parte 
 
e no prado dos teus olhos 
desenrolar-se-á, 
até o perderes de vista, o verde 
 
18/03/10 
 
 
18 
 
O MAIOR AMOR 
 
“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos 
seus amigos” 
Evangelho segundo João 15:13 
 
Cada manhã que o dia me desperta 
é uma noite mais que me adormece 
o fôlego e ao peito me dá quebranto 
 
Cada manhã que os teus olhos em orvalho me vêem 
é uma noite mais que me oculta 
a face por trás do véu da tua face 
 
Cada manhã que o sol põe flores róseas nas minhas mãos 
é uma noite mais que me desvenda 
de todo o corpo 
frutos vermelhos para o teu contentamento 
 
10/06/10 
 
 
19 
 
O BOM PASTOR 
 
O Bom Pastor é aquele 
que conhece as quatro estações 
das ovelhas 
 
conhece a espessura da sua lã 
e sabe que esta se no Verão lhes sobra 
no Inverno não lhes calafeta 
todas as portas e janelas da pele 
ao frio 
 
O Bom Pastor 
conhece os azimutes todos 
dos caminhos bravios das montanhas 
onde habitam todos os caules 
que lhes servem 
de alimento 
 
no cajado do tempo 
na vara das estações 
cada uma com o seu açoite 
cada uma com o seu consolo 
 
conhece-lhes os esgares do céu 
de que boca de floresta 
de que toca da noite 
espreitam quentes os focinhos dos lobos 
 
O Bom Pastor 
é aquele que canta um canção 
20 
 
de amor à lânguida flauta 
para as suas ovelhas 
que lhes oferece no flanco 
moribundo 
um redil para seu abrigo 
 
no cajado do tempo 
na vara das estações 
cada uma com a sua morte 
cada uma com a sua vida 
 
19/09/10 
 
 
 
 
21 
 
ELIAS 
 
Quem está na montanha vê as coisas de cima 
e a roupa do corpo parece-lhe durar 
para sempre imune aos temporais 
e ao alvoroço vacilante da multidão 
 
quem está na montanha 
toca com a ponta dos dedos 
nos lumes do céu 
e maneja mais destramente 
o trovão, a majestosa imponência 
dos dedos de Deus 
 
quem está na montanha 
de um gesto 
incendeia o altar do sacrifício 
e jorra o rio 
na água límpida das pedras 
 
quem está na montanha 
domina as artes do discurso 
é mestre de ilusionismo bobo de feira 
tratador de ventos terramotos fogos 
doutor da mais cristalina sabedoria 
 
quem está na montanha 
é paladino e chanceler da justiça 
da nação 
 
quem está na montanha 
22 
 
da montanha pode cair 
e só numa gruta abscôndita na alma 
pode escutar o sussurro 
o harmonioso murmúrio 
da voz de Deus 
 
12/09/10 
 
 
23 
 
NO PARAÍSO 
 
“no Paraíso, estive à beira de todas as cores 
quando as manhãs acordaram nos meus olhos” 
J. T. Parreira, “Expulsão do Paraíso” 
 
Percorridos todos os limiares 
e arestas negras, as artérias de granito 
em vez da ondulação dos teus cabelos 
trocadas as tuas carícias por um grito 
 
culpados de todas as traições 
de nos acolhermos ao colo de um pai estranho 
extraviados da sabedoria de todas as cores 
que falavam das manhãs acordadas de antanho 
 
esquecidos das brisas lentas 
das conversas sob as árvores ao fundo 
da tarde, restou-nos a sombra do teu vulto 
projectada como noite sobre o mundo 
 
Mas na tua carne e no teu sangue 
rasgaste para sempre a distância a frio 
depusemos então as saudades à soleira da porta 
reaprendemos então a alegria da Tua voz de rio 
 
7/10/10 
 
 
24 
 
PAULO DE TARSO NA PRISÃO 
 
“… A golpes de paixão, tento passar…” 
Miguel Torga, “Emparademento” (in Orfeu Rebelde) 
 
 
Emparedado tentei 
já desfazer as cadeias 
que me puseram no degredo 
as mãos e os pés 
estão unidos com os ferros 
e transmitem à boca o pedido 
de um grito 
que a noite eleve 
para lá das grades 
ao terceiro céu, e que 
me traga afrescura do consolo 
 
pois sei que as cadeias não são negociáveis 
para os que seguem Cristo, 
nem tão pouco feitas perpétuas 
ou elas cedem, ou o muro cede 
doem afinal ainda menos 
do que o desespero 
de se terem incrustado 
nas mãos e nos pés, 
do que um destino tumular 
 
das cadeias do meu avesso, 
que me esmurra 
como um doido varrido e que 
a golpes de paixão, tento passar 
 
é aí, no recesso 
que mais emparedado estou 
25 
 
 
por durante um minuto 
ter desaprendido 
de cantar 
 
16/11/10 
 
 
26 
 
CONTAGEM 
 
“Abraão lança os olhos 
ao lume longínquo” 
J. T. Parreira, “Contagem de estrelas” 
 
Dissera Deus a Abraão 
o pai de miríades de nações, 
que contasse as estrelas 
e contaria os pés 
dos filhos 
e dos filhos dos filhos 
 
essas seriam as contas 
amplíssimas das areias 
mais do que as águas do mar 
ao retirarem-se 
diante das marés 
dos filhos, das nações amplíssimas 
do seu pai, avançando 
sobre a palma da terra 
e as costas dos oceanos 
conquistadores dos continentes e ilhas 
 
Abraão que contasse 
que lançasse os olhos 
na demora dos lumes 
do céu 
 
E Abraão contou 
 
27 
 
Abraão contou 
os intervalos entre elas 
Abraão contou os pêlos 
da barba branca 
e os intervalos 
entre os cabelos 
que lhe faltavam 
 
24/12/10 
 
 
28 
 
PARA O FIM 
 
“Mas tu guardaste o melhor até agora!” 
Evangelho segundo João 2:10 
 
o mistério foi deixado para o fim 
para a hora em que a atenção 
lhe flui para uma estrela 
 
para o fim deixou o aceno da vida 
o abandono exacto de todo o cansaço 
e a revelação nas mãos abertas 
de um presente perfeito 
para o seu amor 
 
é no fim do rio 
que mais o peito se lhe dilata 
ao seu sopro nítido 
e que os olhos mais se lhe abrem 
para as bocas sagradas 
da madrugada 
 
para a última vindima 
para os cachos do fim 
guardou o acorde unânime 
de todas as castas 
no último cálice 
 
no fim do banquete 
à hora de fechar as canções 
disse dum só fôlego 
29 
 
o melhor poema 
aquele que só nessa hora 
os ouvidos estão aptos 
para entender 
 
5/02/11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
Fabiano Medeiros 
Fabiano Medeiros é tradutor, editor e revisor. Também 
empenha-se em pastorear almas. 
Formado em tradução pela Faculdade Ibero-America em 1991, 
dedica-se desde 1987 à literatura cristã com traduções, 
revisões de tradução e edições de texto. Trabalhou com 
editoras como Vida Nova, onde hoje é editor, Mundo Cristão, 
Tempo de Colheita, Garimpo, Vida, Betânia entre outras. 
Formado pelos Colégio de Pastores de Sovereign Grace 
Ministries [Ministério Graça Soberana] em 2005, tem 
pastoreado ou auxiliado em igrejas desde aquele ano. Entre 
suas grandes paixões está a implantação de igrejas para 
expansão do reino de Deus. 
É apaixonadamente casado com Marcia e tem quatro filhos, 
presentes de Deus: Larissa, Caio, Iago e Talita. Mora em São 
Paulo. 
Mantém o blog http://gracasoberana.wordpress.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
amizade 
(2010) 
 
não se confunda 
com as conversações da simpatia 
algodoadas e refrigerantes 
 
amigo vem com a funda em punho ainda 
e ao alvo certo desfere o seixo de amorosa valentia 
para embate dos gigantes da utopia e do engano 
que alimentamos um dia 
 
tu sabes que a pedrinha não te vinha 
ferir nem machucar 
antes te protegeria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
conversão 
(2010) 
 
Hoje vim retirar mi’a liberdade, 
liberdade desse meu homem velho, 
homem velho em sua vil humanidade, 
humanidade entregue ao Evangelho, 
 
Evangelho que traduz sua bondade, 
bondade de me vergar o joelho, 
joelho rijo em busca de u’a verdade, 
verdade falsa a embaçar o espelho. 
 
Espelho seja em mim tua Escritura, 
Escritura em meu coração talhada, 
talhada a ferro e fogo como brasas, 
 
brasas trazidas em tenaz com asas, 
asas do evangelho: o mal desfeito. Nada! 
Nada velho! Nova vida futura! 
 
 
33 
 
Espelho religião 
(1988) 
 
 Trago ao fundo, pra quem vê, 
 A tristura que dissimulo, 
 A perene sensação do que sou. 
 Ostento, contudo, ao menos perspicaz 
 A alegria que rotulo, 
 A fugaz sensação que não sou. 
 Trago ao fundo pra que vejam... 
 
 Levo junto, na fachada, 
 O incorrutível procedimento, 
 O que presumo ser e não sou. 
 Revelo, contudo, ao mais agudo, 
 O pérfido encantamento, 
 O terror do que sou. 
 Levo juntos, na fachada... 
 
 Trago e levo, 
 Ao fundo e na fachada, 
 O pavor, 
 O terror, 
 Dessa farsada... 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
Brevidade 
(1988) 
 
Brancas cãs brotadas bravias 
brindam, bradam, bracejam à brisa. 
Brancas lãs bromadas brevias. 
 
Broncos braços brunos de afã 
brigam, bramam, brandeiam a brita. 
Troncos crassos, brutos de chã. 
 
Pernas hibernas ineternas 
 
Lábios fábios: ressábios 
 
E vejo a vaga vida volúbil volcada 
voejar volátil: vislumbre inveraz 
de venturas e inverdades, 
solavancos e resvalos. 
 
Resta recostar-me rente à relva 
rezando retalhado rezas ressequidas 
35 
 
renhidas rezas remendadas reencontradas 
do fundo mudo de meu mundo 
prestes a escafeder-se, 
escoar-se, 
escamugir 
 
Esvai-se a vida falaz, 
e o resto presto se desfaz. 
 
Brancas cãs bravias. 
Brevias lãs brandas. 
Austera presença 
à espera da Paz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
Indriso do novo homem 
(2010) 
 
Regenerar: ação incontida do Vento 
para uma gênese nova, do caos, 
carrega em si a semente, a resposta, o alento, 
 
faz nascer justos de homens tãos maus. 
O que no santo germina e respira é o intento 
do Espírito que propulsa as naus. 
 
Para o mito do homem que se faz: Advento! 
 
Para o Ator dessa obra: festas, fogos, saraus! 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Poema de graça 
(2006) 
 
 
Se me quero conhecer, já aprendi 
(ou ao menos deveria), 
que mais a Ti conheça, 
submisso à luz da tua Revelação, 
por ela decomposto e reconstruído, 
abatido e reerguido, 
sentenciado e absolvido, 
morto e revivido. 
 
O Verbo que proferes me revela quem sou 
e me (re)define, 
trazendo luz brilhante e perspectiva precisa, 
cortante análise que me deixa sem fala 
e me esquadrinha até os ossos. 
 
Mas não é exatamente o que escolho 
e prefiro decantar a cada instante, 
quando fecho os olhos 
para quanto em mim te repele 
e prossigo amando o conforto 
vago e casual da rebeldia, 
aquele punho cerrado da alma 
que grita glória a tudo que em mim 
respira e pulsa, 
glória a minha lei e passe livre 
a minha vontade, 
salvo-conduto a minha crença vã 
na autoestima, 
na justiça própria, na autodependência, 
na busca insaciável do prazer pessoal, 
na independência arrogante e acintosa 
38 
 
que grita a vitória e a liberdade em relação a ti. 
 
A cada dia… 
enquanto tuas misericórdias 
se vão renovando a meu favor, 
bem diante dos meus olhos… 
com a clareza límpida 
do mais cristalino ribeiro! 
 
Quero todos os dias fazer de conta que 
não te encontrei na estrada da vida, 
que tua luz, que foi a meu encontro 
e me lançou por terra, 
quando eu andava tateando meus limitestrôpegos, 
não passou de um sonho alucinado, 
do qual quero ainda acordar 
para um reinado só meu, 
no aconchego das minhas trevas. 
 
Pois esqueço sempre quem sou e 
quão efêmeros e fugazes meus caminhos, 
esqueço sempre que qualquer 
sonho mais lindo que eu sonhe ou alimente 
não passará de utópica quimera… 
mera alucinação, 
se à parte dos teus sábios 
decretos sempiternos. 
 
E esqueço da Cruz, lugar único de 
onde flui justiça e propiciação, 
amor e graça, 
reconciliação e piedade, 
regeneração e humildade, 
vida nova e vida eterna, 
perspectiva e gratidão. 
 
39 
 
Gratidão que nem sempre alimento, 
e que poderia me transformar 
pela força do amor, 
ao contemplar que árduo e longo caminho trilhaste por 
mim… 
não só apesar mas também por causa de mim… 
Dá que eu volte os olhos à cruz, 
não esqueça quem sou e, 
mais importante, quem és, 
nem gaste meu tempo urdindo a teia 
da minha religião furada, 
antes te tenha por alicerce único e malha 
exclusiva da vida aqui e no porvir. 
 
Em outras palavras, enche meu peito 
de paixão por ti e por tua glória, 
e dá-me a lucidez que brota 
das boas-novas da cruz, 
uma lucidez que apruma 
o meu mundo e lhe dá o sentido. 
 
E eu seguirei tendo de ser relembrado. 
Aliás, como te posso agradecer 
por me relembrares hoje mais uma vez? 
E por amanhã já teres determinado 
teus novos meios de me 
centrar em ti, na obra da cruz e 
na esperança do evangelho? 
 
 
 
 
 
40 
 
Autossalvação 
(2009) 
 
É imoral o mais moral dos seres 
que um sulco reto e bem traçado 
abra para si 
com o arado enferrujado 
das boas intenções. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
espírito da coisa 
(2009) 
 
andaram fugidos esses versos 
deveras fugidios 
escondidos 
indecifráveis 
inacessíveis 
 
porque a poesia 
não cai bem com os cuidados 
não se avizinha das ânsias 
nem se formula no esquadro 
 
mas o caos é pai das estrofes 
a confiança cega delira rumores mais doces 
e o Amor, o insondável, é quem nos dá as palavras 
 
 
 
 
42 
 
Rondel da eleição 
(2010) 
 
Ah, eu jamais me teria escolhido! 
É assim que eu sei: me elegeu. 
Ignóbil verme, torpe e falido, 
nada exagera este mal que é só meu. 
 
Nobre Rei, pobre, frágil e ferido, 
tudo desmaia ante o amor que é só seu. 
Ah, eu jamais me teria escolhido! 
É assim que eu sei: me elegeu. 
 
Afirmo com Watts: “Sou verme bandido!”. 
Cego e perdido de Newton? “Sou eu!” 
E justo este estado triste, caído 
prova gratuita esta graça que deu. 
Ah, eu jamais me teria escolhido! 
 
 
 
43 
 
Há lugar para todos os que me deu 
(2010) 
 
Estranhamente pequeno, 
é tão largo e vasto o coração 
vaso de esconder tesouros mil 
ventre de abrigar a muitos fios... 
 
A número 1 
Em seu regaço, o riso maroto dela 
a pele tênue, rósea, salutar, 
um abraço franco e magricelo 
Tudo isso ele comporta sem estourar 
e muito mais... 
 
O número 2 
Em seu esconso o ar de quem inquire 
o desbravamento constante 
a doçura terna e firme a me buscar 
Tudo isso ele carrega sem romper 
e muito mais... 
 
44 
 
O número 3 
Em seu fundo, a alegria, a expansão 
o agitar profundo das minhas serenadas 
um sorriso maroto, melindrado 
Tudo isso ele transporta sem extravasar 
e muito mais... 
 
A número 4 
Uma jaboticabinha, articulada 
uma Emilinha de canastra e intrepidez 
com sua graça e sua coragem 
Tudo isso ele vai sem se apertar levando 
e muito mais... 
 
Meu coração comporta e ama tudo isso 
Todos esses 
e muito mais... 
Sem falar dEla... que a todos me deu... 
 
E Deus me pode amar com 
Meus jeitos e meus gestos, 
meus fracassos e insucessos 
45 
 
Pois Deus encontra 
em seu enorme coração um espaço 
para me abrigar, me perdoar, me receber 
E muito mais... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
Antonio Costta 
 
ANTONIO DA COSTA SILVA nasceu em 24 de Abril de 1972 no 
Sitio Chã de Areia, Pilar, PB. 
Na infância, o seu interesse pela arte era visível nos traços de 
seus desenhos. Em 1985 quando cursava a sétima série do 1º 
grau, no Colégio Estadual José Lins do Rego em Pilar, foi 
surpreendido por uma furiosa enchente do Rio Paraíba que 
arrancou a ponte que ligava a zona rural à sede do município, 
impossibilitando-o assim a continuar seus estudos na sua 
cidade, tendo que ser transferido para estudar na cidade 
vizinha de Itabaiana, aonde veio a concluir o segundo grau no 
C. E. Dr. Antonio Batista Santiago. 
Em 1992, Antonio é eleito vereador no seu município (e 
reeleito em 1996). Em 6 de agosto de 1993, converte-se à 
religião evangélica na Igreja Evangélica Cristã de Pilar. Em 1995 
casa-se com Francileide de Sousa Dias, de cuja união nasceria 
em 19 de agosto de 1997 sua primeira filha, Alana Dias da 
Costa. No dia 10 de outubro do mesmo ano morre a sua 
esposa. E em 6 de fevereiro de 1999, casa-se com Ivoneide 
Altino Silva de cuja união nasceria no dia 22 de agosto de 1999, 
Letícia Pillar Altino Costa. 
Em 2000 o poeta decide abandonar a política indo morar em 
Sapé (PB) e dedicar-se mais ao trabalho, à família, a Deus e à 
poesia!... Onde termina de escrever POESIA VIVA, livro que não 
publicou. 
Em janeiro de 2001 muda-se para Itabaiana, onde mantém uma 
escola de informática e reside até hoje. Em 14 de setembro de 
2003 publica seu primeiro livro de poemas: Um Juntador de 
Palavras. Em 25 de novembro de 2003 nasce o seu filho 
Antonio da Costa Silva Júnior. 
Em 24 de abril de 2004 o poeta lança seu segundo livro: Poesia 
Nordestina. 
Atualmente Antonio Costta exerce o cargo de Secretário 
Adjunto de Cultura do município de Itabaiana. 
Mantém o blog http://antoniocostta.blogspot.com 
47 
 
SONETO MISSIONÁRIO 
 
Eu queria escrever com mais amor, 
Eu queria escrever com mais paixão, 
Eu queria escrever com o esplendor 
De quem fala com a alma, o coração! 
 
Qu'importa se não tenho erudição, 
Se meu verso ele é simples por demais? 
Importa é não perder minha missão... 
De falar de Jesus, de Sua paz! 
 
Bem sei que não sou mestre de homilética, 
Que meu verso não tem arte poética, 
Que não sou um gênio da literatura... 
 
Mas luto pra que seja transmitida 
A mensagem de Deus que gera vida... 
E que nos faz ser novas criaturas! 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
ALIANÇA COM DEUS 
 
A aliança que tinha sido quebrada 
Entre Deus e a humanidade ruim 
Através de Adão e Eva no “jardim” 
Foi um dia em Jesus Cristo restaurada! 
 
Pois Jesus veio cumprir o plano de Deus 
De resgatar o homem da perdição; 
Pois todo aquele que crê tem o perdão, 
O pleno direito de ir morar nos céus! 
 
Basta receber Jesus como Senhor, 
O Único suficiente Salvador, 
Abrindo-Lhe o coração pra Ele entrar!... 
 
Não precisamos temer morte nem cruz 
“Pois aquele que crê em mim” –disse Jesus– 
“Ainda que esteja morto viverá”! 
 
 
 
49 
 
SOLIDARIEDADE 
 
Há tanta gente carente pela rua, 
Tanta gente mendigando o próprio pão... 
Não viva só de glória a Deus e aleluia: 
De que vale a sua prece, sem a ação? 
 
Há tanta gente dormindo no sereno 
Necessitando de agasalho e colchão; 
Há tantos órfãos, também tantas viúvas... 
Meu amado sinta a dor do teu irmão! 
 
Glorifique do Senhor Seu santo nome, 
Dê mais carinho, dê pão a quem tem fome 
Que terás a recompensa lá no fim. 
 
Foi Jesus Cristo quem deixou este ensino: 
Quem ajudar a um desses pequeninos 
Em verdade está fazendo para mim! 
 
 
 
50 
 
CONSELHOS“Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a 
fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” (2 Timóteo 
2:4) 
 
Prepare-se nesta vida, meu irmão. 
Vá ao Pai com o melhor que você tem; 
Dê glórias ao Senhor e diga amém! 
Pois está em Jesus a salvação. 
 
Não guarde o ódio no seu coração 
Nem se dê ao pecado mais banal; 
Siga a Jesus e abandone o mal 
E a todos concede o seu perdão! 
 
Quem semeia a palavra da verdade! 
Haverá de colher felicidade, 
Do Senhor recebendo o galardão!... 
 
Não se embarace em busca de troféu. 
Pra não perder o teu lugar no Céu, 
Glorifique o grande Deus de Abraão! 
51 
 
A SAGRADA ESCRITURA 
 
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para 
ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;” 
(2 Timóteo 3:16) 
 
Se queres ter o tanto que te agrade, 
Ser um sábio, alcançar grande cultura, 
Lê, diariamente, a Sagrada Escritura, 
Senso de paz, amor, felicidade! 
 
Se os teus filhos queres educar 
Para te dar prazer, sem amargura, 
Lê, diariamente, a Sagrada Escritura, 
Ela te mostra onde se deve andar. 
 
Se queres que no mundo sobressaia 
A Justiça Divina, de atalaia, 
Prega ser Jesus Cristo o Salvador! 
 
Pois todo aquele que na Palavra crê, 
Será regenerado em Seu poder, 
Semeará, em vez de ódio, o AMOR! 
52 
 
SONETO PARA A MOCIDADE 
 
Como é belo o esplendor da mocidade, 
Que caminha radiante mundo afora! 
Sem pensar que ela um dia vai embora, 
Dela vamos, em breve, ter saudade! 
 
Voltai-vos ao Senhor –ó mocidade! 
Nesta vida nem tudo há de ser flores. 
Restam espinhos espalhando dores 
Na estrada estreita da felicidade. 
 
A vida é poça d’água que evapora! 
Nascemos ontem, somos jovens agora, 
E a velhice nos aguarda na esquina... 
 
Atentai, mocidade, a tudo isto! 
A melhor parte é dar-se a Jesus Cristo 
Enquanto a vida é bela e cristalina. 
 
 
 
53 
 
NEM TUDO QUE RELUZ 
É OURO OU PRATA 
 
Nem tudo nesta vida nos convém, 
Paulo escreve deixando bem explícito: 
“Tudo é bom, mas nem tudo nos é lícito”, 
Provai tudo, mas só retende o bem! 
 
Precisamos enxergar mais além, 
Há espinhos nas flores do jardim; 
O mundo se camufla para mim... 
Porque nem todo abraço amor contém! 
 
Preciso de Jesus na minha vida, 
Pois o caminho é estreito e tem subida, 
E não posso abandonar minha cruz... 
 
Pois a vida a cada dia nos retrata: 
Nem tudo que reluz é ouro ou prata... 
Só existe uma esperança: é JESUS! 
 
54 
 
“E AGORA JOSÉ” 
 
“E agora José?”... –não pergunto mais... 
Porque bem sei que há sempre uma saída; 
Pois Jesus Cristo é o Caminho, e é a Vida, 
A única esperança... A minha Paz! 
 
“E agora José?”... –não pergunto mais... 
Porque sei que existe uma solução; 
Uma porta aberta, uma salvação, 
Um porto seguro nos vendavais! 
 
Agora eu sei, tenho a chave na mão, 
A chave da porta é a oração... 
E a Porta aberta é o Príncipe da Paz! 
 
Não mais questiono: “e agora José?” 
Conforme escreveu, na falta de fé... 
O Carlos Drummond das Minas Gerais! 
 
 
 
55 
 
UM JUNTADOR DE PALAVRAS 
 
Os loucos vão pela rua 
Procurando uma razão; 
Os músicos ferem as cordas 
Procurando uma canção. 
 
Os rios procuram o mar, 
As abelhas procuram as flores; 
Os dias procuram as noites; 
Nas noites, procuram-se amores!... 
 
E eu procuro no tempo 
Algumas belas palavras; 
Pérolas vagando ao vento, 
De ouro -partículas, lavras. 
 
Sou um caçador de emoções, 
Sou um juntador de palavras; 
Componho poemas, canções, 
E dos pássaros -as suas asas!... 
 
56 
 
Sou menino e sou adulto, 
Sou sério e sou brincalhão; 
Canto com um olhar astuto 
O que manda meu coração! 
 
Se sofro... –de quem é a dor? 
Quem melhor pode senti-la? 
A dor é minha -e meu é o amor- 
E pouquíssimos querem ouvi-la. 
 
Por isso contenho-me apenas 
Em juntar algumas palavras; 
Que formarão simples poemas, 
E retornarão ao vento, às vagas!... 
 
Tornei-me um caçador de penas 
Ou de belíssimas aves raras? 
Não importa, tornei-me apenas 
Um juntador de palavras!... 
 
 
 
57 
 
O EXEMPLO DA FORMIGA 
 
Trabalha a formiga durante o verão, 
Tão pequenina, mas tão inteligente; 
No corte das folhas, não fica demente, 
Não perde o seu tempo com conversação! 
 
Trabalha a formiga durante o verão 
Para que no inverno não morra de fome; 
Por isso que dela o modelo se tome: 
Quem cuida da lida não lhe falta o pão. 
 
De Deus vem o dito pro homem ocioso: 
 “Vai ter com a formiga seu preguiçoso, 
Contempla-lhe a trilha traçada no chão”. 
 
Pra que não pereças da fome inimiga, 
Repara no rito da sábia formiga 
Que retira da terra a sua provisão! 
 
 
 
58 
 
Florbela Ribeiro 
 
Santa Joana - Aveiro, 1971. 
Ficcionista. Escrita Criativa na Universidade de Aveiro. 
Frequência de Curso Teológico da EETAD. 
Contos Evangélicos, edição da autora, Aveiro, 2009; 
participações na antologia “Adoração – Poetas Diversos”, Rio 
de Janeiro, 2010; e na revista do Grupo Poético de Aveiro, 
“Folhas, Letras & Outros Ofícios”, nº 13. 
Colabora na revista evangélica “Novas de Alegria”, Lisboa, e 
no Portal da Aliança Evangélica Portuguesa, com prosa 
(contos) e poemas, e em sites diversos: Liricoletivo, Confeitaria 
Cristã, Et Quoi da Universidade de Aveiro, Mi Literaturas; 
mantém na rede um blogue, Doce Aroma, no qual edita poesia, 
contos e adaptações literárias. 
Mantém o blog http://flor-docearoma.blogspot.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
59 
 
Dá-me apenas 
 
Da porção do teu dia 
dá-me 
dá-me apenas 
do que da mesa sobeja 
migalhas 
poucas que sejam 
servirão 
para amaciar 
a dor 
de quem mendiga 
uma só 
palavra tua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
Refugium 
 
Na constância leal dos silêncios 
o refugium 
onde permaneço 
descalça. 
O solão que me acolhe 
o espólio 
e o gotejar da alma 
em contrição. 
Aqui aguardo 
que o feixe prodigioso 
me atinja 
e arranque a nostalgia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
61 
 
Aponta o olhar no tempo 
 
Adormece o sentir do sentimento 
Aponta o olhar no tempo 
Recua na memória 
No sonho alado 
E espera o milagre 
Acontecer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
Um Duelo do Destino 
 
Desconheço as razões 
do destino 
ao emboscar nossa 
breve passagem 
mas sei que o faz 
Impetuoso 
desfaz sonhos 
retalha planos 
ensombra esperanças 
e pode até 
trocar os sentimentos. 
 
No peito 
um duelo descompassado 
revolve as memórias 
intragáveis 
deste mundo e 
desaba. 
Até que do alto 
irrompa a luz 
que fará emergir 
nossas almas 
dilaceradas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
Sob um novo Amanhecer 
 
Caminho cautelosamente 
sob o campo 
de um novo amanhecer. 
Por ele, 
proliferam ervaçais que eu, 
incansavelmente, 
arranco pela raiz. 
Mas ao Amor, 
e somente ao Amor permito 
o esparzir, 
e o assenhorear-se, 
da minha solidão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64 
 
O segredo 
 
Aprisionei a liberdade 
num inefável canto do meu ser. 
Manietei-a inconscientemente. 
Condicionei-a às formalidades 
orquestradas por um ego oculto 
manchado de hipocrisia. 
- Um pouco de tempo -sussurra-me o vento 
- um pouco mais de tempo 
e a liberdade soltará 
as amarras de silêncio 
para voar a galope 
rumo às bem-aventuranças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
65 
 
Percebi 
 
Percebi que sinto falta de mim 
É um sentimento estranho 
Que me assalta nas imagens 
Espelhadas de emoções 
 
Admito com honestidade 
Esta grande verdade 
Mas como inverter a situação? 
 
Responsável pelo que faço 
Não faço 
Ou impeço de fazer 
Olho ao redor 
 
A vida estagnada 
Sobrevive à deriva 
Aguarda um sinal no horizonte 
Uma embarcação que passe 
Que a resgate 
E a conduza noutra direcção 
 
Seja como for 
O tempo esgota-se 
O futuro apressa-se em chegar 
Trazendo com ele expectativas possíveis 
Ou inimagináveis 
 
É inevitável 
Mas cabe-me a mim 
A decisão de mergulhar ou não 
Nesse mar de vagas repentinas e nadar 
Nadar até ao rumo certo 
Até ao porto seguro 
Para encontrar a minha essência 
66 
 
Sem miragens 
Na certeza de que onde eu estiver, 
TU estarás também. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
67 
 
Proveniências 
 
A dor e a agonia não provêm 
Do peso excessivo da cruz 
Nem dos seixos irregulares 
Que embaraçam a passagem 
Nem da poeira 
Invasora dos cinco sentidos 
Nem da coroa de espinhos 
Violentamente 
Engastada na memória. 
Nem do escárnio 
Nem do ágil chicote 
Que dilacera a carne 
Dos membros entorpecidos 
A dor e a agonia provêm 
Dos corações empedernidos 
E dos olhares incréus 
Do mundo hostil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68 
 
Abriste-me a porta da vida 
 
Abriste-me a porta da vida 
E sacaste-me 
De uma encruzilhada 
Indefinida 
Onde me aquietei. 
Esperava-te 
Pacientemente 
Porque sabia, 
Sem saber 
Que Tu estavas 
Para lá da entrada, 
Onde creio que 
Inconscientemente 
Te aguardei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
69 
 
Sustentável Amor 
 
Renascida sou das 
cinzas da tribulação. 
Desci às profundezas 
dos vales desertos, 
mergulhei nos mares 
revoltos da ansiedade 
e banhei-me na 
lagoa da incerteza. 
A angústia astuta 
cirandava divertida 
ao de redor da 
minha alma abatida. 
Tranquei de imediato 
portas e janelas 
e lancei-me livremente 
nos braços do firmamento 
nas asas de um sonho 
com nuvens de esperança 
e estrelas de contentamento. 
Regressei por fim 
despojada de mim 
renovada pelo fogo da dor, 
e restaurada pelas mãos 
do Amor que me sustenta 
e devolve a paz! 
 
 
 
70 
 
FLÁVIO AMÉRICO 
Flávio Américo Dantas de Carvalho nasceu em Natal (RN) em 08 
de julho de 1984, era manhã do Dia do Senhor. Nasceu católico, 
tornou-se evangélico em 1996. Nesse mesmo ano, por causa 
de uma escolinha de futebol onde jogava, passou a freqüentar 
a, então, Congregação Presbiteriana de Cidade Satélite, 
comunidade onde foi batizado e fez sua pública profissão de fé 
no dia 04 de abril de 1999, Páscoa do Senhor. Foi nessa igreja, a 
qual ainda faz parte, onde conheceu sua noiva; falaremos dela 
daqui à pouco. 
É licenciado e mestrando em História, pesquisando sobre 
hagiografias medievais, pela Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. Atualmente, é Candidato ao Sagrado 
Ministério do Presbitério Potiguar, que o enviou para o 
Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas (SP), onde reside 
e cursa o Bacharelado em Teologia. 
É professor, tendo lecionado História em escolas, 
seminários e na Graduação em História da Universidade onde 
cursa o Mestrado. Também já lecionou filosofia no Ensino 
Médio. Faz parte da Aliança Bíblica Universitária desde 2006; 
no momento, é Assessor em Treinamento da ABUB SP/MS. 
Mantém um blog próprio com poesias, aforismos, crônicas, 
artigos, dentre outros, desde agosto de 2008: 
www.palavrasboladasereboladas.blogspot.com 
É noivo de Jéssica Régis de Medeiros Costa, com quem namora 
desde o Natal do Senhor de 2005. Irá casar com essa quase 
arquiteta no dia 06 de janeiro de 2012, dia de Reis. Ela é 
imensamente bela, carinhosa, inteligente e piedosa; Isso 
explica o porquê de Flávio se meter a escrever poesia. 
 
 
71 
 
...ETERNIDADE...! 
 
Faz tempo que o tempo não foi 
Faz, tempo, teu último pedido 
Dentro em breve, serás uma vaga lembrança 
 
O tempo dá adeus à vida quando dá a Deus a vida. 
 
A morte não é o fim do tempo da vida, 
É o fim da vida no tempo. 
 
Enquanto o tempo é, 
Nós não somos. 
Quando formos, 
Ou seja, 
Quando formos 
Ele não será mais. 
 
SPS, Campinas, 26 de abril de 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 
 
ETERNO QUERIDO 
 
A fé e a Esperança abrem o portão do tempo 
Para que os prisioneiros da história 
Possam visitar o Pai Eterno 
 
Amor, cálida luz do atemporal, 
Vacila pela janela da história, 
Frias e escuras relações humanas, 
Cuidado! Calor novo na casa dos mortos 
 
Fé e Esperança, férias da mudança, 
Passeios nas praias doces da Eternidade 
- Já temos que voltar, Pai? 
- Não acredito que amanhã é segunda 
 
O amor é a Eternidade visitando o tempo 
Lembrancinhas de outras terras 
Fotografias borradas, fugidias 
Tolo quem tenta enquadrar 
- Crianças, o Eterno chegou, venham vê-lo 
Há braços tristemente molhados na visita 
 
- Eterno, querido, quando iremos? 
 
Natal, 03 de fevereiro de 2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 
 
O SERMÃO DO TEMPO 
 
 
“Tenho visto tudo o que é feito debaixo do sol; tudo é inútil, é correr atrás 
do vento”. (Eclesiastes). 
 
“Na eternidade, [...] tudo é presente”. (Agostinho, Confissões) 
 
- Nasceu, agorinha, o futuro 
- Como se chama? 
- Ele se chamava presente 
Morreu! 
Faz pouco dele o tempo 
- Pobre passado 
 
Tudo nessa vida é natimorto 
Os presentes são sempre tomados de volta 
 
De onde virá, 
Digo vem, 
Ou melhor, 
Veio o agora? 
Droga! Pra onde ele foi? 
 
A história é um temporal dos brabos, 
Arrasta tudo que não se abriga no Alto 
 
Debaixo do sol forte do tempo, 
A secura da alma racha o sorriso no meio 
 
Cuidado, amigo, 
Agora, 
Lês coisas do passado, 
Mas olhe pro futuro 
Pois, 
 
74 
 
É tenebrosa a previsão do tempo 
Quando não se olha para a Eternidade 
 
Lá, a Graça, que é sempre presente, 
É sempre presente. 
 
Natal, 01 de março de 2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
 
Saudade do futuro 
 
Como fazer sair o meu sentimento? 
Queria que vissem o que vejo agora 
Mas, mesmo aqui, veriam do mesmo jeito 
A chuva fininha que cai lá fora? 
 
Árvores balançando lentamente 
O vento deixando a pele atenta 
Esse quadro me desalenta a mente 
Uma saudade ao meu coração atenta 
 
Essa saudade não é das namoradas 
Não lembro aqui de passados instantes 
Parece ser saudade do futuro 
 
Como lembranças dos dias nas moradas 
Prometidas em momentos distantes 
E onde espero aportar, um dia, seguro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
76 
 
Amiga Fé 
 
– Vem cá, Fé, 
Sente 
Quer uma água? Um café? 
 
– Sente? 
 
– Sim, 
Como é boa a doçura da eternidade 
 
Enquanto desfia os meus medos, 
A Fé tece, em mim, a Esperança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
77 
 
SER MAIS DO QUE UM VERBO 
 
Está escrito: “EU SOU” 
Eu, porém, não sou, 
Pois só conheço incompletude 
Tu és e somente Tu 
 
Mas como posso não ser porque me faltas 
E Tu seres independente de mim? 
 
Não penso que sou só por perguntar 
Me pergunto, inclusive: 
“Quem sou para perguntar?” 
 
Nunca fui 
Nem ainda sou 
Serei um dia 
 
Agora sou um dia 
Talvez um meio dia, 
Ou melhor, 
Umas 9 horas 
 
Passo rápidoCotidianamente 
Daqui a pouco anoitece 
E tudo será ontem 
Aliás, 
Tudo será nada, pois será passado 
Meu ser é apenas verbal 
Depende do tempo 
 
Mas quando estiveres comigo, 
Eu e o dia felizes seremos 
Não vejo a hora da chegada desse dia 
Como não vejo qualquer coisa que ainda não é 
78 
 
Por isso chamo de esperança 
E por isso preciso de fé 
 
Tal saber só a Ti pertence 
Tudo que tenho é a confiança 
De que, quando o esperado for, 
A esperança não será mais 
E a morte, 
Essa sim a última que morre, 
Descansará 
 
Ser não será mais verbo 
Não estará mais cheio do que perdi; 
Do que penso que tenho; 
E do que... “quem sabe?” 
Ser será substantivo eternamente no infinitivo 
 
Natal, inverno de 2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
79 
 
UMA VIDA DURA E A FÉ QUE DURA 
 
A fé madura 
Dura 
Numa vida má e dura 
 
O viver triste subsiste 
“persista”, 
Insta-me a fé 
 
Sobre o fardo da vida, a fé diz: 
Leve, 
Mesmo não sendo leve 
 
A dor sempre existe 
Resistindo, 
A fé insiste, insiste, insiste 
 
O inacreditável torna-se real 
Acredite, 
O irreal passa a ser crível 
 
À fé, não compete a prepotência 
Competindo, 
A primeira impotente se torna 
 
Mas o prazo das minhas forças vence 
Vencido, 
Vejo a fé vitoriosa 
 
Reconhecendo minha incompetência, 
Posso 
Descansar no Onipotente 
Tudo posso nAquele que pode 
 
 
80 
 
SÓ CORRO ATRÁS DE SOCORRO 
 
Lá fora, parou a chuva 
Aqui, a dor faz de morada 
A minha vida tão turva 
Que manhã tão demorada! 
 
A tristeza sempre a traz: 
A dura e má lembrança 
Que meu ser vai atrás, 
Mas um dia também cansa 
 
Cansa por ser a busca de algo 
Que se procura, mas nunca se alcança 
É como Dom Quixote, fidalgo, 
Querendo ser como os Pares de França 
 
Oh! Meu coração caminha, 
Entre qualquer fuga e a cidade, 
Entre o trabalho e a caminha, 
Mas só vê reinar a fugacidade. 
 
Eu preciso de socorro 
Como um navegador, 
Do mar revolto, corro, 
Mas atrás navega a dor 
 
Ligo em qualquer jornal 
Querendo que se conte no ar 
Algo que me ajude a continuar 
Esperando outro final 
 
Porque se nada por tanto 
Se nada aqui dá certo? 
Caso pare de tentar, portanto, 
quer dizer que acerto? 
81 
 
 
Satanás diz que essa vida, 
É tudo que de nos é devida 
Afasta-nos de Deus, principalmente, 
Pois, sobre o que é principal, mente 
 
Tentei, por toda via, 
Encontrar a felicidade 
Mas espero, todavia, 
Achá-la na Feliz Cidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
82 
 
Uma pipa e o Vento 
 
O Vento passou e deixou arrepio 
Mas não digo que Ele é passado, 
Pois, da pele, me lembra cada fio 
Que Sua presença ainda se faz sentir. 
 
Sou, como pipa, guiado pelo Vento 
Com outras, fico colorindo o céu 
Se não voar, a pipa deve virar réu, 
Já que o papel da pipa é voar 
 
E esse Sopro, esse Vento cálido, 
Enche a terra com hálito de vida 
Tolo, sem graça, é quem duvida 
Morto, pois só respira o nada 
 
Às vezes, quero amarrar o Vento, 
Pois me angustia o parar de ventar 
Todo tipo de cerimônia eu tento 
Inútil, Ele “sopra onde quer” 
 
Doce Vento, bondoso e livre, 
Tenha piedade dessa pobre pipa 
Guia-me, faze-me voar Contigo 
E da queda eterna me livre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
83 
 
Louvor ao Deus pequenino 
 
As pessoas esqueceram o esperado 
Cada dia, esquecido Ele era 
O ar se tornara triste como fado 
Ou ruína coberta pela hera 
 
Mas numa noite escura e fria, 
Em que nada parecia especial 
Veio ao mundo quem seria 
Da vida seca, o manancial 
 
Seja louvado, aquele menino 
Que, ao nascer, trouxe a luz 
Aquele Deus bem pequenino 
A todos os povos conduz. 
 
O presente, não é tão diferente 
Está esquecido, o Deus encarnado 
Só se fala em receber presente 
Deixando o divino menino de lado 
 
Mas se escutas esses cantores, 
Que te lembram, do natal, o sentido 
E se tocado pela mensagem fores 
Agradeça o amor por Deus sentido 
 
Seja louvado, aquele menino 
Que, ao nascer, trouxe a luz 
Aquele Deus bem pequenino 
A todos os povos conduz. 
 
Cante conosco ao bom criador 
Que, por amor, pagou o preço 
Do vil pecado que só cria dor 
Oh, tanto amor eu não mereço 
84 
 
 
Mas obrigado, Senhor Jesus, 
Por ter me amado tanto 
O meu amor ao teu não faz jus 
Mas te dedico esse canto 
 
Seja louvado, aquele menino 
Que, ao nascer, trouxe a luz 
Aquele Deus bem pequenino 
A todos os povos conduz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
85 
 
Norma Penido 
 
Norma Penido Bernardo 
“Sou uma serva do Senhor que tem colocado seu tempo, 
talentos e vida para o crescimento da Sua obra. Sou agraciada 
por Ele com o dom de escrever poesias, crônicas e peças, 
levando a muitos a Sua mensagem.” 
Sua rica poesia devocional tem sido requisitada e publicada em 
órgãos eclesiásticos (jornais, revistas, sites, blogs, etc.) de 
todo o Brasil, pertencentes às mais variadas denominações. 
Mantém o blog http://normapenido.blogspot.com/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
86 
 
Companheiro de Jornada 
 
Não Andes só. Vou caminhar contigo... 
Quero ouvir tuas queixas e te dar atenção 
Se sentires frio, eu te mostrarei um abrigo 
E se tiveres fome dividirei o meu pão. 
 
Vou te amar sem cobranças ou exigência 
Tendo muito a ouvir e tão pouco a falar 
Tu não serás para mim apenas aparência 
Pois a beleza de tua alma, irei alcançar 
 
Serei um suporte, se precisares de apoio 
E nos mares turbulentos remarei a teu lado 
E antes de tirar o argueiro do teu olho 
A trave do meu, eu quero ter tirado. 
 
E se algum dia, ofendida por ti eu for 
Certamente o meu coração esquecerá 
Não por sete vezes, mas como disse o Senhor: 
- “Até setenta vezes sete, perdoarás...”. 
 
Mas não te esqueças companheiro de jornada 
Que se durante esta nossa longa caminhada 
Um dia perceberes que eu estou vacilando 
Se nas minhas palavras eu estiver tropeçando 
 
Não te decepciones com a minha atitude 
Mas por favor, ore comigo e me ajude 
Se me levantares, contigo voltarei a caminhar. 
Se me deixares, posso não ter mais onde chegar... 
87 
 
Vida de Pastor 
 
Ele acorda, levanta, ajoelha e ora 
Louva, consagra, jejua, exorta, sorri e chora 
Aprende, ensina, repreende, consola e abençoa 
Glorifica, prega, unge, visita, compreende e perdoa... 
 
Semeia, cultiva, colhe, alimenta e oferece 
Acalenta, socorre, profetiza, peleja, vence e agradece 
Brilha, intercede, batiza, santifica, ouve e cala 
Dá, recebe, restaura, triunfa, edifica, sente e fala... 
 
Vida de pastor... Olha o relógio e já está atrasado! 
Se não tem carro, ele pega um ônibus apertado 
Vai ao hospital, presídio, velório, ou seja, onde for 
Em busca da ovelha perdida, pois ele é um pastor... 
 
Seu corpo cansado, aguarda a hora de ir pra cama 
E quando isto acontece logo o telefone chama 
Levanta apressado e reconhece a voz do outro lado 
É de uma ovelha aflita que precisa de cuidado. 
 
E lá se vai o pastor... Levando consolo ao coração aflito 
Dos seus olhos rola uma lágrima no lugar do grito 
É a dor que transforma na alegria da compensação 
Por ter sido um escolhido para tão sublime missão. 
 
É tarde quando volta pra casa, e só neste momento 
A esposa diz: “Hoje é o nosso aniversario de casamento” 
O clima de festa... A mesa arrumada... Mas a comida esfriou... 
E sem jeito ele diz: “Perdoa meu amor, esta é a vida de 
pastor”. 
88 
 
Família, o sonho de Deus 
 
Dá-nos lares felizes e abençoados, Senhor! 
Lares que refletem a luz do teu divino amor 
Onde haja diálogo, respeito, fidelidade e união 
Lares que falem bem mais que uma pregação... 
Lares que sejam templosonde possas habitar 
Um lugar de adoração, que seja também um altar! 
Não importa se rico ou pobre, mas que nele esteja 
O mesmo brilho que ilumina a tua igreja... 
Senhor, dá-nos lares inabaláveis e fortes! 
Onde os esposos vigilantes sejam sacerdotes 
Que conduzem com responsabilidade e amor 
O pequeno rebanho que lhes entregou o Senhor 
Lares, onde as esposas sejam mulheres virtuosas 
Adornando suas casas como pedras preciosas 
Que guardem a sabedoria como um tesouro de valor 
Submissas aos seus maridos, como também ao Senhor 
Lares, onde os filhos sejam como um jardim plantado 
E façam deste mundo um lugar mais perfumado 
Cuidados com carinho, como se cultiva uma flor 
Porque eles são heranças que nos concede o Senhor 
Senhor, dá-nos lares que resistem às tempestades! 
Lares que não sejam contaminados pelas vaidades 
E nem se deixam guiar pelos conceitos mundanos 
Mas que sejam transparentes, reluzentes e sem enganos 
Lares que na tua santa presença, façam a diferença 
Para que sejam o sal da terra e a luz do mundo 
Levando aos descrentes a chama do amor fecundo 
Dá-nos famílias, bem constituídas e equilibradas! 
E teremos igrejas fortalecidas e santificadas 
Porque toda família, unida pelos laços do amor 
É um sonho infindo, o projeto mais lindo 
Que para o homem, sonhou o Senhor... 
 
89 
 
Ele Nasceu 
 
Ele nasceu, e mudou a história da humanidade 
Ele nasceu, para nos dar vida na eternidade 
Ele nasceu, trazendo ao homem a oportunidade 
Ele nasceu, trazendo ao cativo, plena liberdade 
 
Porque Ele nasceu, não andamos mais sem direção 
Porque Ele nasceu, colhemos os frutos da salvação 
Porque Ele nasceu, a sua paz reina em cada coração 
Porque Ele nasceu, foi restaurada a nossa comunhão 
 
Para que Ele nasceu? Para que o amor do pai fosse provado 
Para que Ele nasceu? Para perdoar todos os nossos pecados 
Para que Ele nasceu? Para que o poder do mal seja aniquilado 
Para que Ele nasceu? Para tirar do homem, seu fardo pesado 
 
Se creio que Ele nasceu, no seu nome desfaço todo mal 
Se creio que Ele nasceu, aguardo por sua vinda triunfal 
Se creio que Ele nasceu, tenho a paz e a alegria eternal 
Se creio que Ele nasceu, faço de todo dia, “Um Feliz Natal”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
90 
 
O Valor da Bíblia 
 
Hoje é o dia da Bíblia sagrada 
E ao vê-la com júbilo sendo aclamada 
O meu coração pergunta comovido: 
Tens dado à bíblia o lugar merecido? 
 
Perdoe-me... Ò palavra bendita e santa 
Pela minha negligencia que é tanta 
Te conheço há tanto tempo e só hoje percebi 
Que tão pouco tenho falado de ti,,, 
 
Perdoe-me... Porque te deixo sempre fechada 
Como bibelô sobre o móvel, empoeirada 
Tens mistérios insondáveis para me revelar 
Mas nunca te abro, para te ouvir falar 
 
Admiro tantas coisas, e não vejo a tua beleza 
Em tudo procuro valores e não acho a tua riqueza 
Com muita ousadia, de vários assuntos falo 
Mas se falam de ti, com timidez eu me calo 
 
Mas hoje, prometo que vou te valorizar! 
E que no meu coração, farei o teu altar 
Onde quer que eu for, te levarei comigo 
Para guiar meus passos ao seguro abrigo 
 
Pois tu és, uma linda história de amor! 
Uma história, cujo próprio Deus é o autor 
Outorgada com sangue naquela rude cruz 
Quando pelos nossos pecados morreu Jesus 
 
Por isso minha bíblia, eu vou te valorizar 
Em todo tempo, ocasião, e em todo lugar 
Nos campos ou na cidade, de ti vou fazer menção 
Para que todos os perdidos, encontrem a direção 
91 
 
Pois tu és a palavra, santa, bendita e fiel 
Que abre na terra, uma porta para o céu... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
92 
 
Bíblia 
 
Não me conheces? Eu sou a Bíblia Sagrada 
Sou a palavra de Deus ao homem revelada 
O livro dos livros, a palavra santa e bendita 
Que para a salvação do mundo foi escrita 
 
Leia-me! E encontrarás a verdadeira sabedoria 
Pois desfaço todo engano, mentira e heresia 
Revelo a vida, a morte e a redenção de Jesus 
Que de tanto amor, se deu por ti numa cruz 
 
Guarda-me! Quero ser escondida no teu coração 
E como uma bússola, eu te mostrarei a direção 
Não errarás o caminho, nem andarás ao léu 
Pois terás a certeza da tua entrada no céu 
 
Valoriza-me! Sou um tesouro de grande valor 
Por que se obedeceres aos estatutos do senhor 
Ele te acrescentará riquezas, bens e prosperidade 
Não só nesta terra, mas também na eternidade 
 
Proclama-me! Leva-me aos lugares distantes 
Onde vidas sem Cristo caminham errantes 
Leva-me aos tristes e turbados de coração 
E eu lhes mostrarei o caminho da salvação 
 
Creia-me! Eu sou a fonte de água cristalina 
O livro por excelência que a verdade ensina 
Sou imparcial, sou infalível, sou digna e fiel 
Sou luz, sou espada, sou a porta para o céu. 
 
 
 
 
 
93 
 
Mestre, como esquecê-lo? 
 
Como posso esquecer neste feliz momento 
Alguém que com tanto desprendimento 
Dedica a sua vida para o bem de outras vidas 
Que renuncia o lazer e passa noites indormidas 
Combatendo os vestígios da fadiga cruciante 
Fazendo de tudo para poder levar avante 
A sua tão sublime missão de ensinar... 
Este alguém com certeza é um mestre querido 
Que embora mal remunerado ou até esquecido 
Ainda guarda no peito o grande contentamento 
De levar a tanta gente o poder do conhecimento 
Que faz deste mundo um lugar bem melhor... 
Mestre! É impossível tirá-lo da minha existência 
Pois em cada passo eu posso ver com veemência 
O valor dos conhecimentos e de tantos ensinamentos 
Que amorosamente, um dia você passou para mim... 
E durante as batalhas, diante de tantas muralhas 
Eu prossigo com firmeza, me sentindo confiante 
Porque guardo comigo e faço uso a todo instante 
Das suas palavras, do seu exemplo e da sua conduta 
Eles são os incentivos, que me levam com passos decisivos 
A entrar nos grandes combates e vencer a árdua luta 
Lembrando seu cuidado, entendo as palavras expressivas: 
“Tu te tornas responsável por aquilo que cativas” 
Verdadeiramente, me seria impossível simplesmente 
Apagar as suas marcas na minha caminhada 
Por isso, enquanto eu peregrinar por esta estrada 
Louvarei a Deus por sua vida, para que em toda sua lida 
Nunca lhe falte o amor, a paciência, o cuidado e a fé 
94 
 
Para que meu mestre querido seja cada vez mais parecido 
Com o Mestre dos mestres: Jesus de Nazaré. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
95 
 
Pai & Filho 
 
Foi uma linda cena que jamais será esquecida: 
De mãos dadas, sorrindo e despreocupados 
Pai e filho seguiam pela estrada da vida... 
O pai, com mão forte segurava firmemente 
A frágil mão do filho, que tranquilamente 
Se deixava levar, na certeza que ia chegar 
Às águas tranqüilas, ao porto feliz e seguro 
Vendo a cada passo, as coisas lindas do futuro 
Pai e filho, uma cena singela, porém marcante 
Que me levou a meditar naquele breve instante 
No grande contentamento, no feliz momento 
De um filho que caminha com o pai... 
Pai! Não deixe o teu filho caminhar sozinho 
Segure a sua mão com amor e carinho 
Ensine-o a cultivar no seu pequeno coração 
A preciosa semente do amor e do perdão 
Teu filho não é teu, é herança do Senhor 
Segure a sua mão como um bom condutor 
Brinque , corra, torna-te criança também 
Invista o teu tempo, o teu talento, vá além! 
E verás um dia que a boa semente plantada 
Que com tanto amor, por tua mão foi regada 
Enfim germinou, floresceu e deu frutos bons 
Neste dia, terás na tua alma a tranqüilidade 
De ter cumprido com amor e responsabilidade 
A sublime missão, que é fazer de uma criança 
Um homem de valor, uma vida deesperança 
Pai! Segure a pequena mão do teu filho 
Não deixe que o mundo venha a ofuscar 
96 
 
Esta pureza tão grande, este inefável brilho 
Que o Senhor colocou em seu olhar... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
97 
 
Mãe 
 
Mãe, eu não sabia que eras tão linda 
Até que amamentaste junto à janela 
O amor que fluías te deixava ainda 
Mais graciosa e muito mais bela. 
 
Mãe, eu não sabia que eras tão doce 
Até que teu filho ensaiou o primeiro passo 
Abraçaste-o com ternura como se possível fosse 
Tanto amor ser contido num abraço. 
 
Mãe, eu não sabia que eras tão zelosa 
Até que teu filho, para a escola caminhou 
De mãos dadas pelas ruas, seguias orgulhosa 
Limpo e bem cuidado, tua herança do Senhor. 
 
Mãe, eu não sabia que eras tão sábia 
Até que teu filho se tornou adolescente 
Cercado pelas dúvidas, tu abrias a palavra 
E de Deus buscavas a resposta coerente. 
 
Mãe, eu não sabia que eras tão solidária 
Até que teu filho sentiu a primeira decepção 
Outra vez no colo enxugaste suas lágrimas 
E o fizeste dormir com uma linda canção. 
 
Mãe, eu não sabia que eras tão santa 
Até que teu filho, por este mundo afora se foi 
Sufocaste a dor e o soluço na garganta 
E sorrindo dizias: Meu filho, Deus o abençoe... 
98 
 
Os passos de um homem bom 
 
Se lançares o teu olhar pela estrada da vida 
Com certeza verás as marcas nela contida 
São os passos dos caminhantes da longa estrada 
Que deixaram pelo caminho as suas pegadas 
 
Alguns passos são tortuosos e sem direção 
Outros indecisos, sem objetivos, sem convicção 
Muitos são enganosos e desviam-se do caminho 
E há passos maldosos que semearam o espinho 
 
Mas entre tantos passos, no meio de tanta gente 
Verás que nesta estrada, alguns pisaram diferente 
São os portadores da luz que proclamam salvação 
Os semeadores de amor neste pedaço de chão. 
 
Seus passos têm as marcas dos passos de Jesus 
Que levam ao vil pecador a mensagem da cruz 
Gotejando pelo caminho o bom perfume de cristo 
Conduzindo as ovelhas para o bom aprisco 
 
E se olhares mais uma vez estes passos santos 
Verás que em todo tempo eles foram tantos! 
Mas entre todos, verás ao longo da estrada 
Os passos de um homem bom, de vida renovada 
 
Seu nome? Pode ser obreiro ou missionário 
Pode ser ceifeiro, irmão, servo ou pastor 
Pois todos os seus passos conduzem ao calvário 
Onde resplandece a luz do Salvador... 
99 
 
JORGE PINHEIRO 
Cabo Verde, 1944 
Licenciado em História pela UL 
Professor do MEIBAD - Instituro Bíblico das Assembléias de 
Deus, Fanhões 
Autor de: "O Messianismo", Pró-Luz, Lisboa, 1975 
Co-Fundador da BARA-Associação Evangélica de Cultura 
Conferencista com monografias publicadas 
Tradutor 
Mantém o blog http://rua-reflex.blogspot.com/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
100 
 
samaritana 
 
Vai, samaritana, vai! 
Vai 
e conta a toda a gente 
que as notas da desdita 
não mais serão tangidas 
 
Vai, samaritana, vai! 
Vai e conta aos teus 
― no grupo dos indiferentes 
― no monte dos zombadores 
que o ar da comiseração 
deixou de ser respirado. 
 
Vai, samaritana, 
e conta a todo o mundo 
que as pedras do desânimo 
já não ferem tuas carnes 
porque foram removidas. 
 
Vai, samaritana, 
e pelas praças e becos 
ergue alto a tua voz 
porque o barro da vergonha 
na água do amargor 
amassado, cozido e ressequido 
jaz desfeito 
em pedaços espalhado. 
 
Vai! 
E alça tua fronte 
erguida 
ao novel escárnio e zombaria 
de quem te não quer escutar 
que no poço de Sicar 
101 
 
enterraste o mau viver. 
 
Vai! 
E mostra no canto das aves 
na simplicidade 
das coisas simples 
que a poeira maldita 
da proscrição 
jaz amordaçada 
aos pés de um luz 
nova 
real 
e tangível 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
102 
 
chove em Lampedusa! 
 
Chove em Lampedusa! 
Mas na minha Lampedusa nunca chove 
a não ser em noites de lua-cheia 
quando o mar se agita 
e o vento assobia por entre as folhas dos salgueiros. 
Mas chove em Lampedusa 
e não é meia-noite 
nem noite de lua-cheia. 
 
Chove em Lampedusa! 
Nos socalcos da lembrança 
nas bocas do desespero 
nas ondas do teu sorriso. 
Mas na minha Lampedusa só chove 
quando o canto se esgota nas goelas do tempo 
quando o suspiro se escoa pelos dedos da aurora clara 
Mas chove em Lampedusa 
e não há sorrisos 
nem lembranças 
nem a aurora é clara mas vazia. 
 
Chove em Lampedusa 
no riso das crianças 
no murmúrio do teu olhar 
no fulgor do teu corar. 
Mas na minha Lampedusa só chove 
quando a maré envolve os sonhos naufragados 
nos braços insanes do desejo 
e o refluxo do medo traz de volta 
a esperança do recomeço. 
Mas chove em Lampedusa 
e o desejo não veio nas naus 
da ansiedade! 
 
103 
 
Chove em Lampedusa 
e a chuva que cai de mansinho 
apagou o roteiro do caminho de regresso. 
Chove em Lampedusa 
e na minha Lampedusa só chove 
nos caminhos de regresso a Lampedusa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
104 
 
as tuas mãos 
 
as tuas mãos eram uma chama 
e sorriam-me 
abriam sulcos na despedida 
 
as tuas mãos estavam em brasa 
e despiam-me os sonhos 
amortecidos 
 
as tuas mãos eram um sonho 
corriam céleres 
pelos caminhos da memória 
 
as tuas mãos eram um livro 
na página em branco que floriu 
 
as tuas mãos são um sorriso 
no aceno da chama que passou 
no fulgor do sonho que ficou 
despindo a manhã clara 
nos teus olhos que vestiam meus devaneios 
 
deixa que escreva as mãos 
no solo mártir da lembrança 
deixa que te lembre as mãos 
diáfanas, marcadas 
marcantes, desejosas 
e abrace o sonho que ficou 
 
 
 
 
 
 
 
105 
 
quando partires 
 
Quando partires 
não estarei só. 
Fica comigo alguma coisa 
que é tua 
e não levaste. 
 
Quando partires 
não ficarei só. 
No buraco da parede 
permanece reflorido 
o canto dos teus sonhos 
em manhãs 
que fazias plenas de magia. 
 
Quando partires 
não me deixarás só. 
Teus passos soam pelo soalho 
anunciando 
o regresso quotidiano 
da tua prece de esperança 
mesmo quando te vestias 
de desânimo 
e prostração. 
 
Quando partires 
não me sentirei só. 
A tua presença é viva 
e forte 
e não me dirás que encetaste a viagem 
de onde 
tu jamais regressarás. 
 
 
 
106 
 
nas estrelas 
 
Nas estrelas, 
o som de uma criança, 
o brilho de uma espada 
mais forte o impulso de as seguir. 
 
Não sei de do oriente 
talvez do ocidente o norte se encontre 
na coberta calada da noite 
o grito se escoa 
 
e a mãe que chora lamento cruzado 
no palácio menor o ditador adormece. 
O reino prossegue. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
107 
 
um livro por noite 
 
De um livro por noite 
dizem as crónicas 
se alimentava Hitler. 
Outros lhe incendiaram a alma 
vivos na penumbra da memória 
feitos carne e gemidos 
lidos no drama do Arbeit macht frei 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
108 
 
prece 
 
Senhor! 
Não queria ser um Pedro 
pregando às multidões 
do que quer isto dizer? 
 
Não queria ser um Paulo 
de quem o fogo engordou 
com a víbora que o mordera. 
 
Não queria ser um Abrão 
de Ur, lá longe, na Caldeia 
ouvindo Teu chamado 
seguindo o rumo 
por Ti apontado. 
 
Não queria ser um Moisés 
levando Teu povo avante 
enfrentando Faraó 
com a mensagem 
do Deixa sair meu povo. 
 
Não queria ser um

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