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Homem e Sociedade
1. A ORIGEM HUMANA
Neste conteúdo são abordados temas e idéias como:
- a teoria evolucionista e a explicação da biologia para a origem e evolução do ser humano;
- a colaboração da teoria antropológica sobre a visão da biologia e do evolucionismo; a antropologia defende que a explicação puramente biológica é apenas uma parte de nossa complexa evolução – o papel do comportamento cultural também foi determinante para surgimento de nossa espécie como é hoje.
- a antropologia afirma que é falsa a afirmação que o ser humano é determinado pelo clima ou pela herança genética; sim, as populações se adaptam a diferentes meio ambientes para sobreviver, mas não é o meio ambiente que determina nosso comportamento; sim, cada indivíduo é resultado de uma herança genética, o que não significa que é “escravo” dessa herança.
 
 
Voltar às origens da cultura é também voltar à origem da humanidade. Ter costumes e hábitos aprendidos é um comportamento relacionado com a nossa sobrevivência e evolução enquanto espécie. O tema possibilita uma abordagem que ressalta a importância da compreensão do ser humano como um ser bio-psico-social, ou seja, somos seres cujo comportamento é determinado ao mesmo tempo:
BIO - por nossas características orgânicas (o tipo de aparelho físico que temos e como podemos utilizá-lo);
PSICO - por nossas experiências pessoais racionais e afetivas de mundo e;
SOCIAL - pelo meio social onde vivemos.
 
Parece a você que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar através desta ou daquela língua?
Pois a Antropologia, junto com outras ciências como a Arqueologia, a Paleontologia e a História, tem explorado profundamente essa questão sobre a diferença do Homem em relação ao resto do mundo animal que nos cerca. Até o momento puderam concluir que nosso comportamento é fruto de um processo histórico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a cultura foram responsáveis por tamanhas mudanças em nossa espécie, que hoje achamos um fato “natural” não necessitarmos entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da selva”.
Quem começou a inventar palavras para dar nomes às coisas, ou saber que alimentos são comestíveis e como devemos prepará-los? Quem inventou o primeiro tipo de calçado, ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importância decifrar esse fato pode ter para nossa compreensão de ser humano?
            Essas questões devem ser respondidas ao longo desse tema.
 
            No séc. XIX Charles Darwin (biólogo), afirmou que todas as espécies vivas resultam de uma EVOLUÇÃO ao longo do tempo. Isso significa, que se retornássemos em nosso planeta há milhões de anos atrás não encontraríamos as espécies conforme as vemos hoje. Cada ser vivo, para chegar até hoje, passou por sucessivas e pequenas transformações que possibilitaram sua sobrevivência; esse processo de mudanças orgânicas ocorre por necessidade de ADAPTAÇÃO AO MEIO. Consideremos que as condições do meio como clima, quantidade na oferta de alimentos e todas as questões relacionadas às condições ambientais, estão em constante mudança. Pois bem, as formas de vida existentes precisam acompanhar essas mudanças, estando sujeitas – segundo Darwin – a dois destinos: a) podem se adaptar e ao longo de muitas gerações apresentarem mudanças visíveis; b) não conseguem se adaptar, entrando em extinção.
            Quais são as espécies que conseguem se adaptar? São as que possuem alguns indivíduos do grupo dotados de características tais que o permitem sobreviver e gerar uma prole (conjunto de filhos/as) que dá continuidade a essas características. Os outros indivíduos de sua mesma espécie que não possuam tais características, não conseguindo “lutar” pela sobrevivência, têm mais chances de morrer sem deixarem descendentes. Assim, após muitas gerações, temos uma espécie que já não se parece com seu primeiro exemplar.
A possibilidade da geração de uma prole com características que permitam a adaptação ao meio é, para os evolucionistas, chamada de “seleção natural” – sobrevivem apenas aqueles indivíduos com traços que os permitam a sobrevivência. Ao lado da seleção natural, as mutações aleatórias também são responsáveis pelas modificações de um organismo ao longo do tempo.
Uma das dificuldades do senso-comum em aceitar as idéias evolucionistas, está no fato que não podemos “ver” a evolução acontecendo – apesar de ela estar sempre acontecendo -, isto é, não testemunhamos alterações expressivas, pois as mudanças são muito sutis e ao longo de períodos de tempo muito longos do ponto de vista do ser humano.
As alterações podem ser consideradas em intervalos de tempo não inferiores a cem ou duzentos mil anos. Portanto, muito além de qualquer evento que possamos acompanhar. Mas podemos acompanhar sim a luta pela sobrevivência e a mudança de hábitos em muitas espécies, como os pombos que povoam as cidades, mas não estão tão concentrados demograficamente nos campos. Essa espécie encontrou um ambiente ótimo nas cidades construídas pelos seres humanos, aprendendo rapidamente como obter abrigo e alimento, com a vantagem de estar livre de predadores como nas florestas e campos. Faz parte de sua evolução esse novo ambiente. Assim entendemos que a evolução biológica de todas as espécies vivas não acontece sem influencia de muitos fatores, não acontece de forma “mágica” e independente do tipo de meio e hábitos que podemos observar.
Hoje em dia o darwinismo está com uma nova roupagem e temos teorias como o pós-darwinismo ou neo-darwinismo, que são conseqüência do desenvolvimento de nossa tecnologia de pesquisa, e do próprio conhecimento cujas portas foram abertas por Charles Darwin para seus sucessores.
 
  
"O APARECIMENTO DO HOMO SAPIENS- uma espécie que trabalha"
 
            O homem descende do macaco. Essa foi a afirmação polêmica de Darwin na segunda metade do séc. XIX e que dividiu opiniões na sociedade moderna. Essa polêmica permanece até hoje, pois encontrou como opositor o ponto de vista de uma prática humana muito mais antiga que a teoria da evolução: a religião. Não conhecemos nenhuma crença, em nenhuma cultura que coincida e concorde totalmente com a afirmação de Darwin. Da perspectiva das crenças, a criação da vida é atribuída a um “ser criador”, a algo externo e superior a toda a vida existente. Ao conjunto de teorias e explicações que partem desse tipo de raciocínio, denominamos “criacionismo”. Pois bem, para pensar como Darwin e a maior parte dos cientistas até hoje, esqueça suas crenças. A ciência não reconhece como possível a existência de seres superiores que tenham dado origem à vida, e muito menos entende que o ser humano é uma espécie “privilegiada” ou “superior”, seja pela capacidade de raciocínio, seja pela capacidade de criar crenças.
            Para os evolucionistas, todas as espécies vivas foram surgindo das transformações de outras já existentes, dando origem a novas espécies, enquanto outras se extinguiram. Os primeiros humanos, chamados cientificamente de hominídeos, surgiram das transformações de algumas famílias de símios que fazem parte dos chimpanzés.
            Nossa espécie surgiu devido a mudanças biológicas e ao surgimento da cultura. Que mudanças biológicas são essas que nos diferenciam dos símios? O aumento da caixa craniana que nos dotou de um volume cerebral muitas vezes maior que o de um macaco. A postura ereta, que possibilita utilizarmos apenas os membros inferiores para nos locomover. E o surgimento do polegar opositor, que possibilita a nossa espécie da capacidade do chamado “movimento de pinça”. É a partir dessas três características básicas que desenvolvemos inúmeras outras características fascinantes como a capacidade da fala ou ainda a de fabricar instrumentos para nossa sobrevivência.
            Mas essas características como inteligência,fala e indústria não teriam surgido em nossos ancestrais se não fosse a presença de um tipo de comportamento que ajudou a modelar o corpo de nossos ancestrais, que é o comportamento baseado na CULTURA. Ou seja, a necessidade de comunicação, cooperação e divisão de tarefas facilitou o desenvolvimento dessas características BIOLÓGICAS.
·        Características biológicas: forma, funcionamento e estrutura do corpo. É a nossa anatomia, características herdadas biologicamente e que não são resultado da nossa escolha pessoal.
·        Características culturais: todo comportamento que não é baseado nos instintos, mas nas regras de comportamento em grupo que nos permite transformar a natureza para a sobrevivência (trabalho), e nos permite atribuir significados e sentidos ao mundo através dos símbolos (a cor branco simboliza a paz, ou o tipo de vestimenta simboliza status).
 
Durante muito tempo pensou-se que o ser humano já teria surgido plenamente dotado dessas características em conjunto. Hoje sabemos que nossa cultura foi determinante para modelar nossas características biológicas ao longo do tempo, e vice-versa. Nossos ancestrais foram lentamente se transformando em humanos, e essa espécie que somos agora, foi aos poucos sofrendo pequenas transformações que ao longo de milhões de anos nos diferenciaram totalmente de qualquer ancestral símio.
No início da história humana, nossos ancestrais eram muito semelhantes a um macaco. Tinham mais pelos pelo corpo, o cérebro era menor e a mandíbula maior. A postura não era totalmente ereta, e as mãos não tinham muita habilidade, pois o polegar ficava mais próximo dos outros dedos. O tamanho do cérebro foi aumentando muito devagar, como também a postura ereta surgiu gradualmente, e igualmente o polegar opositor não surgiu repentinamente. A cada geração, mudanças muito sutis transformaram a espécie, e nesse processo a cultura teve um papel fundamental, pois possibilitou ou exigiu que nosso ancestral desenvolvesse comportamentos capazes de mudar nossa estrutura biológica. Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com duas características que são a posição da laringe resultante da postura ereta e a utilização das mãos para trabalhos de fabricação de instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de “pedra lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais complexas e passou a utilizar uma área do cérebro, que é a mesma que nos permite falar.
É importante compreender que nossa espécie não é fruto de coisas inexplicáveis, mas resulta de um longo e lento processo de evolução, que significa mudanças ao longo do tempo. Essas mudanças por sua vez, são fruto de uma dura luta por parte de nossos ancestrais para sobreviver em condições pouco favoráveis e convivendo com espécies mais fortes e predadores mais bem preparados fisicamente para tal. Nossos ancestrais não tinham a mesma caixa craniana que temos hoje, e não eram tão inteligentes; não tinham a postura totalmente ereta, e não viviam em cidades. Eram mais uma espécie entre tantas outras, e o pouco que puderam fazer então determinou sua sobrevivência, e mais que isso, determinou COMO somos hoje.
Sobreviveram lascando uma pedra na outra para conseguir objetos pontiagudos e cortantes que serviam como arma de caça, como raspador de alimentos ou qualquer utilidade para a vida humana. Dormiam em cavernas, ao invés de fabricar abrigos. Durante muito tempo o domínio do fogo era um mistério, portanto não comiam muitos alimentos cozidos. Nessa época não havia escrita, e os únicos vestígios de comunicação encontrados são as pinturas em cavernas (arte rupestre) e pequenas estatuetas representando figuras femininas. Eram organizados em bandos que praticavam caça e coleta, por isso dependiam de deslocamentos constantes em busca de alimento. Durante quase quatro milhões de anos sobreviveram dessa forma, e nesse período de tempo nossa forma física foi se alterando, até que no chamado período “neolítico”, houve uma revolução.
A “revolução neolítica” foi um período marcante em nossa evolução, durante o qual o ser humano desenvolveu técnicas determinantes para a história de nossa espécie: a agricultura e a domesticação de animais, que permitiram o sedentarismo (começamos a construir abrigos e povoados ao invés de habitar em abrigos naturais). A agricultura e a domesticação de animais significaram a garantia de alimentação dos grupos humanos, independente do sucesso na caça e coleta. Isso permitiu à nossa espécie se fixar por períodos prolongados em determinados lugares, formando aldeias e também colaborou para o crescimento demográfico. É nesse momento que o ser humano começa a TRABALHAR, e não mais viver da caça/coleta que o tornava dependente dos recursos nos territórios habitados. A introdução do trabalho como estratégia de sobrevivência, segue um padrão estabelecido em nossa evolução para obter resultados:
a divisão de tarefas;
a cooperação com o grupo;
a especialização.
Essas características são importantes uma vez que possibilita que cada um de nós realize apenas um tipo de tarefa. Não é possível produzir sozinho tudo que necessitamos em nossa vida. Se não tivessem desenvolvido a capacidade de trabalho, baseado nos princípios acima, provavelmente, nossos ancestrais não teriam tido sucesso em sua evolução, e nenhum de nós estaria aqui hoje, compartilhando a condição se HUMANOS.
Até hoje utilizamos essas habilidades de trabalho em grupo para viabilizar nossa existência social. A capacidade de dividir tarefas, cooperar e se especializar permite atingir objetivos com resultados mais efetivos e também possibilita um conjunto social com melhor qualidade de vida.
O conjunto de tudo que o grupo social produz torna viável uma existência cultural, nos libertando da “lei da selva”. O trabalho humano se fundamenta em características básicas como comunicação e cooperação. Fixando-se em um lugar, inaugurando o sedentarismo, o ser humano passa a viver em uma sociedade organizada.
Mais alimentos disponíveis, mais segurança com as casas fabricadas, maior permanência do grupo, isso tudo levou a uma maior reprodução da espécie. Tais condições permitiram aos nossos ancestrais uma organização social mais complexa baseada na SOCIEDADE, e não mais em bandos. A comunicação também sofre uma revolução que foi o surgimento da ESCRITA.
A partir da escrita e do surgimento das grandes civilizações da Antiguidade como Egito, Grécia e China, conhecemos exatamente como a humanidade se desenvolveu. Mas para chegar até esse ponto, nossos ancestrais percorreram um longo caminho. Ele é o resultado de um processo muito longo no tempo, e para os quais foram determinantes: a postura ereta, a capacidade craniana, o polegar opositor e a aquisição da fala.
Entretanto, nenhuma dessas características nos valeria muita coisa se não tivéssemos desenvolvido um tipo de comportamento baseado em regras de convivência social, divisão de grupos em parentesco, divisão do trabalho e uma mente dotada de raciocínio lógico e abstrato ligado à criatividade e imaginação. Foram nossas capacidades de ORGANIZAÇÃO e COMUNICAÇÃO que definiram tal resultado, afastando nossa espécie do comportamento instintivo e determinando essa longa e rica viagem chamada HUMANIDADE.
 
 1.1 - O debate das determinações biológicas e geográficas no comportamento humano.
                 Já é antiga e muito conhecida a idéia segundo a qual as diferenças de comportamento humano de uma cultura para outra, são totalmente provenientes das características biológicas de um povo (sua carga genética) ou ainda totalmente provenientes do meio ambiente (ecossistema, clima) onde ele se desenvolve.
                A antropologia discorda dessas idéias, que denominamos de teorias deterministas, por pretenderem que um povo é determinado por variáveis sobre as quais não há controle humano. Ou seja, essas teses deterministas descartam a possibilidade do comportamento e valores de um povo ser proveniente de sua historia e das características humanas que giram em torno da experiência de mundo.Neste item serão apresentadas todas as idéias acima, e é importante para resolução dos exercícios que você perceba que esses conceitos podem ser observados em nossa vida cotidiana. Reconhecer as inconsistências das teses deterministas é um importante aprendizado para valorizar a vida cultural dos povos da humanidade.
 
“Como a Antropologia evidencia a importância da cultura na evolução da espécie humana – a visão do antropólogo Clifford GEERTZ.”
 
Silas GUERRIERO afirma na pg. 24 do texto “A origem do antropos”, indicado na bilbiografia:
 
“Como Geertz, podemos afirmar que a cultura é produto do humano, mas o humano é também produto da cultura. Não fosse essa extraordinária capacidade de articulação e fabricação de símbolos, provavelmente não teríamos sobrevivido e, se o tivéssemos conseguido, não teríamos diferenças anatômicas tão marcantes frente a nossos parentes mais próximos. Em outras palavras, não estaríamos aqui contando essa história.”
 
 
E Roque de Barros LARAIA, na pg. 58 do texto “Idéia sobre a origem da cultura” no livro “CULTURA – UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO”:
 
“A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral.”
 
A leitura desses textos desenvolve a compreensão predominante atualmente na Antropologia, que o ser humano não teve uma evolução puramente biológica para nos capacitar de inteligência e postura ereta, mas antes, essa evolução BIOLÓGICA não foi independente de sua “parceira”, a CULTURA humana.
 
 
- R. de Barros LARAIA discute se somos DETERMINADOS ou não pelo meio ambiente e pela herança genética :
 
Da perspectiva biológica, o ser humano é uma única espécie. Somos todos partes de uma mesma família que foi dividida ao longo do tempo por sucessivas migrações.
Esse movimento de populações resultou em aparências distintas para cada grupo populacional, popularmente conhecida como “raças humanas”. Vamos esclarecer alguns aspectos importantes.
Cada indivíduo possui um fenótipo, que corresponde à aparência física.
Entretanto somos portadores de genótipos, que são os genes que carregamos e podem ser determinantes nos resultados de nossa reprodução. Um indivíduo com o fenótipo “pele clara e olhos azuis” carrega genes com essa informação, mas também é portador de informações genéticas outras. Assim, cada indivíduo vai resultar de uma combinação genética de seus antepassados, formando um fenótipo próprio.
 
Durante muito tempo a sociedade em geral, e a ciência, debateram sobre essa questão. Acreditava-se que a cada raça correspondia uma cultura. Dessa perspectiva ultrapassada, surgiram as teorias deterministas.
O determinismo biológico defendia que a herança genética seria a responsável pelo comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura.
Bem, é importante ressaltar que esse tipo de afirmação logo encontrou “furos”, pois nem sempre a totalidade dos herdeiros de genes “brancos” ou “negros” apresentavam comportamentos semelhantes entre si. Multiplicavam-se os exemplos de comportamentos diferentes para pessoas da mesma “raça”.
Assim, somou-se a esse equívoco científico um outro, que pretendia ser complementar ao anterior e preencher as lacunas explicativas.
 
Trata-se do determinismo geográfico, que defendia que a ecologia (o meio ambiente) no qual essa ou aquela população se desenvolveu, também seria um fator DETERMINANTE para a cultura ali desenvolvida. Portanto, populações de lugares com clima muito quente, ou muito frio teriam sofrido influências que, somadas ao fator biológico, explicariam costumes, mentalidade, valores e tradições.
 
Mesmo tendo sido totalmente desacreditadas pela ciência, esses determinismos ainda hoje permeiam a visão de mundo do senso comum. É fácil encontrarmos pessoas que atribuem ao clima, à vegetação, aos animais circundantes, e ao fenótipo de cada população a explicação sobre “porque essas pessoas desse lugar agem de tal forma”.
 
Você mesmo deve estar se lembrando de muitos exemplos que condizem com esse esquema explicativo. Entretanto, é fundamental que você conheça os pressupostos com os quais a ciência humana contemporânea trabalha.
 
TODOS OS SERES HUMANOS EXISTENTES HOJE DESCENDEM DE UM ÚNICO GRUPO HUMANO ORIGINÁRIO DO CONTINENTE AFRICANO.
 
Essa é uma afirmação resultante de um século e meio de pesquisas, cujo material arqueológico foi mais recentemente reforçado pelo conhecimento genético. Não há como refutar que qualquer indivíduo humano, seja ele um esquimó, um indiano, um escocês, um dinamarquês, um japonês e assim por diante são descendentes de grupos oriundos da África.
Sim, todos os indivíduos carregam genes desses primeiros agrupamentos humanos, apesar de terem fenótipos diferentes.
 
Portanto, somos uma mesma família, que foi desenvolvendo aparências distintas como resposta adaptativa ao meio.
A geografia desempenhou um importante papel para a diversidade de tipos humanos? Sem dúvida! Ao longo do processo evolutivo, mudanças importantes ocorreram para permitir a sobrevivência de nossa espécie em diferentes meios. A quantidade de melanina na pele e a dimensão do aparelho nasal foram sendo modelados para permitir nossa sobrevivência.
Como a grande família humana foi seguindo rumos diferentes, os grupos que migravam para esse ou aquele lugar, carregavam um conjunto genético que foi se estabilizando ao longo de séculos e séculos. Isso foi criando fenótipos próprios a cada população humana, que viveram praticamente isoladas umas das outras durante tempo suficiente para que fosse surgindo um tipo de “padrão” que chamamos etnia.
 
Mas, até que ponto a essa herança biológica e essa influência do meio têm relação com a diversidade cultural?
Leia novamente a questão. De fato, há um LIMITE para tal influência, e nem biologia, nem ecologia são isolados ou em conjunto a única explicação para o comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura.
Portanto, NÃO EXISTE UMA DETERMINAÇÃO BIOLÓGICA / GEOGRÁFICA que sustente a explicação sobre a diversidade cultural.
 
O que se aceita hoje é que esses são fatores importantes na relação do ser humano com o meio, seja para sobreviver, seja para se relacionarem uns com os outros. Mas não são determinantes.
Vamos a exemplos?
Tomemos o caso da “facilidade” de indivíduos afrodescendentes para o desempenho em alguns esportes, como o basquete ou atletismo e que é popularmente divulgado. Não há dúvidas sobre a base biológica que fundamenta essa associação. Mas vamos refletir melhor sobre o comportamento humano, e não apenas sobre seu legado biológico. Desculpe, mas vou formular a seguinte questão sem qualquer preocupação científica ou política. O que o senso comum diria a esse respeito: “Um indivíduo descendente de brancos pode se desempenhar tão bem quanto um descendente de negros nesses esportes?”
A resposta óbvia, para a qual há inúmeros exemplos é: Sim!
Entretanto, vamos considerar o que se segue. O ser humano depende de desejos, estímulos e condições para chegar a objetivos. Concorda? Um indivíduo descendente de brancos que se determine a ser “exemplar” no basquete ou no atletismo pode atingir esse objetivo perfeitamente. Ele não necessita dos genes para ser isso ou aquilo. Basta que se dedique a aperfeiçoar o que deseja ser. O que ocorre é que um indivíduo com facilidades genéticas chega ao mesmo resultado com mais facilidades. Aquele que tem a genética “contra si”, precisa se dedicar mais para atingir igual resultado. Isso para qualquer coisa que você possa pensar.
A genética e a geografia são elementos na relação do homem com o meio, e não fatores determinantes.
 
Os genes podem ser facilitadores para certas coisas, mas acima de tudo está a determinação, os desejos e o investimento social que cada indivíduo pode dispor para desenvolver certas características de seu comportamento.
 
O que explica a diversidade cultural, se não há determinismos?
 
O ser humano éuma espécie moldável e criativa. Em cada grupo social, as respostas às necessidades e a qualidade dos vínculos sociais resultam de uma história que é única àquele grupo. Portadores das marcas da história, das experiências coletivamente vividas, das soluções criadas, cada grupo vai construindo um conjunto absolutamente único que é sua cultura.
 
Vamos supor que você tome uma parcela da população norte-americana de hoje e os coloque para viver durante um longo período de tempo em um outro local, com características ambientais muitos semelhantes às quais estão acostumados. Daqui a algumas gerações, se você for analisar esse grupo e o grupo de origem, poderá ver que existem características que os diferenciam. E assim se dá, quanto mais o tempo passa. Qualquer coletividade está sujeita a um destino próprio. E a cultura é o resultado, a cada momento, dessa experiência de vida que não se repete exatamente com os mesmos eventos, da mesma forma em todos os lugares.
 
A diversidade cultural é inerente ao ser humano. Onde quer que se forme um grupo social, o resultado será sempre o mesmo: uma cultura própria.
A antropologia propõe que a cultura é a base de nossa forma de encarar o mundo à nossa volta e dar formas e significados a ele.
Mas afinal, em que momento de nossa evolução o ser humano passou a viver distante da natureza e dos instintos, e passou a depender da cultura?
Ou ainda, como podemos relacionar a evolução de nossa espécie e a influência da cultura no desenvolvimento geral da Humanidade?
Somos seres culturais, portanto todo o nosso comportamento depende de uma combinação complexa entre característica inatas (que fazem parte de nossa natureza, nossa carga genética) e meio social.
 
Vamos considerar que grande parte das coisas que realizamos em nosso dia-a-dia, incluindo planos pessoais e organização de regras de convivência, é resultado de um modelo coletivo de pensar como devemos ser?
 
Isto significa que aprendemos a estar no mundo, e não simplesmente somos “jogados” nele. Desde a língua que falamos para nos comunicar, até os símbolos que associamos a crenças, sonhos e mensagens, são criados de acordo com uma mentalidade coletiva comum. Esse “modelo” para nos comunicar e dar sentido ao que pensamos, é dado pela nossa cultura.
E em cada uma das culturas humanas, aquilo que nos faz rir, chorar ou sonhar varia imensamente.
 
Mas, quando o ser humano passou a se comportar de forma cultural?
Segundo a antropologia, o ser humano nunca foi uma espécie apenas por suas habilidades orgânicas, como capacidade de raciocínio e postura ereta.
 
Pelo contrário, essas características foram acentuadas, pois nossos ancestrais se comportavam de forma cultural. Nesse comportamento podemos citar:
- desenvolvimento de tecnologia e de saberes;
- desenvolvimento de linguagens para a comunicação;
- regras de comportamento em grupo;
- idéias e crenças;
- tradições e hábitos comuns, etc...
 
Parece a você que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e ainda se comunicar através desta ou daquela língua?
 
Pois a Antropologia, junto com outras ciências como a Arqueologia, a Paleontologia e a História, explorou profundamente essa questão sobre a diferença do Homem em relação ao resto do mundo animal que nos cerca, e puderam concluir que nosso comportamento é fruto de um processo histórico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a cultura foram responsáveis por tamanhas mudanças em nossa espécie, que hoje achamos um fato “natural” não necessitarmos entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da selva”.
 
Quem começou a inventar palavras para dar nomes às coisas, ou saber quais alimentos são comestíveis e como devemos prepará-los? Quem inventou o primeiro tipo de calçado, ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importância decifrar esse fato pode ter para nossa compreensão de ser humano?
 
Uma resposta bastante simplista, e que se encontra repetida muito comumente, é aquela que afirma que somos capazes de desenvolver cultura, pois somos biologicamente dotados de inteligência. Mas, por que nosso cérebro se desenvolveu de forma a permitir esse tipo de inteligência que os humanos se gabam por ter exclusividade?
Essa questão foi investigada largamente por especialistas tanto das áreas de conhecimento das ciências biológicas como das ciências humanas.
 
Eles acabaram por definir que não houve na evolução humana apenas um fator isolado que tenha, de forma surpreendente, nos dotado dessa inteligência. Pelo contrário, nossa evolução biológica teve influência de muitos fatores, entre eles, o comportamento de nossos ancestrais.
 
Conforme o aumento gradativo do cérebro permitia o desenvolvimento de habilidades mais complexas, como fala e fabricação de instrumentos, mais necessário à sobrevivência seria ter essas capacidades. Assim, os indivíduos cujo cérebro não era desenvolvido o suficiente para adquirir fala ou fabricar instrumentos, não deixavam descendentes, pois tinham menores chances de sobrevivência.
 
Então, isso é a “seleção natural” na teoria da evolução de Darwin.
Assim, a cada geração, um cérebro mais complexo e seu uso para desenvolver habilidades sociais, eram fundamentais aos nossos ancestrais humanos.
 
Portanto, se diz atualmente entre muitos cientistas, que somos “biologicamente culturais”, ou “culturalmente biológicos”. Um fator (biologia) ajudou a modelar o outro (cultura), e vice-versa.
 
Leia aos trechos abaixo, que podem ser encontrados no texto que está indicado na bibliografia complementar:
 
“O modo de vida estritamente cultural impõe uma série de exigências para seu funcionamento. Para começar, aumenta muito a importância da proximidade e das relações sociais por um lado, e da inteligência, por outro. Nenhuma espécie envereda por um caminho destes impunemente. Dentro de um jogo complicado, pode-se pensar que a cultura, ao aumentar as chances de sobrevivência do grupo, também aumenta a sua dependência da cultura para sobreviver. Ao mesmo tempo em que liberta, submete.
Escapa-se de uma armadilha, entrando em outra.
Compreender o impacto da cultura na evolução humana tem sido um desafio constante.
Ao que tudo indica, assim que nossos ancestrais desenvolveram uma dependência da cultura para sobreviver, a seleção natural começou a favorecer genes para o comportamento cultural.
(...)
A própria cultura é uma característica biológica
Há, porém, mais do que isso: o ser cultural do homem deve ser entendido como biológico.
Há mais do que um jogo de palavras na afirmação de que o homem é naturalmente cultural, ou ainda, de que a chave para a compreensão da natureza humana está na cultura e a chave para a da cultura está na natureza humana. O homem é a um só tempo, criatura e criador da cultura. Nas palavras de Morin (1973, p.92), "o que ocorreu no processo de hominização foi uma aptidão natural para a cultura e a aptidão cultural para desenvolver a natureza humana". Desse modo, "desaba o antigo paradigma que opunha natureza e cultura" (p.94). Entretanto, apesar da força do argumento, mesmo várias décadas depois, ainda não se foi muito adiante.”
(BUSSAB, Vera S. R.; RIBEIRO, Fernando L.; “Biologicamente Cultural”, texto disponível em: http://pet.vet.br/puc/vera%20bussab.pdf )
 
 
Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com duas características que são a posição da laringe resultante da postura ereta e a utilização das mãos para trabalhos de fabricação de instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de “pedra lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais complexas e passou a utilizar uma área do cérebro, que é a mesma que nos permite falar.
 
Segundo uma grande quantidade de pesquisas arqueológicas, que consiste na teoria científica mais aceita, a origem dos primeiros humanos ocorreu no continente africano entre 200 e 100mil anos atrás.
 
Esse grupo teria começado sua imigração para fora da África entre 65 e 50 mil anos atrás, povoando os outros continentes. Nesse longo caminho, as famílias humanas foram adquirindo características físicas diferentes em função tanto da necessidade de adaptação a novos meios, como pela combinação da carga genética de cada grupo.
 
Existe toda uma corrente de pensadores na Antropologia, inaugurado pelo americano Alfred KROEBER, que defendem inclusive, que a cultura é uma característica que torna a humanidade completamente diferente em seu curso evolutivo, pois enquanto as outras espécies passam por modificações anatômicas ao longo do tempo para se adaptar a novas condições, o Homem utiliza um “equipamento extra-orgânico”, que é a cultura.
 
Leia o trecho que se encontra no livro de nossa bibliográfica básica para esclarecer melhor essa questão:
A baleia não é só um mamífero de sangue quente, mas é reconhecida como o descendente remoto de animais terrestres carnívoros. Em alguns milhões de anos ... esse animal perdeu suas pernas para correr, suas garras para segurar e dilacerar, seu pêlo original e as orelhas externas que, no mínimo, nenhuma utilidade teriam na água, e adquiriu nadadeiras e cauda, um corpo cilíndrico, uma camada de banha e a faculdade de reter a respiração. Muita coisa perdeu a espécie, mais, talvez, em conjunto do que ganhou. L certo que algumas de suas partes degeneraram. Mas houve um novo poder que ela adquiriu: o de percorrer indefinidamente o oceano.
Encontramos o paralelo e também o contraste na aquisição humana da mesma faculdade. Não transformamos, por alteração gradual de pai a filho, nossos braços em nadadeiras e não adquirimos uma cauda. Nem precisamos absolutamente entrar na água para navegar. Construímos um barco. E isto quer dizer que preservamos intactos nossos corpos e faculdades de nascimento, inalterados com relação aos de nossos pais e dos mais remotos ancestrais. Os nossos meios de navegação marítima são exteriores ao nosso equipamento natural. Nós os fazemos e utilizamos, ao passo que a baleia original teve de transformar-se ela mesma em barco. Foram-lhe precisas incontáveis gerações para chegar à sua condição atual.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 21ª Ed, 2007, pgs 40-41)
 
Kroeber chama a cultura de “superorgânico”, pois dota a humanidade de uma flexibilidade adaptativa a tantos ambientes, que compensa a falta de expressividade de nosso organismo.
 
Explicando. Frente a outros animais, o ser humano não possui capacidades anatômicas muito destacadas como velocidade, olfato, visão ou mesmo força física.
Entretanto, ao utilizar os recursos da inteligência de forma cultural, superamos limites de nosso organismo.
 
Portanto, a origem da cultura humana coincide com a origem de toda nossa espécie. Ela sempre existiu, e faz parte de nossa forma de sobrevivência.
 
Já outros antropólogos, compreendem que esse debate sobre a evolução de nossa espécie, não é mais importante que o debate sobre nossa condição de existência. Para um grupo iniciado pelo francês Claude Lévi-Strauss, o foco dessa questão sobre a origem da cultura está em conseguir perceber a importância do impacto do comportamento orientado por valores e regras, muito mais do que as considerações sobre nosso equipamento biológico.
 
Assim, Lévi-Strauss afirma que o fato de possuir cultura, dota a espécie humana de uma característica fenomenal, que é a de ter nos distanciado dos instintos.
Ou seja, para ele, é importante perceber como a cultura nos moldou como seres que agem não apenas preocupados com realizações práticas de sobrevivência, e sim, como agimos o tempo todo pautados em uma moral, uma ética de mundo que nos dá consciência.
 
Ele afirma inclusive, que entre todas as atitudes humanas que nos caracteriza como uma espécie cultural, uma tem importância especial, por marcar em nossa evolução, o momento em que o ancestral humano deixou de agir como animal e passou a agir como Homem.
Esse momento teria sido a instituição da regra, que é universal ao ser humano, que proíbe as relações incestuosas. Ou seja, relações sexuais entre indivíduos relacionados por vínculos familiares muito diretos, como pais e filhos, ou tios e sobrinhos.
 
Segundo Lévi-Strauss, não há sustentação na afirmação simplista de que tenha sido apenas pela observação de problemas genéticos resultantes dessas relações que o ser humano tenha instituído essa regra.
O horror moral que provoca em qualquer ser humano, a notícia de que algum individuo tenha burlado essa regra, supera em qualquer condição o horror a uma prole com problemas genéticos. É uma regra de ordem moral, muito mais do que de efeito prático. Concorda?
 
Pois bem, trata-se de uma das únicas regras que tem validade universal em nossa espécie. Ou seja, não depende de época ou cultura. Todo se humano, em qualquer sociedade evita e pune essa prática. Então, podemos pensar que de fato, ela tem uma importância especial.
 
Sua importância, para Lévi-Strauss, está no fato de ter retirado definitivamente o ser humano da esfera da natureza, dos instintos.
A partir do momento em que nossos ancestrais formularam essa regra, inaugura-se a cultura. É um marco simbólico, entenda. Mas uma forma muito importante de explicar nossa espécie.
 
Outros animais podem fabricar coisas, e ter atitudes inteligentes, ou memória.
 
Mas é muito mais difícil um animal, e todos os indivíduos de sua mesma espécie, aos mesmo tempo, controlarem um instinto, conseguindo agir de forma a negá-lo. Os animais domesticados quase sempre o conseguem. Mas já não fazem parte da natureza. Como o nome diz, são “domesticados”, vale dizer, seu comportamento passa a ser orientado por outras regras que não o instinto.
E, mesmo assim, não se pode garantir que seu instinto não venha a aflorar em certas situações, como a exposição a alimentos, situações de agressividade contra os próprios donos e assim por diante.
 
 
SAIBA MAIS
“Origem da cultura – a ética da relação ser humano / natureza”
Apesar de você não encontrar referência a isso na bibliografia indicada, é importante ressaltar qual a importância dessa temática sobre a evolução humana e o desenvolvimento de nossa inteligência que nos permite viver em cultura.
O ser humano tem uma tendência a compreender que sua própria espécie é superior a todas as outras, por ter um cérebro que permite controlar o ambiente e os recursos de nossa sobrevivência.
Infelizmente, a consequência disso tem sido uma prepotência humana em relação à natureza circundante. É isso mesmo, o ser humano que se sente superior, se sente também no direito de se apoderar, esgotar, destruir, manipular a natureza. O resultado, bem conhecido de todos, tem sido um meio ambiente que ameaça os destinos de nossa própria espécie, e subjuga à extinção uma grande quantidade de outras espécies.
O desequilíbrio provocado pelo Homem em seu meio não é consequência apenas da necessidade de avanço industrial e urbano. É também do modelo para realizar esse “progresso”, que sofre de uma ausência de ética no relacionamento com as outras espécies vivas.
Você pode ler mais sobre isso no livro: GUERRIERO Silas (org). “Antropos e Psique – o Outro e sua subjetividade”, SP: Olho d´Água, 2005. Procure o capítulo intitulado “As origens do antropos”.
 
 
Toda a temática deste módulo está desenvolvida de forma interessante na bibliografia indicada no início deste item, especialmente os capítulos do livro de LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropológico : “O desenvolvimento do conceito de cultura“, “Idéia sobre a origem da cultura”, Pgs. 30-58.
 
Procure ler os textos indicados. Ao organizar bem seu tempo, é possível enriquecer esse aprendizado lendo também os textos complementares.
 
 
[1] O aumento do cérebro permitiu o desenvolvimento do CÓRTEX CEREBRAL. Veja a definição da Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral ):
O córtex cerebral corresponde à camada mais externado cérebro dos vertebrados, sendo rico em neurônios e o local do processamento neuronal mais sofisticado e distinto. O córtex humano tem 2-4mm de espessura, com uma área de 0,22m2 (se fosse disposto num plano) e desempenha um papel central em funções complexas do cérebro como na memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento.
Em animais com capacidade cerebral mais desenvolvida, o córtex forma sulcos para aumentar a área de processamento neuronal, minimizando a necessidade de aumento de volume. É constituído por cerca de 20 bilhões de neurônios, que parecem organizados em agrupamentos chamados microcolunas. É formado por massa cinzenta e é responsável pela realização dos movimentos no corpo humano.
O córtex é o local de representações simbólicas, o que ele recebe é processado e integrado, respondendo com uma ação.
É a sede do entendimento, da razão, se não houvesse córtex não haveria: linguagem, percepção, emoção, cognição, memória. No Homem, o desenvolvimento do córtex permitiu o desenvolver da cultura que, por sua vez, foi servindo de estimulo ao desenvolvimento cortical.
 
 
 
 
 “O conceito de cultura através da história”
 
A antropologia social tem como conceito central o conceito de CULTURA.
Então ele é um conceito científico certo?
 
É isso mesmo. Mas não é essa a origem da palavra. O termo cultura existia muito antes da Antropologia e outras ciências humanas passarem a utilizá-lo para fazer referência ao conjunto de hábitos que torna uma sociedade algo totalmente única e particular.
 
Para refletir sobre a complexidade desse conceito, vamos começar tomando exemplos de como podemos encontrar o uso da palavra cultura em situações cotidianas.
 
Normalmente as pessoas utilizam essa palavra em frases como: “O brasileiro precisa valorizar mais sua própria cultura”; “Fulano é uma pessoa que tem muita cultura”; “A cultura desse lugar é muito atrasada”; “A cultura oriental é muito antiga”.
 
Nesses exemplos já é possível percebermos a complexidade e a multiplicidade do uso que fazemos desse conceito. Precisamos começar a diferenciar quais são utilizações do chamado senso-comum e, por outro lado, como a ciência antropológica compreende e define cultura.
De acordo com o uso popular, percebemos que existe uma concepção segundo qual cultura é uma questão de status e está muito relacionada com a aquisição de conhecimento letrado.
 
Na frase “fulano é uma pessoa que tem muita cultura”, o sentido atribuído a esse conceito é que se trata de uma coisa possível de ser acumulada e que distingue um indivíduo dos demais.
A sociedade em geral pensa cultura como relacionada ao acesso a estudos clássicos e letrados. O conhecimento letrado é aquele que não faz parte da “escola da vida”, mas que se acumula no conhecimento transmitido por livros, autores, autoridades em cada assunto.
Já numa outra situação como na frase: ”o brasileiro precisa valorizar mais sua própria cultura”, há a preocupação em situar o conjunto da produção cultural e da história de nosso país.
 
Comparam-se assim as chamadas “culturas nacionais”, e somos capazes de perceber que de uma sociedade para outra mudam regras, valores, arte, religião, folclore, culinária e assim por diante. Assim podemos ver que os limites políticos e geográficos que são as nações, podem compreender também culturas próprias.
 
Vamos a outro de nossos exemplos. Na frase “a cultura desse lugar é muito atrasada”, existe uma nítida noção popular segundo a qual deve existir uma hierarquia entre as diferentes culturas, que vão das mais “atrasadas” às mais “avançadas”. Normalmente as pessoas se referem ao comportamento coletivo, à qualidade da vida social. Elas querem expressar a existência de culturas que desenvolvem meios para que as necessidades sociais sejam mais bem solucionadas, seja em seu desenvolvimento tecnológico, ou pela chamada “educação do povo”, que nesse caso, nada mais significa que o acesso a informações e à cultura letrada.
 
Finalmente, na frase “a cultura oriental é muito antiga”, surge a noção que cultura é algo que se acumula e se mantém (ou se perde) ao longo do tempo. Nesse caso, há a preocupação em pensar cultura como um conjunto de coisas (denominados “elementos da cultura”) que podem se transformar tradições, pois são mantidas ao longo do tempo; já outros elementos se transformam, dando a idéia de passagem do tempo.
 
Para compreender essa multiplicidade de usos do conceito de cultura, é importante resgatar o processo histórico que transformou seu uso.
É importante ressaltar que não há maneira mais correta ou incorreta de pensar cultura nos exemplos apontados, mas é importante, que você como estudante dessa disciplina, consiga perceber que o uso popular tem formas de julgar pessoas e povos através de sua cultura. Nesse caso, cultura se torna um conceito que permite fazer discriminações, ou até mesmo usar preconceitos contra outros.
 
Já o uso do conceito de cultura pela Antropologia, tem como idéia central fazer referência a hábitos, costumes, saberes, técnicas e todo o conjunto de valores de um povo, sem a lógica do julgamento.
É o que você poderá perceber com o texto que segue e utilizando a bibliografia indicada. 
 
ETIMOLOGIA DA PALAVRA CULTURA
 
*    Até o séc. XVIII, a palavra cultura existia APENAS com o registro de “agricultura”.
*   Em sua origem, o conceito de cultura demonstra já uma relação entre HABILIDADES HUMANAS e o domínio da natureza circundante. Agricultura é uma habilidade em observar o desenvolvimento das espécies vegetais e aperfeiçoar as condições para o bom desenvolvimento e o cultivo em larga escala.
*    Os diversos comportamentos culturais humanos, nesse registro demonstrariam nossa capacidade de manipular, aperfeiçoar, utilizar, consumir. Isso tudo aplicado ao UNIVERSO humano das coisas e idéias que nos cercam.
 
 
COMO A PARTIR DO SÉC. XVIII A DEFINIÇÃO DA PALAVRA CULTURA SOFRE UMA GRANDE TRANSFORMAÇÃO
 
A partir desse momento histórico, a palavra cultura adquire uma MULTIPLICIDADE de sentidos. Além de agricultura, hoje ela é associada a conhecimento, educação, costumes e tradições. Como se deu essa mudança?
*    Revoluções anteriores – séculos XV, XVI e XVII:
*    RENASCIMENTO
*    GRANDES NAVEGAÇÕES E A ENTRADA DO “NOVO MUNDO” NO MAPA MUNDI.
*   A mentalidade européia passa por um impacto de profundas alterações econômicas e sociais (os lucros com as Colônias, o contato com outros povos);
* O contato com povos de outros continentes fora da Europa, chamados de “índios”, “aborígenes”, “primitivos”, e que habitam a África, as Américas e a Austrália traz inquietação aos europeus.
* LEMBRE-SE: até o momento das Grandes Navegações, o “mundo conhecido” pelos povos da Europa se resumia ao Norte da África, Oriente Médio, China e Índia. O contato com os povos nativos de outros continentes, com um modo de vida totalmente desconhecido para eles, causou espanto e dividiu as reações da população europeia, 
*    Nesse contexto, o contato com outros povos prepara o momento seguinte, quando o conceito de cultura começa a ser associado a comportamento coletivo de um povo. Veja abaixo. 
 
Após isso, na FRANÇA E ALEMANHA surgem duas diferentes definições de cultura (séculos XVIII e XIX)
*    ALEMANHA – (cultura = “kultur”), idéia de que um povo cultiva suas tradições
*   FRANÇA – (cultura = “civilization”), preocupados em diferenciar pessoas/povos que cultivam a educação refinada (burguesa)
 
*   Nos sécs. XVIII e XIX estavam em processo de criação os Estados nacionais, os países como conhecemos hoje. Era necessária a discussão sobre cultura, pois a classe dominante precisava algum apoio ideológico para convencer diferentes povos que a partir de então eles fariam parte de uma mesma “nação”.
*    Perceba como é nesse momento que a palavra cultura amplia seu significado, sendo associada TAMBÉM à idéia de COMO UM POVO CULTIVA SEU COMPORTAMENTO COLETIVO. Como observamos, dominamos e orientamos a conduta e o cultivo das relações sociais (registro alemão da palavra).*    Também é nesse momento que a palavra cultura passa a ser associada com DISTINÇÃO SOCIAL, pessoas “civilizadas” e “cultas” e pessoas “atrasadas” e “incultas” (registro francês da palavra).
 
 
Vale lembrar que o registro que o senso-comum tem hoje da palavra cultura, está bem próximo da forma como na França se desenvolveu esse conceito, você pode perceber isso?
 
Continuando. Os primeiros registros do uso científico do conceito de cultura surgem na segunda metade do séc. XIX (1871).
O autor é Edward TYLOR que definiu cultura como "um conjunto complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a lei, a moral, os costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade".
 
Todas as definições que antecedem e foram trabalhadas por filósofos dos séculos XVII e XVIII, e as que surgem após Tylor, têm em comum a tentativa de explicar a diversidade de povos e culturas.
 
O séc. XIX sofre um profundo impacto da teoria evolucionista de Charles Darwin. Apesar de sua teoria ser relativa única e exclusivamente à biologia, ela foi tão importante e revolucionaria que acabou criando o que chamamos nas ciências de PARADIGMA.
 
Um paradigma é uma teoria que adquire tamanha força explicativa, que passa a ser utilizada para além de seu campo original. Então muitos pensadores utilizam aquela idéia como fonte explicativa para suas próprias questões.
 
Pois o evolucionismo se transformou em paradigma, e influenciou profundamente cientistas sociais, historiadores e até filósofos daquele século.
No que diz respeito ao conceito de cultura, foi criado o chamado EVOLUCIONISMO SOCIAL, ou ainda “darwinismo social”.
Trata-se de uma teoria que defende existirem ESTÁGIOS EVOLUTIVOS para a cultura humana, da mesma forma que existem os estágios evolutivos para cada espécie.
Atenção a um detalhe importante: repetindo, “estágios evolutivos para a cultura humana”, assim, no singular mesmo! Pois havia na época a convicção de que haveria uma única forma de cultura humana, cujo exemplo máximo de evolução seria aquela praticada pelos povos europeus.
Quanto aos outros povos, representavam estágios mais atrasados e pouco importantes em relação aos povos europeus. Perceba então que na época não se pensava no plural: “culturas humanas”. Esse tipo de pensamento se encontra em quase todos os pensadores de então.
 
É o que chamamos de evolução unilinear, em oposição ao tipo de pensamento que surge no sec. XX, com a idéia de evolução multilinear (localize essas idéias no cap. 4 do livro Cultura – um conceito antropológico).
 
Evolução unilinear seria exatamente essa idéia de estágios evolutivos para a cultura humana, que enxergava como uma única linha dentro da qual poderiam ser encaixados em diferentes estágios evolutivos a cultura de cada povo.
 
Como era organizada a “lógica evolutiva” da cultura, dentro dessa concepção de uma linha única e imaginaria de desenvolvimento dos povos?
 
Os critérios eram basicamente a presença ou ausência de quesitos como: escrita, metalurgia, tecnologia, ciência, Estado, mercado e assim por diante. Entendia-se que quanto maior o acúmulo de semelhanças com todos esses quesitos, que curiosamente estavam presentes apenas em algumas sociedades européias e que são as criadoras dessa teoria, maior a evolução de uma cultura. Quanto menor a semelhança com esse tipo de aparato cultural, menor a sua evolução cultural.
 
Surgiram termos para marcar pontos nessa linha evolutiva como: selvagens, bárbaros e civilizados.
 
Os povos indígenas brasileiros, por exemplo, que não possuíam escrita, não fabricavam metais, não produziam além do necessário para a subsistência, seriam colocados nas etapas mais primitivas dessa linha imaginaria, e eram chamados de selvagens.
Então seguiriam os povos como os chineses, árabes e hindus, que possuíam sofisticada tecnologia (lembra-se que Marco Polo trouxe a pólvora da China?), instituições políticas complexas, mercado.... mas tinham uma “grave” falha: não desenvolveram a ciência, como a conhecemos em sua herança européia. Eles eram chamados de bárbaros.
Por fim, algumas sociedades européias, como os ingleses, franceses ou alemães entre outros, eram os chamados povos civilizados.
 
A principal reação ao evolucionismo tem início com o pensamento de Franz BOAS, um pensador americano de origem alemã.
Ele funda uma corrente de pensamento denominada PARTICULARISMO HISTÓRICO, que ficou bastante conhecida como Escola Cultural Americana. Ele defende que cada grupo humano cria um caminho próprio de desenvolvimento. Isso gera a idéia de múltiplas linhas de culturas (veja que agora aparece o plural).
 
Durante todo o século XX o evolucionismo continuou sendo combatido, e todos os dados de pesquisas feitas por antropólogos reforçavam cada vez mais os erros do evolucionismo social. Entretanto, aquele pensamento tão antigo e equivocado permanece incrivelmente presente no pensamento do senso-comum até hoje, pois foi divulgado de forma bastante eficiente pelas elites européias que então dominavam todos os povos dos outros continentes, suas ex-colônias.
 
Muitas pessoas até hoje, não apenas utilizam esse pensamento evolucionista para tratar de forma pejorativa outros povos, inferiorizando-os. Acredita-se, inclusive, que uma suposta “superioridade” cultural seja consequência de uma superioridade genética de alguns povos.
 
Ao associar cultura e genética, erros de pensamento são criados, e acabam adquirindo status de verdade, pois os genes acabaram se tornando mitos no mundo moderno. Neles parecem residir “chaves” e segredos incríveis, soluções de toda ordem.
Por isso é muito importante ressaltar o pensamento de antropólogos como Geertz e Kroeber, que colaboram para desmistificar o poder de influencia dos genes em nosso comportamento cultural.
 
Nesse ponto, vamos destacar alguns trechos de LARAIA (indicado na bibliografia do item) para finalizar:
 
Resumindo, a contribuição de Kroeber para a ampliação do conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos:
1. A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações.
2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou. (Voltaremos a este ponto mais adiante.)
3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em vez de modificar para isto o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento superorgânico.
4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu hábitat.
5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que a agir através de atitudes geneticamente determinadas.
6. Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é este processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação, não importa o termo) que determina o seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.
7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.
8. Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade de utilizar o conhecimento existente ao seu dispor, construído pelos participantes vivos e mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova técnica. Nesta classificação podem ser incluídos os indivíduos que fizeram as primeiras invenções, tais como o primeiro homem que produziu o fogo através do atrito da madeira seca; ou o primeiro homem que fabricou a primeira máquina capaz de ampliar a força muscular, o arco e a flecha etc. São eles gênios da mesma grandeza de Santos Dumont e Einstein. Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje consideradas modestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isto, talvez nem mesmo a espécie humana teria chegado ao que é hoje.
(LARAIA, R. B. Cultura,um conceito antropológico, RJ: Jorge Zahar, 2005, pgs. 48-49)
 
Sabemos que o ser humano apesar de viver em cultura e ter se afastado de seu comportamento geneticamente determinado (= instintos), não perdeu seus instintos. Entretanto, a maneira de satisfazer às necessidades vitais é feita de acordo com a cultura. Alimentação, horários de sono, atividade sexual, proteção, ou qualquer outro item que faça parte da sobrevivência de nossa espécie possui regras culturais para serem satisfeitos.

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