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Conceitos de Indivíduo e Sociedade nas Ciências Sociais

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Fundamentos das ciências sociais / Aula 1 - Os conceitos socioantropológicos de indivíduo e sociedade
Introdução
A sociedade faz o homem ou o homem faz a sociedade?
A resposta dessa questão, bastante complexa, só é possível por meio do debate que as Ciências Sociais, ao longo de trajetória, vêm realizando.
O primeiro passo para respondê-la é compreender os conceitos de indivíduo e sociedade na perspectiva das Ciências Sociais. É o que faremos a seguir.
Objetivos 
Estabelecer a importância da disciplina para a formação humanística, crítica e ampla sobre a realidade social.
Avaliar a contribuição da disciplina na sua capacitação para a vida profissional e acadêmica, em especial no que se refere aos exames da OAB e do Enade.
Definir as Ciências Sociais e descrever as áreas de conhecimento que a constituem.
Estabelecer as interfaces entre as Ciências Sociais e os demais campos do conhecimento.
Identificar a relação indivíduo/sociedade e sua importância para a vida social.
O objeto das Ciências Sociais
As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências Humanas e apresentam métodos próprios de investigação dos fenômenos que analisam.
Você saberia dizer quais são as três áreas que formam o conjunto de saberes das Ciências Sociais?
Nice_Media / Shutterstock, hxdbzxy / Shutterstock, Rawpixel.com / Shutterstock, Dean Drobot / Shutterstock, Phonlamai Photo / Shutterstock e livinglegend / Shutterstock
Marque a opção correta:
Filosofia, Sociologia e Geografia.
Sociologia, Biologia e Ciências políticas.
Antropologia, Sociologia e Filosofia.
Ciências políticas, Sociologia e Antropologia.
Biologia, Antropologia e Filosofia.
As áreas constitutivas das Ciências Sociais
Saiba Mais
Clique e assista a um vídeo sobre ciência política. https://www.youtube.com/watch?v=Sg5a0kq7HoU
Sociologia
A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações entre os diversos fenômenos sociais.
Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas, notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc.
Antropologia
Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo e relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o exótico, o distante, em familiar.
Em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos.
Ciência Política
Como o próprio nome já diz, esta área analisa as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade e dominação são estudados por esta ciência. Analisam-se assim as diferenças entre povo, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecida como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território.]
Qual a importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade?
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento da compreensão crítico-reflexiva da realidade.
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações socioantropológicas, à medida que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias.
	Você saberia definir a importância desses trabalhos atuais?
GABARITO
Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamento de ações com vistas à atuação na vida social.
O INDIVÍDUO, A CULTURA E A SOCIEDADE
Ralph Linton 
 
 
 
Por ora é suficiente te definir cultura como a maneira de viver de uma sociedade. Esta maneira de viver compreende inúmeros pormenores referentes ao comportamento, mas entre eles há sempre fatores em comum. Representam todos a atitude normal e previsível de qualquer dos membros da sociedade diante de uma dada situação. Em consequência, apesar do número infinito de pequenas variantes que podem ser encontradas na atitude de alguns indivíduos, ou mesmo nas atitudes de um mesmo indivíduo em momentos diferentes, verificar-se-á que a maior parte das pessoas, em uma sociedade, reagir a geralmente da mesma forma a uma situação dada. Por exemplo: na nossa sociedade, quase toda gente se alimenta três vezes por dia e toma uma dessas refeições aproxima da mente a o meio-dia. Além disso, aqueles que não seguem esta rotina são considerados esquisitos. Um tal consenso sobre a conduta e a opinião constitui um padrão cultural; a cultura, como um todo, é um conjunto mais ou menos organizado de tais padrões. 
A cultura, como um todo, proporciona aos membros de uma sociedade um guia indispensável em todos os campos da vida. Sem ela, tanto a sociedade como seus membros estariam impossibilitados de funcionar eficientemente. O fato de a maioria dos membros da sociedade reagir a uma dada situação de determinada forma capacita qualquer um a prever o comportamento, com um alto grau de probabilidade, se bem que jamais co m absoluta certeza. Essa previsão é um pré- requisito em t odo tipo de vi da social organi zada. Se o i ndivíduo vai trabalhar p ara ou tros, precisa estar seguro de ser recompensad o. A existê ncia dos padrões cu lturais l he pr oporciona essa segura nça, com seu fu ndamento na aprova ção social e no poder conseqüente da pr essão social sobre aqueles que n ão se lhes amoldam. Alé m disso, a través de l onga e xperiência e, em g rande parte, pelo e mpreg o do método de tentat iva e erro, os padrões cul turais, característicos de qualq uer soci edade vêm- se ajustando uns aos outr os estrei tamente: o i ndivíduo terá bons resultados se os acei tar e maus, o u mes mo nega tivo s, se não o fizer. O velho pr ovérbio “estan do em Ro ma age co mo ro mano" está ba seado em obser vações sensatas, desde que em Ro ma, co mo e m q ual quer outra socied ade, as coisas se org anizam e m ter mos de padrõ es culturai s lo cais, com pouc os me io s de libertaçã o dos mesmos. U m e xempl o seri am as di fi cul da des de u m i ngl ês à procur a de seu chá numa ci dad ezinha do Oeste médi o dos Estad os Unidos. A existên cia de pa drões cult urais é necessária tanto para o funciona men to de qualquer socie dade, como para sua conservação. A estrutura, isto é, o sistema de organi zação de uma soci edad e é, em si , u m aspecto da cultura. E mb ora com pro pósi tos d escri tivos po ssamos recor rer a analogia s espaci ais e reduzir umtal si stema a ter mos de posi ções, estas posi ções não pode m ser defi nidas de maneira adequad a a nã o ser e m função da conduta qu e se e sper a d e se us ocupantes. Certa s ca racterísticas de i dade, sexo, relaçõe s biol ógicas podem co nstituir pré-requisitos par a a ocup ação de deter mi nad as posições pelo indivíd uo, mas mes mo a d esig nação de tai s pré-requisito s constitui uma questão, cul tur al. Assim, as po si ções de pai e filh o e m nosso si stema soci al não pod em ser e sclareci das por n enhuma afi rmação relativa às relações biológicas existentes entre ambos. É preci so relacionar o comporta mento cul turalmente padronizado dos ocupant es dessas posições, u m em r ela ção a outro. Quando se tr ata de posições tais como a s de empregador e empregado, torna-se impossível defini-Ias, a não ser em termos daquil o que se espe ra qu e os ocu pantes das d uas posiçõ es façam (ou possi velmente façam) u m pel o ou tro. Uma posi ção em u m si stema soci al, tã o difer ente d o in divíduo ou i ndivíduos q ue po ssam ocupá- la em u m cer to mo mento, é realmente u ma confi guração de p adrões cul turai s. Da mesma for ma, o si stema soci al como u m todo é u ma configuração ai nda mai s e xtensa de padrões cul turai s. Esta configuração pr oporci ona ao indi víduo técnicas para a vida do grupo e pa ra a inte ração social, da mesma for ma qu e o utras configuraçõ es d e padrõ es, também dentr o da cultura total, lhe p roporcionam técni cas pa ra explora ção do meio natural ou para proteger-se de p oderes sobrenaturais. As soci edades se perpetuam ensi nando aos indivíduos de cada geração os padrõ es cul turai s referentes às posi ções qu e se e spera que ocupem na 
Qual é o seu papel como indivíduo na sociedade?
A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual você se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com determinados atributos preconcebidos.
O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura. Segundo Ralph Linton (“O indivíduo, a cultura e a sociedade”), em circunstâncias normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e consequente integração na estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do todo e mais segura sua recompensa.
Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança. Como uma simples unidade no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo, mas também ajuda a transformá-lo quando há necessidade. Desde que nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas. 
Sylverarts Vectors / Shutterstock
O papel do indivíduo na sociedade
Como nos ensina Albert Einstein (em seu artigo “Porquê o Socialismo?”), o homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social:
	Porquê o Socialismo?
por Albert Einstein
Será aconselhável para quem não é especialista em assuntos económicos e sociais exprimir opiniões sobre a questão do socialismo? Eu penso que sim, por uma série de razões. 
Consideremos antes de mais a questão sob o ponto de vista do conhecimento científico. Poderá parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas em ambos os campos tentam descobrir leis de aceitação geral para um grupo circunscrito de fenómenos de forma a tornar a interligação destes fenómenos tão claramente compreensível quanto possível. Mas, na realidade, estas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis gerais no campo da economia torna-se difícil pela circunstância de que os fenómenos económicos observados são frequentemente afectados por muitos factores que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência acumulada desde o início do chamado período civilizado da história humana tem sido – como é bem conhecido – largamente influenciada e limitada por causas que não são, de forma alguma, exclusivamente económicas por natureza. Por exemplo, a maior parte dos principais estados da história ficou a dever a sua existência à conquista. Os povos conquistadores estabeleceram-se, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Monopolizaram as terras e nomearam um clero de entre as suas próprias fileiras. Os sacerdotes, que controlavam a educação, tornaram a divisão de classes da sociedade numa instituição permanente e criaram um sistema de valores segundo o qual as pessoas se têm guiado desde então, até grande medida de forma inconsciente, no seu comportamento social.
 Mas a tradição histórica é, por assim dizer, coisa do passado; em lado nenhum ultrapassámos de facto o que Thorstein Veblen chamou de “fase predatória” do desenvolvimento humano. Os factos económicos observáveis pertencem a essa fase e mesmo as leis que podemos deduzir a partir deles não são aplicáveis a outras fases. Uma vez que o verdadeiro objectivo do socialismo é precisamente ultrapassar e ir além da fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência económica no seu actual estado não consegue dar grandes esclarecimentos sobre a sociedade socialista do futuro. 
Segundo, o socialismo é dirigido para um fim sócio-ético. A ciência, contudo, não pode criar fins e, muito menos, incuti-los nos seres humanos; quando muito, a ciência pode fornecer os meios para atingir determinados fins. Mas os próprios fins são concebidos por personalidades com ideais éticos elevados e – se estes ideais não nascerem já votados ao insucesso, mas forem vitais e vigorosos – adoptados e transportados por aqueles muitos seres humanos que, semi-inconscientemente, determinam a evolução lenta da sociedade.
Por estas razões, devemos precaver-nos para não sobrestimarmos a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos; e não devemos assumir que os peritos são os únicos que têm o direito a expressarem-se sobre questões que afectam a organização da sociedade.
 
Inúmeras vozes afirmam desde há algum tempo que a sociedade humana está a passar por uma crise, que a sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico desta situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou mesmo hostis em relação ao grupo, pequeno ou grande, a que pertencem. Para ilustrar o meu pensamento, permitam-me que exponha aqui uma experiência pessoal. Falei recentemente com um homem inteligente e cordial sobre a ameaça de outra guerra, que, na minha opinião, colocaria em sério risco a existência da humanidade, e comentei que só uma organização supra-nacional ofereceria protecção contra esse perigo. Imediatamente o meu visitante, muito calma e friamente, disse-me: “Porque se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”
 
Tenho a certeza de que há tão pouco tempo como um século atrás ninguém teria feito uma afirmação deste tipo de forma tão leve. É a afirmação de um homem que tentou em vão atingir um equilíbrio interior e que perdeu mais ou menos a esperança de ser bem sucedido. É a expressão de uma solidão e isolamento dolorosos de que sofre tanta gente hoje em dia. Qual é a causa? Haverá uma saída?
 
É fácil levantar estas questões, mas é difícil responder-lhes com um certo grau de segurança. No entanto, devo tentar o melhor que posso, embora esteja consciente do facto de que os nossos sentimentos e esforços são muitas vezes contraditórios e obscuros e que não podem ser expressos em fórmulas fáceis e simples. 
O homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social. Enquantoser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus desejos pessoais, e desenvolver as suas capacidades inatas. Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantess, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. Apenas a existência destes esforços diversos e frequentemente conflituosos respondem pelo carácter especial de um ser humano, e a sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade. É perfeitamente possível que a força relativa destes dois impulsos seja, no essencial, fixada por herança. Mas a personalidae que finalmente emerge é largamente formada pelo ambinte em que um indivíduo acaba por se descobrir a si próprio durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição dessa sociedade, e pelo apreço por determinados tipos de comportamento. O conceito abstracto de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações directas e indirectas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indíviduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade. É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”. 
É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um facto da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e abelhas é reduzido ao mais pequeno pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as interrelações dos seres humanos são muito variáveis e susceptíveis de mudança. A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia; nas obras de arte. Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar a sua vida através da sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade conscientes podem desempenhar um papel.
 
O homem adquire à nascença, através da hereditariedade, uma constituição biológica que devemos considerar fixa ou inalterável, incluindo os desejos naturais que são característicos da espécie humana. Além disso, durante a sua vida, adquire uma constituição cultural que adopta da sociedade através da comunicação e através de muitos outros tipos de influências. É esta constituição cultural que, com a passagem do tempo, está sujeita à mudança e que determina, em larga medida, a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna ensina-nos, através da investigação comparativa das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode divergir grandemente, dependendo dos padrões culturais dominantes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto que aqueles que lutam por melhorar a sorte do homem podem fundamentar as suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, devido à sua constituição biológica, a exterminarem-se uns aos outros ou a ficarem à mercê de um destino cruel e auto-infligido.
 
Se nos interrogarmos sobre como deveria mudar a estrutura da sociedade e a atitude cultural do homem para tornar a vida humana o mais satisfatória possível, devemos estar permanentemente conscientes do facto de que há determinadas condições que não podemos alterar. Como mencionado anteriormente, a natureza biológica do homem, para todos os objectivos práticos, não está sujeita à mudança. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos criaram condições que vieram para ficar. Em populações com fixação relativamente densa e com bens indispensáveis à sua existência continuada, é absolutamente necessário haver uma extrema divisão do trabalho e um aparelho produtivo altamente centralizado. Já lá vai o tempo – que, olhando para trás, parece ser idílico – em que os indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente auto-suficientes. É apenas um pequeno exagero dizer-se que a humanidade constitui, mesmo actualmente, uma comunidade planetária de produção e consumo.
 
Cheguei agora ao ponto em que vou indicar sucintamente o que para mim constitui a essência da crise do nosso tempo. Diz respeito à relação do indivíduo com a sociedade. O indivíduo tornou-se mais consciente do que nunca da sua dependência relativamente à sociedade. Mas ele não sente esta dependência como um bem positivo, como um laço orgânico, como uma força protectora, mas mesmo como uma ameaça aos seus direitos naturais, ou ainda à sua existência económica. Além disso, a sua posição na sociedade é tal que os impulsos egotistas da sua composição estão constantemente a ser acentuados, enquanto os seus impulsos sociais, que são por natureza mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, seja qual for a sua posição na sociedade, sofrem este processo de deterioração. Inconscientemente prisioneiros do seu próprio egotismo, sentem-se inseguros, sós, e privados do gozo naïve, simples e não sofisticado da vida. O homem pode encontrar sentido na vida, curta e perigosa como é, apenas dedicando-se à sociedade.
A anarquia económica da sociedade capitalista como existe actualmente é, na minha opinião, a verdadeira origem do mal. Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos do seu trabalho colectivo – não pela força, mas, em geral, em conformidade com as regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é importante compreender que os meios de produção – ou seja, toda a capacidade produtiva que é necessária para produzir bens de consumo bem como bens de equipamento adicionais – podem ser legalmente, e na sua maior parte são, propriedade privada de indivíduos.
 
Para simplificar, no debate que se segue, chamo “trabalhadores” a todos aqueles que não partilham a posse dos meios de produção – embora isto não corresponda exactamente à utilização habitual do termo. O detentor dos meios de produção está em posição de comprar a mão-de-obra. Ao utilizar os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista. A questão essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o que recebe, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que o contrato de trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe é determinado não pelo valor real dos bens que produz, mas pelas suas necessidades mínimas e pelas exigências dos capitalistas para a mão-de-obra em relação ao número de trabalhadores que concorrem aos empregos. É importante compreender que, mesmo em teoria, o pagamento do trabalhador não é determinado pelo valor do seu produto.
 
O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamentefinanciados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses das secções sub-privilegidas da população. Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, directa ou indirectamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objectivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos.
 
Assim, a situação predominante numa economia baseada na propriedade privada do capital caracteriza-se por dois principais princípios: primeiro, os meios de produção (capital) são privados e os detentores utilizam-nos como acham adequado; segundo, o contrato de trabalho é livre. Claro que não há tal coisa como uma sociedade capitalistapura neste sentido. É de notar, em particular, que os trabalhadores, através de longas e duras lutas políticas, conseguiram garantir uma forma algo melhorada do “contrato de trabalho livre” para determinadas categorias de trabalhadores. Mas tomada no seu conjunto, a economia actual não difere muito do capitalismo “puro”.
 
A produção é feita para o lucro e não para o uso. Não há nenhuma disposição em que todos os que possam e queiram trabalhar estejam sempre em posição de encontrar emprego; existe quase sempre um “exército de desempregados. O trabalhador está constantemente com medo de perder o seu emprego. Uma vez que os desempregados e os trabalhadores mal pagos não fornecem um mercado rentável, a produção de bens de consumo é restrita e tem como consequência a miséria. O progresso tecnológico resulta frequentemente em mais desemprego e não no alívio do fardo da carga de trabalho para todos. O motivo lucro, em conjunto com a concorrência entre capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital que conduz a depressões cada vez mais graves. A concorrência sem limites conduz a um enorme desperdício do trabalho e a esse enfraquecimento consciência social dos indivíduos que mencionei anteriormente.
Considero este enfraquecimento dos indivíduos como o pior mal do capitalismo. Todo o nosso sistema educativo sofre deste mal. É incutida uma atitude exageradamente competitiva no aluno, que é formado para venerar o sucesso de aquisição como preparação para a sua futura carreira.
 
Estou convencido que só há uma forma de eliminar estes sérios males, nomeadamente através da constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objectivos sociais. Nesta economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados de forma planeada. Uma economia planeada, que adeque a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas, tentaria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa actual sociedade. 
No entanto, é necessário lembrar que uma economia planeada não é ainda o socialismo. Uma tal economia planeada pode ser acompanhada pela completa opressão do indivíduo. A concretização do socialismo exige a solução de problemas socio-políticos extremamente difíceis; como é possível, perante a centralização de longo alcance do poder económico e político, evitar a burocracia de se tornar toda-poderosa e vangloriosa? Como podem ser protegidos os direitos do indivíduo e com isso assegurar-se um contrapeso democrático ao poder da burocracia?
 
A clareza sobre os objectivos e problemas do socialismo é da maior importância na nossa época de transição. Visto que, nas actuais circunstâncias, a discussão livre e sem entraves destes problemas surge sob um tabu poderoso, considero a fundação desta revista como um serviço público importante. 
- x -
Einstein escreveu este trabalho especialmente para o lançamento da Monthly Review , cujo primeiro número foi publicado em Maio de 1949. Tradução de Anabela Magalhães. 
O original deste artigo encontra-se em http://www.monthlyreview.org/598einst.htm . 
Este artigo encontra-se em http://resistir.info
Fonte: Artit Fongfung / Shutterstock
O conceito abstrato de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores.
O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade.
É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”.
Saiba Mais
Confira o samba "Chico Brito", composto por Wilson Batista e Afonso Teixeira em 1949, e popularizado na voz de Paulinho da Viola.
A narrativa apresentada mostra o malandro Chico Brito, indivíduo que vive na criminalidade e é preso a toda hora. Os autores, porém, não atribuem sua condição a uma falha de caráter. Chico era, em princípio, "tão bom" como qualquer outra pessoa, mas o "sistema" não lhe deixara outra oportunidade de sobrevivência que não a marginalidade.
https://www.youtube.com/watch?v=Ow7kqGeEzoM&feature=youtu.be
1 - Considerando a proposta da música e a leitura dos textos sugeridos, faça uma breve análise sobre a influência da sociedade em nossa vida. O homem faz a sociedade ou a sociedade faz o homem?
2 - Pesquise em jornais, revistas ou livros casos clássicos em que se evidencia a mudança de comportamento do indivíduo em virtude da influência do meio social em que vive.
Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock
Saiba Mais
Outra música que pode ser analisada sob esta perspectiva que estudamos é "O Meu Guri", composta por Chico Buarque em 1981.
Clique e assista ao vídeo da música, na pungente interpretação de Elza Soares, e tente relacionar a letra da canção com as questões abordadas nessa aula.
https://www.youtube.com/watch?v=U-IGJlgLaks&feature=youtu.be
Resumo do conteúdo
Ramos constitutivos das Ciências Sociais;
Relação entre indivíduo e sociedade;
Importância do conhecimento sociológico para a compreensão da realidade social.
Próximos passos
Diferenças entre Ciências Naturais e Ciências Sociais;
Objeto e método das Ciências Sociais;
Como estudar fenômenos sociais.
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