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CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA DISCIPLINA: INTRODUÇÃO GERAL A SOCIOLOGIA EMENTA: As Instituições Sociais. A vida em Sociedade. Processos sociais básicos. Competição e Rivalidade. Conflito e Acomodação. Conflito. Acomodação. Cooperação e Assimilação. Cooperação. Assimilação. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 1. CONCEITO DE SOCIOLOGIA 2. OBJETOS DE ESTUDO 3. DURANTE A IDADE MÉDIA, COM O GRANDE PODER DA IGREJA 4. A SOCIOLOGIA PRÉ-CIENTÍFICA 5. A VISÃO LAICA DA SOCIEDADE E DO PODER 6. A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 7. A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM 8. SOCIALIZAÇÃO, COMUNIDADE E SOCIEDADE 9. SOCIALIZAÇÃO 10. TIPOS DE SOCIEDADES SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL À SOCIOLOGIA INSTITUTO ZAYN Conceito de Sociologia...................................................................................03 Objetos de Estudo..........................................................................................03 Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja..................................04 A Sociologia Pré-Científica.............................................................................05 A visão laica da sociedade e do poder...........................................................06 A Sociologia Clássica.....................................................................................09 A Sociologia de Durkheim..............................................................................10 SOCIALIZAÇÃO, COMUNIDADE E SOCIEDADE.........................................16 Socialização....................................................................................................16 Tipos de Sociedades.......................................................................................19 As Instituições Sociais.....................................................................................22 A vida em Sociedade.......................................................................................23 PROCESSOS SOCIAIS BÁSICOS.................................................................35 Competição e Rivalidade................................................................................35 Conflito e Acomodação...................................................................................36 Conflito............................................................................................................36 Acomodação...................................................................................................37 Cooperação e Assimilação.............................................................................40 Cooperação....................................................................................................40 Assimilação.....................................................................................................43 Referências.....................................................................................................46 A SOCIOLOGIA E SUA HISTÓRIA Conceito de Sociologia A Sociologia é uma ciência que se define não por seu objeto de estudo, mas por sua abordagem, isto é, pela forma com que pesquisa, analisa e interpreta os fenômenos sociais. Objetos de Estudo Segundo Durkheim (1952) os fatos sociais se constituem no objeto da Sociologia. Porém, dizer que o objeto da Sociologia é a sociedade, significa dar ao cientista social um objeto sem limites precisos, amplo demais para que ele possa dar conta. Pois, tudo que existe desde que o homem se reconhece como tal, existe em sociedade. Portanto, não é por fazer parte da sociedade, ou de um meio social, que um fato se torna objeto de pesquisa sociológica. Um acontecimento, ou um comportamento é sociológico quando sobre ele se debruça o sociólogo, tentando entendê-lo nos aspectos que dizem respeito às relações entre os homens e às raízes de seu comportamento. Ciência: Ramo de Conhecimento Durante séculos, o homem pensou sobre si mesmo e sobre o mundo, desenvolveu conhecimentos, estabeleceu relações aplicáveis à vida cotidiana. Foram os gregos que elaboraram a ideia do saber como atividade destinada às descobertas desligadas de uma finalidade prática imediata. Foram eles os primeiros a inventar os rudimentos do que veio a se chamar de ciência. Menos preocupados com a religião e a vida após a morte, foram eles os primeiros a entender o conhecimento como uma necessidade em si mesmo. Enquanto os povos antigos só se interessavam pelo mundo em que viviam como uma janela para entender todo o universo, os gregos criaram as disciplinas e a filosofia, o “amor pelo conhecimento”. Os egípcios elaboraram conhecimentos biológicos e químicos porque acreditavam na ressurreição e queriam conservar os cadáveres. Os gregos disseram que tais conhecimentos não eram domínio da religião, mas da medicina. Assim, iniciaram esse hábito de desenvolver o conhecimento através de uma atividade abstrata, desligada de uma aplicabilidade imediata ou de um caráter religioso. Deram às ideias, sobre o que se deve ou não se deve fazer, o nome de ética, ramo do conhecimento que deveria se dedicar a essas questões morais. Se os povos antigos justificavam sua maneira de agir em função do que os deuses queriam, para os gregos isso fazia parte e era resultado da intenção pura e simples de pensar sobre os fatos. Isso não significa que a geometria ou a medicina gregas fossem mais desenvolvidas do que as egípcias, mais que, a partir de então, o homem desvinculara sua curiosidade pelo mundo das preocupações meramente práticas e passara a tratá-la como uma “atividade de espírito”, importante em si mesma e, para muitos, a mais elevada dentre todas. Assim, surgiu uma maneira nova de pensar o “porquê” e o “para quê” das coisas. Surgiu um saber mais desligado das atividades religiosas, ao qual se dedicavam homens não necessariamente responsáveis pelos cultos religiosos. Surgiram os sábios, homens cuja atividade era descobrir os segredos do mundo e do universo. Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja Católica, novamente imperou o saber ligado à religião. Apenas as ordens religiosas, nos mosteiros, guardavam textos sobre a filosofia, geometria e astronomia. A população laica deixou de participar desse saber. Só com o Renascimento é que o homem volta aos textos antigos e redescobre o prazer de investigar o mundo, descobrir as leis de sua organização como atividade com valor em si mesma, independente de suas implicações religiosas. Nos últimos quatrocentos anos, em particular a partir do século XVII, vimos assistindo ao crescente progresso desse conhecimento – a ciência – destinado à descoberta das relações entre as coisas, das leis que regem o mundo natural. Aprimoram-se as técnicas e os utensílios de medição, e a imprensa e demais meios de comunicação levaram a uma transmissão cada vez maior dos conhecimentos. No seio desse movimento de ideias, surgiu no século XIX uma ciência nova – a Sociologia, a ciência da sociedade. Como a medicina e a geometria entre os gregos, o surgimento da Sociologia significou não o aparecimento da preocupação do homem com o seu mundo e sua vida em grupo, pois isso sempre existiu em qualquer das religiões antigas, mas a separação dessa forma de pensar do vínculo com as tradições morais e religiosas. Desencadeou-se então a preocupação com as regras que organizavam a vida social. Regras que pudessem ser observadas, medidas e comprovadas, capazes assim de dar ao homem explicações plausíveis num mundo onde passou a imperar o racionalismo, isto é, a crença no poder da razão humana de alcançar a verdade. Regras, enfim, que tornassem possível prever e controlar os fenômenos sociais. Portanto, o aparecimento da Sociologia significou que as questões relativas às relações entre os homens deixaram de ser apenas matéria religiosa: passaram a interessar também aos cientistas. A constituiçãodesse campo do conhecimento significou, antes de mais nada, que as relações entre os homens mereciam ser conhecidas e formuladas por uma nova forma de linguagem e discurso – o científico –, o qual, na sociedade moderna, adquiriu o estatuto de “verdade”. A partir de então o homem começou a desenvolver métodos e instrumentos de análise capazes de traduzir sua experiência social de maneira científica. Isso equivaleu a criar, como nas demais ciências, métodos de averiguação e medição e a fazer formulações sobre a sociedade que pudessem ser comprovadas empiricamente – isto é, através de observação e experimentação –, de modo a tornar a ação social humana explicável em termos de regularidades e previsões. O pensamento relativo às ligações do homem com seus semelhantes passava assim a outra esfera de abstração, a outra maneira de formular problemas, ligada à necessidade de descobrir leis de interpretação e previsão de acontecimentos. a) Renascimento A Sociologia Pré-Científica Movimento filosófico e artístico dos séculos XV e XVI que teve como principal centro difusor a Itália e alcançou, sobretudo, a Inglaterra, a França e a Alemanha. Foi um movimento de redescoberta do humanismo greco-latino. Foi uma primeira transformação do pensamento medieval, sempre voltado para a religião, para a vida pós-morte. O Renascimento foi, portanto, o retorno da ideia de homem com toda a importância das Antiguidades Clássica, Grega e Latina. Para alguns historiadores, o Renascimento significou, principalmente, o reviver da cultura e da erudição. Com o surgimento da imprensa e das universidades, o burguês inculto teve acesso aos antigos textos dos sábios. Outros viram no Renascimento um surto de “cultura de ostentação”, à qual teve acesso a burguesia, enriquecida pelo comércio e desejosa de mostrar à (1478 – 1535), nasceu em Londres, idealizou um lugar sem problemas, onde todas as soluções foram encontradas: a Utopia. Uma ilha cujo nome significa “nenhum lugar”, onde existe harmonia e equilíbrio, onde estão reunidos a verdade e o bem. Desse modo, o pensamento social no Renascimento se expressa na criação imaginária de mundos ideais que simbolizariam como a realidade deveria ser. Utopia é uma ilha onde reina a igualdade e a concórdia. Todos vivem as mesmas condições de vida e executam em rodízio os mesmos trabalhos. Seria A Utopia uma obra sociológica? Não no sentido moderno ou científico do conceito, mas como expressão das preocupações do filósofo com a vida social e com os problemas de sua época. Todavia ou, como o próprio autor chama, o “regime social” dos utopienses demonstra raramente a preocupação com o estabelecimento de regras sociais cujo ideal é a sedimentação de um poder absoluto. Maquiavel (1996) acredita que um bom governo depende de pulso forte e mente sábia, aliados a qualidades pessoais como astúcia, coragem e decisão. Em seu livro, mostra como deve agir o soberano para alcançar e preservar o poder, como manipular a vontade popular e como usufruir de seus poderes e de seus aliados. Faz uma análise clara das bases em que se sustenta o poder político, como conseguir exércitos fiéis e corajosos, como castigar os inimigos, como recompensar os aliados e como destruir, na memória do povo, a imagem dos antigos líderes. A visão laica da sociedade e do poder Em relação ao desenvolvimento do pensamento sociológico, Maquiavel teve mais êxito do que Thomas Morus, na medida em que seu objetivo foi conhecer a realidade tal como se lhe apresentava, em vez de imaginar como ela deveria ser. De qualquer maneira, nas obras de Thomas Morus e de Maquiavel, percebemos como as relações sociais voltam, após a predominância quase absoluta do pensamento místico e teológico da Idade Média, a ser objeto de estudo e análise. A vida dos homens já aparece, nessas obras, como resultado das condições econômicas e políticas e não de sua fé ou de sua consciência individual. Além disso, esses filósofos expressam os novos valores burgueses, ao colocarem os destinos da sociedade e sua boa organização nas mãos de um indivíduo que se distingue por características pessoais. A monarquia proposta no Renascimento não se assenta na legitimidade do sangue ou da linhagem, na herança ou na tradição, mas na capacidade pessoal do governante e sua sabedoria. Nessa ideia de monarquia, se baseia a aliança que a burguesia estabelece com os reis para o surgimento dos estados nacionais, onde a ordem social será tanto mais atingível quanto mais o soberano agir como estadista, pondo em marcha às forças econômicas do capitalismo em formação. b) A ilustração e a sociedade contratual: uma nova etapa do pensamento burguês O Renascimento exalta a natureza e os prazeres da vida terrena, fossem a glória ou o simples prazer dos sentidos, apesar de ainda ter um certo caráter religioso. No século XVII, a burguesia avança na concepção de uma forma de pensar própria, capaz de transformar o conhecimento num processo que desses frutos em termos de utilidade prática. Era preciso preparar a sociedade para receber os resultados do trabalho bem dirigido. Os próprios sábios deveriam se interessar em desenvolver conhecimentos de aplicação prática. Novos valores guiando a vida social para a modernização da vida, maior empenho das pesquisas e do saber para conquistar avanços técnicos, melhora nas condições de vida – tudo isso somado levou a um novo surto de ideias conhecido pelo nome de ilustração (ela foi essencialmente pragmática e liberal). Fortalecida, a burguesia propunha agora formas de governo baseadas na legitimidade popular. Conclamava o povo a aderir à defesa do liberalismo econômico, da igualdade jurídica e do sufrágio universal. A filosofia social nos séculos XVII e XVIII O pensamento da ilustração defendia a ideia de que a economia era regida por leis naturais de oferta e procura que tendiam a estabelecer, de maneira mais eficiente do que os decretos reais, o melhor preço, o melhor produto e o melhor contrato através da livre concordância. O controle das relações humanas surgia, portanto, da própria dinâmica da vida econômica e social, dotada de uma racionalidade intrínseca cuja descoberta era a principal meta dos estudos científicos. A racionalidade estava na origem natural e física das leis de organização da sociedade humana e na base da própria atividade humana e do conhecimento, como defendiam René Descartes e Denis Diderot. O racionalismo cartesiano se expressa pela frase “penso, logo existo”, na qual mostrava ser a razão a essência do ser humano. No plano social, o racionalismo manifestava-se na noção de que as sociedades se baseavam em acordos mútuos entre os indivíduos que as compunham. JEAN – JACQUESROUSSEAU (1712 - 1778) nasceu em Genebra. Afirmava que a base da sociedade estava no interesse comum pela vida social, no consentimento unânime dos homens em renunciar as suas vontades particulares em favor de toda a comunidade. JOHN LOCKE (1632 - 1704) – Inglês. Para ele a contratação estabelecia, entre outras coisas, as formas de poder, as garantias de liberdade individual e o respeito à propriedade. Seus princípios deveriam ser redigidos sob a forma de uma constituição. Os filósofos da ilustração só conseguiram conceber a ideia de sociedade como somatório de individualidades. O comportamento social decorria da manifestação explícita das vontades individuais. ADAM SMITH ( 1723 - 1790) nasceu na Escócia, fundador da ciência econômica. Demonstrou que a análise científica pode ir além do que era expressamente manifesto nas vontades individuais. Em sua análise sobre a riqueza das nações, descobriu no trabalho, ou seja, na produtividade, a grande fonte de riqueza. Adam Smith (1776) revelara a importância do trabalho ao pensar na sociedade não como um conjunto abstrato de indivíduos dotados de vontade e liberdade, tal como Rousseau e Locke, mas ao aprendere interpretar a realidade inglesa de seu tempo. A Revolução Industrial estava em pleno andamento e seus frutos já se anunciavam. c) A crise das explicações religiosas e o triunfo da ciência Vários aspectos da filosofia da ilustração preparam o surgimento das ciências sociais no século XIX e um deles foi a crescente credibilidade alcançada pelo pensamento científico. As ideias de progresso, racionalismo e vitória do homem sobre a natureza exerceram todo seu encanto sobre a mentalidade da época. Esse pensamento científico e racional via a sociedade como um componente da natureza. A sociedade, como a natureza, poderia ser explicada, conhecida e controlada. Começaram, então, as discussões em torno do método científico: a indução (manipulação empírica) e a dedução (racional – encadeamento lógico de hipóteses elaboradas). A existência da Igreja como instituição social foi discutida por alguns pensadores e sociólogos do século XIX. Émile Durkheim a considerava um meio de integrar os homens em torno de ideias comuns. Karl Marx a julgava responsável por uma falsa imagem dos problemas humanos, ligada à acomodação e à submissão pregadas por sua doutrina. A Sociologia Clássica a) Positivismo – Uma primeira forma de pensamento social. A primeira corrente de pensamento sociológico propriamente dita foi o positivismo. A primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do homem e da sociedade tentando explicá-los cientificamente. Seu representante e sistematizador foi o pensador francês Auguste Comte (1798 -1857). Os primeiros cientistas sociais, através do método de investigação, tentaram explicar que as ciências sociais derivam das ciências físicas. O próprio Comte deu inicialmente o nome de “física social” às suas análises da sociedade, antes de criar o termo “Sociologia”. O positivismo foi também chamado de organicismo, porque concebia a sociedade como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionam harmonicamente, segundo um método físico e mecânico. Charles Darwin (1859), cientista inglês, nessa época muito contribuiu com sua teoria da evolução biológica das espécies animais. Suas ideias transpostas para as análises da sociedade fizeram surgir o Darwinismo social, isto é, a crença de que as sociedades mudariam e evoluiriam sempre de um estágio inferior para um outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adequado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedade e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos. Em meio a tudo isso e devido ao desenvolvimento industrial europeu, repleto de conflitos sociais, os positivistas responderam aos anseios com ideias de ordem e progresso, em que procuraram ajudar todos os indivíduos para as condições estabelecidas que garantiam o melhor funcionamento da sociedade. Comte (1840) identificou na sociedade esses dois movimentos vitais. Chamou de dinâmico o que representava a passagem para formas mais complexas de existência, como a industrialização, e de estático, o responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social, isto é, as instituições que mantinham a coesão e garantiam o funcionamento da sociedade, família, religião, linguagem, direito, etc. O positivismo foi, portanto, o pensamento que glorificou a sociedade européia do século XIX, em franca expansão. Buscava justificar, através de um método científico adequado, os padrões burgueses e industriais de organização social. Procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do todo social. A Sociologia de Durkheim Comte – O Pai da Sociologia Durkheim – um de seus primeiros grandes teóricos. Durkheim e seus colaboradores se esforçaram em emancipar a Sociologia das filosofias sociais e constituí-la definitivamente como disciplina científica rigorosa. É ele quem coloca que os fatos sociais se constituem no objeto da Sociologia. Características dos fatos sociais: ÉMILE DURKHEIM (1858 – 1917) Coerção social – força que os fatos exercem sobreos indivíduos, o grau de coerção se torna evidente pelas sanções. São exteriores aos indivíduos, ou seja, atuam sobreos indivíduos independentemente de sua vontade. Ex: Regras sociais, costumes, leis. Generalidade – é social todo fato que é geral. Manifestam uma natureza coletiva. Ex: A moral, formas de habilitação. Para garantir a objetividade do fato social é preciso encarar os fatos sociais como coisas. Para Durkheim, a Sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade, como também encontrar remédios para a vida social. A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social e a vontade coletiva. A harmonia é conseguida através do consenso social, a “saúde” do organismo social. Os fatos patológicos são considerados transitórios e excepcionais. Nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos. Iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência, criada na França. Transferiu-se em 1902 para Sorbonne, para onde levou inúmeros cientistas, entre eles seu sobrinho Marcel Mauss, reunindo-os num grupo que ficou conhecido como escola sociológica francesa. Suas principais obras foram: Da divisão do trabalho social, as regras do método sociológico, O suicídio, Formas elementares da vida religiosa, Educação e Sociologia, Sociologia e Filosofia e Lições de Sociologia (obra póstuma). Morreu em Paris. Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Ele chamou isso de consciência coletiva. É ela que vai revelar o tipo psíquico da sociedade. A consciência coletiva é, em certo sentido, a forma moral vigente na sociedade. Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda, como objeto, comparar as diversas sociedades. Ele se distingue dos demais positivistas, porque suas ideias ultrapassaram a simples reflexão filosófica e chegavam a constituir um todo organizado e sistemático de pressupostos teóricos e metodológicos sobre a sociedade. b) A Sociologia Alemã: Max Weber Na Alemanha o positivismo teve menor repercussão. A grande fonte filosófica de lá foi o idealismo e Kant e Hegel, que exerceram grande influência sobre o pensamento sociológico desenvolvido por Weber e outros. O conhecimento para a filosofia alemã é fruto da relação da razão com os objetos do mundo, ou seja, os conhecimentos não são apenas vividos, mas também pensados. O positivismo valoriza apenas a lei de evolução, a generalização e a comparação entre formações sociais. MAX WEBER (1864 – 1920) – nasceu na cidade de Erfurt. Figura dominante na sociologia alemã, tendo forte formação histórica, se opôs a essa concepção. Para ele, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das sociedades. Seu objetivo de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido. O homem dá sentido à ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Para a sociologia Weberiana os acontecimentos que integram o social têm origem nos indivíduos. O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber relembra sempre que, embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão. Seus trabalhos abriram as portas para as particularidades históricas das sociedades e para a descoberta do papel da subjetividade na ação e na pesquisa social. c) Karl Marxe a História da Exploração do Homem (1818-1883) MATERIALISMO HISTÓRICO – a corrente mais revolucionária do pensamento social nas consequências teóricas e na prática social que propõe. MARX – não quis apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social. O Capital destinava-se a todos os homens, não apenas aos estudiosos da economia, da política e da sociedade. TEORIA MARXISTA – dimensão de ideal revolucionário e ação política efetiva. Influências Básicas: (Marx) a. Leitura crítica da Filosofia de Hegel (observou eaplicou o método dialético de modo peculiar); b. Destacou o pioneirismo dos críticos da sociedadeburguesa (Saint-Simon, Fowier e Proudhon), mas reprovava o “utopismo”; c. Crítica à obra dos economistas clássicos ingleses:Adam Smith e David Ricardo, maior parte de sua obra teórica. Esta trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes: alienação, classes sociais, valor, trabalho, mais-valia e modo de produção. • Alienação – o capitalismo alienou, isto é, separou otrabalhador dos seus meios de produção – as ferramentas, as terras e as máquinas que se tornaram propriedade privada do capitalismo. O homem só pode recuperar sua condição humana através da crítica radical. Essa crítica radical só se efetiva na praxis, isto é, na ação política consciente e transformadora. • Classes Sociais – são formadas pelas desigualdadessociais provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista. As relações entre os homens resultam das relações de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre as classes sociais. Os trabalhadores, para assegurarem sua sobrevivência, vendem sua força de trabalho ao empresário capitalista, que se apropria do produto do trabalho de seus operários. • Operários – alugam “por um certo tempo” a forçade trabalho e, em troca recebem salário (contrato). • Força de trabalho – mercadoria. • Valor – o valor de uma mercadoria era dado pelotempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. • Mais-valia – valor excedente produzido pelooperário. Para Marx (1848), o estudo do modo de produção é fundamental para se compreender como se organiza e funciona uma sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais. A história do homem é a história do desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção. Marx conseguiu imprimir às análises da sociedade a ideia de totalidade. Para Marx, a ciência não dependia da objetividade, mas de uma consciência crítica. Ao invés de sugerir soluções para uma sociedade “doente”, Marx propunha um caminho prático de ação política e um objetivo claro a ser por ele atingido. Substituiu a ideia de “harmonia” pela de universalização dos interesses da classe burguesa, através do Estado. Ser Marxista é não só aceitar o ideal comunista de uma sociedade sem classes e sem propriedade privada, é também seguir seus pressupostos teóricos, procurar exercer a crítica contundente do momento histórico em que se vive, buscar nele as relações de exploração, opressão e expropriação do homem pelo homem e transformar essa crítica em posição ideológica e política. Ser Marxista não é apenas uma questão científica ou política. O marxismo é também uma ética baseada em princípios dignificantes, independentemente de tudo o que se pense sobre a maneira como suas ideias supostamente foram colocadas em prática. Antônio Gramsci (1891-1937) Intelectual italiano, vítima do fascismo, pensador ligado à realidade do seu país e empenhado em descobrir, na tradição nacional, os aspectos positivos que impulsionassem a classe, à qual dedicara a sua vida, a assumir a função dirigente que o processo histórico-social lhe confere. Nos seus escritos do cárcere, que vieram à luz pela primeira vez na Itália, em 1948, Gramsci mostra a importância e a necessidade do livre curso das ideias. Polemizando em todas as direções, jamais considera a posição do adversário um simples alvo contra o qual se deva concentrar o fogo dos argumentos contrários, como jamais revela uma forma qualquer de tolerância passiva de conciliação com qualquer tendência ou ideia contrária aos seus princípios. O que ressalta na sua obra, nesse aspecto, é a consciência de que a posição adversária, quando é digna de consideração, faz parte de uma realidade mais complexa do que aquilo que pode resultar dos argumentos e das palavras. Realidade cujo estudo se volta para ela mesma, a fim de desvendar a substância dos contrastes que o levará, finalmente, a confirmar ou não a validade da posição em causa (concepção dialética). Profundamente ligado aos problemas do seu tempo, Gramsci foi também, homem de ação. Nele o pensador, o político prático e o intelectual fundem-se numa só unidade. Daí que em sua obra as ideias apareçam integralmente como funções de uma ação. Renovação radical da sociedade e da história, o marxismo se identifica, em Gramsci, com a fundação de uma nova cultura. Nesse sentido, ele deve sintetizar dialeticamente a profundidade intelectual do Renascimento com o caráter popular e de massa da Reforma, deve unificar toda a humanidade em uma síntese superior de cultura. Nessa unificação – que permite a formação de uma “subjetividade universal” orgânica, equiparada por Gramsci à objetividade hitórico- concreta – reside a superação do pensamento ideológico e das contradições antagônicas. O socialismo é, assim para Gramsci, a fundação não só de uma economia planificada e socializada, mas de uma nova cultura, de uma comunidade humana real e autêntica. A obra de Gramsci é um poderoso instrumento na luta por esta sociedade. Apesar de fragmentárias, apesar de redigidas sem obediência a um plano preconcebido e sem amplitude nas fontes bibliográficas, as anotações constantes dos Cadernos do Cárcere constituem não só um dos documentos mais preciosos da literatura marxista, mas a expressão de uma das reflexões filosóficas mais fecundas de nosso tempo. Mas a influência de Gramsci não se limita à Itália. Suas concepções marxistas – originais, profundas e ousadas – começam a ser, cada vez mais, discutidas por toda a parte, rompendo o boicote que o stalinismo lhe impusera: na França, na União Soviética, na Alemanha, no Chile, em Cuba, no Brasil, Gramsci influencia todos aqueles que lutam por uma renovação democrática e humanista da cultura e da sociedade. Habermas (Jurgen) Nasceu em 18 de junho de 1929, em Dusseldorf. Dotourou-se em 1954, com uma tese sobre “O absoluto na história – um estudo sobre a filosofia das idades do mundo, de Schelling”. O nome de Habermas está intimamente associado ao da Escola de Frankfurt. Com a morte de seus fundadores – em especial Adorno, Horkheimer e Marcuse – Habermas é considerado o último representante da teoria crítica da sociedade. Interrogando os diversos autores, a partir de Hegel, Habermas mostra como a intuição fundamental de Kant – a de que a objetividade do conhecimento é constituída e condicionada por princípios e categorias a priori – foi sendo obliterada, com isso abrindo caminho para a ilusão objetivista, pela qual a ciência acredita na existência de uma relação não-mediatizada entre a consciência e o real. Mas essa mesma interrogação leva-o a distinguir, em Pierce e Dilthey, a latência, não de todo perdida, da reflexão transcendental, e com isso consegue reconstituir, no primeiro, um a priori fundador das ciências naturais, e no segundo, um a priori fundador das ciências histórico-hermenêuticas. Situando esse a priori, não nas estruturas de uma subjetividade transcendental, como para Kant, mas no processo de autoformação de uma espécie humana que se produz e se reproduz no duplo contexto da ação instrumental e da ação comunicativa (ou interação), Habermas chega à teoria dos interesses cognitivos. Essa teoria torna-se mais precisa quandoHabermas descobre, em Freud, última etapa de sua auto-reflexão fenomenológica, o paradigma de uma ciência crítica, que assume explicitamente seu enraizamento num interesse: o da dissolução das estruturas patológicas que inibem a livre comunicação do sujeito consigo mesmo e com os outros. Admitindo-se que a crítica ao positivismo tenha constituído o fio vermelho que transpassa todos os trabalhos de cunho epistemológico, a crítica do Estado e da sociedade é o fio condutor dos estudos que, sob uma perspectiva político-cultural, procuram elucidar a relação de teoria e prática. O ponto de partida para a apresentação sistemática epistemológica e numa perspectiva político- cultural, da obra de Habermas pode ser o tema que unifica os ambas integradas numa teoria da competência seus diferentes momentos da mediação entre a teoria comunicativa. e a prática. Esse tema é tratado numa perspectiva SOCIALIZAÇÃO, COMUNIDADE E SOCIEDADE Socialização a) A Perpetuação da Sociedade pela Socialização • A sociedade sobrevive aos indivíduos que acompõem. • Socialização é o processo pelo qual os “novatos”de uma sociedade são preparados para o convívio, para adquirir os modos de vida que essa sociedade elaborou através de sucessivas gerações. • Patrimônio cultural – modos de vida de umasociedade: tecnologia, costumes, técnicas de comunicação social, crenças, sentimentos e formas de expressão. • A socialização envolve a aquisição de conhecimentos, de hábitos e de sentimentos próprios da sociedade. Ou seja, é preciso aprender a utilizar os conhecimentos a serviço dos objetivos que a sociedade preza. • Há padrões sociais que quase todos sabem, senteme praticam (universais), porém, há outros que pertencem a determinadas categorias da população (especiais). • Padrões alternativos - modos de agir não-obrigatórios, entre os quais os indivíduos podem escolher (ex: cortar cabelo ou barba, etc.). b) A Formação da Personalidade pela Socialização • No processo de socialização, o homemsimultâneamente tornar-se membro útil da sociedade, e pessoa social, no contexto daquela determinada sociedade e cultura. • A personalidade tanto tem conteúdo social comose forma num processo social; ela tem um substrato físico moldado pela influência de outras pessoas que, por sua vez, funcionam como intermediários da sociedade e da cultura. • A socialização é um processo cumulativo em quenovas aquisições não apagam as anteriores, mas se integram no sistema pessoal já existente. c) Mecanismos Sociais de Socialização São três os fatores de socialização: a. Educação – os mais velhos impõem aos mais novosos ensinamentos, por meio da persuasão, sugestão ou coação. b. Experiências sociais – o que se vê, ouve,etc. Colabora para a sua socialização, aprendendo a apreciar certas coisas e detestar outras, a amar, a desprezar, etc. (aquisição de sentimentos). c. Participação em atividades sociais – fazendo é que se adquire, não apenas hábitos, mas também, conhecimentos sólidos. Comunidade e Sociedade: conceitos e características a) Conceitos “Comunidade” e “Sociedade” são, às vezes,usados como termos antitéticos, referindo-se, este, à associação de pessoas movidas por interesses individuais, por laços contratuais ou quase contratuais, enquanto que aquele designa a fusão de pensamentos e sentimentos num todo que supera as individualidades. Esta terminologia é inconveniente, embora a ideia que exprima seja correta, mas formulada com outras palavras. Note-se, aliás, que o inconveniente foi provocado pela tradução inadequada de vocábulos alemães (empregados por F. Tonnies e M. Weber), os quais correspondem melhor aos termos comunhão e associação. De acordo com a literatura mais moderna, vamosentender por comunidade um conjunto de pessoas que encontra numa determinada área geográfica, em que convive, satisfação de quase todas as suas necessidades sociais. Assim entendido, são comunidades: uma aldeia ou vila, um conjunto de sítios dispostos ao redor de uma capela, escola, venda, etc., uma cidade pequena ou grande. Certos autores estendem o conceito mesmo a nações inteiras. Parece mais útil, entretanto, o seu uso restritivo, como denominação de unidades sociais que façam parte de outras maiores, chamadas sociedades. O termo sociedade é ambíguo, por outro motivoalém do já citado, pois, por um lado, dizemos que vivemos “em sociedade” e, em outros contextos, referimo-nos a uma ou a várias sociedades. No sentido mencionado em primeiro lugar, trata-se de uma nação abstrata. Ou seja, da organização dos indivíduos mediante interação social organizada. Quando, ao contrário, falamos de uma ou de várias determinadas sociedades, temos em mente coletividades concretas de pessoas reais. O conceito que aproxima-se, então, do de “comunidade” significa um conjunto de pessoas que convive em determinado território. Quando este conjunto é muito pequeno (uma tribo isolada de índios), a “sociedade” confunde-se com a comunidade; quando é grande, aquela inclui numerosas “comunidades”. b) Características das Sociedades Um conjunto de fatores importantes faz-nos distinguir o conceito de sociedade dos de “comunidade” e “grupo”. São os seguintes: A duração temporal de uma sociedade ultrapassa o período de vida dos indivíduos componentes. A maioria dos grupos sociais tende a ter existência temporária, mesmo quando sobrevivem por muito tempo. Isso não era previsto com qualquer grau de segurança. Em qualquer fase da sua história, firmas comerciais, associações políticas ou recreativas orgulham- se de sua continuidade, às vezes secular, mas podem encerrar suas atividades da noite para o dia. Certas famílias tornam-se verdadeiramente históricas, mas para chegar a tanto, tiveram que enfrentar numerosas crises e resolvê-las, sempre a curto prazo. As sociedades, ao contrário, parecem-nos eternas, sem que façamos muito por isto e sem que achemos necessário um esforço especial para mantê-las. As sociedades podem mudar profundamente o seu tipo de organização, mas são raras, e nunca previsíveis, as imensas catástrofes em que possam perecer. A sociedade é multifuncional, isto é, ela não serve à satisfação de certas e limitadas necessidades isso ela tem em comum com outras formas de vida social (a família, a comunidade), mas é um atributo indispensável à sua definição. Ela é tal como a comunidade, um grupo local, ou seja, localizado em determinado território, com cuja extensão os seus limites coincidem, pelo menos, aproximadamente (há, às vezes, faixas cuja atribuição a uma ou outra sociedade é incerta, mormente quando limites nacionais não são idênticos com os da distribuição de outros fatores não-políticos). Em virtude da ação conjunta das característicasanteriormente citadas, as sociedades têm cada qual, sua cultura peculiar. Desempenhando múltiplas funções para muitas pessoas que residem próximas uma às outras, e isso por tempo que abrange muitas gerações. As sociedades criam e perpetuam os seus padrões de comportamento, porque estes formam conjuntos de modos de ajustamento a circunstâncias relativamente estáveis, e que se modificam, em geral, apenas paulatinamente. As comunidades menores têm, também, as suas culturas, mas estas são subculturas no contexto da cultura da sociedade a que pertencem e distinguem-se entre si por trações geralmente menos importantes do que aquelas que diferenciam uma sociedade de outra. Outros grupos podem ter algo parecido com uma “cultura’, com as mesmas restrições mencionadas em relação às comunidades e ainda acentuadas pela menor duração no tempo. Tipos de Sociedades Assim como as sociedades que diferem em muitos pontos são múltiplas, igualmente são diferentes as maneiras pelas quais podem ser classificadas. As classificações mais importantes, sociologicamente, são evidentemente aquelas feitas com base em características que repercutem em grande parte da organizaçãoe estrutura social. Apresentaremos algumas frequentemente mencionadas por sociólogos. Um povo possuir, ou não, linguagem escrita influi decisivamente na extensão e flexibilidade do seu sistema de comunicações e na natureza e amplitude do patrimônio cultural que consegue transmitir de uma geração à outra. Os povos letrados podem comunicar-se com pessoas ausentes muito mais perfeitamente que os iletrados, e a tradição e o desenvolvimento gradativo dos conhecimentos científicos não podem passar de proporções relativamente modestas quando não é possível fixar graficamente grande número de fatos, fórmulas e teoremas cuidadosamente redigidos. Assim, o tamanho da sociedade e a complexidade de sua cultura dependem, em parte, da escrita. Muitas outras diferenças entre povos letrados e iletrados decorrem direta ou indiretamente disso. Basta pensarmos numa tribo de índios e na nossa sociedade moderna para encontrarmos inúmeras diferenças que se relacionam com este fator. Sociedades podem ser simples ou complexas,independentemente de terem ou não escrita. A ausência desta, limita, evidentemente, a complexidade possível, mas por outro lado, sociedades letradas podem ser bastante simples. Um dos mais importantes fatores de complexidade é a divisão do trabalho social. Alguma divisão social do trabalho sempre existe, seguindo as linhas de sexo e idade, mas ela assume proporções maiores e leva a consequências cada vez mais profundas para a estrutura da sociedade, à medida que homens e mulheres, jovens e velhos subdividem as suas funções. Isso costuma começar pelo aparecimento de especialistas em magia e em relações com os poderes sobrenaturais e vai até a complexidade da nossa sociedade atual com suas incontáveis especializações. Comparando várias sociedades coexistentes, ouuma mesma sociedade em diferentes fases da sua vida, notamos que podem ser muito diferentes os graus de estabilidade da sua vida social. Em umas, os padrões de comportamento social pouco ou nada mudam duma geração para outra; o curso da vida de cada indivíduo pode ser previsto desde o início com bastante segurança, no que concerne às posições que irá ocupar e às responsabilidades que irá assumir. A sociedade como um todo e cada uma das suas comunidades componentes recrutam os seus membros no seu próprio seio, mediante nascimento e educação (ou mais propriamente: “socialização”). Ao lado de tais sociedades estáticas, há outras em que leis e costumes mudam tão rapidamente que os indivíduos não os concebem como um enquadramento inalterável do seu comportamento; cada pessoa abre o seu caminho na vida, e pouco seguras são as previsões que se podem fazer quanto ao que cada um fará e sofrerá no futuro; a migração do estrangeiro, em várias regiões do país, altera constantemente a composição das comunidades, introduzindo elementos humanos para quem não existe um “lugar” previamente reservado e que, portanto, precisa procurá-lo em meio de insegurança maior ainda do que os naturais da terra. Em relação ao Brasil, costuma dizer-se com alguma razão que, de sociedade estática passou à dinâmica, a partir de certo momento histórico, identificado, por simplificação, com a revolução de 1930. Uma modalidade de mudança sociocultural, quetem recebido merecida atenção nas duas últimas décadas, é o chamado desenvolvimento. Trata-se da transformação de sociedades estáticas pela adoção de tecnologia moderna em benefício do nível geral do padrão de vida da população. Os países tecnologicamente mais adiantados, onde a repercussão social dos recursos técnicos é grande, são chamados desenvolvidos; os mais atrasados, mas que aspiram ao desenvolvimento, denominam-se subdesenvolvidos; daqueles que ainda devem ser considerados subdesenvolvidos, mas onde a “modernização” está se processando com muita rapidez (provocando geralmente desajustamentos socioculturais sérios), diz-se que estão em desenvolvimento acelerado. É preciso notar, entretanto, que não há linhas divisórias nítidas entre estas categorias, mesmo porque alguns países altamente desenvolvidos incluem áreas subdesenvolvidas, e em países subdesenvolvidos algumas regiões podem já estar desenvolvidas ou, pelo menos, encontram-se em desenvolvimento acelerado. Quase sempre o que consideramos uma“sociedade” corresponde a um estado, isto é, é regido por um sistema de poder político. A natureza deste é sumamente importante para o funcionamento dos demais setores da vida social. No presente contexto convém, apenas, antecipar a distinção entre regimes políticos livres e totalitários. Nestes, o governo tende a impor muitos padrões de comportamento, transformando em lei (ou decreto) o que em sociedades livres é moral ou costume, nascidos do consenso espontâneo dos cidadãos. Também neste caso não há uma linha divisória clara, qualquer sociedade aproxima-se mais de um ou outro extremo, segundo os limites estabelecidos à penetração da ação governamental na vida social. Na sociedade totalitária pura não há limite algum, a não ser aquele que o próprio governo considere conveniente observar; na sociedade livre, o estado deve restringir-se, segundo o ideal extremo do liberalismo do século passado, à nutenção da ordem. As Instituições Sociais Por instituição social há de entender-se, como ou interesse e mais uma estrutura de rituais e Fairchild, uma configuração de conduta integrada, funcionários para concretizá-lo. Não é muito diverso o que nos diz Donald Pierson, ao estabelecer de certo modo, comparando-as com o que Durkheim que as instituições envolvem sempre um conceito, ideia denominou de fatos sociais veremos que as instituições seriam aqueles fatos sociais mais importantes, exigentes e duradouros. Instituição seria assim, uma espécie do gênero fato social, diferindo essencialmente pela maior rigidez da primeira e, consequentemente, mais rápida a solução deste. Como muitas das instituições constituem um grupo, ou uma associação, tende-se a supor que toda instituição desenvolve a forma grupal. a) A família - uma das instituições básicas da maioriados tipos de sociedade é a instituição da família. Instituição chave, ela é na verdade um feixe ou molho de instituições: casamento, dote, parentesco, mono ou poligamia, sendo ou exogamia, concubinato, filiação, divórcio, desquite, regime conjugal de bens, são algumas das muitas instituições ligadas à instituição maior da família. Por esta sua significação sociológica, o estudo da família mereceu da sociologia a constituição de um ramo da sociologia especial por isso denominado de sociologia doméstica. b) A escola - embora a família se incumbisse outrorada educação e até da instrução da sua prole, desde que uma determinada atividade reunisse os requisitos de certa complexidade e distância do ambiente doméstico, que a educação formal – a escola – fez sua aparição no meio social. Ela é assim, por excelência, a agência encarregada da educação formal dos indivíduos. Entretanto, não só a escola em seus vários níveis – pré-primário, primário, secundário, universitário, pós- graduado – se ocupa de educar. Outras instituições e agências existem que, embora não tenham uma tarefa educacional como dominante, também exercem alguma função educativa. A empresa comercial ou industrial, a igreja e o partido político estão entre aquelas instituições que exercem significativa tarefa educacional. O mesmo há que ser dito dos meios (mass media) de comunicação de massas (masscomunication) como a imprensa, o rádio, o cinema a televisão. c) A igreja - um dos fenômenos universais da culturaé a religião. A finalidade social que ela procura é, como bem observou Max Scheler, a salvação individual do homem na dimensão da ultratumba, e essa crença na sobrevivência do espírito humano é quase tão velha quanto à própria humanidade, não sendo raros os achados arqueólogos da pré-história que podem comprovar que dela participavam nossos “irmãos” trogloditas.A corporificação de uma religião é a Igreja. A Igreja é a estrutura social de uma religião. Todos os elementos sociais de uma religião são aspectos de sua correspondente igreja. d) O Estado - inclui o governo e os governados, abrangendo todas as pessoas dentro de um território definido, como membros de um governo soberano, cidadãos ou súditos, cujas ações são controladas por ele. Povo refere-se a um agrupamento humano com cultura semelhante (língua, religião, tradições) e antepassados comuns. Nação é um povo fixado em determinada área geográfica. Para alguns autores seria um povo com certa organização. Para que haja uma nação é necessário haver um ou mais povos, um território e uma consciência comum. Estado é uma nação politicamente organizada. É constituída, portanto, pelo povo, território e governo. Engloba todas as pessoas dentro de um território delimitado - governo e governados. A vida em Sociedade a) Grupo Social Um grupo não é apenas a soma de indivíduos, mas sim um conjunto que nasce, adquire a sua própria individualidade e, como pessoa, evolui. Nesse caso, quanto mais diferentes os indivíduos, mais possibilidades têm de transmitir uns aos outros as suas experiências. Se tivermos consciência disso, o grupo sairá fortalecido pela troca e pela participação de cada um no crescimento do outro. Do contrário, estaremos contribuindo para que o nosso ambiente se transforme num palco de “estrelas” e rejeitados. Viver em grupo é importante para o homem. Conviver é uma aprendizagem que deve ser desenvolvida o mais cedo possível. A postura dos integrantes do grupo deve estar pautada, primeiramente, na humildade, e estar sempre consciente de que a participação de cada um é tão importante quanto a de qualquer outro. A vida em grupo sempre beneficiou a sociedade, ainda mais quando o respeito é incentivado pela educação. A convivência estimula o conhecimento, colocando os erros e os acertos a serviço do fortalecimento moral dos seus integrantes, selecionando as atitudes que certamente darão os subsídios necessários à formação de um grupo forte e unido, que deve ser a base do seu crescimento. Michel Quoist diz que “em volta dos buracos os arames dão-se as mãos. Para não romper a roda, apertam com muita força o punho do companheiro: e assim é que, com buracos, conseguem fazer uma cerca”. Sugere ainda uma oração para o grupo: Senhor, na minha vida há uma porção de buracos. Há vazios também na vida dos meus vizinhos, mas, se quiserem, vamos dar-nos as mãos, apertar bem com força e, juntos, fazer um belo rolo de tela e arrumar o paraíso (In: LENHARD, 2004:76). b) Contato Social O contato social entre indivíduos e grupos dá-se sob múltiplas formas, constituindo estas os denominados processos sociais. Basicamente, podemos dizer que há duas formas de atuação dos homens em sociedade: a cooperação e a oposição, que só se apresentam raramente em suas formas puras. Com efeito, em qualquer relação do tipo cooperativo existem, latentes ou expressos, alguns fatores de oposição, enquanto que no processo de oposição também é preciso que estejam presentes algumas formas de cooperação para que o próprio conflito seja possível. A sabedoria popular, aliás, expressa muito bem isso no dito: “quando um não quer dois não brigam”. As formas predominantes de relações sociais de um determinado grupo constituem os seus processos sociais básicos. Estas, embora apresentem em todos os grupos certas características comuns – daí serem considerados como universais – expressam-se, na prática, de modos diferentes de uma sociedade para outra e também entre grupos dentro de uma mesma sociedade. Há inclusive grupos que enfatizam determinados processos enquanto outro mal conhecem, dando preferência a modos distintos de atuação social. Há sociedades eminentemente competitivas e outras predominantemente cooperativas. Algumas mais conflitantes, enquanto outras são mais amistosas e assim por diante. Além disso, o mesmo processo de competição, cooperação ou conflito, pode obedecer a normas distintas, de grupo para grupo. Por exemplo, a competição entre os habitantes de Nova York pauta-se por normas, objetivos e valores muito distintos daqueles que existem num mosteiro trapista ou numa tribo africana. Por isso que, ao falarmos em processos sociais básicos, devemos ter em mente que tais processos têm lugar em sociedades distintas, obedecendo a modelos particulares que variam em função das condições socioculturais de cada grupo. Os processos básicos mais comumente considerados no estudo da Sociologia Contemporânea são a cooperação, a competição, o conflito, a acomodação e a assimilação. c) Interação Social Literalmente, interação significa ação recíproca entre dois objetos. É um processo no qual se acham constantemente envolvidos todos os seres da natureza, embora não tenham consciência disto: as plantas, os animais e os próprios minerais estão sempre interagindo entre si e com o meio no qual se acham inseridos. Tal processo pode durar milhares de anos (a transformação da árvore morta em carvão), como pode ser instantâneo (a explosão de bomba atômica). É dele que derivam todas as transformações e toda a renovação que fazem do Universo algo em movimento permanente. O velho Heráclito - filósofo grego - já afirmara: “tudo muda, tudo se transforma, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”. A interação social, embora possa ser entendida como ação recíproca, semelhante àquela que se processa entre os seres não-racionais, tem como característica o fato de que tal ação é consciente, implicando não apenas em modificação de comportamento como também em autoconhecimento desta modificação. Sorokin assim definiu interação social: “todo o evento com que se manifesta, em um grau tangível, a influência de uma parte sobre as ações exteriores ou estados mentais de outra” (In:LENHARD, 2004:53). Quando o citado autor nos fala em grau tangível de influência (unilateral ou mútua), significa que a interação só pode ser considerada como tal, quando for passível de observação, quando nos fala em ações exteriores ou estados mentais. Significa que o caráter da interação não se limita ao plano objetivo, mas envolve o plano mais subjetivo do psiquismo individual, que também é atingido pelas ações dos indivíduos com os quais interagimos. A referência ao sentido da interação prende-se ao fato de que o modo como uma parte influi sobre outra possui um valor ou uma significação que se sobrepõe às qualidades meramente físicas ou biológicas das ações correspondentes. A ausência deste sentido tira da interação a característica de fenômeno sociocultural para reduzi-lo a mera ação física ou biológica. Na convivência humana, podemos dizer que este sentido da interação apresenta-se com um grau maior ou menor de intensidade, dependendo do tipo de contato que ocorra. Por exemplo, duas pessoas podem sentar-se lado a lado em um ônibus, para uma viagem rápida e neste caso, tende a ser mínima a influência de uma sobre a outra. O sentido da interação social aí é quase nulo, embora esteja presente o aspecto da interação física, que se expressa no espaço que cada um pode sofrer por parte do vizinho, etc. O mesmo acontece num cinema, na praia, em um supermercado onde os indivíduos podem estar lado a lado, como frente a frente sem que tal contato chegue a afetá-los de modo sensível. Este tipo de relação é comum principalmente nos grandes centros urbanos: nos locais frequentados por muitas pessoas estranhas, nos meios de transporte urbano, etc. De um lado, podemos ter processos de interação carregados de um profundo sentido e que afetam intensamente as partes, não só nas suas ações exteriores, como também em seus estados mentais: uma conversa entre dois amigos que há muito não se viam; a despedida de dois apaixonados; a mãe que leva, pela primeira vez, o filho à escola; o povo que ouve, empolgado, afala de seu líder; são alguns exemplos de processos de interação carregados do mais profundo sentido psíquico e social (social aí usado no sentido do que transcende ao individual). d) Isolamento Social Define-se isolamento social como sendo a ausência de qualquer forma de contrato de um indivíduo com os outros seres de sua espécie. No sentido absoluto do termo, é impossível conceber-se um indivíduo que viva em condições de total e permanente isolamento. Mesmo os casos de “meninos-lobo” descritos pelos antropólogos nos indicam que essas crianças devem ter conhecido um período ainda que reduzido, de convivência com algum ser humano (provavelmente, a mãe), pois em caso contrário não teria havido para eles condições mínimas de sobrevivência. Portanto, o isolamento social deve ser visto como uma ausência relativa de interação, nunca no sentido absoluto. A literatura deu-nos a conhecer uma figura clássica que é sempre citada como exemplo de isolamento social: Robinson Crusoé, o imortal personagem criado por Daniel Defoe. Mesmo neste caso, é importante acentuar que a solidão do herói foi muito amenizada, na medida em que ele era portador de uma cultura bastante complexa, que lhe permitiu enfrentar com êxito as dificuldades de um meio totalmente estranho. Também é interessante lembrar que, após as primeiras aventuras do náufrago solitário, o próprio autor introduziu no seu consagrado romance um outro personagem humano – o “Sexta-feira” –, a fim de dar nova motivação à história, que cairia fatalmente no desinteresse para o público leitor, se Robinson continuasse até o final na condição de herói solitário. A sociedade humana parece ter sempre atribuído à convivência social uma grande importância, visto que, na maior parte dos grupos com algum esboço de organização, a punição máxima prevista para os violadores do costume ou da lei é o isolamento ou a segregação do grupo. O ostracismo, para os antigos gregos, era uma pena comparável à perda da vida, visto que tirava o homem de seu contexto político, de seu “meio cultural” – dentro da visão grega – para lançá- lo num mundo estranho, onde estava condenado a perder sua individualidade, ao mesmo tempo em que perdia sua categoria de cidadão. A prisão é outro exemplo de punição que a sociedade reserva para aqueles que atentam contra os seus princípios. Neste caso, o indivíduo é impedido – temporária ou definitivamente – de conviver com a parte considerada “sadia” da sociedade, sendo obrigado a viver junto àqueles que, como ele, foram postos à margem do grupo. Lembremos ainda que, neste caso, quando os detentos infringem os regulamentos da prisão, é costume mandá-los para a solitária, por ser a forma extrema do isolamento, aquela que pune o homem ao máximo, diante de si mesmo e da coletividade. A pena de morte, neste sentido, pode ser entendida como o isolamento total e definitivo, em relação ao grupo, daquele que demonstrou, por sua conduta criminosa, não possuir condições mínimas de participar da vida social, mesmo limitada às grades de uma prisão. A supressão da vida é aí a própria supressão definitiva, em grau irrecorrível de toda e qualquer forma de convivência social. É tão grande a nossa reação ao isolamento social que muitas vezes os indivíduos mais solitários são levados a uma forma substitutiva de interação com seres irracionais (plantas ou até objetos), transferindo para estes o afeto, o carinho e o cuidado que não lhes é permitido demonstrar para com seres de sua espécie. Eles, por assim dizer, humanizam, antropomorfizam o cão, o gato, a plantinha no vaso, e com estes mantém verdadeiros “diálogos”, em que a solidão é amenizada e as necessidades sociais do homem são satisfeitas. Tal transferência ocorre com muita frequência em relação a indivíduos que são obrigados a viver longo tempo em isolamento (presidiários, faroleiros, pastores, etc.). Mesmo nas sociedades mais modernas, isso pode ocorrer com indivíduos que moram sozinhos em grandes habitações coletivas. A solidão afeta tão seriamente o equilíbrio mental e emocional dos indivíduos que não são raros os casos de melancolia profunda, loucura e até suicídio a que são levados pelo desespero de se sentirem isolados dos outros seres humanos. Quanto ao isolamento dos grupos sociais vivendo sem condições de contato ou comunicação com outros grupos, também cabe lembrar que seus efeitos são os mais nocivos, determinando empobrecimento cultural, estagnação e rigidez das estruturas, tudo isso refletindo-se em uma grande resistência a qualquer sorte de mudança, mesmo aquelas que são tentadas com o objetivo de melhorar suas condições materiais de vida. Desde os tempos mais remotos, viajantes e exploradores vêm observando as diferenças de comportamento e de mentalidade entre grupos que vivem isolados em ilhas ou montanhas e outros, diversamente, vivendo em portos ou comunidades próximas umas das outras, em frequentes contatos com grupos diferentes. Nestes últimos há uma tendência em aceitar de bom grado as influências culturais vindas de fora, os costumes tendem a ser menos rígidos e a estagnação cultural não é conhecida. e) Controle Social Chamamos de controle social a soma de processos que a sociedade lança mão para obter dos indivíduos e grupos que a constituem uma conduta enquadrada nas expectativas gerais de comportamento. É em torno destas expectativas que se organiza a nossa vida de relação, isto é, nossa conduta está basicamente condicionada por aquilo que o grupo espera de nós. As respostas às expectativas do grupo surgem na criança, a partir de seus contatos iniciais com a família, logo nas primeiras semanas de vida, muito embora, na maioria das vezes nem mesmo os adultos tenham consciência do significado profundo desta fase de iniciação social. Quando, por exemplo, a criança, movendo naturalmente os músculos da face, nos apresenta uma careta que a mamãe ansiosa toma por expressivo sorriso, os aplausos, a aprovação do pequeno grupo familiar já consagram aquela contração muscular, que, aos poucos, irá deixando de ser um mero reflexo de tipo incondicionado, para se transformar numa reação realmente consciente às expectativas do grupo e, finalmente, numa expressão real dos sentimentos humanos da criança. Assim, um ato que ao leigo parece fundamentalmente instintivo, como é o riso, é algo socialmente aprendido através do contato social. A partir daí, aos poucos, a criança irá aprendendo que há momentos em que se deve rir e outros em que se precisa ficar sério; que há uma forma de rir, socialmente aprovada, e outra mal vista e censurada pelo grupo; que há risos que ofendem e risos que agradam, tudo isso, transmitido de maneira imperceptível para ela, mas nem por isso menos eficaz em seus resultados. Durante todos os momentos de nossa vida, mesmo quando estamos sós, nosso comportamento obedece a certos estímulos que não nasceram conosco, mas que chegaram até nós através do contato social. Durkheim atribuía tanta importância a esta coação do grupo sobre os indivíduos que chegou a caracterizar o fato social pela coercitividade, isto é, pela pressão que o social exerce sobre as consciências individuais. O estudo pormenorizado dos mecanismos de controle social e de suas formas de atuação é da maior importância para o professor do Ensino Fundamental e Médio, entretanto, tem sido um ponto bastante descuidado pela maior parte dos programas de Sociologia nas faculdades de Educação e nas escolas normais. Se analisarmos os modos pelos quais se expressa esta necessidade de amoldar a conduta dos indivíduos às regras do jogo social, veremos que o controle social atua sob uma infinidade de formas, as quais se manifestam com diferentes graus de intensidade, desde os usos mais corriqueiros, seguidos pelos costumes solidamente implantados no grupo, até às instituições e às leis, podendo estas últimas atingir formas de extrema violência, inclusive a prisão perpétuae a própria pena de morte. A existência desta gradação, na aplicação do controle social, levou muitos sociólogos a classificar seus diferentes tipos em dois grandes grupos: a. controles do tipo persuasivo b. controles do tipo coercitivo Entendemos por controles persuasivos todos os meios de que o grupo lança mão para impor suas exigências sem recorrer ao uso da força ou da violência ostensiva. A maior parte das técnicas que se enquadram neste tipo são usadas inconscientemente pelo grupo e seu ajustamento a elas também se faz de modo inconsciente. Por exemplo, quando a mãe de uma jovem recomenda-lhe que não chegue tarde da noite em casa, porque os vizinhos podem murmurar, nem a mãe nem a filha têm consciência de que está em jogo uma das mais velhas técnicas de controle social, baseada no medo ao “falatório”, ao “mexerico” capaz de difamar a jovem e torná-la indesejável aos olhos do grupo. Os provérbios, os ditos populares, de tão largo uso entre as camadas populares, são outro exemplo de um mecanismo de controle social persuasivo, através do qual as pessoas mais simples vão buscar, na tradição oral, respostas às questões de difícil solução no plano da explicação teórica. Postos em uma situação para a qual não tem nenhuma resposta válida, em termos de experiência anterior, estas pessoas tendem a recorrer aos provérbios e máximas, que são fórmulas simples e aparentemente eficazes de enfrentar aquela situação. Por exemplo, quando não conseguem compreender uma injustiça flagrante de que foram vítimas, seja por parte de um parente, de um chefe, de uma autoridade ou do próprio destino, podem encontrar conforto no velho dito “Deus escreve direito por linhas tortas” ou então, “Deus sabe o que faz” e outros similares. É interessante acentuar o caráter claramente conservador e conformador da maior parte destes ditados, que se propõem, em última análise, a possibilitar uma forma de racionalização para situações que não sabemos ou não podemos controlar. “Quem nasce pra dez réis não chega a vintém”; “não suba o sapateiro além da chinela; “quando a esmola é demais o pobre desconfia”; “em terra de cego quem tem um olho é rei”; “quem semeia ventos colhe tempestades”, são alguns exemplos que bem confirmam o sentido conformista que os provérbios procuram imprimir à maior parte de nossos conflitos interiores. Também no plano da educação, está o folclore cheio de ditos populares que expressam as crenças sociais construídas a partir da experiência acumulada e que muito ajudaram pais e educadores de outros tempos quando os conhecimentos da Psicologia ainda não tinham chegado até eles. Como exemplos de ditados ligados ao processo educacional, podemos lembrar: “é de pequeno que se torce o pepino”; “quem dá o pão dá o castigo” “dize-me com quem andas que te direi quem és”, etc. Uma área da vida social que bem nos permite compreender como as técnicas de controle social estão intimamente relacionadas com os estilos de vida dominantes é a passagem de indivíduos e grupos do meio rural para o meio urbano. Nas condições da sociedade brasileira de nossos dias, tal passagem temse feito com uma certa violência, impedindo que muitos indivíduos se ajustem com a necessária rapidez às novas exigências. Por isso, é comum surgirem problemas decorrentes da pretensão – às vezes expressa com violência – por parte de muitos emigrantes do meio rural, de fazerem valer na “urbs” os mesmos padrões de comportamento vigentes no seu “habitat” anterior. Para evitar os conflitos resultantes do encontro de diferentes padrões de comportamento, impõe-se, na vida urbana, um semnúmero de prescrições, não baseadas no costume nem na tradição, mas que são da maior importância de serem reconhecidas e cumpridas. Os regulamentos, os estatutos, os regimentos internos, os códigos, são permanentemente invocados nos centros urbanos, ao passo que são praticamente ignorados nos meios rurais. Nos edifícios de apartamentos das cidades grandes, temos frequentes experiências relacionadas com indivíduos ou famílias de origem rural recente, que acreditam poder reproduzir nos centros urbanos a mesma conduta que tinham na vila de origem. Insistem, por exemplo, em criar animais, os mais estranhos aos hábitos da cidade (jaguatirica, tartaruga, papagaios, macacos, etc.); acham legítimo fazer barulho a qualquer hora da noite, ouvem aparelhos sonoros em alto volume, cultivam verdadeiros jardins e hortas nos exíguos parapeitos das janelas, manifestando em tudo um absoluto desprezo pela segurança e pela tranquilidade dos demais moradores, mas guardando velhos hábitos de seu lugar de origem. Como neste caso os mecanismos de controle persuasivo funcionam deficientemente, impõem- se a necessidade de fazer valer os meios de controle ostensivo, tais como a presença do síndico e até mesmo da radiopatrulha. Tais experiências repetem-se e são fonte permanente de atritos, no trabalho, nos transportes, na recreação, em todas as oportunidades que se acham ligados por nenhum laço de simpatia e cujo contato social não foi ditado pela vontade, mas sim forçado pelas circunstâncias. Neste caso, quando os mecanismos de controle de tipo persuasivo perderam sua eficácia, tendem a ser invocados os de tipo coercitivo. Estes caracterizam-se pelo uso, não da sugestão ou da argumentação, mas da força e da violência. Nos grupos primários, tais como a família e os grupos de brincadeira, as formas de controle mais espontâneos são, em geral, suficientes para manter os indivíduos dentro dos padrões mínimos exigidos pelo grupo. Esta afirmação é particularmente real nas condições de vida da sociedade tradicional, agrária, em que os grupamentos sociais podiam ser vistos quase como uma família ampliada eas aberrações de conduta eram particularmente esporádicas. Então, só de raro em raro, se era obrigado a apelar para a violência, visto que o costume, a tradição e o princípio da autoridade eram, em geral, suficientes para manter a unidade do grupo. Porém, à medida que a urbanização como estilo de vida foi-se impondo, os líderes sociais foram tomando consciência da ineficácia crescente daquelas técnicas persuasivas. Cada vez mais se impunha a invenção e a aplicação de novos instrumentos de controle social específicos para a vida em grandes aglomerados. As habitações coletivas, os edifícios de apartamentos, o trabalho realizado em conjunto por grupos heterogêneos, a frequência cada vez mais generalizada a espetáculos públicos, numa palavra, todas as manifestações da sociedade de massa, têm obrigado a uma reformulação constante dos esquemas ligados ao controle do comportamento social. Ainda hoje, esta diferença entre o estilo de vida urbana e rural é notada pelo urbanista ou morador da cidade que, indo a um lugarejo do interior, se espanta com o pouco cuidado que se tem com portas e janelas abertas, com objetos ao alcance dos passantes e com a cordialidade ostensiva com que somos saudados, mesmo por aqueles que desconhecem nossa identidade. Reciprocamente, choca ao nosso homem do interior o clima de desconfiança que ele respira na cidade. O olho-mágico, a tranca e o pega-ladrão na porta dos apartamentos são um testemunho sempre presente desta desconfiança, que se impõe como regra de conduta. Se alguém nos aborda na rua, nossa primeira reação é de esquiva ou de medo, pois sabemos, por experiência própria ou alheia, que de um estranho se deve esperar sempre atitudes negativas. Basta ver o orgulho com que o morador de apartamento gosta de contar que vive ali há tantos anos e nem sequer sabe o nome do vizinho que mora ao lado. Tal situação em uma cidade pequena ou em uma vila seria absolutamente impossível. Ali, a primeira preocupação que o grupo manifesta em relação a um forasteiro é de identificá-lo e descobrir sua origem (geográfica e social); tal conduta, que a nós pode parecer estranha, tem para aquele grupo um sentido profundo; ela significa que a convivênciasó é possível quando existem expectativas mútuas de comportamento bem definidas, e para tanto é preciso que os “socii” se conheçam suficientemente bem. Isso explica a desconfiança existente, no interior, em relação ao caixeiro- viajante, que representa justamente, o “out-group”, o homem em quem não se deve confiar porque não está ligado por nenhum laço mais profundo à comunidade. Nesta, o estranho é a exceção, enquanto na cidade ele é a regra. Outra atitude típica do provinciano é a de identificar e catalogar os indivíduos a partir de sua origem familiar. Assim, quando se quer dar uma informação definitiva a respeito de alguém, diz-se: é filha de fulano, neto de sicrano, sobrinho de beltrano, etc. Isso se explica pela importância que tem, neste contexto, os laços de sangue, que implicam em um compromisso tão estreito com o grupo que muitas vezes chegam a funcionar melhor que qualquer outro argumento para impor uma atitude socialmente aprovada. A tradição familiar tem ali uma força tão grande que é capaz de separar para sempre corações apaixonados, de manter unidos outros que os laços afetivos já desapareceram, de negar vocações que pareciam insopitáveis, de encaminhar para certas profissões pessoas que espontaneamente não as teriam escolhido, enfim, de criar um clima em que a área de decisão individual fica extremamente reduzida, em benefício das expectativas do grupo e, principalmente, das gerações mais velhas. Já nos centros urbanos maiores, esta influência familiar, embora exista, é muito menos forte e atuante. Na presença de outros fatores, ela tende a se diluir, ampliando-se a área de decisão individual, em detrimento da opinião do grupo familiar. Não é sem razão que um dos temas mais gratos àqueles que defendem a manutenção do “status quo” social é o protesto constante contra o que eles chamam de “desagregação da família” e que, do ponto de vista da Sociologia, tende a ser visto mais como um período de crise consequente à substituição de uma ordem social determinada por outra. Esta crise demonstra um esforço de adaptação da instituição às novas condições vigentes, visto que, em face da interdependência que caracteriza os diferentes níveis da realidade social, é ponto pacífico que as alterações ocorridas num destes níveis vão repercutir com maior ou menor rapidez em todos os outros. Assim, os desajustes e as tensões, tão ostensivos na família de nossos dias, principalmente nos centros urbanos maiores, retratam este descompasso entre algumas áreas da realidade social que vão mudando com grande rapidez e outras nas quais a mudança se faz de modo mais lento e difícil. f) Institucionalização das Normas de Comportamento Dizemos que uma norma de comportamento está institucionalizada quando as expectativas do grupo em relação a ela são bastante definidas, e quando a maior parte dos membros do grupo a aceita como válida e a cumpre efetivamente. Exemplo de comportamento institucionalizado é o casamento como cerimônia religiosa ou jurídica, que torna a união de um homem com uma mulher reconhecida socialmente. A maior parte das pessoas que compõem a nossa sociedade concorda que aquela união deva ser legitimada, espera que as pessoas que queiram constituir família recorram a ela e, por sua vez, também o farão quando se unem a outrem em matrimônio. Já as leis entram em ação, pelo menos teoricamente, quando os demais instrumentos de controle vão perdendo sua eficácia original e a coesão social corre perigo. Por isso que a legislação formal só aparece naquelas sociedades que alcançaram um certo grau de complexidade em suas relações onde o costume e a tradição já não conseguem manter aquele mínimo de ordem e de uniformidade de conduta, sem as quais a vida em sociedade não seria possível. Isso ocorre, principalmente, com a passagem do estilo de vida rural para o estilo urbano, quando tendem a se romper os laços de solidariedade que unem os grupos primários e novas formas têm que ser criadas para reconstituir a “ordem social”. Por isso, a legislação é típica das sociedades urbanas, e, em nossos dias, seu veículo de expressão mais representativo é a autoridade policial, ostensiva e sempre presente quando a “harmonia social” está em perigo. O guarda de trânsito, o guarda-noturno, a polícia de vigilância, o fiscal de alfândega, são figuras bem conhecidas e sua presença serve para nos lembrar a cada instante, que o não-cumprimento das regras do Jogo social acarreta uma punição que nos atingirá onde quer que estejamos. A imagem simbólica do “longo braço da lei” é muito feliz para expressar que neste terreno não há distâncias que não possam ser vencidas (A Polícia, nos últimos tempos, aperfeiçoou de tal forma suas técnicas de ação, que conseguiu se articular com relativa eficácia até mesmo no plano internacional, com a criação da Polícia Internacional (Interpol). A lei só surge na história da humanidade em época relativamente recente, expressando a necessidade de definir obrigações e direitos que são o produto de circunstâncias inteiramente novas no quadro das relações sociais. Ela representa, inclusive, um passo à frente no aperfeiçoamento das instituições sociais e da autoridade tradicional que, ao aplicarem seus princípios de direito, o faziam de modo extremamente arbitrário. Basta lembrarmos, a título de exemplo, a aplicação da justiça baseada no princípio da “ordãlia” em que a inocência ou a culpabilidade de um acusado eram comprovadas pela sua capacidade de resistência ao fogo, à água fervente ou ao combate em condições desiguais. Ou, ainda, no princípio da lei de Talião, do “olho por olho e dente por dente” em que a punição do ladrão consistia em cortar-lhe a mão, do delator em arrancar-lhe a língua, do espião em cegá-lo e assim por diante. PROCESSOS SOCIAIS BÁSICOS A vida social é uma teia infinitamente complexa de ações humanas recíprocas, de processos de interação que se fundem num único processo total. Desse emaranhado, só por meio da análise intelectual podem ser apartados processos individuais, limitados quer pela restrição do estudo à interação entre determinadas pessoas, quer pela focalização de certo tipo de ação humana. Quando se fala em “processos sociais fundamentais” tem-se em mira esta segunda maneira de proceder, admitindo que há categorias de ação social que estão na base de todas as demais. Não surpreende saber que os sociólogos estejam em ligeiro desacordo quanto ao destaque que convenha dar, nesse sentido, a uns fenômenos sociais ou a outros. Optamos pela dicotomia básica de competição e cooperação, isto é, dos processos pelos quais se distanciam e se aproximam socialmente, em função dos seus interesses, opondo-se uns aos outros ou conjugando os seus esforços. Competição e Rivalidade A competição é fenômeno fundamental; ocorre de maneira generalizada na vida orgânica e assume aspectos peculiares na vida humana, dando, em circunstâncias especiais, origem à concorrência, à rivalidade e ao conflito. Quando são escassos os meios de satisfazernecessidades ou desejos, os homens, usualmente, competem por eles, do mesmo modo como as árvores competem pelo solo e pela luz. Cada qual esforça-se para chegar primeiro e se apossar do melhor quinhão ou do único objeto disponível. Esse processo assume aspectos sociais à medida que os competidores não apenas têm consciência, uns da existência dos esforços dos outros, mas orientam os seus, levando em conta os demais. A competição consciente pode produzir nada maisque a intensificação do empenho de cada um. Assim, os corredores esportivos, os comerciantes desejosos de vender mercadoria idêntica, os participantes de um concurso público são estimulados pela presença dos demais para o desempenho mais eficiente de todas as suas forças. Pode-se falar, neste caso, de concorrência: luta-se, mas sem hostilidade. Muitas vezes, porém, os competidores não selimitam ao esforço de superarem
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