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A Sociologia como Ciência

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1.2 A Sociologia como Ciência 
1.2.1 A Sociologia é uma Ciência 
A sociologia é uma ciência dos determinismos tendenciais dos fenômenos humanos coletivos
Os fenômenos físicos obedecem a determinismos aparentemente rígidos. Tão rígidos que podem ser expressos por leis matemáticas. Na natureza física, postas determinadas causas, seguem-se os mesmos efeitos, enquanto se mantenha constante o contexto circunstancial. 
Fundamento das ciências físicas: regularidade sequencial entre causa e efeito. Onde não há determinismo não há ciência. Se o fenômeno se manifestasse de forma aleatória, não teríamos ciência. 
No mundo social, no mundo dos fenômenos humanos coletivos, aparentemente não há determinismos. 
Fatores da imprevisibilidade: liberdade criadora e a intuição genial. Será possível uma física social?
Na resposta dessa indagação se encontra a chave para a compreensão de toda a sociologia. 
No mundo social, uma observação superficial ou uma observação feita em reduzido número de amostras leva à conclusão de que às mesmas causas não seguem necessariamente os mesmos efeitos, ainda quando permance imutável o contexto circunstancial. Entretanto, uma observação mais penetrante ou mais ampla acaba por revelar que as mesmas causas engendram sempre as tendências aos mesmos efeitos. 
São exatamente esses determinismos tendenciais que possibilitam uma ciência do social ou uma sociologia como ciência. Não operam por determinismos rígidos, mas sobre tendências trabalhadas por fatores imprevisíveis. 
Onde existe a promiscuidade e a miséria, tendem a aumentar os índices de criminalidade. É possível também constatar num meio extremamente miserável a inexistência de crimes, devido à presença, por exemplo, de um admirável testemunho de pureza e de dedicação imanente ao próprio grupo. 
1.2.2 A sociologia é uma ciência positiva
Augusto Comte: explicar os fenômenos sobre as bases teológica e metafisica. A terceira fase é a positiva, da ciência. 
Nesse contexto, nasceu a Sociologia como ciência positiva, que, nos primeiros capítulos de sua obra “cours de Philosophie Positive”, Comte denominava ainda de física Social. 
Devia ser a ciência que teria por missão explicar a realidade social a partir dos fatos sociais, do mesmo modo como a física era chamada a explicar a realidade física pelos fenômenos físicos. 
Auguste Comte como pai da sociologia moderna, a especificidade irredutível da experiência religiosa e a autonomia da metafísica. 
Como ciência positiva, a sociologia se distingue, pois, de outras ciências que se ocupam também dos fatos humanos numa dimensão social.
Das ciências elaboradas por construções conceituais dedutivas, como por exemplo, a filosofia social, para a qual a realidade é apenas o termo ao qual o pensamento se refere para não se perder em seu esforço dedutivo. 
Das ciências normativas, como: a ética social, a politica, o direito que tem um fim prático, indicando não como as coisas são, mas como as coisas devem ser.
Das ciências históricas, que se ocupam dos fatos singulares, na sua concatenação causal e no seu desenvolvimento cronológico, enquanto a sociologia tende à elaboração de leis e de generalizações históricas. 
Existe também relações entre essas ciências. 
Como vemos, portanto, todas essas disciplinas, a filosofia social, a ética social, o direito, a política, a história ocupam-se dos fatos humanos coletivos, ocupam-se da realidade social, mas cada um de um ponto de vista e com uma metodologia diversa. 
A sociologia ocupa do objeto formal, o objeto material é o mesmo das demais ciências. 
1.2.3 A sociologia é uma ciência indutiva
Tomando por ponto de partida os fatos concretos, particulares, chega às generalizações. Seu roteiro é, pois, exatamente inverso ao das ciências dedutivas, que partem dos princípios gerais para chegarem no particular. 
A sociologia como ciência indutiva é tomada também, num outro sentido, como a ciência capaz de induzir de uma realidade social determinada as linhas essenciais que a configuram, as correntes de fundo que comandam sua evolução. 
Sociologia indutiva seria assim um processo de introspecção do grupo pelo grupo; um processo pelo qual um grupo, através de seus sociólogos, chegariam à sua autoconsciência. 
Duas conclusões: a primeira, o caráter quase que inevitavelmente acadêmico e episódico dos estudos da realidade nacional feitos por peritos e estranhos ao meio; a segunda, a nota, quase que inevitavelmente nacional de todo trabalho sociológico autêntico. 
Guerreiro Ramos: “a luz de uma sociologia indutiva, isto é, de uma sociologia cujos critérios sejam induzidos da realidade brasileira e não imitados da prática de sociólogos de outros países”. 
Ciência no sentido objetivo e subjetivo. O termo indutivo pode ser usado à sociologia como ciência no sentido objetivo ou subjetivo. O método da sociologia é objetivo, diferente das outras ciências humanas e sociais, que são dedutivos.
O termo indutivo segundo Ramos deveria ser uma mentalidade do sociólogo, não uma característica da sociologia. A sociologia autentica nasce da subjetividade do sociólogo.
Parece que para Ramos a sociologia indutiva objetiva só é autentica, verdadeira se for subjetiva. 
Indutivo para Ramos é a subjetividade. 
1.2.4 Processo de Elaboração da Sociologia
I – A Sociologia parte da observação e descrição dos fatos. Esta primeira etapa deve ser dominada pela preocupação de objetividade e exatidão. Uma observação é objetiva quando não falseada por fatores de ordem subjetiva. A contraprova da objetividade é dada pelo fato de que outros observadores, empregando os mesmos métodos, sejam conduzidos aos mesmos resultados. 
Na sociologia, um fato social não é isolado do observador, ele também faz parte, diferente das ciências exatas, que o observador é distinto do objeto de estudo. 
Uma greve por aumento de salários pode ser vista por diversos ângulos e por diversos observadores. Não é malícia e nem má fé. 
O fato social é mais uma questão de consciência do que de observação, o sociólogo deve estar nessa realidade, fazer parte dela. 
O conhecimento social é a consciência de uma vivência coletiva do grupo ao qual se está integrado. 
Participação altera e participação autentica: as duas tendências buscam a objetividade. Na segunda objetividade é atingir a realidade social no que ela tem de mais essencial, é reduzir esta complexa realidade ao que ela tem de típico, é atingir as grandes linhas de tendência, abstraindo das oscilações conjunturais, e as grandes linhas de sua estrutura, abstraindo do que é episódico e decorativo. Se objetividade é isto, ela só é possível pela participação. 
II – A sociologia procura, a seguir, aproximando os fatos observados e descritos com objetividade e exatidão, surpreender as relações que os unem e registrar as regularidades, as constâncias destas relações. Por outras palavras, procura formular leis sociológicas. Não se trata de leis normativas. Trata-se de leis meramente constatativas, que indicam como de fato se age. Sugerimos, como por exemplo, a observação exata e objetiva de orçamentos de famílias pertencentes a diversos níveis social e a proporção do orçamento aplicada à alimentação. O sociólogo formula, pois, a lei: a proporção do orçamento familiar aplicada à alimentação é tanto menor quanto mais elevado é o nível que a família ocupa na escala social. É fácil de deduzir, do exemplo, que se trata de uma lei que formula como o fenômeno se processa, sem nenhuma injunção a proceder desse modo. 
III – Enfim, como ciência, a Sociologia deverá reassumir as leis sociológicas, num plano mais elevado de generalização, para constituir uma teoria. 
Teoria é uma visão de conjunto. Visão especulativa global, na qual diversos fenômenos, coerentemente estruturados, recebem uma explicação cabal. 
Toda teoria é resultado de um trabalho de abstração. Descrição da realidade não é teoria.
A teoria não é uma atividade darazão pura, mas deve ser aplicada à realidade. 
Não é hipóteses e nem sínteses. Uma teoria não é uma doutrina. Não é um sistema. 
A definição é a base germinal da teoria, a definição é descrição conceitual do tipo. 
Uma tipologia (sistemática, taxionomia): ela integra em si, pela manipulação de critérios relativamente simples, toda a riqueza de um determinado setor do fenômeno, o mundo animal, por exemplo, ou o mundo vegetal
Teorias estáticas e teorias dinâmicas. As teorias estáticas usam leis, as teorias dinâmicas preferem definições. 
Modelos são formas próximas da teoria. 
Em termos gerais, uma teoria sociológica seria uma visão global da realidade social, na qual diversos fenômenos e evento sociais, coerentemente estruturados, recebessem uma explicação cabal, isto é, fossem atingidos em sua estrutura causal. 
SIMMEL: elaboração de tipologias sociais: tipologia de grupos, instituições e sociedades. Isso para uma teoria estática.
Em uma teoria dinâmica, a sociologia procuraria fixar as linhas de tendência de um processo social, despojadas de suas oscilações conjunturais, de maneira a poder explorá-las, dentro da permanência do quadro referencial no qual o fenômeno é surpreendido: buscar as causas do fenômeno, descobrir as linhas tendenciais do processo e mostrar os limites plausíveis de sua permanência. 
Distinção entre ideologia e teoria: a ideologia organiza ideias induzidas de um processo histórico de maneira a dar-lhes uma eficácia operacional tendente a atuar sobre este mesmo processo, seja no sentido de mantê-lo constante (ideologias conservadoras), seja no sentido de transformá-los (ideologias revolucionárias). Contrariamente à teoria, toda ideologia é conscientemente seletiva. Ela induz do real aquelas ideias dotadas de maior eficácia para configurá-lo à sua imagem e semelhança. 
Seduzidos pelas antecipações teóricas das ciências físicas e biológicas, alguns sociólogos julgaram que era tempo de construir algo de semelhante na sociologia. Apareceram assim grandes teorias que pretendiam dar uma visão de conjunto da realidade social, inspirando-se em analogias físicas (mecanicismo sociológico) ou biológicas (organicismo sociológico). 
A sociologia contemporânea desistiu de tais teorias por julgar ainda prematura para tal método. Porém temos o problema do simplismo, com analogias. 
Teorias por intuições, transformar hipóteses em teses.

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