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Resenha crítica do Capítulo 5 do Livro Casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre

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História do Brasil IV – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas
Discente: Izabela Fernandes Resende 
I Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de um sociedade agrária, escravocrata e híbrida
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala – Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48ª edição, 2003, Global Editora. Pp. 65-117.
No seio de uma família tradicional e rica de Recife, em 15 de março de 1900, nascia Gilberto de Mello Freyre. Fez Bacharel em Ciências Políticas e Sociais Universidade de Baylor, no Texas, e em 1920, pós-graduação em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais pela Universidade de Columbia, também nos EUA. Lecionou Sociologia na Escola Normal de Pernambuco entre 1928 e 1930, nesse último ano foi convidado a lecionar na Universidade de Stanford (EUA) como professor-visitante. Dentre suas obras estão:Sobrados e Mocambos (1936), Nordeste (1937), Um engenheiro francês no Brasil (1941), Região e tradição (1941), Ensaios e Conferências (1941), Brazil; na interpretation (1945), entre outras, porém a mais conhecida foiCasa Grande e Senzala (1933), que causou impacto comparável com o de Os Sertões, de Euclides da Cunha. O antropólogo, sociólogo e escritor Gilberto Freyre também foi deputado federal por Pernambuco, na legenda da União Democrática Nacional, de 1946 a 1951.Partidário do movimento político-militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964, passou a integrar, em 1969, o Conselho Federal de Cultura, a convite do presidente general Emílio Médici. Faleceu em Recife, em 1987.
A obra Casa Grande e Senzalafoi produzida na forma de capítulos e é considerada um marco nos estudos sobre Brasildevido à da riqueza de fontes bibliográficas e introdução de novos conceitos. A análise crítica será sobre o primeiro capítulo do livro, intitulado como: I Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de um sociedade agrária, escravocrata e híbrida. São eixos principais de sua sustentação: as características próprias dos portugueses que permitiram a adaptação aos trópicos, a miscigenação e a mobilidade, aclimatabilidade e sua influência, a produção agrícola e o reforço do alicerce escravocrata, legislação e crimes, a sexualidade – tanto do português quanto da indígena, da negra e mulata, nesse aspecto também insere-se o caráter “fácil” das indígenas, que sempre, segundo ele, se dispunham facilmente a ter relações sexuais com os brancos e também o sadismo (do branco) e um suposto masoquismo (da indígenas e africanas)– e a transmissão de sífilis, o nascimento da família patriarcal e sua importância, o Regionalismo se sobrepondo à consciência nacional, a precária alimentação da população como um todo e a saúde.
Para Freyre, o português possuía uma predisposição para vida nos trópicos devido ao clima de sua terra natal e também por ter sido o pioneiro em transformar a colônia em produtora direta de riquezas - mesmo que fruto do trabalho escravo - ao invés de somente explorar riquezas naturais. Considerando um certo aspecto violento no português, mas ainda assim não correspondendo ao o nível verdadeiro praticado pelo colonizador, identificou como facilitador do processo de exploração, além da mobilidade, a capacidade que o português tinha de “emprenhar” mulheres e fazer filhos.Os conflitos então se “harmonizavam” fosse através do sexo ou da religião e a contribuição dos jesuítas era principalmente na forma de catequese para os índios. 
“Tudo era aqui desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências as da nova terra.” (FREYRE,2003:77) quando o assunto é alimentação e produção agrícola, haviam muitas deficiências que afetavam desde as classes altas até as mais baixas e que agiam diretamente sobre o desenvolvimento físico e econômico do brasileiro. De forma geral, o solo apresentava deficiência de minerais, o gado não se desenvolvia por causa da preferência pela monocultura açucareira. Os paulistas, primordialmente, eram os que melhor se alimentavam e os negros escravos também, para poderem ter força para continuar sendo explorados. Esse fato de nunca faltar comida aos negros, e também a sua resistência contra as doenças que estavam se disseminando, conferiam mais beleza às mulatas representantes da raça. Segundo Gilberto, a população com menor influência do sangue negro, tinha maior índice de adoecimento, com abatimento inclusive por verminoses. Ainda na perspectiva das doenças, para Freyre, “À vantagem da miscigenação correspondeu no Brasil a desvantagem tremenda da sifilização. Começaram juntas uma a formar o brasileiro, (...); outra a deformá-lo.” (FREYRE, 2003:110), onde indica a miscigenação como uma ligação direta ao aparecimento e desenvolvimento da patologia. 
No que se refere a temática da família patriarcal, o modo de construção dessa narrativa se mostra um tanto quanto questionável, embora o autor fosse um erudito com notável volume de produção acadêmica. Ao se deparar com essa narrativa, é possível identificar a presença de um viés social: foi escrita à partir da Casa Grande e não da Senzala, sendo produto da perspectiva de um membro de uma família importante, logo, sua visão de mundo ainda assim era restrita e não era capaz de representar boa parte da sociedade da época. 
Gilberto Freyre estudou no exterior e, ao produzir esta obra tentou sintetizar o processo de formação da sociedade brasileira a partir da colônia. Analisando a construção de sua narrativa, capta-se sua tentativa de aplainar a grande violência velada, quando: atribui ao português um imaginário de aventura, desdobramento e, usa com certa frequência a palavra femeeiro – que soa desconcertante para as mulheres de modo geral - eindica que o nascimento do Brasil como nação se deu pela qualidade “mulherenga” do português. Como consequência, o português se miscigenou primeiro com as indígenas e posteriormente com as africanas trazidas ao Brasil na condição de escravas. 
Ao ler, é preciso levar em consideração o tempo histórico em que foi escrita, e as intenções do autor, que embora defendesse todo o ócio da “casa grande”, realizou várias pesquisas e consultas bibliográficas, sendo assim portador de uma imensa capacidade de trabalho. Ainda assim, como homem de seu tempo e de acordo com sua classe social, Freyre jamais conseguiu perceber a violência implícita no processo de colonização e de construção da sociedade da época pois representavauma visão da classe dominante. Tal visão, tanto sobre a colonização quanto sobre a formação da identidade nacional, indicava que o Brasil era composto pela mistura das raças, tendo como resultado dessa miscigenação, um esse belo povo mestiço e sensual. Esse produto final da miscigenação se tornou também produto de exportação para exploração sexual que continua sendo promovido até hoje pelo próprio governo, disseminado pelo próprio material didático e apoiado também pela mídia. 
A leitura é forte e violenta mas se faz absolutamente necessária porque até hoje há quem compartilhe de tal visão. A análise atual da obra, colocada paralelamente ao que se sabe hoje a partir das pesquisas documentais e históricas, evidencia seu elevado grau de violência, tão alto quanto o próprio processo de colonização. Tudo isto pois ela retira completamente os indígenas e africanos de qualquer protagonismo histórico e os submete tão somente ao arbítrio europeu, à desajeitada liderança da colonização mais violenta e encontra nisto uma harmonia que jamais existiu, valores positivos que desdenham ignoram toda trajetória de lutas, resistência e tentativa de manter o mínimo de identidade e dignidade por parte tanto dos indígenas quantos dos negros africanos.
A obra de Freyre já foi contestada por várias correntes histereográficas, que embora reconheçam que esse modelo de família patriarcal - composta pelo senhor, portador de um harém de escravas, provedor da casa e produtor de numerosos filhos; uma esposa submissa e responsável pela coordenação dos serviços domésticos e com clara inveja das negras; todos vivendo nos engenhosde açúcar – tenha existido e foi sintetizado na obra pelo autor a partir da forma como sua própria família viveu, há também outros sujeitos como protagonistas nessa história. Em suma, toda a histeriografia relacionada ao tema produzida em 1980 pelas principais instituições brasileiras de ensino superior, questionaram essa estrutura harmônica construída por Freyre, e expuseram a violência que antes estava implícita na escravidão e ressaltam o real protagonismo dos escravos e, posteriormente libertos, na tentativa de estabelecer seu lócus social e combater a visão de caráter europeu a respeito das relações sociais como um todo. 
Recomendo a leitura e que além dela se expanda o debate sobrequestões que continuam muito atuais, tais como: identidade nacional; democracia racial; miscigenação das raças cujo principal produto foi a mulata “tipo exportação”- uma visão um tanto quanto terrível e ofensiva -; questão de exploração tanto da mulher indígena, quanto da africana e seus descendentes; homofobia e racismo; e para “novas” problemáticas também, como a violência de gênero, por exemplo. Sumariamente também fornece importantes sinalizadores para a compreensão da forma como as elites funcionam e como as relações de subordinação ainda se perpetuam e como ocorre a violência ocorre de forma massiva toda vez que algum setor social tenta redefinir as relações de dominação.

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