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A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 1 A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva Prof. Carlos Henrique Horn Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Ciências Econômicas Departamento de Economia e Relações Internacionais ECO-02/236 – Teoria Macroeconômica I Estrutura da exposição 1. Críticas de Keynes aos postulados da economia clássica. – Comportamento dos trabalhadores em face de variações nos salários nominais e nos salários reais. – Variação nos salários reais e oferta de trabalho. – Variação nos salários nominais e nos salários reais. – Objeção à Lei de Say. 2. A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva. – O ponto da demanda efetiva. 3. Uma formulação geral do Princípio da Demanda Efetiva (Possas). 4. O modelo keynesiano simples. 2 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 2 Referências bibliográficas Bibliografia: LOPES, Luiz Martins; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Manual de macroeconomia: nível básico e nível intermediário. 3ª ed., 7ª reimpr. São Paulo: Atlas, 2014. Cap. 4. KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. São Paulo: Abril Cultural, 1983 [1936]. Caps. 1 a 3. Bibliografia adicional: DILLARD, Dudley. A teoria econômica de John Maynard Keynes. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1971. Cap. III. KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego. In: SZMRECSÁNYI, Tamás (org.). Keynes: economia. São Paulo: Ática, 1978 [1937]. Cap. 11. POSSAS, Mario Luiz. A dinâmica da economia capitalista: uma abordagem teórica. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 48-58. 3 Os postulados da economia clássica Os “dois postulados fundamentais”: I. O salário [real] é igual ao produto marginal do trabalho [Demanda de trabalho]. II. A utilidade do salário [salário real], quando se emprega determinado volume de trabalho, é igual à desutilidade marginal desse mesmo volume de emprego [Oferta de trabalho]. (Keynes, 1983, p. 18) 4 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 3 Os postulados da economia clássica Desemprego: friccional, voluntário e involuntário • Os postulados são compatíveis com: – Desemprego friccional: situação em que indivíduos se encontram temporariamente afastados do trabalho devido a imperfeições do mercado de trabalho. Motivos possíveis: imobilidade da força de trabalho; natureza sazonal dos trabalhos; escassez de matérias-primas; avarias na maquinaria; ignorância de oportunidades de trabalho. – Desemprego voluntário: situação em que indivíduos não aceitam trabalhar pelo salário corrente. • Os postulados não são compatíveis com o desemprego involuntário: situação em que indivíduos aceitam trabalhar pelo salário corrente, mas não encontram emprego. 5 Os postulados da economia clássica A fonte do desemprego involuntário na teoria clássica Pergunta de Keynes: “Será verdade que as categorias anteriores [desemprego friccional e desemprego voluntário] abrangem todo o problema, considerando que, de modo geral, a população raramente encontra tanto emprego quanto desejaria ao salário corrente?” Resposta da economia clássica: “A escola clássica concilia este fenômeno com seu segundo postulado, argumentando que, se a procura de mão-de-obra ao salário nominal vigente se acha satisfeita antes de estarem empregadas todas as pessoas desejosas de trabalhar em troca dele, isto se deve a um acordo declarado ou tácito entre os operários de não trabalharem por menos, e que, se todos admitissem uma redução dos salários nominais, maior seria o volume do emprego atendido”. (Keynes, 1983, p. 19) 6 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 4 Os postulados da economia clássica A fonte do desemprego involuntário na teoria clássica • Dillard menciona as seguintes fontes de “imperfeições do mercado de trabalho”: – Contratação coletiva pelos sindicatos, notadamente diante do instituto das closed shops. – Leis de salário mínimo. – Seguro-desemprego. – Subsídios aos trabalhadores. – Convenção tácita entre os trabalhadores em geral ao que eles e a comunidade considerariam um salário razoável para viver. (Dillard, 1971, p. 22) 7 Os postulados da economia clássica Críticas de Keynes Keynes formula duas críticas sobre a teoria clássica do emprego e sua consequência principal [desemprego como resistência à redução dos salários nominais]: • 1ª crítica (“não é teoricamente fundamental”): Sobre o comportamento dos trabalhadores em face dos salários reais e dos salários nominais. A oferta de trabalho. • 2ª crítica (“é teoricamente fundamental”): Sobre a ideia de que os salários reais dependem das negociações salariais entre trabalhadores e empresários. 8 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 5 Os postulados da economia clássica: críticas de Keynes (1ª) Comportamento dos trabalhadores • Reações à redução nos salários reais são diferentes conforme o motivo: – Se causado por W↓: saída de ofertantes. – Se causado por P↑ (dentro de certos limites): permanência de ofertantes. • Duas implicações principais: – Por que os trabalhadores resistem a uma redução nos salários nominais? Rigidez dos salários nominais. – A [curva de] oferta de trabalho diante da permanência de ofertantes em caso de redução nos salários reais. 9 Os postulados da economia clássica: críticas de Keynes (1ª) Lógica da barganha e rigidez dos salários nominais • Lógica da barganha: trabalhadores negociam salários nominais. “a situação em que a mão-de-obra estipula (dentro de certos limites) um salário nominal, em vez de um salário real, constitui o caso normal”. Trabalhadores resistem a reduções nos salários nominais: consentir em W↓ implica aceitar redução no (W/P) relativo. Lógica de comparações salariais. • Dentro de certos limites, não há oposição a uma redução geral nos salários reais causada por P↑. • A união de um grupo de trabalhadores visa à proteção de seu salário real relativo. O nível geral de salários reais depende de outras forças . 10 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 6 Os postulados da economia clássica: críticas de Keynes (1ª) Variações nos salários reais e a oferta de trabalho • Para Keynes: Uma vez negociado o salário nominal contratual (Wc), o nível de preços P1 fixa o salário real (Wc/P1). Se P↑, a redução do salário real até (Wc/P2) não afasta ofertantes. Qualquer oferta ocorre na área hachureada até o nível de pleno emprego Nk. • Oferta de trabalho não se expressa numa curva: “se a oferta de trabalho não for uma função dos salários reais como sua única variável, seu argumento desmorona-se por completo, deixando totalmente indeterminada a questão de qual será o nível efetivo de emprego” (Keynes, 1983, p. 20, grifos do professor) 11 Os postulados da economia clássica: críticas de Keynes (2ª) Salários reais e negociações salariais • “Provavelmente não existe nenhum expediente por meio do qual a mão-de-obra, em conjunto, possa reduzir os seus salários reais a uma cifra determinada, revisando as cláusulas monetárias dos acordos celebrados com seus empregadores”. (Keynes, 1983, p. 22, grifo do professor) 12 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 7 Os postulados da economia clássica: a crítica de Keynes (2ª) Salários reais e negociações salariais • “A hipótese de que o nível geral dos salários reais depende das negociações entre empregadores e trabalhadores (...) está longe de ser consistentecom o conteúdo geral da teoria clássica”. (Keynes, 1983, p. 22, grifo do professor) • “(...) os preços são determinados pelo custo marginal expresso em termos nominais e os salários governam, em grande parte, o custo marginal. Assim sendo, se houvesse variações nos salários nominais, seria de esperar que a escola clássica sustentasse que os preços variassem em proporção quase igual, de tal modo que o salário real e o nível de desemprego permanecessem praticamente os mesmos”. (Keynes, 1983, p. 21-22, grifo do professor) 13 Os postulados da economia clássica: críticas de Keynes Objeção à Lei de Say Lei de Say (a oferta cria sua própria procura) significa: • “O total dos custos de produção deve ser gasto por completo, direta ou indiretamente, na compra do produto”. (Keynes, 1983, p.25) • “Um ato de poupança individual conduz inevitavelmente a um ato paralelo de investimento”. (Keynes, 1983, p.27) 14 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 8 Os postulados da economia clássica: críticas de Keynes Objeção à Lei de Say • Para Keynes: “Os que assim pensam foram, contudo, vítimas de uma ilusão de ótica que confunde duas atividades fundamentalmente diferentes. Julgaram, erradamente, que existe um nexo unindo as decisões de abster-se de um consumo imediato [poupança] às de prover um consumo futuro [investimento], quando não há nenhuma relação simples entre os motivos que determinam as primeiras e os que determinam as segundas”. (Keynes, 1983, p.27) 15 A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva • Relações principais: – O nível de emprego (e de produto) é determinado pelo ponto da demanda efetiva. – Dado o nível de emprego, o nível de salários reais é determinado em conformidade com as condições de técnica e recursos (produtividade do trabalho). • Causalidade: Demanda → Produto (Y) e Emprego (N) → Salários reais (W/P) Cabe, então, explicar o que é o ponto da demanda efetiva. 16 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 9 A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva Ponto da demanda efetiva Oferta agregada • Seja Z o preço da oferta agregada resultante do emprego de N trabalhadores. A relação entre Z e N é a função de oferta agregada: Z = φ (N) • O preço da oferta agregada corresponde ao rendimento requerido pelos empresários para decidir sobre um certo nível de produto e o emprego de N trabalhadores. Preço da oferta agregada ≈ Rendimento requerido para o emprego de N trabalhadores 17 A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva Ponto da demanda efetiva Demanda agregada • Seja D o preço da demanda agregada resultante do emprego de N trabalhadores. A relação entre D e N é a função de demanda agregada: D = f (N) • O preço da demanda agregada corresponde ao rendimento esperado de um certo nível de produto pelo emprego de N trabalhadores Preço da demanda agregada ≈ Rendimento esperado do emprego de N trabalhadores 18 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 10 A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva Ponto da demanda efetiva O valor de D no ponto E, em que a demanda agregada iguala a oferta agregada, é a demanda efetiva e corresponde ao nível de emprego Ne. • Se N < Ne, D > Z: empresas empregarão mais trabalhadores, pois o rendimento esperado é maior do que o rendimento requerido. • Se N > Ne, D < Z: empresas empregarão menos trabalhadores, pois o rendimento esperado é menor do que o rendimento requerido. 19 A versão keynesiana do Princípio da Demanda Efetiva Emprego e o ponto da demanda efetiva • O nível de emprego no ponto da demanda efetiva está associado à receita que empresários [maximizadores de lucro] requerem e esperam receber ao empregar trabalhadores e produzir bens e serviços. • É um nível de emprego de equilíbrio no sentido de que os empresários não alterarão suas decisões de contratar força de trabalho se não mudarem as condições dessa decisão. • Não é necessariamente um nível de pleno emprego, ou seja, um nível em que não há trabalhadores desejosos de se empregar ao nível de salários de mercado. Pode haver desemprego involuntário. 20 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 11 Uma formulação geral do Princípio da Demanda Efetiva • Possas adverte que a questão da demanda efetiva é normalmente circunscrita a contextos de crise e a problemas de sua insuficiência. • Defende que o PDE constitui um princípio básico, universal, que deve ser contemplado em qualquer teoria econômica. PDE não é, por si, uma teoria. • Necessidade de uma formulação simples e geral do PDE, desvinculada de teorias específicas, e que derive logicamente dos elementos constitutivos de uma economia mercantil monetária. (Possas, 1987, p. 48-50) 21 Uma formulação geral do Princípio da Demanda Efetiva • São características essenciais de uma economia mercantil monetária: – A produção é realizada por produtores privados independentes e se destina à venda no mercado. – Não há mecanismo de regulação consciente. O mercado é a instância responsável pela divisão do trabalho social. – Uma mercadoria particular – o dinheiro – torna-se equivalente geral do valor das mercadorias , cuja expressão relativa são os preços. – O dinheiro assume as funções de medida de valores, meio de circulação e meio de pagamento, com o desenvolvimento do crédito associado à produção e à troca. (Possas, 1987, p. 50-51) 22 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 12 Uma formulação geral do Princípio da Demanda Efetiva • Enunciado geral do PDE: “Em qualquer ato de compra e venda tomado isoladamente, produz-se um fluxo monetário – pagamento de um lado, recebimento de outro – decorrente de uma única decisão autônoma: a de efetuar determinado dispêndio. Portanto, tomando-se o conjunto de transações efetuadas numa economia mercantil durante um período de tempo arbitrário, o fluxo monetário total de receitas, idêntico ao de despesas, a elas correspondente terá sido determinado pelas decisões individuais de gasto dos agentes econômicos na aquisição de mercadorias (bens e serviços). Este é, em essência e em sua expressão mais simples possível, o princípio da demanda efetiva.” (Possas, 1987, p. 51) 23 Uma formulação geral do Princípio da Demanda Efetiva • Compra é a decisão autônoma. Primado lógico. – Venda depende da compra. Não se decide o que se ganha. – Produzir é decisão que depende da decisão de compra. • PDE implica rejeição da Lei de Say. – Lei de Say: determinação causal unilateral da renda (produção) para o gasto. – PDE: determinação causal unilateral do gasto (com o uso de um poder de compra) para a renda (produção). Lei de Say é em geral não válida; o contrário é sempre válido. 24 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 13 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo Modelo keynesiano simples de determinação da renda no curto prazo em uma economia fechada e sem governo: Oferta agregada: OA = Y Demanda agregada: DA = C + I Condição de equilíbrio: OA = DA • Dados os componentes da demanda agregada: – Consumo: C = C0 + cY (função consumo) – Investimento: I = I0 (função investimento) • Condição de equilíbrio (igualdade entre oferta e demanda): Y = C0 + cY + I0 25 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo • Retomando a condição de equilíbrio: Y = C + I Deduzindo C em ambos os lados: Y – C = I Dado que S = Y – Cé a poupança agregada, expressamos a condição de equilíbrio em outra forma: S = I • A função poupança é dada por: S = Y – (C0 + cY) = – C0 + (1 – c)Y Poupança é o resíduo da renda que não é destinado ao consumo. 26 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 14 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo Ilustração numérica do equilíbrio • Seja: Consumo autônomo: C0 = 100 Propensão marginal a consumir: c = 0,8 Investimento: I0 = 200 • Condição de equilíbrio: Y = C0 + cY + I0 Temos : Y = 100 + 0,8Y + 200 Resolvendo: YE = 1.500 • Condição de equilíbrio: S = I Temos: – 100 + 0,2Y = 200 Resolvendo: YE = 1.500 27 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo Gráfico da cruz keynesiana • Condição de equilíbrio: OA = DA Demanda agregada: DA = C + I0 Produto (renda) de equilíbrio: YE • Condição de equilíbrio: S = I Produto (renda) de equilíbrio: YE Vazamentos e injeções de renda • Vazamentos de renda: quedas autônomas na DA Aumentos na poupança • Injeções de renda: aumentos autônomos na DA Aumentos no investimento 28 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 15 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Retomando a Teoria Geral Linhas básicas da teoria geral do emprego • Quando o emprego aumenta, aumenta a renda real agregada. • Quando a renda real agregada aumenta, o consumo também aumenta, mas menos do que proporcionalmente (psicologia da comunidade expressa na propensão a consumir). • Para justificar o maior volume de emprego, é necessário um volume de investimento suficiente para absorver o excesso de produção sobre o consumo. • O montante do investimento depende do incentivo a investir, que depende da relação entre a eficiência marginal do capital (rentabilidade esperada do capital) e o complexo das taxas de juros. 29 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Retomando a Teoria Geral Linhas básicas da teoria geral do emprego • [Sob certas condições de técnica, recursos e custos,] a renda depende do volume de emprego N [depende da produção]. • O volume de emprego N [produção] depende das: – Expectativas de consumo (D1), que depende da psicologia da comunidade ou propensão a consumir. – Expectativas de investimento (D2), que depende da eficiência marginal do capital (rentabilidade esperada do capital) e das taxas de juros. Temos: D1 + D2 = D = φ (N), onde D é a demanda efetiva 30 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 16 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Retomando a Teoria Geral Consequências da teoria: observações de Keynes • “Se a propensão a consumir e o montante de novos investimentos resultam em uma insuficiência de demanda efetiva, o nível real de emprego se reduzirá até ficar abaixo da oferta de mão de obra potencialmente disponível ao salário real em vigor.” • “A simples existência de uma demanda efetiva insuficiente pode paralisar, e frequentemente paralisa, o aumento do emprego antes de haver ele alcançado o nível de pleno emprego.” (Paradoxo da pobreza em meio à abundância). • “Quanto mais rica for a comunidade, mais tenderá a ampliar a lacuna entre a sua produção efetiva e a potencial.” – Propensão a consumir é mais fraca. – Oportunidades de novos investimentos são menos atrativas. 31 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Multiplicador do gasto • Suponha um aumento no investimento (∆I). O aumento ∆I leva a um aumento na demanda agregada (∆DA) e, sob condições de capacidade ociosa, na produção e na renda (∆Y). • Qual a magnitude do aumento na renda? Temos uma sequência. Mecanismos de propagação de um choque de demanda: 1°: ∆Y = ∆DA = ∆I 2°: ∆Y = ∆DA = c∆I 3°: ∆Y = ∆DA = c(c∆I) = c2∆I. E assim por diante. • Temos uma sequência de despesas induzidas: ∆I; c∆I; c2∆I; c3∆I; c4∆I; ... A série é uma progressão geométrica de razão c, sendo c < 1. A soma indica o impacto total sobre a renda: ∆Y = [1/(1 – c)]∆I. 32 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 17 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Multiplicador do gasto • Multiplicador do gasto (multiplicador de Keynes-Kahn). O termo [1/(1 – c)] mede o efeito da variação no gasto sobre a renda. No modelo simples, o multiplicador depende da propensão a consumir: quanto maior c, maior será o efeito multiplicador. • Retomando a condição de equilíbrio: Y = C0 + cY + I0 Isolando Y, temos: YE = [(1/(1 – c)](C0 + I0) • Na ilustração numérica: YE = [1/(1 – 0,8)](100 + 200) = 1.500 Multiplicador: 1/(1 – 0,8) = 5 Qual o impacto de ∆I = 100 sobre a renda? 33 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Multiplicador do gasto • Qual o impacto de ∆I = 100 sobre a renda? ∆Y = [1/(1 – 0,8)]100 = 500 Portanto: YE’ = 1500 + 500 = 2000 Consumo: C = 100 + 0,8.2000 = 1700 Investimento: I = 200 + 100 = 300 Poupança: S = Y – C = 2000 – 1700 = 300 • Uma variação no gasto autônomo induz a variações mais do que proporcionais no produto e na renda. O ajuste na economia ocorre mediante variações nas quantidades. A poupança é um resíduo: o aumento na renda permite aumentar a poupança agregada. 34 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 18 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Capacidade ociosa e hiato inflacionário • Dado DA0, o produto (renda) de equilíbrio é YE0. • A expansão na demanda para DA1, sob condições de ociosidade, leva a um ajuste de quantidades para YE1. • Se o produto potencial YP = YE1, então, novo aumento na demanda (para DA2) não leva a um ajuste de quantidades. Cria-se um hiato inflacionário (H) em face do excesso de demanda. 35 O modelo keynesiano simples 1. Economia fechada e sem governo. Oferta agregada Oferta agregada clássica • Produto (renda) tende a fixar-se no nível do pleno emprego YP. • Mudanças em YP dependem das condições da técnica e do mercado de trabalho. Oferta agregada keynesiana • No intervalo até o pleno emprego, variações na demanda determinam o produto (renda) agregada. • Não há impactos relevantes sobre os preços até o limite da capacidade. 36 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 19 O modelo keynesiano simples O que é o pleno emprego? • No modelo clássico, o pleno emprego corresponde ao nível de ocupação e produção associado ao equilíbrio no mercado de trabalho. A economia tende ao pleno emprego. Pode haver desemprego de trabalho (voluntário ou friccional). • No modelo keynesiano, o pleno emprego corresponde ao nível de ocupação e produção associado à ausência de ociosidade no aparelho produtivo. Quando ocorre? – Todos os fatores de produção são utilizados, dada a tecnologia. – Esgotamento do uso do fator mais escasso, dada a tecnologia. A economia não tende necessariamente ao pleno emprego. Este é um caso especial. 37 O modelo keynesiano simples Paradoxo da parcimônia • Incentivar as famílias a aumentarem sua poupança, reduzindo o consumo, leva ao aumento na poupança agregada ? • Uma variação negativa na propensão a consumir, mantidos os gastos autônomos, leva a uma redução na renda. Ilustração numérica. Suponha c’= 0,7 (< c = 0,8). YE = [(1/(1 – 0,8)](100 + 200) = 1500 YE’ = [(1/(1 – 0,7)](100 + 200) = 1000 • O que acontece com a poupança agregada (corrente)? S = – 100 + (1 – 0,8)1500 = 200 S’ = – 100 + (1 – 0,7)1000 = 200 O que aconteceria com a poupança se o investimentodiminuísse? 38 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 20 O modelo keynesiano simples 2. Economia fechada e com governo Modelo keynesiano simples de determinação da renda no curto prazo em uma economia fechada e com governo: Oferta agregada: OA = Y Demanda agregada: DA = C + I + G Condição de equilíbrio: OA = DA • Dados os componentes da demanda agregada: – Consumo: C = C(Yd) = C0 + c(Y – T) = C0 + c(Y – tY) – Gastos do Governo: G = G0 – Investimento: I = I0 • Condição de equilíbrio (igualdade entre oferta e demanda): Y = C0 + c(Y – tY) + I0 + G0 39 O modelo keynesiano simples 2. Economia fechada e com governo • Na condição de equilíbrio: Y = C0 + c(Y – tY) + I0 + G0 Isolando Y, temos: YE = [1/(1 – c(1 – t))](C0 + I0 + G0) • O multiplicador do gasto autônomo depende da propensão a consumir (c) e da alíquota de tributos (t), líquida de transferências, que é uma medida da carga tributária líquida. Multiplicador do gasto: 1/(1 – c(1 – t)) 40 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 21 O modelo keynesiano simples 2. Economia fechada e com governo Ilustração numérica do equilíbrio • Suponha: Consumo autônomo: C0 = 100 Propensão marginal a consumir: c = 0,8 Alíquota de tributos: t = 0,25 Investimento: I0 = 200 Gasto do governo: G0 = 300 • Condição de equilíbrio: YE = [1/(1 – c(1 – t))](C0 + I0 + G0) YE = [1/(1 – 0,8(1 – 0,25))](100 + 200 + 300) Multiplicador do gasto = 1/(1 – 0,8(1 – 0,25)) = 2,5 YE = 1.500 41 O modelo keynesiano simples 3. Economia aberta e com governo Modelo keynesiano simples de determinação da renda no curto prazo em uma economia aberta e com governo: Oferta agregada: OA = Y Demanda agregada: DA = C + I + G + (X – M) Condição de equilíbrio: OA = DA • Dados os componentes da demanda agregada: – Consumo: C = C(Yd) = C0 + c(Y – T) = C0 + c(Y – tY) – Gastos do Governo: G = G0 – Investimento: I = I0 – Exportações: X = X0 – Importações: M = mY (m é a propensão a importar) 42 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 22 O modelo keynesiano simples 3. Economia aberta e com governo • Na condição de equilíbrio (igualdade entre oferta e demanda): Y = C0 + c(Y – tY) + I0 + G0 + (X0 – mY) Reordenando: Y = [c(Y – tY) – mY] + (C0 + I0 + G0 + X0) Isolando Y, temos: YE = [1/(1 – c(1 – t) + m)](C0 + I0 + G0 + X0) • O multiplicador do gasto autônomo depende da propensão a consumir (c), da alíquota de tributos (t) e da propensão a importar (m). Multiplicador do gasto: 1/(1 – c(1 – t) + m) 43 O modelo keynesiano simples 3. Economia aberta e com governo Ilustração numérica do equilíbrio • Suponha: Consumo autônomo: C0 = 100 Propensão marginal a consumir: c = 0,8 Alíquota de tributos: t = 0,25 Investimento: I0 = 200 Gasto do governo: G0 = 300 Exportações: X0 = 250 Propensão a importar: m = 0,1 • Condição de equilíbrio: YE = [1/(1 – c(1 – t) + m)](C0 + I0 + G0 + X0) YE = [1/(1 – 0,8(1 – 0,25) + 0,1)](100 + 200 + 300 + 250) Multiplicador do gasto = 1/(1 – 0,8(1 – 0,25) + 0,1) = 2 YE = 1.600 44 A versão keynesiana do PDE ECO-02/236 - Teoria Macroeconômica I - Prof. Carlos Henrique Horn 23 Keynes e o Princípio da Demanda Efetiva Demanda agregada Princípio da Demanda Efetiva Função de produção (tecnologia) Mercado de trabalho Barganha salarial Variáveis reais Produto (Y) Nível de emprego (N) Salário real (W/P) Variáveis nominais Salário nominal (W) Nível de preços (P) 45
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