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(EFEITOS DA POSSE AÇÕES POSSESSÓRIAS)

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ATENÇÃO! Este material é resumido e apenas complementar, para realização de prova e demais atividades avaliativas, não dispensa o estudo da Lei n° 10.406/2002 – Código Civil Brasileiro, bem como Lei n°13.105/2015 – Código de Processo Civil de 2015, e leitura de obras doutrinárias e demais materiais atualizados (jurisprudências, artigos, enunciados e outros) sobre a disciplina constante da ementa do curso ou de sua preferência em razão de adaptação à leitura.1 Ainda, este material NÃO esgota o assunto, especialmente quanto ao que está descrito na ementa da disciplina.
DOS EFEITOS DA POSSE (CC, artigos 1.210 a 1.222)
Afirma o autor Carlos Roberto Gonçalves2 sobre os efeitos da posse:
Parece-nos, desse modo, bastante racional sistematizar esses efeitos com base no direito positivo (CC, arts. 1.210 a 1.222 e 1.238 e s.), afirmando que cinco são os mais “evidentes”: a) a proteção possessória, abrangendo a autodefesa e a invocação dos interditos; b) a percepção dos frutos; c) a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa; d) a indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção; e) a usucapião.
Com relação proteção possessória, diga-se que a proteção conferida ao possuidor é o principal efeito da posse, a qual se dá de dois modos: a) pela legítima defesa e pelo desforço imediato; e b) pelas ações possessórias, criadas especialmente para a defesa da posse (manutenção, reintegração e interdito possessório).
Sobre o modo posto na letra “a” ou também chamado autotutela, vejamos o artigo 1.210, §1° do CC/2002:
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
Sobre a letra “b”, a seguir.
AÇÕES POSSESSÓRIAS (CPC/2015, arts. 554 ao 567)
Introdução: A lei brasileira confere o direito à proteção à posse, permitindo que o possuidor a defenda de eventuais agressões.
São três as ações possessórias: ação de reintegração de posse, a manutenção de posse e o interdito proibitório. Não importa, aqui, se o bem é de propriedade do autor e sim se ele tem ou teve a posse. Assim, para que a ação seja possessória, deve estar fundada na posse do autor, que foi, está sendo, ou encontra-se em vias de ser agredida.
IMPORTANTE! Ações que possuem fundamento na posse são as ações possessórias ou os também chamados de interditos possessórios; enquanto que as ações fundadas em propriedade e outros, são as ações petitórias.
Ações que NÃO se confundem com as possessórias (mas que são chamadas “ações afins dos interditos possessórios”): ATENÇÃO!
Ação de imissão na posse: ação fundada na propriedade; é aquela atribuída ao adquirente de um bem, que tenha se tornado seu proprietário, para ingressar na posse pela primeira vez, quando o alienante não lhe entrega a coisa;
1 Este material foi elaborado de forma resumida com base na Lei n° 10.406/2002 (CC/2002), Lei n° 13.105/2015 (CPC/2015), obras de autores mencionados na ementa da disciplina e autores de Direito Processual Civil, no decorrer do material, jurisprudência e Enunciados e outros.
2 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro. Edição 12ª, Ed. Saraiva, 2017, p. 130.
1
Ação reivindicatória: É a que tem o proprietário para, com base em seu direito, reaver a posse da coisa, que está indevidamente com o terceiro.
Tanto o proprietário, por força do art. 1.228, CC/023, tem o direito de reaver a coisa do poder de quem injustamente a possua ou detenha, quanto o possuidor, porque a posse é protegida por lei e não pode ser tirada de forma indevida ou ilícita.
EX.: A é proprietário de um bem, e B, o seu possuidor, que o tenha conseguido sem autorização do dono. O proprietário pode ajuizar ação reivindicatória para reavê-lo e, se provar a sua condição, terá êxito. Mas nem por isso ele (muito menos outras pessoas) pode tomar a coisa do possuidor, indevidamente, com emprego de violência, clandestinidade ou precariedade. Se isso ocorrer, o possuidor merecerá a proteção possessória, até mesmo contra o proprietário, que tomou a coisa a força4.
Ação de nunciação de obra nova: Sua função é impedir a construção de obra nova (alterações significativas) em imóveis vizinhos que esteja impedindo, atrapalhando, causando transtornos, prejuízos ao possuidor ou proprietário.
Vejamos o que diz o autor Carlos Roberto Gonçalves5:
Tal ação, também chamada de embargo de obra nova, reveste-se de caráter possessório pelo fato de poder ser utilizada também pelo possuidor. Mas não visa, direta e exclusivamente, à defesa da posse. Não existe conflito possessório sobre a mesma coisa, mas sim uma obra que afeta o uso pacífico de outra coisa.
Essa ação compete ao proprietário ou possuidor. Legitimado para figurar como réu é o dono da obra, aquele por conta de quem é executada, podendo ser o dono do terreno ou terceiro responsável pelo empreendimento, como, por exemplo, a empresa que prometeu área construída em troca do solo.
Embargos de terceiro: Pode ser ajuizada tanto pelo proprietário quanto pelo possuidor. Seu objetivo é permitir que terceiro, que não é parte no processo, recupere a coisa objeto de constrição judicial.
“O Supremo Tribunal Federal já admitiu a oposição de embargos de terceiro em ações possessórias, mesmo depois do trânsito em julgado da sentença de conhecimento”.6
Os interditos possessório:
Reintegração da posse; Manutenção da posse e Interdito proibitório, cabíveis quando houver, respectivamente:
Esbulho: quando a vítima (possuidor) é desapossada. Houve uma invasão e o possuidor foi expulso.
Data da turbação ou do esbulho, a lei exige a prova da desta data, pois, a partir da data é que será definido o procedimento a ser adotado. O especial, com pedido de liminar, exige prova de turbação ou esbulho praticados há menos de ano e dia da data do ajuizamento. Passado esse prazo, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório (CPC, art. 558, parágrafo único).
Turbação: quando há atos concretos de agressão à posse, mas sem desapossamento da vítima. Ex.: Agressor destrói o muro do imóvel da vítima; ou ingressa frequentemente, para subtrair frutas ou objetos de dentro do imóvel.7
3 Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
4 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p. 594.
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro. Edição 12ª, Ed. Saraiva, 2017, p. 180.
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro. Edição 12ª, Ed. Saraiva, 2017, p. 169.
7 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.595.
Data da turbação ou do esbulho, a lei exige a prova da desta data, pois, a partir da data é que será definido o procedimento a ser adotado. O especial, com pedido de liminar, exige prova de turbação ou esbulho praticados há menos de ano e dia da data do ajuizamento. Passado esse prazo, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório (CPC, art. 558, parágrafo único).
Ameaça: quando o agressor manifesta a intenção de consumar a agressão. Ex.: Fica aposto na entrada do imóvel, gritando palavras de ordem, armado, com outras pessoas, dando a entender que vai invadir.
Peculiaridades das ações possessórias:
Fungibilidade: Em razão da dificuldade de diferenciar uma ação possessória das outras em razão da natureza da agressão, a lei considerou as três ações fungíveis entre si. (art. 554, CPC/2015).
Cumulação de pedidos: Art.327 e 555, ambos do CPC/2015.
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para: I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.
*Há a cumulação dos pedidos sem prejuízo do procedimento especial.
Natureza dúplice:
Art. 556, CPC/2015: “É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor”.
Exceção de domínio:
Na ação possessória, o réu não poderá alegar em sua defesa a propriedade do sobre o bem, porque se assim não fosse, todo proprietário poderia tomar a posse para si, ainda que de forma ilegítima, alegando em defesa, na ação judicial, ser o proprietário e por isso faz jus à posse. Daniel Amorim Assumpção diz que: “A vedação legal de discussão da propriedade nas ações possessórias é a única forma de proteger o legítimo possuidor molestado, inclusive contra o proprietário”8.
Pressuposto processual negativo: Impossibilidade de intentar ação de reconhecimento domínio durante o curso da ação possessória:
Art. 557, CPC/2015: Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.
Desde o ajuizamento da ação possessória até seu trânsito em julgado, não se admite ação de reconhecimento de domínio envolvendo as mesmas partes. Se fosse admitida, haveria reunião dos processos e a propriedade acabaria interferindo no juízo possessório.
Concluída a ação possessória, aquele que quiser propor a ação de reconhecimento de domínio, poderá fazê-lo.
PROCEDIMENTO:
Dois tipos de procedimentos:
8 Cf. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Editora JusPodvim, Ed. 8ª, 2016, p. 852.
Primeiramente, cumpre destacar que existem dois tipos de possessória: a de força nova e a de força velha, o que as distingue é o procedimento.
Art. 558 e parágrafo único, CPC/2015:
Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
(Art. 560 ao 566, CPC/2015) A ação de força nova é aquela intentada dentro de ano e dia, a contar da data do esbulho ou da turbação. Nesta ação, o que a caracteriza, é o procedimento especial, no qual há a possibilidade de liminar própria, com requisitos específicos.
Se o autor propuser a ação depois de ano e dia, será observado o procedimento comum. O transcurso desse prazo não tem relevância na qualificação da posse, e sim no procedimento da ação possessória.
A posse obtida indevidamente, com violência, clandestinidade, precariedade, ou outro meio ilícito, continua injusta mesmo depois do prazo de ano e dia.
A ação de força velha, então, é aquela intentada depois de passado ano e dia, a qual seguirá o procedimento comum. (O pedido liminar é de tutela de urgência, pois aqui, o procedimento é comum).
Obs.: O que o procedimento especial tem de particularidade, é a fase de liminar, que pode ser deferida de plano ou após a audiência de justificação. Passada essa fase, o procedimento seguirá pelo comum.
Poderia se dizer que a liminar da possessória é igual às medidas de urgência prevista no art. 297, CPC/2015. No entanto, na liminar da possessória, não exige perigo nem urgência, mas somente que o autor demonstre, em cognição sumária, que tinha a posse e foi esbulhado ou turbado, há menos de ano e dia9.
Competência:
Se o bem for móvel, domicílio do réu art. 46, CPC/2015; se for bem imóvel, situação da coisa, art. 47, §2°, CPC/2015.
Legitimidade ativa:
É do possuidor que alega ter sido esbulhado, turbado ou ameaçado. O proprietário não terá legitimidade, senão que também seja possuidor. Ver art. 1.207, CC/200210.
A ação possessória poderá ser ajuizada por qualquer tipo de possuidor, direto (locação, usufruto, comodato etc.) ou indireto; natural ou civil; justo ou injusto.11
Legitimidade passiva:
É daquele que perpetrou a agressão à posse, do autor do esbulho, turbação ou ameaça. Importante trazer o que diz NEVES, Daniel Amorim Assumpção:
O simples detentor da coisa, que a ocupa por mera permissão ou tolerância do possuidor, não tem legitimidade para propor ação possessória, o mesmo ocorrendo com o sujeito que conserva a posse da coisa sob ordens ou instruções do possuidor.
9 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.601.
10 Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.
11 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.602.
É possível que o legitimado passivo seja o possuidor, na hipótese de o locatário promover ação possessória contra o locador que pratica esbulho, turbação ou ameaça.
Obs.: No caso dos cônjuges, ainda que o art. 4712, do CPC/2015 reconheça a natureza de direito real do direito possessório, o art. 73, §2°13, CPC/2015, tem tratamento expresso sobre litisconsórcio entre eles na ação possessória.
Obs.: Composse: posse exercida em conjunto por dois ou mais indivíduos sobre a mesma coisa indivisa.
Quando há muitos invasores que não podem ser identificados:
Nesse caso, conforme diz o autor GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios (2016, p.603), se a identidade não puder ser apurada. A ação poderá ser proposta contra todos indistintamente, sem que se identifique um a um. O §1°, do art. 554, CPC/2015 diz que, no caso de figurar grande número de pessoas no polo passivo, seja feita a citação pessoal dos que forem encontrados no local e, por edital dos demais.
Art. 554 A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.
§ 1o No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
§ 2o Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.
§ 3o O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista no § 1o e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios.
Possessória contra a Fazenda Pública (Pessoa Jurídica de Direito Público) (art. 562, p. único, CPC/2015):
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.
Importante trazer observação feita pelo autor GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, 2016, p. 602:
A Fazenda Pública pode dar à área ocupada uma finalidade, construindo no local, por exemplo, uma escola, um hospital ou uma repartição. Nesse caso, por força do princípio da supremaciado interesse público, o possuidor e o proprietário perderão a coisa, mas serão ressarcidos pelos prejuízos que sofreram. Tais prejuízos poderão ser cobrados pelo proprietário, na chamada “desapropriação indireta”, ou pelo possuidor, já que também a posse tem valor econômico.
Petição inicial:
Deve preencher os requisitos dos arts. 319 e 320, CPC/2015, bem como indicar o bem objeto da ação.
Liminar:
É o que torna especial o procedimento das possessórias de força nova: possibilidade de o juiz determinar, de plano, a reintegração ou a manutenção de posse. Ou ainda, fixar de plano a multa preventiva, no interdito proibitório14.
12 Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
13 Art. 73, § 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
14 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.603.
5
A liminar nas possessórias é específica, própria de ação de força nova. Requisitos previstos no art. 561, CPC/2015:
Art. 561. Incumbe ao autor provar: I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração.
Não é tutela de urgência, pois, possui requisitos próprios no art. 561, CPC/2015. O juiz examinará os requisitos em cognição sumária.
Momento da liminar:
Antes da citação: Cumpridos os requisitos, o juiz concederá a liminar antes da citação do réu.
Importante ressaltar que não é muito comum o juiz conceder a liminar de plano, pois, tendo a posse aspectos fáticos, nem sempre é possível que a inicial traga todos os elementos necessários para convencer o juiz.
Após audiência de justificação: Seu objetivo é oportunizar ao autor produzir provas para o convencimento do juiz, demonstrar o preenchimento dos requisitos necessários.
Afirma o autor, Carlos Roberto Gonçalves15 que a decisão que concede ou denega medida liminar é interlocutória, uma vez que não põe fim ao processo. (CPC/2015, art. 1.015).
A audiência de justificação poderá ser designada de ofício?
Há controvérsia na doutrina, mas prevalece o entendimento de que pode, pois, entendem que se houve o pedido liminar, está implícito o pedido de que o juiz, caso não a conceda de plano, designe audiência de justificação. Nesse sentido: STJ, 3ª Turma, AgRg no Ag 1.113.817/SP, rel. Min. Massami Uyda, DJU 12/06/2009.
Contestação do réu:
Haverá a citação do réu para integrar a relação processual para que compareça à audiência de justificação. Significa que, nesta audiência, não é o momento para o réu apresentar contestação16. O prazo para contestar começará a fluir a partir do momento em que tomar ciência da decisão da liminar17. Significa que, se o juiz proferir a decisão da liminar em audiência, fará a intimação do réu para contestar no prazo legal, ali na audiência18. Mas o juiz poderá proferir a decisão em cartório, hipótese em que o réu será devidamente intimado para contestar19.
Sobre o prazo para contestar, vejamos o art. 564, parágrafo único, CPC/2015:
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.
Importante trazer à baila o diz NEVES, Daniel Amorim Assumpção: A doutrina majoritária entende que o réu pode se fazer representar por advogado na audiência, com plena participação na colheita da prova testemunhal a ser produzida pelo autor (reperguntas e contradita).
15 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro. Edição 12ª, Ed. Saraiva, 2017, p. 164.
16 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p. 604/605 e NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Editora JusPodvim, Ed. 8ª, 2016, p.856.
17 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p604/605.
18 Informativo 457/STJ, 4ª Turma, Resp 890.598-RJ, Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/11/2010.
19 Informativo 457/STJ, 4ª Turma, Resp 890.598-RJ, Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/11/2010.
6
No entanto, o réu não poderá produzir prova testemunhal com a oitiva de testemunhas levadas por ele à audiência20.
Pois bem, realizada a citação do réu, o prazo para contestar é de 15 dias, observar que o art. 566 diz que a partir desse momento, o procedimento será comum.
É permitida reconvenção, considerando que o art. 556, CPC/2015 permite ao réu formular pedidos de proteção possessória e de indenização na própria contestação.
GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, 2016, p. 606 diz que em razão da natureza dúplice das possessórias, o réu só poderá formular, na reconvenção, pedidos distintos dos previstos no artigo 555, CPC/2015. Mas que se admite, por exemplo, que o réu peça a resolução ou anulação do contrato.
Por outro lado, NEVES, Daniel Amorim Assumpção, 2016, p. 857, afirma que o artigo 556, CPC/2015 ofende o princípio da isonomia, pois, além dos dois pedidos nele previstos, o réu também poderá pedir a imposição de medida necessária e adequada para evitar nova turbação ou esbulho (art. 555, parágrafo único, I, CPC/2015), para NEVES, Daniel Amorim Assumpção, esse pedido também poderá ser feito na reconvenção, porque após a resposta do réu, o procedimento a ser observado será o comum.
Execução da sentença:
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves21: “O juiz emite uma ordem para que o oficial de justiça expulse imediatamente o esbulhador e reintegre na posse o esbulhado, pois a possessória tem força executiva, tal como a ação de despejo, não existindo instância executória”.
Retenção por benfeitorias:
É predominante, na doutrina e na jurisprudência, o entendimento de que não cabem embargos do executado em ação possessória, porque a sentença tem força executiva.
Na contestação, o réu deve alegar que fez as benfeitorias necessárias ou úteis e pedir o ressarcimento (direito assegurado ao possuidor de boa-fé, CC, art. 1.219), sob pena de não poder reter a coisa.
O STJ entendeu que, se o réu não alegar as benfeitorias, ou seja, o direito de reter a coisa, na fase de conhecimento, haverá a preclusão, pois não havendo fase executiva subsequente, apenas a expedição de mandado possessório, não havendo outra oportunidade para que o réu alegue22. Nesse sentido: REsp 649.296/DF, publicado no DJE 06/11/2006, Rel. Min. César Asfor Rocha.
Litígio coletivo pela posse: (Art. 554,§1° e art. 565, CPC/2015)
O art. 565 cria especialidades procedimentais quando a demanda possessória envolver conflito coletivo pela posse de imóvel.
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2oe 4o.
§ 1o Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2o a 4o deste artigo.
§ 2o O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.
§ 3o O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.
§ 4o Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federale de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de
20 Cf. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Editora JusPodvim, Ed. 8ª, 2016, p. 856: Marcato, Procedimentos, n.74, p. 173-174; Marinoni-Mitidiero, Código, p. 847; Baptista da Silva, Comentários, p. 272.
21 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro. Edição 12ª, Ed. Saraiva, 2017, p. 167.
22 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.606.
se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.
§ 5o Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.
Interdito Proibitório:
Essa ação é a adequada quando ainda não houve agressão à posse, mas tão somente ameaça; peculiaridades que se distingue das demais, pois seu caráter é preventivo, não repressivo23.
Nítida natureza inibitória24para evitar que a ameaça à posse se concretize. Evitar a prática do ato ilícito no esbulho ou na turbação.
Sobre o procedimento da ação de interdito proibitório, aplica-se subsidiariamente o da ação de reintegração e manutenção da posse, conforme artigo 568, CPC/2015.
Ainda sobre o procedimento, vale trazer à baila o que diz o autor GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios25:
O procedimento do interdito proibitório, quando a ameaça tenha ocorrido há menos de ano e dia, é o das ações de força nova. O juiz poderá conceder a liminar, de plano ou após a audiência de justificação. A diferença é que a liminar não será para reprimir alguma agressão realizada, mas para fixar a multa na qual o réu incorrerá caso transforme a ameaça em ação.
Deferida a liminar, caso o réu cometa a turbação ou o esbulho, haverá duas consequências: por força do princípio da fungibilidade, o juiz, ao final, concederá ao autor a reintegração ou a manutenção de posse; e o réu incorrerá na multa, que poderá ser executada nos mesmos autos, observando-se as regras doa RT. 537,
§3°, do CPC que, conquanto verse sobre as astreintes, pode ser aplicado, por analogia, à multa cominatória do interdito proibitório.
Percepção dos frutos
É fundamental a boa-fé, para que o possuidor ganhe os frutos, ou seja, o pensamento de que é proprietário. “CC, art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos”.
O CC/2002 requer a existência de um justo título para a aquisição dos frutos, porque deve ter direitos a eles a posse se assemelha à propriedade, ou tem sua aparência. Vejamos o que diz o autor Carlos Roberto Gonçalves:
Todos os atos translativos, mesmo os nulos, ou putativos, dão direito aos frutos, desde que convençam o adquirente da legitimidade do seu direito. Só não tem direito aos frutos o possuidor que tem somente a posse, sem título que a valorize. Faz-se mister, assim, que exista um título real embora viciado, ou um título putativo, cuja ineficácia se ignore.
Classificação e espécie dos frutos
Na classe das coisas acessórias, há duas espécies: frutos e produtos. (CC, art. 95).
Produtos: são utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhes a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os metais, que se extraem das pedreiras e das minas.
Frutos: são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte, como as frutas das árvores, o leite, os cereais, as crias dos animais etc.
Quanto à origem: naturais, industriais civis
Naturais: são os que se desenvolvem e se renovam periodicamente, em virtude da força orgânica da própria natureza, como os cereais, as frutas das árvores, as crias dos animais etc.
23 Cf. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.607.
24 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Editora JusPodvim, Ed. 8ª, 2016, p. 858.
25 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado. Edição 7ª, Ed. Saraiva, 2016, p.608.
Industriais: são os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que surgem em razão da atuação do homem sobre a natureza, como a produção de uma fábrica.
Civis: são as rendas produzidas pela coisa, em virtude de sua utilização por outrem que não o proprietário, como os juros e os aluguéis.
Quanto ao seu estado:
Pendentes: enquanto unidos à coisa que os produziu; Percebidos ou colhidos: depois de separados;
Estantes: os separados e armazenados ou acondicionados para venda; Percipiendos: os que deveriam ser, mas não foram colhidos ou percebidos; Consumidos: os que não existem mais porque foram utilizados.
Pois bem, tanto os frutos como os produtos de uma coisa pertencem ao proprietário.
Carlos Roberto Gonçalves diz que:
A posse de boa-fé derroga a regra unicamente em matéria de frutos e não de produtos, ou seja: a boa-fé só expropria o valor relativo aos frutos, ficando todo possuidor obrigado a indenizar ao proprietário os produtos que tenha obtido da coisa, se não puder restituí-los. (...) A diferença no tratamento jurídico reside na circunstância de que os produtos diminuem o valor da coisa, enquanto os frutos deixam-na intacta.
Regras da restituição (CC, arts. 1.214 a 1.216)
CC, art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos,
depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
A lei protege aquele que deu destinação econômica a terra, pensando que lhe pertencia. Considera-se cessada a boa-fé com a citação para a causa. O possuidor de boa-fé,
embora tenha direito aos frutos percebidos, não faz jus aos frutos pendentes, nem aos colhidos
antecipadamente, que devem ser restituídos, deduzidas as despesas da produção e custeio.
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.
Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa
causa.
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que
acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
Indenização das benfeitorias e o direito de retenção (CC, arts. 1.219 a 1.222)
A indagação que se faz é: Se o possuidor fez melhoramentos na coisa, ele terá direito de ser indenizado ou se a valorização da coisa pertence a quem a reivindicou, demonstrando a titularidade de um direito patrimonial?
CC, art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Se de boa-fé, tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo exercer, pelo valor delas, o direito de retenção.
Quanto às voluptuárias, poderá o possuidor de boa-fé levantá-las, se não acarretar estrago à coisa e se o reivindicantenão preferir ficar com elas, indenizando o seu valor. O objetivo é evitar o locupletamento sem causa do proprietário pelas benfeitorias então realizadas.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
A restrição é imposta ao possuidor de má-fé porque realizou as obras com consciência de que praticava ato ilícito. Faz jus, no entanto, à indenização das necessárias porque, caso contrário, o reivindicante experimentaria um enriquecimento indevido.
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.
Só faria sentido se os níveis de custo fossem estáveis, dado que o valor atual e o do custo geralmente se equivaleriam, mas não em períodos de inflação elevada pelo qual o País passou.
Ainda sobre direito de retenção, diz Carlos Roberto Gonçalves26:
Afigura-se-nos, todavia, mais apropriado dizer que a ideia de retenção está menos ligada à ideia de enriquecimento sem causa (porque não impede a cobrança da indenização) do que à de meio coercitivo, em função do qual fica o devedor compelido a pagar para poder, só então, haver a coisa. Trata-se, na realidade, de um meio coercitivo de pagamento, uma modalidade do art. 476 do Código Civil, transportada para o momento da execução, privilegiando o retentor porque esteve de boa-fé.
26 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro. Edição 12ª, Ed. Saraiva, 2017, p. 213.
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