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GLOSSÁRIO E APLICABILIDADE DA ANAMNESE DICIPLINA: Estomatologia Professores: Ademar Takahama Junior, Danielle Resende Camisasca, Karla Bianca Fernandes da Costa Fontes e Rebeca de Souza Azevedo INTRODUÇÃO O Exame clínico tem como objetivo a coleta de dados que constituirão a base do diagnóstico. Para um bom exame clínico é necessário apuro dos sentidos, capacidade de observação, bom senso e conhecimento básico sobre as doenças. O exame clínico divide-se em anamnese e exame físico. A anamnese, ou exame subjetivo, é baseada no diálogo entre o examinador e o paciente e consiste na coleta de todas as informações, presentes e passadas, que possam ser úteis na elaboração do diagnóstico, prognóstico e planejamento terapêutico. O exame físico geralmente sucede a anamnese e representa a parte objetiva do exame clínico que consiste na pesquisa de sinais e sintomas. Este manual, desenvolvido pela equipe de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense, Pólo Universitário de Nova Friburgo (FOUFF-NF), tem como objetivo facilitar a realização da anamnese, através da apresentação de um glossário com os principais termos médicos presentes no prontuário único desta instituição e as alterações mais importantes dos diferentes sistemas do organismo. ALGUNS TERMOS MÉDICOS EMPREGADOS NO PRONTUÁRIO ÚNICO DA FOUFF-NF CERVICALGIA: Dor na região do pescoço. Pode ser sinal de desordem da articulação têmporomandibular ou Síndrome de Eagle. DISFAGIA: Dificuldade de deglutir, que ocorre principalmente em decorrência de um fenômeno obstrutivo na região faríngea e esofagiana. DISGEUSIA: É a distorção ou diminuição do paladar, que pode estar associada à deficiência de zinco, uso de medicamentos para controle de hipertensão ou ansiedade. É também encontrada em pacientes com insuficiência renal severa, doenças endócrinas, anorexia, xerostomia, dentre outros. EPISTAXE: É a perda de sangue pelo nariz. Ocorre mais frequentemente em crianças, devido ao traumatismo digital (dedo no nariz) e fragilidade da região. HEMOPTISE: É a expectoração sanguínea ou sanguinolenta através da tosse de sangue originário do trato respiratório. É comum ocorrer em várias doenças cardíacas e pulmonares. O escarro com estrias de sangue é bastante comum e normalmente não é grave, ocorrendo geralmente em casos de infecções como bronquite aguda ou crônica. ODINOFAGIA: Dor ao deglutir, que geralmente está associada a algum processo infeccioso. RINORREIA: Saída de secreção pelo nariz, corrimento excessivo de muco nasal. Pode ser sinal de infecção das vias aéreas superiores ou processo alérgico. XEROFTALMIA: É a sensação de olhos secos, que pode representar uma redução do fluxo lacrimal em que o paciente refere sensação de corpo estranho nos olhos, associada principalmente à síndrome de Sjögren. XEROSTOMIA: É a sensação de boca seca, que pode representar uma hipossalivação em decorrência do uso de alguns medicamentos e diferentes alterações sistêmicas, em especial a síndrome de Sjögren, que também se caracteriza pela presença de xeroftalmia. APLICABILIDADE DAS ALTERAÇÕES DOS DIFERENTES APARELHOS E SISTEMAS DO ORGANISMO APARELHO CIRCULATÓRIO Hipertensão Arterial Sistêmica: A hipertensão é uma doença comum caracterizada pelo aumento da pressão arterial (PA). Pacientes hipertensos devem ser tratados de forma que se minimize, ao máximo, o seu estresse, pois a tensão de um tratamento odontológico pode interferir em seu estado geral. É necessário que a PA seja aferida antes de qualquer atendimento, sendo contraindicado o tratamento odontológico eletivo em pacientes hipertensos descontrolados. Hipotensão: Resulta de uma diminuição do débito cardíaco ou da diminuição da resistência vascular periférica. Não pode ser considerada essencialmente patológica, a menos que acarrete deficiência circulatória em órgãos importantes, como cérebro, coração e rins. Angina Pectoris e Dor Pré-Cordial: Caracterizam-se por ser uma dor no peito de curta duração associada à isquemia e/ou hipóxia. Este paciente precisa de cuidados especiais, com o objetivo de controlar o estresse durante os procedimentos odontológicos a fim de se evitar o desencadeamento de um infarto agudo do miocárdio. Infarto Agudo do Miocárdio: Caracteriza-se por ser a necrose de células do miocárdio resultante da oferta inadequada de sangue ao músculo cardíaco. Pacientes que já sofreram infarto agudo do miocárdio geralmente fazem uso de drogas anticoagulantes que alteram consideravelmente o fenômeno de hemostasia e podem levar a sérios acidentes hemorrágicos durante cirurgias odontológicas, se medidas adequadas não forem tomadas previamente, como o uso de técnica cirúrgica atraumática e a utilização de materiais com ação hemostática local, como os selantes de fibrina. Se necessário, a diminuição da dose ou interrupção do uso dos anticoagulantes só deverão ser indicados com o consentimento do médico. Febre reumática: Complicação tardia e autoimune em resposta a infecções por estreptococos, que afeta frequentemente as articulações e o coração. O conhecimento da história pregressa de febre reumática pode indicar a necessidade de se fazer uma profilaxia antibiótica da endocardite bacteriana, dependendo da presença da lesão valvular. SISTEMA RESPIRATÓRIO DPOC – doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite crônica, enfisema, bronquiectasia e asma): Representa um grupo de condições que compartilham um importante sintoma, a dispnéia. O dentista deve indagar especificamente sobre os eventos que podem resultar em crises. É muito importante nestes pacientes o controle do estresse emocional. O uso prolongado de corticóides por estes pacientes pode resultar em supressão insuficiência adrenal durante situações estressantes, podendo levar a um quadro importante de fraqueza, náusea, tontura, hipotensão arterial e até choque. Devemos executar o tratamento odontológico apenas nos pacientes assintomáticos, sendo adiados naqueles que apresentam sibilos, tosse, mesmo na ausência de comprometimento respiratório Tuberculose: A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada por uma micobactéria transmitida por aerossóis (gotículas de ar). Atinge principalmente os pulmões podendo se disseminar para todo o organismo. Os pacientes apresentam sintomas como febre, suores noturnos, tosse produtiva e perda de peso. Os pacientes com tuberculose devem ser questionados sobre o grau de envolvimento da doença, tipo e duração da terapia recebida e estado atual da atividade da doença. O médico do paciente deve ser consultado para a confirmação. No tratamento odontológico destes pacientes devemos ter uma atenção especial no risco de infecção cruzada. A tuberculose é uma doença de notificação compulsória. SISTEMA NERVOSO Acidente vascular cerebral (AVC): É caracterizado pela interrupção da irrigação sanguínea das estruturas do encéfalo, ocasionando a perda da funcionalidade dos neurônios. Estes pacientes geralmente fazem uso de anticoagulantes orais como a aspirina e o warfarin, o que eleva o risco de hemorragia em procedimentos cirúrgicos. O dentista deve estar atento ao uso destes medicamentos e, deve também sempre discutir com o médico o esquema da redução do estresse e a escolha dos analgésicos nos pacientes que já sofreram AVC. Epilepsia: A epilepsia não é uma doença, mas sim um complexo de sintomas resultantes de diversas complicações neurológicas, as quais variam de alteração da consciência e da atividade motora a fenômenos sensoriaise comportamentos aberrantes. Na maioria dos casos, os pacientes apresentam perda abrupta da consciência e atividades motoras anormais, incluindo contrações tônicas dos músculos das extremidades que duram de dois a cinco minutos. Após o episódio os pacientes costumam ficar sonolentos e confusos. A avaliação odontológica deve incluir perguntas sobre a frequência das convulsões e os medicamentos utilizados. Algumas drogas anticonvulsivantes como a fenitoína podem induzir o aumento gengival. SISTEMA ENDÓCRINO Diabetes: Os pacientes com endocrinopatias podem apresentar padrões anormais de crescimento, alterações de peso sem causa conhecida, alterações do padrão do sono, distribuição anormal de gordura e mudanças nas características sexuais secundárias. Estas alterações ocorrem, geralmente, de forma lenta e gradual, podendo passar despercebidas pelo paciente, como por exemplo, o diabetes melitus. O paciente com sintomas de polidipsia, poliúria e polifagia pode ser diabético, necessitando assim de cuidados especiais, especialmente em decorrência da diminuição de seu padrão imunológico. Periodontite, abscesso dentoalveolar recorrente, candidíase e xerostomia são algumas das alterações bucais frequentes nestes pacientes. Além disso, estes pacientes necessitam de acompanhamento médico para que mantenham os níveis de glicose controlados, minimizando assim a possibilidade de maiores complicações, como o choque hipoglicêmico. APARELHO DIGESTÓRIO Gastrite, gastroduodenite e úlcera: São desordens comuns resultantes da lesão do revestimento epitelial do estômago ou do duodeno. Podem apresentar-se como sintomas de dor, sangramento, obstrução ou perfuração gastrointestinal. O tratamento odontológico destes pacientes deve evitar o agravamento dos sintomas e, assim, a aspirina e os antiinflamatórios não-esteroidais devem ser evitados devido à irritação da mucosa gastrointestinal. Hepatite: Alteração hepática geralmente de origem infecciosa causada por vírus. Os principais vírus são o HAV, HBV e HCV, causando respectivamente as hepatites A, B e C. A hepatite A é transmitida por contato direto, através de água e alimentos contaminados. As hepatites B e C são transmitidas pelo sangue contaminado e podem ser agudas ou crônicas. Pacientes com hepatite podem apresentar deficiência de fatores da coagulação e de metabolismo de algumas drogas. SISTEMA OSTEOMUSCULAR Artrite – É o resultado de um processo inflamatório ou degenerativo das articulações. Os pacientes apresentam dor, deformidade e mobilidade limitada das articulações. Pode ser causada por infecção, gota ou distúrbios imunológicos como no caso da artrite reumatóide e o lúpus eritematoso sistêmico. Muitos pacientes com artrite fazem uso crônico e prolongado de altas doses de antiinflamatórios não-esteroidais e aspirina, que podem interferir na agregação plaquetária, elevando o risco de hemorragia. A artrite reumatóide e o lúpus eritematoso sistêmico podem estar relacionados com a síndrome de Sjögren, onde os pacientes podem apresentar também xerostomia e xeroftalmia. A artrite pode atingir a ATM, causando dor, trismo e edema na região. Osteoporose: Doença óssea metabólica mais comum, que acomete principalmente mulheres após a menopausa. Clinicamente, a manifestação mais frequente ocorre nas vértebras, que sofrem fraturas espontâneas e provocam dor intensa nas costas. É também possível ocorrerem fraturas espontâneas dos ossos longos. O uso de drogas do grupo dos bifosfonatos no tratamento da osteoporose, como o alendronato de sódio, pode resultar na osteonecrose dos ossos maxilares após intervenções cirúrgicas, como exodontias. SISTEMA GENITOURINÁRIO Insuficiência renal crônica: Causada por hipertensão de longa duração, diabetes melito ou por uso de drogas metabolizadas no rim. Os pacientes com insuficiência renal crônica, os que se submetem a hemodiálise e os transplantados renais necessitam de estratégias especiais no tratamento odontológico. Deve ser feita uma avaliação médica anterior ao tratamento odontológico, e os pacientes em hemodiálise recebem anticoagulantes durante o procedimento e o seu efeito persiste por cerca de duas a quatro horas após o término. Dessa forma, o prudente seria marcar as consultas para o dia seguinte ao da diálise. AIDS: Sigla que designa síndrome da imunodeficiência adquirida, imunodeficiência causada pelo retrovírus HIV e, caracterizada por imunossupressão severa que leva ao aparecimento de infecções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas. As principais manifestações orais associadas à infecção pelo HIV são: candidíase, leucoplasia pilosa, sarcoma de Kaposi, linfoma não-Hodgkin e doença periodontal. Além do maior risco de desenvolver infecções, os pacientes com AIDS podem apresentar também trombocitopenia, elevando o risco de hemorragia em procedimentos cirúrgicos. A AIDS também é uma doença de notificação compulsória. DESORDENS HEMATOLÓGICAS: Anemia – Desordem relativamente comum definida pela diminuição de eritrócitos e de hemoglobina circulante, pela redução na produção ou aumento na destruição dos eritrócitos. Pode ser assintomática ou com sintomas de dispnéia e fraqueza. Ao exame físico, pode-se observar palidez de pele e mucosas, glossite atrófica e queilite angular. A anemia grave pode acarretar em coagulopatias e, portanto, deve-se sempre fazer avaliação do hemograma e coagulograma antes de iniciar o tratamento odontológico do paciente com história de anemia. Distúrbios hemorrágicos – A hemostasia envolve vários eventos fisiológicos e, os defeitos hemostáticos são causados por anormalidades das plaquetas ou dos fatores de coagulação. Pacientes com história de sangramento anormal, espontâneo, pós- traumático ou pós-cirúrgico e história familial de desordens hemorrágicas devem ser submetidos à avaliação de distúrbios hemorrágicos antes de qualquer intervenção odontológica. Segue abaixo as principais causas de distúrbios hemorrágicos. Trombocitopenia – A diminuição do número de plaquetas pode resultar em sangramento clinicamente significativo. Drogas, distúrbios imunológicos, insuficiência da medula óssea (aplasia, leucemia), ou hiperesplenismo ou AIDS podem causar trombocitopenias. Hemofilia – A deficiência do fator VIII da coagulação configura a hemofilia A, uma condição hereditária recessiva ligada ao cromossomo X. A hemofilia B é caracterizada pela deficiência do fator IX, também uma doença hereditária recessiva ligada ao cromossomo X. Já a doença de Von Willebrand, os pacientes apresentam função anormal das plaquetas e deficiência do fator VIII. Todos estes pacientes apresentam risco de hemorragia grave. Doenças hepáticas – Na insuficiência grave do fígado, que pode ser causada por hepatite ou cirrose, a síntese de alguns fatores da coagulação (II, VII, IX e X), dependentes da vitamina K, pode estar comprometida, levando a um risco de hemorragia grave. Uso de anticoagulantes orais – Refere-se aos medicamentos que resultam na inibição da ação da vitamina K (cumarínicos), inativação da trombina (heparina) ou inibição da agregação plaquetária (aspirina). Pacientes que utilizam regularmente estes medicamentos apresentam risco de hemorragia grave. NEOPLASIAS MALIGNAS: A neoplasia maligna (câncer) está entre as três primeiras causas de morte no Brasil. A cada ano, oito milhões de pessoas recebem o diagnóstico de câncer no mundo inteiro. As principais modalidades de tratamento das neoplasias malignas são a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia, que podem apresentar efeitos colaterais importantes e interferir no plano de tratamentoodontológico destes pacientes. Quimioterapia – A quimioterapia é o método que utiliza drogas, os quimioterápicos, que atuam sobre as células que se encontram em proliferação, como as células tumorais. No entanto, células normais também são afetadas, principalmente células epiteliais e hematopoiéticas. Alguns pacientes durante o tratamento quimioterápico podem apresentar trombocitopenia, anemia e neutropenia (quantidade anormalmente baixa de neutrófilos no sangue), podendo ocasionar distúrbios hemorrágicos e infecções. Outro efeito colateral importante da quimioterapia é a mucosite, caracterizada por atrofia e ulceração da superfície da mucosa, sendo frequentemente extremamente dolorosa. Radioterapia – A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais empregando feixe de radiação ionizante. Assim como na quimioterapia, a radiação também age sobre o tecido normal no campo de irradiação, levando a efeitos colaterais importantes como a xerostomia, a mucosite, a cárie de radiação e a osterradionecrose. A osteorradionecrose é uma complicação séria da radioterapia caracterizada por necrose e exposição óssea, principalmente após procedimentos cirúrgicos invasivos como exodontias, em área previamente irradiada. Portanto, todos os dentes duvidosos devem ser extraídos ou restaurados anteriormente ao tratamento radioterápico que envolva a região de maxila e mandíbula. Bibliografia: 1. SONIS ST, FAZIO RS, FANG GL. Princípios e práticas de medicina oral. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 2. REGEZI JA, SCIUBBA JJ, JORDAN RC. Patologia Oral: correlações clinicopatológicas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 3. NEVILLE BW, DAMM DD, ALLEN CM, BOUQUOT JE. Patologia Oral e Maxilofacial. 3ª ed. Rio de Janeiro; Elsevier, 2009. 4. Secretaria de Vigilância em Saúde. Portaria número 5, de 21 de fevereiro de 2006.
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