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Paulo Roberto Galvão Contabilidade geral 0303 Sumário CAPÍTULO 4 – Os Registros Contábeis .............................................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 4.1 Método das Partidas Dobradas ..................................................................................06 4.1.1 Livro diário .....................................................................................................09 4.1.2 Livro Razão, ou Razonete ..................................................................................11 4.2 O Ciclo Contábil .....................................................................................................16 4.2.1 As demonstrações contábeis e seus inter-relacionamentos ....................................18 Síntese ..........................................................................................................................21 Referências Bibliográficas ................................................................................................22 0505 Capítulo 4 Introdução O controle patrimonial das empresas é efetuado pela Contabilidade, uma ciência social aplicada que, no Brasil, tem como órgão regulador o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Você já deve saber que a principal ferramenta de controle patrimonial é o balanço patrimonial, uma Demonstrativo Contábil cuja característica principal é o equilíbrio entre os bens e direitos, que compõem o Ativo e as obrigações, sendo estas divididas em exigíveis, correspondentes ao Passivo, e não exigíveis, que são as Contas do Patrimônio Líquido. E você sabe por que, no balanço patrimonial, os valores do ativo sempre são iguais à soma dos valores do passivo e do patrimônio líquido? Veja que as obrigações são a fontes, ou origens, dos recursos das empresas, enquanto que os bens e os direitos representam as aplicações dos recursos. Então, para que haja o equilíbrio, é necessário que, para cada valor aplicado no patrimônio da empresa, exista uma origem de valor equivalente. E essa é a lógica do chamado Método das Partidas Dobradas que você conhecerá neste capítulo. A contabilidade registra os eventos que ocorrem nas empresas, correto? Você sabe como é rea- lizado os registros dos fatos contábeis? Esse registro é, como foi dito, o responsável pelo equilíbrio entre os bens e direitos e as obriga- ções. E, para que se efetuem os registros contábeis, entenda que existe, também, um procedi- mento conhecido como ciclo contábil, que é composto de várias etapas que vão da captação à evidenciação. Figura 1 - Equilíbrio Patrimonial. Equilíbrio Patrimonial Aplicação Débito Origens Crédito Figura 1 - Equilíbrio Patrimonial. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Os Registros Contábeis 06 Laureate- International Universities Contabilidade geral Somente as contas patrimoniais são objeto de lançamento na Contabilidade? Não. As contas de resultado também estão sujeitas aos lançamentos contábeis, inclusive ao mé- todo das partidas dobradas. O que ocorre é que elas são controladas na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e somente o saldo final da apuração é transferido para o Patrimônio Líquido (PL), aumentando-o, quando positivo, ou reduzindo-o, se negativo. 4.1 Método das Partidas Dobradas Compreenda, porém, que Luca Pacioli não foi o inventor do método das partidas dobradas, mas sim o responsável pela sua divulgação, ficando, por isso, conhecido como o “pai da contabilida- de moderna”, pois, até os dias de hoje, o método ainda prevalece. O método das partidas dobradas consiste em utilizar, para os registros contábeis, um valor a débito e um valor idêntico a crédito para cada operação, determinando, assim, o equilíbrio entre as origens e as aplicações dos recursos. Qual a origem do método das partidas dobradas? Embora existam indícios da utilização desse método por volta do ano de 1200, foi em 1494 que o Frei Franciscano Luca Bartolomeo Pacioli escreveu a Suma de Aritmética, Proporção e Proporcionalidade, em que descreveu o método pelo qual os italianos registravam suas atividades comerciais. NÓS QUEREMOS SABER! Para você entender melhor, analise uma situação que é objeto da Contabilidade. • Toda empresa, ao iniciar suas atividades, precisa de recursos financeiros. Geralmente, esses recursos são importâncias em dinheiro, investidas pelos sócios. Imagine que Fulano e Sicrano resolvam montar um restaurante e que cada um possua uma reserva de R$50.000,00. Ao constituírem a empresa, ambos depositam o dinheiro na conta da pessoa jurídica, passando, então, suas reservas a pertencer à empresa, e não mais aos sócios. No entanto, a empresa, que aplicou tal recurso no seu ativo (na conta bancos), teve como origem dos recursos o investimento dos sócios no negócio, o que, na Contabilidade, é reconhecido como capital social e, portanto, a empresa deve aos sócios essa importância. Na Contabilidade, veja que este fato contábil deve ser representado da seguinte forma: registra-se a débito o valor de R$100.000,00 na conta bancos, no ativo circulante, e o crédito no valor de R$100.000,00 na conta capital social, no patrimônio líquido. No Livro Diário teríamos então o seguinte registro: Conta a Débito: Bancos R$ 100.000,00 Conta a Crédito: Capital Social R$ 100.000,00 07 E no Balanço teríamos a representação conforme figura a seguir: Balanço Patrimonial • Ativo • Circulante • Bancos 100.000,00 Total 100.000,00 • Passivo • Patrimônio Líquido • Capital Social 100.000,00 Total 100.000,00 Figura 2 - Balanço inicial. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Observe que, nesse exemplo, a empresa, embora tenha registrado no seu ativo os R$100.000,00, ela, na verdade, é devedora de tal importância aos sócios, que, por sua vez, são credores por terem sido os fornecedores dos recursos. É importante você entender que, embora exista essa relação de credor e devedor entre a empre- sa e os sócios, estes não devem exigir da empresa a devolução do capital investido, sob pena da descontinuidade dos negócios. Por isso, o patrimônio líquido é chamado de passivo não exigível. Agora, analise outro evento. • A empresa utiliza parte do seu saldo bancário para adquirir móveis e utensílios para equipar o restaurante, sendo o valor da compra de R$25.000,00. Nesse caso, a origem dos recursos é da própria empresa, ou seja, ela está trocando um ativo (dinheiro) por outro ativo (móveis e utensílios) e, assim, o lançamento será o seguinte: um débito na conta móveis e utensílios, no ativo não circulante, imobilizado, pois ali serão aplicados os recursos, e um crédito na conta bancos, no ativo circulante, pois dali originaram-se os recursos. No Livro Diário teríamos então o seguinte registro: Conta a Débito: Móveis e Utensílios R$ 100.000,00 Conta a Crédito: Bancos R$ 100.000,00 08 Laureate- International Universities Contabilidade geral • Veja como ficou o balanço: Balanço Patrimonial • Ativo • Circulante • Bancos 75.000,00 • Não Circulante • Imobilizado 25.000,00 Total 100.000,00 • Passivo • Patrimônio Líquido • Capital Social 100.000,00 Total 100.000,00 Figura 3 - Troca de Ativos. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Observe que os valores das origens e das aplicações dos recursos permanecem inalterados, pois o que ocorreu foi apenas uma permutação de bens, trocando-se dinheiro por móveis e utensílios. No primeiro caso, note que houve umaorigem de recursos dos sócios e uma aplicação no ativo. Na segunda situação, a aplicação no ativo teve como origem o próprio ativo. Agora, você verá um exemplo de aplicação de recursos no ativo com recursos de terceiros. • Para iniciar suas operações, o restaurante precisa abastecer seu estoque de suprimentos (alimentos, temperos, bebidas, sobremesas, materiais de limpeza, descartáveis etc.). Esses suprimentos, quando adquiridos, são considerados bens que integram o estoque e só serão considerados como custos no momento das vendas ou do consumo. Pois bem, para a aquisição inicial dos bens para a composição do estoque, a empresa optou pela compra a prazo, pois, além de não se descapitalizar com uma compra à vista, fez uma boa negociação com o fornecedor devido ao volume inicial, adquirindo, em mercadorias, R$15.000,00 para pagamento em três parcelas iguais de R$5.000,00 cada uma. O registro contábil dessa operação deve ser efetuado debitando-se R$15.000,00 na conta estoque, no ativo circulante, e creditando-se R$15.000,00 na conta fornecedores, no passivo circulante. No Livro Diário teríamos então o seguinte registro: Conta a Débito: Estoque R$ 100.000,00 Conta a Crédito: Fornecedores R$ 100.000,00 09 passando o balanço patrimonial a ter os seguintes saldos: Balanço Patrimonial • Ativo • Circulante • Bancos 75.000,00 • Estoque 15.000,00 • Não Circulante • Imobilizado 25.000,00 Total 115.000,00 • Passivo • Circulante • Estoque 15.000,00 • Patrimônio Líquido • Capital Social 100.000,00 Total 115.000,00 Figura 4 - Aplicação de recursos financiados por terceiros. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Agora, você pôde observar um aumento no ativo, proveniente da aplicação de recursos da ordem de R$15.000,00 nos estoques. Porém, veja que nasceu um passivo exigível de R$15.000,00, oriundo da obrigação adquirida junto aos fornecedores. Fundamentos da Contabilidade – a nova contabilidade no contexto global (YAMAMO- TO; PACCEZ; MALACRIDA, 2011). A obra apresenta uma linguagem simples, porém uma abordagem profunda sobre os fundamentos da Contabilidade, com exemplos prá- ticos e exercício de fixação. NÃO DEIXE DE LER... 4.1.1 Livro diário Perceba que, com o advento da informática, os lançamentos contábeis deixaram de ser manuais ou mecanizados, passando a ser informatizados. Agora, um sistema (software) recebe as devidas parametrizações e efetua os lançamentos automaticamente, mas é necessário que você entenda a lógica do lançamento do livro diário para poder parametrizar corretamente o sistema e veri- ficar a exatidão dos registros. Vale ressaltar que a parametrização está diretamente relacionada com a implantação do Plano de Contas. É importante, também, você saber que a escrituração do livro diário é obrigatória, prevista no item 10, letra b, da ITG 2000, aprovada pela Resolução CFC nº 1.330/11, prevista também no Código Civil Brasileiro, em seus arts. 1.180 e 1.181. devendo, para isso, seguir as orientações quanto à forma, aos prazos, aos registros em órgão competentes etc. 10 Laureate- International Universities Contabilidade geral Saiba que existe um grande equívoco por parte de alguns empresários e profissionais que atuam na área contábil ao entenderem que as micro e pequenas empresas, optantes pelo Lucro Presu- mido ou pelo Simples Nacional, estariam dispensadas da escrituração do Livro Diário. Ocorre, porém, que a legislação do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas “dispensa” tais empresas da obrigação de apresentar o Livro Diário para fins de apuração dos tributos federais. Contudo, esse é um claro caso de extrapolação de competência, pois saiba que não compete ao órgão fiscalizador dos tributos federais legislar sobre matéria contábil. Veja que tanto o CFC como o Código Civil determina expressamente a obrigatoriedade da escrituração contábil, sem nenhuma exceção. Cabe ao profissional da Contabilidade informar ao empresário sobre tal obrigatorieda- de a fim de não expor a empresa a riscos. Quais os componentes de lançamento no Livro Diário? O lançamento deve identificar, no mínimo, o valor, a data da ocorrência do evento, a conta credora e a conta devedora que receberão o lançamento e um histórico esclarecendo o evento, informando os documentos que deram origem ao lançamento e outras informações que sejam relevantes para a identificação e análise do lançamento. Utilizando os mesmos exemplos anteriores, veja como os lançamentos no livro diário ficariam: Lançamento 001 Data 01.01.200X Débito Bancos 100.000,00 Crédito Capital Social 100.000,00 Histórico Integralização do Capital Social pelos sócios, em moeda corrente, conforme comprovante de depósito Lançamento 002 Data 02.01.200x Débito Imobilizado 25000,00 Crédito Bancos 25000,00 Histórico Compra de Móveis e Utensílios, à vista, conforme nota �scal número 171 Lançamento 003 Data 03.01.200x Débito Estoque 15000,00 Crédito Fornecedores 15000,00 Histórico Compra de mercadorias, a prazo, conforme nota �scal 171171 Figura 5 - Lançamento no Livro Diário. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. O Livro Diário deve ser escriturado em ordem cronológica, sem rasuras ou adulterações, e deve conter o registro de todos os fatos ocorridos na empresa, que afetem o patrimônio, servindo de referência para outros relatórios, como o Livro Razão Analítico, ou Razonetes. 11 4.1.2 Livro Razão, ou Razonete Você sabe para que serve o Livro Razão? Da mesma forma que o Livro Diário, o Livro Razão, hoje em dia, é gerado automaticamente pelos sistemas informatizados, mas é igualmente necessário que você saiba a sua utilidade e como ele é escriturado. Veja que, assim como os lançamentos efetuados no Livro Diário seguem uma ordem cronológica, é necessário que se faça um controle individualizado das contas, a fim de que se controle suas movimentações e seu saldo. A forma utilizada pela Contabilidade para esse controle é o Livro Razão, que você verá a seguir na forma de Razonetes, que possibilitam uma melhor visualiza- ção e entendimento. Para isso, serão utilizados os mesmos exemplos. Lançamento 001 Data 01.01.200X Débito Bancos 100.000,00 Crédito Capital Social 100.000,00 Histórico Integralização do Capital Social pelos sócios, em moeda corrente, conforme comprovante de depósito Figura 6 - Lançamento 001 - integralização do Capital Social no Livro Diário. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Bancos Capital Social 001 100.000,00 100.000,00 001 Figura 7 - Lançamento 001 - integralização do Capital Social – no Livro Razão. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Observe que o lançamento nº 001 do Livro Diário reflete nos Razonetes, transportando os saldos devedores e credores para as contas banco e capital social, respectivamente. 12 Laureate- International Universities Contabilidade geral E veja que o procedimento se repetirá a cada lançamento: Lançamento 002 Data 02.01.200x Débito Imobilizado 25000,00 Crédito Bancos 25000,00 Histórico Compra de Móveis e Utensílios, à vista, conforme nota �scal número 171 Figura 8 - Lançamento 002 – Compra de Imobilizado à Vista no Livro Diário. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Bancos Imobilizado 001 100.000,00 25.000,00 002 002 25.000,00 75.000,00 Figura 9 - Lançamento 002 – Compra de Imobilizado à Vista no livro o Livro Razão. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Lançamento 003 Data 03.01.200X Débito Estoque 15.000,00 Crédito Fornecedores 15.000,00 Histórico Compra de mercadorias, a prazo, conforme nota �scal 171171 Figura 10 - Lançamento 003 – Compra de Mercadorias a prazo no Livro Diário. Fonte: Elaboradapelo autor, 2015. 13 Estoque Fornecedores 003 15.000,00 15.000,00 003 Figura 11 - Lançamento 003 – Compra de Mercadorias a prazo no Livro Razão. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Como você pôde analisar, a finalidade do Livro Razão, ou Razonete é a individualização das contas para seu melhor controle e análise. Seu preenchimento é sempre decorrente do Livro Di- ário e, graficamente, ele apresenta, do lado direito, os valores a crédito e, do lado esquerdo, os valores a débito, a exemplo do balanço patrimonial. Mas entenda que não são apenas os eventos patrimoniais que são registrados pela Contabilida- de. Existem os eventos relacionados diretamente às contas de resultados, que são aqueles que registram as receitas, os custos e as despesas, mas que também alteram o patrimônio. Entenda como funciona o registro de uma venda: as empresas, que comercializam mercadorias, no momento da compra, registram-nas em seu estoque para a revenda futura pelo valor de com- pra. Posteriormente, essas mercadorias são vendidas por um valor de venda, composto do custo de aquisição e da margem de lucro desejada. Imagine que determinada mercadoria tenha sido adquirida a prazo, com o objetivo de revenda pelo valor de R$500,00 e que o comerciante estipule, como margem de lucro bruto, um percen- tual de 60% sobre o preço de venda e que ele venda essa mercadoria também a prazo. Como ficaria, então, o registro dessa operação na Contabilidade? Lançamento 001 Estoque Fornecedores Data 02.01.200x 001 500,00 500,00 001 Débito Estoque 500,00 Crédito Fornecedores 500,00 Histórico Compra de Mercadorias para revenda, a prazo, conforme nota �scal X Figura 12 - Compra de Mercadorias a prazo. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Perceba que o lançamento 001 reflete a operação de compra, em que o valor de R$500,00 é debitado da conta estoque e a mesma importância é creditada na conta fornecedores. 14 Laureate- International Universities Contabilidade geral Por ocasião das vendas, veja que são necessários dois lançamentos: um para registrar a venda e, consequentemente, a receita, e outro para a apropriação do custo da mercadoria vendida (CMV). Lançamento 002 Clientes Receita c/ Vendas Data 03.01.200x 002 800,00 800,00 002 Débito Clientes 800,00 Crédito Receita c/ Vendas 800,00 Histórico Venda de mercadorias à vista, conforme nota �scal Y Figura 13 - Receita de vendas à vista. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Note que, no lançamento 002, a conta debitada foi a conta clientes, pois, com a venda à vista, o dinheiro não entrou no caixa, porém a receita foi reconhecida e, dessa forma, a conta credora foi a receita com vendas, ambas pelo valor de vendas, ou seja, o valor de compra de R$500,00 acrescido de 60%, que equivale a R$300,00, totalizando R$800,00. A apropriação do custo da mercadoria vendida (CMV) deve ser reconhecida no momento da venda, dessa forma, veja que a mercadoria que foi adquirida e contabilizada como um bem (estoque) deve ser baixada nesse momento pelo valor de compra: Lançamento 003 CMV Estoque Data 03.01.200x 003 001500,00 500,00 500,00 003 Débito CMV 500,00 Crédito Estoque 500,00 Histórico Baixa de Estoque pela venda de mercadoria Figura 14 - Reconhecimento dos custos e baixa do estoque. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. O Razonete da conta estoque demonstra que o saldo das mercadorias foi zerado pelas vendas. Observe o saldo das contas CMV e Receita e note que o saldo da conta custo é devedor em R$500,00 e que o saldo da conta receita é credor em R$800,00. Portanto, as contas de re- sultado, se confrontadas, apresentam um saldo credor de R$300,00, que representa o lucro da operação. Esse lucro pertence aos sócios e deve ser transportado para o patrimônio líquido. Como o saldo é credor, ele aumentará o PL. Caso o resultado obtido fosse devedor, a empresa teria prejuízo nessa operação e esse prejuízo também seria transportado para o PL, e, como o saldo seria devedor, ele reduziria o patrimônio líquido. 15 Como o Balanço Patrimonial é uma demonstração estática, que é levantado normalmente no final de cada exercício, é necessário que se faça um acompanhamento periódico dos débitos e dos créditos efetuados pela Contabilidade para se certificar do equilíbrio entre as origens e as aplicações dos recursos. A ferramenta utilizada para esse fim, pela Contabilidade, é o Balancete de verificação, que, como o próprio nome diz, serve para a verificação dos lançamentos contábeis. Nele são registra- das tanto as contas do Ativo, Passivo e Patrimônio Liquido, contas patrimoniais, como as Contas de Resultado (Receitas, Custos e Despesas). Existem diversos modelos de Balancete de Verificação e cada empresa adota aquele que melhor atende às suas necessidades, no entanto, ele deve conter informações mínimas para que possa cumprir sua finalidade. A seguir, será apresentado um modelo bastante simples, mas muito eficaz. Balancete de Veri�cação Conta Classi�cação Débito Crédito Legenda: Banco AC 75.000,00 AC Ativo Circulante Capital Social PL 100.000,00 ANC Ativo Não Circulante Móveis e Utensílios ANC 25.000,00 PPC Passivo Circulante Fornecedores PC 15.000,00 PNC Passivo Não Circulante Clientes AC 800,00 PL Patrimônio Líquido Receitas com vendas CR 2.500,00 CR Conta de Resultado Despesas com Alugueis CR 1.200,00 Estoques AC 15.000,00 Salários a Pagar PC 1.700,00 CMV CR 500,00 Despesas com Salário CR 1.700,00 Total 119.200,00 119.200,00 Figura 15 - Balancete de verificação. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. No modelo apresentado, observa-se que na coluna 1 são apresentadas as Contas Contábeis, na coluna 2, sua classificação, ou seja, se elas pertencem ao Ativo Circulante, ao Ativo não Circu- lante, ao Passivo Circulante, ao Passivo não Circulante, ao Patrimônio Líquido ou se são Contas de Resultado. Vale ressaltar que esse modelo de Balancete de Verificação é uma forma bastante simplificada, e outros modelos apresentam outras informações como: saldo anterior, movimenta- ção e saldo final. No entanto, o modelo proposto atende à NBC T 2.7 do CFC: 16 Laureate- International Universities Contabilidade geral NBC T 2.7 – DO BALANCETE 1. O balancete de verificação do razão é a relação de contas, com seus respectivos saldos, extraída dos registros contábeis em determinada data. 2. O grau de detalhamento do balancete deverá ser consentâneo com sua finalidade. 3. Os elementos mínimos que devem constar do balancete são: a. identificação da Entidade; b. data a que se refere; c. abrangência; d. identificação das contas e respectivos grupos; e. saldos das contas, indicando se devedores ou credores; f. soma dos saldos devedores e credores. 4. O balancete que se destinar a fins externos à Entidade deverá conter nome e assinatura do contabilista responsável, sua categoria profissional e número de registro no CRC. 5. O balancete deve ser levantado, no mínimo, mensalmente. Esse processo facilita muito na elaboração do Balanço Patrimonial e da DRE, pois assim fica muito fácil identificar as contas que integrarão cada uma das referidas demonstrações contábeis e os seus respectivos saldos. Observa-se também que os saldos apresentados estão diretamente relacionados às origens das contas, as Contas do Ativo apresentam saldo Devedor, as Contas do Passivo e do PL apresentam saldo Credor, as Contas de Receita apresentam saldo Credor e as Contas de Custos e Despesas apresentam saldo Devedor. É importante lembrar que existem exceções a essa regra – são, por exemplo, as contas redutoras do Ativo (Depreciação Acumulada, Duplicatas Descontadas, Provisão para Crédito de Liquidação duvidosa) e as redutoras do PL (Capital a Integralizar). Essas contas têm seus saldos invertidos em relação à origem do grupo a que pertencem, ou seja, as redutoras do Ativotem saldo Credor e a redutora do PL tem saldo Devedor. 4.2 O Ciclo Contábil A palavra ciclo vem do grego kýklos, que significa uma série de eventos que se renovam cons- tantemente. O ciclo pressupõe uma situação dinâmica, sequencial, com fases ou elementos inter-relacionados. Basicamente, o ciclo contábil é o método pelo qual a Contabilidade estrutura o seu processo de elaboração das demonstrações contábeis, definindo as etapas e os procedimentos necessários ao fiel cumprimento das normas. O ciclo contábil é formado por cinco fases distintas: a captação, o reconhecimento, o processo de acumulação (ou simplesmente acumulação), a sumarização e a evidenciação. Observe a figura a seguir, que representa a dinâmica do processo do ciclo contábil. Veja que, em cada uma de suas fases, há uma importância vital para o êxito dos processos de elaboração e divulgação da situação da empresa. 17 O Cliclo Contábil Acumulação Sumarização EvidenciaçãoCaptação Informação Contábil $ Reconhecimento Figura 16 - Ciclo contábil. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Captação: é o processo de obtenção de dados e informações sobre eventos que, por sua natu- reza, afetem o patrimônio, independentemente da ação a empresa. Nessa fase, é feita a análise dos atos e fatos que serão objetos da elaboração das demonstrações contábeis/financeiras, analisando-se o cenário interno (notas fiscais, recibos, contratos, processos etc.) e o cenário externo (leis, eventos macroeconômicos, mercado etc.), com o fito de adequar a empresa e seus ativos e passivos. Reconhecimento: é a análise de critérios para a contabilização, como o momento adequado do reconhecimento, a classificação correta do fato e o valor a ele atribuído. Acumulação: é a estruturação do banco de dados utilizando-se os elementos captados e selecio- nados para serem reconhecidos. Os recursos tecnológicos são muito importantes para esse fim. A dinâmica e a complexidade tanto dos negócios como das regras contábeis, fiscais e tributárias exigem agilidade, presteza e segurança nas informações, o que fica praticamente impossível de se atingir sem uma boa ferramenta tecnológica. Sumarização: é a organização, sistematização e estruturação dos dados obtidos, transforman- do-os em informações contábeis da mais alta relevância, por exemplo, o Balanço Patrimonial, a DRE, a DMPL, a DVA, a DFC etc. Evidenciação: é o processo de tornar públicas as informações elaboradas pela Contabilidade, o que é o cumprimento de uma exigência legal. Além disso, essa fase deve ser encarada como uma das principais características da governança corporativa, preocupando-se em levar aos in- teressados o “conhecimento” sobre a situação econômica, fiscal e social da empresa. Sem dúvida, os aspectos legais devem ser atendidos, respeitando-se as formas, os prazos e de- mais critérios. No entanto, perceba que isso não é suficiente nem para as boas práticas da gestão nem para as boas práticas da governança corporativa. Noções básicas (SZUSTER et al., 2013). Esta obra destina um capítulo exclusivo ao estudo do ciclo contábil, com exemplos e exercícios para a fixação do aprendizado. NÃO DEIXE DE LER... 18 Laureate- International Universities Contabilidade geral 4.2.1 As demonstrações contábeis e seus inter-relacionamentos O CPC 00, no seu item 4.2, diz que: As demonstrações contábeis retratam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos, por meio do grupamento dos mesmos, em classes amplas de acordo com as suas características econômicas. Essas classes amplas são denominadas de elementos das demonstrações contábeis. Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na demonstração do resultado são as receitas e as despesas. A demonstração das mutações na posição financeira usualmente reflete os elementos da demonstração do resultado e as alterações nos elementos do balanço patrimonial. Assim, esta Estrutura Conceitual não identifica qualquer elemento que seja exclusivo dessa demonstração. (CPC, 2012). Para se atender ao disposto no referido pronunciamento, são elaborados, pela Contabilidade, alguns demonstrativos, como o balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exer- cício, a demonstrações das mutações do patrimônio líquido, a demonstração do valor adi- cionado e a demonstração do fluxo de caixa. Basicamente, você pode entender que o Balanço Patrimonial e a DRE são os relatórios primários, por apresentarem as contas de patrimônio e de resultado, respectivamente, e que os demais demonstrativos são derivados dos primeiros. Entenda que o Balanço Patrimonial é a demonstração contábil, que apresenta todos os elementos patrimoniais e classifica-os em três grupos, sendo um para as contas do Ativo, que compreen- dem os bens e os direitos, outro para o Passivo, responsável pelo registro das obrigações exi- gíveis, e o terceiro para o Patrimônio Líquido, onde são registradas as obrigações da empresa com os sócios ou acionistas, também chamadas de obrigações não exigíveis. A DRE, como você já deve saber, é composta das contas de resultado, apresentando as recei- tas, os custos e as despesas. Portanto, em todas as contas de patrimônio e de resultado cons- tarão essas duas demonstrações e elas servirão de base para a elaboração das demais. Observe, a seguir, a forma como tais demonstrativos se relacionam: 19 Demonstração do resultado do exercício + - = - = - $ ($) $ ($) $ ($) $ $ ou ($) $ ($) $ Receita operacional bruta Impostos sobre vendas Receita líquida das vendas Custo das mercadorias vendidas Lucro bruto Despesas operacionais Despesas com vendas Despesas administrativas Despesas �nanceiras Lucro operacional Resultado não operacional LAIR Imposto de Renda e contribuição social Lucro líquido Balanço Patrimonial Ativo Passivo + Patrimônio LíquidoA Ativo Circulante Caixa Conta a Receber de Clientes Estoque Ativo Não Circulante Realizável a longo prazo Aplicações Financeiras Investimentos Imobilizado Intangível Total da Ativa Total do Passivo PL Passivo Não Circulante Exigível a longo prazo Empréstimos Obidos Patrimônio líquido Capital Social Reservas de Capital Reservas de Lucros Passivo Circulante Fornecedores Salários a Pagar Impostos a Recolher $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ Demonstração do valor adicionado + Receita operacional bruta $ Vendas de mercadorias Não operacionais - Insumos e serviços adquiridos de terceiros $ Custo das mercadorias vendidas Materiais, energia, serviços de terceiros e outros Despesas Não operacionais = Valor adicionado bruto $ - Retenções - Depreciação e amortização ($) = Valor adicionado líquido produzido pela entidade $ + Recebido em transferência - Receitas Financeiras $ = Valor adicionado total a distribuir $ + Distribuição do valor adicionado $ Pessoal e encargos $ % Impostos, taxas e contribuições $ % Juros e aluguéis $ % Dividendos $ % Retenção dos lucros$ % Demonstração das mutações do Patrimônio Líquido Saldos iniciais $ $ $ $ Aumentos de capital $ ($) ($) $ Lucro Líquido dos exercício $ $ Distribuição do lucro ($) ($) Saldos �nais $ $ $ $ Capital inicial Reserva de capital Reserva de lucro Total Demonstração dos Fluxos de caixa Fluxo de caixa das atividades operacionais Lucro líquido do Exercício Despesas (receitas) que não afetam o caixa (Aumento) redução de ativos Aumento (redução) de passivos Caixa líquido gerado ou (usado) pelas atividades operacionais + +/- +/- +/- = $ $ ou ($) $ $ ou ($) $ ou ($) ($) $ $ ou ($) Fluxo de caixa das atividades de Investimento Fluxo de caixa das atividades de �nanciamento Aquisição de bens do ativo mobilizado Venda de bens do imobilizado Caixa líquido gerado ou (usado) pelas atividades de investimento - + = Aumento de capital Captação das dívidas Amortização das dívidas Pagamentos de dividendos Caixa líquido gerado ou (usado) pelas atividades de �nanciamento Aumento ou (redução) líquida no Caixa equivalente a caixa Caixa e equivalente a caixa no �m do exercício Caixa e equivalente a caixa no início do exercício Aumento ou (redução) líquida no Caixa e equivalente a caixa + + - - = = + - = $ $ ($) ($) $ ou ($) $ ou ($) $ ($) $ ou ($) Figura 17 - Inter-relação entre as demonstrações contábeis. Fonte: Szuster et al., 2013 (p. 27). 20 Laureate- International Universities Contabilidade geral Qual a diferença entre as escolas italiana e americana da Contabilidade? Em poucas palavras, saiba que a escola italiana é mais tradicionalista. Suas características princi- pais são o personalismo, com uma forte preocupação com a relação entre direitos e obrigações, o contismo, que é a questão das contas e a classificação, o controlismo, que tem a ver com a contabilidade como fonte de controle, e o aziendismo, focado extremamente no patrimônio. Já a escola americana nasceu com uma proposta de padronização dos procedimentos, dando maior ênfase ao usuário das informações, prezando pela qualidade, auditoria dos processos e foco na gestão. NÓS QUEREMOS SABER! Compreenda que não existe a melhor estrutura de determinada demonstração nem o melhor pla- no de contas etc. Cada empresa deve optar por aquilo que satisfaça, da melhor forma, às suas necessidades. O mesmo ocorre em relação às escolas. Cada uma tem algo de bom a oferecer e cabe a cada empresa tirar delas o melhor proveito. Hilário Franco é contador, economista, administrador, professor emérito da Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo e da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), que lhe conferiu a Medalha do Mérito Alvarista. Ele foi laureado com o título de Contador Benemérito das Américas pela Associação Interamericana de Contabilidade com a Medalha de Ouro “Mérito Contábil João Lyra”, pelo Conselho Federal de Contabilidade, e com o título de Contabilista Emérito e Sócio Benemérito pelo Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. VOCÊ O CONHECE? 2121 Síntese • O equilíbrio patrimonial é obtido, pela Contabilidade, com a aplicação dos métodos das partidas dobradas, que foi divulgado pelo Frei Luca Pacioli em 1494. Esse método foi concebido na utilização de registros de igual valor a débito e a crédito para cada evento que afetasse o patrimônio, garantindo, assim, os registros das origens e aplicações dos recursos. • Os registros contábeis são feitos por livros específicos, sendo que o Livro Diário, obrigatório, registra os fatos em ordem cronológica de acontecimento e o Livro Razão serve para individualizar as contas, facilitando sua gestão e seu controle. • Para maior amplitude nas análises, existem várias demonstrações contábeis que permitem aos usuários o acesso a informações econômicas e financeiras. Essas demonstrações apresentam dados do patrimônio e do resultado. Dessa forma, o balanço patrimonial e a DRE podem ser consideradas fontes primárias de informações para a elaboração dos demais relatórios. NÃO DEIXE DE VER... Margin Call – O Dia Antes Do Fim Um filme muito interessante para quem quer entender um pouco sobre a crise financei- ra de 2008 e sobre o papel dos responsáveis em todo o processo de recessão e crise, causada no sistema financeiro. A trama se passa durante as 24 horas que antecederam o início da crise e tem como palco central uma corretora imobiliária. Do diretor J.C. Chandor, produzido em 2011. Síntese Referências COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Pronunciamento Conceitual Básico. 2008. Disponível em: <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/455_CPC00%20Pro- nunciamento.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. ______. Pronunciamentos Técnicos Contábeis. Brasília: CFC, 2012. Disponível em: <http:// portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web. pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC). Princípios Fundamentais e Normas Bra- sileiras de Contabilidade. 3. ed. Brasília, 2008. MARGIN CALL – O dia antes do fim. Direção de J.C. Chandor. Estados Unidos da América, 2011. (109 min) Color. MARION, José Carlos. Contabilidade Básica. São Paulo. Atlas, 2009. PADOVEZE, Clóvis Luís. Introdução à Contabilidade, com abordagem para não conta- dores. 10. ed. São Paulo. SZUSTER, Natan et al. Noções básicas. In: SZUSTER, Natan et al. Contabilidade geral: in- trodução à contabilidade societária. 4. ed. Atualizada de acordo com a Lei nº 11.638/07. São Paulo: Atlas, 2013. YAMAMOTO, Mariana Mitiyo; PACCEZ, João Domiraci; MALACRIDA, Jane Contrera. Funda- mentos da Contabilidade – a nova contabilidade no contexto global. São Paulo: Saraiva, 2011. Bibliográficas