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A VERDADE E AS FORMAS JURIDICAS

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A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS
PRIMEIRA CONFERÊNCIA
Foucault aborda Nietzsche para explicar a diferença entre origem e invenção. O ideal, a religião, a história e a poesia, não teriam origens metafísicas anteriores aos homens, mas teriam sido inventados por eles. O conhecimento é uma invenção do homem.* Sendo o conhecimento assim como as verdades, produtos de relações de poder. O conhecimento não faz parte da natureza humana, não é instintivo, mas o resultado do confronto entre dois instintos, “uma centelha entre duas espadas, mas não do mesmo ferro que as duas espadas”. 
Na aula do dia 17/08 ele colocou uns tópicos no quadro e explicou que o ser humano não têm instintos ao nascer, portanto o conhecimento é uma invenção, ele é adquirido a partir de outros conhecimentos. 
Por não fazer parte da natureza humana, o próprio conhecimento também não pressupõe uma relação de afinidade ou semelhança com as coisas*; ao contrário, o conhecimento exprime relações de poder e dominação, as quais desmistificam a idéia de algo unificado. Por essa razão, Foucault ironicamente afirma que, caso desejemos saber efetivamente o que é o conhecimento, devemos nos aproximar dos políticos, e não dos filósofos, haja vista que a política pressupõe divergências de poder e é a partir da política que se constrói o direito.
Tudo o que foi inventado pelo homem tem como objetivo alguma relação de poder. A dominação de uns sobre os outros. Estas invenções incluem o conhecimento, a religião, os ideais, etc. Aquilo que revela mais nitidamente as relações de poder é o que tende a estar mais próximo da verdade.
Nietzsche contradiz Spinoza afirmando que para compreender as coisas em sua natureza, em sua essência e portanto em sua verdade, é preciso rir delas, deplorá-las e detestá-las. Esses três impulsos – rir, deplorar e detestar – são modos de afastar o objeto de si e na constante luta entre eles é que se produz o conhecimento. Portanto, a relação do conhecimento com o objeto é de distância e dominação.
Foucault afirma que as condições políticas, econômicas e de existência não são um obstáculo para o sujeito do conhecimento, mas atuam como agente formador dos sujeitos de conhecimento, e, por seguinte, as relações de verdade. O que contradiz o marxismo acadêmico da época. 
Quanto mais poder e capital o indivíduo tem, maior será a retenção de conhecimento por parte dele, mas em contrapartida isso não é requisito para o saber.
SEGUNDA CONFERÊNCIA
A segunda conferência faz uma releitura da peça Édipo-Rei e procura mostrar as relações de poder (político), mostrando o surgimento do inquérito, demonstrando as formas jurídicas gregas vigentes na época em que foi escrita. Fazendo com que o complexo de Édipo fique não a um nível individual, mas sim a um nível coletivo, mostrando então a relação de poder e saber.
Foucault, faz uma introdução antes de citar propriamente a tragédia de Sófocles. Ele retoma a Ilíada de Homero, um dos primeiros procedimento judiciários gregos na busca pela verdade. Ele cita o episódio da contestação entre Antíloco e Menelau no período em que se realizavam os jogos na ocasião da morte de Pátroclo. O jogo consistia em uma corrida de carros em um circuito de ida e volta, passando por um marco que era preciso contornar. Próximo a esse marco, foi colocado alguém, uma testemunha, que seria responsável pela regularidade da corrida. Uma irregularidade é cometida e Antíloco chega primeiro. Menelau introduz uma contestação: ele acusa Antíloco de ter cometido uma irregularidade. Antíloco defende-se dizendo não ter feito nada de errado. Menelau, então, lança um desafio: pede que Antíloco jure diante de Zeus que não cometeu nenhuma irregularidade. Antíloco se recusa, resolvendo, dessa forma, a questão. A testemunha que foi colocada no marco não se pronuncia diante do ocorrido. A verdade jurídica da época de Homero não é estabelecida através de uma testemunha, mas através de um jogo de provas lançado de um adversário a outro. Foucault aponta para uma prática bastante arcaica da prova da verdade, em que não aparecem contestação, testemunhas ou inquérito. Essa prática mostra como na época acreditava-se que os deuses eram detentores do saber e da verdade, que eles podiam julgar, punir e até mesmo recompensar.
Já na peça de Sófocles (Édipo), a busca pela verdade se dá por outro meio: a lei das metades, ou seja, um quebra-cabeças que somente se completará na medida em que uma série de encaixes de metades vão se ajustando umas às outras. É preciso juntar os fragmentos de saberes que se perderam ao longo do tempo e vão se encaixando pouco a pouco até formarem um total que será a verdade reconstruída da história de Édipo. 
Essas são as duas formas de procedimentos judiciais da época, na primeira, encontrada na Ilíada de Homero, não há um procedimento de inquérito nem testemunho, apenas lança-se um desafio do acusador ao acusado e a solução ficará nas mãos dos deuses. A segunda forma tenta solucionar o problema - de quem matou o rei Laio, - mas há novos elementos: as testemunhas, as profecias e o encaixe de fragmentos durante a trajetória da peça. Tendo a testemunha um papel fundamental para o desfecho da história, trazendo para o mundo real as profecias dos deuses.
Foucault, então, finaliza atentando-se à necessidade de considerar que o que há por trás de todo saber é um jogo de poder e todo poder político é tramado pelo saber.
TERCEIRA CONFERÊNCIA
Antes da invasão do Império Romano o Direito Germânico se constitui através de uma ação penal, uma espécie de duelo, de oposição entre indivíduos, entre famílias ou grupos. Não havia intervenção de nenhum representante da autoridade, de um terceiro indivíduo. Somente em dois casos havia uma "ação pública": em casos de traição e homossexualismo. 
O direito se dava como um ritual de guerra, regulamentado a prática da mesma. Também era característica do Direito Germânico a possibilidade de cessar a guerra através de um acordo entre as partes envolvidas, geralmente de cunho econômico. 
*Filme: Abril Despedaçado ilustra bem como se dava essa relação no Direito Germânico, uma vez que as famílias duelavam entre si, numa espécie de guerra marcada por rituais que eles seguiam fielmente. Ex: só poderiam vingar a morte do familiar após o sangue da camisa ter amarelado, ou só podiam matar em dias de lua cheia. 
Entre os séculos V e X de nossa era, houve uma série de conflitos entre o antigo Direito Germânico e o Direito Romano. Entretanto o que se vai configurar como direito no sistema feudal é o Direito Germânico: nele não há nenhum dos procedimentos de inquérito ou de estabelecimento da verdade das sociedades gregas e do Império Romano.
Ex: o acusado deveria andar sobre ferro em brasa e, dois dias depois, se ainda tivesse cicatrizes, perdia o processo. (ordálios)
Em suma, o sistema de prova judiciária feudal trata-se não da pesquisa da verdade, mas de uma espécie de jogo de estrutura binária, em que ou o indivíduo aceita a prova ou a recusa, perdendo, assim, o processo. Se aceita a prova, vence ou fracassa, não há outra possibilidade. A prova, nesse sistema, não serve para nomear ou localizar aquele que disse a verdade, mas para estabelecer que o mais forte é aquele que tem razão, como também acontece em uma guerra.
Esse sistema de Direito Feudal desaparece no fim do século XII. Surge então o inquérito, bem diferente do que foi visto na tragédia de Sófocles. Aparece a figura do procurador, ele assume o papel da parte ofendida, a ofensa contra a moral passa a ser crime contra o Estado, e a reparação passa a ser exigida pelo rei. Os litígios privados tornam-se públicos. Surge o poder judiciário, para assegurar ao rei e à classe dominante a continuidade de seu domínio. Foucault destaca quatro características importantes do procedimento de inquérito da época:
1) O poder político como o centro.
2) A verdade surge através de questionamentos, fazendo perguntas. Não se sabe a verdade, procura-se sabê-la.
3) O poder, para determinara verdade, dirige-se aos notáveis, pessoas consideradas capazes de saber devido à situação, idade, riqueza, notabilidade, etc.
4) Os notáveis não são obrigados a dizer a verdade, pede-se que se reúnam livremente para chegarem a uma opinião coletiva.
Foucault lança uma hipótese de que o inquérito teve uma dupla origem – uma administrativa, ligada ao surgimento do Estado e outra religiosa, presente durante a idade média. O inquérito é, nas palavras de Foucault “precisamente uma forma política, uma forma de gestão, de exercício do poder que, por meio da instituição judiciária, veio a ser uma maneira, na cultura ocidental, de autenticar a verdade, de adquirir coisas que serão consideradas como verdadeiras. O inquérito é uma forma de poder-saber”. 
O inquérito é uma determinada maneira do poder de exercer e foi uma consequência das transformações nas estruturas políticas e nas relações de poder da época.
QUARTA CONFERÊNCIA
É na quarta conferência que Foucault então introduz o que ele nomeia como ‘sociedade disciplinar’. No final do século XVIII e início do século XIX há uma reorganização do sistema judiciário e penal em diversos países da Europa e do mundo. Na Inglaterra ocorrem profundas mudanças no conteúdo das leis e no conjunto de condutas penalmente repreensíveis sem que as formas e instituições judiciárias se modificaram profundamente. Na França ocorre o contrário, modificam-se as instituições sem alterar-se a lei penal. Nesse momento surge a noção de ‘infração’ penal, claramente caracterizada como uma ruptura da lei e esta tendo a função de regular o que é útil e o que é nocivo para uma sociedade.
O crime ou a infração penal é a ruptura com a lei estabelecida no interior de uma sociedade. É preciso que haja um poder político para que uma lei seja efetivamente formulada, pois se não há lei, não pode haver infração. Outro princípio é que uma lei penal deve ser a repreensão daquilo que é nocivo à sociedade. O terceiro princípio implica em uma definição clara dos crimes: o crime não é mais relacionado àquilo que representa pecado ou falta, mas algo que prejudica a sociedade, ou seja, um dano social, uma perturbação, um incômodo para toda a sociedade. Além dessas transformações dos sistemas, há também uma nova definição do sujeito criminoso: é aquele que danifica, perturba a sociedade, é o inimigo social. 
Foucault distingue quatro tipos de ‘punição’ como meio de reparação do mal cometido contra um corpo social: deportação, exclusão moral, trabalho forçado e talião – que consiste em sofrer algo semelhante. Contudo, o sistema de punição adotado não foi nenhum destes. A prisão ou o aprisionamento surge sem justificação teórica no final do século XIX. Ela surge como uma forma de assegurar a contenção dos indivíduos, para controlar os seus comportamentos.
Surgem instituições de vigilância e correção paralelas ao poder judiciário: polícia, instituições psicológicas, psiquiátricas, criminológicas, médicas, pedagógicas para a correção, em um modelo “ortopédico” que Foucault chama de panoptismo. 
Foucault acredita que o principal e mais importante teórico para a nossa sociedade seja Bentham, pois foi ele quem programou, definiu e descreveu de maneira mais precisa as formas de poder em que vivemos ao apresentar o modelo do Panopticon: uma forma de arquitetura que permite um tipo de poder que é a sociedade da vigilância. O panopticon consiste em uma torre no centro, onde fica um vigilante que pode olhar para todos sem que ninguém possa vê-lo, e de um edifício em forma de anel dividido em celas, onde em cada uma dessas celas havia uma criança estudando, um operário trabalhando, um criminoso se recuperando, etc.
Foucault define o panoptismo* como sendo um dos traços característicos da nossa sociedade, pois se atribuem a esse sistema uma forma de poder de vigilância individual e contínua e de formação e transformação dos indivíduos em função de certas normas com um tríplice aspecto: vigilância, controle e correção.
*As câmeras de vigilância espalhadas nas cidades têm a mesma função do panóptico: assegurar uma certa ordem e uma padronização de comportamentos. 
Estes mecanismos de controle surgiram obscuramente na Inglaterra e na França. O primeiro situa-se na Inglaterra do século XVIII com os quakers e metodistas. O segundo refere-se à ordem do rei: lettre-de-cachet*, presente no estado monárquico da França.
 
*Ordem do rei para obrigar alguém a fazer alguma coisa.
Através dessa construção teórica, Foucault tem a possibilidade de afirmar que práticas penais são aplicadas às virtualidades, ou seja, ao que pode ‘vir-a ser’, ao que pode acontecer. Os mecanismos penais já não se importam mais com o fato criminoso, mas em controlar a conduta antes e após o delito. 
Os novos sistemas de controle social estabelecidos pelo poder, pela classe industrial, pela classe dos proprietários foram tomados dos controles populares com uma versão autoritária e estatal. Surgiram devido a uma nova distribuição espacial e social da riqueza industrial e agrícola que tornou necessários novos controles sociais no fim do século XVIII. 
QUINTA CONFERÊNCIA
Na quinta conferência ele aprofunda nas sociedades disciplinares, argumentando que atualmente vivemos em uma sociedade panóptica.
A teoria penal de Beccaria, legalista, social, se opõe inteiramente ao panoptismo. No panoptismo a vigilância sobre os indivíduos se exerce não sobre o que é feito, mas no que se é e sobre o que pode vir a fazer.
No século XIX, o indivíduo é controlado justamente por ser indivíduo e não por pertencer a um determinado grupo. Na França, o internado era sempre um marginalizado, em relação à família, ao grupo social ou à comunidade a que pertencia: “[...] alguém que não estava dentro da regra e que se tornara marginal por sua conduta, sua desordem, a irregularidade de sua vida” (p. 113). Nas instituições surgidas no século XIX, ainda que o efeito fosse de exclusão, o objetivo, segundo Foucault, seria provocar uma “inclusão por exclusão”, ou seja, haveria a integração dos indivíduos em uma estrutura de normalização dos homens. O corpo adquire um novo significado, “[...] ele não é mais o que deve ser supliciado, mas o que deVe ser formado, reformado, corrigido, o que deVe adquirir aptidões, receber um certo número de qualidades, qualificar-se como um corpo capaz de trabalhar” (p. 119)
Ele descreve as diferentes instituições e suas regulamentações: como indústria, escola e hospital psiquiátrico, afirmando que esses espaços disciplinares não tem o objetivo de excluir, mas ao contrário, de fixar o indivíduo. Fixá-los ao aparelho de produção, de transmissão do saber, de correção e de normalização dos indivíduos. Sobre essas instituições Foucault mostra diferentes práticas que se destinam na extração da totalidade do tempo, dos indivíduos, a fim de controlar seus corpos (corpos dóceis). Foucault finaliza mostrando três conclusões: a primeira diz respeito ao aparecimento enigmático das prisões em nossa sociedade; a segunda trata da ligação do homem ao trabalho. Durante o século XIX, novas formas de controle passaram a vigorar, além da força de trabalho através de baixos salários frente à cargas horárias elevadas: o controle de como gastar o tempo livre e as economias do operário. Assim surgiram as caixas econômicas, as caixas de assistência, a previdência social. 
Controlando o tempo (instituições de sequestro), as economias, a vida dos indivíduos, controla-se também o seu saber. O sistema capitalista penetra profundamente em nossa existência, com um conjunto de técnicas políticas e de poder pelo qual o homem encontra-se ligado ao trabalho. O trabalho é uma essência concreta do homem, Foucault afirma que a ligação do homem ao trabalho é política, operada por um sub - poder, não estatal e nem de uma classe, mas de pequenos poderes situados num nível mais baixo; e a última conclusão refere-se ao funcionamento desse sub - poder que exercido provoca o nascimento de diferentes saberes.
Foucault mostra como sabere poder estão relacionados às relações de produção: “Poder e saber encontram-se assim firmemente enraizados; eles não se superpõem às relações de produção, mas se encontram enraizados muito profundamente naquilo que as constitui” (p. 126). O conceito de ideologia precisa, portanto, ser revisto; a existência das relações de produção que caracterizam as sociedades industriais depende, não apenas de condições econômicas, mas também desses micropoderes e dessas formas de saber.
AULA TRANSCRITA SOBRE AS CONFERENCIAS 18/08
Pro Foucault não existe uma pessoa que tem o poder , o poder é uma estrutura geral de funcionamento da sociedade, o poder é um mecanismo de funcionamento. A beata da igreja ela tem um poder dentro da igreja com base em uma hierarquia , o padre exerce poder sobre o bispo, o bispo sobre o cardeal, o cardeal sobre o papa, eles estão num jogo hierárquico de poder que vai descendo.
O professor dentro da sala de aula não tem o poder de fazer o que ele quiser, ele tem um papel a cumprir. Tem-se uma expectativa de que ele cumpra este papel. Cada momento que a sociedade se modifica, modificam-se as formas jurídicas tbm. A verdade é guiada pela forma jurídica. O poder permeia, ele não tem um local. O poder não é relativizado. 
Dentro de uma determinada estrutura de poder o direito penal é de um jeito, quando a sociedade se desloca e apresenta outros interesses o poder vai mudar. No sistema medieval não estamos numa sociedade mercantilista (capitalista) as pessoas estão vivendo de suas próprias produçõe. Não se tem interesse de que as pessoas sejam produtivas, elas não precisam fazer parte de uma engrenagem de geração de riqueza. 
Logo depois no século 18, início do 19 começa o trabalho fabril, então interessa a mão de obra, interessa cuidar da população, desenvolvem-se políticas estatais para que as pessoas não morram mais. O governo então tenta combater as doenças como sífilis, gonorreia, varíola, tifo. Antes aquele direito trabalhado na lógica do extermínio que permitia o enforcamento das pessoas, não vai existir mais, porque as pessoas são mãos para o trabalho .Então desenvolveu-se a prisão, a prisão inclusive nessa época era prisão fabril, eles eram presos e trabalhavam de graça. A prisão era entendida como um espaço de correção.
O sistema criminaliza não ter emprego, porque provavelmente o vadio vai ser o assaltante, batedor de carteira, vai estar bêbado, vai fazer baderna. Não ter emprego então é um crime importante no século 19. 
A cadeia não é mais uma cadeia, é uma escola, um reformatório. Então tem que acordar cedo pra tomar banho gelado, ter hábitos alimentares saudáveis, vida religiosa, tem que trabalhar todos os dias por longas horas. Criando o conceito de ortopedia social, o sujeito após passar um tempo na prisão não tinha mais os mesmos hábitos, estando portanto apto para o convívio social, e muitas vezes estava alienado (dócil)
O poder vai funcionar sutilmente, quando elas se submetem docilmente ao chefe dentro da fábrica. Nós nos tornamos sociedades de vigilância, cuidadores de nós mesmos, vigilantes de nós mesmos, nós condenamos o ócio do outro, nós que rejeitamos e punimos quem está bêbado. 
Não existe relação sem poder. Todos nós exercemos poder, é uma rede uma dinâmica. 
As formas jurídicas mudam conforme cada situação política, o direito vai ser moldado. A sociedade se democratizou, não era só dos poderosos, a testemunha neste momento passa a valer , ocorreu uma mudança política. Aos poucos a sociedade foi se mudando se democratizando, e em uma democracia vc quer apurar a verdade, vc tem o inquérito. 
Édipo é uma peça segundo Foucault sobre o poder, pra mostrar como o poder democrático por meio do inquérito, por meio de querer saber qual a verdade vai derrubar inclusive o rei. 
Temos então uma preocupação com a verdade, a primeira notícia de uma sociedade democrática foi na grécia. Quando se apura a verdade através do inquérito, abre-se espaço para uma estrutura jurídica que está na mão do povo, o soberano não vai ter o poder absoluto. A Grécia se democratizou e o poder está na mão do povo, ocorre uma descentralização do poder, o inquérito passa a ser uma forma de busca da verdade. 
Na idade média isso se perde e volta os ordalias as provas. 
___________
 
O Foucault vai mostrar a sociedade disciplinar, que tem a proposta de individualização da pena. A pessoa que vai ser punida não consegue se ocultar, se esconder ou ficar atrás de um grupo social. A sociedade de vigilância passa a assumir um caráter mais preventivo do que punitivo, as pessoas são mais julgadas pelo seu estereótipo. Vamos de antemão punir as pessoas, e quem sofria mais eram as pessoas pobres que caiam fatalmente nos reformatórios, elas eram presas apenas pela aparência. Ex: cadeirante
O sistema passa a ser preventivo e não punitivo. A vigilância passa a funcionar, porque age antes do acontecimento existir. Tem-se então uma nova estrutura jurídica. 
A industrialização da sociedade no século 19. A adequação do sistema penal ao capitalismo, a produção de riquezas. Nesta época passa a ser interessante domesticar, adequar, criar corpos dóceis, moldar a pessoa de uma determinada forma, para ela produzir com eficiência. Então tudo que dispersava essas pessoas, jogos, bebida, prostituição (lazer no geral) era criminalizado. O positivismo aparece então no século 19 está diretamente ligado com essa mentalidade, pois ele pregava à “ordem”
Filme: tempos modernos.
(O conhecimento não está nas coisas, o conhecimento é um efeito vem da nossa luta com a realidade, efeito de uma série de vivências. Foucault acredita que não ha instintos.)
O DIREITO E O TEMPO
> Memoria e esquecimento
Não há um passado acontecendo, ou um futuro acontecendo (ficção humana). Ilusão ideológica, como se tempos diferentes estivessem acontecendo paralelamente. Tempo horizontal, nome da concepção. Só existe o presente (tempo vertical). A memória não é propriamente algo do passado, a memória é uma ação no tempo presente. A memória é uma técnica deste tipo de animais que somos, animais que desenvolveram a memoria (mamiferos). Embora haja memória nos animais, a memória deles não é transmitida pra frente, nao tem memória de longa duração. Nós somos seres cognitivos, somos transmissores da nossa experiência pros outros, seres de longa memória, temos saberes que vem desde a antiguidade. Como se nós fossemos um tipo de ser no mundo que estica a memória.
Nos temporarizamos nossa experiência, para que nós possamos refletir e dar um sentido a ela.
> Memoria Coletiva e Social (Halbwacks)
Memoria está ligada ao aprendizado. A gente pensa que memória é algo individual, algo pessoal. (Halbwacks). A memória ela é uma leitura que de alguma forma já é coletiva, já é social. A questão central na obra de Maurice Halbwachs consiste na afirmação de que a memória individual existe sempre a partir de uma memória coletiva, posto que todas as lembranças são constituídas no interior de um grupo. A origem de várias idéias, reflexões, sentimentos, paixões que atribuímos a nós são, na verdade, inspiradas pelo grupo. Influenciamos a memória de todo mundo, somos influenciados por discursos que de alguma forma formatam a nossas memória, ela é corrompida pela linguagem.
> Identidade Social
Os judeus não permitem que a gente esqueça o holocausto, exercício de memória dos direitos humanos, para que ele nunca mais aconteça, se repita.
> Temporização- François Ost
Temporalizamos o tempo para que possamos nos distanciar. Ditadura: estado usurpou o poder, o período da ditadura, estamos precisamente falando desse período, ele está temporizado, fechado nele próprio, nos distanciamos e podemos julgar esse passado, quando falamos que estamos numa democracia por exemplo.
> O uso da experiência- Teoria Narrativa- construção de sentido (sempre haverá uma perspectiva)
Quando fazemos o uso da experiência construímos uma narrativa, a narrativa sempre implica em uma perspectiva, construo um sentidoespecífico, e esse sentido é propriamente esta apreensão da experiência, para toda narrativa há um sentido. Exemplo: família dele, mãe que conta os casos para as filhas dele. Põe um pouco da história dela, na vida das filhas. Conta com um sentido, a partir de uma perspectiva, não há narrativa sem alguém que dê um sentido pra ela. Ao contar uma história qual direito você quer firmar? Quando se conta a história da ditadura, do holocausto, está querendo firmar os direitos humanos. Exercício de memória.
> Cultura de direitos humanos
Direito de imagem, direito de documentação, os seres humanos têm direitos sobre sua própria história. Direito a preservação a história que é coletiva.
> Direitos de Terceira Geração e Direitos Difusos 
Dialética das Tradições
> O Direito não vem do passado.. Não escolhemos ( no presente) a tradição que usaremos retoricamente (argumento) para justificar nossas decisões; passado/ presente/ futuro.
> Tempo vertical === presente do passado/presente do futuro
> A tradição e sua ressignificação (sentido)
> Futuro diligenciado
> "Anamnésis" e "mnéme": reminiscência voluntária e espontânea
> A questão da lembrança e da recordação de Rocoeur
> A questão da memória primária e secundária
> Halbwachs: os signos de uma cultura (A memória é coletiva)
> Memória impedida ¹/ Memória manipulada² / Memória obrigada³
O Direito não é uma vingança, é impessoal.
A ideia de viajar no tempo é uma ficção da nossa literatura.
Quando começamos a usar calendário, passamos a dar a ideia de lugar ao passado.
O que existe é o tempo presente
Quando trazemos coisa do passado pro presente, eu presentifico.
Presentificando o futuro quando eu falo do futuro no tempo presente
Tempo linear é uma falsa premissa
Não existe memória que eu não possa lembrar
Toda tradição vai sofrer uma ressignificação, vamos dar um sentido pra ela > quais são as consequências desse passado pro futuro
> "Anamnésis" --> quando eu tenho um ato de passado que me interessa no presente, passado racionalizado. Lembranças significativas pro presente. Quando eu uso a experiência. Se eu extraio do passado uma inf, e se ela é importante pra eu dizer algo pras pessoas do presente, essa informação está sendo usada, ela é útil. (voluntária) ação
> "Mnéme" ---> uma coisa sem sentido, só vai lembrar pq aconteceu agr. Memoria irrelevante (espontanea)
A memória como direito
O cidadão do século XXI é um ser muito mais complexo, a subjetividade da vida humana permitiu a implementação do que chamamos de direitos de terceira geração (direitos difusos).
Refere-se aos direitos novos, ainda difusos, como o direito ambiental, direito a paisagem, direitos 
humanos,à memória e a documentação.
O processo de amadurecimento político de uma comunidade faz com que a mesma lute por seus direitos e exerça sua cidadania através do processo democrático. O direito é um fenômeno que se dá através da história e amadurecimento de determinado povo, a partir da conscientização de valores que passam, muitas vezes pela experimentação do sofrimento para tornarem-se bases a serem defendidos.
Busca-se entender o passado histórico de uma narrativa para determinar como os direitos são apreendidos, percebidos, construídos, com objetivo de determinar de que maneira devem ser consolidados e protegidos.
O direito à memória e a história funcionam como antídotos para que os membros de certa
comunidade jurídica não mais tenham que suportar atrocidades, desrespeitos e violações de
suas integridades físicas e morais. 
Direito à memória e Construção de Identidade Coletiva: Teoria Narrativa e Construção de Valores Históricos
1. A necessidade de revisão das tradições jurídicas e o deve de legitimidade do direito.
O direito está em constante mudança, mas ao mesmo tempo, guarda as tradições. O direito não vem do passado, mas do presente.
O direito sempre está pautado nas tradições. Tem-se o hábito de trazer do passado argumentos para sustentar as posições presentes, como forma de convencimento para influenciar uma decisão futura.
A partir do presente que reinventamos e ate inventamos uma tradição. As tradições não tem força por si só. Toda tradição vai sofrer uma resinificação, vamos dar um sentido pra ela > quais são as consequências desse passado pro futuro?
2. Direito à memória é direito à construção de valores históricos.
A memória é constituidora de identidade, é um fenômeno social e coletivo. Não há memória sem partilha de conceitos comuns. Não se lembra nada sem passar pela cultura. Porém a memória é seletiva:
Anamnésis == quando eu tenho um ato do passado que me interessa no presente: passado racionalizado. Lembranças significativas pro presente. Se eu extraio do passado uma informação, e se ela é importante pra eu dizer algo pras pessoas do presente, essa informação está sendo usada, ela é útil. (voluntária)
a) Entre a mnémee a anamnésis: evocar propositalmente o passado.
A memória é do passado, mas se faz a partir do presente. O passado é aquilo que já não é, o futuro aquilo que ainda não foi. O tempo linear é uma falsa premissa. O homem comum pensa o tempo como movimento, tempo calendário, tempo relógio.
Rememorar não é retornar no tempo, não tem como fazê-lo (ainda não existe máquina de teletransporte), rememorar é recriar um tempo que já se foi. Esta recriação acontece ficcionalmente. A memória apresenta-se de duas formas: inscrita no tempo e não inscrita.
Inscrita no tempo ::: Só os humanos possuem sensação de tempo e podem buscar recordação inscrita no tempo continuo ou uma lembrança inscrita em uma temporalidade passada.
Não inscrita ::: ????
A memória pode ser dividida em duas espécies : a lembrança e a recordação
Lembrança> mneme , simples retenção e algo do passado (sem muita importância).
Recordação> anamnesis, busca voluntária do passado para algum fim > atividade racionalizada e narrativa, rememorar algo que já não mais existe.
Há dois entendimentos sobre o tempo, um real > presente,vertical
ficcional > horizontal em movimento
Memória primaria > retenção de um objeto na memória, disposição passiva
Memória secundária > advém de uma recordação (anamnésis), disposição ativa
Memória impedida ¹/ Memória manipulada² / Memória obrigada³
Memória impedida: caráter patológico (doença). Acontece no plano individual quando tentamos esquecer. Debate surgiu com Freud. Diz-se haver memória impedida quando um fato traumático impede que a memória o recorde. Apenas quando se rememora o fato traumático, encarando-o e interpretando-o, a memória perde este caráter patológico. Censura, forma comum de impedimento de memória.
Memória manipulada: quando tratamos da memória manipulada, está-se no campo das relações de poder. Tem caráter prático e de cunho ideológico. Tentativa do Estado de forjar memória coletiva. Pega-se um fato e dá um novo sentido a ele, enquanto que os outros que não casam com a realidade são esquecidos forçadamente. Visa-se um fim planejado. FORJA UM APARATO IDEOLÓGICO
Memória obrigada: diferente da memória manipulada, ela tem por função dar ênfase em determinada perspectiva da história. É uma forma de abuso, que se dá pelo excesso de ênfase em datas ou eventos públicos. Impõe dever de memória sobre determinados acontecimentos.
A DITADURA MILITAR NO BRASIL IMPEDIU E MANIPULOU A MEMÓRIA DO POVO BRASILEIRO DURANTE SEU TEMPO DE VIGÊNCIA. OS EFEITOS DISSO SÃO RECONHECIDOS ATÉ HOJE.
b) Memória como fenômeno coletivo e memória como condição de identidade.
Lembrança pura ::: aquela do hábito, aquilo que memorizamos e apenas aplicamos.
Lembrança- imagem ::: é a recordação, a lembrança propriamente dita.
Toda memória é fundamentalmente coletiva. Para Halbwachs somente nos lembramos porque fazemos parte de uma coletividade. Cada evento do qual se lembra está ligado a um significado, a nossa memória se constitui de signos. A história é composta pela relação sujeito/sujeito que compartilham das mesmas ideias.
Cada um de nós só constrói sua própria identidadea partir do reconhecimento da existência do outro. No coletivo se situa a noção de história.
Sem passado não há identidade.
3. Conclusão: Por que lembrar a ditadura? (O dever de memória)
A memória está em constante modificação por meio da reinterpretação. Ela é algo coletivo, intersubjetivo, é uma ação partilhada. A memória é seletiva, pois toda narrativa precisa de um narrador que tem uma certa perspectiva. Algumas coisas escampam do seu conhecimento, coisas são esquecidas, propositalmente ou não.
Cada vez que algo é rememorado, uma nova narrativa é criada e o que antes era lembrado pode ser esquecido, e o que era esquecido pode ser lembrado.
Segundo Ost :
* a memória é social e não individual
* não procede do passado e sim do presente
* é ativa e não passiva
* não se opõe ao esquecimento, o pressupõe
A anistia como esquecimento não pertence ao direito. Vejamos a significação da palavra :
Anistia
1. esquecimento, perdão em sentido amplo.	
2. 	ato 	do poder público que declara impuníveis delitos praticados até determinada data por motivos políticos ou penais, ao mesmo tempo 	que anula condenações e suspende diligências persecutórias.
3. A anistia esquecimento é uma espécie de perdão que pertence à esfera individual, ao mundo dos sentimentos íntimos. O caráter público do direito lhe impede de conceder a anistia, pois não contempla perdão.
Quando a mudança retroativa é legítima ou não, mudam-se os valores, mudam-se os sentidos e consequentemente muda-se a interpretação. O povo tem direito à sua memória, à sua história, em processo de formação de identidade. Esta é uma construção racional, seletiva do passado. O Brasil precisa apossar-se da sua história recente.
INTRODUÇÃO EXPLICATIVA A ORESTEIA - PARA ENTENDER O LIVRO CONTAR A LEI- OST
AGAMÊMNOM
Agamêmnom sacrifica sua filha Ifigênia para invocar ventos favoráveis a sua frota, que parte em mais uma batalha, a guerra de Troia. A rainha Clitemnestra esposa de Agamêmnom traz notícias de que os gregos haviam vencido a guerra e tinham conquistado Troia. Agamêmnom e seus companheiros cavalgam de volta para Argos e sua esposa o recebe de braços abertos. O assassinato de sua filha fez com que as Eríneas atormentassem Clitemnestra até ela buscar vingança. Junto com Agamêmnom regressa Cassandra, ex-princesa troiana e agora escrava, que tinha poderes de adivinhação. Cassandra previu que a morte chegaria à casa de Agamêmnom e assim foi feito, Clitemnestra mata Agamêmnom e Cassandra. Nesta cena encontramos o amante de Clitemnestra, Egisto, que foi incitado a planejar a morte de Agamêmnom com as mãos de sua amada.
O pai de Agamêmnom (Atreu) exilou o pai de Egisto (Tiestes), porque ele havia tentando tomar sua coroa. Tiestes implorou para voltar ao reino, e foi contado a ele que poderia retornar e que já estaria perdoado por Atreu. Ele apenas fingiu perdoar e em troca matou dois dos irmãos de Egisto e serviu para Tiestes comer (festim de Tiestes). Ao Agamêmnom ser morto Egisto sente que foi vingado.
Clitemnestra reivindica abertamente seu crime e então surge um novo vingador.
Coro: representando pelos anciãos de Argos
COÉFORAS
Com mais este sangue derramado as Eríneas de Agamêmnom atormentam seu filho Orestes para matar Clitemnestra e Egisto, vingando a morte de seu pai. Orestes que fora banido num passado regressa para vingar o pai. O coro do tribunal lamenta a morte de Agamêmnom e denuncia as desordens do reino de Argos. Mesmo depois de morto Agamêmnom envia um sonho a Clitemnestra, que por sinal é aterrorizante. Ela então consulta um adivinho do palácio que interpreta o sonho como um sinal de ressentimento das divindades infernais. Para aplacá-las a rainha manda Electra (filha criada como escrava) e algumas servas levar libações à tumba de Agamêmnom, no intuito de apaziguar a alma do marido. No mesmo dia Orestes acompanhado de Pílades, seu companheiro inseparável, chegou a Argos para vingar a morte do pai. Lá ele depositou mechas de seus cabelos sobre o túmulo do pai. Electra reconhece seu irmão e ele a revela que Apolo o incumbiu de vingar a morte de Agamêmnom. Todas as mulheres dão apoio a essa conjuração: Electra, o coro das Coéforas e as Eríneas paternas. Electra de pronto percebe que se tratava das mechas de seu irmão. Disfarçados de viajantes, Orestes e Pílades são acolhidos amistosamente por Clitemnestra, depois de dizerem que seu filho tinha sido morto no exílio. Clitemnestra e Egisto são mortos por Orestes, e ao proclamar que a justiça foi feita ele se torna alvo das Eríneas maternas. Orestes então empreende a fuga.
Coro: Coéforas, portadoras de libação
EUMÊNIDES
Reencontramos Orestes em Delfos, como suplicante no templo de Apolo. Ele reivindica a purificação uma vez que está sendo perseguido pelas Eríneas maternas. O deus lhe concede a purificação reintegrando-o ao mundo dos humanos e em seguida o envia para Atenas, a fim de que o tribunal se pronuncie sobre seu caso. O coro é todo composto pelas Eríneas de Clitemnestra, que tentam condená-lo a todo custo, do outro lado há Apolo que sai em sua defesa. O coro vota e depositam o mesmo na urna. A deusa Atena havia instituído uma regra, que se a votação desse empate o réu seria absolvido. E o resultado não foi diferente, Orestes foi absorvido com o voto de minerva de Atena. A fúria das Eríneas se torna eminente e elas resolvem acabar com a cidade através do ódio, por terem perdido no tribunal. Graças a “doce persuasão” de Atena as deusas acabam aceitando o resultado e se tornam guardiãs da cidade : Eumênides. Atena ao fundar o Areópago consegue conduzir a lei vindita a se transformar em justiça, uma justiça humana decidida por votos após a análise de provas levadas ao tribunal.
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Existe no texto um certo elogio a justiça natural, uma certa aceitação que há uma justiça natural cosmológica, que há uma justiça vingativa. A terceira peça é de uma construção de harmonia que não abandona o antigo sistema de justiça, mas deixa ventilar o novo. Existe uma composição entre mitos e logos > é possível dizer que o Espero está fazendo uma mediação. Mas de forma alguma ele diz que estamos superando o período mítico, nós somos um poucos gregos até hoje > os gregos acreditavam muito nas juras. A palavra pro grego é uma ação. "Jura pelo teu deus..." a gente até hoje está cheio de jura, nos tribunais a primeira coisa pedida a testemunha é que ela jure falar a verdade. Juramos com a mão sob a bíblia. O grego evoca com a palavra a justiça natural. Nós quando decidimos amaldiçoar alguém, lançar uma praga, nós evocamos a justiça natural. O mundo mítico atribui a outra pessoa, alguma maldição, alguma pena a ser cumprida, as herineas são isso, mas elas são importantes para restabelecer a ordem.
Perdão> ele é não amnesia, o perdão é mais do que o esquecimento, é manter a ideia é anamenesis, é apostar no futuro , que as coisas vão melhorar. Esqueró está propondo a valorização do perdão. Oreste ao ser perdoa não deixou de ser criminoso, ele simplesmente ficou livre da sequência de maldições, foi rompido, ele não vai ter que pagar com a vida, ele não foi absorvido, foi perdoado.
A palavra peito, é a capacidade de persuadir,, Atena tem muito peito, ela é convincente, é a capacidade de persuasão. Era desvantagem pros gregos não ser persuasivo.
A persuasão nao é racional, ela é prevaricada. é possível dizer o Esqueró está apresentando uma critica contra os juízes e contra a magistratura.
Nos conseguimos lembrar das coisas num plano individual, há uma memória nossa de como as coisas eram. A lente sob a qual enxergamos as coisas depende de um desenvolvimento cultural. A cultura nos fornece uma série de filtros, lembramos das coisas a partir da perspectiva cultural. O entendimento de mundo é coletivo, toda a memória vai partir de uma intersubjetividade. A memória não é igual pra todo mundo. Vai haver uma certa perspectiva sobre o que aconteceu, não tem como ser vista sema cultura. A memória se modifica na cabeça da pessoa. Ex: ato político > anos depois poderemospensar de outra forma.O que pensamos ser a memória se torna uma presentificação.
Ninguém olha alguma coisa de forma onisciente, neutra. Somos parciais.
Significados> toda memória está recheada de significados, nos construímos redes de significações > direitos humanos < a memória está ligada a identidade, se não fosse essa memória não saberíamos quem somos. > reconhecimento do outro/ de nós mesmos < nós devemos nos reconhecer dentro de um contexto.
Se não temos memória caímos na anomia, é uma doença social. Muitas pessoas que se suicidam, são acometidas por anomia. Ex: imigrantes de SP (tendem a depressão, alcoolismo). Todo indivíduo é em parte uma coletividade, nós não somos um átomo, não somos isolados, toda a formação identitária está relacionada com as pessoas que de alguma forma estabelecem relação de reciprocidade conosco. O indivíduo não existe sem sua coletividade.
A memória é uma ação > lembrar é um ato, a memória não é passiva. Só é um ato, porque carregamos ele de sentido, esse sentido é uma intervenção no mundo.
A memória é também seletiva, ela vai selecionar o que ela vai guardar ou não. O tempo todo essa memória faz uma seleção, este ato de selecionar, de escolher a memória é que da mais ênfase de que a memória é um ato. Ex> situação traumática ou uma situação muito boa.
4) Só lembramos porque esquecemos, é necessário lembrar, a memória pressupõe o esquecimento. Este ato de memória é porque sabemos que esquecemos. ex> baú com as lembranças, cartão da vó tem um significado.
A Europa passou por um período de guerras, e essas guerras vão se fechar num tratado. Razão de estado. Os chefes de estado ganhariam asilos políticos dos outros estados. Por que eles tiveram de fazer um trabalho muitas vezes "difícil", cometeram excessos. Ost diz que este tipo de direito é um direito que não precisamos mais manter, os crimes cometidos por um estado tem que ser punidos pelo próprio estado, primeira vez que isso aconteceu : julgamento de nuremberg.
Não descolamos da ditadura, nos impomos o esquecimento, nós não viramos a página. Na Alemanha julgaram o nazismo, viraram a página.
O espaço público não contempla perdão, quem perdoa é a vítima, a justiça não pode dar perdão. A única pessoa que pode perdoar é a vítima. Na ordem pública tem que aplicar a pena, você dá a pessoa o direito da redenção. Há esperança de que ele aprenda. 
AULA 17 DE MARÇO
Antigamente até o século 18 a lógica do exercício da soberania era matar as pessoas, matar o criminoso, como uma espécie de poda da sociedade. Se enforcava muita gente, por qualquer crime. O soberano tinha a ideia de controle sobre a vida, era o enviado de deus pra esse mundo, no momento em que ele condenava a pessoa a morte, ele estava mandando a pessoa pro outro mundo, pro reino de deus. A biopolítica é a primeira ideia de controle sobre a vida, que traz uma ideia de matar para fazer viver. Tinha-se a ideia de que as doenças estavam no ar, e para fazer a população ficar viva era preciso combatê-las. Com este pensamento se tornou possível segregar pessoas, para que elas não passassem suas doenças para os saudáveis.
Os monarcas vão combater a peste negra e a lepra tentando estabelecer isolamentos. Isso vai trazer uma grande sofisticação ao poder público uma vez que se torna possível controlar as pessoas. O Estado vai aprendendo a ser Estado na medida em que consegue intervir de maneira incisiva no destino das pessoas. Devido a infestação de lepra constrói-se leprosários que eram grandes campos de concentração, prisões, que segregavam as pessoas acometidas pela doença em um dado espaço. Na época a doença era considerado um problema público muito grande.
SOBRE AS VACINAS
As pessoas não queriam ser vacinadas, existiam vários discursos falsos que faziam com que a população resistisse a vacinação. As pessoas não compreendiam a importância da vacinação. O Estado então desenvolveu uma politica de vacinação com aparato policial, no Rio de Janeiro no século XX por exemplo, entrava-se nos cortiços e queimavam as tralhas, as roupas, raspavam o cabelo, a barba, passavam iodo nos moradores destes locais. Era uma forma de tratar os pobres
Observar a população sobre um aspecto eugênica (melhoramento da raça) não deixaria que o “ruim” se reproduzisse. No texto ele introduz o Darwinismo, deixando claro que a teoria se preocupava com a natureza e não com o ser humano. Diz a respeito do controle genético. Muitos cientistas sociais estavam interessados na esterilização humana, pois passou-se a acreditar que era possível melhorar a espécie humana. O mais forte se reproduz, mas produz um sistema genético que vai passar para a próxima geração.
No século XX não matávamos ou fazíamos seleção dos “humanos decaídos”. Nossa espécie estava degenerando em vez de melhorar. Era preciso combater a degenerescência. Cientistas vão começar a achar traços que mostrariam a degenerescência nas pessoas e assim se começaria uma prisão dessas pessoas para os genes não serem levados pra frente. Políticas foram incentivadas em vários lugares de esterilização da população carcerária. Pinel por exemplo achava que as pessoas que tinham algum tipo de comportamento desviante, como alcoolismo, vícios, crimes, sexualidade aflorada, desvios de ética, fraqueza de caráter, ela dava indícios de degeneração. Geralmente essas pessoas estavam presas e eram esterilizadas, taxavam essas pessoas de loucas e achava-se que era possível criar uma eugenia.
Os presos, os drogados, são deixados a sua própria sorte.
Inimigo interno> bêbado, alcoólatra, deficiente físico. Começa-se toda uma discussão eugênica, para que a população seja bem-nascida e que era preciso eliminar os maus nascidos. Corpo social> usado no direito. As pessoas criam preconceitos no próprio grupo social.
PRAGMATISMO
Pragmatismo
A sociedade sempre explicou as regras de maneira muito geral. Essas explicações foram muitas vezes jogadas para um plano metafísico (meta=além, fisis=natureza) (Ex: não pode fazer isso porque é pecado), tornando aquilo um dogma, sem explicação empírica, experimental. Um pecado é uma explicação sobrenatural. O pragmatismo não aceita essas explicações dogmáticas, desconfia de tudo, é cético, acredita que ser obrigado a determinada conduta é porque a pôr trás um interesse, uma estratégia da organização social.
O pragmatismo é um tipo de filosofia que se prima por uma postura crítica. Desconfia de tudo, é cético, não aceita fundamento moral. Não acredita em dogmas, quer saber e investigar as causas e a função prática.
Acrisolamento da norma: sistema de regras que não exige investigação. Ex: tabu da virgindade feminina no Brasil nos anos 70 *(rever conceito), o pecado.
Regras funcionais: regras estratégicas que estruturam nossa vida sem que percebamos. Há uma função social por trás. Ex: 10 mandamentos (criados para proteger o núcleo familiar), constituição que defende o casamento entre homem e mulher.
Conhecimentos inatos: Nós saberíamos quais são os nossos deveres, mesmo se não fossemos educados para isso. São defendidos pelo idealismo alemão – filosofia da consciência (Ex: Kant, que diz que é errado mentir, o homem naturalmente sabe disso – o mundo estaria bem se ninguém mentisse). O empirismo não acredita nisso, que teríamos algo natural.
Peirce – Teoria da Significação
Pensar a filosofia a partir de coisas concretas. O pragmatismo vai pensar no porque se cumpre as regras. A filosofia da linguagem aparece pela primeira vez dentro da filosofia grega com Sócrates. Não pensa de forma prática, o pragmatismo tenta pensar a filosofia por suas proposições concretas. O que significa a palavra justiça? A que se refere a justiça? Eu vou poder ter vários usos sobre a palavra, ele está muito ligado a lógica da significação. Há diferenças entre pensar a caneta movimentando e pensar o movimento. São chamados de substantivos abstratos. Vai haver limites linguísticos que vão me permitir usar a palavra honra. A linguagem vai dar limites a capacidade de expressão.
Substantivos abstratos: só existem napalavra. Precisa ter um contexto para ver aquilo aplicado na situação. Ex: cor, tamanho, força, movimento, palavra justiça, dignidade, honra...
William James e John Dewcy: discutem a ideia de verdade. Como a filosofia nos enfeitiça (fetiche – encantamento): as palavras nos encantam, pensamos que estamos nos entendendo, mas não estamos.
Antifundacionismo
	
Não há um valor 	absoluto, imutável, perpétuo. Negação do conhecimento “a 	priori” (ex: natureza humana – não é possível defini-la)
	
Afastamento da 	metafísica -> proximidade com o realismo. 	Não se deve discutir assuntos transcendentais
	
Superação da 	“filosofia de convivência” 	 (idealismo alemão) – fazer uma filosofia sem experiências. O 	conhecimento vem a partir de atos externos e empíricos.
	
Estudo da “conduta 	prática” dos sujeitos. Ex: incesto – é 	errado porque a sociedade impôs, estabeleceu que é imoral, errado, 	pecado. Foi criado um dogma, sem questionamento. O incesto gera 	crianças com problemas congênitos, na verdade. Entretanto, é mais 	fácil estabelecer um dogma (as pessoas não questionam) do que 	explicar. 	
	
Crítica às 	teorias absolutistas ou totais: valorização da experiência. Tudo 	depende de um contexto. 	
	
É uma filosofia 	crítica e cética (critica o idealismo alemão, os ideais da 	revolução francesa). Recusa das certezas. 	
	
Para Pierce não 	existe um poder de introspecção, não existe um poder de pensar em 	signos, não existe um poder de intuição, não existe uma 	concepção que não se pode conhecer.
	
Pierce se converte 	a um falibilismo, na medida em que o ciclo do processo 	investigatório é incessante, toda informação é passível de se 	colocar em investigação novamente.
	
O pensamento de 	Pierce se recusa a lidar com conceitos de verdade e realidade nos 	moldes da metafísica tradicional. O que define a realidade é 	independente das opiniões de pessoas individuais. 	
	
Dewey apresenta 	forte oposição ao idealismo. Os homens acostumaram-se a cultivar 	tudo que poderiam lhes trazer sensação de certeza. Quando os 	homens começam a refletir filosoficamente, lhes pareceu muito 	arriscado deixar o lugar dos valores à merce de atos cujos 	resultados não são certos. 	
	
Para Dewey não há 	valores superiores ou inferiores. Ex: em algumas situações, mentir 	é preciso. Portanto, não é possível estabelecer que o homem 	nunca deve mentir. 	
	
O 	antifundacionalismo de Dewey recusa a certeza e a segurança, no 	nível filosófico e enquanto pratica de vida. Dewey rejeita os 	dogmas, valores supremos, dualismos e autoridades últimas, buscando 	substituir pela incerteza e imprevisibilidade da experiência 	humana, constantemente mutável e dinâmica. É a ação pratica que 	deve servir de fundamento para a filosofia.
	
James critica o 	racionalismo. Para ele o método pragmatista é um meio de resolver 	disputas metafísicas, de colocar fim em questões tidas como 	inconclusivas ou indetermináveis. Nenhum conceito é passível de 	oferecer seu significado final. As palavras devem ser relacionadas 	com a experiência, gerando um novo significado. As realidades 	podem ser modificadas. 	
Consequencialismo
É olhar para o futuro e não para o passado. O significado de uma proposição, bem como sua verdade, só pode ser conhecidos se forem verificados a partir do teste das consequências. É antecipando as consequências futuras que se produz o conhecimento, as consequências devem ser antecipadas para se conhecer qual é melhor, mais útil, mais benéfica.
Para Pierce > a função do pragmatismo consiste em facilitar o esclarecimento de ideias obscuras e ajudar a compreender as ideias que já são claras. Para se resolver essa confusão conceitual se faz necessário relaciona o significado dos conceitos as consequências. A máxima pragmática consiste em verificar se as concepções se relacionam com a experiência. A conduta futura ainda não realizada é a única que pode ser objeto de autocontrole.
Para James > James tem por objetivo tornar o pragmatismo uma filosofia popular e inteligível. James demonstra como a máxima pragmática se aplica em situações concretas de pratica cotidiana, seja para solucionar uma contenda metafísica, seja para resolver um problema corriqueiro. O pragmatismo não rejeita nenhuma concepção e nem adota nenhuma outra, as concepções só são adotadas se forem boas para o pragmatista naquele momento, pois posteriormente pode deixar de ser. Todas as hipóteses devem ser testadas, e deve ser feito a partir da dedução de suas consequências, se essas não forem uteis ao pragmatista devem ser descartadas na medida em que aquilo só útil quando se torna significativo. Uma ideia só se torna verdadeira à medida em que acreditar nela seja proveitoso para a vida de uma pessoa. Para James não é possível separar oque é melhor para as pessoas do que é verdadeiro para elas. A verdade pode ser definida como o que é melhor para nos acreditarmos.
Para Dewey > Uma afirmação implica automaticamente uma investigação pela verdade e a duvida relativa a própria verdade. Se a proposição se assume como verdade, nos moldes realistas e/ou idealistas, consiste em um dogmatismo absoluto. Se há uma proposição, não significa que há uma verdade nela contida, significa que há razões para se acreditar na verdade dela, devido as investigações que levadas a cabo pela duvida.
Toda proposição é uma hipótese e sua natureza é incerta. A verdade apenas pode existir no teste da reivindicação e nos atos posteriores que ele estabelecer.
Dewey quer transformar o método pragmatista em método científico :
a) todas as proposições são provisorias ou hipotéticas até que sejam submetidas a testes experimentais.
b) organiza as proposições para que elas indiquem os procedimentos necessários para testas elas mesmas
c) mesmo proposições asseguradas consistem em um sumario de investigações e testes anteriores, estão sujeitas a revisão e novas investigações
Para Dewey as proposições são hipotéticas e tentativas, que apenas serão verdadeiras se este for resultado do processo de investigação que busca aferir a sua verdade. O conceito de verdade não pode ser dado em si mesmo, tampouco a priori, não pode estar voltado para trás.
A teoria pragmatista deve considerar através de qual modo uma proposição exerce sua finalidade. O conceito pragmatista de verdade responde a alguma coisa, alguma necessidade, algum fim desejável. É um conceito constantemente corrigido, uma vez que decorre de um processo constante de investigação. A verdade significa a satisfação das consequências. O passado, o presente e o futuro estão em um mesmo nível, pois todos constituem apenas fases de uma mesma coisa.
Contextualismo
As investigações filosóficas estão atentas ao papel do contexto em seu desenvolvimento. Trata-se de reivindicar consideração às crenças políticas, religiosas, científicas, à cultura da sociedade e às relações que mantém com instituições e práticas sociais. A experiência é o mais abrangente dos contextos, e a prática é o principal elemento constitutivo da experiência.
O pragmatismo alia-se com as ideias contextualistas de: ênfase nos fatos, relevância da concretude, importância do social, o papel da comunidade, a ideia de adaptação.
Enfase nas ideias de experiência e de prática, exaltação dos fatos e da necessidade de se fazer uma investigação compartilhada para se gerar significados e ideias comunitárias.
Para Pierce > A crença é :
a) algo de que se esta ciente
b) sacia a irritação causada pela duvida
c) se inclui na natureza humana, de uma regra de ação ou um habito
As crenças guiam o desejo e dão forma as ações. É um habito da mente essencialmente duradouro. A essência da crença é o estabelecimento de um hábito, a duvida é uma privação do hábito. Tanto a duvida quanto a crença possuem efeito positivo nas pessoas. A crença faz com que você aja de tal forma em dada situação, a duvida faz com que você lute para alcançar o estado de crença, esta luta é a investigação que tem por objetivo estabelecer a opinião, cessar o estado de dúvida e instalara crença. Uma vez atingida a crença ela é sempre satisfatória, não importando se verdadeira ou falsa.
Para Pierce a identificação com a comunidade é fundamental para o progresso do conhecimento e das relações humanas. A realidade depende de uma decisão da comunidade, a investigação é sempre comunitária, as opiniões individuais vão convergir para uma mesma opinião, da comunidade.
Para James > Os indivíduos possuem um estoque de opiniões antigas que é colocado em movimento quando elas se defrontam com nova experiência. Somos extremamente conservadores em matéria de crenças. Trata-se de um processo de integração do velho com o novo, cujo resultado será necessariamente verdadeiro. De acordo com James o que se passa é um casamento entre a antiga opinião e o novo fato, o qual se processa com o máximo de continuidade e o mínimo de conflito. Ser verdadeiro significa realizar este casamento entre as partes anteriores e as novas da experiência.
A verdade e a realidade se constituem a todo momento, sempre que um fato novo é adicionado à experiência, a verdade e a realidade são uma especia de resultado provisório, que se encontra em constante mutação.
Para Dewey > O contexto está presente no nosso habito de fala, na sintaxe e no vocabulário, em tudo que falamos e ouvimos. Entendemos a linguagem em um contexto, sem contexto não há comunicação. o contexto é muito importante pra compreensão das coisas. A ênfase contextualista do pragmatismo consiste em estudar os textos filosóficos a partir dos seus contextos específicos, levando em conta a vida social e a cultura.
A experiência é o nome mais abrangente dos contextos.
Capítulo 3
Pierce produz um conceito de comunidade mais político, ao passo que a comunidade de investigação própria a perpetuidade do conhecimento, através de uma investigação continua e incessante. A comunidade de investigação é necessária para os indivíduos na medida em que eles precisam dela para confirmar suas ideias, crenças e teorias, para obter significados.
Não se pode obter a verificação e a confirmação isoladamente, o indivíduo necessita da comunidade para alcançar a realidade, e para distinguir o real do irreal. O que é tornado real pelos indivíduos de uma comunidade hoje, pode deixar de ser no futuro devido a chegada de novos e outros indivíduos.
Os indivíduos isoladamente não conseguem se livrar dos preconceitos que os impedem de enxergar a realidade, apenas através da comunidade de investigadores é que eles percebem que há algo maior que independe de seu próprio pensamento. A comunidade é ilimitada em sua extensão, abrangendo todas as raças, é também ilimitada no tempo, pois se estende para além de uma época geológica.
Os indivíduos se identificam na comunidade na medida em que suas crenças são compartilhadas e aceitas pelos demais que a compõem.
A comunidade tem a capacidade de rever seus próprios rumos e decisões exercendo um papel permanentemente critico, a comunidade então se torna critica quando estimula os seus membros ao desenvolvimento de hábitos críticos e autocontrole sobre as ações futuras.
De acordo com Mead, a capacidade de um indivíduo tomar o lugar de outro lhe confere a posição de membro da comunidade e promove o exercício da cidadania. Ele afirma que o desenvolvimento de uma comunidade democrática se faz necessário a eliminação de castas.
Uma comunidade humana será ideal quando os indivíduos se identificarem plenamente uns com os outros; ao passo que, para que está tomada de papeis seja plena, é preciso que a comunicação entre os indivíduos se realize plenamente, isto seria uma comunicação ideal.
A socialização dos indivíduos membros de uma comunidade ideal se da quando todos os indivíduos adquirem identidade com dois aspectos, um universalizante e outro particularizante.
O conceito pragmatista de comunidade porém não faz concessões universalistas.
De acordo com Dewey, onde quer que exista uma atividade conjunta cujas consequências são apreciadas como sendo boas por todas as pessoas que a formam, e onde a realização do bem é tal que resulta em um desejo e esforço para sustentá-lo e ele é um bem compartilhado cooperativamente, aí há uma comunidade. É preciso que estes membros efetivos (cidadãos) se constituam através do engajamento constante nas atividades coletivas, bem como o conhecimento das consequências destas atividades, o que está em jogo é a ideia de participação. A individualidade dos indivíduos desta comunidade se forma com a participação na coletividade, enquanto a comunidade só se constitui por meio da participação individual compartilhada por seus membros. Além da participação outro requisito necessário para a constituição da comunidade é a educação. Ele cria uma nova teoria denominada Escola Nova, esse modelo se foca no aluno como sujeito da educação e a aprendizagem deve partir da problematização dos conhecimentos prévios do aluno. A educação não era apenas uma preparação para a vida , mas a própria vida. Para ele aprende-se participando, vivenciando sentimentos, escolhendo meios para o alcance de objetivos e não se ensina apenas pelas respostas, mas pelas experiências proporcionadas.
Para ele as escolas que atuavam em uma linha de obediência e submissão não eram efetivas quanto ao processo de ensino e aprendizagem. Relaciona-se com o pragmatismo, pois dentro dessa lógica a escola e as ideias só tem importância se funcionarem como um instrumento de resolução de problemas reais. O desenvolvimento da pessoa passa pelo desenvolvimento da sociedade, o ser humano é um mecanismo de interação com o meio ambiente. A educação é uma necessidade social, pois os seres humanos necessitam de educação para assegurarem a continuidade social. A base da educação é uma sociedade democrática. A filosofia deweyana remete a uma prática docente baseada na liberdade do aluno para elaborar as próprias certezas, os próprios conhecimentos, as próprias regras morais. Isso não significa reduzir a importância do currículo ou dos saberes do educador. Para Dewey, o professor deve apresentar os conteúdos escolares na forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão respostas ou soluções prontas. Em lugar de começar com definições ou conceitos já elaborados, deve usar procedimentos que façam o aluno raciocinar e elaborar os próprios conceitos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado.
Além da educação é importante pra comunidade que haja comunicação, é por meio dela que vai haver o compartilhamento de interesses em comum das atividades associativas. Dewey considera a comunicação uma atividade indispensável para que a grande comunidade se forme. Também considera que as consequências e assuntos sejam levadas a público, as experiências tem de ser compartilhadas. A investigação por sua vez representa papel fundamental na comunidade visto que a formação da opinião publica depende dela. Só através da investigação podemos chegar as consequências satisfatórias para a comunidade.
Democracia- conceito
Para entender o conceito de democracia em Dewey é necessário fazer uma distinção da democracia como ideia e como um sistema de governo, a democracia enquanto sistema de governo, Dewey vai chamar de democracia política.
A democracia como uma ideia se trata de acreditar que a democracia seria um modo de vida, um conceito muito vasto pra se exemplificar através da figura do Estado. A realização da democracia transcende o Estado, ela encontra e afeta simultaneamente todos os modos de associação humana dentro da comunidade, a família, a escola, a religião, a indústria, além de outros.
A ideia de democracia consiste em um ideal de comunidade completa e perfeita. Segundo Dewey a ideia de democracia deixa de ser utópica quando se torna ponto de partida de uma comunidade real, com todos seus elementos constitutivos. A democracia precisa começar em casa, a sua casa é comunidade, é nela que se encontram os indivíduos, os grupos, as famílias, as escolas, as fábricas, as igrejas, enfim todas as formas de associação humana. É na comunidadeque os indivíduos e os grupos se comunicam e interagem uns com os outros, compartilhando atividades e consequências das mesmas. Deste modo a democracia deixa de ser vinculada unicamente a política, e passa pra um plano mais social.
Os indivíduos membros da comunidade devem participar da formação dos valores individuais e sociais que regulam a vida comum deles, a ideia de democracia engloba a constituição e consolidação da individualidade e coletividade uma por meio da outra, estabelece-se uma espécie de autogoverno. Quando o indivíduo passa do plano individual pro da comunidade, a democracia se transforma em participativa.
A ideia de democracia se expressa na participação do indivíduo em todos os momentos e lugares da vida em comunidade, por meio da participação direta e ativa na regulação da vida associativa e na busca do bem comum por meio de implementação de políticas públicas, que se traduz em interesses e necessidades da comunidade.
Para Dewey não existe governo que não seja representativo, um governo apenas é representativo quando o público está organizado na intenção de promover a prosperidade de todos, todos os indivíduos portanto possuem capacidade dual, uma enquanto oficial do governo e outra enquanto aquele que o elege. Segundo ele todas as pessoas são emancipadas e autônomas democraticamente. A exemplo na Suíça com a democracia direta, onde todos participam das decisões do governo.
Porém Dewey não abdica absolutamente das instituições representativas, a teoria dele funciona combinando características da forma direta de democracia com a forma representativa, é indispensável que elas funcionem de forma deliberativa.
A democracia política como um sistema de governo, com seus arranjos políticos e instituições governamentais, consiste apenas em um mecanismo para assegurar a operação para a ideia de democracia. A democracia como forma de governo pode a qualquer momento ser revista, modificada sem que isso afete a ideia de democracia, pois a democracia política é apenas um sistema de aplicação da democracia.
Dewey afirma que a fase politica da democracia ocorre quando escolhemos nossos representantes no governo, mas que eles não estariam lá para servir a comunidade nem tampouco assegurar nossos interesses. Portanto o Estado exerce o papel de efetivar a ideia de democracia, mas que pode haver outras formas de faze-lô.
Em resumo a democracia deweyana é um modo de viver que acredita na experiência simultaneamente como meio e como fim. Os processos de e interações servem para enriquecer a experiência. A comunicação é peça necessária, pois possibilita que a experiência seja ampliada, enriquecida e perpetuada. A democracia consiste em acreditar no potencial da comunicação da comunidade e nas infinitas potencialidades da experiência humana.

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