Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Núcleo da Célula e o Material Genético Prof. Waldemiro S. Romanha GENÉTICA BÁSICA Roteiro III O NÚCLEO DA CÉLULA FUNÇÃO: Controlar o metabolismo celular através da transcrição do DNA nos diferentes tipos de RNA, que serão traduzidos em proteínas, os efetores finais da informação genética. Nota: Para compreendermos a função do núcleo e, conseqüentemente, todo o metabolismo celular da célula, é necessário que antes conheçamos as bases macromoleculares da constituição do núcleo. A maior parte da informação genética da célula está acumulada no DNA do núcleo (ácido nucléico), existindo apenas uma pequena porção fora dele, nas mitocôndrias e cloroplastos. São moléculas informacionais que controlam os processos básicos do metabolismo celular, a síntese de macromoléculas, a diferenciação celular e a transmissão do patrimônio genético de uma célula para as suas descendentes. Ácidos nucléicos: São polímeros de unidades chamadas nucleotídeos que contém resíduos de uma molécula de ácido fosfórico, de uma pentose e uma base púrica ou pirimídica (figura). Bases Púricas: adenina (A) e guanina (G). Bases pirimídicas: timina (T), citosina (C) e uracilas (U). O NÚCLEO DA CÉLULA ÁCIDOS NUCLÉICOS Como definição os ácidos nucléicos são copolímeros de quatro nucleotídeos, unidos por ligações éster de fosfato. Os nucleotídeos, por sua vez são constituídos três partes: Bases nitrogenadas, purinas (adenosina, guanina) ou pirimídicas (citosina e timina), 5’ 3’5’ O DNA é o o responsável pelo armazenamento e transmissão da informação genética. É encontrado principalmente nos cromossomos e, em pequenas quantidades, nas mitocôndrias. Nos cromossomos das células eucariontes, o DNA está associado a proteínas básicas, principalmente histonas. A molécula de DNA consiste em duas cadeias de nucleotídeos dispostas em hélice em torno de um eixo. O passo dessas hélices é dirigido no sentido da esquerda para a direita. A direção das ligações 3’ e 5’ de uma cadeia é inversa em relação à da outra cadeia. Diz-se que essas cadeias são antiparalelas. Em função desse fato, em cada extremidade da molécula uma das cadeias polinucleotídicas termina em 3’ e a outra em 5’. 3’ DNA DNA As bases púricas e pirimídicas de cada cadeia polinucleotídica situam-se dentro da hélice dupla, em planos paralelos entre si e perpendiculares ao eixo da hélice, como se fossem degraus de uma escada. Em cada plano ou degrau da escada, a base de uma cadeia forma par com a base da cadeia complementar. O pareamento só tem lugar entre a timina e a adenina, ou entre guanina e a citosina, das cadeias complementares. As bases estão sempre pareadas na seqüência T-A ou G-C. As bases são as principais responsáveis pela estabilidade da hélice de DNA e situam-se no interior onde fazem interações hidrofóbicas. Os resíduos de desoxirribose (hidrofílicos) e de ácido fosfórico (ionizado negativamente e hidrofílico) localizam-se na periferia, em contato com a água intracelular. Os grupos fosfóricos permitem ao ácido desoxirribonucléico combinar-se com proteínas básicas, isto é, carregadas positivamente, ou com moléculas positivas. TIPOS DE ÁCIDOS NUCLÉICOS Cada molécula de ácido nucléico contém pelo menos uma cadeia de nucleotídeo (polinucleotídeo), formada por ligações entre os carbonos 3’ e 5’ da pentose. Distinguem-se dois tipos: O Desoxirribonucléico ou DNA e o Ribonucléico ou RNA. No DNA, a pentose encontrada é a desoxirribose, e as bases são adenina, guanina, citosina e timina. No RNA, a pentose é a ribose, e existe uridina em substituição à timina; as outras bases são comuns aos dois tipos de ácidos nucléicos. CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS TIPOS DE ÁCIDOS NUCLÉICOS Principalmente no citoplasma; menor quantidade no núcleo Principalmente no citoplasma; menor quantidade no núcleo Principalmente no citoplasma; menor quantidade no núcleo Núcleo das células eucariontes; nucleóide das procariontes; mitocôndrias e cloroplastos; alguns vírus LOCALIZAÇÃO FORMA Combina-se com o mensageiro, para formar os polirribossomos Através da seqüência de suas bases, determina a posição dos aminoácidos nas proteínas Transporta os aminoácidos unindo o seu anticódon ao códon do mRNA; determina a posição dos aminoácidos nas proteínas Comanda todo o funcionamento da célula; transmite a informação genética para as outras células FUNÇÕES Ácido fosfórico, ribose, adenina, guanina, citosina e uracila Ácido fosfórico, ribose, adenina, guanina, citosina e uracila Ácido fosfórico, ribose, adenina, guanina, citosina, uracila, timina, ácido pseudo-uridílico, metilcitosina,dimetil- guanina Ácido fosfórico, Desoxirribose, adenina, guanina, citosina e timina COMPONENTES rRNAmRNAtRNADNA O NÚCLEO DA CÉLULA MORFOLOGIA ASPÉCTOS ULTRA-ESTRUTURAIS Geralmente a forma do núcleo acompanha a forma da célula. O tamanho do núcleo pode variar tanto de acordo com o metabolismo como com o conteúdo em DNA da célula. Células com metabolismo intenso apresentam núcleos volumosos. Através de métodos bioquímicos, foi possível detectar, nesses núcleos, maior quantidade de proteínas relacionadas com a transcrição do DNA. Eletromicrografia de medula óssea onde se observam células apresentando núcleos com formas irregulares. EM 1, núcleo em forma de (S). Em 2, em forma de (U). Em 3, dois núcleos arredondados. Em 4, núcleo alongado. Em 5, núcleos com cromatina descondensada e, em 6, núcleos com cromatina condensada. 4 000 X. O Núcleo Interfásico é o nome dado ao núcleo da célula quando esta está em uma fase específica do seu desenvolvimento, ou do Ciclo Celular. Assim, o ciclo celular é o próprio ciclo de vida da célula e pode ser dividido em duas fases principais: 1) Mitose – ocorre a divisão da célula. 2) Intérfase – período entre duas divisões. De acordo com a fase distinguem-se o Núcleo Interfásico e o Núcleo Mitótico. Núcleo interfásico = Envoltório nuclear, lâmina nuclear, cromatina, nucleoplasma e nucléolo. NÚCLEO INTERFÁSICO O envoltório nuclear é constituído por duas membranas que delimitam a cisterna perinuclear. Em algumas regiões, as duas membranas se fundem formando os poros. O envoltório nuclear tem continuidade com o RE, e a membrana nuclear externa apresenta ribossomos ligados à sua face citoplasmática. A membrana interna apresenta, na sua face nucleoplasmática, um espessamento chamado de lâmina nuclear. Grumos de cromatina condensada (Cc) estão associados ao envoltório nuclear, enquanto porções de cromatina descondensada (Cd) estão dispersas no núcleo. No nucléolo vê-se a cromatina associada e porções fibrilares (F) e granulares (G). ENVOLTÓRIO NUCLEAR O envoltório nuclear separa o conteúdo do núcleo do citoplasma, sendo responsável pela manutenção do núcleo como um compartimento distinto. É constituído por duas unidades de membrana (5 a 6 nm de espessura cada), limitando uma cavidade, a cisterna perinuclear (10 a 50 nm de espessura). A membrana externa tem ribossomos ligados na sua face citoplasmática e apresenta continuidade com o RER. Essa continuidade ultra-estrutural é refletida pela composição química dessas duas estruturas. A cisterna perinuclear contém as mesmas proteínas presentes nas cisternas no retículo endoplasmático. Essa observação mostra que o envoltório nuclear é uma porção especializada do retículo rugoso. Cisternas do retículo Cisterna perinuclear Eletromicrografia de corte de célula mostrando a continuidade da membrana externa do envoltório nuclear com o retículo endoplasmático (seta). Em (N), o núcleo. 28500 X. (LJunqueira e Carneiro, 2000). N O RE é conectadoao núcleo da célula (Sagan, 1981). VIAGEM AO INTERIOR DE UMA CÉLULA VIVA LÂMINA NUCLEAR Associada à superfície interna do envoltório nuclear, encontra-se a lâmina nuclear, uma rede fibrosa com 10-20 nm de espessura que se interrompe nos poros nucleares. Na maioria das células dos mamíferos, a lâmina nuclear é constituída pelas proteínas laminas A, B e C. As laminas, em condição específicas de pH e concentração iônica, polimerizam- se e formam filamentos parecidos com os filamentos intermediários do citoesqueleto, sendo classificados como tal. Além de manter a forma e dar suporte estrutural ao envoltório nuclear, a lâmina nuclear também é responsável pela ligação das fibras cromatínicas (cromatina) ao envoltório. CROMATINA O termo cromatina (croma, cor) designa, com exceção dos nucléolos, toda a porção do núcleo que se cora e é visível ao microscópio ótico. Em células eucariontes, o DNA está complexado com proteínas específicas, constituindo a cromatina. No núcleo interfásico, a cromatina se apresenta compactada e/ou descompactada. No núcleo em divisão, a cromatina está altamente compactada, constituindo os cromossomos. Assim, a cromatina e os cromossomos representam dois aspectos morfológicos e fisiológicos da mesma estrutura. A disposição da cromatina dentro do núcleo e o seu grau de condensação variam de um tipo celular para outro, e são característicos de cada tipo celular. Além disso, a mesma célula pode apresentar a cromatina com vários graus de condensação, de acordo com o estágio funcional e com o estado de diferenciação em que se encontra. Eletromicrografia de corte de medula óssea. As quatro células que aparecem com seus núcleos são eritroblastos. A cromatina nesses núcleos mostra diferentes graus de condensação, e os eritroblastos mais maduros apresentam os núcleos mais condensados. 11 000 X. (Junqueira & Carneiro, 2000). De um modo geral, as células nervosas e os espermatócitos (células precursoras dos espermatozóides), em certa fase, apresentam cromatina pouco condensada. Os plasmócitos (células produtoras de anticorpos) já apresentam grumos densos de cromatina em seus núcleos. Os eritroblastos (eritro, vermelho, e blasto, germe), células que se transformam nos glóbulos vermelhos do sangue, sofrem uma condensação gradual da cromatina durante sua maturação (figura do slide anterior – 16), e esse processo culmina, nos mamíferos, com sua expulsão do núcleo. Eletromicrografia de célula do testículo. A cromatina descompactada está uniformemente dispersa no núcleo. As duas membranas que compõem o envoltório nuclear estão bem visíveis. O nucléolo mostra uma estrutura enovelada. 10 000 X. As proteínas que se associam ao DNA para formar a cromatina são classificadas em histonas e não-histonas. Assim, as histonas são os principais componentes protéicos da cromatina, uma vez que participam da arquitetura molecular das fibras cromatínicas. A quantidade em massa de histonas é, aproximadamente, igual à do DNA total do núcleo, numa razão de 1:1. Essas proteínas apresentam forte caráter básico, uma vez que são ricas em aminoácidos básicos, arginina e lisina. Elas se ligam ao DNA graças à interação de seus radicais amino com os radicais fosfato do DNA. Nem todos os radicais estão neutralizados pelas histonas, o que confere à cromatina um caráter ácido, isto é, uma grande capacidade para ser corada por corantes básicos, propriedade denominada basofilia. A CROMATINA É FORTEMENTE BASOFÍLICA HISTONAS Existem cinco tipos de histonas, classificadas de acordo com seu teor de lisina e/ou arginina (carga positiva): H1, H2A, H2B, H3 e H4. Nessas moléculas, geralmente distinguem-se três regiões: Uma região globular, devido ao enovelamento da cadeia polipeptídica, licalizada entre duas regiões filamentosas (fig.). Os aminoácidos básicos encontram-se principalmente no segmento filamentoso N terminal. Os aminoácidos das histonas podem ser acetilados ou fosforilados, processos que levam a uma modificação da carga eletrostática da histona, alterando sua interação com o DNA e influindo na conformação da cromatina (compactação). Foi observada, por exemplo, uma relação entre a fosforiLação das histonas e as diferentes fases da mitose. ESTRUTURA MOLECULAR DA CROMATINA Octâmero das histonas H2A, H2B, H3 e H4 DNA do centro do nucleossoma Histona H1 DNA de ligação 10 nm A unidade estrutural básica da cromatina foi denominada de nucleossomo. O nucleossomo é uma partícula de forma cilíndrica achatada constituída por aproximadamente 200 pares de bases (pb) de DNA associados a um octâmero de histonas e a uma molécula de histona H1. O octâmero é formado por duas moléculas de cada uma das histonas H2A, H2B, H3 e H4. A molécula de H1 se associa externamente ao DNA que envolve o octâmero No nucleossomo distingue-se duas regiões: 1) centro do nucleossomo, constituído pelo octâmero, em torno do qual se enrola um segmento de DNA com cerca de 146 pb. 2) DNA de ligação, segmento de DNA de 15 a 100 pb que conecta um centro de nuleossomo a outro, através da associação com o(a) H1. A cromatina pode apresentar dois níveis de compactação, formando uma fibra de 10nm de diâmetro, denominada de nucleofilamento, ou de 30nm, denominada solenóide. A fibra de 10 nm constitui o primeiro nível de compactação da cromatina e é formada pela associação entre os nucleossomos adjacentes. A organização dessa fibra depende da interação entre as histonas H1 de nucleossomos vizinhos. A histona H1 de um nucleossomo liga-se, através da suas extremidade amino- terminal, à extremidade carboxi-terminal da H1 do nucleossomo adjacente, em um arranjo “cabeça-cauda”. COMPACTAÇÃO DA CROMATINA A porção central do nucleossomo é constituída pelo octâmero de histonas, e a histona H1 está associada externamente ao centro do nucleossomo. Nucleofilamento COMPACTAÇÃO DA CROMATINA A fibra de 30 nm constitui o segundo nível de compactação da cromatina e é formada pelo enovelamento da fibra da 10 nm em uma estrutura helicoidal. Cada volta da espiral contém 6 nucleossomos organizados radialmente, ficando a histona H1 localizada no interior da fibra (figura). Durante a intérfase, a cromatina que contém os genes ativamente transcritos é formada, em sua maioria, por fibras de 30 nm, enquanto cerca de 10% estão na forma de fibras de 10 nm, permitindo o acesso às enzimas envolvidas na transcrição. Ainda no núcleo interfásico, as fibras de 30 nm podem se organizar em grandes alças que se prendem ao envoltório nuclear através da lâmina nuclear. Também cerca de 10% da cromatina interfásica está em um estado altamente condensado, chamado heterocromatina (mecanismo pouco conhecido). A fibra de 30 nm é o resultado do enovelamento helicoidal da fibra de 10 nm. A fibra de 30 nm é mantida pela associação das histonas H1, que se localizam no centro do solenóide Desenho esquemático mostrando os diversos graus de compactação da cromatina. De cima para baixo, aparece primeiro a dupla hélice do DNA (2nm); depois, a associação com histonas, formando as fibras de 10nm ou nucleofilamentos. Essas fibras se enovelam helicoidalente, constituindo as fibras de 30nm, que, depois, formam alças de 300nm. As alças se enovelam, formando estruturas bastante compactas, com 700 nm. Finalmente, no último desenho, o cromosomo metafásico, o grau máximo de condensação da cromatina. Os cromossomos são resultantes da condensação da cromatina que ocorre durante a divisão mitótica ou durante a meiose. O grau de condensação é máximo na metáfase, razão pela qual os estudos da estrutura cromossômica utilizam cromossomos metafásicos. CROMATINA E AEXPRESSÃO DA INFORMAÇÃO GENÉTICA (1) Isso se deve ao fato de que genoma das células eucariontes possui uma grande quantidade de seqüências de DNA que não são convertidas em produtos funcionais, ou seja, não são codificadoras. Muitas dessas seqüências não codificadoras estão localizadas entre os genes, separando um gene do vizinho. Outras, no entanto, estão presentes nos próprios genes. Assim, os genes apresentam segmentos codificadores chamados éxons, separados por segmentos não-codificadores, ou íntrons. O DNA codifica um RNA com éxons e íntrons. O RNA é sintetizado sobre o molde de DNA, contendo segmentos codificadores ou éxons e segmentos não-codificadores ou íntrons. Na cromatina se encontram os GENES, que são seqüências de nucleotídeos do DNA que se expressam, ou se convertem, em produtos funcionais, tais como moléculas de RNA. O primeiro passo na expressão de um gene é a sua transcrição em uma molécula de RNA (figura). Apenas uma das fitas do DNA é usada como molde; assim, a molécula de RNA transcrita é complementar à fita de DNA que lhe deu origem e idêntica à outra fita de DNA, sendo os nucleosídeos de timina substituídos por uracila. Entretanto, esse RNA ainda não é funcional. CROMATINA E A EXPRESSÃO DA INFORMAÇÃO GENÉTICA (2) Todo gene é transcrito em uma longa molécula de RNA, que, depois, é reduzida de tamanho e convertida na molécula de RNA funcional. O processamento da molécula de RNA ocorre no núcleo e envolve o splicing, que consiste na remoção (e digestão ?) dos íntrons e na posterior junção dos éxons. Assim, apenas os éxons são mantidos no RNA maduro (funcional). Processamento do pré-RNA (remoção dos íntrons e dos éxons) Molécula acabada de mRNA (somente éxons)
Compartilhar