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Governo e Administração Pública Material teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Reinaldo Zychan De Moraes Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli Sistema Jurídico Brasileiro Sistema Jurídico Brasileiro Caro Aluno, Nesta unidade, apresentaremos os passos iniciais de nossa disciplina, em especial, diversas características da Estrutura do Estado Brasileiro. Conhecer o Estado e verificar como a estrutura pública relaciona-se com os cidadãos é uma tarefa que apresenta grande interação com diversos fatos que ocorrem em nosso dia a dia. Procure relacionar os diversos elementos de nossa unidade com fatos de nosso cotidiano. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Uma questão que, infelizmente, é muito frequente, refere-se a desmandos e acusações da prática de atos ilícitos por agentes públicos de grande envergadura na hierarquia estatal. São senadores, deputados federais, governadores e prefeitos que foram eleitos com promessas de melhorar as condições de vida dos brasileiros e de desenvolver nosso país. Contudo, acabam por praticar todo tipo de desvios e ilegalidades. Esses agentes públicos se portam como verdadeiros donos de todo o poder estatal. Será que isso é verdade? Essa e outras situações serão discutidas em nossa primeira unidade. Contextualização Nosso país já teve as seguintes Constituições: • 1824; • 1891; • 1934; • 1937; • 1946; • 1967; • 1988. 1. Considerações Iniciais Nosso país apresenta de uma forma acentuada uma grande interligação de estruturas públicas e a sociedade. É necessário conhecer como o Poder Público se organiza para que possamos entender como se dá essa interação entre ele, a sociedade e os cidadãos. Para que possamos compreender o funcionamento da estrutura pública, presente em nosso dia a dia, é imprescindível conhecer alguns importantes detalhes sobre o ordenamento jurídico brasileiro. Nesse contexto, uma realidade que não podemos desprezar é que, infelizmente, uma boa parcela de nossa sociedade não conhece o funcionamento do Estado brasileiro, o que, em muitas situações, acarreta conclusões e decisões equivocadas. Vamos então ver esses importantes detalhes. 2. A Constituição Federal Nosso ordenamento jurídico tem como premissa maior o chamado Princípio da Supremacia da Constituição, ou seja, a Constituição Federal é a norma jurídica superior do sistema, razão pela qual todas as demais devem guardar um alinhamento com os seus preceitos. • Mas o que é a Constituição Federal? • Ela é uma norma superior do sistema que tem, dentre outros objetivos, estipular: a titularidade do poder; a estrutura do Estado; a competência dos entes federativos; a forma e o sistema de governo; a estrutura do ordenamento jurídico. Material Teórico Em razão dos grandes temas nela inseridos, todas as nossas Constituições foram estabelecidas após momentos de grandes rupturas sociais, em que se viu a necessidade de se reconfigurar a estrutura estatal e de se reequilibrar os instrumentos de poder. Algumas dessas Constituições foram elaboradas com participação popular (Constituições Promulgadas) e outras refletem um ato de força do detentor do poder (Constituições Outorgadas). Vamos falar sobre cada um dos itens acima destacados. 2.1. Titularidade Do Poder Estabelece o parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal que: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Rompendo com os preceitos absolutistas até então vigentes, a Revolução Francesa de 1.789, alicerçada em preceitos iluministas, afasta os conceitos de titularidade do poder por delegação divina, razão pela qual, desde então, se passou a entender que somente o povo é o titular do poder. O exercício de esse poder pelo povo, conforme menciona o art. 1º da Constituição Federal, pode se dar de duas formas: • Constituições Promulgadas são aquelas realizadas com participação popular. Normalmente, por meio de eleições, nas quais são escolhidos membros de uma Assembleia Nacional Constituinte. • Constituições Outorgadas são formadas sem a participação popular. Em geral, o grupo que está no poder elabora o seu texto e o coloca em execução, sem qualquer mecanismo de participação popular no debate e decisão sobre os grandes temas nela inseridos. É nesse sentido o disposto no artigo 3º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento editado após a Revolução Francesa que marca o início dessa nova era: Art. 3º. O princípio de toda Soberania reside essencialmente na Nação. Nenhuma instituição nem nenhum indivíduo pode exercer autoridade que não emane expressamente dela. Diretamente: é o que ocorre, por exemplo, quando os eleitores decidem importantes questões sociais quando da realização de plebiscitos e referendos. Indiretamente: por meio de representantes eleitos, ou seja, por vereadores, deputados, senadores etc. 2.2. Estrutura Do Estado Diversamente do que ocorreu durante o Império, todas as nossas Constituições Republicanas estabeleceram que o Estado Brasileiro é uma Federação, ou seja, nele há mais de um centro de poder. Na Constituição Federal de 1.988 o federalismo está estampado, em especial, no seu art. 1º, sendo nominados os quatro Entes Federativos: • União; • Estados; • Distrito Federal; e • Municípios. Não existe subordinação entre os Entes Federativos, sendo todos autônomos, sendo que essa autonomia se expressa em três campos principais: • Política; • Administrativa; • Financeira. Infelizmente, em nosso país os referendos e plebiscitos são pouco utilizados. O último referendo foi realizado em 23 de outubro de 2005, quando os eleitores foram chamados às urnas para decidir se o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei n.º 10.826/03), que estabelecia a proibição da venda de armas e munições, deveria entrar em vigor. O último plebiscito foi realizado em 7 de setembro de 1993, para a escolha da forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo). É errônea a ideia de que existe subordinação entre o Presidente da República, os Governadores de Estado ou do Distrito Federal e os Prefeitos. Cada um exerce seu cargo de forma independente, sem que suas decisões necessitem de homologação por outra autoridade política. Os representantes do povo exercem um mandato. Essa palavra, dentre outros significados, tem o sentido de delegação de poderes, uma procuração. Igualmente errônea é ideia que se fixou para alguns é que: A lei federal “vale” mais que uma lei estadual ou distrital. A lei estadual ou distrital “vale” mais que uma lei municipal. Na verdade, cada ente federativo atua em uma área específica e delimitada. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: ... IX - educação, cultura, ensino e desporto; 2.3. A Competência DosEntes Federativos Havendo mais de um centro de poder, é importante que se estabeleça um mecanismo de convivência entre eles. Esse mecanismo é o regime de competências, ou seja, a Constituição Federal dá a cada ente federativo um campo de atuação administrativa e legislativa, que deve ser respeitado mutuamente. Essa competência pode ser privativa (ou exclusiva), ou seja, somente determinado ente federativo atua naquela área administrativa ou legislativa, ou há uma concorrência de atuação (competência concorrente). Podemos mencionar como exemplos dessa situação: No primeiro exemplo, somente a União pode legislar sobre o tema, no caso, diretrizes e bases da educação nacional, sendo vedado que os demais Entes Federativos legislem sobre esse assunto. Já no segundo caso, fixa a Constituição a necessidade de coordenação de esforços legislativos da União (estabelecendo normas gerais sobre o assunto) e dos Estados e do Distrito Federal (estabelecendo normas específicas, de acordo com as suas particularidades). 2.4. A Forma E O Sistema De Governo Nosso país adotou a forma de governo chamada república, que se contrapõe à monarquia. Essa característica acaba por trazer uma série de características sobre as relações das pessoas com os poderes constituídos, podendo ser destacadas as seguintes: • a inexistência de privilégios de ordem pessoal; • o acesso ao poder e a cargos públicos deve estar aberta a todos, por mecanismos igualitários. Particularmente, deflui dessas características a necessidade de realização de concursos públicos para preenchimento de cargos públicos de provimento efetivo. Sobre o sistema de governo, temos a adoção do presidencialismo que se caracteriza por haver somente uma figura central do Poder Executivo Federal, ou seja, o Presidente da República. Outros países adotam o sistema parlamentar, que se caracteriza pela existência de uma repartição das atribuições da chefia do executivo em dois cargos: o Presidente da República e o Primeiro Ministro. Não podemos esquecer que há também alguns países que associam a forma de governo monárquica e o sistema de governo parlamentarista. Nesse caso, as funções na chefia do poder executivo são divididas entre o Monarca (Rei, Imperador etc.) e o Primeiro Ministro. 3. A Estrutura Do Ordenamento Jurídico Como foi acima mencionado, o sistema jurídico brasileiro foi idealizado com base no Princípio da Supremacia Constitucional, de forma que as normas constitucionais são os elementos mais “fortes” dessa estrutura. Chamamos de normas constitucionais: • A Constituição Federal; • As Emendas Constitucionais; • Os Tratados Internacionais de Direitos Humanos cujo Brasil é signatário (desde que haja o processo de incorporação interna definido no § 3º do art. 5º da Constituição Federal). De forma exemplificativa, podemos verificar que, além de estar prevista em nossa Constituição Federal e em nossas leis, a educação, ou melhor, o direito ao acesso à educação é um dos Direitos Humanos reconhecidos por diversos tratados internacionais em que nosso país é signatário, tal como a Convenção Americana de Direitos Humanos. Convenção Americana sobre Direitos Humanos Pacto de San José da Costa Rica Artigo 26. Desenvolvimento progressivo Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados. Seguindo esse mesmo exemplo, na Constituição Federal há diversos dispositivos que tratam da educação, em especial, nos artigos 205 a 214. Constituição Federal Capítulo III - da Educação, da Cultura e do Desporto Seção I - da Educação Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. [...] Abaixo das normas constitucionais temos as chamadas normas legais, as quais apresentam as seguintes características: • há leis federais, estaduais, distritais e municipais. Na elaboração delas, deve ser observado o regime de competência de cada um dos Entes Federativos; • toda lei deve ter a participação dos representantes eleitos pelo povo, o que lhe dá ímpar legitimidade para impor deveres e estabelecer obrigações. Nesse sentido, devemos destacar o disposto no inciso II do art. 5º da Constituição Federal, que possui a seguinte redação: Art. 5º - [...] III - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; A interpretação desse dispositivo é de extrema importância para a compreensão do funcionamento de nosso sistema jurídico, sendo que decorre desse preceito uma série de mecanismos de controle social e pessoal, os quais são imprescindíveis instrumentos das relações interpessoais e entre o cidadão e o Estado. Como exemplos desses mecanismos podem ser mencionados os seguintes: • abstraindo-se os conceitos e regulações morais a que todos que vivem em sociedade estão sujeitos, ou seja, em um enfoque puramente jurídico, todas as condutas são permitidas, exceto as vedadas em lei; • somente a lei pode obrigar alguém a realizar condutas que ele, voluntariamente, não deseja realizar. Como exemplos dessas duas situações, temos: As pessoas não podem transitar com seus veículos utilizando a chamada “mão inglesa”, ou seja, pela “mão” esquerda de direção, pois esse comportamento é vedado pela lei, no caso o Código de Trânsito Brasileiro. Por outro lado, não há qualquer norma que impeça as pessoas de dirigirem seus veículos com chapéus, razão pela qual esse comportamento pode ser realizado. Se alguém estabelecer que a partir de agora “não mais irá pagar impostos”, o Poder Público, por meio de uma ação judicial, irá penhorar seus bens, se necessário com o uso da força, que serão vendidos em um “leilão”. O produto dessa venda será utilizado para pagar o tributo devido, sendo que eventuais sobras ser-lhe-ão restituídas após o pagamento de custas e honorários. É uma forma de “pagamento forçado” criado por lei e que independe da vontade da pessoa atingida. Em um terceiro nível normativo (abaixo das normas constitucionais e legais), encontramos as normas infralegais, compostas pelos decretos e pelos atos administrativos normativos. Os decretos são atos expedidos pelo Chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governador de Estado ou do Distrito Federal e Prefeito), os quais têm por objetivo detalhar dispositivos previstos de forma sintética nas leis. Muitos desses decretos veiculam os chamados regulamentos, os quais, em geral realizam um maior e mais organizado desdobramento das regras e princípios veiculados na lei que lhe serve de base. Por fim, os atos administrativos normativos são as instruções, portarias etc., os quais têm a função de orientar os integrantes da Administração Pública sobre os procedimentos a serem adotados em suas atividades. Eventualmente, eles podem trazer reflexos para particulares que são atingidos por atos materiais realizados pelo Poder Público, tais como nas fiscalizações e inspeções. É importante destacar que esses três níveis normativos se apresentam em uma relação de subordinação, formale material. Mas por qual razão, a lei tem essa força de se contrapor à vontade das pessoas, limitando sua liberdade de agir e obrigando-as a realizar comportamentos por elas não desejados? Essa resposta nos leva à constatação de que a lei é um mecanismo de exercício de poder pelo Estado, necessário para a convivência social, pois: • Na vida em sociedade os conflitos de interesse são inevitáveis, razão pela qual, desde os primórdios as leis (ou instrumentos normativos semelhantes) foram criadas para garantir um mínimo de paz e estabilidade nas relações. • Por ser criada com a participação dos representantes do povo (senadores, deputados e vereadores), há uma presunção de que ela representa a vontade da maioria, o que lhe garante a legitimidade de poder impor ou restringir condutas. A subordinação formal significa que um ato normativo inferior não pode ser confeccionado com desrespeito às formalidades e competências estabelecidas nos atos superiores. Assim, por exemplo, não pode uma lei ser criada sem obedecer aos preceitos constitucionais que fixam a competência para legislar sobre o assunto. É o que aconteceria, por exemplo, se um Município editasse uma lei para tratar de assunto de competência da União. Já a subordinação material significa que um ato normativo inferior não pode apresentar preceitos que sejam contrários ao estabelecido nos atos superiores. Por exemplo, a Constituição Federal veda a aplicação de penas cruéis, dessa forma, não pode uma lei estipular pena de amputação de mãos para aqueles que forem surpreendidos praticando furtos e roubos. Podemos representar essa hierarquização de nosso sistema normativo da seguinte forma: NORMAS CONSTITUCIONAIS LEIS FEDERAIS LEIS ESTADUAIS E DISTRITAIS LEIS MUNICIPAIS NORMAS INFRA LEGAIS NORMAS INFRA LEGAIS NORMAS INFRA LEGAIS Em nossa primeira aula fizemos diversas referências à Constituição Federal e verificamos sua grande importância para entendermos importantes detalhes da relação da sociedade com o poder público. Conhecer a Constituição Federal é um ato de cidadania. Ela está disponível no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm Material Complementar ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. BULOS, Uadi Lammego. Curso de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003. LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. São Paulo: Manole, 2007. LENZA, Pedro. Direito constitucional descomplicado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2010. TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. Referências _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Anotações 2.1. Titularidade Do Poder 2.2. Estrutura Do Estado 2.3. A Competência Dos Entes Federativos 2.4. A Forma E O Sistema De Governo
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