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Trabalho sobre a obra: O Contrato Social e Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens de Jean-Jacques Rousseau

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Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante filósofo, escritor e teórico político, sendo considerado um dos principais filósofos do Iluminismo. Escreveu desde estudos políticos até romances. Dentre suas obras mais importantes encontram-se O Contrato Social e Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens. Exerceu grande influência não só no Iluminismo como também naquilo que ocorreu motivado a partir desse movimento: a Revolução Francesa de 1789.
Defende-se o posicionamento de que as ideias de Rousseau também influenciaram, no século XIX, o chamado Romantismo, visto que estão ligadas a liberdade e a soberania do povo. Foi a partir dos escritos de Jean-Jacques que surgiu a noção de contrato social, através de sua obra datada do ano de 1762, intitulada O Contrato Social. Nessa obra o autor defende que “O homem nasce bom, a sociedade o corrompe” (ROUSSEAU, 1762), apresentando uma crítica à sociedade francesa de sua época.
Rousseau apresenta em seus escritos um ideal de sociedade: um lugar no qual as pessoas podem pensar no bem comum, pensar umas nas outras, deixando de lado o pensamento individualista. Nessa sociedade os homens seriam iguais, tudo seria justo e o bem comum prevaleceria. Para isso acontecer, seria necessário repensar a forma como vivemos e as regras sociais, para, quem sabe então, conseguir compreender que o indivíduo deve ficar em segundo plano em relação a coletividade e a vontade geral. O papel da educação é fundamental nesse processo, pois somente através dela seriam formados cidadãos mais conscientes da necessidade do bem comum, da justiça social e da igualdade.
A obra de Rousseau a ser analisada nesse trabalho, intitulada Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens, é dividida em duas partes, nas quais a primeira apresenta uma análise do estado de natureza e civilizado do homem, e a segunda trata das origens da desigualdade.
Jean-Jacques Rousseau parte do princípio de que todo ser humano é essencialmente bom. Segundo ele, o ser humano não é mau, mas sim, em virtude da civilização, adquiriu uma personalidade maligna. O que acontece com o ser humano civilizado é o mesmo que acontece com os animais, que quando se encontram diante de um desafio, acabam manifestando uma personalidade agressiva, a qual não representa sua natureza verdadeira, que na verdade é, muitas vezes, ter uma personalidade pacífica.
Esse é o caso, por exemplo, da corsa e do leão. Uma corsa é um animal tranquilo, pacífico, herbívoro, mas quando um leão vai atacá-la, muitas vezes a corsa, unida com outras, se defende através de coices; mas essa não é sua natureza verdadeira. O ser humano, assim como a corsa, é um ser de essência boa, que em situações calamitosas, de grande prejuízo pessoal, ódio, manifestam um lado um tanto quanto maligno. Dessa forma, Rousseau acredita que o homem deve retornar ao seu estado de natureza, desvinculando-se da maldade causada pela civilização.
Ainda na primeira parte ocorre uma distinção daquelas que seriam as duas desigualdades existentes: a desigualdade natural e a desigualdade moral. O principal objetivo dos estudos de Rousseau é a desigualdade moral (ou política). O autor analisa o homem natural e questiona o posicionamento de Hobbes ao afirmar que o homem natural é um ser solitário, possuidor de desejos simples e imediatos, dotado de um instinto de autopreservação.
Perante tais características, o autor afirma que o ser humano é concebido de maneira semelhante aos animais, porém diferindo em alguns pontos. Segundo ele o homem, além de possuir uma capacidade de raciocínio mais elevada, também é dotado da capacidade de aperfeiçoamento (também chamada de perfectibilidade). Ao finalizar a primeira parte, acrescenta que a origem das desigualdades é um fator externo, ou seja, não foi algo causado pelo próprio homem.
Na segunda parte da obra, Rousseau afirma que a maldade humana se desenvolve em virtude da civilização. No início dos tempos, os humanos viviam em bandos, eram seres primitivos, ninguém prejudicava ninguém, viviam em paz e ordem, apenas buscavam alimento para si, para suas necessidades momentâneas, ninguém se preocupava em acumular comida; inclusive, não existia conceito de família, nem propriedade privada.
O autor trata da passagem do estado de natureza para o estado social ao afirmar que “o primeiro que, cercando um terreno, lembrou-se de dizer: “Isto é meu” e encontrou pessoas bastante simples para acreditá-lo, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil” (ROUSSEAU, 1755). O princípio básico da desigualdade entre os homens, para Rousseau, tem-se no mesmo momento em que um homem separa para si um conjunto de terra e diz para todos os outros que aquilo lhe pertence, criando a propriedade privada.
Antes disso, todos os indivíduos poderiam plantar, caçar, colher e morar onde bem entendessem, pois tudo era de todos. Porém, com a propriedade privada automaticamente surge a ideia de que uns merecem mais do que os outros, acarretando o surgimento de grupos ricos e grupos pobres, que não possuem as mesmas condições que aqueles.
A transformação de estado natural para estado social associa-se a adaptação, visto que, devido a necessidades, o homem natural foi forçado a buscar novos conhecimentos, aprendendo assim a associar-se a outros homens para caçar e até mesmo para se defender. Com tal convivência começaram a surgir as primeiras comunidades.
Segundou Rousseau, esse deveria ter sido o estágio máximo atingido pelo homem, pois apenas viver em sociedade para suprir suas necessidades já seria o suficiente para lhe garantir uma vida de completa satisfação. Porém, a capacidade de aperfeiçoar-se o impediu de estagnar nesse estado. Quando começaram a se reunir em sociedades, passaram a observar uns aos outros, surgindo assim a comparação e a competição. Portanto, a desigualdade também foi fruto do julgamento de terceiros, pois, segundo o que afirma o autor:
Cada um começa a olhar os outros e a querer ser olhado por sua vez, e a estima pública tem um preço. Aquele que canta ou dança melhor, o mais belo, o mais forte, o mais destro ou o mais eloqüente, torna-se o mais considerado. E foi esse o primeiro passo para a desigualdade e para o vício, ao mesmo tempo: dessas primeiras preferências nasceram, de um lado, a vaidade e o desprezo e, de outro, a vergonha e a inveja; e a fermentação causada por esses novos fermentos produziu, enfim, compostos funestos à felicidade e à inocência (ROUSSEAU, 1755).
Além disso, com a agricultura e a metalurgia (pontos fundamentais para o estabelecimento do estado civil), surge a divisão do trabalho e o aumento da noção de propriedade privada. Com a propriedade surgiu a necessidade de leis que garantissem a cada um o que é seu e para que cada um pudesse ter algo. A desigualdade, nesse caso, desenvolve-se por meio do trabalho, no momento em que duas pessoas que trabalham da mesma maneira recebem valores distintos.
O autor afirma que a desigualdade está fundada também na lei, pois ela concedeu maiores poderes a uns (ricos) do que a outros (pobres):
“... resulta que a desigualdade, sendo quase nula no estado de natureza, tira sua força e seu crescimento do desenvolvimento de nossas faculdades e dos progressos do espírito humano, tornando-se enfim estável e legítima pelo estabelecimento da propriedade e das leis” (ROUSSEAU, 1755).
Portanto, a desigualdade está fundamentada em todos aqueles acontecimentos que ocasionaram a passagem do estado de natureza para o estado social, sendo eles: O surgimento da propriedade privada, que separa os homens em ricos e pobres; a lei, que concede maiores poderes a uns do que a outros e os estados despóticos, que faz com que uns sejam escravos e outros sejam senhores.
Através da concepção de homem natural, criada para defender sua teoria, Rousseau torna mais fácil a percepção de que aquelas características que imaginamos serem próprias do ser humano, como a inveja e o ódio, na verdade não são nada além de uma construção social. Sendo assim, o autorafirma que é possível – e ideal – o retorno do homem ao seu estado de natureza.
Dado o exposto, conclui-se que apesar de ser uma obra do século XVIII, muitas das ideias apresentadas em Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens são nítidas na contemporaneidade. A questão da concentração de riquezas, da distinção entre ricos e pobres permanece até hoje em nossa sociedade. Enquanto alguns esbanjam milhões com futilidades, frequentam as melhores escolas, possuem as melhores oportunidades de emprego, outros não têm se quer o que comer.
Além disso, outro tema atemporal da obra de Rousseau é a comparação e a competição, visto que a vida humana está cada vez mais exposta ao julgamento de terceiros, tornando-se a opinião alheia cada dia mais importante na construção do indivíduo. A série Black Mirror, escrita por Charles Brooker e produzida pela Netflix retrata bem esse ponto no primeiro episódio da terceira temporada, intitulado Queda Livre na versão em português.
Nesse episódio, a personagem principal vive em um mundo no qual é possível avaliar qualquer pessoa com notas de 0 a 5, seja por um encontro na rua ou por uma simples postagem em redes sociais. A questão relevante é que toda a vida do indivíduo depende dessas avaliações, desde o lugar onde ele mora até seu emprego. Fica evidente que o objetivo de tal episódio, em consonância com a teorização de Rousseau, é realizar críticas à sociedade em que estamos vivendo, baseada em superficialidades e julgamentos.
REFERÊNCIAS
ROUSSEAU, Jean-Jacques. A Origem da Desigualdade Entre os Homens. São Paulo: Escala, 2007.

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