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CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO COM METACAULINITA GUILHERME CHAGAS CORDEIRO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ AGOSTO – 2001 CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO COM METACAULINITA GUILHERME CHAGAS CORDEIRO “Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Ciências de Engenharia.” Orientador: Jean Marie Désir CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ AGOSTO – 2001 Ficha catalográfica feita na Biblioteca do CCT/UENF Cordeiro, Guilherme Chagas. Concreto de alto desempenho com metacaulinita. / Guilherme Chagas Cordeiro. Campos dos Goytacazes, RJ, 2001. xiii, 123 f., enc.: 30 cm. Dissertação (mestrado) M. Sc. em Ciências de Engenharia. Universidade Estadual do Norte Fluminense. Centro de Ciência e Tecnologia. Laboratório de Engenharia Civil, 2001. Bibliografia: f. 108-123. 1. Concreto de alto desempenho. 2. Metacaulinita. 3. Aditivo mineral I. Título. CDD – 624.1834 CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO COM METACAULINITA GUILHERME CHAGAS CORDEIRO “Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Ciências de Engenharia”. Aprovada em 10 de Agosto de 2001. Comissão Examinadora: _________________________________________________ Prof. Romildo Tolêdo Dias Filho (D.Sc.) – UFRJ/COPPE _________________________________________________ Prof. Fernando Saboya Albuquerque Júnior (D.Sc.) – UENF _________________________________________________ Prof. Jonas Alexandre (D.Sc.) – UENF _________________________________________________ Prof. Jean Marie Désir (D.Sc.) – UENF Orientador Esta dissertação é dedicada a Antonio José de Almeida Cordeiro AGRADECIMENTOS Tenho muito a agradecer a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. À Fenorte pelo indispensável apoio financeiro concedido. Ao professor, orientador e amigo Jean Marie pela confiança e apoio sempre presentes e dedicação durante a elaboração desta dissertação. Aos amigos de turma Fábio, Franco, Gustavo, Marcos, Niander e Pedro Paulo. À querida amiga Ane, que sempre esteve presente e disposta a ajudar. Aos professores, técnicos, funcionários e alunos do Laboratório de Engenharia Civil da UENF que de alguma forma contribuíram para a concretização desta pesquisa. Aos professores Thibeut (CCTA/UENF) e Helena (IGEO/UFRJ), pelos ótimos cursos de estatística experimental e mineralogia das argilas, respectivamente. À funcionária da biblioteca da ABCP/SP, Rosemary Pinto, pelo apoio e tratamento sempre gentil. Ao técnico Flávio Munhoz (ABCP/SP) pela importante ajuda nos ensaios de análise em granulômetro a laser e de finura. À professora Sílvia Regina Vieira, da ABCP/SP, pela demonstração de interesse pelo trabalho e presteza com que esclareceu dúvidas, que muito contribuíram para a elaboração deste trabalho. À querida Roberta pela disponibilidade em ajudar, pelo carinho, apoio e incentivo irrestritos; por sua leitura crítica e discussões que foram muito importantes para a conclusão desta dissertação. Aos amigos e familiares, em especial à minha mãe, minha avó, Sheila, Everaldo e tio Paulo Roberto, pelo apoio e carinho durante toda a minha vida acadêmica i SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS iv LISTA DE TABELAS viii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS x RESUMO xii ABSTRACT xiii 1. INTRODUÇÃO 1 2. CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO 4 2.1. APLICAÇÃO 6 2.2. MATERIAIS CONSTITUINTES 7 2.2.1. Cimento Portland 7 2.2.2. Agregado Miúdo 13 2.2.3. Agregado Graúdo 15 2.2.4. Aditivos Químicos 19 2.2.4.1. Aditivos Superplastificantes 20 2.2.5. Água 25 2.3. DOSAGEM DE CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO 25 2.4. PROCESSANDO O CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO 28 2.4.1. Mistura 28 2.4.2. Transporte 28 ii 2.4.3. Lançamento 29 2.4.4. Adensamento 29 2.4.5. Cura 30 2.4.6. Controle de Qualidade 31 3. ADITIVOS MINERAIS 34 3.1. ARGILA CALCINADA 39 3.1.1. Metacaulinita 42 3.2. SÍLICA ATIVA 47 4. PROGRAMA EXPERIMENTAL 51 4.1. DEFINIÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA 52 4.2. PRODUÇÃO DA METACAULINITA 54 4.3. CARACTERIZAÇÃO DA METACAULINITA 59 4.4. CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS EMPREGADOS 61 4.4.1. Cimento Portland 62 4.4.2. Agregados 63 4.4.3. Sílica Ativa 66 4.4.4. Aditivo Superplastificante 67 4.4.5. Água 68 4.5. ENSAIO DE COMPATIBILIDADE ENTRE CIMENTO E SUPERPLASTIFICANTE 68 4.6. ENSAIO DE ÍNDICE DE ATIVIDADE POZOLÂNICA 70 4.7. ENSAIOS EM ARGAMASSA 73 4.8. ENSAIOS EM CONCRETO 75 4.8.1. Dosagem de concreto de alto desempenho 75 iii 4.8.2. Processamento do concreto 77 5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 80 5.1 COMPATIBILIDADE ENTRE O CIMENTO E O SUPERPLASTIFICANTE 80 5.2. ÍNDICE DE ATIVIDADE POZOLÂNICA 83 5.3. ARGAMASSAS 87 5.4. CONCRETOS DE ALTO DESEMPENHO 89 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 94 6.1. CONCLUSÕES 94 6.2. SUGESTÕES DE FUTURAS PESQUISAS 95 ANEXO A – Aditivos Minerais 97 ANEXO B – Dosagem do Concreto 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 108 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 Localização do Município de Campos dos Goytacazes. 2 Figura 2.1 Evolução da hidratação dos compostos do cimento Portland, em estado puro (Neville, 1997). 10 Figura 2.2 Curvas de resistência à compressão de pastas puras obtidas com os principais compostos do cimento Portland (Zampieri, 1989). 10 Figura 2.3 Evolução média da resistência à compressão dos distintos tipos de cimento Portland. 12 Figura 2.4 Influência da lavagem dos agregados na resistência à compressão do concreto (Almeida, 1994). 18 Figura 2.5 Eficiência da dosagem ótima de superplastificante variando a relação água/cimento (Chan et al., 1996). 23 Figura 2.6 Efeito do momento de colocação do aditivo superplastificante a base de naftaleno no abatimento do concreto (Collepardi apud Dal Molin, 1995). 24 Figura 2.7 Exemplos de resultados do ensaio de miniabatimento (Aïtcin, 1998). 25 Figura 2.8 Fatores básicos para dosagem de concreto (Neville, 1997). 26 Figura 3.1 Efeito do teor de pozolana na taxa de calor de hidratação (Massazza e Costa, 1979). 37 Figura 3.2 Controle da expansão álcali-agregado pelo uso de pozolana no concreto (Mehta, 1981). 38 Figura 3.3 Resistência à compressão aos 28 dias de argamassas contendo diferentes argilas calcinadas como adições ativas (He et al., 1995 a). Os valores indicados sobre as barras correspondem às temperaturas ótimas de queima, em graus centígrados, para cada argilomineral. 41 v Figura 3.4 Resistência à compressão de argamassas contendo metacaulim e sílica ativa (Curcio et al., 1998). 44 Figura 3.5 Evolução do hidróxido de cálcio com o tempo de hidratação (Frías e Cabrera, 2000). 45 Figura 3.6 Evolução da expansão de prismas de concreto contendo metacaulim (Ramlochan, 2000). 46 Figura 3.7 Resistência à compressão de concretos com metacaulinita (Wild et al., 1996 a). 47 Figura 3.8 Representação esquemática de partículas de cimento Portland numa pasta sem aditivos (a), com aditivo superplastificante (b) e com aditivo superplastificante e sílica ativa (c) – Amaral (1988); Aïtcin (1998). 48 Figura 3.9 Redução da porosidade do concreto com e sem substituição de 10% de cimento Portland por sílica ativa, com o tempo (Hassan et al., 2000). 49 Figura 3.10 Taxa de exsudação de concretos com e sem sílica ativa (Bilodeau apud Dal Molin, 1995). 50 Figura 4.1 Jazidas argilosas das amostras 1 (a) e 2 (b). 52 Figura 4.2 Difratograma de raios-X da amostra 1. 53 Figura 4.3 Difratograma de raios-X da amostra 2. 53 Figura 4.4 Curvas granulométricas das amostras de solos argilosos. 54 Figura 4.5 Fluxograma de produção da metacaulinita (adaptado de Andriolo, 1999). 55 Figura 4.6 Moinho de bolas utilizado no processo de moagem das amostras. 55 Figura 4.7 Forno tipo Mufla utilizado para a queima das amostras. 56 Figura 4.8 Análise térmica e diferencial das argilas cauliníticas. 57 Figura 4.9 Análise térmica diferencial da metacaulinita queimada à 650oC. 57 Figura 4.10 Difratogramas de raios-X da amostra 2 nas temperaturas de queima de 110oC, 450oC e 550oC. 58 Figura 4.11 Distribuição granulométrica da metacaulinita. 60 vi Figura 4.12 Duas fotografias (a e b) da metacaulinita. 60 Figura 4.13 Representação esquemática dos locais de coleta dos materiais naturais. 62 Figura 4.14 Coleta de amostras de granito para caracterização física e mineralógica; aspecto da jazida. 64 Figura 4.15 Corpo-de-prova NX de granito antes (a) e após ruptura (b) por compressão simples. 65 Figura 4.16 Difratograma de raios-X da sílica ativa. 67 Figura 4.17 Materiais empregados no ensaio de miniabatimento (a); Espalhamento da pasta após o ensaio (b). 69 Figura 4.18 Medida da consistência de argamassa conforme NBR 7215 (1996). Amostra após socamento (a) e no fim do ensaio (b). 72 Figura 4.19 Moldagem de corpo-de-prova de argamassa (a), (b) e (c). 74 Figura 4.20 Corpos-de-prova de argamassa contendo 10% de metacaulinita. 75 Figura 4.21 Ensaio de resistência à compressão. Capeamento de corpo- de-prova (a) e corpo-de-prova na prensa de ensaio (b). 78 Figura 4.22 Aspecto dos corpos-de-prova após o ensaio de resistência à compressão. Amostra com 15% de metacaulinita rompida aos 91 dias (a); amostra com 10% de sílica ativa rompida aos 28 dias (b). 79 Figura 5.1 Resultados dos ensaios de compatibilidade. 81 Figura 5.2 Decantação do cimento Portland em água (provetas à direita) e cimento Portland em água com superplastificante (provetas à esquerda) após: 30 segundos da mistura (a); após 1 minuto (b); após 5 minutos (c); e após 15 minutos (d). 82 Figura 5.3 Decantação do cimento Portland em água (proveta à direita) e cimento Portland em água com superplastificante (proveta à esquerda) após 24 horas (a); detalhe do volume das partículas decantadas (b). 83 Figura 5.4 Índices de atividade pozolânica com cimento Portland dos aditivos minerais produzidos a partir das amostras 1 e 2. 84 Figura 5.5 Índices de atividade pozolânica com cimento Portland da metacaulinita (material que passa na peneira de malha 250 mm). 85 vii Figura 5.6 Índices de atividade pozolânica com cimento Portland da metacaulinita (material que passa na peneira de malha 75 mm). 86 Figura 5.7 Resistência à compressão de argamassas contendo metacaulinita. 88 Figura 5.8 Resistência à compressão de concretos de alto desempenho. 90 Figura 5.9 Relação entre o teor de metacaulinita e a resistência média à compressão para diferentes idades. 91 Figura 5.10 Corpo-de-prova contendo 10% de metacaulinita após ensaio de resistência à compressão, aos 28 dias (a); Detalhe da superfície de ruptura atravessando totalmente os agregados (b). 92 Figura 5.11 Curvas tensão-deformação para o concreto com metacaulinita (15%) aos 120 dias. 93 Figura 5.12 Curvas tensão-deformação para o concreto com sílica ativa (10%) aos 120 dias. 93 Figura A.1 Resistência à compressão de argamassas com cinzas volantes com vários diâmetros médios de partículas (Massazza, 1993). 99 Figura A.2 Evolução da resistência à compressão do concreto com vários teores de escória de alo forno em massa do total de material cimentício (Hogan e Meusel, 1981). 101 Figura A.3 Desenvolvimento da resistência à compressão de concretos com diferentes teores de cinza de casca de arroz em substituição ao cimento (Zhang e Malhotra, 1996). 102 Figura B.1 Porcentagem de vazios para as misturas de areia e brita, conforme NBR 7810 (1983). 105 viii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Compostos principais do cimento Portland (Neville, 1997). 9 Tabela 2.2 Classificação dos cimentos Portland comercializados no Brasil, segundo a ABNT. 11 Tabela 2.3 Limites granulométricos do agregado miúdo (NBR 7211, 1983). 13 Tabela 2.4 Limites granulométricos do agregado graúdo (NBR 7211, 1983). 15 Tabela 2.5 Classificação dos aditivos químicos segundo a NBR 11768 (EB-1763/1992). 19 Tabela 3.1 Classificação dos aditivos minerais conforme a NBR 12653 (1992). 35 Tabela 3.2 Dados gerais de barragens construídas no Brasil (Saad et al., 1983 b). 42 Tabela 4.1 Distribuição granulométrica da metacaulinita queimada a 650oC e peneirada na malha 75 mm. 60 Tabela 4.2 Dimensões características da metacaulinita. 60 Tabela 4.3 Análise química da matéria-prima e da metacaulinita. 61 Tabela 4.4 Características dos cimentos Portland CP II E 32 utilizados. 63 Tabela 4.5 Composição mineralógica do granito. 64 Tabela 4.6 Características físicas e mecânicas do agregado graúdo. 65 Tabela 4.7 Características físicas e granulométricas do agregado miúdo. 66 Tabela 4.8 Características da sílica ativa. 67 ix Tabela 4.9 Características do aditivo superplastificante. 68 Tabela 4.10 Dosagem de material para as pastas dos ensaios de miniabatimento. 70 Tabela 4.11 Dosagem de material para argamassas. 72 Tabela 4.12 Dosagem de material para argamassas. 73 Tabela 4.13 Composição dos concretos. 77 Tabela 4.14 Ordem de colocação dos materiais na betoneira. 77 Tabela 5.1 Resultados dos ensaios de compatibilidade cimento- superplastificante. 80 Tabela 5.2 Valores médios de resistência à compressão e índice de atividade pozolânica com cimento Portland. 84 Tabela 5.3 Valores médios de resistência à compressão e índice de atividade pozolânica com cimento Portland. 85 Tabela 5.4 Resistência à compressão das argamassas com relação água/aglomerante de 0,52. 87 Tabela 5.5 Resistência à compressão dos concretos. 89 Tabela B.1 Materiais constituintes do concreto de teste. 106 Tabela B.2 Proporcionamento dos materiais do concreto de referência. 107 Tabela B.3 Proporcionamento dos materiais dos concretos com aditivos 107 x LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS A Coeficiente, usado na dosagem, que expressa a qualidade da brita a/c Relação água/cimento, em massa ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland ABNT Associação Brasileira e Normas Técnicas ACI American Concrete Institute ASTM American Society for Testing and Materials BT Boletim técnico CAD Concreto de alto desempenho CAR Concreto de alta resistência CCA Cinza de casca de arroz CH Hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) CP Cimento Portland C-S-H Silicato de cálcio hidratado C3S Silicato tricálcico C2S Silicato dicálcico C3A Aluminato tricálcico C4AF Ferroaluminato tetracálcico Dmax Diâmetro máximo fcm3 Resistência média à compressão do concreto aos 3 dias de idade fcm7 Resistência média à compressão do concreto aos 7 dias de idade xi fcm28 Resistência média à compressão do concreto aos 28 dias de idade fcm91 Resistência média à compressão do concreto aos 91 dias de idade fccm28 Resistência média à compressão do cimento aos 28 dias de idade fcd28 Resistência desejada do concreto à compressão especificada aos 28 dias de idade fck Resistência característica do concreto à compressão especificada no projeto estrutural IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. ISRM International Society for Rock Mechanics JCPDS Joint Committe on Powder Diffraction Standards ma Massa específica da areia mb Massa específica da brita mm Massa específica da mistura de agregados mum Massa unitária compactada da mistura de agregados MT Manual técnico MTC Metacaulinita NBR Norma Brasileira Registrada NM Norma Mercosul PV Percentual de vazios numa mistura de agregados PA Percentual de areia na mistura de agregados PB Percentual de brita na mistura de agregados R2 Coeficiente de determinação da regressão linear SA Sílica ativa SP Aditivo superplastificante STG Sistema de Testes Geomecânicos Tmtc Teor de metacaulinita xii CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO COM METACAULINITA Guilherme Chagas Cordeiro RESUMO A substituição parcial de cimento Portland por materiais pozolânicos permite obter concretos e argamassas com propriedades diferenciadas, superiores em alguns aspectos aos produtos sem adição. Vários são os materiais utilizados para este fim, dentre os quais destacam-se a sílica ativa, a cinza volante e as argilas calcinadas. Atualmente no Brasil a sílica ativa é muito utilizada. Infelizmente, nem sempre este produto é acessível, quer seja pelo preço, quer seja pela disponibilidade. Neste trabalho procurou-se caracterizar uma pozolana produzida a partir da ativação térmica de uma argila caulinítica extraída da planície aluvial do Rio Paraíba do Sul, no Município de Campos dos Goytacazes/RJ. Após processos de moagem, queima e peneiramento, a argila desenvolve propriedades pozolânicas, associadas à formação da metacaulinita (material de elevada desordem estrutural). Um programa experimental foi implementado para a comparação entre produtos com e sem adição mineral, constituído de duas etapas: caracterização e produção da metacaulinita; e confecção e ensaios em corpos-de-prova de concretos e argamassas. A fim de validar o potencial da argila como matéria-prima para a produção de metacaulinita foram investigadas as seguintes propriedades: temperatura ótima de queima; índice de atividade pozolânica; compatibilidade cimento-superplastificante; e resistência à compressão de concretos e argamassas. Os resultados estão condizentes com a literatura, revelando incrementos de resistência em concretos e argamassas com metacaulinita. Palavras-chave: concreto de alto desempenho, metacaulinita, aditivo mineral. xiii HIGH-PERFORMANCE CONCRETE CONTAINIG METAKAOLINITE Guilherme Chagas Cordeiro ABSTRACT The partial replacement of Portland cement by pozzolanic materials allows to obtain concrete and mortars with superiors properties, in some aspects to the products without addition. There are many materials used to achieve this goal, such as silica fume, fly ash and calcined clays. Nowadays, the silica fume have being used a lot in Brazil. Unfortunately, due to price and availability this product is not oftenly accessible. In this work the pozzolan was characterized and produced of thermal activation of an alluvial’s plain kaolinite clay from Paraíba do Sul River, in Campos dos Goytacazes City. After grinding, firing and sieving processes, pozzolanic properties are developed, due to metakaolinite formation, which is a material with high structural disorder. An experimental program was executed to promote a comparasion between products with and without mineral addition, constituted for two stages: metakaolinite production; and making of concretes and mortars samples. In order to validate the clay’s potential as a raw material for the metakaolinite production the following properties were investigated: ideal burning temperature; pozzolanic activity’s index; cement-superplasticizer compatibility; and concretes and mortars’ compressive strain. The increases in concretes and mortars resistances with metakaolinite finding are according to literature. Keywords: high-performance concrete, metakaolinite, mineral admixture. 1 1. INTRODUÇÃO Atualmente, poucos materiais têm uso tão difundido na engenharia quanto o concreto de cimento Portland. Devido às suas excepcionais qualidades, o concreto possibilitou ao homem moderno mudanças expressivas, tanto na arquitetura quanto na engenharia, além de seu próprio modo de vida. Os resultados são novos desafios à pesquisa do concreto, particularmente o que diz respeito ao concreto de alto desempenho, um material com melhores índices de resistência e durabilidade, alcançadas a partir de adições químicas e minerais. O Município de Campos dos Goytacazes, que possui uma população residente estimada de 371.252 habitantes, destaca-se na Região Norte do Estado do Rio de Janeiro por sua extensão territorial, ocupando uma área de 4040,4 km2 (CIDE, 2000), conforme Figura 1.1. Cerca de 52% de todo o território municipal é composto por espessos pacotes argilosos provenientes da migração do leito do Rio Paraíba do Sul (Ramalho et al., 2001), explorados, em parte, como matéria- prima para cerâmica vermelha. Diante deste contexto ambiental e da crescente demanda de aditivos minerais para o concreto, iniciou-se um estudo para o aproveitamento destes solos argilosos para a produção de uma pozolana, a metacaulinita. A metacaulinita é um aluminossilicato de estrutura desordenada, resultante da ativação térmica de uma argila caulinítica finamente moída. Este material, apesar de não possuir, por si só, propriedades aglomerantes e hidráulicas, contém constituintes que a temperaturas ordinárias reagem, em presença de água, com o hidróxido de cálcio originando novos compostos hidratados com propriedades cimentícias e insolúveis em água. 2 Desta forma, o objetivo maior da pesquisa concentra-se na possibilidade de uso e aplicação dos solos argilosos do município para a produção de um aditivo mineral para concretos e argamassas de alto desempenho. Figura 1.1 – Localização do Município de Campos dos Goytacazes. Destacam-se ainda os seguintes objetivos específicos: · Apresentar as características de materiais argilosos da região e propor alguns critérios de utilização visando-se a viabilidade de obtenção de concretos com resistência à compressão acima de 50 MPa, aos 28 dias; RIO DE JANEIRO Município de Campos dos Goytacazes Campos dos Goytacazes Rio do Sul Lagoa Feia Lagoa de Cima Oceano Atlântico Espírito Santo Paraíba Área: 4038 km2 Localização: 41o30’ W 21o45’ S Metros 20.000 3 · Caracterizar física, química e mineralogicamente a metacaulinita, e verificar seu desempenho em diversos teores de substituição parcial do cimento Portland em concretos e argamassas; · Verificar a influência da temperatura de queima e teor de material fino, presente na argila a ser calcinada, na atividade pozolânica da metacaulinita, determinando a temperatura ótima de queima para este aditivo. A presente dissertação está estruturada em sete Capítulos. O Capítulo 1 compreende a introdução do trabalho de pesquisa, onde é justificada sua importância e seus objetivos. No Capítulo 2 é apresentada a revisão bibliográfica referente ao concreto de alto desempenho, considerando aspectos de sua aplicação, materiais constituintes e procedimentos de produção. Também são discutidas, neste Capítulo, características de dosagem de concreto de alto desempenho. O Capítulo 3 apresenta a revisão bibliográfica sobre os principais aditivos minerais utilizados em concretos e argamassas de alto desempenho, analisando suas características e as conseqüências de suas utilizações. Este Capítulo, longe de apresentar um caráter de manual científico, aborda de forma sucinta aspectos intrínsecos destes materiais, o que, por vezes, se torna repetitivo, sendo, entretanto, de extrema relevância para o tema em questão. Inúmeros exemplos são citados de forma resumida ilustrando pesquisas sobre o tema. Já no Capítulo 4, o programa experimental é descrito através do detalhamento dos ensaios realizados e da caracterização dos materiais empregados. No Capítulo 5 é apresentada a análise dos resultados obtidos no programa experimental. Neste Capítulo relata-se a caracterização da metacaulinita utilizada em concretos e argamassas. O sexto e último Capítulo compreende as conclusões do trabalho assim como algumas sugestões para futuros trabalhos neste amplo campo de pesquisa que constitui o concreto de alto desempenho. 4 2. CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO O concreto de alto desempenho é uma evolução dos concretos produzidos ao longo dos anos. Um maior controle na seleção dos materiais e nas etapas de dosagem, mistura, adensamento, transporte e cura, aliado ao uso preciso de aditivos químicos e minerais, permite a produção concreto com propriedades melhoradas. O concreto de alta resistência, como era denominado nos anos 70, hoje é definido não somente em função de sua resistência superior, mas principalmente destaca-se uma menor permeabilidade, maior resistência ao desgaste e abrasão, enfim, maior durabilidade. De acordo com Mehta (1996), a busca por um concreto com maior durabilidade está presente em cerca de 75% das obras em concreto de alta resistência. O Americam Concrete Institute, através do Comitê 201 (1994), define a durabilidade de um concreto como sua habilidade para resistir às ações atmosféricas, ataques químicos, abrasão e outros processos de deteriorização. As ações atmosféricas referem-se aos efeitos ambientais, tais como exposição a ciclos de molhagem secagem e congelamento e descongelamento. Os processos de deteriorização química incluem ataques de substâncias ácidas e reações de expansão, tais como reações de sulfatos, reações álcali-agregados e corrosão de armaduras de aço no concreto. Deve-se enfatizar que, para adquirir baixos valores de permeabilidade, é necessária uma mistura densa acarretando uma maior resistência. Ou seja, estas duas características encontram-se intimamente ligadas. Neville (1997) destaca que o concreto de alto desempenho não é somente um concreto com 5 altas resistências à compressão, mas que também possui alto módulo de elasticidade, alta densidade, baixa permeabilidade e resistência aos ataques do meio externo. Mehta e Aïtcin (1990) definem o concreto de alto desempenho como um material que possui alta rigidez e estabilidade dimensional e, principalmente, baixa permeabilidade. O uso de diversas terminologias para designar o mesmo material, tais como, concreto de alto desempenho (CAD), concreto de alta resistência (CAR), ou até mesmo concreto de alta eficiência, tem suscitado a interpretações controvertidas quanto ao verdadeiro potencial do material, que varia geograficamente e ao longo do tempo. Segundo Gjorv (1992), na década de 50, concretos com resistência à compressão de 35 MPa eram considerados concretos de alta resistência nos Estados Unidos. Nas décadas de 60 e 70 concretos com 50 MPa e 70 MPa, respectivamente, estavam sendo utilizados comercialmente. Atualmente, concretos com 90 MPa, 100 MPa e até 120 MPa entraram no campo da construção de edifícios altos, plataformas de petróleo e pontes, cujas resistências foram definidas com bases sólidas e garantidas com técnicas rotineiras (Aïtcin e Neville, 1993). O American Concrete Institute estabelece, no ACI 363 (1991), o valor de 41 MPa (6000 psi), como limite inferior para concretos de alta resistência, pois a prática de dimensionamento de estruturas está fundamentada em experimentos realizados em concretos com resistência à compressão inferior a 41 MPa. Ainda hoje, de um modo geral, a produção de concretos no município de Campos dos Goytacazes baseia-se em projetos calculados para uma resistência característica aos 28 dias inferior a 25 MPa. Sendo assim, é possível classificar concretos com resistência à compressão superior a 40 MPa, como concretos de alta resistência. 2.1. APLICAÇÃO 6 A alta resistência à compressão e o alto módulo de elasticidade já nas idades iniciais, baixa segregação, ausência de exsudação são algumas das características que justificam a crescente utilização do concreto de alto desempenho. A partir de 1950 pesquisas e obras difundiram-se por todo o mundo, com aplicações nos diversos tipos de estruturas. Inúmeros prédios, pontes, pavimentos, elementos pré-fabricados, obras marítimas, dentre outros, têm sido construídos com concreto de alto desempenho. Um estudo realizado por Dal Molin e Wolf (1990) indica uma redução de cerca de 12% do custo de um edifício de 15 andares, ao se empregar concreto de alta resistência (fck = 60 MPa) no lugar de um concreto convencional (fck = 21 MPa). Foram considerados os consumos de concreto, armaduras e formas, além de gastos com a mão de obra. Outros fatores como desformas mais rápidas, ganho de área útil em virtude das menores seções das peças estruturais e possibilidade de confecção de elementos mais leves e esbeltos, podem elevar este valor de economia, justificando ainda mais seu emprego. Outra vantagem é a grande durabilidade de estruturas feitas com concreto de alto desempenho. A sua baixa permeabilidade contribui para o controle de corrosão e carbonatação, além de proteger o concreto de ataques químicos e biológicos. Relatos de Almeida et al. (1995) ilustram o grande número e a diversidade das obras em concreto de alto desempenho no Brasil. Vale ressaltar a utilização do concreto de alto desempenho em obras de recuperação e reforço estrutural, em função, principalmente, da boa aderência com o aço ou com outro concreto já endurecido, além da alta fluidez que alcança sem segregação. Canovas (1988) destaca o melhor acabamento superficial alcançado com o concreto de alto desempenho como conseqüência de seu maior conteúdo de finos. De acordo com Aïtcin (1998), o concreto alcançou a resistência e durabilidade da rocha natural, mas uma “rocha” que pode ser facilmente 7 modelada, reforçada com barras de aço, protendida ou pós-tendida com cabos ou misturada com qualquer tipo de fibra. 2.2. MATERIAIS CONSTITUINTES O concreto é um material composto e suas propriedades dependem da proporção e propriedades de seus componentes, além da interação entre os mesmos (Neville, 1997). A escolha e adequação dos materiais constituintes compõem a primeira etapa na elaboração de um concreto de alto desempenho. Segundo Mehta e Monteiro (1994) a tarefa de escolha dos materiais não é fácil, tendo em vista que ocorrem grandes variações nas suas composições e propriedades físicas e químicas. O concreto de alto desempenho é obtido através de uma mistura de cimento, agregados, aditivos minerais e químicos e água, com uma baixa relação água/aglomerante. Aïtcin (1998) considera como baixos os valores menores que 0,40, baseado no fato de que é muito difícil, se não impossível, tornar trabalhável um concreto feito com os cimentos Portland mais comumente encontrados no mercado, sem a utilização de um aditivo superplastificante. A seguir serão descritas as principais propriedades dos constituintes normalmente utilizados no concreto de alto desempenho. Um estudo mais detalhado das características e influência dos aditivos minerais no concreto de alto desempenho encontra-se no Capítulo 3. 2.2.1. Cimento Portland O cimento Portland é um material pulverulento, aglomerante hidráulico, composto basicamente de silicatos de cálcio e aluminatos de cálcio que misturados à água se hidratam e, depois de endurecidos, mesmo que sejam submetidos novamente à ação da água não se decompõem mais. 8 Para a fabricação do cimento são empregados materiais calcáreos, como rocha calcárea e gesso, e alumina e sílica, encontradas facilmente em argilas e xistos. O processo de fabricação do cimento Portland consiste essencialmente em moer a matéria-prima, misturá-la nas proporções adequadas e queimar essa mistura em um forno rotativo até uma temperatura de cerca de 1450oC. Nessa temperatura, o material sofre uma fusão incipiente formando pelotas, conhecidas com clínquer. O clínquer é resfriado e moído, em um moinho de bolas ou de rolo, até um pó bem fino (geralmente menor que 75 mm), com adição de um pouco de gesso, resultando o cimento Portland largamente usado em todo mundo (Neville, 1997). A mistura e moagem das matérias-primas podem ser feitas tanto em água quanto a seco, daí a denominação dos processos de via úmida e de via seca. Alguns materiais, como areia, bauxita e minério de ferro, são adicionados como corretivos, cuja função é suprir as matérias primas de elementos que não se encontrem disponíveis nas matérias primas principais. Durante a queima ocorrem inúmeras reações de estado sólido entre as fases constituintes, reações envolvendo essas fases e a parte fundida do material e, ainda, a ocorrência de transformações mineralógicas em função do resfriamento, gerando os principais componentes do cimento (Tabela 2.1), que quando hidratados fornecem as principais propriedades deste material (Zampieri, 1989). A última etapa de fabricação do cimento Portland constitui-se no resfriamento imposto aos nódulos produzidos, sendo de grande importância para a definição da reatividade e estabilidade das fases do clínquer. Tabela 2.1 – Compostos principais do cimento Portland (Neville, 1997). Nome do composto Composição em óxidos Abreviação Silicato tricálcico 3CaO.SiO2 C3S Silicato dicálcico 2CaO.SiO2 C2S Aluminato tricálcico 3CaO.Al2O3 C3A Ferroaluminato tetracálcico 4CaO.Al2O3.Fe2O3 C4AF Notação: CaO: C; SiO2: S; Al2O3: A; Fe2O3: F. As reações químicas entre os silicatos e aluminatos relacionados na Tabela 2.1 com a água são denominadas de reações de hidratação do cimento e 9 geram uma massa firme e resistente,. Essas reações de dissolução e formação de novas fases ocorrem quase que instantaneamente, na medida em que se adiciona água ao cimento Portland. De acordo com Mehta e Monteiro (1994), o C3S apresenta rápida hidratação, desprendendo uma quantidade média de calor, gera um gel de silicato de cálcio hidratado (C-S-H) e cristais de hidróxido de cálcio Ca(OH)2 (C-H). Este composto contribui para elevar a resistência inicial da pasta endurecida e aumentar sua resistência final. Já o C2S, que desprende uma quantidade pequena de calor durante sua lenta hidratação, também é responsável pelo aumento de resistência nas idades avançadas e produz um volume menor de Ca(OH)2, em comparação com o C3S. Responsável pelas primeiras reações de hidratação, o C3A libera uma grande quantidade de calor para formar aluminatos hidratados. O C4AF também se hidrata rapidamente (semelhante ao C3A) mas exerce pouca influência sobre a resistência mecânica da pasta. Ressalta-se que um dos primeiros avanços no sentido de melhor compreender o processo de hidratação do cimento Portland foi, inegavelmente, a análise em separado do comportamento exibido pelas diversas fases do clínquer em pastas hidratadas. A Figura 2.1, por exemplo, apresenta as velocidades de hidratação dos diferentes compostos em estado puro. 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1 10 100 1000 Tempo (dias) Fr aç ão h id ra ta da C2S C3S C3A C4AF Figura 2.1 – Evolução da hidratação dos compostos do cimento Portland, em estado puro (Neville, 1997). 10 Na Figura 2.2, por outro lado, reproduz-se as curvas de resistência à compressão apresentadas por pastas contendo os componentes isolados que compõem o clínquer. A análise em conjunto das Figuras 2.1 e 2.2 permite observar as diferentes contribuições das fases que formam o clínquer para as resistências mecânicas do produto hidratado. 0 10 20 30 40 50 60 70 0 100 200 300 Tempo (dias) R es is tê nc ia à co m pr es sã o (M P a) C3S C2S C3A C4AF Figura 2.2 – Curvas de resistência à compressão de pastas puras obtidas com os principais compostos do cimento Portland (Zampieri, 1989). A princípio o cimento Portland pode ser constituído unicamente de clínquer e de uma substância reguladora de pega, caracterizando o que se convencionou denominar “cimento Portland comum”. Entretanto, ao longo do tempo, outros materiais começaram a ser utilizados em conjunto com o clínquer, constituindo os “cimentos com adições”. Desta forma, a ABNT define o cimento Portland em tipos e classes de acordo com os seus componentes e propriedades. A classe do cimento caracteriza sua resistência mínima potencial aos 28 dias, sendo dividida em três níveis: 25 MPa, 32 MPa e 40 MPa. A Tabela 2.2 apresenta a classificação dos principais tipos de cimentos comercializados no Brasil. 11 Tabela 2.2 – Classificação dos cimentos Portland comercializados no Brasil, segundo a ABNT. Composição (percentual em massa) Tipo de cimento Sigla Clínquer + gesso Escória granulada de alto-forno Material pozolânico Material carbonático Comum CP I CP I – S 100 95 – 99 – 1 – 5 Composto CP II – E CP II – Z CPII – F 56 – 94 76 – 94 90 – 94 6 – 34 – – – 6 – 14 – 0 – 10 0 – 10 6 – 10 Alto-forno CP III 25 – 95 35 – 70 – 0 – 5 Pozolânico CP IV 45 – 85 – 15 – 50 0 – 5 Alta res. Inicial CP V – ARI 95 – 100 – – 0 – 5 Branco estrutural CPB 75 – 100* – – 0 – 25 * No cimento branco é utilizado um clínquer com baixos teores de óxidos de ferro e manganês. Obs.: Se a sigla do cimento estiver acrescida do sufixo RS significa que o cimento Portland é resistente aos sulfatos (por exemplo: CP III – 40 RS). A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) através da BT- 106 (1999) mostra a evolução média da resistência à compressão dos diferentes tipos de cimento Portland (Figura 2.3). 0 10 20 30 40 50 60 0 5 10 15 20 25 30 Idade (dias) R es is tê nc ia à co m pr es sã o (M P a) CP I-S CP II CP III CP IV CP V Figura 2.3 – Evolução média da resistência à compressão dos distintos tipos de cimento Portland. Para aplicação em concreto de alto desempenho, Mehta e Aïtcin (1990) comentam que é possível a produção com qualquer tipo de cimento, sendo 12 preferível, no entanto, o cimento Portland comum e aqueles com elevado teor de C3S e C2S. De acordo com Neville (1997), os dois silicatos necessitam praticamente da mesma quantidade de água para hidratação, mas o C3S produz mais que o dobro da quantidade de hidróxido de cálcio, quando comparado com o C2S. Isto proporciona uma menor durabilidade quanto ao ataque de águas ácidas e/ou sulfatadas. O hidróxido de cálcio no concreto pode reagir com um agregado ácido (calcedônia, por exemplo) dando origem a um silicato de cálcio hidratado. Esta reação, contudo, causa um aumento de volume indesejável. Na opinião de Howard e Leatham (1989), não há critérios científicos fixos que especifiquem o cimento mais adequado para o concreto de alta resistência. Parrot (1969) indica que só é necessária uma seleção criteriosa do cimento, quanto ao tipo, para concretos com uma resistência acima de 90 MPa. O melhor cimento para concreto de alto desempenho é, de acordo com o ACI 363 (1991), o que apresenta menor variabilidade em termos de resistência. De acordo com Vieira et al. (1997) a escolha do tipo de cimento vai ser função não só da disponibilidade de mercado mas, sobretudo, das propriedades que o concreto a ser produzido deverá possuir. O autores enfatizam que, para cada situação específica de projeto, todas as condições deverão ser avaliadas detalhadamente, desde as especificações de projeto, condições de cura e aplicação, cronograma de execução, e o que mais se fizer necessário para que o cimento escolhido seja o mais adequado, contribuindo, desta forma, para o aumento da vida útil da estrutura de concreto. Enfim, para a escolha satisfatória do cimento Portland utilizado na produção do concreto de alto desempenho, exige-se conhecimento técnico e científico deste material. 2.2.2. Agregado Miúdo A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) classifica o agregado miúdo em zonas (muito fina, fina, média e grossa), de acordo com sua 13 composição granulométrica. A Tabela 2.3 mostra a classificação, de acordo com a NBR 7211 (1983). Tabela 2.3 – Limites granulométricos do agregado miúdo (NBR 7211, 1983). Porcentagem, em massa, retida acumulada na peneira ABNT Abertura da peneira (mm) Zona 1 (muito fina) Zona 2 (fina) Zona 3 (média) Zona 4 (grossa) 9,50 0 0 0 0 6,30 0 a 3 0 a 7 0 a 7 0 a 7 4,80 0 a 5¨ 0 a 10 0 a 11 0 a 12 2,40 0 a 5¨ 0 a 15¨ 0 a 25¨ 5¨ a 40 1,20 0 a 10¨ 0 a 25¨ 10¨ a 45¨ 30¨ a 70 0,60 0 a 20 21 a 40 41 a 65 66 a 85 0,30 50 a 85¨ 60¨ a 88¨ 70¨ a 92¨ 80¨ a 95 0,15 85¨ a 100 90* a 100 90* a 100 90* a 100 ¨ Pode haver tolerância de, no máximo, 5 pontos percentuais em um só dos limites marcados com o símbolo “¨” ou distribuídos em vários deles; * Para agregado miúdo resultante de britamento este limite poderá ser de 80. Um dos principais requisitos para a escolha do agregado miúdo baseia- se na demanda de água de mistura. Segundo o ACI 363 (1991), um agregado miúdo de partículas arredondadas e textura lisa requer menor quantidade de água e, por esta razão, é indicado para o concreto de alto desempenho. Como este concreto apresenta um alto teor de material fino (dosagem alta de cimento e uso de aditivos minerais), recomenda-se agregado miúdo de forma angular, módulo de finura acima de 3,0 e diâmetro máximo de 4,8 mm (ACI 363, 1991; Canovas, 1988). Dal Molin (1995) comenta que a seleção do agregado miúdo está condicionada ao consumo de água, fator essencial para garantir uma relação água/aglomerante baixa. Segundo Amaral Filho (1989), com areia natural quartzosa, bem graduada e dentro das especificações, é possível a obtenção de concretos com resistências de até 170 MPa. Vieira et al. (1997) afirmam que os agregados miúdos exercem maior influência na mistura que os agregados graúdos. Isto se deve ao fato de que a superfície específica dos agregados finos é bem maior e, portanto, necessitam de mais pasta para envolver seus grãos. Teores elevados de agregados miúdos produzirão concretos mais plásticos. Por outro lado, a diminuição da quantidade 14 de agregado miúdo acarreta um decréscimo no teor de pasta necessário, reduzindo o custo final do concreto. É imprescindível após a escolha adequada do agregado miúdo, que haja um rigoroso controle de qualidade, pois pequenas variações no teor de umidade e/ou granulometria podem ocasionar mudanças significativas nas propriedades do concreto fresco e endurecido. Neville (1997) sugere que o teor de umidade seja verificado freqüentemente numa obra de concreto, pois seu valor varia conforme o clima e posição de uma amostra no monte de agregado em estoque. Ainda segundo Neville (1997), quando não for possível a utilização de agregados naturais*, deve-se atentar para a granulometria do material britado. Neste caso, obtém-se mais material menor de 75 mm, que gera perda de trabalhabilidade e um pequeno decréscimo na resistência à compressão do concreto. Enfim, deve-se procurar uma proporção ótima de agregados miúdos e graúdos, de acordo com suas características de granulometria e forma, a fim de que uma mistura mais compacta seja obtida, ao menor consumo de pasta possível, e conseqüentemente, ao menor custo. 2.2.3. Agregado Graúdo O termo agregado graúdo descreve partículas maiores que 4,8 mm, responsáveis por cerca de 60% do volume do concreto. Desta forma, os efeitos que este material pode gerar no concreto fresco e endurecido devem ser estudados com atenção. A Tabela 2.4 apresenta os limites granulométricos estabelecidos pela NBR 7211 (1983), com as respectivas graduações dos agregados graúdos. * São consideradas areias naturais aquelas que foram reduzidas ao seu tamanho presente pela ação de agentes naturais. 15 Tabela 2.4 – Limites granulométricos do agregado graúdo (NBR 7211, 1983). Porcentagem retida acumulada, em massa, nas peneiras de abertura nominal (mm) No 76 64 50 38 32 25 19 12,5 9,5 6,3 4,8 2,4 0 – – – – – – – 0 0-10 – 80-100 95-100 1 – – – – – 0 0-10 – 80-100 92-100 95-100 – 2 – – – – 0 0-25 75-100 90-100 95-100 – – – 3 – – 0 0-30 75-100 87-100 95-100 – – – – – 4 0 0-30 75-100 90-100 95-100 – – – – – – – Em geral, estes agregados são procedentes de jazidas naturais, seja na forma de pedregulhos, seixos ou pedra britada. Rochas ígneas, como granito e basalto, metamórficas como gnaisse e leptinito e sedimentares, como arenitos e calcáreos, são utilizadas em todo mundo. Também podem ser empregados em concreto agregados de escória de alto-forno, de cinza volante e agregados reciclados (rejeitos de construção e resíduos cerâmicos, por exemplo). De acordo com Mehta e Monteiro (1994) e Danielsen (1997) as características mais significativas dos agregados graúdos são: · Resistência à compressão; · Resistência à abrasão; · Módulo de elasticidade; · Massa específica e massa unitária; · Absorção; · Porosidade; · Composição granulométrica, módulo de finura e dimensão máxima; · Forma e textura superficial; · Substâncias deletérias. A escolha do agregado graúdo é mais complexa que a do agregado miúdo, pois suas propriedades físicas, químicas e mineralógicas afetam consideravelmente a obtenção das propriedades de resistência e durabilidade no concreto. Estudos realizados por Helland (1988), com concretos de várias classes de resistência, utilizando um agregado graúdo de boa qualidade (seixo 16 britado), verificaram que para resistências menores que 80 MPa o concreto se comporta como um material composto. Isto porque as fissuras se desenvolvem na pasta e na interface agregado-pasta. Para resistências entre 80 MPa e 100 MPa a capacidade de carga do agregado e da pasta tem a mesma ordem de grandeza. Desta forma, as fissuras penetram também nos agregados e o material tem um comportamento homogêneo. Com valores de resistência acima de 100 MPa, o concreto adquire novamente um comportamento típico de compósitos, sendo o agregado o componente mais frágil. Gonçalves et al. (1994), verificaram em um estudo realizado com agregados rochosos da cidade do Rio de Janeiro, que o agregado graúdo pode vir até mesmo a restringir as propriedades do concreto. Constataram, usando gnaisse e granito, que a existência de concretos de resistências menores que as da argamassa e a ocorrência exclusiva de fraturas intergranulares eram indicativos de que os agregados graúdos foram os limitadores das resistências do concreto. Segundo Aïtcin e Neville (1993) os agregados graúdos menores são geralmente mais resistentes que os agregados maiores. Isto se deve ao processo de britagem, que ocorre preferencialmente em zonas potencialmente fracas na rocha matriz. Assim, quanto menor o agregado utilizado, menor a incidência de zonas fracas. Além disso, de acordo com Dal Molin (1995), quanto menor o agregado, menor a superfície capaz de reter água durante a exsudação do concreto fresco, o que propicia uma zona de transição de menor espessura e, conseqüentemente, mais resistente. Almeida (1994) comenta que a alta resistência do agregado é uma condição necessária, mas não suficiente, para a produção de concreto de alto desempenho. O autor destaca a fragilidade da interface agregado-pasta. Mesmo com agregados de grande resistência à compressão, atinge-se um limite acima do qual não é possível elevar a resistência do concreto com o fortalecimento da pasta: o concreto rompe na ligação agregado-pasta. 17 Nos concretos de alto desempenho, comenta Nuñez (1992), há uma transferência direta de tensões entre a pasta e o agregado graúdo a cargas relativamente baixas. Assim, o módulo de elasticidade do concreto é fortemente influenciado pelas propriedades elásticas do agregado graúdo. A distribuição granulométrica de um agregado é um fator muito importante pois altera a demanda de água de um concreto. O fator água/aglomerante no concreto de alto desempenho deve ser o menor possível, desta forma a quantidade de água deve ser minimizada, para um determinado abatimento. Segundo Neville (1997) um agregado inadequado quanto a sua forma pode influenciar a trabalhabilidade da mistura e o acabameto superficial dos elementos de concreto. O comitê ACI 363 (1991) demonstra que, embora agregados com formas angulares possam produzir concretos com resistências mecânicas superiores, efeitos opostos podem surgir na demanda de água e trabalhabilidade se a angulosidade for muito acentuada. Gomes et al. (1995) sugerem uma relação inversa entre a resistência à compressão do concreto e a abrasão “Los Angeles” do agregado graúdo. Segundo os autores, quanto menor for o percentual de abrasão obtido no ensaio, maior será resistência alcançada pelo concreto. Tal fato evidencia a influência do agregado graúdo na resistência do concreto. Frazão e Paraguassu (1998) recomendam uma análise petrográfica do agregado graúdo para identificação dos tipos de minerais, seus estados de alteração, suas granulações e suas quantidades. Isto permite a identificação de minerais que posam vir a comprometer a durabilidade do concreto. Estudos realizados por Fonseca Silva et al. (1998), utilizando agregados de granito, calcáreo e seixos rolados, indicam um aumento de 5% a 10% na resistência à compressão de concretos em virtude da lavagem dos agregados antes da confecção do concreto. Resultados semelhantes foram obtidos por Almeida (1994), conforme ilustra a Figura 2.4. 18 40 60 80 100 120 Condição de limpeza dos agregados R es is tê nc ia à co m pr es sã o (M Pa ) concreto 1 concreto 2 concreto 3 materiais in natura brita lavada brita e areia lavadas Figura 2.4 – Influência da lavagem dos agregados na resistência à compressão do concreto (Almeida, 1994). 2.2.4. Aditivos Químicos A NBR 11768 (EB-1763/1992) define os aditivos como sendo produtos que adicionados ao concreto de cimento Portland em pequenas quantidades modificam algumas de suas propriedades, no sentido de melhor adequá-las a determinadas condições. De acordo com Neville (1997), o motivo do grande uso de aditivos químicos é a capacidade de proporcionar ao concreto consideráveis melhorias físicas e econômicas. Essas melhorias incluem o uso do concreto em condições nas quais seria difícil ou até mesmo impossível utilizá-lo sem aditivos. O Comitê ACI 212 (1992) lista algumas finalidades importantes para as quais os aditivos químicos são empregados: · Aumentar a plasticidade do concreto mantendo constante o teor de água; · Reduzir a exsudação e a segregação; · Retardar ou acelerar o tempo de pega do concreto; 19 · Acelerar a velocidade de desenvolvimento da resistência mecânica das primeiras idades; · Retardar a taxa de evolução de calor durante a hidratação do cimento; · Aumentar a resistência a ciclos de congelamento e descongelamento; · Aumentar a durabilidade do concreto em condições extremas de exposição. Os aditivos são classificados em virtude das alterações que causam nas propriedades do concreto fresco e/ou endurecido. Segundo Mehta (1996), os aditivos variam amplamente quanto à composição química e muitos desempenham mais de uma função; conseqüentemente, é difícil classificá-los de acordo com as suas funções. A Tabela 2.5 apresenta a classificação de aditivos químicos empregada no Brasil, segundo a NBR 11768 (EB-1763/1992). Tabela 2.5 – Classificação dos aditivos químicos segundo a NBR 11768 (EB-1763/1992). Tipo Classificação Tipo Classificação P Plastificante A Acelerador R Retardador PA Plastificante acelerador PR Plastificante retardador IAR Incorporador de ar SP Superplastificante SPA Superplastificante acelerador SPR Superplastificante retardador Uma vez que a redução da relação água/aglomerante é primordial para a obtenção do concreto de alto desempenho a utilização de aditivos redutores de água faz-se imprescindível. O uso de aditivos superplastificantes é preponderante, uma vez que aumenta a fluidez do concreto a níveis muito elevados, sem alterar outras características, permitindo produzir, através da redução da relação água/aglomerante, concretos com alta resistência e maior durabilidade. 2.2.4.1. Aditivos Superplastificantes Os superplastificantes, também chamados de redutores de água de alta eficiência ou superfluidificantes, consistem de tensoativos aniônicos de 20 cadeia longa e massa molecular elevada (20000 a 30000). Quando adsorvido pelas partículas de cimento, o tensoativo confere uma forte carga negativa, a qual auxilia a reduzir consideravelmente a tensão superficial da água circundante e aumentar acentuadamente a fluidez do sistema (Mehta e Monteiro, 1994) Os superplastificantes podem ser agrupados em quatro grandes categorias, de acordo com sua composição química (Ramachandran, 1984; Bucher, 1988; Aïtcin et al., 1994 a): · Condensados sulfonados de melamina-formaldeído; · Condensados sulfonados de formaldeído-naftaleno; · Condensados de lignossulfonatos modificados; · Outros, como ésteres de ácido sulfônico e ésteres de carboidratos. Atualmente as duas primeiras categorias mencionadas são mais largamente utilizadas, pois apresentam maior eficiência como redutores de água e menor incidência de efeitos secundários (Aïtcin, 1998; Sponholz, 1998). O principal efeito das cadeias longas do superplastificante, segundo Neville (1997), é o de ficarem adsorvidas nas partículas de cimento, conferindo- lhes uma carga altamente negativa de modo que elas passam a se repelir. Isso provoca defloculação e dispersão das partículas de cimento. A melhoria resultante da ação do superplastificante pode ser aproveitada de dois modos distintos. Permite para a mesma relação água/aglomerante e o mesmo teor de água na mistura um aumento considerável da trabalhabilidade do concreto, mantendo a mistura coesiva. Outra forma, seria para obter concretos com trabalhabilidade normal, mas com uma resistência extremamente alta, devido a uma substancial redução da relação água/aglomerante. A defloculação se deve à redução das forças de atração entre partículas com cargas opostas. Já a dispersão ocorre pela introdução da força repulsiva entre partículas, devido à alta carga negativa conferida às partículas de cimento pela adsorção do aditivo. Quanto maior a adsorção melhor será a 21 dispersão das partículas de cimento e mais homogênea será a microestrutura da pasta. De acordo com Huynh (apud Jiang et al., 1998) a reologia do concreto de alto desempenho pode ser afetada por parâmetros relativos ao cimento, ao superplastificante e a interação entre eles, dentre os quais os mais significativos são: · Composição química do cimento, especialmente a quantidade de C3A e álcalis; · Finura do cimento Portland; · Quantidade e tipo de sulfato de cálcio no cimento; · Natureza química e massa molecular do superplastificante; · Grau de sulfonatação do superplastificante; · Dosagem e método de adição à mistura do superplastificante. Os aditivos superplastificantes interagem com o C3A, que é o primeiro componente do cimento a hidratar-se, e sua reação é controlada pelo sulfato de cálcio, produto adicionado ao clínquer para controlar o tempo de pega do cimento. Uma certa quantidade de aditivo é necessária durante a mistura para obter a trabalhabilidade desejada, no entanto, é imprescindível que o superplastificante não seja totalmente fixado pelo C3A. Se a fixação ocorrer é porque íons sulfatos não foram liberados a tempo de reagirem com o C3A (Tagni-Hamou e Aïtcin, 1993). Quando os íons sulfatos são liberados vagarosamente, o cimento e o aditivo superplastificante são ditos incompatíveis. O problema da incompatibilidade entre cimento e superplasticante pode também existir no concreto convencional, mas é muito mais acentuado no concreto de alto desempenho (Sponholz, 1998). Isto é devido a menor quantidade de água disponível para receber os íons sulfatos no concreto de alto desempenho e a alta dosagem de cimento, proporcionando mais C3A à mistura. A quantidade de superplastificante necessária para obtenção de uma pasta com fluidez definida aumenta com a área específica do cimento Portland. 22 Quanto mais fino o cimento, mais superplastificante é requerido para obter dada trabalhabilidade. As moléculas do superplastificante podem ser adsorvidas no C3S. Aïtcin et al. (1987) observaram que, com um aumento na dosagem de superplastificante, o desenvolvimento do calor de hidratação é retardado. Este fenômeno de adsorção foi demonstrado pela observação direta de um superplastificante marcado com enxofre através de estudos conduzidos por Onofrei e Gray apud Aïtcin (1998). De acordo com Neville (1997), um cimento ideal para concreto de alto desempenho, do ponto de vista reológico, não deve ser muito fino (superfície específica menor que 400 m2/kg) e deve apresentar um teor muito baixo de C3A, cuja atividade é facilmente controlada pelos íons sulfato provenientes da dissolução dos sulfatos do cimento Portland. Um estudo realizado por Chan et al. (1996) mostra a variação no comportamento de quatro superplastificantes em concretos com abatimento entre 150 e 200 mm em função da redução da relação água/cimento. De acordo com a Figura 2.5, pode-se concluir que, para os aditivos testados, os superplastificantes à base de melamina e naftaleno são mais eficientes em baixos valores de relação água/cimento. Geralmente, a consistência do concreto diminui com o aumento da dosagem de superplastificante até um valor, além do qual, passa a ser pequeno o efeito. Essa é a dosagem ótima (Neville, 1997). 23 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 Relação a/c D os ag em ó tim a (% e m m as sa d e ci m en to ) Naftaleno Policarboxílico Lignosulfato Melamina Figura 2.5 – Eficiência da dosagem ótima de superplastificante variando a relação água/cimento (Chan et al., 1996). Estudos de Kumar e Roy (1986) revelam que o uso de superplastificante em pastas de cimento, sujeitas a diferentes métodos de cura, levam a um decréscimo do volume total de poros e ao refinamento da estrutura de poros das pastas hidratadas. A mesma conclusão é obtida por Khatib e Mangat (1999). O refinamento dos poros, além da redução de seu volume, diminui a permeabilidade e aumenta a resistência, permitindo a obtenção de concretos muito mais duráveis. Vale ressaltar, que o processo denominado refinamento dos poros é a transformação de um sistema contendo grandes vazios capilares em um sistema composto de numerosos poros mais finos. O superplastificante tem maior eficiência quando colocado na mistura alguns minutos após a água de amassamento. A Figura 2.6 (Collepardi apud Dal Molin, 1995) mostra o efeito de um aditivo a base de naftaleno no abatimento de um concreto, onde se observa um aumento de cerca de 100% no abatimento inicial quando a colocação do aditivo é retardada em 1 minuto. 24 0 50 100 150 200 250 A ba tim en to (m m ) Concreto testemunho (sem superplastificante) Colocação retardada do aditivo (após 1 minuto do início da mistura) Colocação imediata (com a água de amassamento) a/c = 0,45 consumo de cimento = 350 kg/m3 dosagem de superplastificante = 0,4% de sólidos por massa de cimento Figura 2.6 – Efeito do momento de colocação do aditivo superplastificante a base de naftaleno no abatimento do concreto (Collepardi apud Dal Molin, 1995). O comportamento reológico em traços com baixa relação água/aglomerante não é definido pelas especificações do superplastificante e do tipo de cimento Portland. Faz-se, portanto, necessário experimentá-los e verificar como se comportam frente aos complexos fenômenos químicos envolvidos (Aïtcin et al., 1994 a). Vários métodos são empregados para avaliar a compatibilidade aditivo cimento e a dosagem ótima de superplastificante. Dentre os mais utilizados estão: método de Kantro ou miniabatimento (Kantro, 1980; Bucher, 1988; Neville, 1997) e método do cone de Marsh (Neville, 1997; Aïtcin, 1998; de Larrard, 1999). A Figura 2.7 (Aïtcin, 1988) mostra os resultados do ensaio de miniabatimento para duas combinações de cimento-superplastificante, uma compatível e outra incompatível. 25 T e m p o ( s ) Á re a d e e sp a lh a m e n to ( cm 2 ) c o m p a t í v e l i n c o m p a t í v e l a / c = 0 , 3 5 T = 2 0 oC Figura 2.7 – Exemplos de resultados do ensaio de miniabatimento (Aïtcin, 1998). 2.2.5. Água A água introduzida no concreto como um de seus componentes tem duas funções. Uma parte, denominada água de amassamento, contribui para garantir uma trabalhabilidade adequada. A outra permite o desenvolvimento das reações químicas no concreto, tanto de hidratação do cimento Portland, quanto reações pozolânicas com os aditivos minerais e/ou constituintes do cimento empregado. Segundo o ACI 363 (1991), os mesmos requisitos de qualidade exigidos para água de concretos convencionais devem ser cumpridos no concreto de alto desempenho. De acordo com Neville (1997), águas potáveis, ligeiramente ácidas, não são prejudiciais ao concreto. 2.3. DOSAGEM DE CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO A dosagem é através do qual são determinadas as proporções dos materiais constituintes necessárias para a produção de um concreto que atenda a determinadas propriedades pré-fixadas. Estas propriedades são, em geral, resistência mecânica, durabilidade e trabalhabilidade. 26 Segundo Helene e Terzian (1992) a dosagem pode ser entendida como o proporcionamento adequado dos materiais constituintes, com o atendimento das seguintes condições principais: · Exigências de projeto; · Condições de exposição e operação; · Tipo de agregado disponível economicamente; · Técnicas de execução; · Custo. Para Neville (1997) os fatores básicos a serem considerados na dosagem do concreto estão representados na Figura 2.8. A seqüência de decisões também é mostrada até se chegar à quantidade de cada material constituinte por betonada. O autor comenta ainda que a trabalhabilidade pode ser controlada por um teor adequado de superplastificante e o teor de água pode ser fixado a partir da relação água/cimento para a obtenção de uma certa resistência. Método de controle Resistência mínima Granulometria do agregado total Proporções de cada Resistência média cimentícios Capacidade da betoneira Natureza dos Trabalha- bilidade Idade para a materiais resistência especificada Método de adensamento Proporções da mistura Exigências térmicas Relação água/cimento Dimensões da seção ou espaçamento Tamanho máximo do agregado Forma e textura do agregado Exigências de durabilidade componente por betonada tamanho do agregado Teor de cimento Massa de cada Figura 2.8 – Fatores básicos para dosagem de concreto (Neville, 1997). 27 Para Mehta e Monteiro (1994) o proporcionamento de materiais é mais uma arte que uma ciência, tendo em vista a complexidade de fatores envolvidos, os quais exigem um amplo conhecimento das propriedades do concreto. Rougeron e Aïtcin (1994) compartilham desta opinião, porém destacam que os princípios básicos para o proporcionamento do concreto devem ser bem conhecidos, e a tecnologia atual oferece muitos meios para a sua obtenção. Diversos métodos têm sido propostos e utilizados na dosagem e na quantificação do concreto de alto desempenho, dentre os quais: de Larrard (1990); Mehta e Aïtcin (1990); ACI 363 (1993); Rougeron e Aïtcin (1994); Domone e Soutsos (1994); Day (1996); O’Reilly (1998); Bharatkumar et al. (2001). Aïtcin (1998) comenta que a diversidade de trabalhos sobre dosagem resulta do fato do concreto estar se tornando um material mais complexo do que uma simples mistura de cimento, agregados e água, e é cada vez mais difícil predizer suas propriedades teoricamente. Carino e Clifton (1991) enfatizam a maior complexidade no proporcionamento de materiais para o concreto de alto desempenho, quando comparado com métodos tradicionais de dosagem de concretos convencionais (20 MPa a 40 MPa). O uso de materiais pozolânicos em combinação com o cimento Portland é freqüente. Os agregados devem ser cuidadosamente selecionados para a obtenção de alta resistência e/ou alto módulo de elasticidade. Aditivos químicos são necessários para garantir a trabalhabilidade do concreto e elevar sua durabilidade. O’Reilly (1998) comenta que um dos objetivos fundamentais de um processo de dosagem é criar uma metodologia que leve em conta as condições próprias de cada lugar e os recursos materiais disponíveis, para atingir características pré-definidas, sem, obviamente, elaborar regras gerais de aplicação do concreto. 28 2.4. PROCESSANDO O CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO De acordo com o ACI 363 (1991) os meios normalmente utilizados para a produção do concreto de alto desempenho são semelhantes aos utilizados nos concretos usuais. Entretanto, a escolha e o controle dos materiais são mais críticos para o concreto de alto desempenho, na medida em que a relação água/aglomerante é baixa. Aïtcin (1998) comenta que a participação do concreto de alto desempenho no mercado ainda é muito pequena, razão pela qual não se justifica o uso de técnicas diferenciadas para a produção, o transporte e o seu lançamento, exceto em aplicações especiais. 2.4.1. Mistura O concreto de alto desempenho pode ser produzido tanto na obra quanto em usinas concreteiras. Devem ser observados, no entanto: o tipo de balança utilizada para cada material, a umidade dos agregados, as condições climáticas do local de concretagem, o tipo de misturador e o tempo mistura (ACI 363, 1991). De acordo com Aïtcin (1998), o tempo de mistura é usualmente maior para o concreto de alto desempenho do que para concretos usuais. Devido a diversidade dos materiais empregados na confecção de um concreto é difícil formular regras específicas para a mistura. A introdução do superplastificante na mistura deve ser também avaliada para obter a maior eficiência (vide item 2.2.4). 2.4.2. Transporte O transporte do concreto deve ser efetuado o mais rápido possível a fim de minimizar os efeitos de enrijecimento e perda de trabalhabilidade. O método e equipamento utilizados devem levar em conta aspectos econômicos e técnicos de forma a assegurar que o concreto não irá segregar-se. As condições de uso, os materiais utilizados, o acesso a obra, a capacidade requerida, o tempo 29 de entrega e as condições climáticas, são alguns fatores que interferem na escolha do método e equipamento adotado para o transporte. O principal problema enfrentado durante o transporte do concreto de alto desempenho é a perda de consistência ou fluidez com o tempo. Isto é resolvido com dosagens repetidas de aditivos superplastificantes ou com o uso de aditivo retardador de pega. A utilização de dosagens sucessivas de superplastificantes deve ser utilizada com cautela com relação a segregação do concreto (Mehta e Monteiro, 1994). Testes de compatibilidade entre o aditivo retardador e superplastificante devem ser efetuados para assegurar o máximo tempo possível da trabalhabilidade requerida em projeto (Costenaro e Isa, 2000). 2.4.3. Lançamento O lançamento do concreto de alto desempenho pode ser realizado segundo os métodos tradicionalmente usados, como linhas de bombeamento, guindastes, caçambas e correias transportadoras. O lançamento, em geral, é mais simples quando comparado com concretos usuais, devido a maior trabalhabilidade do concreto de alto desempenho, promovida pelo uso de superplastificantes e aditivos minerais. 2.4.4. Adensamento A finalidade do adensamento é alcançar a maior compacidade possível da massa de concreto. O ACI 363 (1991) recomenda que a vibração mecânica interna seja utilizada para concreto de alto desempenho. Usualmente o concreto de alto desempenho apresenta um abatimento alto. Acredita-se então que não há necessidade de vibração intensa. Porém devido à sua consistência viscosa e alta coesão, grandes bolsas de ar e bolhas ficam aprisionadas e devem ser eliminadas pelo adensamento (Aïtcin, 1998). Mehta (1996) destaca que a vibração adequada faz com que o excesso de água na mistura seja levado para a superfície onde é perdido por evaporação. 30 2.4.5. Cura A cura, um dos procedimentos mais críticos na confecção de um concreto, tem como função principal manter a umidade da mistura durante o período de hidratação dos materiais cimentícios, além de minimizar a retração. A cura em concreto de alto desempenho é altamente recomendada em função da baixa relação água/aglomerante e alto teor de materiais cimentícios, sendo essencial para garantir a durabilidade adequada de superfícies expostas, desenvolvimento das resistências mecânicas e controle da fluência e retração. Sabe-se que a falta de uma cura adequada pode influir na qualidade final do concreto, independente dos cuidados com preparo, transporte, lançamento e adensamento. As adições minerais trazem como conseqüência o refinamento dos poros da pasta de cimento e da zona de transição por meio de suas ações de densificação e de atividade pozolânica (Mehta e Monteiro, 1994). Desta forma, o concreto de alto desempenho pode alcançar uma estrutura porosa descontínua e de baixa permeabilidade com poucos dias de hidratação, reduzindo o tempo de cura quando comparado com o concreto convencional. Aïtcin (1998) considera 7 dias como um período suficientemente longo para reduzir drasticamente a retração do concreto. Em todo caso, conclui o autor, a cura com água nunca deve ser inferior a 3 dias. Ramezanianpour e Malhotra (1995) estudaram o comportamento de diferentes concretos com adições minerais (escória de alto-forno, cinza volante e sílica ativa), com relação água/aglomerante de 0,50, em diferentes tipos de cura: cura úmida após desmoldagem; cura a temperatura ambiente; cura a temperatura ambiente após 2 dias de cura úmida; e cura a temperatura de 38oC com umidade relativa do ar de 65%. Os concretos com cura úmida apresentaram, após 180 dias, melhores resultados de resistência à compressão, permeabilidade e penetração de cloretos. Já os concretos que não receberam cura após desmoldagem foram os que mostraram piores desempenhos nas propriedades verificadas. 31 Vários autores (Aïtcin et al., 1994 b; Agostini e Nunes, 1996; Neville, 1997) afirmam que a cura do concreto de alto desempenho com imersão em água produz melhores resultados do que o envolvimento com cobertores plásticos. Mas o tipo de cura adotado depende de inúmeros fatores, como por exemplo, o tamanho e tipo de elemento estrutural a ser curado. 2.4.6. Controle de Qualidade O controle de qualidade é fundamental para assegurar o alto desempenho do concreto na estrutura. A escolha criteriosa dos materiais e procedimentos de execução já foi destacada nos itens anteriores. A NBR 16655 (1996) fixa as condições exigíveis para o preparo, controle e recebimento do concreto. A determinação da consistência do concreto pelo abatimento do troco de cone (slump test) e a ruptura de amostras para obtenção da resistência à compressão são os parâmetros mais utilizados no controle de um concreto. O tamanho e forma dos corpos-de-prova influenciam na resistência determinada. No Brasil são utilizados basicamente moldes metálicos cilíndricos medindo150 mm de diâmetro por 300 mm de altura e de 100 mm x 200 mm. Com o advento do concreto de alta resistência foi conveniente reduzir as dimensões do tradicional cilindro de 150 mm x 300 mm, tendo em vista a sua adequação às cargas máximas das prensas hidráulicas utilizadas normalmente. Por exemplo, para romper um concreto de 50 MPa numa prensa de ensaio, utilizando corpos-de-prova de 150 mm x 300 mm, é necessária uma força de 880 kN, aproximadamente. O uso de corpos-de-prova cilíndricos de 100 mm x 200 mm, afirmam Valois (1994) e Ferrari et al. (1996), facilita e agiliza o controle de resistência, tornando o processo mais econômico, sem prejuízo nos resultados. Estudos de Agnesini e Silva (1994) indicam a utilização de corpos-de-prova de 75 mm x 150 32 mm para concretos com diâmetro máximo do agregado de 9,50 mm (microconcretos) e, para concretos com brita 1 (Dmax £ 19,0 mm), o emprego de cilindros de 100 mm x 200 mm é recomendado. Vários autores sugerem uma correlação entre os valores de resistência obtidos para amostras de 100 mm x 200 mm e 150 mm x 300 mm. Moreno (1990) encontrou valores de resistência 1% maiores para os corpos-de-prova de 100 mm x 200 mm. Neville (1997) afirma que dimensões de 100 mm x 200 mm tendem a apresentar valores de resistência e de desvio padrão um pouco maiores do que os de 150 mm x 300 mm. No entanto este valor deve ser pequeno, provavelmente na ordem de 3%. De acordo com um estudo realizado por Giammusso et al. (2000), existe uma equivalência entre os resultados dos ensaios com corpos-de- prova com dimensões 150 mm x 300 mm e 100 mm x 200 mm. Quando é realizado o ensaio de compressão o prato da prensa entra em contato com a superfície do topo do corpo-de-prova que, em virtude do processo de moldagem, apresenta imperfeições e não é perfeitamente plana. Nessas circunstâncias, surgem concentrações de tensões e a resistência é diminuída (ACI 363, 1991, Neville, 1997). Para evitar este problema é essencial que as superfícies sejam planas. O capeamento dos topos com argamassa de enxofre ou de cimento, o esmerilhamento das faces e o uso de capeamentos não aderentes, como placas de neoprene e caixa de areia, são os meios utilizados para tal finalidade. O capeamento com argamassa de enxofre (enxofre com cimento, areia quartzosa moída ou argila calcinada), desde que sua espessura seja menor que 2,0 mm, pela facilidade de aplicação, baixo custo, boa aderência e elevada resistência nas primeiras horas de idade, tem sido o método mais utilizado nos ensaios de compressão axial (Bucher e Rodrigues, 1983). Neville (1997) afirma que o capeamento com mistura de enxofre é satisfatório para concretos com resistência de até 100 MPa. Segundo Bucher e Rodrigues (1983), não há restrição para o uso do enxofre para níveis de resistência à compressão
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