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EFEITOS DO AR INCORPORADO NAS PROPRIEDADES DO ESTADO ENDURECIDO EM ARGAMASSAS DE CIMENTO E AREIA

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ANAIS DO 51º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2009 – 51CBC0000 1 
EFEITOS DO AR INCORPORADO NAS PROPRIEDADES DO ESTADO 
ENDURECIDO EM ARGAMASSAS DE CIMENTO E AREIA 
 
Effects of air-entrainment in properties in the state hardened of cement and sand 
mortars 
 
Narciso Gonçalves da Silva (1); Giovana Collodetti (2); Douglas Z. C. M. Pichetti (3); Philippe Jean 
Paul Gleize (4) 
 
(1) Professor Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFSC 
(2) Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFSC 
(3) Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC 
(4) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil, UFSC 
 
Rua João Pio Duarte Silva, s/n Córrego Grande, 88040-970, Caixa Postal 476, Florianópolis - SC 
 
Resumo 
 
Os aditivos incorporadores de ar vêm sendo utilizados para reduzir a quantidade de água de mistura em 
argamassas e concretos, bem como, para melhorar a trabalhabilidade. Porém, as melhorias destas 
propriedades provocam, no estado endurecido, a redução principalmente das resistências mecânicas. Com 
o objetivo de avaliar os efeitos da incorporação de ar em algumas propriedades no estado endurecido, 
foram produzidas cinco argamassas com traço 1 : 4 (cimento : areia), em volume, utilizando aditivo 
incorporador de ar em pó com os seguintes teores, em relação à massa de cimento: 0,05%, 0,10%, 0,15% e 
0,20%. Uma das argamassas foi utilizada sem aditivo como referência. No estado fresco foram 
determinados o índice de consistência (flow-table) e o teor de ar incorporado. No estado endurecido foram 
determinadas as resistências de compressão, de tração na flexão e de aderência, módulo de elasticidade 
dinâmico, densidade de massa, índice de vazios e absorção de água na idade de 28 dias. Após a 
determinação da resistência de aderência, foram coletadas amostras para análise microscópica. Os 
resultados mostraram que a incorporação de ar reduz o consumo dos materiais, a permeabilidade e 
também as resistências mecânicas das argamassas. 
 
Palavra-Chave: ar incorporado, aderência, argamassa, resistências. 
 
Abstract 
 
The air-entraining agents have been used to reduce the water for kneading and to improve the workability in 
mortars and concretes. However, the improvement of these properties causes mainly the mechanical 
strength reduction in the hardened state. With intention of evaluate the effects of air-entrainment in some 
properties in the hardened, five mortars were produced using the trace 1 : 4 (cement : sand), and air-
entraining powder additive contents of 0,05%, 0,10%, 0,15% and 0,20% in weight of cement. One mixture 
was made without additive, in order to be used as reference. The index of consistency (flow-table) and air-
entrained content were determined to the fresh state. The compressive strength, the flexural tensile strength, 
the adhesion strength, the dynamic elastic modulus, density, void index and water absorption were 
determined to the mortar on the hardened state, at 28 days. After the determination of adhesion strength, 
some samples were collected to microscope analysis. The results showed that the air-entrainment reduces 
the consumption of materials, the permeability and the mechanical strength of mortars. 
 
Keywords: air-entrained, adhesion, mortar, strengths. 
 
 
 
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1 Introdução 
Segundo Rixom e Mailvaganam citados por Alves (2002), os aditivos incorporadores de ar 
são, predominantemente, tensoativos aniônicos, os quais quando adicionados às pastas 
de cimentos, tendem a se adsorver nas partículas sólidas da pasta, através da sua parte 
polar (cabeça), com a parte apolar (cauda) voltada para a fase aquosa. Ainda segundo os 
autores, a formação das bolhas de ar é realizada pelos tensoativos que não foram 
adsorvidos e estão livres na fase aquosa que, sob agitação, formam bolhas de ar 
microscópicas estáveis, resultantes da aglutinação das partes apolares (cauda) dos 
tensoativos. 
Os aditivos incorporadores de ar são utilizados para melhorar a trabalhabilidade de 
concretos e argamassas, e vêm sendo usados também para reduzir a quantidade de água 
de mistura destes materiais. A melhora na trabalhabilidade contribui para o aumento da 
área de contato entre argamassa e substrato (POLITO et al., 2008). Porém, com a 
incorporação de ar, o compósito apresenta redução de algumas propriedades no estado 
endurecido, como as resistências mecânicas. Outro elemento tradicionalmente utilizado 
para melhorar a trabalhabilidade de argamassas é a cal, mas esta também oferece 
desvantagens, como a redução da resistência de aderência de argamassas de 
revestimento (CASALI et al., 2003; POLITO et al., 2008). Polito et al. (2008) também 
observaram que a etringita é o principal componente responsável pela aderência da 
argamassa ao substrato, e a adição da cal faz com que parte da interface seja composta 
por hidróxido de cálcio, o que diminui a resistência na região. 
Monte et al. (2003) alertaram para a necessidade de se controlar as propriedades das 
argamassas de revestimento que fazem uso de aditivo incorporador de ar, dadas as 
variabilidades dos efeitos para os diferentes produtos disponíveis no mercado, aliadas às 
diferentes composições possíveis para uma argamassa. Os autores sugerem o controle 
do teor de ar incorporado através da análise da densidade de massa no estado fresco, em 
substituição aos procedimentos sugeridos em normas vigentes. 
Li et al. (2006) encontraram uma forte relação entre porosidade e resistência à 
compressão de pastas de cimento, com uso de aditivos minerais, como escória de auto-
forno e cinza volante. Segundo seus estudos, a relação sugerida pela equação de Balshin 
relaciona bem os resultados encontrados. 
Os métodos de ensaio de aderência prescritos em algumas normas brasileiras foram 
comparadas por Cunha Junior et al. (2006), que utilizaram dois substratos diferentes e 
amostras com três formatos e dimensões diferentes, além de cortes a seco e sobre o 
material úmido. Os autores obtiveram evidências de que o corte a seco pode fragilizar as 
amostras e dificultar o corte correto. As amostras de maior área apresentaram resultados 
mais uniformes, e a porosidade do substrato contribuiu para o aumento da resistência de 
aderência da argamassa, devendo o substrato receber chapisco no caso de baixa 
porosidade. 
A determinação do módulo de elasticidade das argamassas pelo método dinâmico 
utilizando o ultra-som foi adotada por permitir procedimentos simples, rápido e não 
destrutível, comparado com o método estático. Este método tem sido utilizado 
satisfatoriamente por vários pesquisadores. Silva et al. (2008) verificaram boa relação 
entre velocidade do pulso ultra-sônico com o módulo de elasticidade e resistência à 
compressão de concretos feitos em central, para idades diferentes. Também Silva e 
 
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Campiteli (2008) correlacionaram o módulo de elasticidade obtido através da propagação 
da onda ultra-sônica com as resistências mecânicas em argamassas de cimento, cal e 
areia. Monte et al. (2007) analisaram a variação do módulo de elasticidade e da 
resistência mecânica de argamassas com a variação do teor de ar incorporado, e 
verificaram uma queda de ambas as propriedades com o aumento do teor de ar 
incorporado. 
Neste trabalho foi avaliada a influência da adição de aditivo incorporador de ar nas 
propriedades do estado endurecido em argamassas de cimento e areia no traço 1 : 4, em 
volume, variando a dosagem de aditivo. Utilizaram-se procedimentos sugeridos em 
normas atuais para realização dos ensaios. 
 
2 Materiais e métodos 
1.1 Materiais 
Na produção das argamassas foi utilizado cimento Portland CPII Z 32, areia fina, aditivo 
incorporador de ar em pó a basede lignosulfonato de cálcio e água destilada da rede de 
distribuição pública da cidade de Florianópolis-SC. As características químicas e físicas 
do cimento e da areia são apresentadas nas tabelas 1 e 2. A figura 1 apresenta a 
distribuição granulométrica da areia. 
 
Tabela 1 – Caracterização química do cimento CPII Z 32. 
 
 
Tabela 2 – Caracterização física do cimento e da areia. 
Característica Cimento Areia 
Massa unitária (kg/m³) – NBR 7251 (ABNT, 1982) 976 1394 
Massa específica (kg/m³) – NBR NM 23 (ABNT, 2001) 2923 2655 
Teor de material pulverulento (%) – NBR 7219 (ABNT, 1982) - 1,54 
 
 
Figura 1 – Distribuição granulométrica da areia segundo a NBR 7211 (ABNT, 2005). 
Análise química (%) 
SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO K2O Na2O SO3 CO2 
Resíduo 
insolúvel 
Perda 
ao fogo 
22,91 7,25 3,18 52,29 5,56 1,04 0,18 2,82 4,23 12,91 4,97 
 
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1.2 Metodologia 
Foram preparadas cinco argamassas no traço em volume 1 : 4 (cimento : areia), 
convertidos para o traço em massa (1 : 5,71) utilizando as massas unitárias do cimento e 
da areia. Utilizaram-se os seguintes teores de aditivo incorporador de ar, em relação à 
massa de cimento: 0,00%, 0,05%, 0,10%, 0,15% e 0,20%. A água foi adicionada à 
mistura até obter o índice de consistência na mesa flow-table de (250±10) mm. 
As misturas foram preparadas seguindo os procedimentos da NBR 13276 (ABNT, 2005) 
em argamassadeira de 5 litros. Foram moldados corpos-de-prova de 4x4x16 cm, os quais 
foram mantidos pelo período de 28 dias em sala climatizada com temperatura de 
(23±2)ºC e umidade relativa de (60±5)%. Para a determinação da resistência potencial de 
aderência à tração foram moldados substratos-padrão mantidos também em sala 
climatizada na posição horizontal até a data de ensaio. Amostras de cada argamassa 
foram coletadas para análise através de microscopia eletrônica de varredura na idade de 
28 dias. 
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) da 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Florianópolis-SC. A tabela 3 
apresenta os ensaios realizados com as respectivas normas e número de amostras. 
 
Tabela 3 – Ensaios realizados, normas e número de amostras. 
Ensaios Norma N
o
 de amostras 
Índice de consistência 13276 (ABNT, 2005) 3 
Teor de ar incorporado 13278 (ABNT, 2005) 3 
Absorção de água e índice de vazios 9778 (ABNT, 2006) 3 
Densidade de massa aparente no estado 
endurecido 
13280 (ABNT, 2005) 3 
Resistência à tração na flexão 13279 (ABNT, 2005) 3 
Resistência à compressão 13279 (ABNT, 2005) 6 
Resistência potencial de aderência à tração 15258 (ABNT, 2005) 10 
Coeficiente de capilaridade 15259 (ABNT, 2005) 3 
Módulo de elasticidade dinâmico 15630 (ABNT, 2008) 6 
 
3 Resultados e discussão 
A tabela 4 apresenta o consumo dos materiais e o índice de consistência obtido na mesa 
flow-table. 
 
Tabela 4 – Consumo de materiais e índice de consistência (I.C.). 
Arg Consumo (kg/m³) 
I.C. 
(mm) Cimento Areia Aditivo Água 
IAR 0.00 236,80 1352,70 0,00 381,50 258 
IAR 0.05 214,10 1223,30 0,11 287,50 260 
IAR 0.10 199,80 1141,50 0,20 241,50 251 
IAR 0.15 192,10 1097,40 0,29 219,30 248 
IAR 0.20 190,80 1089,90 0,38 205,00 246 
 
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Com a densidade de massa no estado fresco medida para cada argamassa e com a 
massa específica do cimento e da areia obteve-se o teor de ar incorporado que estão 
apresentados na figura 2. 
 
2,78
17,16
24,39
28,82
31,30
0
5
10
15
20
25
30
35
IAR 0.00 IAR 0.05 IAR 0.10 IAR 0.15 IAR 0.20
Argamassa
Te
or
 d
e 
ar
 in
co
rp
or
ad
o 
(%
)
 
Figura 2 – Teor de ar incorporado. 
 
Observa-se que uma pequena adição de aditivo proporcionou um aumento considerável 
de ar incorporado na argamassa IAR 0.05, com relação à argamassa de referência IAR 
0.00. Esta diferença passa ser menos acentuada com os acréscimos constantes do teor 
de aditivo nas argamassas seguintes. 
A incorporação de ar pela adição de aditivo proporcionou aumento da trabalhabilidade no 
estado fresco, com redução de consumo de água para obter a mesma consistência, como 
pode ser observado nos resultados da tabela 4. 
 
A figura 3 apresenta os resultados da densidade de massa aparente no estado 
endurecido que é a razão entre massa e volume do prisma 4x4x16 cm, medida aos 28 
dias de idade. 
 
0
500
1000
1500
2000
IAR 0.00 IAR 0.05 IAR 0.10 IAR 0.15 IAR 0.20
Argamassa
De
ns
id
ad
e 
de
 m
as
sa
 
(k
g/
m
³)
 
Figura 3 – Densidade de massa aparente no estado endurecido. 
 
 
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Com a incorporação de ar ocorre redução do consumo de materiais conforme mostra a 
tabela 4, o que reduz significativamente a densidade de massa. 
 
O ensaio para obtenção da absorção de água e índice de vazios foi realizado utilizando os 
procedimentos da NBR 9778 (ABNT, 2006) através da imersão dos corpos-de-prova em 
água pelo período de 64 horas e em seguida após fervura por 5 horas. Os resultados 
médios estão apresentados nas tabelas 5 e 6. 
 
Tabela 5 – Resultados médios da absorção de água. 
Argamassa 
Absorção de água após imersão Absorção de água após fervura 
Média (%) DP (%) CV (%) Média (%) DP (%) CV (%) 
IAR 0.00 15,05 0,47 3,13 17,11 0,49 2,85 
IAR 0.05 14,63 0,03 0,20 24,64 0,20 0,80 
IAR 0.10 13,78 0,08 0,54 28,17 0,09 0,33 
IAR 0.15 13,19 0,02 0,12 28,19 0,78 2,77 
IAR 0.20 13,51 0,24 1,77 32,85 1,01 3,08 
DP = desvio-padrão e CV = coeficiente de variação 
 
 
Tabela 6 – Resultados médios do índice de vazios. 
Argamassa 
Índice de vazios após imersão Índice de vazios após fervura 
Média (%) DP (%) CV (%) Média (%) DP (%) CV (%) 
IAR 0.00 26,98 0,70 2,59 31,44 0,97 3,09 
IAR 0.05 22,57 0,10 0,45 38,59 0,21 0,54 
IAR 0.10 19,66 0,07 0,38 40,49 0,16 0,40 
IAR 0.15 18,15 0,10 0,55 39,89 0,89 2,24 
IAR 0.20 18,20 0,32 1,75 44,68 0,94 2,10 
 
Observando os resultados das tabelas 5 e 6, constata-se que a absorção de água e o 
índice de vazios para a argamassa de referência IAR 0,00 apresentaram maiores 
resultados que as argamassas com maior teor de ar incorporado, nos ensaios em que os 
corpos-de-prova apenas foram imerso em água. Porém, após a fervura por 5 horas, 
ocorreu o que seria esperado, ou seja, argamassas com maior teor de ar incorporado 
apresentaram maiores absorção de água e índice de vazios. Conclui-se então que apenas 
submergindo os corpos-de-prova em água não é suficiente para que ocorra a penetração 
da água no interior das microbolhas de ar, havendo necessidade de utilizado de uma 
técnica mais incisiva que a imersão, como vácuo ou fervura, por exemplo. 
A redução da densidade de massa aparente no estado endurecido das argamassas com 
maiores concentrações de aditivo pode ser confirmada pelo aumento do volume de vazios 
após a fervura, conforme mostra a figura 4. 
 
 
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Figura 4 – Correlação linear entre densidade de massa aparente no estado endurecido e índice de vazios 
após fervura por 5 horas. 
 
A permeabilidade da argamassa na idade de 28 dias pode ser avaliada utilizando o 
coeficiente de capilaridade obtido através da absorção da água em função do tempo. 
Neste ensaio, os corpos-de-prova são colocados em contato com uma lâmina de água de 
5 mm de altura, conforme prescreve a NBR 15259 (ABNT, 2005). Os resultados médios 
do coeficiente de capilaridade para cada argamassa estão apresentados na figura 5. 
 
18,4
19,5
17,0
14,3
12,2
0,0
4,0
8,0
12,0
16,0
20,0
24,0
IAR 0.00IAR 0.05 IAR 0.10 IAR 0.15 IAR 0.20
Argamassa
Co
ef
ici
en
te
 d
e 
ca
pi
lar
id
ad
e (
g/
dm
²m
in
½)
 
Figura 5 – Coeficiente de capilaridade na idade de 28 dias. 
 
O aumento do teor de aditivo nas argamassas foi acompanhado da redução do 
coeficiente de capilaridade. As bolhas microscópicas de ar presentes no interior das 
argamassas dificultaram a ascensão da água, pois elas provocam a desconexão dos 
capilares, fato já constatado por Hanzic e Ilic (2003) em estudos realizados com concreto. 
 
Na idade de 28 dias foram rompidos os prismas 4x4x16 cm para determinação da 
resistência à tração na flexão, de acordo com a norma NBR 13279 (ABNT, 2005). Com a 
metade de cada prisma foi determinada a resistência à compressão de acordo com a 
 
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mesma norma. A figura 6 apresenta os resultados médios das resistências à compressão 
e à tração na flexão. 
 
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
IAR 0.00 IAR 0.05 IAR 0.10 IAR 0.15 IAR 0.20
Argamassa
Re
su
lta
do
 (M
Pa
)
Resistência à
compressão
Resistência à tração
na flexão
 
 
Figura 6 – Resultados médios das resistências à compressão e à tração na flexão e ilustração do ensaio. 
 
Observa-se um comportamento diferente dos resultados quando se compara a IAR 0.00 
com a IAR 0.05 e esta com as demais. Para o primeiro caso, ocorre pequeno acréscimo 
na resistência à compressão da argamassa IAR 0.05 em relação à argamassa IAR 0.00 e 
uma redução significativa na resistência à tração na flexão. Analisando-se apenas as 
argamassas com aditivos, observa-se uma redução considerável da resistência à 
compressão com o aumento do teor de aditivo, não acompanhada de redução expressiva 
da resistência à tração na flexão. Constatou-se uma pequena dispersão nos resultados 
das duas resistências. 
 
Na realização do ensaio de resistência de aderência à tração foi utilizado substrato-
padrão adquirido da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Foram realizados 
10 arrancamentos na idade de 28 dias, em pastilhas de 5 cm de diâmetro, conforme 
prescreve a NBR 15258 (ABNT, 2005). A figura 7 apresenta os resultados médios da 
resistência de aderência com suas respectivas dispersões. A dispersão dos resultados foi 
acentuada, devido às diversas formas de rupturas. 
 
 
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0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
IAR 0.00 IAR 0.05 IAR 0.10 IAR 0.15 IAR 0.20
Argamassa
R
es
itê
nc
ia
 d
e 
ad
er
ên
ci
a 
à 
tr
aç
ão
 
(M
Pa
)
 
 
Figura 7 – Resultados da resistência de aderência à tração e imagem do equipamento utilizado. 
 
A redução das resistências de aderência ocorreu de forma similar ao ocorrido com a 
resistência à tração na flexão. Apesar das reduções das resistências mecânicas, as 
argamassas IAR 0.05 e IAR 0.10 podem ser utilizadas para assentamento de alvenaria 
não estrutural e inclusive para revestimento de argamassa, pois apresentaram resistência 
de aderência superior à 0,20 MPa, que é a exigência mínima da norma NBR 13749 
(ABNT, 1996) para revestimentos de paredes internas e tetos. 
 
O módulo de elasticidade das argamassas foi determinado pelo método dinâmico 
utilizando o ultra-som com corpos-de-prova 4x4x16 cm na idade de 28 dias. As 
superfícies das duas extremidades dos corpos-de-prova eram planas e limpas, e utilizou-
se vaselina para garantir constância da área de contato. A figura 8 apresenta os 
resultados médios do módulo de elasticidade e as respectivas dispersões. 
 
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
9,00
IAR 0.00 IAR 0.05 IAR 0.10 IAR 0.15 IAR 0.20
Argamassa
M
ód
ul
o 
de
 e
la
st
ic
id
ad
e 
(G
Pa
)
 
 
Figura 8 – Resultados médios do módulo de elasticidade dinâmico e imagem do aparelho de ultra-som. 
 
Existe uma correlação entre o módulo de elasticidade e as resistências mecânicas das 
argamassas avaliadas, fato já observado por Silva e Campiteli (2008). A redução das 
resistências mecânicas provoca a redução do módulo de elasticidade, como pode ser 
 
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constatado nas figuras 6, 7 e 8. A redução do módulo de elasticidade é um fator benéfico 
para as argamassas, tanto de assentamento como de revestimento de paredes, pois 
quanto menor o módulo, maior é a capacidade de deformação da argamassa, reduzindo 
assim a possibilidade de ocorrer fissuração no estado endurecido. 
 
Amostras de cada argamassa foram coletadas do revestimento utilizado no ensaio de 
aderência à tração para análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV), na idade 
de 28 dias. As amostras foram previamente impregnadas com resina epóxi para proteger 
sua estrutura, utilizando bomba de vácuo, e então polidas para permitir visualização da 
superfície. A figura 9 apresenta as imagens obtidas. 
 
 
 
(a) 
 
(b) 
 
 
(c) 
 
(d) 
 
 
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(e) 
 
Figura 9 – Imagens obtida por MEV. (a) IAR 0.00; (b) IAR 0.05; (c) IAR 0.10; (d) IAR 0.15; (e) IAR 0.20 
 
As micro bolhas de ar nas imagens estão representadas pelas regiões preenchidas com 
resina (figura 9b). Possivelmente as áreas mais escuras no interior de algumas bolhas de 
ar são regiões onde a resina não conseguiu penetrar, ou não houve tempo suficiente para 
isso acontecer antes que ela endurecesse. Isso explica a ocorrência de muitos vazios 
dentro das micro bolhas de ar parcialmente preenchidas com resina. 
Na amostra sem aditivo incorporador de ar (IAR 0.00) também é possível observar a 
ocorrência de micro bolhas arredondadas, que correspondem ao ar aprisionado devido ao 
processo de mistura dos materiais. Ao se analisar a imagem da argamassa IAR 0.05 é 
possível observar a ocorrência de uma quantidade maior de micro bolhas de ar em 
relação à argamassa IAR 0.00, sendo que essa quantidade cresce com o aumento de teor 
de aditivo. 
As dimensões das partículas observadas sobre a superfície plana da amostra não são 
representativas, visto que a secção visualizada pode não interceptar as partículas pelo 
seu diâmetro. Apesar disso, acredita-se que as bolhas de ar incorporado apresentam 
dimensões distintas dentro de uma mesma amostra. 
Com o aumento do teor de aditivo nas argamassas, reduziram a absorção de água, o 
índice de vazios após imersão sem fervura e o coeficiente de capilaridade (tabela 5, 6 e 
figura 5, respectivamente). Segundo Hanzic e Ilic (2003), a ascensão capilar da água é 
dificultada pela desconexão dos capilares provocada pelas bolhas de ar, fato que pode 
ser constatado observando as imagens da figura 9. 
Outro fator relevante que foi constatado é que as micro bolhas de ar presentes na 
argamassa IAR 0.05 têm em média dimensões maiores que as encontradas nas demais 
argamassas aditivadas. Provavelmente isso ocorreu devido à menor quantidade de aditivo 
para a formação dessas bolhas de ar. Nas argamassas com maiores teores de aditivo 
possivelmente ocorreu o contrário: como a quantidade de ar incorporado é determinada 
pelo tempo de agitação, o acréscimo da quantidade de aditivo não foi acompanhada na 
mesma proporção que a formação das micro bolhas de ar, o que determinou uma 
quantidade maior de bolhas microscópicas com dimensões reduzidas. 
 
 
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4 Conclusões 
O uso de aditivo incorporador de ar em argamassas para revestimento proporciona maior 
trabalhabilidade ao material no estado fresco, bem como redução do consumo de 
materiais. Esses fatores contribuíram para a redução doconsumo de água da mistura, 
provocando a redução da capilaridade e da densidade de massa aparente no estado 
endurecido. Porém as resistências à compressão, à tração na flexão e de aderência à 
tração bem como o módulo de elasticidade dinâmico diminuíram com o aumento dos 
teores de aditivo incorporador de ar. 
O ensaio para avaliação da absorção de água e índice de vazios por imersão dos corpos-
de-prova em água pelo período de 64 horas não é representativo, havendo necessidade 
de aplicação de vácuo ou fervura da água para ocorrer a completa saturação da amostra. 
Utilizando-se de aditivos incorporadores de ar é possível produzir argamassas de modo a 
reduzir a permeabilidade à água e aos gases, pois as micro bolhas de ar provocam a 
desconectividade dos capilares, comprovado pelos resultados dos ensaios que 
demonstraram a dificuldade de penetração de água e de resina epóxi no interior das micro 
bolhas. 
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) para as análises de imagem de argamassas 
com ar incorporado mostrou ser uma ferramenta adequada para avaliação das dimensões 
e concentração das bolhas microscópicas de ar no interior das argamassas. 
Otimizando o teor de aditivo, de modo a obter o teor de ar incorporado ideal com o menor 
consumo de água possível, a fim que seja produzida argamassas trabalháveis, e com 
desempenhos satisfatórios de permeabilidade e resistências mecânicas, é possível 
reduzir o consumo de cimento e, conseqüentemente, o custo final da produção da 
argamassa. 
 
5 Referências 
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211: Agregados 
para concreto - especificação. Rio de Janeiro, 1985. 
 
_____. NBR 7219: Determinação do teor de materiais pulverulentos nos agregados. Rio 
de Janeiro, 1982. 
 
_____. NBR 7251: Agregados em estado solto – determinação de massa unitária. Rio de 
Janeiro, 1982. 
 
_____. NBR 9778: Argamassa e concreto endurecidos – Determinação da absorção de 
água, indice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, 2006. 
 
_____. NBR 13276: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
Preparo da mistura e determinação do índice de consistência. Rio de Janeiro, 2005. 
 
_____. NBR 13278: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
determinação da densidade de massa e do teor de ar incorporado. Rio de Janeiro, 2005. 
 
 
ANAIS DO 51º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2009 – 51CBC0000 13 
_____. NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005. 
 
_____. NBR 13280: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido. Rio de Janeiro, 
2005. 
 
_____. NBR 13749: Revestimentos de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – 
especificações. Rio de Janeiro, 1996. 
 
_____. NBR 15258: Argamassa para revestimento de paredes e tetos – determinação da 
resistência potencial de aderência à tração. Rio de Janeiro, 2005. 
 
_____. NBR 15259: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade. Rio 
de Janeiro, 2005. 
 
____. NBR 15630: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – 
determinação do módulo de elasticidade dinâmico através da propagação de onda ultra-
sônica. Rio de Janeiro, 2008. 
 
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