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Obesidade Infantil: Muito Além do Peso

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Com o advento da alimentação saudável e da vida fitness é possível que vejamos alguma mudança maior nos próximos anos, mas enquanto isso não acontece, vamos estimular em cada um de nós, principalmente em nossas crianças, um hábito mais saudável de vida. Não é que precise parar de consumir, só é preciso fazê-lo conscientemente e aliado a outras práticas saudáveis de vida, principalmente os esportes.
O documentário "Muito além do peso" (Brasil, 2012), dirigido por Estela Renner e apoiado pelo Instituto Alana, foi exibido em três sessões da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e entra em cartaz em novembro. Ao apontar que, devido à epidemia de obesidade infantil, pela primeira vez na história crianças apresentam sintomas de doenças de adultos, como problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo 2, seus idealizadores propõem elucidar o papel e o envolvimento do governo, dos pais, das escolas e da publicidade na temática.
Tendo em vista que cerca de um terço das crianças brasileiras apresenta excesso de peso, a obesidade infantil é, sem dúvida, um problema de saúde pública que merece uma abordagem ampla e interdisciplinar na discussão de suas causas e consequências. Para dar conta dessa missão nada simples, "Muito além do peso" conta com uma série de depoimentos de especialistas do Brasil e do exterior em variadas áreas do conhecimento, além de uma extensa lista de profissionais consultados para elaboração do material exibido no documentário, e apresenta casos de obesidade infantil provenientes de diversas regiões do nosso país.
Em resumo, o filme contextualiza de forma louvável aspectos importantes da dinâmica político-econômica na obesidade infantil. Com espírito crítico, expõe a influência gigantesca e desleal da indústria de alimentos e bebidas em decisões do governo e também no dia-a-dia da população, a polêmica questão da publicidade voltada ao público infantil, a falta de educação nutricional aliada ao excesso de produtos processados presente na merenda escolar, a falta de segurança pública necessária para prática de atividades físicas, a quantidade alarmante de horas gastas em frente à TV e, ainda, a dificuldade de acesso físico a alimentos mais saudáveis. Em manobra semelhante a uma campanha recente da prefeitura de Nova Iorque (EUA), as quantidades de açúcar e gordura existentes em vários alimentos industrializados são apresentadas a alguns entrevistados, causando grande impacto negativo. Fica clara a confusão existente no entendimento da população geral sobre os termos usados nos rótulos de alimentos industrializados, principalmente quando consideramos a perigosa lacuna existente entre o anúncio de "benefícios nutricionais" e a tal "propriedade intelectual" das empresas sobre as fórmulas de seus produtos. Alinhado ao embate na preferência das crianças a alimentos ultra-processados e ultra-sedutores em relação às opções por vezes desconhecidas de frutas e hortaliças, são feitos questionamentos ótimos como os exemplos citados a seguir*: 
- "Você deixaria seu filho aos cuidados de um cara com MBA em Harvard durante a tarde? Talvez não? Porque é exatamente isso que fazemos ao deixá-los em frente à TV";
- "Matemática e ciências podem não ser usadas diariamente, mas certamente comemos todos os dias e não somos educados para isso";
- "'Néctar de frutas': você não imagina que essa seria a parte mais pura possível da fruta? Quando, na verdade, essas bebidas contêm 10% de fruta". 
Passagens como estas são parte da reflexão – ou, quem sabe, do chacoalhão – que o documentário pretende construir ao nos convidar a esfregar os olhos para enxergar além de "bons e velhos" argumentos de um "mundo globalizado". Mundo este em que a lógica da produtividade, a necessidade sem medidas por praticidade e a falta de tempo para tudo parecem comprometer nossa cultura alimentar e, consequentemente, nosso estado nutricional de forma progressiva, mas com aquele gostinho confuso de "abrir a felicidade" das bebidas açucaradas (mais em: http://www.youtube.com/watch?v=myxwCEGcBYc).
Alternando-se entre questões mais distais e questões individuais presentes no espectro de fatores envolvidos na obesidade infantil, "Muito além do peso" também entrevista algumas crianças, identificando-as com seu nome, sua idade e as complicações resultantes da condição de excesso de peso. Entre filmagens que captam momentos de birra por batatinhas fritas até depoimentos de crianças que decidiram emagrecer, o documentário não consegue, contudo, se aprofundar satisfatoriamente em questões psicossociais da obesidade, mesmo com verdadeiras pérolas que saem de falas das crianças participantes. Existe um corpo contudente de evidências científicas que associa obesidade a baixa auto-estima, problemas de personalidade, insatisfação corporal, estresse psicológico elevado, entre outros. No filme, o melhor exemplo é o de uma menina com sobrepeso que relata que sua família faz orações todos os dias pedindo para que não faltem refeições. Na sequência, perguntam se, na opinião dela, falta alguma coisa em sua vida. Com doçura, ela balança a cabeça negativamente e, olhando para baixo, fala: "Falta sentido". SÓ falta sentido.
Assim, apesar de prover subsídio para pensarmos mais a fundo no contexto político-econômico da obesidade, falta tempo e/ou espaço e um pouco de sensibilidade no documentário para uma discussão mais justa sob a luz do complexo indivíduo-cultura-comida. Questões mais proximais ao problema deveriam ser entendidas como algo tão importante quanto a possibilidade de medidas regulatórias para o combate à obesidade, especialmente quando vivenciamos uma escalada de atitudes preconceituosas e discriminatórias contra indivíduos obesos partindo de qualquer lado, a exemplo do médico, profissional de saúde teoricamente capacitado, que recentemente receitou cadeados a uma paciente com dificuldades para emagrecer (para saber mais: 
* A presente resenha se propõe a discutir, de forma geral e aberta, as contribuições do documentário "Muito além do peso", a partir de impressões obtidas após sessão exibida em 21/10/2012, durante a 36ª Mostra. Trechos citados entre aspas e itálico estão em termos genéricos e não têm a intenção de retratar com total acurácia falas e diálogos apresentados no filme. Recomendamos que os interessados assistam ao documentário.
= O documentário “Muito além do peso” (Brasil, 2012), dirigido por Estela Renner e apoiado pelo Instituto Alana, aponta a pandemia de obesidade infantil, suas conseqüências como as doenças crônicas precoces e a falta de informação dos pais acerca dos alimentos que estão ofertando aos seus filhos.
=Além disso, uns dos pontos mais explorados pelo documentário são a alta ingestão de açúcar pelas crianças e a enorme influência da mídia e das indústrias de alimentos nas famílias contemporâneas.
André, o seu ponto de vista é pertinente, afinal, você deve ser um pai cuidadoso. Por outro lado, qual propaganda não engana — ao menos em grande parte –, nem que seja em um ‘detalhezinho’? Sabe-se que a publicidade (maketing, propaganda, enfim) tem como um de seus objetivos induzir o consumo daquilo que não é uma necessidade imediata. Roupas, carros, cosméticos, eletrônicos, cartões de crédito, medicamentos, e toda uma gama de bens e serviços que potencializam o consumismo que existe (muito ou pouco) em toda pessoa. Sou pela regulamentação do horário em que essas mensagens (no caso dos refrigerantes e guloseimas) são veiculadas, nunca pela proibição. Se formos levar esse caso ao pé da letra, conforme defini no início, só irá restar publicidade governamental para encher o bucho da criançada! Se é para controlar o consumo desses alimentos por parte das crianças, que se comece a pensar em educar os pais delas, acredito é neles que elas se espelham.

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