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FACULDADE DO VALE DO JAGUARIBE – FVJ BACHARELADO EM DIREITO JOSÉ RIBAMAR DE LIMA A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: DA PRISÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO ARACATI – CE 2016 JOSÉ RIBAMAR DE LIMA A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: DA PRISÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Me. José Evandro Alencar Correia. ARACATI-CE 2016 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha elaborada pela Biblioteca Dr. Salomão Mussolini Pinheiro Maia Lima, José Ribamar de L544i A (in) constitucionalidade da Decisão do Supremo Tribunal Federal: da Prisão Antes do Trânsito em Julgado / José de Ribamar Lima. – Aracati: Faculdade do Vale do Jaguaribe, 2016. 56 f.: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). – Faculdade do Vale do Jaguaribe. Aracati. – Curso Direito Orientador (a): Prof. Me. José Evandro Alencar Correia 1. Supremo Tribunal Federal 2. Acórdão 3. Presunção de Inocência I. Título II. Faculdade Vale do Jaguaribe III. Lima, José Ribamar de. CDD 345 JOSÉ RIBAMAR DE LIMA A (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: DA PRISÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO Monografia apresentada ao Curso de Direito, da Faculdade do Vale do Jaguaribe, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Aprovada em 12/12/2016. BANCA EXAMINADORA Prof. Me. José Evandro Alencar Correia Orientador – FVJ Prof. Me. Luiz Rogério da Silva Damasceno Examinador – FVJ Prof. Esp. Edilson Monteiro de Albuquerque Neto Examinador - FVJ AGRADECIMENTOS A Deus, que sempre esteve presente, sem o qual não teria conseguido alcançar meu objetivo. Aos amigos, que sempre incentivaram meus sonhos e estiveram sempre ao meu lado. Aos meus colegas de classe e demais formandos pela amizade e companheirismo que recebi. A minha mãe Beatriz que, embora sendo uma pessoa simples e sem instrução, sempre se esforçou para me dá educação. Aos meus irmãos Francisca, Antônio, João Manuel e Maria do Socorro. A minha esposa Maria que esteve sempre ao meu lado me apoiando e encorajando nos momentos difíceis. A minha filha Maria Eduarda, por quem eu tenho maior amor e carinho. Ao Prof.° José Evandro Correia Alencar, que me acompanhou, transmitindo-me tranquilidade. O verdadeiro vencedor não é aquele que chega em primeiro lugar, mas sim aquele que foi determinado para conquistar a vitória, seja qual fôr, e o seu objetivo. Manuel Lima RESUMO Este trabalho pretende analisar a decisão do Supremo Tribunal Federal, que no dia 17 de fevereiro de 2016, o pleno do Supremo Tribunal Federal colocou em julgamento o habeas Corpus nº 126.292 de relatoria do ministro Teori Zavascki , onde o mesmo afirmou que “ A execução de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não viola o principio constitucional da presunção de inocência” . Foi decidido por sete votos a quatro que o acusado mesmo em sede de recurso, pode desde logo cumprir a pena preso, mesmo antes de se esgotar todos os recursos permitidos. E também será analisada e comparada a decisão anterior do dia 05/02/2009 de relatoria do ministro Eros Grau no julgamento do Habeas Corpus nº 84.078 Minas Gerais, que não autorizava a prisão de um acusado se não houvesse trânsito em julgado de decisão condenatória. Esse acórdão condenatório será analisado a luz dos princípios constitucionais, doutrina, jurisprudência e tratados internacionais, para se verificar se fere ou não os princípios garantidores da aplicação de uma lei justa. Antes de adentrar na decisão de acórdão condenatório do Supremo Tribunal Federal falaremos do Estado sendo aquele que pune e controla as ações do homem e em seguida será dado conceito de Direito Penal, bem como a função social do Direito Penal, também discutiremos a aplicação da lei penal e sua natureza jurídica e seus fundamentos e entraremos nos princípios e garantias fundamentais, para então discutir o julgado do Supremo Tribunal Federal que julga procedente a prisão do acusado mesmo antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória. PALAVRAS - CHAVES: Supremo Tribunal Federal; Acórdão; Presunção de Inocência. ABSTRACT This work intends to analyze the decision of the Federal Supreme Court, that on February 17, 2016, the Federal Supreme Court sentenced Judge Teori Zavascki habeas Corpus No. 126,292, where he stated that "The execution of A criminal conviction issued in an appeal, even if subject to a special or extraordinary appeal, does not violate the constitutional principle of the presumption of innocence " It has been decided by seven votes to four that the accused, even on appeal, can from the outset serve the prison sentence, even before exhausting all the resources allowed. And it will also be analyzed and compared the previous decision of 05/02/2009 of the report of the Minister Eros Grau in the judgment of Habeas Corpus Nº. 84.078 Minas Gerais, which did not authorize the arrest of an accused if there was no final decision Conviction. This condemnatory judgment will be examined in the light of constitutional principles, doctrine, jurisprudence and international treaties, in order to verify whether it violates the principles guaranteeing the application of a just law. Before entering the decision of conviction of the Federal Supreme Court we will speak of the State being the one that punishes and controls the actions of the man and then will be given concept of Criminal Law, as well as the social function of Criminal Law, we will also discuss the application of the law Criminal and its legal nature and its foundations and we will enter into the principles and fundamental guarantees, to then discuss the judgment of the Federal Supreme Court that deems the arrest of the accused to proceed even before the end verdict of conviction. KEYWORDS: Federal Court of Justice; Judgment; Presumption of Innocence. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 10 2 O ESTADO QUE PUNE....................................................................13 2.1 O Estado Representante do Povo..................................................... 14 2.2 Conceituando o Direito Penal............................................................ 16 2.3 A Função Social do Direito Penal...................................................... 19 2.4 Da Aplicação da Lei Penal................................................................ 20 2.5 A Natureza Jurídica da Pena............................................................. 28 2.6 Fundamentos da Pena....................................................................... 30 3 PRINCIPIOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS............................... 33 3.1 Princípios Fundamentais.................................................................... 33 4 O JULGADO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL...................................... 38 4.1 Da Importância das Medidas Cautelares........................................... 48 4.2 A Decisão Anterior............................................................................. 49 4.3 Os Votos Contrários................................................................................................... 53 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 55 REFERÊNCIAS.................................................................................. 56 10 1 INTRODUÇÃO Pesquisar, identificar e conhecer as diversas discussões jurídicas, jurisprudenciais e doutrinárias, a respeito do tema, além dos diversos institutos pátrios, para que se possa avaliar a compreensão dessa decisão do Supremo Tribunal Federal, se fere ou não o princípio da presunção de inocência e da culpabilidade. Tentar mostrar através dos diversos institutos se é possível ou não que seja autorizada a prisão do acusado quando o acórdão, ou seja, uma decisão tomada por um colegiado confirmar a decisão de primeira instância, autorizando de imediato o cumprimento da execução da pena, sem esperar pelo esgotamento dos recursos, especial ou extraordinário. Talvez o Supremo Tribunal Federal tenha tomado essa decisão para dá uma resposta para a população que não acreditva mais na justiça e nos órgãos públicos de controle, o povo não aguentava mais ver tantos acusados de crimes, após serem julgados e condenados em primeiras e segundas instâncias sairem como se não houvesse punição? Seria essa a impressão que a sociedade estava tendo e por isso o Supremo Tribunal Federal resolveu mudar sua jurisprudência anterior que não permitia que um acusado fosse preso antes que ocorresse o trânsito em julgado e passou a admitir a execução da pena mesmo estando o processo em sede de recurso? Certamente essa decisão irá causar muitas discussões e provocar muitas manifestações contrárias e a favor no meio juridico. Tanto a Constituição Federal de 1988, quanto a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) de 1969, discorrem sobre a liberdade da pessoa, uma vez esse direito seja violado deve o ofendido procurar através dos meios que lhe garantem a defesa de seus direitos, que são os recursos. Pois a liberdade é algo que não pode ser retirada de uma pessoa sem que sejam esgotados todos os procedimentos cabivéis, para só então pensar em encarcerar um individuo sem cometer uma injustiça. Nesse entendimento posiciona-se o artigo 5º, LVII da Constituição Federal de 1988, onde afirma, in verbis: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. 11 Da mesma forma, a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) de 1969, garante a liberdade da pessoa, que assim se manifesta em seu artigo 7º, in verbis: 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 3. Ninguém pode ser submetido à detenção ou encarceramento arbitrário. (...); 6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça tal recurso não pode ser restringido nem abolido. (...); A liberdade de uma pessoa é algo a ser preservado antes que seja dela retirada é necessário que sejam exauridos todos os recursos possíveis, de outro modo, a não observância dos requisitos legais e constitucionais, pode gerar um prejuízo sem precedentes a um inocente se comprovado no final, através de uma decisão anulatória de uma sentença injusta. Neste sentido buscaremos uma compreensão para entender essa decisão do Supremo Tribunal Federal que autoriza que um réu condenado em primeira instância e confirmada à sentença em segunda instância poderá o condenado responder um eventual recurso na prisão, mesmo antes do trânsito em julgado. Vale destacar que uma das causas que alimenta a criminalidade, é sem dúvida, a impunidade. A sociedade necessita de um alicerce moral para coabitar em condições mínimas de civilidade. A inversão de valores é incomum para uma sociedade que busca justiça, e é claro através de seus órgãos jurisdicionais, que devem dar proteção e segurança aos indivíduos. O acórdão em discussão exige, pois, de quem de direito, uma resposta no sentido de segregar do convívio social indivíduos 12 reveladores de tamanha nocividade e insensibilidade moral, também como garantia do próprio prestigio e segurança da atividade jurisdicional e da garantia da ordem pública. No entanto, a decretação da prisão de um acusado para já começar o cumprimento da pena depois de confirmada em segunda instância, só deveria ser possível, após a análise do caso concreto, depois de analisado caso a caso, mesmo levando em consideração que os fatos e provas já foram discutidos, nas instâncias inferiores, sob pena de produzir uma possível injustiça e, embora seja reconhecida posteriormente, talvez o resultado não possa ser revertido sem que um prejuízo irreversível já tenha sido produzido, como já ocorreu em situações anteriores, que os Tribunais Superiores já reconheceram e absolveram o acusado, e aqueles ficaram com sequelas e traumas irreversíveis, pois o Estado sequer pagou uma indenização justa, também restaram os traumas físicos, como consequências do sofrimento causado durante todo o tempo em que ficou recluso injustamente. 13 2. O ESTADO QUE PUNE Nesse capítulo vericaremos a função do Estado como aquele que tem o poder-dever de punir, pois só ele é capaz de definir normas e regras para sancionar alguém que comete um ato ilicito, causando lesão à vida ou ao patrimônio de um indivíduo. A Constituição Federal de 1988 no seu artigo 144, diz que a segurança pública é dever do Estado, como também direito e garantia, e é excercida para a preservação da ordem pública, para proteção das pessoas e do patrimônio, através de seus órgãos de segurança. O Estado é umente dotado de soberania e titular do direito de punir, é o poder- dever, não pode se recusar a executar seu mister. O Estado no seu ato de punir ele é genérico, ou seja, não se dirige exclusivamente a uma pessoa, e sim a uma coletividade como um todo, no caso concreto e analisando caso a caso é que o Estado individualiza a pena. Quando surge um conflito de interesses e um fato seja praticado e definido como crime ou infração penal e seja reconhecido pela lei como um delito, surge então à pretensão do Estado de punir o indivíduo, e esta pena será individualizada, pois será dirigida ao autor do fato, obedecendo ao princípio da intrancendência, que só pode ser punido aquele que praticou o delito. Enquanto surge para o Estado o poder de punir o suposto agressor, pois ainda não se provou sua culpa, este por sua vez tem o direito de se defender, consoante disposição constitucional prevista no artigo 5º inciso LV, momento em que aquele acusado de uma infração oferece resistência a pretensão estatal, exercitando seu direito do contraditório e a ampla defesa, diga-se plena defesa, pois pode usar todos os meios e recursos lícitos disponíveis para se defender. Para dizer se o fato pode ser punido ou não o Estado-Juiz coloca fim ao conflito de interesses ao caso concreto, se procede ou não. A prestação estatal é imprescindivel, não podendo se furtar a aplicação da lei, não sendo possivel esta ser resolvida por via administrativa. A atuação do Estado se dá por meio da jurisdição através de um procedimento próprio que põe fim aos conflitos e garantindo uma legitima atuação estatal, como instrumento necessário ao exercicio do direito. A necessidade e a importância de um devido processo legal permite ao Estado 14 satisfazer a pretensão punitiva ou não, sendo garanto ao indivíduo que não será violado seus direitos fundamentais. 2.1 O ESTADO REPRESENTANTE DO POVO O Estado desde os primórdios buscou controlar e resolver os conflitos entre os cidadãos, na medida em que, a população crescia os probemas aumentavam com mais intensidade, e com isso ficava mais dificil manter a ordem sem um sistema legal que disciplinasse aqueles que desafiavam a lei. Então surge o Estado com suas Leis e normas representando as pessoas, para punir e reprimir os agressores que lesionavam o direito de outrem, passando assim a tutelar os direitos daqueles que sofriam com o desreito ao seu direito, que apartir daquele momento seria garantido pelo Estado através do direito penal e suas regras de controle social. Nesse diapasão vejamos o que ensina os doutrinadores pátrios: Com o passar do tempo, a evolução da espécie levou-o à conclusão de que deveria estabelecer uma forma de resolução de seus conflitos de interesses interpessoais, optando a sociedade pela criação de um ente, denominado Estado, representativo de todos os cidadãos, que passaria a estabelecer regras destinadas a reger o comportamento humano, compondo, na medida do possível, as lides de natureza pública e de natureza privada. Inevitavelmente, colocou-se o Estado à frente de um fenômeno originado pelo desrespeito de alguns cidadãos aos direitos e garantias individuais de outros, na medida em que bens jurídicos tutelados por escolha da sociedade, através de seus legítimos representantes, eram ofendidos e necessitavam de proteção.Criou-se, então, uma forma de controle social institucionalizado, tendo como integrante o sistema penal, do qual faz parte o Direito Penal. Assim, cumpre ao Direito Penal selecionar as condutas humanas consideradas lesivas à coletividade, transformando-as em modelos de comportamento proibido, denominados crimes, e estabelecendo punições para quem os infringir, chamadas sanções penais. (ANDREUCCI, 2014, p. 43). O Estado é sempre o titular do direito de punir, mesmo nas ações privadas, o Estado é quem dá a palavra final, ao prejudicado cabe apenas fazer a acusação e deixar o verdadeiro titular dar a punição. Na lição do jurista abaixo citado, como o Estado regula as relações dos indivíduos: O Direito Penal regula as relações dos indivíduos em sociedade e as relações deste com a mesma. Como meio de controle social altamente formalizado, exercido sob o monopólio do Estado, a 15 persecutio criminis somente pode ser legitimamente desempenhada de acordo com normas preestabelecidas, mas à coletividade como um todo. A relação existente entre o autor de um crime a vitima é de natureza secundária, uma vez que esta não tem o direito de punir. Mesmo quando dispõe da persecutio criminis, não detém o ius puniendi, mas tão somente o ius accusationis, cujo exercício exaure- se com a sentença penal condenatória. Consequentemente, o Estado, mesmo nas chamadas ações de exclusiva iniciativa privada, é o titular do ius puniendi, que tem, evidentemente, caráter público. (BITENCOURT, 2012, p. 19). O Estado deve atuar sempre com a certeza que existe um fato, que possa ser caracterizado como um delito penal, tem que atuar no caso concreto, é importante que exista uma lesão mínima, para que haja sua intervenção, sem essa mínima ofensividade, sem uma mínima lesão ao bem jurídico protegido, não há possibilidade de atuação pelo Estado em socorro daquele que procura a proteção estatal. A repressão por parte do Estado só se justifica se houver um risco concreto e efetivo e socialmente relevante, deve de fato oferecer perigo real, só assim se admite a repressão do Estado ao individuo que ofereça ameaça a um bem juridicamente protegido, qualquer ação diferente disso é inconstitucional e ilegal. Não há como entrar nesse rol um perigo abstrato, nesse sentido se posiciona: Para que se tipifique algum crime, em sentido material, é indispensável que haja, pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico penalmente protegido. Somente se justifica a intervenção estatal em termos de repressão penal se houver efetivo e concreto ataque a um interesse socialmente relevante, que represente, no mínimo, perigo concreto ao bem jurídico tutelado. Por essa razão, são inconstitucionais todos os chamados crimes de perigo abstrato, pois, no âmbito do Direito Penal de um Estado Democrático de Direito, somente se admite a existência de infração penal quando há efetivo, real e concreto perigo de lesão a um bem jurídico determinado. Em outros termos, o legislador deve abster-se de tipificar como crime ações incapazes de lesar ou, no mínimo, colocar em perigo concreto o bem jurídico protegido pela norma penal. Sem afetar o bem jurídico, no mínimo colocando-o em risco efetivo, não há infração penal (BITENCOURT, 2012, p. 28). A aplicação da lei exige certa moderação por parte do Estado, que não deve exagerar nas sanções que deve aplicar. Princípios, como da proporcionalidade e razoabilidade devem ser observados, para que não se cometa injustiças com o apenado que não pode sofrer uma pena desproporcional, são formas de limitar o poder estatal, evitando assim que o 16 Estado se exceda, usando seu poder punitivo além do permitido e com isso evitar que alguém acabe sofrendo uma sanção injusta além do permitido. Vejamos como os nossos doutrinadores entendem essa limitação ao poder estatal: A gravidade dos meios que o Estado emprega na repressão do delito, a drástica intervenção nos direitos mais elementares e, por isso mesmo, fundamentais da pessoa, o caráter de ultima ratio que esta intervenção deve ter, impõem necessariamente a busca de um princípio que controle o poder punitivo estatal e que confine sua aplicação em limites que excluam toda arbitrariedadee excesso do poder punitivo (BITENCOURT, 2012,p. 24). Pelo principio da intervenção mínima, é necessário que se imponha limites ao Estado, não permitindo que o mesmo seja arbitrário, mas isso não impede que o Estado, observando o princípio da reserva legal, imponha ao condenado a sanção penal adequada ao delito, fazendo assim seu papel de protetor da sociedade. Assim opina sobre a intervenção mínima do Estado: O princípio da legalidade impõe limites ao arbítrio judicial, mas não impede que o Estado — observada a reserva legal — crie tipos penais iníquos e comine sanções cruéis e degradantes. Por isso, impõe-se a necessidade de limitar ou, se possível, eliminar o arbítrio do legislador no que diz respeito ao conteúdo das normas penais incriminadoras (BITENCOURT, 2012, p. 25) 2.2 Conceituando o Direito Penal O Direito Penal é o instrumento de controle, desse modo através de suas normas castiga aquele que pratica um delito, aplicando sanções naquele que ofende um bem juridico protegido pelo ordenamento pátrio. Então quando alguém pratica uma conduta nociva, e esta conduta dificulta a convivência humana, o agressor recebe uma sanção para garantir a harmonia e a paz social. A esse respeito se manifesta a doutrina seguinte: Do ponto de vista social (dinâmico) o Direito Penal é um dos instrumentos do controle social formal por meio do qual o Estado, mediante um determinado sistema normativo (as leis penais), castiga com sanções de particular gravidade (penas ou mediadas de segurança e outras consequencias afins) as condutas desviadas ofensivas a bens jurídicos e nocivas para convivência humana (fatos punivéis = delitos e convenções). (GOMES, p. 5).2008]. 17 Sendo o Direito Penal uma disciplina diferente das demais, esta se caractriza em razão da matéria: A configuração do Direito Penal difere da maioria das demais disciplinas, no que diz respeito ao seu conteúdo principal, isto é, no que afeta às normas penais incriminadoras, que vêm a ser aquelas que definem a matéria proibida, sob determinadas sanções, incluindo a pena privativa da liberdade, ainda hoje majoritária nesse âmbito do Direito. (CALLEGARI, PACELLI, 2015. p.50). O Direito Penal é uma ciência que explica a razão, a essência de forma sistemática, como as normas juridicas devem ser ou são aplicadas, desta forma, estabelecendo critérios, para evitar condutas abusivas: A ciência penal, por sua vez, tem por escopo explicar a razão, a essência e o alcance das normas jurídicas, de forma sistemática, estabelecendo critérios objetivos para sua imposição e evitando, com isso, o arbítrio e o casuísmo que decorreriam da ausência de padrões e da subjetividade ilimitada na sua aplicação (CAPEZ, 2015, p. 17). O Direito Penal é o ordenamento normativo jurídico que define as regras de comportamentos dos seres humanos, para dizer quais condutas são nocivas a sociedade, para sua correta e justa aplicação: O Direito Penal é o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos a coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infrações penais, cominando-lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias a sua correta e justa aplicação (CAPEZ, 2015, p. 16). O Direito Penal assim como a Criminologia são dois ramos que estudam o crime, mesmo de aspectos diferentes, conforme afirma FILHO (2012, p. 19) “Embora tanto o direito penal quanto a criminologia se ocupem de estudar o crime, ambos dedicam enfoques diferentes para o fenômeno criminal”. A Criminologia, por sua vez vê o crime como um problema social, nesse sentido se posiciona a doutrina seguinte: Por seu turno, a criminologia vê o crime como um problema social, um verdadeiro fenômeno comunitário, abrangendo quatro elementos constitutivos, a saber: incidência massiva na população (não se pode tipificar como crime um fato isolado); incidência aflitiva dofato praticado (o crime deve causar dor à vítima e à comunidade); 18 persistência espaço-temporaldo fato delituoso (é preciso que o delito ocorra reiteradamente por um período significativo de tempo no mesmo território) e consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção eficazes (a criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua repercussão na sociedade) (FILHO, 2012, p. 19). (grifo do autor). Já o Direito Penal é assim observado na lição de FILHO (2012, p. 19) “O direito penal é ciência normativa, visualizando o crime como conduta anormal para a qual fixa uma punição. O direito penal conceitua crime como conduta (ação ou omissão) típica, antijurídica e culpável (corrente causalista)”. Desse modo quando se visualiza uma conduta anormal entra em cena o Direito Penal para dizer que essa conduta é ou não típica, antijurídica e culpável, dessa forma conceitua como, ação ou omissão razão ensejadora de uma punição estatal. Assim é definido o Direito Penal na visão de BITENCOURT, (2012, p. 19). “Falar de Direito Penal é falar, de alguma forma, de violência. No entanto, modernamente, sustenta-se que a criminalidade é um fenômeno social normal”. Na visão de BITENCOURT, a criminalidade é um fato comum na sociedade, onde o crime faz parte da vida do homem, o que dá ensejo ao Direito Penal, para se manifestar e controlar essa criminalidade, considerada normal. Com a manifestação da criminalidade, surge a necessidade de ação do Direito Penal, com sua especificidade e capacidade de impedir e sancionar aquele que infringe suas regras, nascendo o direito de ação do Estado, através do Direito Penal. Assim, ensina e conceitua o direito penal ANDREUCCI (2014, p. 43) que o “Direito Penal pode ser conceituado como o conjunto de normas jurídicas que estabelecem as infrações penais, fixam sanções e regulam as relações daí derivadas”. Nesse sentido podemos observar que é preciso um sistema de normas pré- estabelecidas para regular e dizer quais condutas são ilícitas para que seja aplicada uma penalidade, a aquele que infringe as regras estabelecidas pelo direito penal, para que haja uma justiça equilibrada e uma satisfação estatal a sociedade. 19 2.3 A Função Social do Direito Penal A sociedade precisa de um mínimo de proteção, para que possa sobreviver à medida que sofre mudanças em seu corpo social, a partir daí a necessidade de novos objetivos e ideais, assim como suas transformações que sofre a todo o momento. Assim a Ciência do Direito também se modifica para atender as necessidades da sociedade: A sociedade humana é algo dinâmico que a cada dia descobre novas necessidades a serem supridas visando alcançar novos objetivos, metas e ideais. Neste sentido é que a humanidade e suas diversas estruturas e conjunturas transformam-se no tempo em todas as áreas do conhecimento humano, inclusive, na ciência jurídica para acompanhar as mudanças e transformações politico-social- econômicas buscam dinamizar a ciência do direito de acordo com os clamores e reinvindicações coletivas. (OLIVEIRA, XAVIER, 2010, p.15). A função social do direito penal é garantir que valores fundamentais sejam protegidos e cuidados para que a coletividade tenha o mínimo de tranquilidade, nesse sentido, existe uma espécie de pacto, um compromisso ético, entre o Estado e os indivíduos que compõem a sociedade, para que respeitem as normas de conduta social, não praticando conduta desabonadora que cause lesãoao patrimônio ou a vida de alguém, caso, tais normas sejam desrespeitadas, quem infringir sofrerá uma sanção, como forma de garantir que aquele que causou um dano seja retirado por um período da convivência da sociedade, para que nesse período de afastamento possa refletir a acerca de seu comportamento reprovável e retorne ao convívio social recuperado, depois de cumprir sua pena. Indiscutivelmente, há um abalo geral na sociedade, tendo em vista o abalo a ordem pública, merece a atuação adequada das instituições, notadamente do Poder Judiciário, que não pode se furtar em exercer seu mister institucional em prol da sociedade e do estado de direito. Quando um indivíduo quebra uma regra de convivência e boa conduta, e pratica um crime grave, isso claramente apresenta-se um clima de insegurança e de desesperança na justiça e nas instituições, e passa para os cidadãos certo temor, tendo em vista que, dependendo do ilícito penal que se cometeu. Trata- se, portanto, da necessidade de uma efetiva ação estatal, para assegurar a disciplina e segurança social. 20 O efeito de uma sanção deve ser pedagógico, pois, é para mostrar aquele que recebeu a pena, após, o mesmo violar uma norma de convivência, que o crime não compensa e passe a repensar sua conduta para que não trone a ser um reincidente. E quando aquele retornar a sociedade se comporte como um indivíduo que aprendeu a lição e desse modo seja reintegrado ao convívio social. Ademais, é no momento do cumprimento da pena que o acusado tem condições de refletir acerca de seu comportamento e, certamente, levando em conta a possibilidade de recuperação que todo ser humano possui, pois o Direito Penal visa à proteção de valores fundamentais da sociedade e não permite que tais valores sejam violados tais como: a vida, a saúde, a liberdade e a propriedade. Nesse raciocínio colaciono o entendimento de: A missão do Direito Penal é proteger os valores fundamentais para a subsistência do corpo social, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a propriedade etc., denominados bens jurídicos. Essa proteção é exercida não apenas pela intimidação coletiva, mais conhecida como prevenção geral e exercida mediante a difusão do temor aos possíveis infratores do risco da sanção penal, mas sobretudo, pela celebração de compromissos éticos entre o Estado e o indivíduo, pelos quais se consiga o respeito as normas, menos por receio de punição e mais pela convicção da sua necessidade e justiça (CAPEZ, 2015, p. 17). A natureza do Direito Penal é punir, além de tentar impedir novos delitos.Em relação ao tema vejamos a melhor doutrina que envolve a matéria: A natureza do Direito Penal de uma sociedade pode ser aferida no momento da apreciação da conduta. Toda ação humana está sujeita a dois aspectos valorativos diferentes. Pode ser apreciada em face da lesividade do resultado que provocou (desvalor do resultado) e de acordo com a reprovabilidade da ação em si mesma ( desvalor da ação ) (CAPEZ, 2015, p. 17). O Direito Penal aprecia as condutas, para só então dá o devido valor em face do resultado causado e sua reprovabilidade. 2.4 Da Aplicação da Lei Penal A aplicação da lei penal exige do julgador, quando aquele for aplicar a pena, certo cuidado para não exagerar na dosimetria da pena, causando assim um prejuízo ao condenado, além do que deveria cumprir, sendo assim vejamos a doutrina acerca da aplicação da pena privativa de liberdade: 21 A aplicação da pena privativa de liberdade traduz a injunção de urna das mais graves intervenções individuais previstas em nosso ordenamento. Sua densidade sobre o projeto de vida do sentenciado, o amplo espectro de outras penas e a necessidade de maior aprofundamento teórico fazem da determinação da pena privativa de liberdade (...). (ROIG, 2015, p.12). Para a aplicação da pena deve se levar em consideração todas as garantias processuais, e a observância dos princípios fundamentais do direito penal tais como: O princípio da legalidade previsto no artigo 5º inciso XXXIX da Constituição a de 1988 e também no artigo 1º do Código Penal Brasileiro, que ninguém pode ser punido se não existir uma lei que defina o fato como crime. O princípio da lei mais favorável, que tem em sua essência dois princípios penais importantes, o da irretroatividade da lei mais severa, que não deve retroagir para prejudicar o réu, o princípio da retroatividade da lei mais benéfica, esta só retroage se for para beneficiar o réu. O princípio da taxatividade que decorre da legalidade, este por sua vez exige que além de certa seja acessível a todos, exigindo daquele que faz a lei, deixar claro, esclarecer de modo a não ter dúvidas, acerca do que é penalmente admitido, ou seja, a lei seja taxativa quando afirmar que determinado fato é crime e sua punição. Na compreensão de ANDREUCCI (2014, p.46) Esse princípio decorre do princípio da legalidade, exigindo que a lei seja certa, acessível a todos, devendo o legislador, quando redige a norma, esclarecer de maneira precisa, taxativamente, o que é penalmente admitido. O princípio da taxatividade não admite os crimes de perigo abstrato. O princípio da ofensividade, chamado de princípio do fato ou princípio da exclusão e da proteção do bem jurídico. Conforme esse princípio a conduta deve oferecer um perigo mínimo, ou um risco concreto, se não houver comprovado risco ao bem jurídico não há incidência da lei penal. Tal princípio tem como função principal limitar a pretensão punitiva do Estado, de maneira a não existir proibição penal sem conteúdo ofensivo aos bens jurídicos. Para ANDREUCCI ( 2014, p. 46) Não deve o Direito Penal, de acordo com esse princípio, se preocupar com as intenções e pensamentos das pessoas, enquanto não exteriorizada a conduta delitiva, devendo haver, pelo menos, um perigo real (ataque efetivo e concreto) ao bem jurídico. 22 O princípio da alteridade ou princípio da transcendentalidade, é quando a ação do agente é praticada contra ele próprio é uma ação interna, não sendo possível atingir direito de outrem ou uma lesividade capaz de legitimar uma ação do Estado, portanto não se pode punir a autolesão ou o suicídio não concluído, pois não justifica uma intervenção estatal a quem lesiona a si mesmo. Trazemos a discussão o entendimento de: Esse princípio tem sido trazido à baila, atualmente, na discussão sobre a descriminalização da posse de drogas para consumo próprio. Argumenta-se que o consumidor de drogas faz mal apenas a si próprio, e não a outrem, tal como acontece com o consumo do tabaco e do álcool. Desconsidera-se, nesse caso, a posição doutrinária e jurisprudencial segundo a qual a posse de drogas para consumo pessoal, como crime, ofenderia a saúde pública, justamente em razão de que existem outras tantas condutas ofensivas desse mesmo bem jurídico que não são consideradas crime pelo legislador. (ANDREUCCI, 2014, p. 46). O princípio da adequação social muito importante, pois é ele que orienta o legislador no momento da criação da lei e também o julgador na ocasião da aplicação da pena, desse modo não considera conduta criminosa o comportamento que não causa um sentimento de revolta social de justiça. São condutas aceitas socialmente e por isso não podem ser criminalizadas, uma vez que a sociedade deixou de considerar tal conduta criminosa. Na visão de ANDREUCCI (2014, p. 47) A tipificação de uma conduta criminosa deve ser precedida de uma seleção de comportamentos, não podendo sofrer valoração negativa (criminalização) aquelas aceitas socialmente e consideradas normais. O princípio da intervençãomínima (Direito Penal mínimo), e princípio da fragmentariedade, quando a lesão puder ser combatida por outros ramos do direito, como trabalhista, administrativo, civil, esse princípio se sustenta na necessidade do Direito Penal ser subsidiário, atuando somente quando os ramos do direito falharem, corroborando nesse sentido: Do princípio da intervenção mínima deriva o princípio da fragmentariedade, segundo o qual deve o Direito Penal proteger apenas os bens jurídicos de maior relevância para a sociedade, não devendo ele servir para a tutela de todos os bens jurídicos. Daí o seu caráter fragmentário, ocupando-se somente de parte dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica. (ANDREUCCI, 2014, p.47). O princípio da insignificância ou da bagatela é aquele que causa o mínimo de lesão, não sendo interessante uma pretensão punitiva do Estado por não oferecer grande risco ao bem jurídico tutelado. De acordo com 23 ANDREUCCI (2014, p. 47). Assim, restaria ao Direito Penal a tutela de lesões de maior monta aos bens jurídicos, deixando as de menor ofensividade. O princípio da insignificância tem alguns critérios para que possa ser aplicado ao caso concreto, a saber: Assim, acolhido o princípio da insignificância, estaria excluída a própria tipicidade, desde que satisfeitos quatro requisitos: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) ausência de total periculosidade social da ação; c) ínfimo grau de reprovabilidade do comportamento; d) inexpressividade da lesão jurídica ocasionada. (ANDREUCCI, 2014, p. 47). Princípio da proporcionalidade da pena, é o momento que deve ser observado à proporção entre o crime e a sanção aplicada, não deve ser exagerada, sob pena de aplicar uma pena além do permitido em lei, tal princípio tem como pressuposto a observância da gravidade do crime, para então imputar ao agressor uma pena equiparada ao delito cometido. Assim se manifesta ANDREUCCI (2014 p. 48) É certo que o caráter da pena é multifacetário, devendo preservar os interesses da sociedade, através da reprovação e prevenção do crime, sendo também proporcional ao mal causado pelo ilícito praticado. Nesse aspecto, a justa retribuição ao delito praticado é a ideia central do Direito Penal. O princípio da individualização da pena encontra guarida no texto constitucional precisamente no seu artigo 5º inciso XLVI, que assim se expressa, in verbis: XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos. Na individualização da pena leva-se em consideração quem praticou o delito não podendo imputar a outrem, fato que não praticou ou não teve participação, só responde quem efetivamente lesionou um bem jurídico. E como o próprio texto constitucional é muito claro, ainda define os tipos de penas que cada conduta deve receber, para efeito de punição na medida de sua participação. O princípio da humanidade decorre da junção dos princípios da proporcionalidade e do princípio da individualização da pena. Segundo ANDREUCCI (2014, p. 48) a pena e seu cumprimento devem se revestir de caráter humanitário, em respeito e proteção à pessoa do preso. Segundo o regramento constitucional no artigo 5º inciso III - ninguém será submetido a 24 tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Nesse diapasão a pena deve ter um caráter humanitário e não pode ser desumano, ou degradante. O princípio da razoabilidade na visão de ANDREUCCI (2014, p. 48). Segundo esse princípio, o razoável, por vezes, se sobrepõe ao legal, fazendo com que a lei seja interpretada e aplicada em harmonia com a realidade, de maneira social e juridicamente razoável, buscando, acima de tudo, aquilo que é justo. O principio da anterioridade exige a necessidade de uma lei está em vigor no momento da prática de uma infração penal, pois de outro modo não seria possível sua aplicação: De acordo com o princípio da anterioridade, exige-se que a lei esteja em vigor no momento da prática da infração penal (lei anterior e prévia cominação): Tempus regitactum. Assim, a irretroatividade da norma penal é um efeito decorrente desse princípio. Toda norma que tenha por escopo criar, extinguir, aumentar ou reduzir a satisfação do direito de punir do Estado deve ser considerada de natureza penal, não podendo retroagir para prejudicar o réu ( CAPEZ, 2012, p.29). Na compreensão de ANDREUCCI (2014, p. 45) “O princípio da legalidade é também chamado de princípio da reserva legal, pois a definição dos crimes e das respectivas penas deve ser dada somente e com exclusividade pela lei, excluindo qualquer outra fonte legislativa”. A lei para ser aplicada deve existir antes do crime, conforme estabelece a inteligência do Código Penal Brasileiro. Nesse entendimento posiciona-se assim o nosso diploma pátrio, que disciplina desse modo, sobre a aplicação da lei da seguinte forma, in verbis: Artigo 1º “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Como vimos no artigo supracitado, para que a lei seja aplicada é necessário que exista uma previsão legal, não há como punir alguém por uma conduta que não está prevista na lei. Nessa compreensão é preciso que não só exista uma conduta delitiva, mas que haja a existência de lei anterior informando que determinada infração seja crime, para que se possa fazer aplicação de uma sanção penal, a aquele que causa uma lesão a outrem, quando o comando legal diz que ninguém pode ser punido se não existir uma lei anterior que diga que o fato 25 que foi praticado é crime, por ação ou omissão, pois seria ilegal, sancionar alguém sem a devida lei definidora da conduta como sendo ilícita. Assim caminha o guardião da constituição, o Supremo Tribunal Federal, a respeito do principio da legalidade: Lavagem de dinheiro. Organização criminosa. Infração penal antecedente. Quadrilha (atualmente designada “associação criminosa”). Condutas praticadas entre 1998 e 1999, momento que precedeu a edição da Lei 12.683/2012 e da Lei 12.850/2013. Impossibilidade constitucional de suprir-se a ausência de tipificação do delito de organização criminosa, como infração penal antecedente, pela invocação da Convenção de Palermo. Incidência, no caso, do postulado da reserva constitucional absoluta de lei em sentido formal (CF, art. 5o, XXXIX). (...) Inadmissibilidade, de outro lado, de considerar-se o crime de formação de quadrilha como equiparável ao delito de organização criminosa para efeito de repressão estatal ao crime de lavagem de dinheiro cometido antes do advento da Lei 12.683/2012 e da Lei 12.850/2013. [RHC 121.835 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 13-10-2015, 2a T, DJE de 23-11-2015.] Se uma pessoa for julgada por um fato, sem que houvesse lei anterior definindo tal conduta como criminosa, seria ilegal, pois o ordenamento jurídico pátrio não permite tal ilegalidade. Existe uma garantia fundamental insculpida no texto constitucional que só se pode fazer ou deixar de fazer alguma coisa em virtude de lei. Nesse sentido se manifesta sobre a existência da obrigatoriedade de lei incriminadora anterior, vejamos como se manifestam os juristas pátrios, a respeito da anterioridade da lei: Significa que é obrigatória a prévia existência de lei penal incriminadora para que alguém possa ser por um fato condenado, exigindo também, prévia cominação de sanção para que alguém possa sofrê-la. Por outro lado, cumpre esclarecer que, apesar de a rubrica do artigo 1º mencionar apenas a anterioridade da lei penal,espelha, ainda, o principio da legalidade ou reserva legal, [...]. (NUCCI, 2013, p. 57). No mesmo diapasão, segue a Constituição Federal de 1988, na inteligência do seu artigo 5º Inciso II, que se manifesta da seguinte forma “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, demonstrando de forma clara a importância de uma garantia legal e constitucional, obedecendo, assim, o principio da reserva legal. Discorrendo sobre o mesmo assunto, e com muita propriedade e de maneira cristalina, sobre o principio da reserva legal, assim explica, segundo a boa doutrina: 26 A regra do art. 1º, denominada princípio da legalidade, compreende os princípios da reserva legal e da anterioridade. Assim, o princípio da legalidade é gênero que compreende duas espécies: reserva legal, reservando para o estrito campo da lei a existência do crime e sua correspondente pena (não há crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação legal), e o da anterioridade, exigindo que a lei esteja em vigor no momento da prática da infração penal (lei anterior e prévia cominação) (CAPEZ, 2012, p. 13). Seguindo o mesmo raciocínio e compreensão segue ainda, em sua convicção se expressando da seguinte forma, a respeito da necessidade do principio da reserva legal: De acordo com esse princípio, somente a lei, em seu sentido mais estrito, pode definir crimes e cominar penalidades. Fala-se, assim, em reserva absoluta de lei, pois somente a lei, na sua concepção formal e estrita, emanada e aprovada pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento adequado,pode criar tipos e impor penas” (CAPEZ, 2012, p. 13). O princípio da reserva legal deve ser taxativo na descrição das condutas definidas como crime, de forma especifica e detalhada. Colaciono aqui a lição do professor CAPEZ (2012, p. 15) “O princípio da legalidade estatui que não há crime sem lei que o defina. Assim, exigiu que a lei descrevesse a conduta delituosa em todos os seus elementos e circunstâncias, a fim de que somente no caso de integral correspondência pudesse o agente ser punido”. A Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) destaca a importância da observância de dois princípios legais, que estão assim elencados:. Artigo 9º. Princípio da legalidade e da retroatividade “Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável”. Portanto, não se pode impor pena mais grave que a aplicável, no momento da perpetração do delito. Se depois da consumação do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o infrator será por isso beneficiado. Então se uma pessoa praticar um delito e sobrevier lei menos gravosa, essa será aplicada ao fato, como também se um delito deixar de ser considerado crime, a este não se aplica nada. Como também se uma conduta não for possível de causar lesão ou dano punível pelo Direito Penal, este não será considerado crime. Esclareça-se, por oportuno que, o porte de arma é uma conduta ilícita, prevista nos artigos 12 e 14 da 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), mas 27 é preciso que essa arma portada por alguém, traga efetivo perigo de dano à coletividade, porque se uma arma não for capaz de causar lesão, essa conduta não será considerada crime, por exemplo, no caso de uma arma de brinquedo, configura-se crime impossível. Pois é preciso que exista de fato, concreta possibilidade de lesão à sociedade, sem essa ofensividade não se pode falar em perigo de dano ou possível punição, haja vista, não existir crime por presunção. A lesividade deve ocorrer pela eficácia do objeto, caso contrário, estamos diante da impossibilidade de eficácia absoluta. Nesse sentido não há como presumir perigo: No entanto, a lei não pode presumir que o porte de uma arma totalmente ineficaz para produzir disparos seja capaz de ameaçar a coletividade. Evidentemente, nessa última hipótese, estaremos diante de um crime impossível pela ineficácia absoluta do objeto material (CP, art. 17). A lei só pode presumir o perigo onde houver, em tese, possibilidade de ele ocorrer. Quando, de antemão, já se verifica que a conduta jamais poderá colocar o interesse tutelado em risco, não há como se presumir o perigo (CAPEZ, 2012, p. 28-29). Por certo, no mesmo entendimento posiciona-se o Código Penal Brasileiro no seu Art. 17, que diz o seguinte–“Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. Então percebemos que, se o objeto não for capaz de produzir um resultado lesivo, que possa colocar um interesse tutelado em risco, esse objeto não será capaz de ser considerado perigoso. Portanto impossível de ser conduta punida por uma sanção estatal. Segue ainda em seu raciocínio, desta feita narrando sobre o princípio da adequação social, em que um comportamento só pode ser considerado criminoso se afrontar um bem jurídico tutelado, se tal conduta não demonstrar periculosidade, não provocar nenhum sentimento social de justiça, não deve ser observado como fato que precise da proteção do Estado, se não houver relevância social, não há de ser tipificado como crime, para que exista uma tipicidade penal exige-se um mínimo de lesividade aos bens jurídicos protegidos, dessa forma afirma: Segundo o aludido princípio, todo comportamento que, a despeito de ser reputado criminoso pela lei, não afrontar o sentimento social de justiça, não pode ser considerado criminoso. Assim, o direito penal somente tipifica condutas que tenham certa relevância social CAPEZ ( 2012, p. 17). 28 Conforme a citação acima se um comportamento não afrontar o sentimento social de justiça, não há que se falar em fato criminoso, desse modo, se uma conduta não tem relevância social, não há interesse do Direito Penal. 2.5 A Natureza Jurídica da Pena A pena tem por finalidade retribuir um mal que um indivíduo causou a outro, além de buscar a justiça, dessa forma aquele que sofreu uma ofensividade a sua integridade ou em seu patrimônio tenha o mínimo de conforto, quando quem agrediu sofre uma punição para reparar sua conduta: [...] busca a justiça igualitária como meta maior, adequando os dispositivos legais aos princípios constitucionais sensíveis que os regem, não permitindo a descrição como infrações penais decondutas inofensivas ou de manifestações livres a que todos têm direito, mediante rígido controle de compatibilidade vertical entre a norma incriminadorae princípios como o da dignidade humana”. (CAPEZ, 2015, p. 13). A pena tem como objetivo retribuir ao infrator o mal que ele causou a alguém, assim como também prevenir que o acusado tente novamente contra outra pessoa, é a maneira que o Estado tem de barrar a ação criminosa daquele que pretende atingir a vida ou o patrimônio de alguém. A pena na lição do doutrinador: A pena, que corresponde à sanção imposta ao agente da prática criminosa, na sistemática do Código Penal Brasileiro, possui duas finalidades nítidas: a primeira, retributiva, consistente na resposta estatal à infração cometida; e, a segunda, preventiva, no sentido de evitar a prática de novos crimes (AVENA, 2015, p. 27). A natureza jurídica da pena é impedir que o agressor cometa um novo delito, além de uma retribuição pelo crime que praticou. A pena é uma imposição do Estado que pune um indivíduo, quando o mesmo comete um crime, causando uma lesão ao patrimônio ou a vida de outrem, ou seja, lesando bens jurídicos tutelados peloEstado: A sociedade em geral se satisfaz e, na verdade, busca tão somente fazer com que a pena tenha essa finalidade retributiva, pois tende a fazer com ela uma espécie de "pagamento" ou compensação ao condenado que praticou a infração penal, desde que, obviamente, a pena seja, pelo menos, privativa de liberdade. (GRECO, 2015, p.44). Este então é submetido a uma sanção Estatal, que após todo um procedimento processual, onde lhe é dado o direito de ampla defesa e o 29 contraditório, o condenado deve cumprir uma pena, como forma de retribuir um delito que foi praticado e impedir que o apenado cometa novos crimes. Assim orienta a respeita da pena privativa de liberdade nossos juristas: Uma politica criminal orientada no sentido de proteger a sociedade terá de restringir a pena privativa de liberdade aos casos de reconhecida necessidade, como meio eficaz de impedir a ação crimonógena cada vez maior do cárcere. Esta filosofia importa obviamente na busca de sanções outras para delinquentes sem periculosidade ou crimes menos graves. Não se trata de combater ou condenar a pena privativa de liberdade como resposta penal básica ao delito. Tal como no Brasil, a pena de prisão se encontra no âmago dos sistemas penais de todo o mundo. O que por ora se discute é a sua limitação aos casos de reconhecida necessidade”. (NUCCI, 2013, p.50). Vejamos como os juristas se manifestam a respeito da pena: conceito de pena conforme Guilherme de Souza Nucci: É a sanção imposta pelo Estado, por meio de uma ação penal, ao criminoso como retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes. O caráter preventivo da pena desdobra-se em dois aspectos (geral e especial), que se subdividem (positivo e negativo); a) geral negativo: significando o poder intimidativo que ela representa a toda a sociedade, destinatária da norma penal; b) geral positivo: demonstrando e reafirmando a existência e eficiência do direito penal; c) especial negativo: significando a intimidação ao autor do delito para que não torne a agir do mesmo modo, recolhendo-o ao cárcere, quando necessário; d) especial positivo: que é a proposta de ressocialização do condenado, para que volte ao convívio social, quando finalizada a pena ou quando por benefícios, a liberdade seja antecipada. Conforme o atual sistema normativo brasileiro, a pena não deixa de possuir todas as características expostas em sentido amplo (castigo + intimidação e reafirmação do direito penal + ressocialização): o artigo 59 do Código Penal menciona que o juiz deve fixar a pena de modo a ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. ( 2013, p. 325). A pena obedece ao princípio da personalidade, não podendo superar os limites da pessoa do condenado, ou seja, observado o princípio da intrancendência, tendo seu limite estabelecido no texto constitucional, mais precisamente em seu artigo 5º Inciso XLV - que orienta no sentido que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens serem, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. Outro princípio norteador que deve ser levado em consideração é o da individualização da pena, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa 30 humana, onde estão estabelecidas as formas de cumprimento de pena, e que está insculpido no artigo 5º inciso XLVI da Constituição Federal de 1988, in verbis: A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes” a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos. A individualização da pena é princípio basilar para aplicação da pena SCHIMTT ( 2015, p. 86) o princípio da individualização da pena se mostra indispensável por permitir que seja eleita e aplicada a justa sanção penal para determinado indivíduo, quer seja em sua espécie, em seu quantum, bem como na forma de sua execução. Ainda sobre a individualização da pena SCHIMTT (2015, p. 86) Individualizar significa tornar único, caracterizar, promover a distinção de coisas, pessoas ou situações dentro de um contexto fático, tornar algo efetivamente individual, particularizar algo ou alguém que ates possuía tratamento genérico. Também se verifica que o legislador brasileiro tomou o cuidado de não aplicar penas absurdas e extremas, por isso adotou o princípio da limitação das penas. A Constituição Federal se preocupou em não colocar como meio de punição ao indivíduo que pratica algum crime, penas muitas severas, tais como: pena de morte, salvo em caso de guerra, perpétua, trabalhos forçados e banimento, como anuncia a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º Inciso XLVII –e se manifesta da seguinte forma “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”. A Constituição Federal de 1988 não permite pena que seja demasiada exagerada, por isso especifica as penas que não devem ser aplicadas, pois são consideradas de extrema desumanidade. 2.6 Fundamento da Pena A pena só deve ser aplicada se houver os fundamentos que são os elementos autorizadores para a existência da aplicação da pena. Nesse sentido posiciona-se um jurista brasileiro: 31 Há primordialmente seis fundamentos para a existência da pena: a) denúncia: fazendo com que a sociedade desaprove a prática do crime; b) dissuasão: desaconselhando as pessoas de um modo geral e, particularmente, o próprio criminoso a prática delitiva; c) incapacitação: protegendo a sociedade do criminoso, retirando-o de circulação; d) reabilitação: reeducando o ofensor da lei penal; e) reparação: trazendo alguma recompensa à vítima; f) retribuição: dando ao condenado uma pena proporcional ao delito cometido [...]( NUCCI, 2013, p. 325-326). A pena tem como consequência a retribuição ao delito praticado, e estão expressas no nosso ordenamento jurídico. E se expressam de forma clara , e estão elencadas no Código Penal Brasileiro que são as seguintes: Art. 32. - As penas são: I - privativas de liberdade; II - restritivas de direitos; III - de multa. Das Penas Privativas de Liberdade Reclusão e Detenção expressas no Código Penal Brasileiro, in verbis: Art. 33. - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. 1º - Considera-se: a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; b) regime semi- aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no artigo 59 deste Código.O artigo 59 do Código Penal Brasileiro traça as principais regras que devem nortear o juiz na aplicação da pena e no cumprimento do princípio constitucional da individualização da pena, conforme estabelece o texto constitucional no artigo ( art. 5º, XLVI da C.F.). As circunstâncias judiciais são dados ou fatos (subjetivos ou objetivos), que estão ao redor do crime, que devem ser levadas sem exagero e interpretadas com bom senso jurídico. A hipótese vertente trata-se de analisar o fato em foco, à luz da ética e do bom senso jurídico. Assim estabelece o artigo 59 do Código Penal Brasileiro: 32 Art. 59. - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. Esses são os requisitos que norteiam a decisão judicial na aplicação da pena, que estão assentados no artigo 59 do Código Penal Brasileiro. O juiz deve analisar a conduta social do agressor, seus antecedentes, sua personalidade, inclusive o comportamento da vítima, que servirão como parâmetro para aplicação da sanção penal e como será seu cumprimento de pena. No capitulo seguinte será abordado os princípios e garantias fundamentais que devem ser observados para a melhor aplicação da lei penal. 33 3. PRINCIPIOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Nesse capitulo será abordado às garantias e princípios fundamentais para a melhor aplicação da norma penal. Em um Estado Democrático de Direito a política criminal deve se orientar pelo princípio da legalidade, onde a observância da garantia serve de freio contra uma possível arbitrariedade judicial: (...), entre os princípios da política criminal de um Estado de Direito Democrático e Social, podem referir-se: o princípio da legalidade, qual garantia contra a arbitrariedade judicial e administrativa; o princípio da culpa, com a consequente recusa de qualquer forma de responsabilidade penal objetiva; princípio da humanidade na definição legal 'das penas (donde, a proibição da pena de morte e das penas degradantes da dignidade humana da pessoa do recluso) e na sua execução (donde, a recusa da prisão perpétua e das consequências jurídicas de duração indetenninada); o princípio da recuperação social do recluso, o que obriga à criação de estabelecimentos "penitenciários" adequados, e à modelação da execução da pena de prisão em condições que possibilitem tal recuperação. (CARVALHO, 2008, p. 7). O princípio acima mencionado é uma forma de garantia para evitar penas degradantes e desumanas, que no caso do nosso sistema penal brasileiro, sabemos que os presídio não são adequados para receber a população carcerária atual. Na realidade são verdadeiros porões de navios negreiros. Celas abarrotadas de presos de toda espécie, não se distingue o crime, se é tráfico, homicídio ou furto se é preso provisório ou definitivo, todos vão para a mesma cela sem distinção e são tratados como verdadeiros criminosos, no entanto deve se analisar caso a caso. 3.1 Princípios Fundamentais Os princípios são normas que ordenam um sistema, para sua fiel interpretação. Nesse sentido, necessário se faz mencionar o entendimento de Guilherme de Souza Nucci, que assim preconiza, a respeito dos princípios: Princípio, no sentido jurídico, significa uma ordenação que se irradia e imanta o sistema normativo, proporcionando alicerce para a interpretação, integração, conhecimento e eficiente aplicação do direito positivo. Não olvidando existirem princípios aplicáveis a todos os ramos do Direito, como o da igualdade de todos perante a lei, 34 voltaremos o enfoque àqueles que interessam à área penal e, essencialmente, ao campo da pena. É conveniente destacar, desde logo, constituírem os princípios de Direito Penal a face orientadora da aplicação das normas abstratamente previstas em lei aos casos concretos emergentes dos conflitos sociais, legitimadores da interveniência do poder repressivo estatal, aplicando, como decorrência, a mais grave das sanções, a penal, formatada através da pena, em suas múltiplas feições, (2014, p. 20). Conforme orienta NUCCI, os princípios devem viver harmonicamente, ou seja, não existe hierarquia entre eles, e são verdadeiras garantias fundamentais da pessoa humana, quando da aplicação da sanção imposta ao condenado. Por isso devem ser observados e levados em consideração na aplicação da pena: Os princípios penais merecem conviver em harmonia, sem haver a superposição de um sobre outro, nos mesmos moldes atualmente sustentados pela doutrina para os demais princípios de Direito, mormente os constitucionalmente assegurados. Não é demais ressaltar constituírem muitos princípios autênticas garantias humanas fundamentais, como ocorre com o mais tradicional deles, que é o da legalidade (não há crime sem prévia lei que o defina, nem tampouco pena sem prévia cominação legal, art. 5.º, XXXIX, CF), motivo pelo qual não podem ser ignorados pelo aplicador da norma penal infraconstitucional; ao contrário, devem ser cultuados, servindo de parâmetros e modelos (2014, p. 20). O legislador está vinculado ao texto constitucional, não podendo fugir desse comando sob pena de ter invalidada lei que seja contrária a ordem constitucional, nesse raciocínio preconiza FELDENS: A vinculação constitucional ao legislador é elemento característico de uma democracia que se desenvolve a partir de uma constituição jurisdicionalmente garantida, dotada de meios de invalidação da lei em contraste com essa mesma ordem superior, o que é dizer: no marco do atual Estado constitucional a constituição abre passagem ao controle da atividade legislativa pela justiça constitucional (2008, p. 23) A esse propósito, faz-se mister, trazer à colação o entendimento do NUCCI, que assevera (2014, p. 21) “Extenso deve ser o alcance dos princípios penais, pois permitem a harmonia do sistema, conferindo coerência às normas criadas pelo legislador, nem sempre com boa técnica e permitindo aplicação sensata”. 35 A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do professor NUCCI, que preleciona (2014, p. 21). “Os princípios penais, norteadores da aplicação da lei, cumprem papel de destaque no imenso universo de normas escritas, cotidianamente interpretadas e aplicadas aos casos concretos pelos profissionais do Direito”. O sistema penal na sua aplicação da lei deve verificar o caso concreto e possibilitar todas as garantias processuais ao acusado. Igualmente, merece ser trazido à baila o entendimento do doutrinador NUCCI, o qual menciona que: (2014, p. 21). “O sistema criminal compõe-se da junção do Direito Penal e do Processo Penal, possibilitando a aplicação da lei penal ao caso concreto, asseguradas as garantias processuais indispensáveis”. É esse é o entendimento da doutrina majoritária, com relação aos princípios norteadores da dignidade da pessoa humana e o devido processo legal, consoante se concluído no pensamento do doutrinador NUCCI, in verbis: Por isso, os princípios penais e processuais penais, norteadores dos caminhos seguidos pelo legislador epelo juiz, devem ser visualizados em conjunto, acolhendo-se a confluência existente entre eles, sob a regência de princípios maiores, que são a dignidade da pessoa humana e o devido processo legal ( 2014, p.21). Só existe dignidade se todas as garantias forem asseguradas, assim assegura o professor NUCCI, ( 2014, p. 21) “Inexiste dignidade humana, caso não se assegure ao indivíduo as mínimas condições de vivência, associadas ao respeito à pessoa, privilegiando-se o seu amor próprio. Cuida-se, pois, de princípio regente de todos os direitos e garantias humanas fundamentais”. Segundo NUCCI, ( 2014, p. 22) “Seguindo-se todos os princípios penais e processuais penais, pode-se dizer que se respeitou, fielmente, o devido processo legal”. Sobre tal aspecto, merece ser trazido à baila o entendimento de NUCCI,( 2014, p. 22) “Diante disso, é indispensável que sejam colocados, acima de todos, os princípios da dignidade humana e do devido processo legal para servirem de base e de objetivo na lida com o poder punitivo estatal”. Os princípios são de tal importância, que de forma alguma podem deixar de serem levados em conta. O sistema prisional brasileiro com sua 36 superlotação torna a pena muita mais cruel do que deveria ser. Também por este prisma é o entendimento da doutrina: Os princípios explícitos e constitucionais são, sem dúvida alguma, os mais importantes, merecedores de aplicação sem contestação tanto pelo legislador, quanto pelo juiz. Nem sempre, na prática, tal ocorre. Analise-se, como ilustração, o princípio da humanidade, prevendo que as penas, no Brasil, não serão cruéis, embora, no cotidiano das prisões, encontre-se justamente o oposto (NUCCI, 2014, p. 23). Na lição do doutrinador Luiz Flávio Gomes, os princípios se não forem aplicados, pode levar a reforma de uma sentença, in verbis: Também importa ressaltar que os princípios não são apenas um conjunto de valores ou de prescrições éticas ou programáticas; eles são normas jurídicas e possuem caráter cogente. Assim, quando, por exemplo, o magistrado não presta obediência a um princípio, isso pode levar à reforma da sentença penal por ele prolatada (2015, p.7 ). Assim se refere GOMES (2015, p. 8). “Os princípios não são apenas um conjunto de valores ou de prescrições éticas ou programáticas. São normas jurídicas de caráter cogente”. Como vimos na com preensão do renomado Luiz Flávio Gomes, os princípios são normas cogentes, não são simples prescrições, devem sim, serem levadas em consideração, sob pena de está infringindo uma das grandes garantias do indivíduo. Insistindo ainda, em seu raciocínio, na importância da observância dos princípios, segue no sentido de orientar, que os princípios devem ser observados não só na elaboração da lei, mas também na aplicação dela e na execução penal. Demonstrando assim o cuidado, para que não se exagere na pena e na execução. Desta forma, a interpretação a aplicação dos princípios obedecem a uma norma de caráter obrigatório: De outro lado, a eficácia prática dos princípios irradia-se não só ao momento legislativo de elaboração da norma penal (quando o legislador cria a lei penal), senão também ao aplicativo e interpretativo (nem o intérprete nem o juiz podem ignorá-los), bem como no momento executivo (no momento da elaboração de políticas preventivas assim como quando se vai concretizar o comando sancionador contido na sentença condenatória, ou seja, no momento da execução da pena). (GOMES , 2015, p. 8 ). Os princípios são de tal importância que em nenhum momento devem ser desprezados, pois precisam der observados e interpretados tanto na 37 elaboração da norma quanto na aplicação da pena e principalmente no momento da execução da pena, que é o momento crucial para o condenado. No capítulo seguinte se fará a análise da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a decisão de cumprimento imediato de pena após decisão de segunda instância se fere ou não o princípio da presunção de inocência estampado no texto constitucional, e também a análise da decisão anterior que não permitia a prisão enquanto não transitasse em julgado. 38 4. O JULGADO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Nesse capítulo será abordado o tema principal deste trabalho, que é a decisão do Supremo Tribunal Federal que decidiu pelo cumprimento de execução da pena logo após julgamento em segunda instância, foi como decidiu a Suprema Corte. E também será analisada e comparada a decisão anterior do dia 05/02/2009 de relatoria do ministro Eros Grau no julgamento do Habeas Corpus nº 84.078 Minas Gerais No dia 17 de fevereiro de 2016 o pleno do Supremo Tribunal Federal colocou em julgamento o habeas Corpus nº 126.292 de relatoria do ministro Teori Zavascki, onde o mesmo afirmou que “A execução de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não viola o principio constitucional da presunção de inocência”. Com essa decisão o Supremo Tribunal Federal contraria uma decisão anterior, que só permitia a prisão, após o trânsito em julgado, ressalvado os casos de prisão preventiva. Por sete votos a quatro, tendo votado a favor pela mudança da jurisprudência anterior que só permitia a prisão depois de transitada em julgada de sentença penal condenatória, os ministros Teori Zavascki, Edson Fachin, Luís Roberto, Dias Toffoli, Luiz Fux, Carmen Lúcia e Gilmar Mendes, sendo vencidos os ministros, Rosa Weber, Marco Aurélio, Celso de Melo e Lewandowski, ou seja, por maioria o Supremo Tribunal Federal decidiu que, se um acusado for condenado em um tribunal “aquo” e confirmada a decisão em um tribunal “adquem”. O condenado poderá de pronto iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, para o relator Ministro Teori Zavascki, a confirmação da sentença penal pela segunda instância, autoriza a prisão, pois os fatos e provas que confirmaram a culpa do condenado, já foram discutidos e comprovados, nessa situação pode sim autorizar o início da execução da pena, mesmo estando em recurso especial ou extraordinário. Analisar e tentar compreender toda dinâmica da decisão do Supremo Tribunal Federal e sua eficácia no meio jurídico e suas possíveis discussões acerca da sua ilegalidade ou não, se fere o principio da inocência da pessoa humana e sua legalidade, nesse sentido se manifesta a jurisprudência pátria: 39 O tema da insignificância penal diz respeito a chamada “legalidade penal”, expressamente positivada como ato-condição da descrição de determinada conduta humana como crime e, nessa medida, passível de apenamento estatal, tudo conforme a regra que se extrai do inciso XXXIX do art. 5o da CF, literis: “não ha crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem previa cominação legal”. E que a norma criminalizante (seja ela proibitiva, seja impositiva de condutas) opera, ela mesma, como instrumento de calibração entre o poder persecutório-punitivo do Estado e a liberdade individual. A norma legal que descreve o delito e comina a respectiva pena atua por modo necessariamente binário, no sentido de que, se, por um lado, consubstancia o poder estatal de interferência na liberdade individual, também se traduz na garantia de que os eventuais arroubos legislativos de irrazoabilidade e desproporcionalidade se expõem a controle jurisdicional. [HC 109.277, rel. min. Ayres Britto, j. 13-12- 2011, 2a T, DJE de 22-2-2012.]”. A decisão do Supremo Tribunal
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