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TEMPOS IGUAIS, IDEIAS CONTRÁRIAS: VOLTAIRE E ROUSSEAU Apesar de serem da mesma época e terem vivido o mesmo processo que deu origem a Revolução Francesa, Voltaire e Rousseau, seguiam linhas de pensamento contrárias, que de uma forma ou de outra acabaram por influenciar o sistema da revolução. Talvez por terem origens bem diferentes: Voltaire, que era da capital, não media esforços para participar do monde parisiense, e fazer parte da elite francesa, enquanto Rousseau, que era oriundo de Genebra, e que só chegou a Paris aos 40 anos, nunca conseguiu se adaptar ao artificialismo social característico do esprit de finesse que tanto lhe causava desconforto e antipatia. Enquanto Voltaire caracterizou-se por enfatizar um conteúdo crítico em sua obra e demonstrar as contradições sociais, direcionando o raciocínio geral para que assim, se repensasse todo o legado deixado pela tradição; Rousseau contestava a preocupação francesa com a impressão causada ao outro, com a importância em que a opinião alheia causava interferência na independência social das pessoas. Voltaire, que ao mesmo tempo em que era atraído pela negação e que lutava incessantemente contra todas as formas de dogmatismo e predeterminação, mostrou-se altamente contraditório ao explicar sua posição: “O povo deve ser dirigido e não instruído, ele não é digno de sê-lo. Quarenta mil sábios, é mais ou menos o que eles precisam. Apesar de defender o pensamento crítico dos homens, ensinando-os a ter razão absoluta e sabedoria em suas avaliações, livres de todos os preconceitos, criando assim um novo tipo de sociedade pensante e que reunisse condições intelectuais de direcionar os seus próprios caminhos a um futuro melhor, caia em contradição ao entender o povo como uma massa que só tinha os braços para viver. Duvidando que ela jamais teria tempo e capacidade para se instruir, morrendo de fome antes de se tornarem filósofos. Mesmo defendendo o direito social de liberdade de pensamento e expressão, convencendo o povo francês que era legítimo seus direitos de ter essa faculdade, ele não a considerava igual a todos, reconhecendo assim, a existência de desigualdade entre os homens e concebia a sociedade ser governada por um outro tipo de aristocracia, formada por homens cultos e letrados. Rousseau, por seu lado, preocupava-se em descobrir o que fazer para que a humanidade civilizada se regenerasse e os homens recuperassem a liberdade perdida, formulou uma proposta pautada em dois eixos: o primeiro, o Contrato Social, uma solução política para preservar a sociedade e fazer com que o ser humano recuperasse sua liberdade através da união por laços mais estreitos, o que resultaria na substituição da vontade pessoal dos homens; o segundo: uma nova comunidade deveria surgir, onde prevaleceria a vontade comum e não a individual. Para Rousseau, a educação aos jovens seria a única forma de compreensão da nova filosofia de formação social. Ao contrário de Voltaire, ele valorizou os homens simples que não desempenhavam nenhum papel de destaque dentro da sociedade. Não só ao contrário de Voltaire, como também de todos os que impuseram o antigo regime, Rousseau qualificava os homens como iguais, pelo simples fato de serem todos homens; isso por si só, os dava o direito da igualdade. A Revolução apropriou-se de suas ideias de educação, regeneração, autonomia, igualdade, bondade do povo e seu ideal de virtude, ao longo de suas várias etapas. Conclusivamente, define-se como ponto comum aos dois, a reflexão crítica sobre a sociedade do Antigo Regime, e ao fato de que ambos acreditavam que a filosofia auxiliaria os homens em sua conduta no futuro. Dentro de uma proposta revolucionária Rousseau certamente sobreviveu mais que Voltaire, o que é visível se notarmos os estudos posteriores feitos sobre um e outro. Podemos notar em Marx uma evolução racional e materialista de Rousseau, ou antes, em Hegel. Enfim, todos os teóricos que propuseram mudanças pós-Rousseau, utilizaram-se, de uma maneira ou de outra, do legado rousseauriano. Sua obra, combatida em seu tempo, sobreviveu a ele, seus contemporâneos e está viva até os dias de hoje, ao pelo menos enquanto houver governos e desigualdades. A comparação dos dois mais parece uma cobra de duas cabeças. Essa é, inclusive, a melhor maneira de representar o iluminismo através de seus dois principais pensadores, e se estão as cabeças em lados opostos é porque se manifestavam de maneiras divergentes: uma (Voltaire) o raciocínio lógico e a outra (Rousseau) o raciocínio apaixonado. BIOGRAFIAS PESQUISADAS: Voltaire (1694-1778) foi um filósofo francês, grande representante do movimento iluminista na França, juntamente com Rousseau e Montesquieu. François Marie Arouet era seu nome de batismo. Veio de uma família burguesa e adquiriu sólidos estudos com os jesuítas no colégio de Clermont. Voltaire também escreveu poemas, o que lhe causou muitos problemas por conta do teor irônico de seus escritos contra os governantes, sendo preso na bastilha durante um ano. Quando libertado, foi para a Inglaterra, onde conheceu poetas como Pope e Young, e tomou contato com as ideias sobre a liberdade política inglesa. Dessa experiência resultou o livro “Cartas Filosóficas” (1734), publicado na França e Inglaterra. Voltaire teve muitas amantes, entre elas, a marquesa de Chatelet, Emile de Bretiul, que pode ter-lhe inspirado a escrever algumas novelas irônicas como "O Filho Pródigo”, “O Mundano" e ”Cândido", essa última, uma crítica aos seus opositores. Entre as tragédias, destaca-se “Tancredo” (1760); dos contos filosóficos, importante é “O ingênuo” (1767), no qual tratava dos abusos políticos; No “Tratado Sobre a Tolerância" (1763) discorreu elogios sobre a razão. Voltaire era grande defensor do progresso tecnológico e da ciência. Criticava veementemente a aristocracia, a Igreja Católica e os dogmas religiosos. Porém, arrependeu-se no fim da vida, escrevendo um artigo na revista francesa Correpondance Littérairer, Philosophique et Critique, onde retomava à fé cristã. Morreu em 1778, no mesmo ano em que foi iniciado Maçom. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo e teórico político suíço. Foi um dos precursores do movimento iluminista na França. Rousseau nasceu na Genebra e veio de família pobre. Foi educado por pastor protestante. Exerceu vários ofícios: foi gravador e professor de música. Nesse ramo, chegou a escrever duas óperas. Em 1742, fixou-se em Paris, onde cultivou contatos com filósofos como Diderot. Nesses contatos, amadureceu suas ideias que seriam publicadas em seus livros. Publicou o livro "Discurso Sobre as Ciências e as Artes" (1749), no qual lhe proporcionou uma medalha de ouro como prêmio. No segmento da política, seu livro mais importante é ”o Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens” onde relatou a situação do homem no estado de natureza e aponta que ele tende a fazer parte da sociedade. Alguns livros trouxeram problemas para Rousseau. “Emílio”, obra pedagógica e “Do Contrato Social” lhe rendeu uma prisão por serem obras consideradas subversivas. Foi perseguido pelos protestantes, mas a convite do filósofo Inglês David Hume, refugiou-se na Inglaterra. Rousseau passou a vida quase inteira sofrendo de problemas financeiros. Não teve condições de educar os seus filhos, entregando-os ao orfanato. O pensamento de Rousseau influenciou as ideias da revolução francesa. Rousseau pregava que a liberdade era o valor supremo do homem. Anti-racionalista, foi favorável ao preceito de que os homens nasciam bons, a sociedade é que as corrompiam. Criticava a civilização, acusando-a de dissimulada e hipócrita. Rousseau morreu em 1778 e seus restos mortais foram transportados para o Panteão de Paris. FONTES: Texto: A Revolução Francesa e a modernidade. Livro: Repensando a História. Editora: Contexto. Site: e-Biografias (http://www.e-biografias.net)