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03. Concurso de crimes I e II2010[1]

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DO CONCURSO DE CRIMES
www.professorfranklin.com.br 
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Conceito e espécies:
"Quando um sujeito, mediante unidade ou pluralidade de ações ou de omissões, pratica dois ou mais delitos, surge o concurso de crimes ou de penas (concursus delictorum)". (Damásio de Jesus).
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ESPÉCIES DE CONCURSO: 
a) concurso material (art. 69)
b) concurso formal (art. 70)
c) crime continuado (art. 71)
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Concurso Material:
Verifica-se quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos (concurso material homogêneo) ou não (concurso material heterogêneo).
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Concurso Material:
Ex.: Um indivíduo rouba um veículo, atropela e mata um pedestre na fuga e rapta uma mulher com o fim de praticar com ela atos libidinosos. Há, no caso, várias condutas e vários crimes (roubo - art. 157, homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302, 
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Concurso Material:
caput, do CTB e crime de seqüestro qualificado (CP, art. 148, parágrafo 1º, V) 
Conseqüência: as penas privativas de liberdade devem ser somadas, mas o cumprimento da pena não pode ultrapassar 30 anos (art. 75).
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Concurso Material:
Antes de somá-las o juiz precisa individualizar e motivar cada pena, para que se saiba qual foi a sanção de cada crime (STF, RTJ 95/823).
Atentar para o disposto no art. 111 da LEP:
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Concurso Material:
"Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, 
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Concurso Material:
a detração ou remição.
Parágrafo único - Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime."
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Concurso Formal (também chamado de concurso ideal):
Verifica-se quando o agente, com uma só conduta, pratica dois ou mais crimes idênticos (concurso formal homogêneo) ou não (concurso formal heterogêneo). 
Ex.: Um indivíduo que dirigindo seu veículo de forma imprudente, sobe a calçada e
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Concurso Formal:
atropela e fere várias pessoas.
"O fato da ação ser única não impede que haja uma pluralidade de atos, que são os segmentos em que se divide a conduta. O que caracteriza o crime formal e justifica o tratamento penal mais brando (cúmulo jurídico) não é a
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Concurso Formal:
unidade de conduta, mas a unidade do elemento subjetivo que impulsiona a ação." (Paulo José da Costa Jr.). 
Não pode haver para os vários crimes desígnios autônomos; deve o agente objetivar um só fim. Se houver outros fins será imperfeito.
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Concurso Formal:
Ex.: O ladrão que no interior de um ônibus subtrai as carteiras dos passageiros.
Ex.: Uma pessoa que no interior de estádio de futebol xinga vários torcedores.
Ex.: O vizinho que subtrai a energia elétrica de seus confinantes.
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Conseqüência: 
Concurso formal homogêneo (penas idênticas) - aplica-se uma só pena, aumentada de um sexto até metade.
Ex.: Um indivíduo que dirigindo seu veículo de forma imprudente, sobe a calçada e atropela e fere várias pessoas. 
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Conseqüência:
Aplica-se a pena da lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (art. 303, caput, da Lei n º 9.503, de 23 de setembro de 1997 - CTB), acrescida de um 1/6 (um sexto) até a ½ (metade).
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Conseqüência:
Concurso formal heterogêneo (penas diversas) - aplica-se a pena mais grave, aumentada de 1/6 (um sexto) até ½ metade. No mesmo exemplo supra, o indivíduo mata uma e fere as demais.
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Conseqüência:
Aplica-se a pena do homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 303, caput, da Lei n º 9.503, de 23 de setembro de 1997 - CTB) (mais grave), acrescida de um 1/6 (um sexto) até a ½ (metade).
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Observação:
"Suponha-se que o agente tenha praticado um homicídio simples e uma lesão corporal leve em concurso formal. 
Aplicado o princípio do concurso ideal, sofreria pena mínima de sete anos de reclusão (seis anos pelo homicídio, 
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Observação:
mais um sexto previsto no art. 70 do CP). 
Ora, aplicada a pena de acordo com o concurso material, seria de seis anos de reclusão pelo homicídio e três meses de detenção pela lesão corporal leve (seis anos e três meses de pena privativa de liberdade). 
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Observação:
Assim, a pena aplicada não pode ser superior à que seria cominada se fosse caso de concurso material.
Logo a razão da regra do § único do art. 70: "não poderá a pena exceder a que seria cabível" pelo princípio do concurso material." (Damásio).
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Concurso Formal Imperfeito (art. 70, caput, 2ª parte):
As penas aplicam-se, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnio autônomos (art. 70, caput, 2ª parte).
Suponha-se que o agente, com um só projétil de revólver, mate dolosamente duas pessoas. 
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Concurso Formal Imperfeito:
Há unidade de condutas e autonomia de desígnios (dirigidos à morte de duas pessoas). 
Mas, o concurso continua sendo formal, mas, na aplicação da pena, manda o CP que seja realizada com base na regra do concurso
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Concurso Formal Imperfeito:
material: as penas devem ser somadas. No exemplo, devem ser somadas as penas dos dois homicídios dolosos (Damásio de Jesus).
Obs: 	no concurso formal imperfeito a conduta externamente é única, mas perante a consciência do
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Concurso Formal Imperfeito:
agente representam vários eventos. Ex.: Um sujeito pode estuprar uma mulher com dupla finalidade: obter prazer sexual e transmitir doença venérea. Com uma só conduta realiza dois fins (art. 213 c/c art. 130, ambos do CP).
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Crime Continuado:
Trata-se de ficção jurídica em que o legislador, para beneficiar o réu, presume a existência de um só crime. 
"Há crime continuado (também chamado de continuidade delitiva) quando o agente comete dois ou mais crimes da mesma espécie, 
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Crime Continuado:
mediante mais de uma conduta, estando os delitos, porém, unidos por determinadas circunstâncias (condições de tempo, lugar, modo de execução ou outras circunstâncias que permitem deduzir a continuidade)." (Celso Delmanto).
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Crime Continuado:
O Código Penal adotou a teoria objetiva pura, sendo suficiente a demonstração objetiva das circunstâncias, sendo irrelevante o elemento subjetivo do agente (ter sido traído pela vítima, participar de assalto para pagar tratamento de pessoa da família).
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Crime Continuado:
A expressão “e outras semelhantes” empregada no art. 71 só se refere, segundo o STF, a outras circunstâncias de caráter puramente objetivo que se relacionam com os meios e modos de realização do crime, tempo, ocasião, lugar, objeto material e etc.
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Crimes da mesma espécie:
"Crimes da mesma espécie são os do mesmo tipo penal, isto é, aqueles que possuem os mesmos elementos descritivos abrangendo as formas simples, privilegiadas e qualificadas, tentadas ou consumadas." (Damásio e STF).
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 Conseqüência:
Crime continuado homogêneo que são dois ou mais crimes idênticos.
Aplica-se uma só pena, com o aumento de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços).
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 Conseqüência:
Crime continuado heterogêneo que são dois ou mais crimes diversos, mas objetividade jurídica idêntica. 
Aplica-se a mais grave das penas, aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços).
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Divergência sobre a unidade de sujeito passivo:
Há grande discussão doutrinária e divergência jurisprudencial sobre a necessidade ou não de unidade de sujeito passivo no crime continuado quando são atingidos bens personalíssimos (vida, saúde, integridade física, honra e etc.). 
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Consideração do elemento subjetivo:
Embora o CP tenha optado pela teoria puramente objetiva, não vemos como desconsiderar o elemento subjetivo na análise da continuidade delitiva. 
Damásio entende que a morte de A não pode ser a continuação da morte de B, 
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Crimes que ofendem interesses impessoais:
ou que o estuprador
de várias mulheres esteja agindo com unidade de desígnios. 
Por isso, afirma ele: "enquanto nos crimes que ofendem interesses impessoais a unidade ou diversidade de sujeito passivo é indiferente ao agente. Ex.: vários furtos.
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Crimes que ofendem interesses pessoais:
Nos delitos que lesam bens pessoais, havendo várias vítimas, a passagem de uma lesão a outra opera também uma mudança na resolução delituosa. 
Assim, não é admissível a relação de continuidade (o Min. Assis Toledo concorda).
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Posição adotada pelo CP:
Não é essa, entretanto, a posição adotada pelo CP. 
A diversidade de bens jurídicos personalíssimos não impede a continuidade delitiva. 
Mas o legislador apenou esta hipótese de forma mais grave,
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Continuidade nos crimes contra a vida:
consoante o disposto no parágrafo único do art. 71.
A súmula 605 do STF que diz: “Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida”, restou prejudicada com a reforma de 84, que acrescentou o parágrafo único ao art. 71, § único, do CP.
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Multas no concurso de crimes:
A multa não obedece às regras do concurso formal e do crime continuado é o que se depreende do art. 72: 
“No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente”.
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Limites das Penas:
O art. 75, caput, impõe que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não ultrapasse o limite de trinta anos. 
O preceito atinge a condenação única, advinda do concurso material, 
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Limites das Penas:
e a soma de várias condenações em processos distintos.
Segundo a Exposição de Motivos, nº 61, "as penas devem ser limitadas para alimentarem no condenado a esperança da liberdade e aceitação da disciplina, 
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Interpretações conflitantes do § 1º do art. 75 do CP:
pressupostos essenciais da eficácia do tratamento penal.“
OBS: "O § 1º do art. 75 do CP tem sido alvo de interpretações conflitantes entre Damásio, Superior Tribunal de Justiça, Supremo Tribunal Federal e Mirabete.
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Posição de Damásio e Fragoso:
Para alguns autores (Damásio, "Anotações à Reforma Penal", in O Estado de São Paulo, de 5.5.85; Heleno Fragoso, Lições de Direito Penal, A Nova Parte Geral, 1987, pp. 306-307), o dispositivo penal tem uma finalidade claramente definida no texto legal:
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Posição de Damásio e Fragoso:
a unificação das penas privativas de liberdade, cuja soma for superior a 30 anos para efeito exclusivo de atendimento ao limite máximo de cumprimento. 
A pena unificada não pode servir também como ponto de
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Posição de Damásio e Fragoso:
referência temporal a partir do qual seriam pleiteáveis, em princípio, eventuais benefícios penitenciários ou determinados direitos do condenado.
Assim, o parâmetro a viger seria o do quantum das penas privativas de liberdade efetivamente impostas.
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Posição de Mirabete:
Tal tese foi contestada por Mirabete (Manual de Direito Penal, 1989, p. 319; e "Limite das penas e benefícios do CP", in O Estado de São Paulo, de 16.6.85, p. 54), que atribuiu à pena unificada, nos termos do § 1º, do art. 75 da PG/84 o dúplice papel de fixar o limite
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Posição de Mirabete:
máximo de cumprimento das penas privativas de liberdade e de servir de marco temporal para concessão de eventuais benefícios a que fizer jus o sentenciado (livramento condicional, progressão de regime, remição, comutação, etc.)"
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Posição de Mirabete:
(Código Penal e sua interpretação jurisprudencial, Ed. RT, vários autores, em nota ao art. 75).
Mirabete embasa seu entendimento na conjugação do art. 75, § 1º, e 111 da LEP, e mais no fato de que:
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Posição de Mirabete:
"constituiria verdadeiro contra-senso unificar penas privativas de liberdade para um só fim e, ao mesmo tempo, manter uma dualidade de penas (pena unificada e soma de penas não unificadas) para os demais fins”.
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Posição do STF e o STJ:
O STF e o STJ em reiteradas decisões têm defendido a primeira posição, ou seja, de que a unificação é apenas para atender ao limite máximo do art. 75, não podendo servir de parâmetro para a concessão de benefícios. (RTJ 118/935, RT 668/377, RT 700/398). 
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Condenação por fato posterior:
A condenação por fato posterior (art. 75, § 2º) - Será feita nova unificação desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. 
Ex.: "Condenado a penas que somavam cinqüenta anos, o sentenciado as tem unificadas no limite de trinta anos. 
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Condenação por fato posterior:
Quando já cumprira vinte anos da pena unificada, o preso mata um companheiro de cela e é condenado a vinte cinco anos. 
Para atender à limitação legal de trinta anos, faz-se nova unificação, 
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Condenação por fato posterior:
somando-se o resto da pena que ainda tinha a cumprir 10 anos com a nova pena 25 anos, mas sem permitir que exceda o limite legal. Isso favorece os condenados que pratiquem novo crime logo no início de execução da pena unificada.“(Celso Delmanto).

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