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Ética, Igualdade e Liberdade na Auditoria

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ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 1 
Aula 3: Os desdobramentos da ética: igualdade e liberdade. ..................................... 2 
Introdução ............................................................................................................................. 2 
Conteúdo ................................................................................................................................ 4 
Pensamento social do século XX .................................................................................... 4 
Antigo regime – governo ................................................................................................. 4 
Igualdade ............................................................................................................................. 5 
Igualdade de resultado ..................................................................................................... 5 
Estratificação ...................................................................................................................... 6 
Modelo de castas ............................................................................................................... 6 
Hierarquia social ................................................................................................................ 7 
Liberdade ............................................................................................................................. 8 
Dicionário do pensamento social ................................................................................... 9 
Movimentos sociais ......................................................................................................... 11 
Liberdade de expressão .................................................................................................. 12 
Não liberdade ................................................................................................................... 12 
Conclusão ......................................................................................................................... 13 
Atividade proposta .......................................................................................................... 14 
Referências........................................................................................................................... 15 
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 17 
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 22 
 
 
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Introdução 
A igualdade e a liberdade são questões centrais para a humanidade tanto em 
temas de pesquisa social quanto para a operação da vida social e política. Na 
realidade, tais questões permeiam todos os campos da teoria social, assim 
como a realidade dos indivíduos e das organizações. 
 
Podemos observar que a caracterização da igualdade, da liberdade e do próprio 
preconceito tem sofrido transformações ao longo da história, pois, por exemplo, 
tratar da igualdade no século XVI certamente não é o mesmo que tratá-la no 
início do século XXI. 
 
As ideias de igualdade e liberdade assumem múltiplos significados. Quando 
tratamos de igualdade, relacionamos aspectos individuais, coletivos, políticos, 
religiosos ou seculares? Quando abordamos a liberdade, nos referimos aos 
campos econômico, civil, político e cultural? Podemos ser totalmente livres? Se 
a resposta for afirmativa, qual tipo de liberdade estamos tratando? 
 
A concepção de igualdade exclui o reconhecimento da diferença entre os 
indivíduos? A liberdade é o direito de tudo fazer? E quanto à demanda de 
igualdade de direitos entre os sexos e entre as demais minorias? E quanto ao 
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preconceito? Podemos ser totalmente livres de preconceitos? Eis, portanto, uma 
série de questionamentos que podemos fazer com a possibilidade de outras 
tantas respostas. 
 
É bom lembrar que tais questões não são exclusivamente teóricas; ao contrário, 
dizem respeito ao nosso dia a dia e muitas vezes se exemplificam no ambiente 
organizacional. 
 
Objetivo: 
1. Refletir sobre as implicações éticas em torno da igualdade; 
2. Refletir sobre as implicações éticas em torno da liberdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Conteúdo 
 
Pensamento social do século XX 
1996 - Conforme o Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996), a 
concepção de que as sociedades deveriam reconhecer que seus membros 
deveriam ser tratados de modo igualitário se tornou uma questão central no 
século XX. Entretanto, tal concepção – de que os seres humanos são iguais – 
não é recente, estando presente, por exemplo, por meio de visões religiosas, 
que apontam que todos os seres humanos são filhos de Deus. 
 
Na realidade, para Aristóteles, a igualdade se constitui como essência da 
justiça, porque considera que o ser humano injusto é o que rompe com o 
princípio da igualdade, associando, portanto, a desigualdade ao comportamento 
injusto. (COMPARATO, 2006). 
 
Segundo Bobbio (2000, p. 597), a igualdade pode ser abordada quando nos 
referimos a determinadas características individuais, “quer da distribuição feita 
por alguém pelo menos entre outros dois, quer ainda das normas que 
estabelecem como tal distribuição há de ser efetuada”. 
 
Bobbio (2000, p. 598) conclui que: “Igualdade e desigualdade são, sem dúvida, 
conceitos descritivos. Com efeito, que A e B tenham a mesma idade, 
nacionalidade ou rendimentos é coisa que pode empiricamente verificar-se; 
tanto como a afirmação de que A tem maior habilidade ou aptidão que B. Estas 
asserções, descritivas e não normativas, têm sido chamadas juízos distintos de 
valores”. 
 
Antigo regime – governo 
Em função da decadência das bases que fundavam o sistema hierárquico rígido 
do Antigo Regime, ocorreu a expansão das ideias de igualdade como algo 
prático e real, sobretudo na defesa de que todos são iguais perante as leis e 
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que têm direitos iguais no campo da participação política. (DICIONÁRIO DO 
PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996). 
 
Em um sentido mais amplo, a igualdade social tem como base a noção de que 
os indivíduos devem ser tratados como iguais em todas as áreas que interferem 
nas suas oportunidades, como a educação, o mercado de trabalho, o consumo 
e acesso aos bens sociais. 
 
Igualdade 
Importante sistematização da questão da igualdade é elaborada por Turner, 
citado por Vargas (2009), através da indicação de quatro circunstâncias em que 
a igualdade é colocada como uma questão; a seguir: 
 
A igualdade ontológica é referente aos sistemas morais e religiosos, como o 
cristianismo tradicional e o marxismo humanista. 
 
A igualdade de oportunidade destaca que o acesso às instituições sociais é 
livremente aberto a todas as pessoas por meio de critérios universais, como a 
meritocracia, o talento pessoal e o desempenho. (VARGAS, 2009). 
 
A igualdade de condições aponta que os indivíduos têm a mesma 
quantidade de capital econômico, social e cultural, no reconhecimento de que 
os que estão competindo pelos ganhos sociais devem iniciar do mesmo ponto e 
com iguais vantagens. (VARGAS, 2009). 
 
Igualdade de resultado 
Finalmente, Vargas (2009, p. 108) cita a igualdade de resultado e reconhecea “transformação de desigualdades no ponto de partida em igualdade de 
conclusão”, cujo principal exemplo são os programas de cotas de cunho social e 
étnico. 
 
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Dois outros desdobramentos ocorrem quando abordamos a questão da 
igualdade: de um lado, a questão da desigualdade e, de outro, a questão da 
estratificação. 
 
Estratificação 
A estratificação é entendida como o sistema social por meio do qual os bens, 
como riqueza, poder e prestígio, são distribuídos de modo desigual no interior 
ou entre as sociedades. A estratificação ocorre por meio da diferenciação dos 
indivíduos em categoriais coletivas, como sexo, raça e classe social. (JOHNSON, 
1997). 
 
A estratificação pode também assumir a forma de casta, que “são categorias 
rígidas determinadas por ocasião do nascimento e não permitem mobilidade de 
uma casta a outra” (JOHNSON, 1997, p. 95). Tal sistema está presente na Índia 
e, de certo modo, em contextos sociais de preconceito racial, como foram os 
casos dos EUA e da África do Sul. 
 
Fonte: www.pstu.org.br/node/20278 - Acesso em: 01 dez. 2014. 
 
Modelo de castas 
Ao contrário do modelo de castas, o sistema de classes “dá menos ênfase a 
características imputáveis, tais como raça e antecedentes familiares, e mais a 
critérios universalistas, como grau atingido de educação” (JOHNSON, 1997, p. 
95), garantindo maior grau de mobilidade social. Para a antropologia, uma 
interessante discussão que perpassa a questão da igualdade é a que diz 
respeito à noção de “indivíduo” e de “pessoa”; sobretudo, quando se quer 
entender o ethos social brasileiro e seu modo de vida não apenas no que 
concerne às leis, mas, também, no que interessa ao entendimento da vida 
social de maneira mais ampla. 
 
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Hierarquia social 
A noção de pessoa remete à hierarquia e à rede de relações pessoais, típicas 
das sociedades tradicionais. A noção de indivíduo remete à igualdade e ao 
modo de vida impessoal, típicas das sociedades modernas. A primeira resulta 
em um modo de vida pouco ou nada igualitário, enquanto que a segunda seria 
a expressão máxima da igualdade, pautada que é no ideário da lei igual para 
todos, sem privilégios individuais, grupais ou corporativos. Acompanhe a 
analogia das cartas e entenda mais sobre hierarquia. 
 
 
Atenção 
 Enquanto a noção de indivíduo revela um ente livre, com 
direito a um espaço próprio (igual aos demais indivíduos) e que 
produz as regras da sociedade em que vive, a noção de pessoa 
está vinculada à totalidade social, sendo complementar aos 
demais indivíduos, que recebem as regras da sociedade em que 
estão inseridos. (DA MATTA, 1981). 
 
Na sociedade brasileira, Da Matta (1981) destaca o famoso “você sabe com que 
está falando?” como expressão de um povo com traços de hierarquização das 
relações sociais, visto que se trata de uma expressão utilizada por uma pessoa 
que se revela em determinadas circunstâncias. 
 
No Brasil, as leis tendem à igualdade, mas a vida social mais ampla tende aos 
arranjos pessoais e hierárquicos, tais como o “jeitinho” e o “você sabe com 
quem está falando?”. Este país é diferente da experiência norte-americana, que 
tende ao individualismo e à igualdade, valores e práticas típicas da referida 
sociedade. 
 
Na sociedade brasileira, especificamente, vivemos em um contínuo embate 
entre leis relativamente igualitárias e práticas e atitudes que nos levam a uma 
maneira de viver pouco igualitária. Tal situação se revela tensa, visto que as 
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leis são ou não aplicadas conforme o contexto de cada situação, em função do 
status dos indivíduos envolvidos. 
 
 
Atenção 
 Não há uma única e exclusiva ideia de igualdade quando se trata 
das abordagens teóricas que investigam a dinâmica “igualdade e 
desigualdade”, em função da própria complexidade do assunto. 
Há, contudo, um consenso, que é o reconhecimento da 
necessidade de redução dos níveis de desigualdade, embora não 
exista um consenso teórico e nem político de como deve ser 
reduzida a desigualdade social. Eis um dos maiores dilemas das 
sociedades. 
 
Liberdade 
Inúmeras abordagens podem ser elaboradas sobre a liberdade, desde aquelas 
que associam ao comportamento livre de qualquer restrição, quer individual ou 
social, até as considerações que associam ao controle social. 
 
Quando abordamos a liberdade, devemos perguntar sobre qual tipo estamos 
nos referindo: a liberdade individual, social, política ou religiosa? A liberdade 
individual nos daria o direito de tudo poder fazer? Em que medida, por 
exemplo, a liberdade individual entra em choque com os direitos e interesses de 
terceiros? 
 
A liberdade, tal como a igualdade, é tão crucial que, por meio dela, podemos 
qualificar se determinado regime político é ou não democrático, ou se uma 
empresa é mais ou menos autocrática. 
 
No que concerne às sociedades, os níveis de igualdade estarão condicionados 
pela formação econômica, social e cultural da sociedade. 
 
 
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A liberdade, tal como a igualdade, é tão crucial que, por meio dela, podemos 
qualificar se determinado regime político é ou não democrático, ou se uma 
empresa é mais ou menos autocrática. 
 
No que concerne às sociedades, os níveis de igualdade estarão condicionados 
pela formação econômica, social e cultural da sociedade. 
 
Assim, podemos considerar que, ao longo da história, a liberdade vem sendo 
uma questão central para entender o comportamento humano e a organização 
das sociedades. Isto quer dizer que a compreensão da liberdade sofreu 
alterações, assim como, na atualidade, os níveis de liberdade individual, por 
exemplo, variam entre as diferentes sociedades. 
 
Podemos considerar que existem sociedades e/ou organizações que promovem 
maior liberdade para seus componentes, enquanto outras limitam mais suas 
ações. 
 
A abordagem de Aranha e Martins (2003, p. 316) acerca dos meandros da 
liberdade é bastante pertinente ao afirmar que, pelo senso comum, a liberdade 
está associada a tudo poder fazer, sem constrangimentos. 
 
Mas podemos considerar a liberdade em sentidos mais amplos, por exemplo, no 
âmbito da política, da economia, das leis, da sociedade e dos espaços 
específicos em que os indivíduos se relacionam entre si no exercício do poder, 
dos negócios, do direito e no convívio pessoal. Embora esses campos tenham 
suas características próprias, em todos eles, perpassa a liberdade ética, que 
diz respeito ao sujeito moral, capaz de decidir, com autonomia, em relação a si 
mesmo e aos outros. 
 
Dicionário do pensamento social 
Confirmando a afirmação citada anteriormente, que considera que a liberdade é 
uma categoria com múltiplos sentidos, podemos, conforme o Dicionário do 
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 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 10 
Pensamento Social do Século XX (1996) considerá-la como “positiva” e 
“negativa”. Conforme Lewis, citado pelo referido Dicionário (1996), na 
concepção negativa, “a liberdade significa a ausência de restrição 
desnecessária ou danos” (p. 424) ou, em um sentido mais amplo, conforme 
Berlin apud Dicionário (1996), livre “da interferência deliberada de outros seres 
humanos em uma área em que, não fosse isso, eu poderia atuar” (p. 424). 
 
A referida visão foi entendida entre os pensadores liberais, como J. S.Mill e 
Alexis Tocqueville, que apontaram que a necessidade de algumas restrições 
legais são necessárias visando à preservação de outros valores sociais mais 
amplos. 
 
A perspectiva positiva da liberdade é expressa pela propriedade de direitos, 
cujo uso é “benéfico para aquele que os possui” (p. 424). Na atualidade, 
podemos acrescentar que a ideia de liberdade está cada vez mais associada à 
concepção de cidadania, resultando o estabelecimento dos chamados direitos 
civis, políticos e sociais. Há, portanto, o reconhecimento que, quando tratamos 
de liberdade, não podemos restringir a uma concepção puramente abstrata, 
mas como algo que se mede e se efetua no exercício dos indivíduos inseridos 
no cotidiano social (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 
1996). 
 
Portanto, o sentido negativo de liberdade está “preocupado com as forças 
que restringem os indivíduos de modos e graus diferentes de acordo com sua 
posição social” (p. 525), enquanto o segundo – o positivo – trata “das 
possibilidades de autorrealização e autocomando, igualmente variáveis de 
acordo com as circunstâncias sociais” (p. 525). O primeiro se expressa na 
inexistência de coerção; o segundo ocorre pela possibilidade de plena 
realização pessoal. 
 
É possível também classificar a liberdade enquanto individual ou como 
coletiva. 
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 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 11 
Movimentos sociais 
Os movimentos sociais reivindicatórios de base nacional, de classe ou em 
relação aos grupos minoritários assumem causas em favor de grande número 
de pessoas, além de estarem relacionados a garantias de determinados tipos de 
liberdade individual; isso resulta no reconhecimento que, quando tratamos de 
liberdade, torna-se necessário um conjunto de instituições que garantam seu 
exercício. (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996). 
 
Se, por um lado, pode ser constatado que as pessoas não “nascem livres”, pois, 
ao nascerem, estão sendo inseridos em um determinado contexto social, 
cultural e político que certamente influenciará seus pensamentos e atitudes; por 
outro lado, tal consideração não deve ser tomada de modo rígido, pois as 
pessoas, de modo associativo, podem questionar a ordem vigente e lutar em 
favor da ampliação dos níveis de liberdade e de mudanças na vida social mais 
ampla. 
 
Não podemos deixar de reconhecer que os chamados direitos sociais, que 
incluíram a melhoria de vida das populações (educação, saúde, por exemplo), 
foram inaugurados, executados ou ampliados, de certo modo, à custa de 
restrições à liberdade individual. 
 
Na realidade, a liberdade individual ou de determinados grupos tem como 
resultado a limitação da liberdade de outros, pois a vida das pessoas tem uma 
base social, que necessita de um contínuo debate em função dos interesses 
individuais e sociais. 
 
Apesar de a proteção às liberdades individuais ser uma das bases das 
constituições democráticas, não há um consenso sobre o que é considerado 
liberdade e saber o quanto de liberdade dever ser atribuído aos indivíduos. 
(BLACKBURN, 1997). 
 
 
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Liberdade de expressão 
Quando tratamos de liberdade de expressão, a primeira questão é saber o 
significado de expressão, pois pode ser considerado tanto expor uma obra em 
uma galeria de arte quanto apresentar uma opinião política. Entretanto, 
determinadas maneiras de expressão, como gritar “socorro” em um local 
fechado ou mandar alguém cometer um crime sobre alguém, não têm um 
respaldo legal. 
 
A perspectiva positiva da liberdade de expressão refere-se ao fato de trazer 
benefícios próprios, quer por meio da verdade ou equivoco, quer como um 
elemento importante para o processo de tomada de decisão política. Uma 
justificativa negativa da liberdade é o de que os efeitos causados pelo uso da 
capacidade de expressão são, de alguma forma, menos significativos que os 
causados por outros comportamentos (BLACKBURN, 1997). 
 
Aranha & Martins (2003) apontam interessante debate no campo filosófico em 
torno do que denominamos de determinismo e liberdade. 
 
Não liberdade 
Sob a perspectiva científica, “tudo que existe em uma causa” se refere ao 
mundo da necessidade e da não liberdade. A base da ciência é o determinismo, 
sem o qual seria impossível o estabelecimento das leis gerais. Se tudo fosse 
contingente, não haveria ciência. A livre escolha humana, portanto, seria um 
sonho, pois escolhemos e decidimos em função de um determinado contexto 
dado. 
 
Questionando esta opinião – a do determinismo – existem algumas teses que 
enfatizam, em diferentes níveis, justamente o contrário. 
 
O argumento da “liberdade incondicional”, ou seja, sem condição, indica 
que ser “livre é decidir e agir como se quer, sem determinação causal, seja 
exterior (ambiente em que se vive), seja interior (desejos, motivações 
 
 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 13 
psicológicas e caráter)”. (ARANHA & MARTINS, 2003, p. 318). Ainda que 
possamos reconhecer que tais forças internas e externas possam existir, “o ato 
livre pertenceria a uma esfera independente, em que se perfaz a liberdade 
humana. Ser livre e, portanto, ser incausado”. 
 
A tese da “consciência e liberdade” aponta que existem influências 
históricas, espaciais e culturais que determinam os indivíduos. Contudo, por 
serem seres conscientes, os indivíduos são capazes de conhecer e compreender 
a ordem dos determinismos, permitindo, assim, que, ao conhecer as causas dos 
fenômenos, possam agir sobre a natureza e sobre os homens, buscando a 
mudança ou alteração de ambos. (ARANHA & MARTINS, 2003, p. 320). 
 
A perspectiva da “liberdade situada” destaca que a questão da liberdade não 
se traduz em uma perspectiva abstrata ou teórica, mas nas relações sociais 
entre os indivíduos (ARANHA & MARTINS, 2003). 
 
Isso significa que o ser humano se situa no mundo com um corpo, com 
determinadas características e condições pessoais, familiares e sociais. 
Entretanto, o ser humano é capaz de ir além das determinações, não negando-
as, mas dando-lhes um significado. (ARANHA & MARTINS, 2003). 
 
Conclusão 
Portanto, quer compreendamos a liberdade no sentido socio-histórico, quer 
possamos analisá-la sob a uma visão de natureza filosófica e suas múltiplas 
interpretações, há que se reconhecer que a discussão sobre a liberdade tem 
base social: a liberdade é social, e não exclusivamente individual. (ARANHA & 
MARTINS, 2003, p. 321). 
 
Confirmando essa visão, Comparato (2006) afirma que a liberdade não se dá 
por meio do isolamento, mas, sim, nas relações entre os indivíduos e 
sociedades que se veem como dependentes, em um contexto “de igualdade de 
direitos e deveres”. 
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 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 14 
Atividade proposta 
Para fazer a atividade proposta, assista aos vídeos que abordam a questão do 
papel da liberdade de expressão na visão da filósofa Marilena Chauí. 
 
1. http://www.youtube.com/watch?v=22051sC1RMY 
2. http://www.youtube.com/watch?v=69tQyeWozUc 
3. http://www.youtube.com/watch?v=rpT_FAdbhl4 
 
Após assistir aos vídeos, elabore uma breve resenha acercado tema. 
 
Chave de resposta: a proposta da resenha requer um poder de síntese 
semelhante ao resumo, portanto, você, aluno, deverá descrever acerca do que 
trata o vídeo. Entretanto, deverá apresentar suas opiniões acerca do que está 
sendo veiculado, com ponderações e observações pessoais, concordando ou 
discordando.ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 15 
Referências 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de 
Filosofia. São Paulo: Moderna, 1998. 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: 
Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2003. 
 
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Ed., 1997. 
 
BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de 
Política. Brasília: Editora Universidade Brasília, 2000. 
 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
 
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: Direito, moral e religião no mundo 
moderno. São Paulo: Companhias das Letras, 2006. 
 
DA MATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia 
do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. 
 
DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Ed. 1996. 
 
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: Guia prático da linguagem 
sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. 
 
MARCONDES, Danilo. Desafios da ética no Brasil contemporâneo. In: CHAUVEL, 
Marie Agnes; COHEN, Marcos (org.). Ética, Sustentabilidade e Sociedade: 
desafios da nossa era. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. 
 
 
 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 16 
VARGAS, Hustana Maria. Um pouco do Brasil Real: as desigualdades sociais. In: 
BARROS, Marco Aurélio Nunes (coordenador). Ciências Sociais: para 
aprender e viver. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 17 
Exercícios de fixação 
Questão 1 
Conforme Vargas, a ideia de igualdade assume interpretações diferentes. 
Podemos, então, afirmar que a igualdade ontológica é referente: 
a) Aos valores religiosos e morais, como o cristianismo, o humanismo e o 
marxismo. 
b) Ao acesso às instituições sociais, que é para todos os indivíduos e são 
difundidos através de princípios universais, como a meritocracia, o talento 
pessoal e o desempenho. 
c) Ao reconhecimento que todos têm a mesma quantidade de capital econômico, 
social e cultural e que, no processo de competição, devem iniciar do mesmo 
ponto e com as mesmas vantagens. 
d) Ao reconhecimento que, na alteração de desigualdades, no ponto de partida, 
em igualdade de conclusão, sendo exemplos os programas de cotas de cunho 
social e étnico. 
e) Ao acesso aos governos locais, que produzem serviços e programas para as 
sociedades e agrupamentos humanos. 
 
Questão 2 
A percepção da igualdade de resultado reconhece que: 
a) As pessoas e indivíduos na vida social são iguais de modo absoluto, não 
devendo ocorrer diferenciações entre elas. 
b) Os critérios devem ser estritamente iguais, independentemente da 
desigualdade entre as pessoas. 
c) A desigualdade entre as pessoas devem ser transformadas em mais igualdades 
por meio de políticas sociais diferenciadas. 
d) A desigualdade entre as pessoas é natural, devendo, assim, permanecer. 
e) A desigualdade entre os indivíduos faz parte da vida social, não tendo nada que 
se possa fazer para alterá-la. 
 
 
 
 
 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 18 
Questão 3 
No tocante ao sistema de estratificação social, algumas considerações são 
possíveis de serem afirmadas. Dentre as afirmações abaixo, assinale aquela que 
não corresponde ao referido sistema. 
a) A estratificação é entendida como o sistema social através do qual 
determinados bens, como riqueza, poder e prestígio, são distribuídos de 
maneira desigual. 
b) A estratificação ocorre por meio da diferenciação das pessoas em categoriais 
sociais, como sexo, raça e classe social (JOHNSON, 1997). 
c) A estratificação pode também assumir a forma de casta nas sociedades mais 
tradicionais e em contextos sociais marcados por conflitos raciais. 
d) A estratificação tem como base o reconhecimento de que todas as pessoas são 
plenamente iguais no que tange à cor, sexo e renda. 
e) A estratificação pode ser maior ou menor em função de economia, política e 
cultura de cada sociedade. 
 
Questão 4 
A noção de “pessoa” se contrapõe à noção de “indivíduo”. Dentre as afirmações 
abaixo, assinale a opção correta. 
a) A noção de “pessoa” está presente em sociedades hierárquicas e do tipo 
tradicional. 
b) A noção de “pessoa” está exemplificada em sociedades igualitárias, como a 
norte-americana. 
c) A noção de “pessoa” é referente à igualdade e ao modo de vida impessoal. 
d) A noção de “pessoa” se expressa, sobretudo, nas sociedades modernas. 
e) A noção de “pessoa” diz respeito ao igualitarismo religioso das sociedades 
avançadas. 
 
Questão 5 
A noção de indivíduo se revela e predomina em determinados tipos de 
sociedades. Sendo assim, assinale a resposta incorreta. 
 
 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 19 
a) A noção de indivíduo está baseada na ideia de que a lei é igual para todos, sem 
privilégios individuais, grupais ou corporativos. 
b) A noção de indivíduo se traduz em sociedades marcadas pela hierárquica e se 
revela em expressões como “você sabe com quem está falando?” 
c) A noção de indivíduo que revela um ente livre e que tem direito a um espaço 
próprio é igual aos demais indivíduos e produz as regras da sociedade. 
d) A noção de indivíduo se expressa em sociedades como a norte-americana, 
marcada pelo individualismo. 
e) A noção de indivíduos está relacionada a valores e comportamentos mais 
igualitários e impessoais. 
 
Questão 6 
Quando tratamos da liberdade, há uma qualificação no seu aspecto positivo. 
Qual é o sentido da referida afirmação? 
a) A liberdade positiva representa a ausência de restrição desnecessária ou danos. 
b) Não interferência deliberada dos indivíduos em um determinado campo, que, 
não fosse isso, poderia ser executado ou atuado. 
c) É expresso pela ausência de propriedade de direitos cujo uso é um beneficio 
para aquele que não os possui. 
d) Está preocupada com as forças que limitam as pessoas de diferentes modos, 
conforme sua posição social. 
e) Está relacionada com as forças que constrangem os indivíduos de acordo com 
seu status social. 
 
Questão 7 
De certo modo, por que podemos afirmar que os indivíduos “não nascem 
livres”? 
a) Porque somos determinados pela igreja, pelas gerações futuras e pelos novos 
sistemas políticos. 
b) Porque os seres humanos, ao nascerem, estarão inseridos em um determinado 
contexto social e cultural, que, certamente, influenciará sua forma de viver. 
 
 ÉTICA E LEGISLAÇÃO APLICADA NO PROCESSO DE AUDITORIA 20 
c) Porque podemos questionar os valores e ensinamentos dos nossos 
antepassados. 
d) Porque não estamos situados social e historicamente na sociedade em que 
vivemos. 
e) Porque os indivíduos estão inseridos em um sistema cultural livre e que permite 
toda espécie de expressão individual. 
 
Questão 8 
Assinale a alternativa que corresponde à ideia de que o ser humano não ser 
totalmente livre não deve ser tomada de modo absoluto. 
a) O ser humano não tem a capacidade de questionar a ordem socia. 
b) O ser humano é determinado biologicamente; portanto, não pode mudar. 
c) O ser humano pode questionar a ordem vigente em favor de mudanças. 
d) O ser humano é determinado espacialmente. 
e) O ser humano é determinado territorialmente. 
 
Questão 9 
Assinale a resposta que corresponde aos princípios da tese da “consciência e 
liberdade”. 
a) Ser livre é decidir e agir como se quer, sem determinaçãocausal, quer exterior, 
quer interior. 
b) Os seres humanos são incapazes de compreenderem as influências históricas e 
espaciais que os determinam. 
c) As causas dos fenômenos que nos determinam são impossíveis de serem 
descobertas e alteradas. 
d) Embora os seres humanos possam sofrer influências sociais e históricas que os 
determinam, são capazes de entender tais determinismos e sugerir mudanças. 
e) As consequências dos fenômenos que nos afligem são impossíveis de serem 
descobertas e modificadas 
 
 
 
 
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Questão 10 
Assinale a alternativa que não corresponde à tese da “liberdade situada”. 
a) A liberdade não é algo teórico, mas se realiza entre as relações sociais. 
b) O ser humano é capaz de ir além das determinações individuais, familiares e 
sociais. 
c) O ser humano não tem a capacidade de transpor ou ir além daquilo que o 
determina. 
d) A base da liberdade não é abstrata, mas, sim, baseada nas relações entre os 
indivíduos. 
e) A liberdade não é conceitual, mas se manifesta no convívio social. 
 
 
 
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Aula 3 
Exercícios de fixação 
Questão 1 - A 
Justificativa: A ideia de igualdade ontológica está baseada na percepção do 
reconhecimento, que afirma que, apesar das diferenças, todos são iguais; além 
disso, este ideal está expresso, por exemplo, na noção de que “todos são filhos 
de Deus” ou na “igualdade” expressa na Constituição. 
 
Questão 2 - C 
Justificativa: A igualdade de resultado se apoia no reconhecimento que há uma 
desigualdade e que, portanto, para minimizar a desigualdade, é preciso tratar 
as pessoas de modo diferenciado para produzir mais igualdade. 
 
Questão 3 - D 
Justificativa: A estratificação justamente se assenta na diferenciação entre as 
pessoas, e não na igualdade. 
 
Questão 4 - A 
Justificativa: A noção de pessoa é típica das sociedades relacionais, pouco ou 
nada individualistas ou igualitárias, e está assentada na hierarquização entre as 
pessoas. 
 
Questão 5 - B 
Justificativa: Sim, o “você sabe com que está falando?” é a expressão máxima 
de uma sociedade hierarquizada no cotidiano, embora com leis igualitárias, 
extremamente “pessoalizada” e nada igualitária. 
 
Questão 6 - B 
Justificativa: O sentido positivo da liberdade se revela na capacidade de 
produzir e expressar os valores em que acreditamos. 
 
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Questão 7 - B 
Justificativa: Não nascemos totalmente livres na medida em que o ser humano 
é um ser social, determinado e influenciado pelo contexto em que vive. 
 
Questão 8 - C 
Justificativa: Tal contexto não é necessariamente absoluto, pois os indivíduos 
podem questionar a ordem vigente e lutar em favor da ampliação de mudanças 
na vida social mais ampla. 
 
Questão 9 - D 
Justificativa: A tese da “consciência e liberdade” aponta que existem influências 
históricas, espaciais e culturais que determinam os indivíduos que são capazes 
de compreender a ordem dos determinismos, permitindo, assim, agir sobre a 
natureza e sobre os homens, buscando a mudança de ambos. 
 
Questão 10 - C 
Justificativa: A perspectiva da “liberdade situada” destaca que a questão da 
liberdade não se traduz em uma perspectiva abstrata ou teórica, significando 
que o ser humano se situa no mundo com um corpo, com determinadas 
características e condições individuais, familiares, sociais. Entretanto, é capaz 
de ir além das determinações.

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