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ECONOMIA E DEMOGRAFIA DA ESCRAVIDÃO NO MARANHÃO E NO GRÃO PARÁ UMA ANÁLISE COMPARATIVA DA ESTRUTURA DA POSSE DE CATIVOS (1785 1850)

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1
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
ECONOMIA E 
DEMOGRAFIA DA 
ESCRAVIDÃO NO 
MARANHÃO E NO 
GRÃO-PARÁ: UMA 
ANÁLISE COMPARATIVA 
DA ESTRUTURA DA POSSE 
DE CATIVOS (1785-1850)*
Antonia da Silva Mota**
Universidade Federal do Maranhão
São Luís - Maranhão - Brasil
Daniel Souza Barroso***
Universidade de São Paulo
São Paulo - São Paulo - Brasil
Resumo
O artigo examina as estruturas da posse de escravos dos principais espaços de 
economia agrícola do Maranhão e agroextrativista do Grão-Pará, entre os anos 
de 1785 e 1850. A partir da análise serial de inventários post-mortem, reconstroem-
se os padrões de distribuição e os graus de concentração da propriedade escrava, 
assim como as características dos cativos desses espaços segundo a origem afri-
cana ou crioula, o sexo e a idade.
Palavras-chave
Estrutura da posse de escravos – economia e demografia da escravidão – Grão-
-Pará e Maranhão.
Contato
Antonia da Silva Mota
Av. dos Portugueses, 1966
65080-805 - São Luís - Maranhão
antonia.mota@pq.cnpq.br
Daniel Souza Barroso
Av. Prof. Lineu Prestes, 338
05508-000 - São Paulo - São Paulo
dsbarroso@usp.br
* Agradecemos a Carlos Eduardo Valencia Villa, Maísa Faleiros da Cunha e aos colegas do GP Ruma 
(UFPA) e do NEÁfrica (UFMA); aos pareceristas da Revista de História, pelas críticas tecidas em relação 
ao texto; à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processo 2012/21188-5); ao 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Edital 25/2015) e à Fundação de 
Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Edital Universal 
2015) pelos financiamentos concedidos às pesquisas que resultaram neste artigo.
** Pós-doutora em Demografia Histórica. Professora associada no Departamento de História do Centro 
de Ciências Humanas.
***Doutorando em História Econômica, Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e 
Ciências Humanas.
2
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
ECONOMICS AND 
DEMOGRAPHY 
OF SLAVERY IN 
MARANHÃO AND 
GRÃO-PARÁ: A 
COMPARATIVE ANALYSIS 
OF SLAVEHOLDING 
PATTERNS (1785-1850)
Antonia da Silva Mota
Universidade Federal do Maranhão
São Luís - Maranhão - Brazil
Daniel Souza Barroso
Universidade de São Paulo
São Paulo - São Paulo - Brazil
Abstract
In this article, we analyze the slaveholding patterns in the leading economic agri-
cultural regions of Maranhão and Grão-Pará, between 1785 and 1850. Through 
a serial analysis of probate inventories, we examine slaveholding concentration 
levels and patterns as well as the characteristics of the enslaved population in 
Maranhão and Pará according to their origin – Africa or Brazil –, gender and age.
Keywords
Slaveholding patterns – economics and demography of slavery – Grão-Pará and 
Maranhão.
Contact
Antonia da Silva Mota
Av. dos Portugueses, 1966
65080-805 - São Luís - Maranhão
antonia.mota@pq.cnpq.br
Daniel Souza Barroso
Av. Prof. Lineu Prestes, 338
05508-000 - São Paulo - São Paulo
dsbarroso@usp.br
3
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
Introdução
Nos últimos anos, não foram poucos os estudos que se dedicaram a 
analisar diferentes facetas da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará sete-
-oitocentistas. Da introdução de um contingente mais expressivo de cativos 
em tais regiões na segunda metade do século XVIII ao abolicionismo da se-
gunda metade do século XIX, passando pelas práticas culturais e pelos me-
canismos de resistência empreendidos por suas populações afrodescenden-
tes, muito se avançou no conhecimento acerca dos meandros da escravidão 
no Maranhão e no Grão-Pará.1 Não obstante, tal historiografia permanece 
marcada por uma série de lacunas. Duas das suas principais lacunas dizem 
respeito à ainda escassa produção em torno das características mais gerais da 
escravidão nos perímetros rurais no caso específico do Grão-Pará – em que a 
maior parte das pesquisas enfoca a escravidão urbana2 –, e em torno das ca-
racterísticas econômicas e demográficas da escravidão tanto nos perímetros 
rurais como nos perímetros urbanos no caso do Maranhão e do Grão-Pará.3
No esforço de fornecer novos elementos para a compreensão sobre a 
economia e a demografia da escravidão nessas regiões, este artigo tem como 
objetivo analisar, comparativamente, as estruturas da posse de cativos nos 
três principais espaços de economia agrícola do Maranhão – a Ribeira do 
Itapecuru, dedicada à produção de algodão e de arroz – e agroextrativista do 
Grão-Pará – o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina, voltados à produção de 
açúcar, cacau, outras drogas-do-sertão e gêneros de subsistência diversos –, 
entre 1785 e 1850. A partir de uma amostra documental de 83 inventários ,4 
1 Ver BEZERRA NETO, José Maia. Do vazio africano à presença negra. Historiografia, fontes e referên-
cias sobre a escravidão africana na Amazônia. Artigo não publicado. Belém: Anpuh-PA, 2010, 25 p.
2 Idem, p. 24-25.
3 Ibidem, p. 09-10; BARROSO, Daniel Souza. Por uma história da família e da população na Ama-
zônia brasileira: percursos historiográficos. In: CICERCHIA, Ricardo et al. (ed.). Estruturas, conjun-
turas e representações: perspectivas de estudos das formas familiares. Múrcia, Espanha: Edit. Um, 2014, p. 62.
4 Dos 83 inventários post-mortem coligidos, 33 são atinentes à Ribeira do Itapecuru e 50 ao Baixo 
Tocantins e à Zona Guajarina (conjuntamente). Foram arrolados todos os inventários disponíveis 
no Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão entre 1785 e 1824, que indicavam 
a posse de terras e de cativos na Ribeira do Itapecuru; igualmente, todos os inventários post-
mortem disponíveis no Centro de Memória da Amazônia entre 1810 e 1850, que indicavam a 
posse de terras e cativos no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina; e mais quatro inventários 
provenientes do acervo do Arquivo Público do Estado do Pará, gentilmente cedidos por Ma-
rília Imbiriba – a quem agradecemos –, que também indicavam a posse de terras e de cativos 
no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina. Não encontramos inventários post-mortem referentes 
ao Baixo Tocantins e à Zona Guajarina anteriores a 1810, tampouco conseguimos avançar 
4
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
interessa-nos examinar as características e o grau de concentração da posse 
de escravos, assim como o perfil dos cativos desses espaços (Ribeira do Ita-
pecuru, Baixo Tocantins e Zona Guajarina), em conformidade com a origem 
(africana ou crioula), o sexo e a idade.
O texto encontra-se estruturado em três seções. Na primeira delas, pro-
cedemos a uma caracterização da economia e da demografia das regiões 
investigadas, apresentando também informações gerais acerca do volume e 
das especificidades do tráfico de cativos para o Maranhão e o Pará no con-
texto em tela. Na segunda parte, debruçamo-nos sobre as características e o 
grau de concentração da posse de escravos, evidenciandoa sua distribuição 
segundo as diferentes atividades econômicas e as diferentes faixas de tama-
nho de plantel, e o quão concentrada ou bem distribuída era a propriedade 
cativa. Na terceira e última seção do texto, centramos a nossa atenção nas 
características dos cativos em si. Cumpre-nos observar, de antemão, que 
todas as análises propostas estão assentadas numa perspectiva comparativa, 
sem com isto secundarmos particularidades de cada região.
Ribeira do Itapecuru, Baixo Tocantins e Zona Guajarina: 
aspectos demográficos e econômicos
A Ribeira do Itapecuru, o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina eram, 
do ponto de vista econômico e demográfico, os mais sobressaídos redutos 
escravistas do Maranhão e do Grão-Pará respectivamente. Além de esses 
espaços concentrarem, como observaremos mais adiante, partes por certo 
expressivas das populações cativas do Maranhão e do Grão-Pará, os gêneros 
agroextrativistas produzidos nesses espaços representavam partes de igual 
modo expressivas das pautas de exportação maranhense e paraense. En-
quanto a Ribeira do Itapecuru era responsável por cerca de dois terços do al-
godão e do arroz produzidos no Maranhão5 em pleno período do chamado 
“renascimento agrícola”,6 o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina produziam 
nos inventários referentes à Ribeira do Itapecuru posteriores a 1824 – baliza final de um dos 
projetos que deu origem ao presente texto.
5 VIVEIROS, Jerônimo de. História do comércio do Maranhão, 1612-1895. São Luís: Associação Co-
mercial do Maranhão, 1954, p. 173.
6 Sobre a efetividade do “renascimento agrícola” no Maranhão, ver especialmente ARRUDA, José 
Jobson de Andrade. O Brasil no comércio colonial. São Paulo: Editora Ática, 1980; ASSUNÇÃO, Matthias 
Röhrig. Exportação, mercado interno e crises de subsistência numa província brasileira: o caso do 
Maranhão, 1800-1860. Estudos Sociedade e Agricultura, n. 14. Rio de Janeiro: UFRRJ, abril/2000, p. 32-71.
5
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
praticamente todo o açúcar e fração importante do cacau exportados pelo 
Grão-Pará ao longo de toda a primeira metade do Oitocentos.7
Figura 1
Províncias do Maranhão, do Grão-Pará e adjacências em 1855
Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN/RJ, ARC.028,11,017). Carta corográfica 
das províncias do Maranhão e Piauí e parte das do Pará, Goiás, Bahia, Pernambuco e Ceará. [S. 
I.]: Rio de Janeiro, 1855.
7 Cf. ALDEN, Dauril. The significance of cacao production in the Amazon region during the 
late colonial period: An essay in comparative economic history. Proceedings of the American Phi-
losophical Society, vol. 120, n. 02. Philadelphia: American Philological Society, 1976, p. 103-135; 
ANDERSON, Robin. Colonization as exploitation in the Amazon rain forest. Gainesville: University 
Press of Florida, 1999, p. 40-64.
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Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Ainda que não possamos creditar o estabelecimento de sistemas agrá-
rios no Maranhão e de sistemas agroextrativistas no Pará única e exclusi-
vamente às políticas pombalinas, uma vez que isto implicaria desconsiderar 
esforços anteriores de estabelecimento de uma economia de base agrícola/
agroextrativista em tais regiões,8 não há como dissociarmos o reordenamen-
to econômico e demográfico promovido no Maranhão e no Pará, a partir dos 
meados do século XVIII, da criação do Diretório dos Índios e, sobretudo, da 
altamente capitalizada Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Ma-
ranhão. Políticas que, se por um lado, estavam atreladas ao iluminismo “pa-
radoxal” do marquês de Pombal, no contexto do vasto Império português,9 
por outro lado, visavam atender também demandas regionais do Maranhão 
e do Grão-Pará por incremento de mão de obra – intensificadas nos anos de 
1750, quando uma epidemia de sarampo vitimou parte da sua população in-
dígena, até então de essencial importância à estrutura produtiva da região.10
Como podemos observar a partir dos dados de Walter Hawthorne com-
pilados na tabela 1, entre 1751 e 1787 – período que abrange o monopólio da 
Companhia Geral de Comércio (1755-1778), além de anos anteriores e poste-
riores –, 41.602 cativos de diferentes regiões da África e 3.293 cativos de ou-
tras partes do Brasil ingressaram no Maranhão e no Pará. Do total de 44.895 
escravos que aportaram em tais regiões entre 1751 e 1787, 22.414 (49,9%) 
foram destinados ao Maranhão e 22.481 (50,1%) ao Grão-Pará. Tais números 
revelam que, nas primeiras décadas de introdução de um contingente mais 
expressivo de escravos (período que em grande medida coincide com os 
8 Cf.: CHAMBOULEYRON, Rafael I. Cacao, bark-clove and agriculture in the Portuguese Amazon 
region in the seventeenth and early eighteenth century. Luso-Brazilian Review, vol. 51, n. 01. 
Madison: University of Wisconsin, 2014, p. 01-35.
9 Cf.: MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996 [1995].
10 Sobre a relação entre essa epidemia de sarampo e a introdução de escravos africanos na 
Amazônia, ver VIEIRA JUNIOR, Antônio Otaviano & MARTINS, Roberta Sauaia. Epidemia 
de sarampo e trabalho escravo no Grão-Pará (1748-1778). Revista Brasileira de Estudos de População, 
vol. 32, n. 02. São Paulo: Associação Brasileira de Estudos Populacionais, mai.-ago./2015, p. 
293-311. Sobre os problemas relacionados à mão de obra indígena e a introdução de cativos 
africanos nessa região, ver também SALLES, Vicente. O negro no Pará sob o regime da escravidão. 
Belém: Instituto de Artes do Pará, 2005 [1971]; BEZERRA NETO, José Maia. Escravidão negra no 
Grão-Pará, séculos XVII-XIX. Belém: Paka-Tatu, 2001; CUEVA, Oscar de la Torre. Freedom in Ama-
zonia: The black peasantry of Pará, Brazil, 1850-1950. PhD. dissertation, History, School of Arts and 
Sciences, University of Pittsburgh, 2011; SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Espelhos partidos: etnia, 
legislação e desigualdade na colônia. Manaus: Edua, 2011; SOUZA JÚNIOR, José Alves de. Negros 
da terra e/ou negros da Guiné: trabalho, resistência e repressão no Grão-Pará no período do 
Diretório. Afro-Ásia, n. 48. Salvador: Ceao/UFBA, jul.-dez./2013, p. 173-211.
7
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
anos de monopólio da Companhia de Comércio), o Maranhão e o Grão-Pará 
receberam praticamente o mesmo número de cativos – comportamento que 
viria a se infletir nas décadas seguintes à dissolução desse monopólio. Entre 
1788 e 1842, o Maranhão recebeu 77.083 escravos, mais que o triplo do nú-
mero de cativos ingressados no Pará (21.382), entre 1788 e 1841.11
11 Para um balanço sobre a historiografia dedicada ao tráfico de escravos destinado ao Mara-
nhão e ao Pará, ver especialmente: SANTOS, Diego Pereira. Entre costas brasílicas: o tráfico interno 
de escravos em direitura à Amazônia, c. 1778-c. 1830. Dissertação de mestrado, História Social da 
Amazônia, Universidade Federal do Pará, 2013.
8
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Tabela 1
Estimativasdo tráfico de escravos para 
o Maranhão e o Grão-Pará (1751-1842)12
 
Período
 
Regiões de procedência
TotalMina Alta Guiné eCabo Verde
África 
centro-
ocidental e 
São Tomé
Moçam-
bique
Outras 
partes
do Brasil 
N % N % N % N % N %
M
ar
an
h
ão
 (
M
A
)
1751-
1787 - - 16.432 73,4 4.178 18,6 - - 1.804 8,0
22.414 
(100,0%)
1788-
1800 368 1,6 13.597 58,6 2.707 11,7 371 1,6 6.144 26,5
23.187 
(100,0%)
1801-
1815 599 1,8 21.770 65,7 6.571 19,8 531 1,6 3.664 11,1
33.135 
(100,0%)
1816-
1842 831 4,0 4.874 23,5 14.388 69,3 668 3,2 - -
20.761 
(100,0%)
Total 1.798 1,8 56.673 57,0 27.844 28,0 1.570 1,6 11.612 11,6 99.497 (100,0%)
G
rã
o
-P
ar
á 
(P
A
)
1751-
1787 - - 13.133 58,4 7.859 35,0 - - 1.489 6,6
22.481 
(100,0%)
1788-
1800 328 3,9 1.097 13,1 4.979 59,3 - - 1.998 23,7
8.402 
(100,0%)
1801-
1815 424 4,9 2.282 26,3 5.953 68,7 - - 11 0,1
8.670 
(100,0%)
1816-
1841 - - 658 15,3 3.652 84,7 - - - -
4.310 
(100,0%)
Total 752 1,7 17.170 39,1 22.443 51,2 - - 3.498 8,0 43.863 (100,0%)
Total 
(MA+PA) 2.550 1,8 73.843 51,5 50.287 35,1 1.570 1,1 15.110 10,5
143.360 
(100,0%)
Fonte: HAWTHORNE, Walter. From Africa to Brazil: Culture, identity and an Atlantic slave 
trade, 1600-1830. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, p. 52-53.
12 Os dados compilados na tabela 1 foram extraídos da obra referenciada de Walter Hawthorne, 
com duas adaptações: as regiões de procedência foram traduzidas literalmente do original 
em inglês e os percentuais foram recalculados levando em conta a participação relativa dos 
escravos oriundos de cada região de procedência, em função dos quatro períodos de obser-
vação considerados pelo autor. Cumpre-nos informar, no que é atinente ao último período de 
observação, que a baliza final adotada por Hawthorne para o Maranhão é 1842, enquanto para 
o Pará é 1841 – ou seja, tal diferença não advém de eventual erro de tabulação de nossa parte.
9
rev. hist. (São Paulo), n. 176, a07815, 2017
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
Além de uma diferença no volume de escravos importados, os dados 
estampados na tabela 1 evidenciam outra diferença marcante entre os trá-
ficos de cativos destinados para o Maranhão e o Pará no contexto posterior 
à Companhia de Comércio. Se atentarmos para as regiões de proveniência 
dos cativos na África, entreveremos que a maioria absoluta dos escravos 
importados para o Maranhão, até 1815, era procedente da Alta Guiné e de 
Cabo Verde. O peso relativo dos cativos importados dessas regiões só veio a 
diminuir após 1816, quando o tráfico de escravos oriundos de regiões acima 
do Equador já havia sido definitivamente proibido pelo Congresso de Viena 
(1815). Diferentemente do Maranhão, no Pará, o peso relativo dos escravos 
procedentes da Alta Guiné e de Cabo Verde alcançou maioria absoluta ape-
nas no primeiro período de observação.13 Também é digno de nota o fato 
de o Maranhão e o Pará terem adquirido quantidade razoável de cativos de 
outras partes do Brasil até o fim do século XVIII e o início do século XIX.
Este fluxo de cativos contribuiu de modo inconteste para a consolidação 
de sistemas agrários (Maranhão) e agroextrativistas (Grão-Pará) embasados 
no uso de mão de obra escrava de origem africana. Embora parte da pri-
meira metade do século XIX tenha sido marcada pela desestruturação das 
estatísticas brasileiras,14 as obras de caráter corográfico elaboradas por Antônio 
Bernardino Pereira do Lago e Antônio Ladislau Monteiro Baena podem servir 
como parâmetro para a efetividade demográfica da escravidão no Maranhão e 
no Grão-Pará nos anos de 1820. Não obstante as limitações técnicas e os juízos 
de valor inerentes às narrativas corográficas daquela época, trata-se talvez 
das melhores informações de que dispomos acerca das características mais 
gerais da população do Maranhão e do Grão-Pará no limiar do Oitocentos.
13 Nos anos de 1750, quando foi estabelecida a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e 
Maranhão, a grande maioria dos cativos trazidos para o Brasil já era proveniente da África 
central-atlântica. Segundo as estimativas Philip D. Curtin, foi na década de 1730 que tal região 
africana superou a Costa da Mina como a principal fornecedora de escravos para o Brasil. 
CURTIN, Philip. The Atlantic slave trade: A Census. Madison: Wisconsin University Press, 1969, p. 
27. Esse movimento foi decorrente, porém, da consolidação do Rio de Janeiro como o mais 
importante porto receptor de africanos no Brasil, em substituição a Salvador que, a exemplo 
do Maranhão, continuou tendo a África ocidental como a principal fonte de cativos. Entre 
1776 e 1810, 70,6% dos navios negreiros desembarcados em Salvador eram oriundos da África 
ocidental. FLORENTINO, Manolo Garcia et al. Aspectos comparativos do tráfico de africanos 
para o Brasil (séculos XVIII e XIX). Afro-Ásia, n. 31. Salvador: Ceao/UFBA, jan.-jun./2004, p. 92-96.
14 MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento demográfico e evolução agrária paulista: 1700-1836. São Paulo: 
Hucitec/Edusp, 2000, p. 40.
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
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http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Em Estatística histórico-geográfica da província do Maranhão, Pereira do Lago 
indicou que a população do Maranhão era composta, em 1821, por 152.893 
habitantes –68.359 (44,7%) livres e 84.534 (55,3%) cativos. Posto que o autor 
não mencione especificamente o espaço da Ribeira do Itapecuru, Pereira do 
Lago sugere que 29,2% da população livre (19.960 indivíduos) e 82,6% da po-
pulação cativa (69.534) da província estavam empregados na lavoura. Sendo 
a Ribeira, como já argumentamos, a principal região produtora de gêneros 
agrícolas (algodão e arroz, especialmente) do Maranhão, não seria de todo 
irreal supormos que parte expressiva desses 69.534 cativos estivesse aloca-
da na Ribeira do Itapecuru. Os demais escravos da província integravam o 
cenário de escravidão urbana da capital São Luís ou estavam espraiados por 
outras regiões do Maranhão.15
Tabela 2
População livre e escrava do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina em 1823
Localidade
Livres Escravos 
Total
N % N %
Abaeté 3.711 69,4 1.639 30,6 5.350 (100,0%)
Acará 1.539 51,7 1.437 48,3 2.976 (100,0%)
Baião 1.500 76,9 450 23,1 1.950 (100,0%)
Barcarena 472 56,4 365 43,6 837 (100,0%)
Benfica 913 92,7 72 7,3 985 (100,0%)
Bujaru 799 46,6 915 53,4 1.714 (100,0%)
Cametá 8.068 85,4 1.382 14,6 9.450 (100,0%)
Capim 1.874 52,3 1.710 47,7 3.584 (100,0%)
Igarapé-Miri 1.734 48,5 1.839 51,5 3.573 (100,0%)
Moju 1.429 45,3 1.728 54,7 3.157 (100,0%)
São Miguel do Guamá 629 58,7 442 41,3 1.071 (100,0%)
Total do Baixo Tocantins e da 
Zona Guajarina 22.668 65,4 11.979 34,6 34.647(100,0%)
Total da Província do Grão-Pará 120.215 80,0 29.977 20,0 150.192 (100,0%)
 
Obs.: Em relação a todas as localidades elencadas, foram utilizados somente os dados concer-
nentes às freguesias homônimas, salvo nos casos das localidades de Abaeté, em que também 
15 Os dados acerca da população total e da população empregada na lavoura do Maranhão foram 
retirados, respectiva e originalmente, dos mapas 3 e 15 de PEREIRA DO LAGO, Antônio Bernardino. 
Estatística histórico-geográfica da província do Maranhão. Lisboa: Tip. da Real Academia de Ciências, 1822.
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Antonia da Silva Mota & Daniel Souza BarrosoEconomia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
foram consideradas as vilas de Beja e do Conde, e do Capim, em que também foi considerada 
a paróquia de São Domingos da Boa Vista.
Fonte: BAENA, Antônio. Ensaio corográfico sobre a província do Pará. Brasília: Senado Fe-
deral, Conselho Editorial, 2004 [1839], p. 260-268.
Ao compararmos os dados de Pereira do Lago com os dados coligidos 
por Antônio Baena, em seu Estudo corográfico sobre a província do Pará (tabela 2), 
notaremos que só a população cativa empregada na lavoura maranhense 
(69.534) representava mais que o dobro de toda a população cativa do Grão-
-Pará (29.977). Naturalmente, a diferença expressiva entre os contingentes 
escravos de cada região examinada estava diretamente relacionada aos dife-
rentes fluxos de escravos destinados ao Maranhão e ao Pará a partir do final 
da década de 1780, como destacamos anteriormente. Conquanto estudos an-
teriores já tenham sugerido a elevada capacidade de reprodução endógena 
da escravaria paraense no século XIX,16 à qual nos remeteremos mais adian-
te, o fator determinante que concebeu a grande diferença indicada entre as 
populações cativas do Maranhão e do Pará foi a maior expressividade do 
tráfico destinado àquela província em relação a essa.
Como também podemos observar através das informações da tabela 2, 
40,0% da população cativa do Grão-Pará estava situada no Baixo Tocantins e 
na Zona Guajarina, perfazendo 11.979 cativos. No limiar da década de 1820, 
55,0% dos escravos dessas regiões encontravam-se reunidos em quatro loca-
lidades: Cametá, Abaeté e Igarapé-Miri e Moju. Tratava-se das localidades com 
o maior grau de dinamismo econômico do Baixo Tocantins e da Zona Guaja-
rina. Cametá, além de constituir o principal núcleo urbano das microrregiões 
tocantina e guajarina, era um dos principais núcleos produtores de cacau 
do Pará. Já Abaeté, Igarapé-Miri e Moju eram três dos principais núcleos da 
tradicional lavoura canavieira dessas regiões17 e onde estavam estabelecidas 
algumas das mais proeminentes famílias detentoras de engenhos de açúcar 
do Grão-Pará sete-oitocentista, a exemplo das famílias Corrêa de Miranda 
e Oliveira Pantoja – cujas trajetórias já foram oportunamente examinadas.18
16 Cf. BARROSO, Daniel Souza. Múltiplos do cativeiro: casamento, compadrio e experiência 
comunitária numa propriedade escrava no Grão-Pará (1840-1870). Afro-Ásia, n. 50. Salvador: 
Ceao/UFBA, jul.-dez./2014, p. 93-128.
17 BEZERRA NETO, José Maia. Escravidão negra no Grão-Pará, op. cit., p. 55-56.
18 Cf. ÂNGELO, Helder Bruno Palheta. O longo caminho dos Corrêa de Miranda no século XIX: um estudo sobre 
família, poder e economia. Dissertação de mestrado, História Social da Amazônia, Universidade Federal 
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
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http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2017.121833
Por mais que a efetividade demográfica dos escravos da Ribeira do Ita-
pecuru, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina reflita a sua importância 
econômica nessas regiões em virtude do mútuo condicionamento existente 
entre a demografia e a economia da escravidão,19 algumas questões ainda 
continuam em aberto: em quais termos se estruturava a posse de escravos 
em tais espaços? Seria a posse concentrada ou relativamente bem distribuída 
entre os escravistas? Quais atividades econômicas reuniam o maior número 
de escravos: a tradicional lavoura canavieira, a produção de cacau ou uma 
agricultura de subsistência e abastecimento no Grão-Pará, ou a produção 
de algodão e arroz no caso do Maranhão? Essas são parte das questões que 
procuraremos responder na seção seguinte, consagrada à análise compara-
tiva da estrutura da posse de cativos nestas regiões.
Ribeira do Itapecuru, Baixo Tocantins e Zona Guajarina: 
padrões da posse de cativos
Com vistas à análise da estrutura da posse de cativos na Ribeira do 
Itapecuru, no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina, lançamos mão de uma 
série documental constituída por 83 inventários post-mortem provenientes 
dos acervos do Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão (ATJ-
MA), do Centro de Memória da Amazônia (CMA) e do Arquivo Público do 
Estado do Pará (Apep). Compulsamos, ao todo, 33 inventários concernentes 
à Ribeira do Itapecuru entre 1785 e 1824, e 50 inventários concernentes ao 
Baixo Tocantins e à Zona Guajarina entre 1810 e 1850 (ver nota 4). A nossa 
amostra referente ao Maranhão é formada por 33 escravistas e 2.958 cativos, 
e a referente ao Pará é formada por 50 escravistas e 1.172 cativos. Tal quan-
titativo, tratado adequadamente, enseja-nos a traçar o panorama da posse e 
as características dos escravos dessas regiões.20
De modo a melhor caracterizarmos as propriedades escravas investiga-
das, classificamo-las de início em cinco faixas de tamanho de plantel: pe-
do Pará, 2012; SANTOS, Marília C. Imbiriba dos. Família, trajetória e poder no Grão-Pará setecentista: os Olivei-
ra Pantoja. Dissertação de mestrado, História Social da Amazônia, Universidade Federal do Pará, 2015.
19 Sobre a ideia da existência de um mútuo condicionamento entre a demografia e a economia 
da escravidão, ver especialmente MOTTA, José Flávio. Corpos escravos, vontades livres: posse de cativos 
e família escrava em Bananal (1801-1829). São Paulo: Annablume, 1999.
20 Sobre os limites e as potencialidades do uso de amostras de inventários post-mortem, ver LIN-
DERT, Peter H. An algorithm for probate sampling. The Journal of Interdisciplinary History, vol. 11, 
n. 04. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology (MIT). Spring/1981, p. 649-668.
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
quenos (de um a nove cativos); médios (de 10 a 19); grandes (de 20 a 49), mui-
to grandes (de 50 a 99) e megaplantéis (com 100 ou mais cativos). A adoção 
dessas cinco faixas de tamanho de plantel considera tanto as especificidades 
da documentação coligida, quanto os parâmetros existentes na vasta histo-
riografia voltada à estrutura da posse de cativos no Brasil – notadamente nos 
estudos produzidos no contexto dessa historiografia específica que utilizam 
os inventários post-mortem como fonte privilegiada.21 Na tabela 3, apresentamos 
a distribuição dos escravistas e dos cativos que compõem a nossa amostra 
para o Maranhão e o Grão-Pará, segundo as diferentes faixas de tamanho 
de plantel consideradas:
21 Para um balanço crítico da já extensa historiografia dedicada à estrutura da posse de escravos 
no Brasil, ver MOTTA, José Flávio et al. Às vésperas da Abolição: um estudo sobre a estrutura 
da posse de escravos em São Cristóvão, 1870. Estudos Econômicos, vol. 34, n. 01. São Paulo: IPE/
USP, p. 157-213; MARCONDES, Renato Leite. Diverso e desigual: o Brasil escravista na década de 1870. 
Ribeirão Preto: Funpec, 2009; LUNA, Francisco Vidal & KLEIN, Herbert. Escravismo no Brasil. São 
Paulo: Edusp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010 [2009]. Acerca da estrutura da 
posse de cativos em São Paulo especificamente, cf. LUNA, Francisco Vidal & KLEIN, Herbert. 
Evolução da sociedade e economia escravista em São Paulo, de 1750 a 1850. São Paulo: Edusp, 2005; LUNA, 
Francisco Vidal et al. (org.). Escravismo em São Paulo e Minas Gerais. São Paulo: Edusp/Imprensa 
Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: umaanálise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
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Tabela 3
Estrutura da posse de cativos no Maranhão (Ribeira do Itapecuru, 
1785-1824) e no Grão-Pará (Baixo Tocantins e Zona Guajarina, 1810-1850)
FTP
Proprietários Escravos
N % % ac. N % % ac.
M
ar
an
h
ão
01-09 - - - - - -
10-19 01 3,1 3,1 19 0,6 0,6
20-49 11 33,3 36,4 404 13,7 14,3
50-99 10 30,3 66,7 715 24,2 38,5
100/+ 11 33,3 100,0 1.820 61,5 100,0
Total 33 100,0 100,0 2.958 100,0 100,0
G
rã
o
-P
ar
á
01-09 18 36,0 36,0 88 7,5 7,5
10-19 17 34,0 70,0 245 20,9 28,4
20-49 09 18,0 88,0 301 25,7 54,1
50-99 04 8,0 96,0 182 15,5 69,6
100/+ 02 4,0 100,0 356 30,4 100,0
Total 50 100,0 100,0 1.172 100,0 100,0
Fonte: Inventários post-mortem do Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Ma-
ranhão (ATJ-MA), do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo 
Público do Estado do Pará (Apep).
No que diz respeito ao Maranhão, os dados de nossa amostra indicam 
uma grande concentração de escravistas e de cativos nas maiores faixas de 
tamanho de plantel – a maioria dos proprietários de cativos era detentora de 
escravarias grandes, muito grandes ou de megaplantéis, que também con-
centravam a quase totalidade dos cativos examinados, perfazendo a elevada 
média de 89,6 escravos por plantel. Ainda que tal distribuição possa sugerir 
que a documentação consultada tenha porventura superestimado a partici-
pação relativa dos maiores proprietários e dos seus escravos – subestimando, 
por conseguinte, o peso relativo dos menores proprietários e de seus cativos 
–, os dados possibilitam-nos não somente dimensionar a efetividade do trá-
fico de escravos destinado ao Maranhão, como, igualmente, evidenciar parte 
do contexto produtivo no qual se realizavam os importantes cultivos em 
larga escala de algodão e arroz na região, à época do já citado “renascimento 
agrícola”. Retomaremos essa questão mais adiante, ainda nesta seção.
15
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
Guardadas as devidas especificidades, e apesar do caráter provavel-
mente enviesado, nos termos indicados, de nossa amostra de 33 inventários 
post-mortem para o Maranhão, essa concentração da maioria dos escravos da 
Ribeira nos plantéis grandes, muito grandes e nos megaplantéis não deixou 
de mostrar certa similaridade com os padrões de distribuição da proprieda-
de de cativos em outras localidades de distintas regiões brasileiras, marcadas 
por elevados graus de dinamismo econômico e onde também prepondera-
ram as plantations escravistas. A título de exemplo, foi o caso das localidades 
valeparaibanas de Vassouras no Rio de Janeiro e de Bananal em São Paulo 
que, quando do contexto de expansão da economia cafeeira na primeira 
metade do século XIX, apresentaram, outrossim, um padrão de propriedade 
escrava caracterizado pela concentração da maioria de suas escravarias nos 
plantéis de maior porte, sendo reduzido, no caso de ambas essas localidades 
valeparaibanas, o peso relativo dos cativos dos menores plantéis.22 
Acerca do Pará, os dados disponíveis na tabela 3 apontam que, ao passo 
que a grande maioria dos proprietários examinados era detentora de peque-
nos ou médios plantéis, a maior parte dos cativos integrava os plantéis gran-
des, muito grandes ou os megaplantéis – conformando um padrão de pro-
priedade cativa que, aparentemente, se moldava assim desde pelo menos o 
final do século XVIII. Arlene Kelly-Normand, ao proceder a uma exploração 
inicial do Recenseamento Geral do Grão-Pará de 1778, constatou que, en-
quanto 69,3% dos escravistas do Baixo Tocantins detinham plantéis com me-
nos de 10 cativos (36,0% dos escravistas em nossa amostra), 71,2% dos cativos 
pertenciam a plantéis com mais de 10 cativos (92,5% dos escravos no caso de 
nossa amostra).23 A despeito das diferenças de representatividade entre os 
segmentos antes comparados, é possível observarmos a reprodução de um 
padrão semelhante de distribuição da posse de cativos, nada obstante a dimi-
nuição já mencionada na intensidade do tráfico de escravos dirigido ao Pará 
a partir do início do século XIX (ver tabela 1 e os comentários posteriores).
22 Sobre as características da propriedade cativa em Vassouras (Rio de Janeiro) e Bananal (São 
Paulo) no período de expansão da economia cafeeira, ver respectivamente SALLES, Ricardo 
Henrique. E o Vale era o escravo. Vassouras, século XIX. Senhores e escravos no coração do Império. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; MORENO, Breno Aparecido Servidore. Demografia e traba-
lho escravo nas propriedades rurais cafeeiras de Bananal, 1830-1860. Dissertação de mestrado, História 
Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2013.
23 Cf: KELLY-NORMAND, Arlene. Africanos na Amazônia: cem anos antes da abolição. Cadernos do Cen-
tro de Filosofia e Ciências Humanas, n. 18. Belém: UFPA, out.-dez./1988, p. 01-21. Por mais que a autora 
faça alusão ao ano de 1788, os dados analisados em seu artigo são provenientes do Recenseamen-
to Geral do Grão-Pará de 1778 (Arquivo Histórico Ultramarino, Avulsos do Pará, cx. 94, doc. 7509).
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Sem deixarmos de atentar para o caráter potencialmente enviesado dos 
dados coletados acerca do Maranhão, ao compararmo-los com os dados de 
que dispomos sobre o Pará, considerando apenas os plantéis com 20 ou mais 
cativos, concluímos que as grandes, as muito grandes e as megapropriedades 
do Maranhão eram, em média, maiores que suas correlatas paraenses; ao 
passo que os maiores plantéis da Ribeira do Itapecuru possuíam, em média, 
90,7 cativos (para uma média geral de 89,6 cativos por plantel), os maio-
res plantéis do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina possuíam, em média, 
49,4 cativos (para uma média geral de 21,7 cativos por plantel).24 Em outras 
palavras, de acordo com os dados dos inventários post-mortem, as maiores 
escravarias maranhenses detinham em média 41,3 cativos a mais que suas 
correlatas paraenses, nos dois períodos analisados.25
Em que pesem estas diferenças – decorrentes, em grande medida, do 
maior fluxo de escravos direcionado para o Maranhão e do maior dina-
mismo econômico experimentado pela Ribeira do Itapecuru entre 1785 e 
1824, vis-à-vis o Grão-Pará e suas duas microrregiões examinadas (Baixo 
Tocantins e Zona Guajarina) entre 1810 e 1850 –, a posse de cativos no Ma-
ranhão (Gini=0,38) era menos concentrada (leia-se: desigual) do que no Pará 
(Gini=0,58) – atingindo os patamares “regular” na Ribeira do Itapecuru, e 
“moderadamente forte” no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina, conforme a 
nossa amostra.26 Os distintos graus de concentração da propriedade escrava 
nas microrregiões maranhense e paraense analisadas podem ser mais bem 
vislumbrados ao observarmos a disposição do gráfico 1.
24 No caso de nossa amostra para o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina, computamos 54 pro-
priedades para 50 escravistas, pois uma escravista possuía duas e outro escravista detinha 
quatro propriedades em localidades relativamente distantes em tais microrregiões. O mesmo 
não ocorreu no caso de nossa amostra para a Ribeira do Itapecuru onde, como poderemos 
notar mais adiante, as várias frações de terra se situavam em um espaço mais bem delimitado 
(o vale do Itapecuru),promovendo a existência de megapropriedades.
25 Resultado do teste t-Student: t(42) = 2,08, p = 0,14 – não significativo.
26 Segundo a classificação dos graus de concentração do Índice de Gini referentes à posse de 
cativos, proposta por Francisco Vidal Luna e Iraci del Nero da Costa, os valores dispostos 
entre 0,251-0,400 são considerados de fracos a regulares e, entre 0,501 a 0,625, de medianos a 
moderadamente fortes. LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da. Sobre a estrutura 
da posse de escravos em São Paulo e Minas Gerais nos albores do século XIX. Estudios Históricos, 
n. 05. Rivera: CDHRP, Noviembre/2010, s/n.
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Gráfico 1
Curvas de Lorenz para a distribuição da posse de escravos 
(Maranhão, 1785-1824 x Grão-Pará, 1810-1850)
Fonte: Inventários post-mortem do Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Ma-
ranhão (ATJ-MA), do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo 
Público do Estado do Pará (Apep).
Os distintos graus de concentração da propriedade escrava existentes 
entre a Ribeira do Itapecuru, o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina tornam-
se ainda mais patentes quando examinamos as curvas de Lorenz corres-
pondentes à posse de cativos em tais espaços (gráfico 1). Além de não vis-
lumbrarmos quaisquer entrecruzamentos de ambas as curvas – o que, caso 
houvesse, nos desautorizaria a afiançar a existência de diferentes graus de 
concentração da propriedade escrava entre as três microrregiões apreciadas 
–, é possível constatarmos que a curva atinente ao Maranhão dominou, ou 
seja, manteve-se acima da curva relativa ao Pará no decorrer de todas as suas 
respectivas extensões. Este comportamento das curvas de Lorenz corrobora 
as nossas conclusões sobre a existência de distintos graus de concentração da 
propriedade de cativos no Maranhão e no Pará. Tal diferença deriva, dentre 
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outras condições possíveis, do fato de nossa amostra para o Maranhão não 
ter sido tão sensível aos pequenos e médios proprietários como a do Pará.
Por meio da análise de uma série de mapas e relações de cativos datados 
de 1848 e relativos a 10 localidades do Maranhão (algumas das quais situadas 
na Ribeira do Itapecuru), Renato Marcondes encontrou um índice de Gini de 
0,601. Das localidades analisadas pelo autor, a que apresentou o maior grau 
de concentração da propriedade escrava (Gini= 0,657) foi Itapecuru-Mirim, 
localizada na Ribeira.27 Por trás do maior grau de concentração da posse de 
cativos calculado por Marcondes, havia uma participação relativa maior de 
pequenos e médios proprietários pela classificação aqui adotada. Enquanto 
não encontramos para o Maranhão proprietários com menos de 10 cativos 
e encontramos somente um escravista na faixa de 10 a 19 escravos, o peso 
relativo desses segmentos na amostra do autor foi de 78,9%. Por outro lado, 
na amostra de Marcondes, os cativos dos plantéis com 20 ou mais escravos 
também foram a maioria (66,1%) – uma maioria menos efetiva, contudo, da 
que encontramos nos inventários consultados (99,4%).28
A comparação entre os dados coligidos em nossa amostra (derivados de 
inventários post-mortem) e os dados levantados por Renato Marcondes (de-
rivados, por sua vez, de fontes censitárias) não pode perder de vista duas 
questões a nosso ver fundamentais. Em primeiro lugar, em virtude da pró-
pria natureza e também das características diferenciadas das documentações 
compulsadas (os recenseamentos antigos, via de regra, possuíam abrangên-
cia mais universalizada que os inventários post-mortem, os quais por vezes 
circunscreviam-se a extratos sociais mais elevados), é possível que as fontes 
consultadas por Marcondes tenham sido mais sensíveis aos pequenos e aos 
médios proprietários que as nossas.29 Em segundo lugar, entre o recorte ana-
lisado em nosso estudo e o ano observado por Marcondes, tiveram vez uma 
crise generalizada na cotonicultura maranhense e a Balaiada (revolta ocor-
27 MARCONDES, Renato Leite. Posse de cativos no interior do Maranhão (1848). Revista do Instituto 
Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, n. 61. Recife: IAHGP, jul./2005, p. 183.
28 Idem, p. 184.
29 Acerca dos problemas em comparar os dados procedentes dos inventários post-mortem e de 
outros tipos de fontes censitárias, no que se refere à estrutura da posse de cativos, ver sobre-
tudo MARCONDES, Renato Leite. Fontes censitárias brasileiras e posse de cativos na década 
de 1870. Revista de Indias, v. LXXI, n. 251. Madri: CSIC, p. 231-258.
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
rida entre 1838 e 1841) que – assim como a Cabanagem (1835-1840) no caso 
do Pará30 – podem ter causado alterações nos padrões da posse de cativos.31
A despeito de tais observações, a tirarmos pela distribuição dos escra-
vistas pelas diferentes faixas de tamanho de plantel e também pelos índices 
de Gini calculados, notamos que o padrão de distribuição da propriedade 
escrava encontrado para o Maranhão em 1848 é mais semelhante ao que 
encontramos para o Grão-Pará entre 1810 e 1850, e ao padrão encontrado por 
Arlene Kelly-Normand, igualmente para o Pará em 1778,32 do que ao padrão 
que encontramos para a Ribeira do Itapecuru entre 1785 e 1824. De maneira 
a situarmos não os padrões de distribuição da posse de escravos na Ribeira 
do Itapecuru, no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina, mas os seus graus 
de concentração em um contexto mais amplo, apresentamos na tabela 4 os 
índices de Gini relacionados à posse de cativos em diferentes localidades 
brasileiras na primeira metade do Oitocentos.
30 Reiteramos, aqui, a mesma observação feita na nota 23.
31 Sobre a Balaiada, ver especialmente os clássicos: SANTOS, Maria Januária Vilela. A Balaiada e a 
insurreição de escravos no Maranhão. São Paulo: Editora Ática, 1983; ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. 
A guerra dos bem-te-vis. A Balaiada na memória oral. São Luís: Sioge, 1988.
32 Não há estudos com amplo lastro documental dedicados a examinar especificamente o impacto 
da Cabanagem na população escrava do Grão-Pará. O intelectual oitocentista Domingos 
Antônio Raiol estimou que 30.000 pessoas de diferentes segmentos sociais (livres, indígenas 
e cativos) foram vitimadas na revolta, causando grande impacto na estrutura produtiva da 
província do Pará. RAIOL, Domingos Antônio. Motins políticos. Belém: EDUFPA, 1970 [1865-
1890, 5 vol.], p. 806. O número de vítimas e, notadamente, o seu impacto na organização 
econômica da Amazônia têm sido sistematicamente reproduzidos em estudos voltados não 
apenas à Cabanagem, mas também a diversos outros objetos de pesquisa no contexto do 
Pará oitocentista. O número inferido por Raiol, como oportunamente salienta Eliana Ramos 
Ferreira, constitui um “exercício de aproximação quantitativa” que, já há algum tempo, carece 
de revisão. FERREIRA, Eliana Ramos. Guerra sem fim: mulheres na trilha do direito à terra e ao destino 
dos filhos (Pará, 1835-1860). Tese de doutorado, História, Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo, 2010, p. 39-40. Se, por um lado, nada nos leva a pôr em xeque a existência de certo 
impacto populacional e econômicoassociado à Cabanagem, por outro lado, entendemos que 
a leitura de Raiol não pode ser naturalizada ao ponto de prescindir do acompanhamento de 
uma apreciação mais acurada dessas questões. O mapa populacional de 1848, por exemplo, 
indica a existência de 29.706 escravos no Grão-Pará, número um pouco menor que o assinalado 
por Antônio Baena em 1823 (29.977), mas que já não considerava mais o território da antiga 
Comarca do Rio Negro (desmembrada na província do Amazonas em 1850), tampouco a região 
situada entre os rios Gurupi e Turiaçu, que passou a integrar o Maranhão em 1854. Os dados 
do mapa populacional de 1848 encontram-se em PARÁ. Relatório apresentado à Assembleia 
Legislativa da Província do Pará na primeira sessão da XIII Legislatura pelo exmo. sr. presidente 
da província, dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque em 1º de setembro de 1862. Pará: Typ. 
de Frederico Carlos Rhossard, 1862, p. 96.
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Antonia da Silva Mota & Daniel Souza Barroso
Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
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Tabela 4
Índices de Gini relacionados à posse de escravos em diferentes 
localidades e regiões brasileiras na primeira metade do século XIX
Localidade(s) Ano(s)
Principal(is) 
atividade(s) 
econômica(s)
Índice
de Gini
Ribeira do Itapecuru (Maranhão) (a) 1785-1824 Agricultura (algodão e arroz) 0,38
Maranhão (diferentes localidades) (b) 1848
Agricultura 
(algodão e arroz) e 
pecuária
0,60
Baixo Tocantins e Zona Guajarina 
(Grão-Pará) (c) 1810-1850
Agroextrativismo
(açúcar, cacau e outros 
gêneros)
0,58
São Francisco e Santo Amaro,
Recôncavo Baiano (Bahia) (d) 1816-1817
Agricultura 
(Açúcar) 0,59
Campinas (São Paulo) (e) 1804 Agricultura (Açúcar) 0,59
Oeste paulista (São Paulo) (f) 1829 Agricultura (Açúcar) 0,65
São Simão (São Paulo) (g) 1835 Pecuária 0,416
Castro e Ponta Grossa (Paraná) (h) 1825 Pecuária 0,5
Vila Rica (Minas Gerais) (j) 1804 Mineração 0,5
Fonte: (a) Inventários post-mortem do Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do 
Maranhão (ATJMA); (b) MARCONDES, Renato Leite. Posse de cativos no interior do 
Maranhão (1848). Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, n. 
61. Recife: IAHGP, jul./2005, p. 169-186; (c) Inventários post-mortem do Centro de Me-
mória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do Estado do Pará (Apep); 
(d) SCHWARTZ, Stuart B. Padrões de propriedade de escravos nas Américas: nova 
evidência para o Brasil. Estudos Econômicos, vol. 13, n. 01. São Paulo: IPE/USP, jan.-
-abr./1983, p. 259-287; (e) LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da. Posse 
de escravos em São Paulo no início do século XIX. Estudos Econômicos, vol. 13, n. 01. 
São Paulo: IPE/USP, jan.-abr./1983, p. 211-221; (f) LUNA, Francisco Vidal. São Paulo: 
população, atividades e posse de escravos em vinte e cinco localidades (1777-1829). 
Estudos Econômicos, vol. 28, n. 01. São Paulo: IPE/USP, jan.-mar./1998, p. 99-169; (g) LO-
PES, Luciana Suarez. Os proprietários de escravos e a estrutura da posse na antiga 
freguesia de São Simão, 1835. Estudos Econômicos, vol. 42, n. 02. São Paulo: IPE/USP, 
abr.-jun./2012, p. 363-400; (h) GUTIÉRREZ GALLARDO, Dário Horacio. Fazendas de 
gado no Paraná escravista. Topoi - Revista de História, vol. 09, n. 09. Rio de Janeiro: 
UFRJ, jul.-dez./2004, p. 102-127; (j) LUNA, Francisco Vidal. Minas Gerais: escravos e 
senhores – análise da estrutura populacional e econômica de alguns centros mineratórios (1718-
1804). São Paulo: IPE/USP, 1981.
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
A partir dos dados da tabela 4, podemos observar que o grau de con-
centração da posse de escravos no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina era 
não apenas semelhante ao grau encontrado para diversas localidades do 
Maranhão em 1848, mas também aos graus de concentração da posse de 
cativos do Recôncavo Baiano entre 1816 e 1817, e de Campinas em 1804 – am-
bas as regiões dedicadas à lavoura canavieira. O índice que aferimos para as 
duas microrregiões paraenses demonstrou ser inferior ao encontrado para 
o oeste paulista (incluindo a localidade de Campinas) em 1829, quando a 
região ainda se voltava em grande medida à produção de açúcar; e superior 
aos índices encontrados para as localidades de São Simão, Castro e Ponta 
Grossa que se voltavam economicamente à pecuária, e para a localidade 
mineira de Vila Rica em 1804, no ocaso da mineração. Por sua vez, o índice 
de Gini que computamos para a Ribeira do Itapecuru, entre os anos de 1785 
e 1824, mostrou-se inferior a todos os demais índices elencados na tabela 4.
Isso posto, não obstante o caráter provavelmente enviesado dos inven-
tários post-mortem concernentes à Ribeira do Itapecuru e o fato de a maior 
parte dos estudos acima referidos ter lançado mão dos recenseamentos anti-
gos e não de inventários post-mortem – o que teoricamente coloca-nos diante 
da mesma ordem de problema apontada anteriormente, na altura da compa-
ração entre os dados de nossa amostra para o Maranhão e os de Marcondes 
–, os dados disponíveis na tabela 4 sinalizam que o grau de concentração 
da posse de escravos no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina entre os anos 
de 1810 e 1850 era equivalente aos graus de concentração da propriedade 
escrava em outros importantes centros produtores (e exportadores) de gê-
neros agrícolas no Brasil da primeira metade do século XIX – a exemplo de 
Campinas (São Paulo) e de São Francisco e Santo Amaro (Recôncavo Baiano). 
Cabe-nos advertir que aqui estamos nos reportando unicamente aos termos 
de (des)igualdade da posse de escravos e não às suas características.
Não podemos perder de vista que o Maranhão e o Grão-Pará ocupavam 
um lugar de destaque no conjunto de exportações do Brasil nas primeiras 
décadas do Oitocentos. Com uma pauta de exportações bastante diversifica-
da, em que se sobressaíam as produções de algodão e arroz no Maranhão e 
de cacau no Pará, ambas as regiões foram responsáveis por aproximadamen-
te um quinto do conjunto de exportações do Brasil entre 1804 e 1807, sendo 
que apenas a exportação do algodão maranhense foi responsável por 11,7% 
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do total exportado pela colônia entre 1796 e 1807.33 Tal constatação nos leva 
a questionar: em que medida a produção dessas regiões estava associada ao 
uso de mão de obra escrava? Quais atividades econômicas arregimentavam 
um maior número de escravos: a produção de cacau no Pará e as produções 
de algodão e de arroz no caso do Maranhão?
Comungando com uma orientação presente nos estudos sobre a estrutu-
ra da posse de cativos no Brasil, dividimos as propriedades escravas arroladas 
conforme as atividades econômicas características principais dos inventários 
post-mortem, o que não implica, vale frisar, a desconsideração da existência 
de todo um conjunto de atividades cotidianas por parte dos cativos que vi-
savam ao atendimento de suas necessidades básicas e eram de suma impor-
tância no contexto produtivo dessas propriedades. A princípio, tal procedi-
mento desvelou uma característica fundamental do sistema agroextrativista 
estabelecido no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina, que o diferenciava do 
sistema agrícola estabelecido naRibeira do Itapecuru: a presença marcan-
te da policultura. Parte considerável das propriedades paraenses analisa-
das, independentemente da quantidade de cativos que possuíam, voltava-se 
à produção de mais de um gênero, simultaneamente, não se encaixando 
na clássica definição de plantation, no que toca a seu caráter monocultor.
Em relação ao Maranhão, todas as 33 propriedades analisadas se vo-
tavam à produção do algodão, sendo que a grande maioria delas (27) con-
jugava as produções de algodão e arroz. Tratava-se, em geral, de megapro-
priedades divididas em diferentes sortes de terra que se estendiam ao longo 
do vale do rio Itapecuru. Nessas diferentes sortes de terra produzia-se prin-
cipalmente algodão e arroz, mas também se criava gado e se produziam 
gêneros alimentícios diversos, assim como derivados da cana-de-açúcar, 
com a finalidade primordial de abastecer as unidades produtivas de caráter 
monocultor que formavam o complexo econômico cotonicultor e rizicultor 
estabelecido no Maranhão. Posto que os inventários expusessem essas pro-
priedades e os seus plantéis como organismos aparentemente autônomos, 
tratava-se, a rigor, de referências a distintas frações de megapropriedades 
agrárias, como argumentou Antonia da Silva Mota em seu estudo sobre as 
famílias de elite da região.34
33 ARRUDA, José Jobson de Andrade. O Brasil no comércio colonial, op. cit., p. 246.
34 MOTA, Antonia da Silva. As famílias principais: redes de poder no Maranhão colonial. São Luís: Editora 
da UFMA, 2012, p. 85-132.
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Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma 
análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
Um caso certamente sintomático da característica acima mencionada 
é o de Pedro Miguel Lamagnère, o maior proprietário de nossa amostra, 
detentor de 273 escravos, ao falecer em 1816. Lamagnère possuía uma me-
gapropriedade na Ribeira do Itapecuru, dividida em oito porções de terra, 
onde plantava preferencialmente algodão e arroz, mas onde também plan-
tava cana-de-açúcar e criava gado – em proporção bastante menor, cumpre 
dizer, do que algodão e arroz.35 Casos como o de Lamagnère, não incomuns 
em nossa amostra para o Maranhão, não se apresentaram de igual forma 
em nossa amostra para o Grão-Pará. O desembargador Joaquim Clemente 
da Silva Pombo, o segundo maior proprietário que encontramos no Baixo 
Tocantins e na Zona Guajarina, era detentor de 197 escravos e de quatro pro-
priedades espalhadas em diferentes espaços do Baixo Tocantins e da Zona 
Guajarina. Não se tratava, pois, de propriedades rurais situadas em um espa-
ço mais bem delimitado como as propriedades de Lamagnère.36
No que diz respeito ao Grão-Pará, observamos uma maior diversidade 
nos gêneros produzidos. No Baixo Tocantins e na Zona Guajarina, a cultura 
de um ou mais gêneros agroextrativistas ocorria no contexto de uma mesma 
propriedade ou, nos raros casos de proprietários com mais de uma sorte de 
terra, ocorria igualmente no contexto de cada uma dessas frações de terra. 
Ademais, a lavoura das microrregiões paraenses analisadas, muito embora 
não deixasse de produzir determinada quantidade de algodão e arroz, as-
sentava-se, acima de tudo, na produção de derivados da cana-de-açúcar, de 
cacau e de gêneros alimentícios diversos – estes destinados em grande me-
dida ao abastecimento da capital da província do Pará, Belém, e das próprias 
microrregiões tocantina e guajarina.
35 ATJ-MA. Inventário post-mortem de Pedro Miguel de Lamagnère, 1816.
36 CMA/UFPA. Cartório Sarmento. Inventário post-mortem de Joaquim Clemente da Silva Pombo, 1840.
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Tabela 5
Distribuição dos plantéis segundo faixas de tamanho e 
as atividades características dos inventários post-mortem 
(Baixo Tocantins e Zona Guajarina, 1810-1850)
Atividade(s)
FTP Escravos
01-
09
10-
19
20-
49
50-
99 100/+ Total N. Média %
Derivados da 
cana-de-açúcar 01 05 04 02 01 13 451 34,7 38,5
Derivados da 
cana-de-açúcar
e arroz
- - - - 01 01 209 209,0 17,8
Derivados da 
cana-de-açúcar
e cacau
01 01 02 01 - 05 147 29,4 12,5
Cacau 01 02 01 - - 04 51 12,8 4,4
Subsistência ou 
abastecimento 12 07 04 - - 23 240 10,4 20,5
Algodão 01 - - - - 01 06 6,0 0,5
Agricultura e/ou 
extrativismo 02 02 01 - - 05 64 12,8 5,5
Sem produção (a) 02 - - - - 02 04 2,0 0,3
Total 20 17 12 03 02 54 1.172 21,7 100,0
(a) Os três cativos pertencentes a Lourenço Justiniano de Paiva foram classificados 
como “sem produção” por se encontrarem em poder dos “rebeldes cabanos” durante 
a feitura do inventário. Já o único cativo de Francisco José da Rosa também foi clas-
sificado como sem produção, por tratar-se de um cativo qualificado como “velho” e 
residente no “sítio abandonado” que o proprietário possuía em Abaeté.
Fonte: Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e 
do Arquivo Público do Estado do Pará (Apep).
Como podemos notar, a partir dos dados da tabela 5, apesar de o ca-
cau ter representado o principal produto de exportação paraense durante a 
primeira metade do Oitocentos, a mão de obra escrava do Baixo Tocantins e 
da Zona Guajarina encontrava-se fortemente concentrada na lavoura cana-
vieira. As propriedades dedicadas à produção de derivados da cana, que por 
vezes associavam tal atividade à produção de cacau ou arroz, acumulavam 
68,8% dos cativos. A segunda atividade que mais concentrava escravos era a 
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produção de subsistência ou de abastecimento responsável por 20,5% deles. 
A terceira atividade que mais reunia cativos era a produção do cacau que, 
quando realizada em separado dos derivados da cana, era responsável por 
4,4% dos cativos que compõem nossa amostra. Encontramos o uso da mão 
de obra escrava também na produção do algodão e em outras produções 
não especificadas – incluímos nessa categoria os cativos relacionados nos 
inventários sem unidades produtoras (sítios ou fazendas) listadas.
Tais observações, além de comprovarem a ampla disseminação da la-
voura canavieira no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina – produção esta 
realizada das pequenas às maiores propriedades escravistas dessas micror-
regiões –, não podem servir de pretexto para a conclusão de que a produção 
de cacau na Amazônia não lançava mão do trabalho escravo, mesmo que 
em coexistência com outras formas de trabalho – indígena e livre.37 Ocorre 
que, no período examinado (1810-1850), não obstante a ênfase econômica 
do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina na produção de derivados da ca-
na-de-açúcar, a maior parte do cacau produzido no Pará procedia de outras 
regiões da província, especialmente do Baixo Amazonas, onde o uso da mão 
de obra escrava na produção de cacau era largamente difundido.38
A despeito de as formações econômicas do Maranhão e do Grão-Pará te-
rem caminhado lado a lado nos séculos iniciais da colonização, observamos 
diferenças entre as estruturas da posse de cativos existentes na Ribeira do 
Itapecuru entre 1785 e 1824, e no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina entre 
1810 e 1850. Tais diferenças repousam tanto nos distintos graus de concen-
tração da propriedade cativa entre tais microrregiões quanto nadistribuição 
dos escravistas e dos escravos segundo as distintas faixas de tamanho de 
plantel, assim como nas atividades econômicas que concentravam o maior 
número de cativos em cada microrregião investigada. Diferenças de igual 
sorte teriam se efetivado em relação às características dos escravos? O perfil 
da escravaria da Ribeira do Itapecuru seria diferente do perfil dos cativos do 
Baixo Tocantins e da Zona Guajarina segundo a origem (africana ou crioula), 
o sexo e a idade? São estas as questões que procuramos responder na próxi-
ma seção deste artigo, consagrada à análise das características dos escravos.
37 Cf. WALKER, Timothy. Slave labor and chocolate in Brazil: the culture of cacao plantations in Amazo-
nia and Bahia (17th-19th centuries). Food and Foodways, vol. 01, n. 15. Londres: Routledge, 2007, p. 75-106.
38 BALÉE, William. Transformação da paisagem e mudança da língua: um estudo de caso em 
ecologia histórica amazônica. In: ADAMS, Cristina et al. (org.). Sociedades caboclas amazônicas: 
modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006, p. 45-66.
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Ribeira do Itapecuru, Baixo Tocantins e Zona Guajarina: 
características dos cativos
Os informes apresentados na tabela 6 permitem-nos demarcar a pri-
meira diferença entre as caraterísticas dos escravos da Ribeira do Itapecuru 
entre 1785 e 1824 e as dos escravos do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina 
entre 1810 e 1850: o peso relativo dos africanos na população escrava des-
sas microrregiões. Ao passo que em nossa amostra para o Maranhão os 
africanos perfizeram 52,7% de todos os cativos arrolados – peso relativo tal 
que não oscilou significativamente entre as diferentes faixas de tamanho 
de plantel –, em nossa amostra para o Pará, os africanos perfizeram apenas 
27,4% dos cativos inventariados – peso relativo este que apresentou algumas 
oscilações entre as diferentes faixas de tamanho de plantel. Esses dados re-
fletem, a rigor, os distintos fluxos de escravos encaminhados ao Maranhão e 
ao Pará. Como é possível notarmos, nem mesmo as megapropriedades para-
enses que, por suposto, possuíam maior possibilidade de obter escravos, che-
garam a apresentar razões de africanidade próximas àquelas do Maranhão.
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análise comparativa da estrutura da posse de cativos (1785-1850)
Tabela 6
Distribuição dos escravos de acordo com a origem africana ou crioula 
(Maranhão, 1785-1824 x Grão-Pará, 1810-1850)
FTP 
Origem
Razão de 
africanidade TotalBrasil África
N % N %
M
ar
an
h
ão
01-09 - - - - - -
10-19 09 47,4 10 52,6 111,1 19 (100,0%)
20-49 211 52,2 193 47,8 91,5 404 (100,0%)
50-99 313 43,8 402 56,2 128,4 715 (100,0%)
100/+ 867 47,6 953 52,4 109,9 1.820 (100,0%)
Total 1.400 47,3 1.558 52,7 111,3 2.958 (100,0%)
G
rã
o
-P
ar
á
01-09 64 77,1 19 22,9 29,7 83 (100,0%)
10-19 210 86,8 32 13,2 15,2 242 (100,0%)
20-49 201 68,8 91 31,2 45,3 292 (100,0%)
50-99 119 68,0 56 32,0 47,1 175 (100,0%)
100/+ 239 67,1 117 32,9 49,0 356 (100,0%)
Total 833 72,6 315 27,4 37,8 1.148 (100,0%)
Fonte: Inventários post-mortem do Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Ma-
ranhão (ATJ-MA), do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo 
Público do Estado do Pará (Apep).
No caso das propriedades analisadas da Ribeira do Itapecuru, como su-
blinhamos no último parágrafo, o peso relativo dos escravos africanos não 
apresentou grandes oscilações segundo as quatro diferentes faixas de tama-
nho de plantel observadas. Exceto em relação às grandes propriedades (de 20 
a 49 cativos), cujo percentual de africanos foi de 47,8%, em todas as demais 
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faixas de tamanho de plantel, tal segmento representou maioria entre os 
cativos. Além de não podermos deixar de considerar o fato de nossa amostra 
ter privilegiado as propriedades de maior envergadura daquela microrre-
gião, também não podemos deixar de considerar que o contexto examinado 
(1785-1824) coincide com o período áureo do chamado “renascimento agríco-
la”. Em outras palavras, estamos analisando uma parcela dos grandes, muito 
grandes e megaproprietários dessa microrregião que, por certo, estiveram 
entre os maiores beneficiários de um contexto marcado por um alto nível de 
dinamismo econômico impulsionado pelas exportações de algodão e arroz.
No caso das propriedades compulsadas do Baixo Tocantins e da Zona 
Guajarina, é possível notarmos que o peso relativo dos africanos variou de 
acordo com as faixas de tamanho de plantel. As propriedades grandes, muito 
grandes e os megaplantéis apresentaram uma maior presença de africanos 
em sua composição, se comparados às pequenas e médias escravarias, por 
mais que os dados evidenciem alguma capacidade destas últimas em adqui-
rir novos cativos a partir do tráfico. Por trás dessas oscilações havia questões 
de ordem econômica. Como já observamos, enquanto as maiores proprieda-
des dessas regiões dedicavam-se à produção de derivados da cana-de-açú-
car e de cacau, a maior parte das menores propriedades era voltada à pro-
dução de gêneros alimentícios diversos – atividade que era menos lucrativa 
que a produção de derivados da cana e de cacau, oferecendo menores pos-
sibilidades para que esses pequenos e médios produtores se lançassem ao 
mercado com vistas à aquisição de novos escravos, justificando tal diferença.
Entretanto, não era apenas a respeito do contingente e da distribuição 
dos africanos consoante às diferentes faixas de tamanho de plantel que a 
escravaria da Ribeira do Itapecuru se diferenciava da escravaria do Baixo 
Tocantins e da Zona Guajarina. Ao cotejarmos a origem africana ou crioula 
dos cativos dessas microrregiões com as variáveis sexo e idade vieram à tona 
outras três diferenças. Em primeiro lugar, no que concerne às suas regiões 
de proveniência no continente africano – se da África ocidental ou da África 
central-atlântica e de Moçambique; em segundo lugar, ao peso relativo dos 
escravos jovens (de 0 a 14 anos) dentre o segmento africano; e em terceiro 
lugar, ao peso relativo de homens e mulheres, em meio a tal segmento. Ve-
jamos, agora, em quais termos se deram estas diferenças, a princípio pelas 
regiões de proveniência desses cativos na África.
Além de evidenciar os diferentes volumes de escravos destinados ao 
Maranhão e ao Grão-Pará, os dados referentes às regiões de procedência 
dos africanos que compõem a nossa amostra reforçam, igualmente, as es-
timativas elaboradas por Walter Hawthorne, que compilamos na tabela 1. 
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Dos cativos computados para a Ribeira do Itapecuru entre 1785 e 1824, 67,9% 
eram originários da África ocidental e 32,1% da África central-atlântica ou 
de Moçambique. Dos escravos computados para o Baixo Tocantins e a Zona 
Guajarina entre 1810 e 1850, 27,5% eram provenientes da África ocidental e 
72,5% da África central-atlânticaou de Moçambique. Nesse sentido, se con-
frontarmos os dados de nossa amostra com os dados de Hawthorne acerca 
do tráfico de cativos, observaremos que havia grande proporcionalidade 
entre o estoque de africanos existente no Maranhão e no Pará, nos contextos 
examinados, e o conjunto de escravos levados da África para lá, de acordo 
com as diferentes regiões africanas das quais eles eram procedentes.39
Outra diferença entre as características dos cativos africanos da Ribeira 
do Itapecuru e os do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina é atinente ao peso 
relativo dos jovens (de 0 a 14 anos) dentre eles. Os jovens perfizeram, respec-
tivamente, 2,9% e 0,7% do total de cativos africanos da Ribeira do Itapecuru 
entre 1785 e 1824 e do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina entre 1810 e 1850. 
Esses números, a despeito de reforçarem a ideia de pouca representativida-
de de crianças cativas no tráfico de escravos destinado ao Maranhão e ao 
Grão-Pará, defendida por Horacio Gutiérrez em seu pioneiro estudo sobre 
o tráfico de crianças cativas para o Brasil no século XVIII,40 devem ser lidos 
com bastante cuidado, na medida em que o contexto em tela, no caso das 
microrregiões paraenses, era marcado pelo declínio do tráfico destinado ao 
Grão-Pará – o que contribuiu para que sua população escrava de origem 
africana fosse relativamente mais envelhecida que a população escrava afri-
cana da Ribeira do Itapecuru, como poderemos constatar mais adiante.
A terceira diferença, entre as características dos escravos africanos da 
Ribeira do Itapecuru e os do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina, respeita à 
sua distribuição conforme o sexo. Enquanto as mulheres perfaziam 39,1% de 
todos os escravos africanos da Ribeira do Itapecuru entre 1785 e 1824, o peso 
relativo das mulheres entre os cativos de origem africana do Baixo Tocantins 
e da Zona Guajarina entre 1810 e 1850 era de tão-somente 18,1%. Embora não 
tenhamos parâmetros da participação relativa das mulheres no tráfico de 
escravos para o Pará, sabemos que 38% do total de cativos destinados para o 
39 Referimo-nos às estimativas de Walter Hawthorne apresentadas na tabela 1 para o tráfico de escravos 
destinado ao Maranhão entre 1751 e 1815, e para o Pará entre 1788 e 1841. Excluem-se dessa noção de 
proporcionalidade os escravos destinados ao Maranhão após 1815 e para o Grão-Pará antes de 1788.
40 Cf. GUTIÉRREZ GALLARDO, Dário Horacio. O tráfico de crianças escravas para o Brasil durante 
o século XVIII. Revista de História, n. 120. São Paulo: FFLCH/USP, jan.-jul./1989, p. 59-72.
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Maranhão entre 1751 e 1787 eram do sexo feminino41 – percentual bastante 
próximo àquele que encontramos (39,1%) em nossa amostra de 33 inventá-
rios post-mortem para a Ribeira do Itapecuru. Haja vista a efetividade do trá-
fico destinado ao Maranhão, a expressiva participação relativa das mulheres 
entre o segmento africano parece ter sido determinante para enformar uma 
população relativamente equilibrada, em relação ao sexo.
41 HAWTHORNE, Walter. From Africa do Brazil, op. cit., p. 57.
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Tabela 7
Distribuição dos escravos de acordo com o sexo 
(Maranhão, 1785-1824 x Grão-Pará, 1810-1850)
 
FTP
Sexo
Razão
de sexo Total
Homens Mulheres
N % N %
M
ar
an
h
ão
01-09 - - - - - -
10-19 12 70,6 05 29,4 240,0 17 (100,0%)
20-49 237 59,0 165 41,0 143,6 402 (100,0%)
50-99 401 57,4 298 42,6 134,6 699 (100,0%)
100/+ 986 54,5 822 45,5 120,0 1.808 (100,0%)
Total 1.636 55,9 1.290 44,1 126,8 2.926 (100,0%)
G
rã
o
-P
ar
á
01-09 50 56,8 38 43,2 131,6 88 (100,0%)
10-19 137 55,9 108 44,1 126,9 245 (100,0%)
20-49 151 50,2 150 49,8 100,7 301 (100,0%)
50-99 99 56,2 77 43,8 128,6 176 (100,0%)
100/+ 201 56,6 154 43,4 130,5 355 (100,0%)
Total 638 54,8 527 45,2 121,1 1.165 (100,0%)
Fonte: Inventários post-mortem do Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Ma-
ranhão (ATJ-MA), do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo 
Público do Estado do Pará (Apep).
Como é possível observarmos pelos dados apresentados na tabela 7, as 
razões de sexo das populações escravas da Ribeira do Itapecuru e do Baixo 
Tocantins e da Zona Guajarina eram de, respectivamente, 126,8 e 121,1, evi-
denciando um relativo equilíbrio na representatividade de homens e mulhe-
res nas populações cativas de tais microrregiões – até mesmo na Ribeira do 
Itapecuru, onde mais da metade de sua escravaria era composta por escravos 
africanos (52,7%). Comparativamente ao panorama demográfico da escravi-
dão em outras localidades brasileiras, as razões de sexo que encontramos 
para ambas as regiões podem ser consideradas baixas. A título de exemplo, 
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José Flávio Motta, examinando as listas nominativas de habitantes referentes 
à localidade valeparaibana de Bananal no contexto de introdução da lavoura 
cafeeira na região, encontrou razões de sexo da população cativa desta locali-
dade de, respectivamente, 138,7, 179,8 e 218,6, para os anos de 1801, 1817 e 1829.42
Apesar de as populações cativas das microrregiões analisadas terem 
apresentado razões de masculinidade relativamente semelhantes, existiam 
diferenças mais acentuadas entre as razões de sexo dos segmentos crioulo e 
africano de cada uma delas, particularmente no que respeita ao segmento 
africano. Enquanto na Ribeira do Itapecuru, as razões de masculinidade dos 
segmentos crioulo e africano eram de 101,3 e 155,8, no Baixo Tocantins e 
na Zona Guajarina, as razões de masculinidade de tais segmentos eram de 
respectivamente 94,2 e 238,7. Se, por um lado, a distribuição entre os sexos 
do segmento crioulo tendeu ao equilíbrio no Maranhão e a uma leve preva-
lência feminina no Pará, por outro lado, a distribuição entre os sexos do seg-
mento africano tendeu a uma predominância masculina tanto no caso do 
Maranhão quanto no caso do Grão-Pará, sendo tal prevalência ainda mais 
efetiva no caso da escravaria do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina – onde 
alcançou a proporção de 238,7 africanos para cada grupo de 100 africanas.
Ademais, os dados da tabela 7 sugerem também que a proporção de ho-
mens e mulheres oscilava de acordo com as diferentes faixas de tamanho de 
plantel. No caso de nossa amostra para a Ribeira do Itapecuru, não verifica-
mos haver interdependência estatisticamente significativa entre a dimensão 
das escravarias e a proporção de cativos homens e mulheres em seus plan-
téis.43 No caso de nossa amostra para o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina, 
verificamos haver, sim, interdependência nesses termos.44 Em comparação às 
demais faixas de tamanho de plantel, as grandes propriedades escravas (de 
20 a 49 escravos) do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina tenderam a apre-
sentar um equilíbrio maior na distribuição dos seus cativos de acordo com o 
sexo, apesar de o peso relativo dos africanos nessa faixa ter sido semelhante 
aos das muito grandes e megapropriedades e superior ao peso relativo desse 
segmento em meio às pequenas e médias propriedades analisadas, como já 
pudemos observar nos comentários posteriores

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