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A relação dos movimentos sociais com o direito é ambígua. Ora suas demandas encontram -se à margem do direito, ora os movimentos sociais utilizam o direito e as instituições estatais para promovê -las. O processo de democratização e a permeabili- dade das instituições por meio de diversos mecanismos de participação estimulam a mobilização social em torno desses espaços do Estado, o que também altera o tipo de ação política dos movimentos sociais e sua linguagem. É a diferença entre lutar “contra” o direito ou “à margem” dele e “por” direitos. A sociologia jurídica no Brasil surge e se dissemina enquanto disciplina na déca- da de 1980 e tem como agendas iniciais de estudo o pluralismo jurídico e o direito al- ternativo. Ambas correspondem ainda a um contexto político autoritário e a um di- reito excludente e excessivamente forma- lista. O debate sobre o pluralismo jurídico é influenciado principalmente pela pes- quisa de Boaventura de Sousa Santos, so- bre o direito e as formas de solução de conflitos produzidos por moradores de uma favela brasileira, que recebeu o nome fictício de Pasárgada (SANTOS, 1977, p. 5 -125). Para algumas leituras desse traba- lho feitas à época, essa forma do direito local representava uma forma de direito emancipatória, menos formal, mais con- sensual e democrática, pois era produzida e aplicada diretamente pelos atores so- ciais envolvidos e prescindia do aparato 13 Movimentos Sociais e Direito O Poder Judiciário em disputa Evorah Lusci Cardoso Fabiola Fanti Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 237 28/01/2013 10:43:44 238 Manual de Sociologia Jurídica estatal, que, na maioria das vezes, era alheio ou persecutório a essa comunidade. Outras leituras entendiam que essa produ- ção local mimetizava as formas do direito “do asfalto” e buscava, assim, suprir uma lacuna do aparato do Estado, sem, no en- tanto, contar com as mesmas garantias formais deste, ou seja, também poderia ser um direito excludente. O direito alternativo, por sua vez, foi influenciado pelo debate sobre o “uso al- ternativo do direito”, na Itália. Um movi- mento de magistrados que teve por objeti- vo produzir novas interpretações jurídicas, alheias ao formalismo jurídico e à tradição civilista, para levar em consideração de- mandas sociais. Essa é uma atuação den- tro do sistema jurídico e por seus próprios operadores, mas ainda assim crítica ou contrária à própria forma do direito. Em uma reavaliação da trajetória dos estudos de “direito alternativo” e “pluralis- mo jurídico” no Brasil, Luciano Oliveira aponta o caminho para outra agenda de es- tudos da sociologia jurídica, em que haveria uma relação mais integrada entre movi- mentos sociais e direito: “parece -me que hoje, no Brasil, as lutas sociais que se de- senvolvem em torno da ideia do direito as- semelham -se mais a um reconhecimento e integração ao sistema jurídico do que a uma ‘alternatividade’ ou a um ‘pluralismo’, que acaba se manifestando mais como um subproduto da segregação e do abandono [...]. Nos últimos anos, o próprio sistema ju- rídico brasileiro [...] reconheceu e integrou, ao menos no plano normativo, assim como no jurisprudencial, vários princípios que inspiram essas e outras lutas coletivas com base na noção de direitos” (OLIVEIRA, 2003, p. 219 -220). Faria e Campilongo apon- tam no mesmo sentido, quando dizem que há “um aspecto até agora pouco explorado pelos estudiosos: a influência e o condicio- namento que esses movimentos imprimem sobre a legislação, notadamente quanto à alocação de recursos e implementação de políticas públicas” (1991, p. 58 -59). A democratização e o processo de ela- boração da nova Constituição, fruto de in- tensa mobilização social, trazem consigo um novo aparato do Estado, dentro do qual o direito está em disputa por um maior nú- mero de atores. Novos direitos, novos ins- trumentos processuais, novas funções para o Ministério Público, novos mecanismos de participação no Poder Executivo. Embora em um primeiro momento tenha ficado mais evidente a mobilização social em tor- no do Poder Legislativo pós -Constituinte1, para a positivação de novos direitos ou re- gulamentação de outros, e do Poder Execu- tivo, por conta da permeabilidade de parti- dos políticos, criação de conselhos e conferências (SCHATTAN; NOBRE, 2004), 1. Algumas entidades da sociedade civil se especializaram nesse campo de incidência política no Congresso Nacio- nal, após a Constituinte. Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 238 28/01/2013 10:43:44 239Movimentos Sociais e Direito atualmente observa -se também a mobiliza- ção social em torno do Poder Judiciário. Os casos difíceis do Supremo Tribunal Fede- ral, com realização de audiências públicas, são um exemplo dessa mobilização. Essa nova forma de articulação com os espaços institucionais do Estado é acompanhada por uma transformação na própria organização dos movimentos so- ciais e pela apropriação da linguagem do direito como um instrumento de atuação política desses movimentos. Houve a proli- feração e a profissionalização de entidades da sociedade civil que passam a trabalhar com a linguagem dos direitos. Mas, por que apenas mais recente- mente o Poder Judiciário parece emergir como um espaço em disputa para os movi- mentos sociais de forma mais clara? Várias hipóteses explicativas podem ser levanta- das. Esse movimento em direção ao Poder Judiciário pode revelar a superação de uma determinada concepção de direito pelos movimentos sociais na qual o espaço de criação do direito é o Poder Legislativo, cabendo ao Poder Judiciário apenas sua aplicação. Essas opções estratégicas po- dem ter sido frustradas, por exemplo, por as vitórias no reconhecimento de novos di- reitos no Poder Legislativo não terem sido acompanhadas em alguns casos pela sua implementação pelo Poder Judiciário, ou por o Poder Legislativo ter sido aberta- mente refratário a determinadas deman- das sociais. Há, ainda, um uso propositivo do Poder Judiciário, baseado nessa nova concepção de que o próprio Poder Judiciá- rio pode ser um espaço de disputa do sen- tido de direitos já existentes ou para o re- conhecimento de novos direitos. A relação dos movimentos sociais com o Poder Judiciário revela o caráter ambíguo da sua própria relação com o di- reito – ora “à margem”, ora integrados. O primeiro caso ocorre, por exemplo, quan- do o Poder Judiciário decreta a reintegra- ção de posse de um terreno, prédio ou ter- ra, retirando ou despejando o Movimento de Moradia ou o Movimento dos Trabalha- dores Rurais Sem -Terra (MST) que antes os ocupava. Ao contrário, quando o Supre- mo Tribunal Federal autoriza a união está- vel entre pessoas do mesmo sexo, ele con- tribui para a realização de uma importante demanda do Movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), que ficou sem apoio políti- co no Congresso Nacional por muitos anos. A esse desempenho das cortes estão relacionadas diferentes formas de mobili- zação social em torno do direito e do Poder Judiciário. Enquanto os movimentos so- ciais por terra e moradia têm uma relação muito mais reativa e defensiva em relação ao Poder Judiciário e a outras instituições do direito, como o Ministério Público, por serem criminalizados em razão de suas de- mandas sociais estarem “à margem do Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 239 28/01/2013 10:43:44 240 Manual de SociologiaJurídica direito”2, movimentos sociais como o LGBT procuram explorar uma agenda mais pro- positiva e inclusiva em relação ao direito e ao Poder Judiciário, buscando o reconheci- mento de novos direitos, que não são obti- dos em espaços políticos majoritários, en- xergando o Poder Judiciário como um possível espaço de transformação social, sendo o direito a nova linguagem dessa dis- puta política. Outra relação com o Poder Judiciário pode ser a de garantir a efetiva- ção dos direitos já positivados no plano Le- gislativo, ou seja, a disputa agora poderia ser para que não haja retrocessos nessas conquistas legislativas, por exemplo a defe- sa da constitucionalidade da Lei Maria da Penha no Supremo Tribunal Federal. No entanto, mesmo em relação aos movimentos sociais com uma postura tra- dicionalmente mais reativa em relação ao direito, há uma tendência recente de tam- bém incorporar a linguagem do direito3 e, a partir das dificuldades de acesso ao es- paço de disputa do Poder Judiciário, a agenda propositiva de direitos se transfor- ma em uma agenda de reforma das insti- tuições do direito, para que sejam mais 2. A própria necessidade de defesa em relação à persecução do Estado provoca a mobilização social jurídica. 3. Essa aproximação pode se dar de diversas formas. Desde a contratação de equipe de advogados dentro das entidades ligadas aos movimentos de moradia para elaborarem dife- rentes estratégias de atuação judicial até a criação de turma especial para o ensino do direito para assentados do MST, em parceria com universidades (“Justiça garante continui- dade do curso de Direito para assentados em Goiás”. Dis- ponível em: <http://www.mst.org.br/node/8876>). permeáveis a essas demandas sociais. Isso porque a mera positivação de direitos não altera necessariamente o Judiciário que os aplica, tornando também o funcionamento deste Poder alvo da ação daqueles que tra- balham com a linguagem de direitos. Em qualquer um dos casos, o Poder Judiciário está sendo disputado pelos mo- vimentos sociais – seja por ser um espaço de disputa de interpretação do direito, mais uma rodada de deliberação política na qual é preciso participar, seja por insti- tucionalmente poder ser objeto de refor- mas que o tornem mais permeável às de- mandas sociais. Essa aproximação dos movimentos sociais a este espaço institucional do Esta- do também pode provocar outra leva de transformações em como os movimentos sociais se organizam. A imersão na dinâmi- ca de funcionamento do Poder Judiciário (linguagem técnica jurídica, tempo do pro- cesso, respeito aos procedimentos) pode afetar o modo de ação política dos movi- mentos sociais. As entidades sociais incor- poram ainda mais a linguagem dos direitos, passam a ser compostas também por advo- gados. O Judiciário pode ser um espaço de atuação menos acessível, no qual se exige uma argumentação jurídica, que articule elementos da dogmática jurídica, não tão permeável a outras linguagens. O estudo da relação entre movimen- tos sociais, direito e Poder Judiciário pode Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 240 28/01/2013 10:43:44 241Movimentos Sociais e Direito ser um novo campo a ser explorado no Bra- sil. E esse trabalho pode ser feito em diálo- go com estudos já desenvolvidos em outros países, com maior trajetória de judicializa- ção de demandas por parte da sociedade civil. É claro que a presença/ausência des- ses estudos é reflexo da intensidade da mo- bilização social jurídica em torno do Poder Judiciário em cada um desses países. Nos EUA, essa produção acadêmica inaugura um novo campo, denominado Law and So- ciety, e surge após a experiência dos movi- mentos pelos direitos civis e políticos, que a partir da década de 1960 utilizaram clara- mente o Poder Judiciário como uma via de ação política, buscando transformação so- cial e reconhecimento de novos direitos, que não eram obtidos nos espaços políticos majoritários, como o Poder Legislativo. Este capítulo procura abrir caminho para esta literatura, com o objetivo de estimular futuros estudos sobre mobilização social jurídica na sociologia jurídica brasileira. 13.1. Movimentos sociais, direito e Poder Judiciário: uma aproximação teórica Apesar da evidente relação entre mo- vimentos sociais, direito e Poder Judiciário, é notável a pouca frequência do estudo des- se tema na literatura especializada. Nos Es- tados Unidos, a despeito dos estudiosos dos movimentos sociais relatarem em seus tra- balhos muitos casos nos quais reivindica- ções e estratégias legais tiveram papel proeminente, poucos deles desenvolveram análises conceituais sobre como o direito e o Poder Judiciário têm influência nas lutas desses movimentos. Por sua vez, o campo da sociologia do direito norte -americana, apesar de ter explorado longamente as cam- panhas de litígio, ações judiciais e aspira- ções normativas de justiça social baseadas em direitos e a relação destas com os movi- mentos sociais, permaneceu preso a uma perspectiva institucionalista, centrada nas cortes, focando seus estudos na jurispru- dência dos tribunais e nas ações de elites legais, e ficando, assim, distante das ações dos movimentos sociais na prática e da teo- ria que os analisa (McCANN, 2006, p. 17). A partir de meados da década de 1990, iniciou -se um crescente interesse pelo es- tudo da relação entre direito e movimentos sociais, principalmente na literatura norte- -americana4. Ao longo dos anos, tais estu- 4. De acordo com McCann, a partir de meados da década de 1990, iniciou -se um produtivo diálogo que conectou dois di- ferentes modos de análise da relação entre direito e movimen- tos sociais: de um lado, os autores que centravam suas análi- ses nas cortes, com uma abordagem “de cima para baixo”; e, de outro, os estudos menos centralizados na questão legal e mais voltados para os movimentos sociais em si e sua relação com o direito (2006, p. 18). É possível remontar as origens dessa agenda de pesquisa ainda na década de 1980. Em uma entrevista, McCann afirma que “a teoria do movimento social nos Estados Unidos nos anos 80 estava realmente tomando algum impulso. Assim, um dos principais objetivos desde o início era fundir a teoria do movimento social com várias for- mas de teoria da mobilização jurídica (legal mobilization) e adicionar algumas abordagens de estudos de consciência ju- rídica (legal consciousness). Era uma espécie de aproxima- ção entre tradições distintas” (McCann, 2009, p. 176). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 241 28/01/2013 10:43:44 242 Manual de Sociologia Jurídica dos ampliaram consideravelmente este campo de pesquisa. Contudo, como aponta McCann, houve pouco desenvolvimento no que o autor chama de uma “estrutura teóri- ca generalizável” ou de “teoria comparativa analítica” para o entendimento do engaja- mento dos movimentos sociais com o direi- to em perspectiva comparada (2006, p. 19). No caso brasileiro, os trabalhos que buscam entender esta relação são ainda bastante escassos5, tanto do ponto de vista dos estu- diosos dos movimentos sociais como por parte das análises sobre o direito e o Poder Judiciário realizados pela ciência política6 ou pela sociologia do direito7. 5. Uma exceção é o trabalho de Maciel (2011) sobre a mobili- zação do direito pelo Movimento Feminista no caso da Campanha da Lei Maria da Penha. 6. O papel desempenhado pelo Poder Judiciário no contexto democrático, o processo de tomada de decisão dos tribu- nais e os efeitos práticos e políticos da atuação das cortes têm sidoobjeto crescente de estudos da ciência política nas duas últimas décadas. No caso brasileiro, a maior parte dos trabalhos nesta área tem se focado em analisar o desempe- nho do Poder Judiciário como instituição política, tendo como principal objeto de estudo o uso do Supremo Tribunal Federal (STF) como arena de disputa por meio do sistema de controle concentrado de constitucionalidade por ele realizado. Apesar das significativas contribuições de tais estudos à compreensão do Poder Judiciário nacional, esta corrente do judicial politics não permite abarcar adequada- mente o papel dos tribunais como espaço de mediação entre sociedade civil e Estado. A ênfase institucionalista desta corrente de estudo foca -se nas relações estabeleci- das entre Poderes do Estado, dando pouca atenção à atua- ção da sociedade civil nos processos políticos. 7. Alguns estudos latino -americanos de sociologia jurídica po- dem ser mencionados nessa mesma linha de mobilização social jurídica (legal mobilization): no Brasil, Cecília MacDo- well Santos (2007), em trabalho sobre mobilização jurídica e ativismo social transnacional, a partir de estudos de casos brasileiros no sistema interamericano: na Colômbia, os tra- balhos de Isabel Cristina Jaramillo e Tatiana Alfonso (2008), sobre a estratégia de litígio de uma ONG no tema de aborto na O objetivo deste trabalho é o de ex- plorar duas vertentes da literatura inter- nacional que buscam entender o papel do direito, das estratégias legais e do Poder Judiciário no contexto de ação coletiva de atores da sociedade civil, principalmente dos movimentos sociais. A primeira delas, de cunho mais notadamente institucional, é a noção de oportunidade legal (ou legal opportunity), desenvolvida no interior da Teoria do Processo Político. A segunda é a noção de mobilização do direito (ou legal mobilization) surgida no interior de uma concepção mais culturalista do direito e do Poder Judiciário, que os entende não só em sua dimensão instrumental relativa- mente à ação coletiva, mas também em seus aspectos simbólicos. Ambas as verten- tes, apesar de serem muito pouco aplicadas ou discutidas frente ao contexto brasilei- ro, trazem análises e conceitos bastante importantes para entender a relação entre movimentos sociais, direito e Poder Judi- ciário, dando origem a uma série de deba- tes e estudos na literatura internacional. 13.2. Teoria do processo político, estrutura de oportunidades políticas e oportunidades legais A noção de oportunidades legais surge no contexto da literatura mais recente sobre Corte Constitucional, Julieta Lemaitre Ripoll (2009), traçan- do um histórico e diferenciando os tipos de relações com o direito por parte de diferentes movimentos sociais, e César Rodríguez Garavito (2010), em estudo mais centrado em ino- vações da Corte Constitucional em um caso de grande mobi- lização social, sobre migrantes internos (desplazados). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 242 28/01/2013 10:43:44 243Movimentos Sociais e Direito movimentos sociais, mais especificamente da Teoria do Processo Político. Tal teoria pensa os movimentos sociais no contexto de suas trajetórias de ação, remetendo -se às mudanças de fatores políticos exógenos e conjunturais que favorecem sua emergência, manutenção e/ou declínio. De acordo com Tarrow, o problema central que envolve a ação coletiva é de como criá -la, mantê -la e coordená -la “entre participantes que care- cem de recursos mais convencionais e de objetivos programáticos mais explícitos” (TATAGIBA, 2007, p. 15). A Teoria do Processo Político utiliza- -se da noção de estrutura de oportunida- des políticas para compreender “a relação adaptativa e dinâmica existente entre a ação coletiva e o Estado; ou entre os movi- mentos sociais e os condicionantes polí ti- co -institucionais de seu contexto históri- co” (OLIVEIRA, 2009, p. 33). Para Tarrow, oportunidades políticas seriam “sinais con- tínuos – embora não necessariamente per- manentes, formais, ou nacionais – percebi- dos pelos agentes sociais ou políticos que os encorajam ou desencorajam de utilizar os recursos com os quais contam para criar movimentos sociais” (1999, p. 89). A noção de oportunidades políticas não considera apenas “estruturas formais, como as insti- tuições, mas também as estruturas de alianças geradas pelos conflitos, que con- tribuem para a obtenção de recursos e criam uma rede de oposição frequente a constrições ou limitações externas ao gru- po” (TARROW, 1999, p. 89). A ideia de opor- tunidade política é usada, portanto, para explicar por que movimentos sociais ado- tam certas estratégias específicas em suas tentativas de influenciar decisões políticas, e não outras. De acordo com esta ideia, tan- to fatores estruturais como contingentes, formais ou informais, delineiam as oportu- nidades políticas, as quais podem ser ex- ploradas por movimentos sociais e grupos de interesse de acordo com seus objetivos (TARROW, 1999). Uma vez que a estrutura das oportunidades políticas muda, é de se esperar que as estratégias de ação adota- das por movimentos sociais e grupos de in- teresse mudem também (WILSON e COR- DERO, 2006, p. 326 -327). Com o fortalecimento do Poder Judi- ciário em muitos países, em especial na- queles que passaram recentemente por processos de (re)democratização, foi aber- to um novo tipo de estrutura de oportuni- dade política, a qual tem sido chamada de oportunidade legal. Nesses contextos, as cortes têm emergido como “participantes ativas no processo político”, oferecendo um espaço frequentemente privilegiado para cidadãos individualmente, movimen- tos sociais e grupos de interesse apresenta- rem suas demandas, bem como garantindo a eles “nova voz” em um canal político que antes estava fechado a estes atores sociais (WILSON e CORDERO, 2006, p. 327 -328). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 243 28/01/2013 10:43:44 244 Manual de Sociologia Jurídica Tal noção de “oportunidade legal” surgiu recentemente, em estudos como o de Hilson (2002) e Andersen (2004)8, e diz respeito à análise do papel do direito e dos tribunais no contexto da ação coletiva, vale dizer, da escolha da litigância como estraté- gia de atores coletivos para alcançarem seus objetivos políticos. Vanhala define a estrutura de oportunidades legais como “o ambiente político -jurídico que fornece in- centivos e constrangimentos para indiví- duos e organizações da sociedade civil rea- lizarem o litígio, afetando suas expectativas de sucesso ou fracasso” (2006, p. 554). De acordo com Hilson, assim como as oportunidades políticas9, as oportunida- des legais possuem características contin- gentes e estruturais. A principal caracte- rística contingente seria a receptividade dos tribunais a argumentos políticos, em dada circunstância. Neste caso, a prefe- rência política dos juízes pode variar con- sideravelmente entre os diferentes níveis das cortes no interior da hierarquia do sis- tema judiciário (HILSON, 2002, p. 243- 244). As três principais características estruturais, relativamente mais estáveis, 8. Tais pesquisas utilizam a noção de oportunidade legal como ferramenta para entender a atuação dos movimentos feminista, ambientalista, de defesa do bem -estar dos ani- mais e de gays e lésbicas no contexto da União Europeia e do movimento gay nos Estados Unidos, respectivamente. 9. Em apertada síntese, Hilson afirma como as características estruturais das oportunidades políticas, a abertura ou fe- chamento do sistema político; e como a característica con- tingente, a receptividade das elites políticasà ação coletiva (2002, p. 242). dizem respeito à natureza das normas e ações judiciais disponíveis, às regras que regulam o acesso ao Poder Judiciário e à disponibilidade de recursos para assistên- cia jurídica em um certo contexto10 (CASE e GIVENS, 2010, p. 223). Para Case e Gi- vens, as estruturas de oportunidades le- gais podem ser classificadas em um conti- nuum liberal -conservador. Tais estruturas são mais liberais quando facilitam a liti- gância estratégica como mecanismos de influência na elaboração de políticas pú- blicas e mais conservadoras na medida em que a limitam (2010, p. 223). 10. Wilson e Cordero (2006) apontam que, de acordo com Charles Epp (1998), “não é apenas a existência de uma oportunidade legal associada a juízes ativistas que permite que indivíduos e minorias persigam sua agenda de direitos com sucesso. Ao invés disso, Epp argumenta: ‘A combina- ção da consciência legal com uma carta de direitos, bem como um Judiciário disposto e capaz, aumenta a perspec- tiva da revolução dos direitos, mas o suporte material para a busca continuada de direitos ainda é crucial’ (p. 17). Isto é, na maioria dos casos buscar a opção legal é em geral um longo e dispendioso processo que requer recursos consi- deráveis por parte do autor da ação legal a fim de ser bem- -sucedido, porque uma revolução dos direitos requer a ‘liti- gância generalizada e contínua’ (p. 18)” (p. 327). Contudo, ao analisar o uso da recém -reformada Corte Constitucional da Costa Rica pelo movimento gay para alcançar suas de- mandas, Wilson e Cordero apontam em sentido contrário: “O ponto interessante dos casos, entretanto, é que os gays, seja individualmente ou por meio de organizações nascen- tes, frequentemente usaram a corte na tentativa de ampliar sua agenda. Contrariamente às expectativas de Epp (1998), então, é possível que grupos gays mal organizados e com poucos recursos recebam proteção de seus direitos consti- tucionais das cortes por meio de oportunidades legais. Mesmo que nem todos os casos tenham sido bem -sucedi- dos, o baixo custo, o acesso livre e a rápida resolução dos casos permite a grupos e indivíduos apresentar com rapi- dez outro caso diretamente à corte constitucional sem a necessidade de incorrer em grandes custos financeiros ou precisar mobilizar um grande número de adeptos para ação coletiva” (WILSON e CORDERO, 2006, p. 337). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 244 28/01/2013 10:43:44 245Movimentos Sociais e Direito Andersen (2004) aprofunda esta dis- cussão e aponta que as três principais di- mensões da estrutura de oportunidades políticas (acesso à estrutura institucional formal, a configuração de poder no que diz respeito a temas importantes e a disponibi- lidade de aliados) também são dimensões relevantes da estrutura de oportunidades legais. Assim, em primeiro lugar, a exten- são do acesso de movimentos sociais às cortes também molda a emergência, o pro- gresso e os resultados obtidos com a ação legal (legal action). Os mecanismos e ca- racterísticas do processo judicial modelam o acesso às estratégias legais de várias e importantes formas, incluindo aí o que pode ser levado ao Judiciário, quem tem le- gitimidade para levar tais questões aos tri- bunais e onde o litígio judicial pode ocorrer (que tribunal é competente para julgar o litígio). Assim, as exigências de acesso às cortes modelam as opções disponíveis para os atores sociais que desejam mobilizar o direito em nome dos objetivos dos movi- mentos sociais (ANDERSEN, 2004, p. 9 -10). A segunda dimensão da estrutura de oportunidades legais seria a configuração de poder das elites ligadas ao Poder Judi- ciário, sendo estas formadas principalmen- te por juízes. A autora argumenta que quando uma determinada reivindicação é levada às cortes, há três tipos de respostas possíveis: ou os juízes podem uniforme- mente rejeitar a reivindicação (e então ela estaria fora do sistema judicial), ou os juí- zes podem uniformemente aceitar a reivin- dicação (e então ela também estaria fora do sistema judicial), ou podem se dividir a res- peito das implicações legais relativas àque- la reivindicação. Neste último caso, é esti- mulada a proposição de novos litígios a respeito daquela reivindicação e a “muni- ção legal” é fornecida para ambos os lados da disputa. Andersen acredita que a pers- pectiva de juízes individualmente pode afe- tar o progresso e os resultados dos litígios envolvendo movimentos sociais. A autora afirma que casos que tocam mais direta- mente em “fissuras” legais e/ou políticas são mais propensos a provocar discordâncias significativas entre os juízes. Ademais, mu- danças nos quadros da magistratura podem abrir ou fechar canais de oportunidade para ações legais (ANDERSEN, 2004, p. 9 -10). A terceira dimensão da estrutura de oportunidades legais seria a presença de aliados ou oponentes dos movimentos so- ciais. Nesse sentido, Andersen afirma que aliados podem custear as despesas subs- tanciais de se levar um caso às cortes, ofe- recer assistência na elaboração de estraté- gias legais ou apresentar um amicus curiae11 em determinado processo (o que pode ser um sinal da importância do caso 11. “Amicus Curiae é um instituto processual que consiste na admissão, em determinados processos, da manifestação de órgãos ou organizações da sociedade civil destinada ao fornecimento de subsídios e informações relevantes para o deslinde da causa”. Cf. BOTALLO, Eduardo Domingos. Li- ções de direito público. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2005 apud MACIEL, 2011, p. 106. Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 245 28/01/2013 10:43:44 246 Manual de Sociologia Jurídica em consideração, prover argumentos legais suplementares e aumentar a credibilidade para as demandas propostas). Por sua vez, os oponentes dos movimentos sociais se- riam seus opositores nas ações judiciais, assim como os aliados de seus opositores, e trabalhariam para minar suas ações judi- ciais da mesma forma que os aliados traba- lham para apoiá -las. A autora argumenta que a proposição de ações judiciais pelos movimentos sociais é uma atividade estra- tégica que busca redefinir uma condição legal existente como injusta e identificar uma forma de redirecionar a questão. Os litigantes “opositores” procurarão evitar que esta redefinição seja alcançada com su- cesso (ANDERSEN, 2004, p. 9 -10). Hilson (2002) argumenta que a falta de oportunidades políticas pode influen- ciar atores coletivos a adotar oportunida- des legais como estratégia de ação12. Nesse sentido, Wilson e Cordero apontam que a existência de novas oportunidades legais pode significar que estratégias de encami- nhamento de demandas pela via do Poder Legislativo ou por meio de um sistema de lobbying tornem -se menos importantes e necessárias para movimentos sociais e in- divíduos na medida em que estes podem reclamar seus direitos nas cortes (2006, p. 347). Contudo, Hilson ressalta que, apesar das oportunidades políticas e legais terem 12. Para o autor, somente a litigância realizada nas cortes pode ser considerada como estratégia legal (HILSON, 2002, p. 243). uma influência importante na decisão dos movimentos sociais acerca de quais estra- tégias de ação irão adotar, deve -se recor- dar que outros fatores também são signifi- cativos em suas escolhas, tais como: recursos disponíveis; identidade do movi- mento social; e ideias e valores que seus membros compartilham (HILSON, 2002, p. 240 -241). Uma das principais críticas que pode ser apresentada a esta noção de oportuni- dadeslegais é a de que ela aborda a ques- tão da relação entre movimentos sociais, direito e Poder Judiciário a partir de uma perspectiva “de cima para baixo”, ou seja, bastante focada nas instituições e em fa- tores institucionais. Nesse sentido, Va- nhala (2006) aponta que a base legal substantiva e a presença de uma estrutu- ra de oportunidades legais não são ele- mentos suficientes para explicar por que movimentos sociais optam pela estraté- gia de encaminhar suas demandas pela via judicial. De acordo com a autora, é ne- cessário também observar a questão “de baixo para cima”, ou seja, centrada no ponto de vista dos atores sociais. Assim, movimentos sociais estariam mais pro- pensos a adotar o litígio como estratégia de ação quando há uma transformação interna na identidade ou nos valores da organização ou quando novas organiza- ções emergem no interior do movimento com a ideia de que seus membros são titu- lares de direitos e as cortes são o canal Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 246 28/01/2013 10:43:44 247Movimentos Sociais e Direito apropriado para perseguir seus objetivos políticos13 (VANHALA, 2006, p. 555). A ferramenta analítica que melhor preenche esta necessidade de se analisar a relação entre movimento social, direito e Poder Judiciário a partir de uma perspec- tiva “de baixo para cima” e centrada no agente social é a noção de mobilização do direito. Tal noção, que tem como seu prin- cipal estudioso Michael McCann, será ex- plorada no próximo item. 13.3. Mobilização do direito14 Michael McCann desenvolveu um extenso trabalho acerca da relação entre movimentos sociais e direito, sendo um dos principais resultados desses estudos a construção de uma estrutura teórica para analisar a chamada mobilização do direi- to15. De acordo com McCann, um bom 13. A autora ainda completa: “...uma transformação dentro do movimento social mais amplo poderia também incluir a emergência de novas organizações que desde seu início compreendem a condição de membro não como passiva, objeto de caridade, mas ao contrário como cidadãos ativos com direitos, e têm como interesse inerente o uso das cor- tes para reforçar essa identidade dentro da sociedade como um todo” (VANHALA, 2006, p. 556). 14. O termo original em inglês “legal mobilization” pode ser tra- duzido como “mobilização legal” ou “mobilização do direito”. Optou -se pela segunda expressão, pois, assim como aponta Maciel, a palavra “direito” tem um sentido mais amplo que a “lei”. Segundo a autora, “o direito como fenômeno social não se restringe, ou não se esgota, na sua forma legal que é ape- nas uma das suas expressões possíveis” (2011, p. 106). 15. McCann aponta que o fenômeno da mobilização do direito foi explorado em uma série de trabalhos durante as déca- das de 1960 e 1970 (2008). Segundo o autor, tais trabalhos se focaram na análise da “mobilização do direito por indiví- duos que buscavam principalmente a resolução de confli- ponto de partida para entender tal noção é a definição de Frances Zemans (1983, p. 700) que afirma que o direito é mobiliza- do quando um desejo ou necessidade é traduzido em demandas que afirmam di- reitos (2008, p. 523). Esta definição evi- dencia um dos pontos centrais dos estu- dos de McCann: o de que o direito deve ser entendido como uma prática social, como um mediador das relações sociais, cujo papel na sociedade vai muito além do âmbito das instituições estatais. O objeti- vo primordial de McCann é o de analisar as diversas e complexas formas de como o direito é mobilizado em diferentes mo- mentos da luta política para a transforma- ção social. Para McCann, os discursos ju- rídicos são constitutivos das interações práticas entre os indivíduos e, como tais, fornecem algumas das mais importantes “estratégias de ação” por meio das quais os cidadãos rotineiramente negociam as relações sociais. Este entendimento im- plica no fato de que, em alguma medida, o conhecimento do direito antevê a ativida- de social, ou seja, convenções jurídicas herdadas moldam os próprios termos do entendimento, aspirações e interações en- tre os cidadãos (1994, p. 6). O autor afir- tos privados” ou no desenvolvimento de abordagens da mobilização legal para a compreensão de “atividades de reforma social”. McCann ressalta que, apesar de tais estu- dos terem grande importância para o desenvolvimento de sua própria análise da mobilização do direito, eles silencia- ram ou foram especulativos a respeito de alguns temas que são o centro de sua análise (1994, p. 5). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 247 28/01/2013 10:43:44 248 Manual de Sociologia Jurídica ma que estes símbolos e discursos jurídicos fornecem recursos relativamente maleá- veis que são rotineiramente reconstruídos na medida em que os cidadãos buscam avançar no que diz respeito a seus interes- ses e projetos na vida cotidiana. Assim, os discursos jurídicos oferecem um meio po- tencialmente flexível tanto para reconfi- gurar os termos de arranjos passados como para expressar aspirações de novas formas de direitos (1994, p. 7). McCann aponta que a noção de mobi- lização do direito está baseada em algu- mas premissas. A primeira delas seria a de que práticas legais e discursos de direitos não estão limitados às normas formais e instituições estatais. Segundo o autor, os cidadãos cotidianamente mobilizam estra- tégias jurídicas para negociar trocas e re- solver disputas em diversos âmbitos da vida social, sem depender de intervenção oficial direta para tanto (1994, p. 7 -8). Como consequência, McCann assinala que a abordagem da mobilização do direito “desloca o foco dos tribunais para os usuá- rios e utiliza o direito como um recurso de interação política e social” (2010, p. 182). O ponto de vista adotado é o dos atores so- ciais que mobilizam estratégias legais em sua ação coletiva, muito mais do que o ponto de vista da instituição, ou seja, do Poder Judiciário. Uma segunda premissa seria de que a ordem legal é mais “pluralis- ta” do que monolítica. Segundo o autor, não só o direito formal -estatal é um “labi- rinto” de tradições legais diverso, indeter- minado e, às vezes, até contraditório, mas há também uma multiplicidade de tradi- ções legais “locais” (indigenous) relativa- mente autônomas que competem por proe- minência dentro das diversas subculturas e terrenos institucionais da sociedade. O autor ainda aponta que, mesmo quando grupos que lutam por mudanças sociais adotam convenções legais compartilha- das, é necessário notar que o entendimen- to e os usos dessas convenções podem va- riar drasticamente. A terceira premissa assinalada por McCann é a de que tanto as normas e práticas jurídicas oficiais como as “locais”, em geral, apenas contribuem de forma parcial, limitada e contingente na maioria dos domínios das atividades dos cidadãos. Isso quer dizer que o direito raramente é uma força exclusiva na práti- ca social de fato. Assim, as convenções ju- rídicas constituem apenas uma dimensão altamente variável em um misto complexo de fatores interdependentes que estrutu- ram o entendimento e as ações dos indiví- duos (1994, p. 7 -9). Segundo McCann, essas premissas dão à abordagem da mobilização do direito uma visão mais expansiva, sutil e complexa do papel que o direito e o Poder Judiciário desempenham nas lutas políticas. As táti- cas e práticas jurídicas utilizadas pelos movimentos sociais, em especial aquelas Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 248 28/01/2013 10:43:44249Movimentos Sociais e Direito que recorrem às normas formais e aos tri- bunais, têm múltiplas motivações e efeitos complexos (1994, p. 9 -10). McCann aponta que o poder indireto do direito e do Poder Judiciário na sociedade é fundamental: o autor acredita que sua influência é menos linear, menos direta e não está sujeita a análises causais, como em geral indicam os estudiosos do tema16. O autor ressalta que tais efeitos indiretos podem ser rele- vantes, por exemplo, para a construção do próprio movimento social, para gerar apoio público para novas reivindicações de direi- tos e para alavancar outras táticas políti- cas (1994, p. 10). Nesse sentido, os tribu- nais seriam “importantes por configurarem o contexto no qual os usuários da justiça se engajam em uma mobilização do direi- to”, ou seja, tal importância “se dá em fun- ção de como os usuários interpretam e agem com relação aos seus sinais” (2010, p. 183). O autor acredita que as cortes au- xiliam de forma ativa a compor o “panora- ma ou a rede de relações na qual se encon- tram as demandas judiciais em curso dos cidadãos e organizações” (2010, p. 183). De acordo com McCann, o Poder Ju- diciário tem uma importância para a mobi- 16. Nesse sentido, McCann se diferencia do mainstream da ciên- cia política que estuda os tribunais na medida em que esta busca entender os efeitos diretos e lineares das decisões do Poder Judiciário em outras instituições do Estado e na sociedade a partir de análises causais. De acordo com o autor, “os tribunais não são apenas solucionadores de conflitos” e “também não é poder essencial dos tribunais estabelecer regras a serem seguidas por outros atores” (McCANN, 2010, p. 183). lização do direito em dois níveis: o “nível instrumental ou estratégico” e o nível do “poder constitutivo da autoridade judi- cial”. No nível instrumental ou estratégico, analisa -se como as ações e decisões judi- ciais conformam o cenário estratégico de outros atores estatais e dos agentes so- ciais. Em outras palavras, tal nível de aná- lise busca entender como “as deliberações e ações de diversos agentes sociais são for- madas por entendimentos acerca das nor- mas estabelecidas pelos tribunais, bem como pelas expectativas de sua provável atuação em áreas incertas do direito” (2010, p. 184). Assim, as cortes não apenas teriam o papel de decidir qual o significado de direitos em disputa, mas também aca- bam por prevenir, incitar, estruturar, des- locar e transformar conflitos na sociedade rotineiramente (2010, p. 185). O Poder Judiciário também tem um importante papel para a mobilização do di- reito em uma segunda dimensão, que o au- tor denomina “poder constitutivo da autori- dade judicial”17. Tal dimensão é mais difusa e de difícil compreensão e se configura nos “modos pelos quais as práticas de constru- ção jurídica dos tribunais são ‘constitutivas’ de vida cultural” (2010, p. 188). Esta di- mensão está bastante vinculada à linha 17. De acordo com McCann, “este entendimento é menos proeminente entre os cientistas políticos, mas é desen- volvido por estudiosos sociojurídicos interdisciplinares” (2010, p. 188). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 249 28/01/2013 10:43:45 250 Manual de Sociologia Jurídica “culturalista” de análise do direito, das es- tratégias legais e do Poder Judiciário de- senvolvida inicialmente por Stuart Schein- gold (2004)18. Tal análise se foca no papel que as cortes desempenham na “constru- ção de significados jurídicos, nos meios ju- diciais de se saber o que define uma coleti- vidade ou comunidade” (2010, p. 189). Nesse sentido, o direito se configura em “uma linguagem, um conjunto de lógicas, valores e entendimentos que as pessoas co- nhecem, esperam, aspiram e se sentem portadoras”, ou ainda é “um conhecimento instrumental sobre como agir para alcan- çar estes fins” (2010, p. 189). Assim, os tri- bunais têm uma função fundamental de refinar, complementar e ampliar a lingua- gem do direito na sociedade. E esta lingua- gem, por sua vez, é a linguagem básica de um território, refletindo em grande medida os princípios, valores e lógicas que consti- tuem um povo (2010, p. 189). De acordo com McCann, tal “poder constitutivo” 18. Stuart Scheingold (2004) trouxe contribuições pioneiras para o campo de estudos das relações entre direito, política e transformações sociais a partir de sua visão “culturalista” deste fenômeno. Em seu Politics of rights, o autor apresenta várias intuições antropológicas a respeito da ressonância cultural e do poder simbólico dos direitos que vão sendo apontados ao longo de sua análise cultural da lei – por exemplo, o papel que as ideias ligadas ao direito podem desempenhar na política e a necessidade de examinar as consciências dos vários atores abarcados nos processos que envolvem o direito e a política. Esta visão “culturalista” do direito emerge durante os anos 1980 e 1990 e tem sua versão mais bem -acabada no trabalho de Michael McCann (PARIS, 2010, p. 18 -19). “[...] não é produto identificável das decisões jurídicas individuais dos tribunais. Esse poder é expresso no legado cultural acumulado das ações judiciais e práticas de rotina ao longo do tempo. Essas convenções jurídicas são, por sua vez, apreendidas, internalizadas e normali- zadas pelos cidadãos através de muitas for- mas de participação cultural – educação for- mal, comunicação de massa, cultura popular, experiências pessoais diretamente dentro das definições institucionais legalizadas. E, nessas formas, os conhecimentos, convenções e jus- tificativas legais fundamentais transmitidos pelos tribunais são reproduzidos e reforçados no interior de múltiplas práticas, relações e arranjos que estruturam a vida diária por toda a sociedade” (2010, p. 190). Para McCann, este “poder constituti- vo” do direito gerado em parte pela atua- ção das cortes tem um efeito profundo e duradouro sobre a formação das identida- des, consciências, e a construção dos inte- resses dos sujeitos (2010, p. 190). Muitas das ideias apresentadas acima são desenvolvidas e discutidas por McCann em seu principal estudo, Rights at work: pay equity reform and the politics of legal mobilization (1994). Tal trabalho tem como objeto de estudo empírico o movimento so- cial de mulheres nos Estados Unidos que lutou pela equidade de salários no final dos anos 1970, início dos anos 1980. O autor aponta para o fato de que os discursos le- gais e mecanismos institucionais não só forneceram recursos cruciais para tais lu- tas como também moldaram consideravel- mente o terreno no qual essas lutas por no- vos direitos foram travadas (1994, p. 278). Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 250 28/01/2013 10:43:45 251Movimentos Sociais e Direito McCann afirma que, independentemente dos resultados que os movimentos sociais obtêm nos tribunais, a luta política estrutu- rada em torno dos direitos tem importante poder de organizar e mobilizar não só pes- soas em torno da causa, mas também gru- pos políticos que têm as mesmas deman- das, mas estão desconectados. Assim, o direito e as táticas legais têm uma impor- tante função na construção do próprio mo- vimento social e de sujeitos sociais ativos que lutam por suas demandas (1994). McCann também identifica a impor- tância dos recursos legais nas manobras dos movimentos sociais para compelir o Estado a fazer concessões em suas políti- cas públicas já estabelecidas, ou mesmo nas fases de desenvolvimento e implemen- tação delas (1994). O autor também reco- nhece a importância do legadojurídico das conquistas dos movimentos sociais para outras lutas. Nesse sentido, o autor fala da formação de uma consciência dos direitos (legal consciousness), na qual os direitos se tornam cada vez mais significa- tivos tanto como um discurso moral quan- to como um recurso estratégico para as lutas contra as relações de poder presen- tes na sociedade (1994, p. 278 -281). Para McCann, a estrutura da mobili- zação do direito está fundamentada em uma interpretação do direito como elemen- to constitutivo da sociedade (1994, p. 282). Os direitos, segundo esse autor, podem ser entendidos como consistindo em um com- plexo repertório de estratégias discursivas e arcabouços simbólicos que estruturam as relações sociais em curso e as atividades de construção de sentido entre os cidadãos (1994, p. 282). Citando Thompson (1975) e Scheingold (2004), McCann afirma que, longe de ser um código uniforme que vin- cula as pessoas, os direitos podem ser mais bem entendidos como um terreno continua- mente contestado de poder relacional entre cidadãos (1994, p. 283). Pode -se dizer que uma das grandes contribuições de McCann para o campo de estudos da relação entre o direito e movi- mentos sociais é o aprofundamento da con- cepção “culturalista” do direito, na qual o autor desenvolveu sua teoria acerca da mo- bilização do direito. O autor entende o “di- reito como prática social”. Este está entre- laçado com a política e o aparato legal, é pensado como arma instrumental ao mes- mo tempo em que encarna e promove ideias e discursos que existem em uma relação complexa com outros discursos culturais e políticos (PARIS, 2010, p. 20). Outra importante contribuição de Mc- Cann para este campo de estudos foi ter localizado a mobilização do direito no inte- rior de um contexto político e social mais amplo. O autor traçou os contextos relevan- tes para a mobilização do direito no interior dos esforços dos movimentos sociais, prin- cipalmente colocando as reivindicações e atividades ligadas ao direito dentro de uma perspectiva ampla e processual de cálculo Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 251 28/01/2013 10:43:45 252 Manual de Sociologia Jurídica das ações e objetivos de tais atores. Nesse sentido, ele examinou o papel que o direito desempenhou em diferentes fases de ativi- dades dos movimentos sociais. McCann também traçou os contextos de ação dos movimentos sociais colocando -os dentro de um contexto político e social mais amplo (PARIS, 2010, p. 20). Considerações finais Feita esta breve apresentação das noções de oportunidade legal e de mobili- zação do direito, pode -se apontar para a necessidade de se aprofundar os estudos acerca da relação entre movimentos so- ciais, direito e Poder Judiciário, princi- palmente no contexto brasileiro, e incor- porar tais análises nos estudos da ação coletiva. A “utilização da linguagem dos direitos na mobilização social” ou a me- diação de manifestações políticas ou mo- bilizações sociais por meio da linguagem dos direitos é um fenômeno observado em todo o mundo (CABALLERO, 2011, p. 7 -8). O direito e o Poder Judiciário têm ganhado cada vez mais importância na atuação de movimentos sociais, podendo- -se falar mesmo de uma “constitucionali- zação dos movimentos sociais” que se ca- racterizaria por um “uso crescente, em massa e expansivo da linguagem dos di- reitos e das instituições judiciais por par- te de cidadãos, organizações de direitos humanos, movimentos sociais, organiza- ções comunitárias e etc.” (CABALLERO, 2011, p. 8). As noções aqui apresentadas fornecem ferramentas analíticas distintas para dar conta de diferentes aspectos des- ta questão: o ponto de vista da instituição, mais bem entendido a partir da noção de oportunidade legal, e o ponto de vista da ação coletiva, mais bem entendido a partir da noção de mobilização do direito. Assim, deve -se levar em considera- ção que o Poder Judiciário tem se configu- rado como uma das alternativas que os movimentos sociais possuem para o enca- minhamento de suas demandas, não ape- nas como forma de se encontrar uma reso- lução judicial para elas, mas como meio de inscrever ou reinscrever determinado tema no debate público. Com efeito, o en- caminhamento de uma demanda para o Poder Judiciário não tem necessariamente o objetivo único (ou mesmo primordial) de que determinada ação seja julgada proce- dente e que seu objetivo mais imediato seja alcançado. Em muitos casos, as ações judiciais podem significar uma tentativa de amplificar demandas particulares em termos mais abrangentes, gerar discussão pública e, eventualmente, forçar a inscri- ção de temas e objetivos na agenda política oficial. O fenômeno descrito acima nos re- mete a uma compreensão do Poder Judiciá- rio não como mero output do sistema polí- tico, mas como mais um de seus inputs; vale dizer, como meio de acesso de deman- das formuladas pela sociedade civil e pelos Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 252 28/01/2013 10:43:45 253Movimentos Sociais e Direito movimentos sociais ao interior do proces- so político formal. Por outro lado, o direito tem se mostrado um campo em que ocor- rem disputas culturais e políticas impor- tantes. Ele pode ser entendido como um recurso cognitivo e moral “para a constru- ção de quadros interpretativos, isto é, para a conversão ou a tradução de problemas sociais em problemas jurídicos e para a criação de identidades coletivas calcadas na ‘consciência dos direitos’” (MACIEL, 2011, p. 101). Em outras palavras, “os agen- tes coletivos valem -se de estratégias de mobilização do direito tanto para (re)defi- nir problemas sociais e situações de injus- tiça como para alcançar resultados políti- cos práticos” (MACIEL, 2011, p. 101). Nesse sentido, a adequada descrição e avaliação destes fenômenos exige a supera- ção das compreensões tradicionais do Po- der Judiciário e o alargamento dos estudos sobre movimentos sociais no que se refere às suas estratégias de mobilização, atuação política e relação com as instituições esta- tais. A literatura norte -americana vem cumprindo estas tarefas há algumas déca- das, procurando compreender a intensa mobilização social em torno do Poder Judi- ciário desde a década de 1960, com a ação do movimento de direitos civis e políticos. Diante dessa aproximação recente no caso brasileiro entre movimentos sociais e Poder Judiciário, pode ser bastante frutífero dia- logar com essa literatura, especialmente em como ela organiza o debate no campo da ciência política e das ciências sociais. Fica clara, então, a necessidade de alargar a agenda de pesquisa no Brasil e incluir estu- dos da relação entre movimentos sociais, direito e o Poder Judiciário, abarcando as reflexões apresentadas acima. Sua inserção pode se dar em diferentes áreas, desde os estudos da ciência política, descentralizan- do a análise do Poder Judiciário a partir de suas decisões (output) e reconhecendo nele um espaço de intensa mobilização so- cial (input) antes, durante e após seu pro- cesso decisório, e nas ciências sociais, in- corporando aos estudos dos movimentos sociais sua inter -relação mais próxima com a linguagem do direito e as instituições ju- diciais. É neste diálogo entre áreas que a sociologia jurídica pode contribuir mais, dando continuidade aos seus estudos sobre movimentos sociais no processo de demo- cratização brasileira, agora produzindo também estudos empíricos que apresentema linguagem do direito e das instituições, especialmente o Poder Judiciário, recente- mente cada vez mais apropriadas pelos mo- vimentos sociais. Bibliografia ANDERSEN, Ellen Ann. Out of the closets and into the Courts : legal opportunity structure and gay rights liti- gation. Michigan: University of Michigan Press, 2004. CABALLERO, Mauricio Albarracín. Corte constitucional e movimentos sociais: o reconhecimento judicial dos direitos de casais do mesmo sexo na Colômbia. SUS – Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 8, n. 14, p. 7 -33, jun. 2011. Manual de Sociologia Juridica_p_001_a_376.indd 253 28/01/2013 10:43:45 254 Manual de Sociologia Jurídica CASE, Rhonda E.; GIVENS, Terri E. 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