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O CONTO E A CRONICA

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O Conto
O termo conto pode ser entendido de varias formas. No nosso dia a dia, por exemplo, usamos para expressar um numero, “conto” deriva então do latim kontós, ou lat. Computus, para se referir cálculo ou conta. Outras vezes uma historia, ou uma, que se refere à invenção ou ficção, então conto viria do latim commentum. Foi na Idade Media que, após significar enumeração de objetos, passou a ser usado para falar de acontecimentos, relato de coisas verdadeiras, narrativa, etc. Só em XVI que a palavra “conto” veio a assumir o sentido que aqui tratamos, isso devido o surgimento do contista Gonçalo Fernandes Trancoso, autor dos Contos E Historias De Proveito e Exemplo (1575).
Quanto a historia do conto é difícil precisar um histórico, pois é uma pratica realmente muito antiga, todavia alguns se arriscam em dizer que sua origem foi da indo-européia ou mítica, outros dizem ter surgido do mito ariano, em circulação na pré historia da Índia e de lá imigraram para o Ocidente no século X d.C. o teórico Andrew Lang dizia que o conto derivava de várias culturas geograficamente afastadas. Paul Saintyves colocou que o conto é a lembrança de personagens cerimoniais que caíram no esquecimento. Vladimir Propp afirma que o conto permite reconhecer sinais dos modos de produção e dos regimes políticos do clã. Devido sua estrutura, alguns dizem que foi a matriz dos gêneros literários, principalmente no que se refere à prosa de ficção a historiografia. Nos séculos XIX e XX começou a se expandir, e até hoje vem ganhado espaço se ligando a literatura erudita. Após atravessar varias fases, tendendo às vezes para a crônica ou poema em prosa. 
O conto é, historicamente falando, matriz da novela e do romance, mas assim como a novela e o romance são irreversíveis o conto também é e jamais deixa de ser conto e não pode se tornar romance ou novela, assim como também não pode ser abreviado materialmente.
Dramaticamente falando, o conto é univalente e unívoco. Ele é formado por uma unidade ou célula dramática, onde há somente um conflito, somente um drama e somente uma ação, levando a somente um objetivo. O conto não concorda com divagações, digressões e excessos. Apresentando ao drama um fim em si próprio, com começo meio e fim correspondendo ao clímax da vida da personagem, não levando em consideração o antes ou o depois. Pode haver uma “síntese dramática”, toda via, não é dado importância para o passado e futuro. O conto possui ação, espaço, um lugar fictício onde ocorre a ação e toda a dinâmica, tempo, que se constitui como o período que ocorre a trama, sempre é curto, levando horas ou alguns poucos dias, caso passe disso não se constitui como um conto, e tom, que provoca no leitor uma impressão, seja pavor, piedade, ódio ou simpatia. 
O conto preocupasse também em ser objetivo e atual, indo direto ponto, sem deter-se em questões menores e secundarias ao contexto. A objetividade é ressaltada pela unidade de ação, lugar e tempo. O conto opera com ação e não características. Criando conflitos onde podemos nos espelhar, sendo os personagens instrumentos de ação. 
Quanto aos personagens do conto, esses devem ser poucos, contando que não seja apenas um. Mesmo que o conto tenha apenas um personagem deve haver mais um para formular o conflito. Esses personagens devem ser estáticos, imóveis no tempo, no espaço e na personalidade.
O conto é estruturado em linhas paralelas com os personagens e as respectivas unidades. Devido se tratar de algo objetivo, “plástico”, e “horizontal”, o conto geralmente é narrado na terceira pessoa. Usando as palavras necessárias que se tornam, suficientes para alcançar o alvo, a imaginação prende-se plasticamente a realidade que o conto apresenta em paralelo que a própria vida do leitor. 
A linguagem do conto também ocorre de forma objetiva e plástica, utilizando metáforas simples, para que o leitor compreenda rapidamente, pois ele deve estar a par de tudo que acontece. O conto não abre espaço para alçapões ou passagens herméticas, é certo a sátira e o humor. Apropriando-se sempre da linguagem direta e concreta. Além disso, o contista sempre deve optar por ressaltar a ação antes da intenção. Devido o seu estofo dramático, deve-se sempre haver o dialogo, ou seja, comunicação, pois sem ele não há discórdia, desavença ou mal entendido e sendo assim, também não há ação. 
São quatro os tipos de diálogos; o direto ou discurso direto, onde os personagens falam diretamente. O dialogo/discurso indireto, onde o contista apenas narra, sem destacar um dialogo, este é o predominante no conto. O dialogo/discurso indireto livre, que é a fusão entre a terceira e a primeira pessoa narrativa, o autor e a personagem, criando um “interlocutor hibrido”, fazendo com que a fala de um personagem se insira discretamente. E por fim o monologo interior, que ocorre dentro do mundo do personagem, falando sozinho. 
Narração e descrição são pouco utilizadas, mas a descrição pode ter mais destaque em algumas exceções. Através do drama ou características psicológicas As personagens dos contos são diferenciadas, diferente de outros gêneros onde isso é feito através da fisionomia ou vestimenta. O uso da dissertação é mais raro. 
A trama do conto é linear e objetiva e segue uma cronologia contínua semelhante assim como na vida real. Ao começar já está perto do epílogo. Apesar de presidir no conto a precipitação, há nele mistério, drama, com truques a serem descobertos, prendendo o leitor do inicio ao fim da trama. Ao terminar, é mostrada para o leitor uma surpresa, que o leva a uma meditação. O enigma do conto pode vir ao logo do conto, tendo que ler toda a narrativa para saber do que se trata. 
O ponto de vista ou foco narrativo é o principal elemento na estruturado conto, novela ou romance. Classificado por Cleanth Brooks e Robert Penn Warren através de quatro perguntas e obtendo as seguintes conclusões. Primeiro que o personagem principal conta sua história, segundo que uma personagem secundária conta a história da personagem central, terceiro que o escritor analítico ou onisciente conta a história, e por fim que o escritor conta a história como um observador. A primeira e a quarta conclusão implicando na questão da analise interna dos fatos, e outros se relacionam com observações externas. No primeiro e no segundo caso o narrador é como um personagem da historia, nos outros é um observador do lado de fora da história. 
No primeiro foco narrativo a primeira pessoa do singular é limitado devido atuar na área de fabulação, restringindo-a ao narrador, pois está lidado com a sua própria historia. Oferece vantagem de dar a ilusão de presentitividade. O segundo foco resumi-se em criar uma distancia entre o leitor e conteúdo da narrativa, visto que os acontecimentos se passam com uma terceira pessoa. É pouco usado devido apresentar mais desvantagens do que vantagens. No terceiro foco o narrador se torna demiurgo, indo com as personagens a todos os lugares, até os mais íntimos, incluindo o seu psicológico, sabendo o que eles querem ou não. Sendo assim, pode perder o impacto, mas ganha em riqueza de situações. O quarto foco se assemelha com os defeitos do segundo. No entanto amplia o alcance de observação, quase não há ou não há intimidade com o psicológico do personagem, é a favor da ação e do conflito, tornando a narrativa menos complexa. 
O contista é obrigado a escolher um dos focos apresentados para usar na sua obra. No conto moderno podem-se usar vários focos agrupados no enfoque narrativo, compensado assim as desvantagens uns dos outros. Sendo assim, podemos dizer que o ficcionista é sempre onisciente, mesmo que não pareça. 
Quanto aos tipos de contos pode-se dizer que esses são cinco, como elenca Carl H. Grabo. Começando pelo conto de ação, o mais comum entre o gênero. Nele predomina a aventura, conta a historia de forma linear. Tem a função de entreter, atendendo a Ludicidade, motivando o leitor. O conto de personagem é o menos comum, apesar de consistir com o objetivo do contista, nunca deixa a plenitude doromance. O conto cenário ou atmosférico é raro, o drama se transfere para um cenário ou um ambiente, sendo assim quase se transforma no herói do conto. O quarto tipo de conto, chamado de conto de idéia é freqüente, e consiste em juntas a idéia com a ação e os personagens. Por fim, temos o quinto tipo de conto trabalha com emoção, o enredo fica em segundo plano, enquanto que a emoção supre as outras necessidades. 
Começo e Epílogo no Conto
O cuidado do contista está mais em como iniciar a narrativa, pois das primeiras linhas depende o futuro do conto, do que em terminar. Se o leitor se deixa prender desde o começo, certamente irá até o fim; do contrário esmorece e passa adiante. Acontecendo muito próximos o começo e o fim, o contista não pode perder tempo em delongas, então o epílogo se incrusta na introdução e atraído pelo mistério intuído o leitor vai em busca do final dramático que desconhece, que mal pode imaginar, mas que lhe põe a sensibilidade em sobressalto.
Como a fabulação começa próxima do fim há grande importâcia em como mostrar o passado anterior ao fato para justificar as páginas seguintes.O contista não pode deter-se no início em prejuízo do restante. Não há que perder tempo em principiar, já que se está orientado para um fim que de súbito se anuncia, num movimento acelerado que oferece ao leitor uma impressão instantânea de drama, de luz ou de som.
O epílogo pode ser enigmático, imprevisível, surpreendente e destituído de enigma surpresa ou imprevisto (conto moderno), mas mesmo nesse caso se respeitam as características fundamentais do conto.
Como fiapos de arte e de vida a imagem da existência fornecida pelo conto é fragmentária e por vezes excessivamente densa. O que o leitor procura no conto é o desenfado e o deslumbramento perante o talento que alcança pôr em reduzidas páginas, tanta humanidade em drama. (Moisés, p.142-3).
Cabe ressaltar que no prefácio, o autor expõe que a obra em questão não é propriamente uma obra de Teoria Literária; o escopo da obra era oferecer ao leitor uma iniciação, uma introdução ao exame de alguns problemas fundamentais de teoria e filosofia da literatura.

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