Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LETRAS 2022.2 LITERATURA COMPARADA WEB 4 Prof. Me. Neilton Lima Cruz (2020) EXPLORANDO A TEORIA DA NARRATIVA DISCURSO ENREDO PERSONAGEM TEMPO ESPAÇO OS TEXTOS NARRATIVOS A narrativa pode ser entendida por todo discurso que nos apresenta uma história originária como se fosse real, atravessada por uma pluralidade de personagens, cujas trajetórias de vida se entrelaçam num tempo e num espaço determinados. Desta forma, o conceito de narrativa não está restrito apenas ao romance, ao conto e a novela, mas também ao poema épico e a outras formas de literatura. A narrativa pode ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa ou móvel, pelo gesto ou pela mistura ordenada de todas essas substâncias; marca presença no mito, na lenda, na fábula, no conto, na novela, na epopeia, na história, na tragédia, no drama, na comédia, na pantomina, na pintura, no vitral, no cinema, nas histórias em quadrinhos, na conversação. Um problema importante que se apresenta a quem se propõe a estudar uma obra ficcional é perceber quem narra e o que se passa em um romance ou conto, pois o(a) narrador(a) não é o(a) autor(a). No contexto da narrativa, o(a) narrador(a) nunca é o(a) autor(a), mas um papel por ele(a) criado: é um(a) personagem ficcional no qual o(a) autor(a) se metamorfoseia. O(A) narrador(a) é um ser ficcional e autônomo, independente do ser real do(a) autor(a) que o criou. As ideias, sentimentos, a cosmovisão do(a) narrador(a) de um texto literário não se relaciona direta e necessariamente com o ponto de vista do(a) autor(a). Esse pode ocultar sua axiologia atrás do(a) narrador(a) e de outros personagens, como também pode optar por não compartilhar as opiniões de nenhuma personagem. O(A) autor(a) é pertencente ao mundo da realidade histórica; o(a) narrador(a), a um universo de imaginação: entre esses dois mundos pode até haver analogia, mas nunca identidade. Essa confusão vem do fato de que o sujeito da enunciação, que é um sujeito lógico, é considerado como um sujeito ontológico. Além do(a) narrador(a), existe outra entidade a ele(a) ligada: o narratário ou destinatário. A tríade emissor(a) – mensagem – receptor(a) deve ser verificada externa e internamente ao texto literário, ou seja, no plano da realidade e no plano da fantasia. No mundo da existência física, o(a) emissor(a) é o(a) autor(a) que destina sua obra a um(a) leitor(a) imaginado. No texto artístico, o(a) emissor(a) é um personagem (o(a) narrador(a)) que comunica a outro personagem (receptor(a)) fatos, acontecimentos, ideias e sentimentos (mensagem). Em uma narrativa, é importantíssima a percepção de quando um(a) personagem está atuando como ser que participa dos fatos ou quando está exercendo somente a função de narrador(a). O processo enunciativo dentro do texto literário, na maior parte das narrativas está camuflado, pois o(a) narrador(a) raras vezes se mostra como tal, identificando-se em uma personagem. A função desse(a) narrador(a) é revelada por índices específicos e procedimentos acessórios. A essa categoria pertencem as narrativas que não referenciam explicitamente o narrador e o destinatário: Narrador onisciente neutro: caracteriza-se quando o foco narrativo parece contar-se a si mesmo, supostamente abrindo mão da figura do narrador. Este tipo de narrador é onipresente, e o narrador, em sua visão, se coloca por detrás e cima dos personagens, sabendo – inclusive – mais do que eles pelo motivo de que sabe tudo. As narrativas ocorrem de um modo neutro, impessoal, sem que o narrador tome partido ou defenda algum ponto de vista; Narrador onisciente intruso: semelhante ao narrador onisciente neutro, essa forma de narrador se caracteriza por volta e meia interromper a narração dos fatos ou mesmo a descrição dos personagens para tecer considerações e para emitir julgamentos de valor; Narrador pressuposto Narrador onisciente seletivo: este foco narrativo se dá quando o narrador, mesmo sendo ele o sujeito do discurso, apresenta um ponto de vista plural, não somente seu, mas de um ou de vários personagens, não a posteriori, mas diretamente, no momento presente, pela mente do personagem. Sua diferença estilística está na forma do discurso indireto: neste caso, é utilizado o chamado discurso indireto livre, por meio do qual o narrador interpreta com palavras suas ideias e pensamentos de personagens; Narrador-câmera: Esse narrador conta os fatos com uma visão de fora, como se fosse – de fato – um cameraman que, se colocando atrás da câmera cinematográfica, só mostra o que essa câmera é capaz de captar. Ele não pode falar do passado, não está em vários lugares ao mesmo tempo, não pode penetrar na consciência do personagem; apenas exerce o papel de observador imparcial, que analisa realisticamente a conduta e o meio como materialmente observáveis. Narrador-personagem Narrador-protagonista: o narrador se identifica como o eu do personagem principal que vive os fatos. Trata-se de um ator que acumula o papel de sujeito da enunciação e de sujeito do enunciado. Ele nos conta a história por ele vivida, a história de parte de sua existência. É por meio de seus olhos e de seus sentimentos que são apresentados os elementos que constituem a narrativa: os fatos, os outros personagens, os temas e os motivos, o espaço e o tempo. Em algumas narrativas, o personagem central faz uma sondagem na profundidade de sua consciência, remisturando sentimentos e sensações do presente com lembranças passadas; Narrador-personagem secundário: esse tipo de narrador não é o protagonista, mas outro personagem que, mesmo participando dos acontecimentos, não pode ser confundido com o protagonista ou com os demais personagens da história, mas é por meio desse narrador que os conhecemos; Narrador-testemunha: possui uma focalização centrada sobre um personagem que está centrado no texto só para narrar os acontecimentos, sem se confundir nem com o protagonista, nem com os outros personagens; Narração dramática: é uma técnica usurpada do gênero dramático, do teatro, no qual não há um narrador específico, mas todas as personagens, por meio do diálogo, funcionam como narradores e como destinatários da mensagem. De modo geral, podemos dizer que o enredo é a história propriamente dita, de seu início ao seu fim. Ele faz parte do gênero narrativo porque é a noção de enredo que possibilita a percepção do movimento da narrativa. A seguir, veremos as principais características que constituem o enredo das tramas narrativas. A situação inicial pode ser definida como aquela que tem a função de apresentar ao leitor, por meio do narrador, a história que será contada. É por meio da situação inicial, que conhecemos, de forma breve ou aprofundada, o protagonista, o tempo, o lugar em que se passa a história e sua situação de vida, no momento em que o foco narrativo se coloca sobre ele. Dito de outro modo, é quando o contexto narrativo é apresentado. O enredo Nó: a partir da apresentação da situação inicial, algo ocorre que modifica seu estado de início, trazendo uma forma de desequilíbrio para o ambiente narrativo e para o protagonista: o nó. O nó do enredo pode ser entendido como o conflito que colocará os personagens em ação ao longo da trama. Clímax: com a movimentação das personagens ao longo da história, na busca pela resolução do conflito, surge um ponto máximo, crucial para a constituição de um novo equilíbrio: o clímax. É esse o elemento da narrativa que se caracteriza pelo momento mais tenso do enredo, quando, todo o nó e revelado, e a possibilidade de resolução do conflito, independentemente da forma que ocorrer, está próxima. O clímax, de modo geral, é o prenúncio do fim da história. Desfecho: após toda a tensão do clímax, finalmente o enredo se encaminha para o final, quando os personagens, de alguma forma, resolverão seus conflitos. A narrativa nunca volta exatamentepara a situação inicial no desfecho, mas mostra como o protagonista superou (ou não) aquele conflito, ou os desdobramentos do nó, com uma nova situação inicial. D’Onofrio (2007), ao estudar a formação do personagem, afirma que há uma espécie de modelo actancial, no qual há uma divisão entre ator e actante. O ator seria o que se chama de personagem, aquele que pode ser identificado como sujeito numa narrativa. Os atores são elementos variáveis, em número ilimitado, que povoam as obras literárias e se encontram na estrutura de manifestação. Os actantes seriam uma classe de atores que exercem funções idênticas, estando relacionados a conceitos abstratos, categorias metalinguísticas, que só podem ser percebidos numa estrutura narrativa mais aprofundada, no nível sintático, e não lexemático. Dito de outro modo, os actantes são as relações gramaticais ou funcionais que existem entre os atores de uma narrativa. O personagem é um ser ficcional responsável pelo desempenho do enredo; dito de outro modo, é quem faz a ação acontecer. Por mais real que pareça, o personagem é sempre uma invenção, mesmo quando se percebe que determinados personagens são baseados em sujeitos reais ou em elementos da personalidade de determinados indivíduos. Quanto ao papel que desempenham no enredo, os personagens podem ser classificados da seguinte forma: • Protagonista: é o personagem principal do enredo. Pode ser: • Herói: quando o protagonista possui características consideradas superiores às de seu grupo; • Anti-herói: quando o protagonista apresenta características iguais ou inferiores às de seu grupo, mas, por algum motivo, está na posição de herói, mesmo que sem competência para tanto. No Brasil, ou melhor, na literatura brasileira, são mais frequentes os anti-heróis, geralmente vítimas das adversidades e desigualdades, ou de seus próprios defeitos de caráter. • Antagonista: é o personagem que se coloca em oposição ao protagonista, seja por sua ação que o atrapalha, seja por suas características diametralmente opostas às do protagonista. Em outras palavras, seria o vilão da história; • Personagens secundários: são os personagens menos importantes na história, isto é, que possuem uma participação menor ou menos frequente no enredo. Podem desempenhar papéis de ajudantes do protagonista ou do antagonista, ou se assemelhar a figurantes. Quanto à caracterização que desempenham no enredo, os personagens podem se classificar como: • Personagens planos: são aqueles personagens que se caracterizam por um número pequeno de atributos, que são facilmente identificados pelo leitor. De modo geral, os personagens planos são pouco complexos. Desse tipo de personagens, podemos descrever dois mais conhecidos: • Tipo: é um personagem reconhecido, geralmente, por características típicas, que não variam. Essas características podem ser morais, sociais, econômicas, ou de qualquer outra ordem; • Caricatura: é uma forma de personagem que pode ser reconhecida por características consideradas fixas e ridículas. Em geral, mais presente nas histórias de humor; • Personagens redondos: são personagens bem mais complexos do que os planos, pois apresentam uma variedade mais ampla de características que, por sua vez, podem ser: • Físicas: corpo, voz, gestos, roupas; • Psicológicas: referem-se à personalidade e aos estados de espírito; • Sociais: indicam classe social, profissão, atividades sociais; • Ideológicas: referem-se ao modo de pensar do personagem, sua filosofia de vida, suas opções políticas, sua religião etc.; • Morais: referem-se a julgamento, isto é, em dizer se o personagem é bom ou mal, se é honesto ou desonesto, se é moral ou imoral, de acordo com determinados pontos de vista. Um mesmo personagem redondo pode ser julgado de diferentes modos por personagens, narrador, leitor; por tanto, poderá apresentar características morais distintas, relacionadas ao ponto de vista adotado. Também, ao se analisar um personagem redondo, deve-se considerar o fato de que ele pode mudar no decorrer da história, e que uma qualificação inicial pode não dar conta de caracterizá- lo. Outro elemento importante que constitui o enredo, o tempo é que permite vermos a movimentação dos personagens. Importante que, dentro da literatura, estamos nos referindo a um tempo que chamamos de fictício, ou seja, interno ao texto, entranhado no enredo. Tempo cronológico: é o nome que damos ao tempo que transcorre na ordem natural dos fatos no enredo, isto é, do começo para o fim. Está ligado ao enredo linear (que não altera a ordem em que os fatos ocorreram), e chama-se cronológico porque é mensurável em horas, dias, anos, séculos. Para que se compreenda melhor essa forma de tempo, podemos imaginar uma história que começa narrando a infância do personagem e depois os demais fatos de sua vida na ordem em que eles ocorreram. Tempo psicológico: é o nome que damos ao tempo que transcorre numa ordem determinada pelo desejo e/ ou pela imaginação do narrador ou dos personagens, ou seja, a ordem natural do tempo é alterada, formando um enredo não-linear (no qual os acontecimentos estão fora da ordem natural). Uma das técnicas mais conhecidas e usadas a serviço do tempo psicológico é o flashback, que consiste na ação de voltar no tempo. O espaço é, por definição, o lugar onde se passa a ação da narrativa. Caso a ação seja concentrada, isto é, se houver poucos fatos na história, ou se o enredo for psicológico, haverá menos variedade de espaços. Se, por outro lado, a narrativa for recheada de acontecimentos, maior será a diversificação de espaços. O espaço tem como funções principais situar as ações dos personagens, estabelecendo com eles uma interação, quer influenciando suas atitudes, pensamentos ou emoções, que sofrendo eventuais transformações provocadas pelos personagens. O ambiente é o espaço carregado de características abstratas (socioeconômicas, morais e psicológicas) em que vivem os personagens. Nesse sentido, o ambiente é um conceito próximo do tempo e do espaço, pois junta esses dois elementos, acrescentando um clima. Dentre as principais funções que o ambiente possui na obra literária, podemos citar: 1. Situar os personagens no tempo, espaço, grupo social, e nas condições em que vivem; 2. Projetar os conflitos vividos pelos personagens; 3. Conflituar com os personagens. Em algumas narrativas, o ambiente se opõe aos personagens, estabelecendo com eles um conflito; 4. Fornecer índices para o andamento do enredo. Vem do grego mythos, que corresponde à fábula latina. Foi usado por Aristóteles como elemento estrutural da teoria narrativa, a fim de indicar um conjunto de ações. Porém, em sua concepção geral, mito é uma história ficcional sobre divindades, criada pelos homens para explicar a origem das coisas ou justificar padrões de comportamento. O que há em comum entre os dois usos do termo “mito” é que se trata de uma história fantástica, inventada ou por um poeta ou pelo povo. No segundo caso, estamos diante de uma forma simples de narrativa, uma vez que o mito brota espontaneamente do seio de um povo ainda num estágio primitivo. Algumas de suas características: Trata-se de uma história fantástico-religiosa; Adquire o status de crença-verdade; Segue um pensamento lógico peculiar. O mito Se originou do termo latino “legenda”, forma gerúndio do verbo legere (ler), que na Idade Média, se tornou um substantivo. O nome feminino “legenda”, de onde se origina a palavra “lenda”, significa, etimologicamente, “o que se deve ler”. Tal substantivo passou a denominar o relato da vida dos santos e dos mártires da Igreja Católica. O etimológico do nome “lenda” já sugere a disposição mental: aquilo que deve ser imitado. As hagiografias (biografias dos santos), por exemplo, deviam ser lidas para que se conhecesse e imitasse as virtudes dos heróis religiosos. Essa é uma diferença importante entre mito elenda: a história mítica, ligada a entes sobrenaturais, tem como atitude mental a crença; diferentemente, o relato lendário tem como heróis seres humanos cujo grande valor cívico do espiritual estimula a imitação. A lenda Outra diferença está no fato de que a lenda se origina de um fato histórico, mesmo que sua verdade, com o passar do tempo, seja transfigurada pela imaginação popular. Aliás, como se depreende do sentido do adjetivo “lendário”, há quase uma disposição entre história e lenda: chama-se lenda o fato historicamente não comprovado. A seguir, apresentamos alguns temas comuns nos contos populares ou maravilhosos: Encantamentos: histórias de fadas, da carochinha e de magia, com predominância do elemento sobrenatural; Exemplos: micronarrativas com intenção moralizante; Contos edificantes; Fábulas: animais que falam; Contos religiosos: com a intervenção divina; Narrativas etiológicas: sobre a origem de objetos ou de costumes; Adivinhações; Contos acumulativos: casos de intertextualidade, de contos de nunca acabar, de trava língua; Facécias: anedotas e patranhas; Natureza denunciante: um ato criminoso é revelado por um elemento natural; Demônio logrado: a vitória do bem sobre o mal; Ciclo da morte. A palavra romance deriva de uma expressão latina, romanice loqui, que significa “falar romântico”, ou seja, falar num dos vários dialetos europeus que se formaram do latim romano, em oposição ao latine loqui, que era a língua culta durante a Idade Média. E porque nesses dialetos populares se contavam histórias de amor e de aventuras cavalheirescas, transmitidas pela oralidade, a palavra romance passou a indicar uma longa narrativa sentimental, forma cultural que viveu à margem da literatura oficial durante o Classicismo. Do italiano novella (notícia nova), a novela literária passou a indicar um incidente chocante que dá a impressão de um evento realmente acontecido. As primeiras formas literárias que ganharam esse nome estão relacionadas com a instituição medieval da cavalaria. Aos poucos, deixaram o domínio da poesia épica e passaram a se tornar prosificadas, adentrando o campo das novelas de cavalaria. Do grego krónos, significa “tempo”, sendo o registro de acontecimentos num tempo e num espaço determinados. A crônica literária é produzida por poetas e ficcionistas que, embora possam se apoiar em fatos conhecidos, transformam a realidade do dia a dia pela força criadora da fantasia. Daí decorre que suas crônicas são ou poemas em prosa ou pequenos contos, dependendo do pendor do autor para o gênero lírico ou narrativo. Geralmente, a crônica pode ser considerada como a mais curta forma de narrativa literária já consagrada OBRIGADO NOME DO APRESENTADOR CONTATOSCARGO
Compartilhar