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TUTELA ANTECIPADA NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 2.162 SÃO PAULO RELATOR : MIN. GILMAR MENDES AUTOR(A/S)(ES) :PERIMETER ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS LTDA ADV.(A/S) :PAULO HENRIQUE STOLF CESNIK RÉU(É)(S) :ESTADO DO RIO DE JANEIRO PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO LIT.ATIV.(A/S) :UNIÃO PROC.(A/S)(ES) :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO LIT.ATIV.(A/S) :REFINARIA DE PETRÓLEOS DE MANGUINHOS S/A ADV.(A/S) :URSULA VIEIRA PERONI DECISÃO: Trata-se de ação anulatória, com pedido de antecipação de tutela, ajuizada pela empresa Perimeter Administração de Recursos Ltda., acionista da Refinaria de Petróleos de Manguinhos S.A., contra o Estado do Rio de Janeiro, objetivando que seja reconhecida a nulidade absoluta do Decreto estadual 43.892/2012, que declarou de utilidade pública e interesse social, para fins de desapropriação, “prédio situado na Av. Brasil, 3.141 (domínio útil e respectivo terreno situado na Enseada de Manguinhos)”, onde a citada Refinaria exerce suas atividades. A ação foi ajuizada na Justiça Federal de São Paulo e depois encaminhada ao STF em razão do ingresso da União no feito, passando a causa, com isso, à competência desta Corte, nos termos do art. 102, I, f da Constituição Federal. Alega a autora, em síntese, que: a) trata-se de imóvel de propriedade da União, com domínio útil pertencente à Refinaria de Petróleo de Manguinhos S.A., conforme aforamento em vigor; b) a atividade exercida pela referida empresa depende de autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP; c) o aforamento do imóvel onde a empresa exerce suas atividades integra o patrimônio da Refinaria; e d) a desapropriação pretendida mostra-se, dessa forma, inviável, em face do que dispõe o art. 2º, §3º, do Decreto-Lei 3.365/41, o qual veda que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios desapropriem direitos representativos de capital de empresas cujo Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 4429128. ACO 2162 TA / SP funcionamento dependam de autorização do Governo Federal e a ele subordine sua fiscalização. Ingressaram no feito, na qualidade de litisconsortes ativos, a União e a Refinaria de Petróleo de Manguinhos S.A. Ambas ratificaram o pedido antecipatório. Antes da apreciação do pedido de antecipação de tutela, foi determinada, já nesta Corte, a citação do Estado do Rio de Janeiro, bem como a intimação da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da República para manifestação acerca da pretensão antecipatória. Às fls. 409/434, o Estado do Rio de Janeiro apresentou contestação aduzindo, em síntese, que: a) o objeto do decreto expropriatório é o domínio útil do imóvel, registrado em nome da Refinaria de Petróleo de Manguinhos S.A., e não a propriedade da União relativa ao terreno de marinha; b) o caso dos autos não se enquadra no art. 2º, §3º, do Decreto- Lei 3.365/41, visto que o domínio útil objeto do aforamento não constitui cota ou direito representativo do capital da Refinaria; c) o citado dispositivo legal afasta a possibilidade de desapropriação de empresa prestadora de serviço público, o que não é o caso da referida Refinaria, cuja atividade foi expressamente excluída do regime de monopólio estabelecido pelo art. 177 da Constituição Federal, nos termos do art. 45 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Às fls. 791/798, a União manifestou-se no sentido de que tem interesse na antecipação da tutela, em vista da manifesta plausibilidade jurídica das razões articuladas pela parte autora. Aduz, na mesma linha, que não obstante a possibilidade de se desapropriar o domínio útil de terreno da União, o Decreto expropriatório é nulo em face da já mencionada vedação constante do art. 2º, § 3º, do Decreto-Lei 3.365/41. Às fls. 804/810, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se pelo deferimento da tutela antecipatória. 2 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 4429128. ACO 2162 TA / SP DECIDO. Cinge-se a controvérsia jurídica à incidência, na desapropriação em debate, da vedação constante do art. 2º, § 3º, do Decreto-Lei 3.365/41, o qual dispõe: “Art. 2o Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. (...) § 3º É vedada a desapropriação, pelos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios de ações, cotas e direitos representativos do capital de instituições e emprêsas cujo funcionamento dependa de autorização do Govêrno Federal e se subordine à sua fiscalização, salvo mediante prévia autorização, por decreto do Presidente da República. (Incluído pelo Decreto-lei nº 856, de 1969)”. Estabelece o art. 8º, V, da Lei 9.478/97, ao dispor sobre as atribuições da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves – ANP, verbis: “Art. 8º A ANP terá como finalidade promover a regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis, cabendo-lhe: (Redação dada pela Lei nº 11.097, de 2005). (...) V - autorizar a prática das atividades de refinação, liquefação, regaseificação, carregamento, processamento, tratamento, transporte, estocagem e acondicionamento; (Redação dada pela Lei nº 11.909, de 2009)”. 3 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 4429128. ACO 2162 TA / SP Essas atribuições, como se percebe, são exercidas independentemente do monopólio a que se refere o art. 4º da citada Lei. Dessa forma, a objeção articulada pelo Estado do Rio de Janeiro quanto a esse aspecto não se reveste de consistência jurídica. Diante desse quadro normativo, e considerando que o domínio útil do imóvel ocupado pela Refinaria, enquanto perdurar o aforamento, integra o patrimônio da empresa, resta evidenciada a plausibilidade jurídica da pretensão da autora, porquanto suficientemente demonstrado que a atividade desenvolvida pela Refinaria de Petróleo de Manguinhos S.A. depende de autorização da ANP e se subordina à sua fiscalização. Por outro lado, conforme destacado na inicial, a manutenção do Decreto expropriatório poderá acarretar à Refinaria danos de difícil reparação, entre os quais, desvalorização de suas ações e interrupção de projetos. Atendidos, portanto, os requisitos do art. 273 do Código de Processo Civil, DEFIRO o pedido antecipatório para suspender os efeitos do Decreto estadual 43.894/2012, até o julgamento final deste feito. Intimem-se a parte autora e os litisconsortes ativos para que se manifestem, no prazo de 5 cinco dias, sobre a contestação. Publique-se. Brasília, 30 de agosto de 2013. Ministro GILMAR MENDES Relator Documento assinado digitalmente 4 Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônicohttp://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 4429128.
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