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2017 - 07 - 16 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 1 - Edição 2016 PARTE V - ATOS PROCESSUAIS CAPÍTULO 27. NEGÓCIOS PROCESSUAIS Capítulo 27. Negócios Processuais 1 Sumário: 27.1 Conceito - 27.2 A possibilidade de negócios processuais atípicos - 27.3 Pressupostos dos negócios processuais: 27.3.1 Pressupostos subjetivos; 27.3.2 Pressuposto objetivo geral; 27.3.3 Pressupostos objetivos específicos - 27.4 Vedação ao abuso - 27.5 O controle pelo juiz: 27.5.1 Objeto do controle; 27.5.2 Recorribilidade - 27.6 Modalidades de negócios processuais e seus requisitos específicos: 27.6.1 Pactos meramente procedimentais; 27.6.2 Negócios jurídicos com objeto processual em sentido estrito; 27.6.3 Convenções sobre o objeto da cognição judicial e o meio de prova. 27.1. Conceito Como visto no capítulo anterior, o negócio jurídico consiste em modalidade de ato jurídico (em sentido amplo) cujo conteúdo e específicos efeitos são delineados pela manifestação de vontade do sujeito que o celebra. A voluntariedade é relevante não apenas na prática do ato em si, mas na obtenção e definição das suas consequências. Ou seja, o conteúdo e consequentemente os efeitos do ato não são todos preestabelecidos em lei, mas delineados, quando menos em substancial parcela, pela vontade do(s) sujeito(s) que pratica(m) o ato. Como também já indicado, por muito tempo controverteu-se acerca da própria existência de negócios jurídicos processuais. Para a corrente contrária à existência dessa categoria, haveria apenas negócios jurídicos materiais com consequências processuais: a vontade do sujeito seria relevante para a definição de conteúdo e efeitos materiais; o efeito processual seria prefixado em lei. Seria o que ocorreria, por exemplo, na transação. O mesmo aconteceria na convenção arbitral (negócio pelo qual as partes optam pela arbitragem, em vez do Judiciário, para resolver um conflito seu): a definição de um juiz e um processo privado seria alheia ao direito processual; o efeito jurídico processual (impossibilidade de julgamento do mérito pelo juiz estatal) não seria delineado pelas partes na convenção, mas decorreria de um mero ato processual, a arguição da existência da convenção como defesa no processo judicial. Em suma, existiriam apenas atos jurídicos processuais em sentido estrito: condutas voluntárias e preordenadas a um fim, mas que não teriam como interferir sobre seu conteúdo, delineá-lo, no exercício da autonomia da vontade. Mas essa concepção, que já foi a dominante, foi progressivamente superada pelo entendimento oposto, que admite negócios processuais. Trata-se de manifestações de vontade que têm por escopo a produção de específicos efeitos processuais, delineados por tais manifestações. O negócio jurídico, em si, pode ser feito dentro ou fora do processo. Importa é que ele produza efeitos processuais. Ele é fruto da vontade do(s) sujeito(s) que o celebra(m), e é por tal vontade modulado, quanto a conteúdo e efeitos. A rigor, os negócios jurídicos processuais podem ser atos bilaterais ou unilaterais. O negócio processual unilateral é expressão de vontade de um único sujeito (ou polo de sujeitos), que unilateralmente dispõe de alguma posição jurídica processual de que era titular. O negócio processual bilateral é fruto do ajuste de vontade de dois ou mais sujeitos (ou polos de sujeitos), que coordenadamente dispõem sobre suas respectivas posições processuais. Os negócios jurídicos bilaterais são também chamados de convenções processuais. Essa é a hipótese mais relevante em termos práticos - e é dela que se tratará fundamentalmente nos tópicos seguintes. Na linguagem corrente, aliás, muitos autores têm aludido genericamente a negócios processuais tendo em vista, precisamente, os negócios bilaterais (convenções) processuais. 27.2. A possibilidade de negócios processuais atípicos Se alguma dúvida ainda havia quanto à existência de negócios jurídicos processuais, ela foi totalmente sepultada pelo art. 190 do CPC/2015, que autoriza amplamente a celebração de convenções entre as partes a respeito do procedimento judicial ou das próprias posições jurídicas processuais (direitos, ônus, deveres processuais...). O art. 190 está inserido no livro do Código dedicado aos "atos processuais" - e nele se prevê que a convenção de natureza processual pode celebrar-se "antes ou durante o processo". Assim, há clara tomada de posição do Código de Processo Civil no sentido de afirmar a natureza processual dessas convenções, independentemente de serem celebradas dentro do processo. Sempre existiram negócios processuais em nosso ordenamento. Mas antes eles eram típicos. Ou seja, constituíam hipóteses taxativas, sempre a depender de uma específica previsão legal (o que se costuma chamar de numerus clausus). São exemplos de negócios processuais típicos: a cláusula de eleição de foro (art. 63, CPC/2015), a cláusula de inversão do ônus da prova (art. 373, § 3.º, CPC/2015), a desistência da ação (art. 485, § 4.º, CPC/2015: antes da contestação, é um negócio unilateral; após, é bilateral), a retirada dos autos de documento objeto de arguição de falsidade (art. 432, parágrafo único, CPC/2015), a convenção arbitral (Lei 9.307/96, art. 3.º e ss.). Mas o art. 190, CPC/2015 veicula uma cláusula geral autorizativa dos negócios processuais. Permitem-se negócios processuais atípicos. O ajuste de vontade das partes poderá modular o procedimento ou posições jurídicas processuais em outras hipóteses, que não apenas aquelas taxativamente previstas em lei. Assim, atribui-se ampla liberdade às partes para, em comum acordo, modularem o processo judicial, ajustando-o às suas necessidades e expectativas concretas. A arbitragem foi a fonte de inspiração - ou fator de incentivo - para o legislador instituir essa possibilidade de ampla formatação voluntária do processo judicial. O raciocínio subjacente à cláusula geral de negócios jurídicos processuais estabelecida no art. 190 é o seguinte: se as partes podem até mesmo retirar do Judiciário a solução de um conflito, atribuindo-a a um juiz privado em um processo delineado pela vontade delas, não há porque impedi-las de optar por manter a solução do conflito perante o juiz estatal, mas em um procedimento e (ou) processo também por elas redesenhado. 27.3. Pressupostos dos negócios processuais Mas o exercício dessa liberdade negocial subordina-se a determinados pressupostos. Há pressupostos subjetivos e objetivos. E entre esses últimos, há um parâmetro geral e outros mais específicos. 27.3.1. Pressupostos subjetivos Para a celebração de negócios jurídicos em geral, é preciso que o sujeito tenha personalidade jurídica e capacidade para o exercício de direitos (C. Civil, arts. 1.º, 3.º, 4.º, 166, I, e 171, I). Para os negócios processuais, põem-se como pressupostos subjetivos esses mesmos parâmetros, em sua projeção processual: é preciso que o sujeito detenha capacidade de ser parte e de estar em juízo (arts. 70 a 76 do CPC/2015 - v. n. 16.2, acima). Por exemplo, um condomínio poderá celebrar negócio jurídico, desde que representado por seu administrador ou síndico (art. 75, XI); o incapaz, por seus pais, tutor ou curador (art. 71). 27.3.2. Pressuposto objetivo geral O pressuposto objetivo genérico para celebração de convenções processuais é a aptidão de o "direito" submeter-se à "autocomposição" (art. 190, caput, do CPC/2015). Mas o termo aqui deve ser corretamente compreendido. Causa que comporta autocomposição não é apenas e exclusivamente aquela que envolva direito material disponível. Certamente, causas que envolvem direitos materiais disponíveis comportam autocomposição. Mas não somente elas. O tema já foi examinado no item 4.5.2, acima. Nem sempre a autocomposição é atingida por meio de um ato de renúncia a pretensões e direitos (o que pressupõe disponibilidade do direito material). Por vezes, a autocomposição é reflexo da constatação, pelo sujeito envolvidono litígio, de que ele não tem razão, total ou parcialmente, naquilo em que vinha pretendendo. Toda vez que alguém constata que sua posição é insubsistente no conflito, em princípio, é possível (e desejável pelo ordenamento) que chegue a uma composição com o adversário. Apenas muito excepcionalmente o ordenamento veda que alguém que constata não ter razão chegue, ela mesma, a uma composição com o adversário. Nesses casos excepcionais, há indisponibilidade não do direito material, mas da pretensão de tutela judicial: é obrigatório submeter a causa ao Judiciário (exemplos: defesa em face da acusação penal, falência, suspensão de direitos por improbidade administrativa...). 2 Em suma, autocomposição abrange qualquer modalidade de solução extrajudicial do litígio. Assim, causas objeto de ações coletivas, em regra, comportam autocomposição (mediante termo de ajuste de conduta). Causas que envolvem a Administração Pública também a admitem (mediante regular processo administrativo), inclusive as fiscais (processo administrativo fiscal). Em todos esses exemplos, cumpre-se o requisito geral objetivo para a celebração de negócios jurídicos processuais. Como se verá adiante, o requisito do cabimento de autocomposição, por vezes, será insuficiente, e, por vezes, impertinente, para a definição da admissibilidade do negócio processual (v. n. 27.6, adiante). 27.3.3. Pressupostos objetivos específicos Além do pressuposto objetivo genericamente estabelecido no art. 190 do CPC/2015, outros podem pôr-se para a celebração de específicos negócios processuais. Por exemplo, nas causas que admitam autocomposição, em regra as partes podem celebrar negócio jurídico prevendo julgamento em um único grau de jurisdição - suprimindo, portanto, o cabimento de apelação. Mas essa modalidade de negócio processual submete-se a um requisito específico: ela não será admissível em causas que se submetem ao duplo grau obrigatório (remessa ou reexame necessário - art. 496 do CPC/2015). Já a convenção de modificação de competência tem por pressuposto objetivo a relatividade dessa (art. 63 do CPC/2015) - não se submetendo, por outro lado, ao requisito geral da admissibilidade de autocomposição (v. adiante). Assim, caberá, diante de cada possível negócio processual, considerar não só o preenchimento de seus pressupostos gerais, como também investigar se não há adicionais pressupostos específicos. 27.4. Vedação ao abuso Além de subordinar-se a pressupostos, o negócio processual encontra um limite de eficácia na vedação ao abuso. O juiz não aplicará o negócio processual se ele estiver inserido abusivamente em um contrato de adesão (art. 190, parágrafo único, do CPC/2015). Contrato de adesão é aquele que uma parte impõe em bloco à outra, cabendo a essa apenas aceitá-lo ou recusá-lo como um todo, sem margem para a discussão individualizada de suas cláusulas. Mas isso não significa que não possa jamais estabelecer-se um negócio processual no bojo de um contrato de adesão. Ele será válido e eficaz, desde que não configure uma situação abusiva, de enfraquecimento processual da parte que adere ao contrato. Por exemplo, uma instituição financeira pode inserir em contrato de adesão que celebra com seus clientes a previsão de que as citações do banco deverão fazer-se por via eletrônica. Esse confere segurança à instituição financeira sem implicar nenhum sacrifício para o cliente, pois a citação eletrônica é simples, rápida e sem custos. Mesmo quando não se tratar de contrato de adesão, o juiz deverá aferir se uma das partes não se prevaleceu de "manifesta situação de vulnerabilidade" da outra parte, para assim inserir disposições processuais abusivas (art. 190, parágrafo único - v. também arts. 63, § 3.º e 373, § 3.º, II, todos do CPC/2015, acerca de negócios típicos). Embora formulado mediante conceitos indeterminados, trata-se de um parâmetro restrito para a negativa de eficácia ao negócio processual - expresso na exigência de que a situação de vulnerabilidade seja "manifesta". 27.5. O controle pelo juiz Em regra, a eficácia do negócio jurídico processual independe de prévia homologação ou chancela judicial. Ele produz seus efeitos desde logo (art. 200 do CPC/2015). Há exceções. O parágrafo único do próprio art. 200 estabelece uma: a desistência da ação. Em outros casos, o ajuste almejado pelas partes interferirá em termos práticos de modo muito direto sobre a esfera de atuação do juiz - sendo, então, imprescindível que ele intervenha na própria celebração do ato, confirmando sua viabilidade prática. Ou seja, são casos que envolvem uma programação de condutas para o próprio juiz - e que só terão como vinculá-lo se ele for previamente consultado e aferir a factibilidade daquilo que se pretende. É o que se passa na convenção sobre calendário processual (art. 191 do CPC/2015 - v. adiante). De todo modo, a regra geral é a dispensa de homologação prévia pelo juiz. 27.5.1. Objeto do controle No entanto, no curso do processo, cabe ao juiz controlar, de ofício ou ao requerimento do interessado, a validade e eficácia dos negócios processuais (art. 190, parágrafo único, do CPC/2015). Nesse caso, cumpre-lhe verificar a presença dos pressupostos gerais objetivos e subjetivos, acima destacados. Incumbe-lhe também aferir se o negócio processual foi inserido abusivamente em um contrato de adesão ou se uma das partes prevaleceu-se de "manifesta situação de vulnerabilidade" da outra, inserindo disposições processuais abusivas (art. 190, parágrafo único, do CPC/2015). 27.5.2. Recorribilidade Em regra, não se previu recurso contra a decisão interlocutória que nega validade ou eficácia ao negócio jurídico processual. A exceção concerne à decisão que se recusa a aplicar convenção arbitral, que é passível de agravo de instrumento (art. 1.015, III, do CPC/2015). Nos demais caso, caberá à parte interessada rediscutir a questão como preliminar de eventual apelação contra à sentença (art. 1.009, §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015). Havendo situação grave e urgente, que não possa aguardar eventual e futura apelação, o remédio será o emprego do mandado de segurança (art. 5.º, LXIX, da CF/1988 e art. 5.º, II , da Lei 12.016/09, a contrario sensu). Se o pronunciamento negando validade ou eficácia à convenção processual constituir um capítulo da própria sentença, deverá também ser diretamente atacado mediante apelação - mesmo quando o negócio em questão for a convenção arbitral (art. 1.009, § 3.º). 27.6. Modalidades de negócios processuais e seus requisitos específicos Na categoria geral dos negócios processuais, inserem-se diferentes modalidades, significativamente distintas entre si - ainda que tendo todas como elemento comum, a produção de efeitos jurídico-processuais. Essa diversidade de espécies implica igualmente variação quanto aos pressupostos objetivos. Diante disso, em certa medida, a fórmula geral utilizada para a definição do pressuposto objetivo dos negócios processuais, admissibilidade de autocomposição, ora diz menos, ora diz mais do que deveria dizer. Procura-se a seguir apresentar uma classificação geral das hipóteses de convenção processual, a fim de identificar de modo mais preciso o pressuposto objetivo de cada uma delas. 27.6.1. Pactos meramente procedimentais Há um conjunto de avenças que podem ser qualificadas como de alcance meramente procedimental. São negócios jurídicos que não interferem propriamente sobre direitos, deveres, poderes ou ônus processuais. Versam sobre aspectos puramente formais, de rito. Não há dúvidas de que é difícil o estabelecimento de uma fronteira precisa entre o que é puramente procedimental e o que assume carga processual, por interferir sobre as posições jurídicas dos sujeitos do processo. Mas a distinção existente foi assumida pela própria Constituição, ao diferenciar a competência legislativa (privativa da União) para legislar sobre processo (art. 22, I, da CF/1988)da competência legislativa (concorrente entre União, Estados e DF) para legislar sobre procedimento em matéria processual (art. 24, XI, da CF/1988). Veja-se a respeito o cap. 14, acima. E essa diferenciação foi também explicitada na própria regra que consagra a possibilidade de negócios jurídicos processuais atípicos. O art. 190 do CPC/2015 estabeleceu claramente duas modalidades negociais processuais bilaterais: (i) convenções para "estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa"; ou (ii) convenções "sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais". A primeira hipótese concerne aos negócios jurídicos processuais meramente procedimentais. Tais convenções não implicam nenhum significativo afastamento do modelo processual judiciário. Por isso, são admissíveis mesmo em casos que não comportam autocomposição (no sentido amplo antes destacado). 27.6.1.1. Um primeiro exemplo: convenção de calendário processual Tome-se como exemplo o ajuste de calendário processual, previsto no art. 191 do CPC/2015. De comum acordo, as partes, em conjunto com o juiz, podem fixar um calendário próprio para a prática dos atos processuais. Esse calendário vinculará tanto as partes como o juiz (e não apenas a pessoa física do juiz que participou da avença, mas todo e qualquer outra agente jurisdicional que atue no processo) - só se podendo modificar os prazos ali previstos em casos excepcionais, devidamente justificados. Além disso, ficará dispensada a intimação das partes para o cumprimento de (ou participação em) qualquer dos atos fixados no calendário: como as datas e termos já estão todos predefinidos, cabe a cada parte oportunamente observá-los. A princípio, tem-se nesse caso simples ajuste de agendas. Não há interferência sobre poderes, direitos ou ônus processuais. Bem por isso, o calendário processual pode ser avençado inclusive em causas que não comportam autocomposição, mesmo no sentido amplo acima destacado. O limite de validade e eficácia do calendário é dado por outras regras específicas, atinentes ao tempo e ordem dos prazos processuais. Por exemplo, não poderá ser avençada a realização de uma audiência em um domingo (art. 212 do CPC/2015). Pode-se discutir também se é possível fixar uma data para o proferimento da sentença que implique desobediência à ordem cronológica de conclusão dos processos (art. 12 do CPC/2015). A regra sobre a ordem cronológica não é absoluta. Comporta exceções, legalmente previstas, e pode também ser excepcionalmente alterada, por fundados motivos, devidamente apresentados. Por isso, ela é uma ordem preferencial. Seja como for, se, ao se pactuar o calendário, já se convencionar também que a sentença será dada em audiência, estar-se-á diante de hipótese em que a lei exclui a aplicação da ordem cronológica de conclusão (art. 12, § 2.º, I, do CPC/2015). 27.6.1.2. Segundo exemplo: cláusula de eleição de foro A cláusula de eleição de foro também é exemplo de negócio jurídico meramente procedimental. A competência territorial, em regra, não constitui sequer pressuposto processual de validade: o ajuizamento da ação no foro incompetente torna-se irrelevante, se não houver arguição oportuna de incompetência pelo réu (art. 65 do CPC/2015 - a exceção está nos §§ 1.º e 2.º do art. 47 do CPC/2015). Não interfere sobre o poder jurisdicional. É estabelecida no interesse das partes, que dela podem dispor. Também nesse caso, trata-se de convenção admitida mesmo em casos que não comportam autocomposição. O pressuposto objetivo que se põe é o da relatividade da competência objeto da convenção. Além disso, a vedação à abusividade constitui limite à eficácia da eleição de foro (art. 63, § 3.º, do CPC/2015). 27.6.1.3. Negócios procedimentais atípicos Os dois exemplos ora dados concernem a negócios típicos, expressamente previstos em lei. Mas o art. 190 do CPC/2015 autoriza também a celebração de negócios procedimentais atípicos (p. ex., as partes podem pactuar que a ouvida de testemunhas será feita em audiência específica para tal fim, antes da produção da prova pericial). 27.6.2. Negócios jurídicos com objeto processual em sentido estrito Como já ficou claro, o art. 190 do CPC/2015 autoriza também a celebração de negócios atípicos propriamente processuais - isto é, que não concernem meramente ao procedimento, mas versam sobre "ônus, poderes, faculdades e deveres processuais". Tomem-se como exemplo de negócios atípicos propriamente processuais: (a) o que limita o processo a grau de jurisdição único (não cabimento de apelação); (b) o que retira das partes o poder de provocar a intervenção de terceiros; (c) o que institui litisconsórcio necessário convencional; (d) o que estabelece substituição processual convencional etc. Entre os negócios típicos que têm caráter processual em sentido estrito, podem ser citadas a inversão convencional do ônus da prova (art. 373, § 3.º, do CPC/2015) e a designação consensual de perito (art. 471 do CPC/2015). É para essa modalidade de negócios processuais, sejam eles típicos ou atípicos, que se põe, propriamente, o pressuposto da admissibilidade de autocomposição. Como há a direta interferência sobre posições jurídicas previstas no modelo processual judiciário, tal espécie de convenção apenas é admissível nos casos que poderiam ser resolvidos até mesmo sem a intervenção judiciária. 27.6.3. Convenções sobre o objeto da cognição judicial e o meio de prova Por fim, sob a roupagem de negócio processual, apresentam-se ainda convenções que versam sobre a própria delimitação da matéria a ser conhecida e decidida pelo juiz (definição de questões de fato e de direito) ou sobre o modo como ele irá conhecê-la (delimitação de meios de prova). Por ocasião do saneamento do processo, o juiz deverá delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos, bem como as questões de direito relevantes para a decisão do mérito (art. 357, II e IV, do CPC/2015). Todavia, a lei também prevê que as partes podem apresentar delimitação consensual dessas questões de fato e de direito - de modo que, se houver homologação pelo juiz, tal definição vincula-o, tanto quanto às partes (art. 357, § 2.º, do CPC/2015). Qual a exata natureza dessa definição consensual? Ela constitui um negócio jurídico? Que pressupostos deve observar o juiz, para poder homologá-la? Qual o grau de vinculação que dela advém, uma vez homologada, especialmente para os órgãos jurisdicionais (não apenas o juiz que a homologa, mas também os graus superiores)? As respostas dependem da consideração de duas possíveis acepções que podem ser atribuídas à delimitação consensual em questão. Em um caso e em outro, tal ato assume caráter essencialmente diverso. 27.6.3.1. A delimitação consensual como ato de verdade A definição consensual pode decorrer de uma consideração comum das partes no sentido de que, efetivamente, aquelas são as precisas questões de fato e de direito que permanecem controvertidas no processo. Cada parte examina todo o conjunto de pontos afirmados e contestados e se convence de quais são os que permanecem necessitando de instrução e definição. Na medida em que as conclusões de ambas as partes coincidam, há consenso quanto ao que ainda está controvertido. A definição consensual nessa hipótese constitui um ato de verdade. Ou seja, expressa a firme convicção de cada uma das partes acerca da realidade. Elas identificaram aquelas questões porque estão convictas de que são as ainda controversas - e não, simplesmente, porque queiram limitar o debate apenas a isso. Não há nenhum ato de disposição: ninguém negociou nem abriu mão de nada. Há um ato de convicção que é comum a ambas as partes. Diante disso, cabe ao juiz examinar as questões identificadas consensualmente pelas partes e verificar se são mesmo as que permanecem controvertidas. Ou seja, o pressuposto paraa homologação será a própria correção, no entender do juiz, da definição feita pelas partes. Caso ele a repute incorreta, procederá ele mesmo à delimitação das questões controvertidas. Caso ele repute correta a seleção feita pelas partes ele irá endossá-la, assumi-la como sua. A homologação judicial da definição feita pelas partes, nessa hipótese, identifica-se plenamente com a decisão que ele mesmo poderia ter tomado estabelecendo as questões controvertidas. A força vinculante advinda da homologação, nessa hipótese, não é diferente da estabilidade que recairia sobre qualquer decisão de saneamento do processo. Nos termos do § 1.º do art. 357, do CPC/2015, "realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável". Portanto, nesse caso, a definição consensual das questões a serem ainda resolvidas não terá natureza de um negócio jurídico processual. O juiz homologará essa seleção não porque isso estaria na esfera de disponibilidade das partes ou coisa que o valha. Ele homologará precisamente porque considera acertada a definição de questões controvertidas apresentada pelas partes. Enfim, repita-se: será um "ato de verdade", e não "de vontade"; não um ato de disposição, mas um ato de postulação praticado conjuntamente pelas partes. 27.6.3.2. A delimitação consensual como ato de vontade Mas é também concebível que a definição consensual constitua verdadeiro ato de vontade das partes: elas predefinem determinadas questões para serem ainda instruídas e resolvidas não porque reputem que sejam as únicas que permanecem controversas, mas porque não querem discutir as demais: preferem deixá-las de lado, assumindo as consequências jurídicas da ausência de consideração dessas outras questões. Por exemplo, em processo em que se cobra o cumprimento de uma obrigação contratual, o réu na contestação (i) negou que a obrigação já fosse exigível e (ii) por eventualidade, afirmou a existência de força maior, que o exoneraria das consequências do hipotético inadimplemento. O autor impugnou essa alegação e ainda não há provas relativamente a tal fato. A rigor, é questão que permanece controvertida - e as partes sabem disso. Todavia, elas ajustam que não levarão adiante a investigação relativa à ocorrência de força maior. Optam por excluir tal questão da delimitação consensual que apresentam ao juiz, definindo como questão fática controvertida apenas a (in)exigibilidade da obrigação. Um ato de vontade, enfim. Nessa hipótese, o juiz poderia homologar a delimitação consensual das partes? Caso possa, ele estará mesmo homologando um negócio jurídico celebrado pelas partes - sem proceder a qualquer exame relativo à correção da seleção de questões controvertidas por elas feitas. O juiz homologará não porque considera correta a definição de questões a ele apresentada, mas sim porque reconhece a autonomia das partes para dispor sobre aquele objeto. E a resposta, no exemplo dado, é positiva. Mas deve-se atentar para qual é o verdadeiro pressuposto autorizador de tal negócio jurídico. O requisito de disponibilidade exigido nessa hipótese não concerne à simples possibilidade de autocomposição entre as partes (no sentido de disponibilidade da pretensão de tutela judicial). O que se exige, nesse caso, é a própria disponibilidade do direito material. Ao eliminar a possibilidade de consideração pelo juiz da ocorrência de força maior, o réu pode estar abrindo mão de uma vantagem que lhe teria sido atribuída pelo direito material. Em princípio, o direito material impõe ao credor o custo econômico da impossibilidade da obrigação gerada pela força maior. O réu, devedor na relação jurídico- material, ao concordar em afastar a investigação da força maior, abre mão dessa vantagem que lhe foi atribuída pelo direito material. Ou seja, ele dispõe de um direito material - o que, na hipótese, é possível (art. 393 do CC/2002: "O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado"). Em suma, trata-se de um negócio jurídico de direito material, ainda que celebrado no bojo de um processo. Há a alteração do próprio resultado jurídico substancial - e não do mero modo de solução do conflito. Por isso, o próprio direito material precisa ser disponível. 27.6.3.3. Os pactos sobre meio de prova Tudo o que se disse até aqui a respeito da definição consensual das questões controvertidas é igualmente aplicável aos pactos sobre meio de prova. Um ajuste a esse respeito pode ter a natureza de ato de verdade. As partes indicam que apenas se produzirá prova oral porque reputam que isso basta para a reconstituição histórica dos fatos. Se o juiz concorda com essa apreciação das partes, defere apenas tal prova. Ou seja, ele toma para si essa deliberação. Nesse caso, o pressuposto para que ele defira a definição consensual das partes é a correção dos meios de prova por elas predefinidos. Mas um ajuste probatório pode retratar também um ato de vontade das partes. Elas restringem a instrução à prova documental, por exemplo, não porque achem isso suficiente, mas porque assim o querem (porque desejam um procedimento célere e simplificado etc.). Nessa hipótese, a mera consideração de documentos pode não ser suficiente para reconstituir o passado - e pode, consequentemente, interferir o resultado final do processo (por via documental pode ser impossível provar um fato que efetivamente ocorreu e que ensejaria a incidência de outras normas, cuja não consideração conduz a solução jurídica diversa da que se teria com a plenitude probatória). Portanto, o pacto probatório como ato de vontade apenas pode ser admitido quando se estiver diante de direitos materiais disponíveis - hipótese em que, declarada e conscientemente, a parte opta por uma solução mais simples, mas que pode, todavia suprimir-lhe direito material. 27.6.3.4. A coexistência das duas modalidades da definição consensual As duas modalidades de ajuste (ato de verdade e ato de vontade) não são excludentes no ordenamento. É perfeitamente possível que, num dado caso concreto, a delimitação consensual assuma determinada natureza e, em outra situação, ela tenha essência distinta. Tanto uma como outra são admissíveis, mas com diferentes requisitos. E será indispensável o juiz indicar, na decisão fundamentada de homologação, de qual das duas hipóteses se trata. 27.6.3.5. Diferentes graus de vinculação da jurisdição, num caso e em outro A definição consensual de questões controvertidas ou de meios de prova como ato de verdade vincula só o grau de jurisdição que a chancelou. Não vincula os graus de jurisdição superiores que venham a atuar no processo nas fases recursais, que podem rever a decisão do juízo a quo (nos limites em que poderiam rever a decisão diretamente tomada por ele mesmo). Já quando a definição consensual é ato de vontade, também os graus de jurisdição superiores ficam vinculados à homologação dada em juízo inferior - ressalvada a hipótese de se identificar nulidade na homologação por falta do requisito da disponibilidade ou outro defeito, e sempre nos limites do efeito devolutivo do recurso. Conceito Classificação Típicos Atípicos Pressupostos Subjetivos - capacidade de ser parte e de estar em juízo Objetivo geral - direitos que admitam autocomposição Objetivos específicos Art. 190, parágrafo único, do CPC/2015 Vedação ao abuso Controle pelo juiz Regra geral: dispensa de homologação prévia Objeto do controle Validade e eficácia - art. 190, parágrafo único, do CPC/2015 Recorribilidade Agravo de instrumento - art. 1.015, III, do CPC/2015 Preliminar de recurso de apelação Mandado de segurança Modalidades Pactos meramente procedimentais Negócios jurídicos com objeto processual em sentido estrito Convenções sobre o objetoda cognição judicial e o meio de prova Ato de verdade Ato de vontade · Fernando Gajardoni ( Teoria..., p. 614) assevera que "o impacto no publicismo processual é evidente, uma vez que, em substituição à lei, as partes passam a ter poder e autonomia para definir o modo de ser do processo civil. Se não é posto literalmente em xeque o ideário de um processo civil público e com regras cogentes e inderrogáveis pela vontade das partes, ao menos se mitiga o rigor do publicismo processual (ou do hiperpublicismo), inaugurando-se no direito processual brasileiro uma fase de neoliberalismo processual, que, embora incapaz de tornar o processo 'coisa das partes', como no período da litiscontestatio romana ( ordo judiciorum privatorum), abala a estrutura de um sem-número de institutos processuais, doravante com regramento manipulável pelos litigantes". · Fredie Didier Jr. ( Curso..., v. 1, 17. ed., p. 378) ressalta a existência de negócios " plurilaterais, formados pela vontade de mais de dois sujeitos, como a sucessão processual voluntária (...). É o que acontece, também, com os negócios processuais celebrados com a participação do juiz. Os negócios plurilaterais podem ser típicos, como o calendário processual (...) e a organização compartilhada do processo (art. 357, § 3.º, CPC/2015), ou atípicos, como o acordo para realização de sustentação oral, o acordo para ampliação do tempo de sustentação oral, o julgamento antecipado do mérito convencional, as convenções sobre prova ou a redução convencional de prazos processuais". · Humberto Theodoro Júnior ( Curso..., v. 1, 56. ed., p. 470/471) entende que "é evidente que a possibilidade de as partes convencionarem sobre ônus, deveres e faculdades deve limitar-se aos seus poderes processuais, sobre os quais têm disponibilidade, jamais podendo atingir aqueles conferidos ao juiz. Assim, não é dado às partes, por exemplo, vetar a iniciativa de prova do juiz, ou o controle dos pressupostos processuais e das condições da ação, e nem qualquer outra atribuição que envolva matéria de ordem pública inerente à função judicante. Tampouco é de admitir-se que se afastem negocialmente os deveres cuja inobservância represente litigância de má-fé. Entre as hipóteses de útil aplicação do negócio jurídico processual, arrola-se o caso das intervenções atípicas de terceiro, como, por exemplo, a ampliação das hipóteses de assistência e da permissão para denunciação da lide, sucessiva e per saltum, que, embora não autorizadas pelo Código, podem ser negociadas entre as partes, maiores e capazes, quando litiguem sobre direitos disponíveis. Afinal, as restrições que nessa matéria existem decorrem da preocupação de não embaraçar o encaminhamento do processo para atingir a solução da demanda formulada pelo autor. Se este, no entanto, negocia livremente com o réu, permitindo que outros sujeitos venham a participar do debate e dos efeitos da prestação jurisdicional, não há razão para impedir essa ampliação subjetiva e objetiva do processo". · Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero ( Novo Código..., p. 244). Para esses autores, "é possível também que as partes - dentro do espaço de liberdade constitucionalmente reconhecido - estipulem mudanças no procedimento. Esses acordos processuais, que representam uma tendência de gestão procedimental oriunda principalmente do direito francês, podem ser realizados em processos que admitam autocomposição. Podem ser acordos pré-processuais, convencionados antes da propositura da ação, ou processuais, convencionados ao longo do processo. Os acordos processuais convencionados durante o processo podem ser celebrados em juízo ou em qualquer outro lugar (escritório de advocacia de uma das partes, por exemplo). O acordo processual praticado fora da sede do juízo deve ser dado ao conhecimento do juiz imediatamente, inclusive para efeitos de controle de validade (art. 190, parágrafo único, CPC/2015)". · Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery ( Comentários..., p. 702), a respeito do calendário processual previsto no art. 191 do CPC/2015, afirmam que "o calendário específico, criado pelas partes, e o acordo de procedimento devem valer apenas para determinada demanda, mesmo que haja outros feitos envolvendo as mesmas partes - a menos que o acordo indique expressamente que o calendário valerá para mais de um feito entre essas mesmas partes. De forma a evitar colusão entre as partes, o juiz também deverá participar do acordo. Muito embora o caput preveja que a negociação possa acontecer antes ou durante o processo, é importante ressaltar que, de modo a assegurar a adequada condução do processo, o ideal seria que, na ausência de manifestação das partes a respeito na fase de estabilização da lide, o juiz inquirisse as partes a respeito do interesse na negociação do calendário e do procedimento. Com isso, o risco de uso inadequado do processo, pelas partes, por meio da negociação dos prazos quando bem lhes convier, fica reduzido". · Pedro Henrique Nogueira ( Breves..., p. 591) ressalta que "os negócios processuais pressupõem: a) manifestação de vontade, sem a qual não se tem a configuração de qualquer ato jurídico; b) o autorregramento de vontade, significando o espaço de autonomia deixado pelo ordenamento jurídico para que os sujeitos possam escolher, dentro de amplitude variada, os tipos de atos (sentido amplo) a serem praticados e, em alguns casos, até a configuração da respectiva eficácia, representando a diferença específica dos negócios jurídicos em relação aos atos jurídicos em sentido estrito; c) a referibilidade a um procedimento, sem a qual pode até haver negócio jurídico (como sucede na eleição contratual do foro), mas ele não merecerá a adjetivação de 'processual'". · Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello ( Primeiros..., p. 352) destacam que "a teoria dos negócios jurídicos foi fundamentalmente desenvolvida tendo por objeto relações jurídicas de direito privado. E essencialmente é nesta seara que se manifesta a gigantesca maioria dos negócios jurídicos: guiados pela autonomia privada, os participantes do negócio jurídico criam, modificam ou extinguem relações de direitos. Conquanto se manifeste com muito maior amplitude do âmbito do direito privado, que tem como uma de suas fundamentais características a autonomia das vontades, o negócio jurídico pode dar-se também no âmbito das relações jurídicas processuais. Trata-se de categoria mais rarefeita dos negócios jurídicos: os negócios jurídicos processuais, por intermédio dos quais podem ser criadas, extintas ou modificadas relações de direitos no âmbito do processo". N.º 6. ( Arts. 5.º, 6.º e 190, CPC/2015) O negócio jurídico processual não pode afastar os deveres inerentes à boa-fé e à cooperação. N.º 16. ( Art. 190, parágrafo único, CPC/2015) O controle dos requisitos objetivos e subjetivos de validade da convenção de procedimento deve ser conjugado com a regra segundo a qual não há invalidade do ato sem prejuízo. N.º 17. ( Art. 190, CPC/2015) As partes podem, no negócio processual, estabelecer outros deveres e sanções para o caso do descumprimento da convenção. N.º 18. ( Art. 190, parágrafo único, CPC/2015) Há indício de vulnerabilidade quando a parte celebra acordo de procedimento sem assistência técnico-jurídica. N.º 19. ( Art. 190, CPC/2015) São admissíveis os seguintes negócios processuais, dentre outros: pacto de impenhorabilidade, acordo de ampliação de prazos das partes de qualquer natureza, acordo de rateio de despesas processuais, dispensa consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso, acordo para não promover execução provisória; pacto de mediação ou conciliação extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a correlata previsão de exclusão da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pactode exclusão contratual da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de disponibilização prévia de documentação (pacto de disclosure), inclusive com estipulação de sanção negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais, sub-rogatórias ou indutivas; previsão de meios alternativos de comunicação das partes entre si; acordo de produção antecipada de prova; a escolha consensual de depositário-administrador no caso do art. 866; convenção que permita a presença da parte contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal. N.º 20. ( Art. 190, CPC/2015) Não são admissíveis os seguintes negócios bilaterais, dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, acordo para supressão da primeira instância, acordo para afastar motivos de impedimento do juiz, acordo para criação de novas espécies recursais, acordo para ampliação das hipóteses de cabimento de recursos. N.º 21. ( Art. 190, CPC/2015) São admissíveis os seguintes negócios, dentre outros: acordo para realização de sustentação oral, acordo para ampliação do tempo de sustentação oral, julgamento antecipado do mérito convencional, convenção sobre prova, redução de prazos processuais. N.º 107. ( Arts. 7.º, 139, I, 218, 437, § 2.º, CPC/2015) O juiz pode, de ofício, dilatar o prazo para a parte se manifestar sobre a prova documental produzida. N.º 115. ( Arts. 190, 109 e 110, CPC/2015) O negócio jurídico celebrado nos termos do art. 190 obriga herdeiros e sucessores. N.º 116. ( Arts. 113, § 1.º, e 139, VI, CPC/2015) Quando a formação do litisconsórcio multitudinário for prejudicial à defesa, o juiz poderá substituir a sua limitação pela ampliação de prazos, sem prejuízo da possibilidade de desmembramento na fase de cumprimento de sentença. N.º 129. ( Art. 139, VI, e parágrafo único, CPC/2015) A autorização legal para ampliação de prazos pelo juiz não se presta a afastar preclusão temporal já consumada. N.º 132. ( Art. 190, CPC/2015) Além dos defeitos processuais, os vícios da vontade e os vícios sociais podem dar ensejo à invalidação dos negócios jurídicos atípicos do art. 190. N.º 133. ( Art. 190; art. 200, parágrafo único, CPC/2015) Salvo nos casos expressamente previstos em lei, os negócios processuais do art. 190 não dependem de homologação judicial. N.º 134. ( Art. 190, parágrafo único, CPC/2015) Negócio jurídico processual pode ser invalidado parcialmente. N.º 135. ( Art. 190, CPC/2015) A indisponibilidade do direito material não impede, por si só, a celebração de negócio jurídico processual. N.º 252. ( Art. 190, CPC/2015) O descumprimento de uma convenção processual válida é matéria cujo conhecimento depende de requerimento. N.º 253. ( Art. 190, CPC/2015; Resolução n. 118/CNMP) O Ministério Público pode celebrar negócio processual quando atua como parte. N.º 254. ( Art. 190, CPC/2015) É inválida a convenção para excluir a intervenção do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica. N.º 255. ( Art. 190, CPC/2015) É admissível a celebração de convenção processual coletiva. N.º 256. ( Art. 190, CPC/2015) A Fazenda Pública pode celebrar negócio jurídico processual. N.º 257. ( Art. 190, CPC/2015) O art. 190 autoriza que as partes tanto estipulem mudanças do procedimento quanto convencionem sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. N.º 258. ( Art. 190, CPC/2015) As partes podem convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, ainda que essa convenção não importe ajustes às especificidades da causa. N.º 259. ( Arts. 190 e 10, CPC/2015). A decisão referida no parágrafo único do art. 190 depende de contraditório prévio. N.º 260. ( Arts. 190 e 200, CPC/2015) A homologação, pelo juiz, da convenção processual, quando prevista em lei, corresponde a uma condição de eficácia do negócio. N.º 261. ( Arts. 190 e 200, CPC/2015) O art. 200 aplica-se tanto aos negócios unilaterais quanto aos bilaterais, incluindo as convenções processuais do art. 190. N.º 262. ( Arts. 190, 520, IV, 521, CPC/2015). É admissível negócio processual para dispensar caução no cumprimento provisório de sentença. N.º 383. ( Art. 75, § 4.º, CPC/2015) As autarquias e fundações de direito público estaduais e distritais também poderão ajustar compromisso recíproco para prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas respectivas procuradorias. N.º 402. ( Art. 190, CPC/2015) A eficácia dos negócios processuais para quem deles não fez parte depende de sua anuência, quando lhe puder causar prejuízo. N.º 403. ( Art. 190, CPC/2015; art. 104, Código Civil) A validade do negócio jurídico processual, requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. N.º 404. ( Art. 190, CPC/2015; art. 112, Código Civil) Nos negócios processuais, atender- se-á mais à intenção consubstanciada na manifestação de vontade do que ao sentido literal da linguagem. N.º 405. ( Art. 190, CPC/2015; art. 113, Código Civil) Os negócios jurídicos processuais devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. N.º 406. ( Art. 190, CPC/2015; art. 114, Código Civil) Os negócios jurídicos processuais benéficos e a renúncia a direitos processuais interpretam-se estritamente. N.º 407. ( Arts. 190 e 5.º, CPC/2015; Art. 422, Código Civil) Nos negócios processuais, as partes e o juiz são obrigados a guardar nas tratativas, na conclusão e na execução do negócio o princípio da boa-fé. N.º 408. ( Art. 190, CPC/2015; Art. 423, Código Civil) Quando houver no contrato de adesão negócio jurídico processual com previsões ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. N.º 409. ( Art. 190, CPC/2015; Art. 8.º, caput , Lei 9.307/1996) A convenção processual é autônoma em relação ao negócio em que estiver inserta, de tal sorte que a invalidade deste não implica necessariamente a invalidade da convenção processual. N.º 410. ( Art. 190 e 142, CPC/2015) Aplica-se o Art. 142 do CPC ao controle de validade dos negócios jurídicos processuais. N.º 411. ( Art. 190, CPC/2015) O negócio processual pode ser distratado. N.º 412. ( Art. 190, CPC/2015) A aplicação de negócio processual em determinado processo judicial não impede, necessariamente, que da decisão do caso possa vir a ser formado precedente. N.º 413. ( Arts. 190 e 191, CPC/2015; Leis 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009). O negócio jurídico processual pode ser celebrado no sistema dos juizados especiais, desde que observado o conjunto dos princípios que o orienta, ficando sujeito a controle judicial na forma do parágrafo único do art. 190 do CPC. N.º 414. ( Art. 191, § 1.º, CPC/2015) O disposto no § 1.º do art. 191 refere-se ao juízo. N.º 427. ( Art. 357, § 2.º, CPC/2015) A proposta de saneamento consensual feita pelas partes pode agregar questões de fato até então não deduzidas. N.º 489. ( Art. 144; art. 145, CPC/2015; arts. 13 e 14 da Lei 9.307/1996) Observado o dever de revelação, as partes celebrantes de convenção de arbitragem podem afastar, de comum acordo, de forma expressa e por escrito, hipótese de impedimento ou suspeição do árbitro. N.º 490. (Art. 190; art. 81, § 3.º, art. 297, parágrafo único; art. 329, II; art. 520, I; art. 848, II, CPC/2015) São admissíveis os seguintes negócios processuais, entre outros: pacto de inexecução parcial ou total de multa coercitiva; pacto de alteração da ordem de penhora; pré-indicação de bem penhorável preferencial (art. 848, II); pré-fixação de indenização por dano processual prevista nos arts. 81, § 3.º, 520, I, 297, parágrafo único (cláusula penal processual); negócio de anuência prévia para aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir até o saneamento (art. 329, II). N.º 491. (Art. 190, CPC/2015) É possível negócio jurídico processual que estipule mudançasno procedimento das intervenções de terceiros, observada a necessidade de anuência do terceiro quando lhe puder causar prejuízo. N.º 492. (Art. 190, CPC/2015) O pacto antenupcial e o contrato de convivência podem conter negócios processuais. N.º 493. (Art. 190, CPC/2015) O negócio processual celebrado ao tempo do CPC/1973 é aplicável após o início da vigência do CPC/2015. N.º 494 (Art. 191, CPC/2015) A admissibilidade de autocomposição não é requisito para o calendário processual. N.º 495. (Art. 200, CPC/2015) O distrato do negócio processual homologado por exigência legal depende de homologação. N.º 569. (Art. 1.047; art. 190, CPC/2015) O art. 1.047 não impede convenções processuais em matéria probatória, ainda que relativas a provas requeridas ou determinadas sob vigência do CPC/1973. Fundamental Fernando da Fonseca Gajardoni, Luiz Dellore, Andre Vasconselos Roque e Zulmar Duarte de Oliveira Jr., Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 2015: parte geral, São Paulo, Forense, 2015; Fredie Didier Jr., Curso de Processo Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento, 17. ed., Salvador, JusPodivm, 2015, v. 1; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, 56. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2015, vol. 1; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo código de processo civil comentado, São Paulo, Ed. RT, 2015; Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, Comentários ao código de processo civil, São Paulo, Ed, RT, 2015; Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas (coord.), Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil, São Paulo, Ed. RT, 2015; _____, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello, Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, São Paulo, Ed. RT, 2015. Complementar Antonio Aurélio Abi Ramia Duarte, Negócios processuais e seus novos desafios, Revista dos Tribunais 955/211; Antonio do Passo Cabral, Pedro Henrique Nogueira (coord.), Negócios processuais, Salvador, JusPodivm, 2015, v. 1. :il. - ( Grandes temas do novo CPC, coord. geral Fredie Didier Jr.); Bruno Garcia Redondo, Estabilização, modificação e negociação da tutela de urgência antecipada antecedente: principais controvérsias, RePro 244/167; Fernando da Fonseca Gajardoni, Pontos e contrapontos sobre o projeto do novo CPC, Revista dos Tribunais 950/17; Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Júnior, Negócios jurídicos materiais e processuais - existência, validade e eficácia - campo-invariável e campos- dependentes: sobre os limites dos negócios jurídicos processuais, RePro 244/393; Leonardo Carneiro da Cunha, A previsão do princípio da eficiência no projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro, RePro 233/65; Leonardo Oliveira Soares, Calendário processual, sucumbência recursal e o projeto de novo CPC para o Brasil, RePro 227/197; Lucas Buril De Macêdo e Ravi de Medeiros Peixoto, Negócio processual acerca da distribuição do ônus da prova, RePro 241/463; Marina França Santos, Intervenção de terceiro negociada: possibilidade aberta pelo novo Código de Processo Civil, RePro 241/95; Rinaldo Mouzalas e Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Júnior, Distribuição do ônus da prova por convenção processual, RePro 240/399; Robson Renault Godinho, Negócio processual sobre o ônus da prova no novo Código de Processo Civil, São Paulo, RT, 2015 ( Coleção Liebman); Rodrigo Mazzei, Breve diálogo entre os negócios jurídicos processuais e a arbitragem, RePro 237/223; Trícia Navarro Xavier Cabral, Convenções em matéria processual, RePro 241/489. FOOTNOTES 1 O presente capítulo toma por base o artigo "Um processo pra chamar de seu: nota sobre os negócios processuais"", de EDUARDO TALAMINI ( Informativo Justen, n. 104, 2015, www.justen.com.br). 2 Ver a respeito: EDUARDO TALAMINI, "A (in)disponibilidade do interesse público: decorrências processuais", em Revista de Processo, 128, 2005. © desta edição [2016]
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