Prévia do material em texto
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Sociologia Organizacional Aula 01 Professora Carolina de Souza Walger CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Introdução As organizações podem ser consideradas microsociedades, pois apresentam, nas devidas proporções, todos os fenômenos da vida social. As organizações são compostas por pessoas, que se relacionam, que passam por processo de socialização, que formam uma cultura e assim por diante. Assim, cabe aos administradores, fazer a gestão dos indivíduos e das relações decorrentes dessa convivência em grupo. Dessa forma, compreender conceitos da sociologia passa a ser fundamental na formação dos administradores. Com essa disciplina pretendemos que você domine conceitos da sociologia que possam ser aplicados na sua prática profissional, mas que também possa, enquanto ser humano, compreender a vida social de uma forma diferente, a partir de uma visão crítica sobre todo o sistema social. Seja bem-vindo a esse desafio e bons estudos! Problematização “Unir duas empresas para gerar uma nova marca sem pôr em risco a identidade de cada uma delas não é uma tarefa fácil. Há quase oito anos, a Sony e a Ericsson apostaram nesta joint venture para produzir celulares, agregando valores das duas marcas. É também o que convencionou-se chamar de co-brand. De um lado havia o conhecimento da Sony focado em produtos eletrônicos, de outro, a experiência da Ericsson no mercado de telecomunicações. A iniciativa deu origem a Sony Ericsson que hoje figura entre as cinco marcas de celulares mais vendidas do mundo, ao lado da Nokia, da Samsung, da Motorola e da LG. Segundo dados do Gartner, em 2008, a companhia vendeu mais de 93 milhões de aparelhos mundialmente, gerando uma receita líquida de US$ 16.754 bilhões. O desempenho da Sony Ericsson, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 no entanto, está longe da finlandesa Nokia, líder de mercado. De acordo com o IDC, no ano passado, a Nokia possuía 40,9% de market share contra 8,4% da Sony Ericsson. Depois de muitas especulações sobre uma possível crise e o fim da parceria entre a Sony e a Ericsson, agora as empresas investem no reposicionamento da marca”. (Fonte: https://casesdesucesso.files.wordpress.com/2009/09/sonyericsson.pdf) Na sua visão, porque a união de duas empresas pode pôr em risco a identidade de cada uma delas? a) Você não concorda com essa afirmação, o processo de fusão é vantajoso estrategicamente não tendo necessidade de preocupação com identidade da empresa. b) O processo de fusão implica combinação de duas culturas diferentes, o que pode gerar conflitos, mas não há necessidade da gestão se preocupar com isso, pois com o tempo as coisas se adaptam. c) O processo de fusão implica combinação de duas culturas diferentes, o que pode gerar conflitos. Os administradores devem estar atentos a esse processo e fazer a gestão das culturas organizacionais. Comentário: as organizações podem ser consideradas microsociedades, portanto a fusão de duas empresas significa a junção de duas sociedades, as quais possuem regras, cultura e funcionamentos diferentes. Esse processo precisa ser acompanhado por profissionais competentes para evitar a perda de bons profissionais e conflitos decorrentes da fusão. Assim, a resposta mais adequada a esse questionamento seria a letra “C”. Tema 1: Fundamentos da Sociologia 1.1. Descrição e Contextualização CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 A sociologia é uma ciência relativamente recente, que segundo Paixão (2012) começou a se desenvolver a partir de fins do século XVIII, na Europa. De acordo com o autor, os primeiros trabalhos que apresentavam uma perspectiva sociológica foram resultado de profundas transformações na sociedade. Uma das condições essenciais para o surgimento da sociologia, foi o uso da ciência para explicar a realidade (PAIXÃO, 2012). Na atualidade a explicação científica é tida como verdade e por isso é dominante e legítima. Contudo, a religião e a tradição eram as formas mais comuns de explicação da realidade até meados do século XV. Para compreender o uso da religião e da tradição na explicação da realidade recorremos a Idade Média Europeia (século V ao século XV). Nesse período o poder da igreja era muito forte, portanto as explicações baseadas na fé predominavam. De acordo com Paixão (2012) o desenvolvimento de uma perspectiva científica e racional teve a influência de dois importantes movimentos - o Renascimento e o Iluminismo. O Renascimento (que iniciou a partir do século XVI) foi marcado por uma tendência cultural laica (não religiosa), racional e científica, por isso os renascentistas rejeitavam as explicações baseadas na fé, no misticismo, na tradição e passaram a buscar outras explicações para as coisas que aconteciam. O Iluminismo (que iniciou a partir da segunda metade do século XVIII) foi outro movimento intelectual que enfatizou a razão e a ciência para explicar o universo. Além da mudança na forma de interpretar o mundo, outra condição essencial para o surgimento da sociologia foi a transformação da sociedade decorrente das revoluções Francesa (século XVIII) e Industrial (século XIX). A Revolução Francesa marcou o fim do feudalismo, a ascensão da burguesia ao poder, o fim dos privilégios da nobreza e o abalo do poder da Igreja. A Revolução Industrial apresenta novas tecnologias, mudanças na forma de organizar o trabalho, industrialização, urbanização, surgimento do proletariado e a consolidação do CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 capitalismo. Paixão (2012) explica que as duas grandes revoluções transformaram a realidade social e desafiaram os pensadores a formular novas explicações e a encontrar novas soluções, sem embasamento na religião ou na tradição, buscando respostas científicas e racionais. Nesse contexto, surge a sociologia como uma forma de compreensão da realidade social com base na ciência e na razão, sendo definida como a ciência que estuda as sociedades e a organização da vida social. Weber (2014, p. 3) define a sociologia como “uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos”. Assim, conforme explica Paixão (2012), a sociologia se dedica ao estudo da vida social, dos grupos e das sociedades e ajuda a compreender melhor as questões relativas à organização social e à interação do indivíduo com a sociedade. Portanto, como indica Nova (2011, p. 35), aos sociólogos “cabe desvendar as relações sociais existentes entre os diferentes conjuntos de indivíduos ligados conscientemente ou não, por alguma característica compartilhada, e que fazem a sociedade”. E, o que é uma sociedade? De acordo com Krech et al (1975, p. 357) a “característica central de uma sociedade é ser uma coletividade organizada de pessoas que interagem, e cujas atividades se centralizam em volta de um conjunto de objetivos comuns e modos de ação comuns”. Complementando, Araújo et al (2009, p. 16-17) explica a sociedade como uma “estrutura composta pelos grupos sociais, diferentes e assemelhados, que mantêm laços entre si, sejam pela língua, pela cultura, pelo modo como se relacionam, produzem e trabalham”. Nova (2011, p. 221) explica que a “sociedade humana nada mais é do que uma complexa teia de indivíduos e grupos interagindo de acordo com o significado por eles atribuídos a suas ações”. Obviamenteque o interesse em estudar os fenômenos sociais é anterior ao nascimento da sociologia e está presente na humanidade desde que a mesma CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 existe. Porém, a palavra sociologia é proposta por August Comte, no século XIX, para denominar a nova ciência. De acordo com Nova (2011) um equívoco comum é pensar que a sociologia existe para resolver os problemas sociais, na verdade o seu objeto de estudo podem ser os problemas sociais, mas seu objetivo é explicar os fatos observáveis, como eles ocorrem e quais as suas causas. Assim, os sociólogos devem buscar explicações teóricas para o que acontece na vida social. Outro esclarecimento importante é colocado por Lakatos e Marconi (1999, p. 25) quando afirmam que “a sociologia não é normativa, nem emite juízos de valor sobre os tipos de associação e relações estudados, pois se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos fenômenos sociais”. Podemos considerar Augusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx como os primeiros pensadores da sociologia que mais se destacaram, por isso considerados clássicos. Embora suas propostas sejam antigas, ainda têm poder explicativo. Como afirma Araújo et al (2009, p. 14) esses autores são considerados clássicos porque “sua vitalidade interpretativa alcança a era contemporânea”. É claro que as propostas apresentam certas limitações, afinal “ciência e realidade social são fenômenos conjugados, históricos e em constante mutação”. No Quadro 1 vamos conhecer, de forma resumida, as principais ideias desses clássicos. Quadro 1: Principais pensadores da sociologia e suas ideias PENSADOR PRINCIPAIS IDEIAS CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 AUGUSTO COMTE (1798-1857) Criador da doutrina positivista. Defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das sociedades quando feitas com verdadeiro espírito científico, com objetividade e com ausência de metas preconcebidas, próprios da ciência em geral. Seus estudos apresentam três princípios básicos: prioridade do todo sobre as partes (para compreender e explicar um fenômeno social particular devemos analisa-lo no contexto global a que pertence); o progresso dos conhecimentos é característico da sociedade humana (a sucessão de gerações permite a acumulação de experiências e conhecimentos); o homem é o mesmo por toda a parte e em todos os tempos. ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) É considerado o fundador da sociologia como ciência independente das demais Ciências Sociais. Preconizou o estudo dos fatos sociais como “coisas”. MAX WEBER (1864- 1920) Considera a sociologia o estudo das interações significativas de indivíduos que formam uma teia de relações sociais, sendo seu objetivo a compreensão da conduta social. KARL MARX (1818- 1883) Fundador do materialismo histórico. Salienta que as relações sociais decorrem dos modos de produção (fator de transformação da sociedade). O postulado básico de sua teoria é que o fator econômico é determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade. Fonte: elaborado com base em Lakatos e Marconi (1999) Tanto a sociologia quando as propostas dos seus principais pensadores são mais complexas do que o aqui apresentado. Por isso, não se pretendeu esgotar nesse material todos os conceitos e possibilidades, mas sim introduzir o tema, que, certamente, será aprofundado na continuidade dessa disciplina. Tema 2: Conceitos Sociológicos Fundamentais 1.2. Descrição e Contextualização Você pode imaginar a vida sem outras pessoas? Consegue se imaginar totalmente sozinho no mundo? O ser humano é um ser social. Ele se agrupa e depende de seus pares de diversas formas durante a vida, desde o nascimento. Em geral, o primeiro grupo social ao qual pertencemos é a família, CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 o segundo a escola e depois vem o trabalho. Dessa relação com outras pessoas surgem os comportamentos. Todos os comportamentos de um indivíduo são resultantes da convivência com os demais, ou seja, nossos comportamentos são frutos da interação social. E o que é a interação social? Braguirolli (1990) explica que a interação social é o processo que se dá entre dois ou mais indivíduos, em que a ação de um deles é, ao mesmo tempo, resposta a outro indivíduo e estímulo para ações deste. Em outras palavras, as ações de um são, simultaneamente, um resultado e uma causa das ações do outro. Então poderíamos alegar que os comportamentos que temos quando estamos sozinhos não são fruto das interações sociais, certo!? Errado! Veja um exemplo: Uma garota está no seu quarto, sozinha, se arrumando para um encontro com o namorado. Ela veste várias roupas, se olha no espelho, faz ‘caras e bocas’ e até ensaia no espelho algumas coisas que quer falar. Ela vai ao encontro, fica sozinha por horas esperando o namorado no local combinado e ele não aparece. Enquanto isso ela mexe no celular, arruma o cabelo, caminha um pouco para o tempo passar. Decide ir embora, sozinha e furiosa, chutando as coisas que vê pelo caminho. Tinha alguém com a garota nesses momentos? Não, ela estava sozinha. Porém, mesmo sozinha seus comportamentos são fruto da interação social, pois eles são baseados na expectativa de uma interação social. Enquanto se arruma ela tem a expectativa do encontro, seu comportamento é consequência do comportamento que ela espera que o namorado tenha. Quando vai embora furiosa, a frustração pelo não acontecimento do encontro também é fruto do comportamento social. Outro belo exemplo dessa situação é o filme ‘O Náufrago’, estrelado por Tom Hanks. No filme, o personagem principal fica preso em uma ilha deserta sozinho, mas continua manifestando comportamentos sociais, como se apegar à foto da namorada, à encomenda CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 que deveria entregar e a uma bola como um ‘amigo imaginário’. Percebemos que, ao compreender o processo de interação social, podemos explicar e entender muitas coisas sobre o comportamento de uma pessoa. Os comportamentos não são fatos isolados, é preciso compreender o contexto em que eles acontecem, quais são os eventos que podem ter gerado aqueles comportamentos e quais serão suas consequências. Uma forma de identificar isso é quando dois irmãos brigam. Ao ter a briga apartada iniciam um longo processo de discussão sobre quem foi que começou, com uma ladainha mais ou menos assim: “mas eu fiz isso porque você fez aquilo, mas eu fiz aquilo porque você fez aquele outro, mas eu fiz aquele outro porque você fez tal coisa, mas eu fiz tal coisa porque você falou ‘A’, mas eu falei ‘A’ porque você falou ‘B’...” Viu? Nossos comportamentos são causa e consequência do comportamento do outro! Além da interação social, o processo de socialização também nos ajuda a explicar o comportamento humano. Braguirolli (1990) explica que a socialização é o processo pelo qual o indivíduo adquire os padrões de comportamento que são habituais e aceitáveis nos seus grupos sociais. Quando um indivíduo se socializa ele aprende a ser membro de uma família, de uma comunidade, de um grupo maior. Percebemos, então, que existe uma forte influência da cultura em que o indivíduo vive na forma como o seu comportamento será expresso. Assim, a formação de hábitos, jeitos, manias, gostos e costumes se dá pela influência da cultura e das instituições sociais com as quais nos relacionamos, como afirma Paixão (2012, p. 147), “é como se a coletividade fizesse imposição de padrõessociais às condutas individuais”. Paixão (2012) explica que a sociologia considera duas etapas de socialização – a socialização primária e a socialização secundária. A socialização primária ocorre na infância e a família é o principal agente de socialização. A socialização secundária é decorrente de outros agentes de socialização, como a escola, os amigos e o trabalho. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Entender o meio de qual o sujeito é oriundo nos ajuda muito a compreender o comportamento que ele irá expressar. Inclusive as organizações chamam de Processo de Socialização os programas de integração de novos funcionários. Qual é o objetivo desses programas? Fazer com que a pessoa conheça a organização e as atividades que irá desempenhar, mas, principalmente, que aprenda as regras e os comportamentos esperados. Quando se fala do processo de socialização é importante ressaltar que o grupo, de certa forma, pressiona a pessoa para que mude o seu comportamento e/ou pensamento para se adequar àquilo que é aceito pelo grupo. Em alguns casos esse é um processo tranquilo, pois a pessoa já se identifica com o grupo e a adequação ocorre naturalmente. Porém, em alguns casos, o processo é mais árduo. Podemos, então, dizer que existem quatro padrões possíveis na busca dessa conformidade com o grupo: Concordância e aceitação: nesse caso a pessoa concorda com os comportamentos e pensamentos do grupo e adere ao novo formato, podendo até acreditar que seus antigos comportamento e percepções eram errados. Concordância sem aceitação: o indivíduo cede e se comporta da forma como o grupo espera, porém não se sente convencido de que isso é o melhor, portanto terá esse comportamento apenas para ser aceito pelo grupo e não ser rejeitado. Aceitação sem concordância: a pessoa sente o desejo de se comportar conforme o grupo, mas os seus aprendizados anteriores são mais fortes e, mesmo concordando com o grupo, ela opta por não se comportar daquela forma. Ausência de aceitação e de concordância: o sujeito não concorda com os comportamentos exigidos pelo grupo e simplesmente não os segue, o que pode acarretar rejeição e exclusão do grupo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Para compreender melhor a conformidade vamos pensar em um exemplo: Pedro teve uma criação bastante rígida de seus pais, com valores bem determinados sobre o que é certo e errado para aquela família. Uma das questões que seus pais sempre foram taxativos é que bebida alcoólica é algo que deve ser evitado, inclusive o chamado ‘beber socialmente’. Porém, ao chegar à adolescência Pedro é convidado pelos amigos para ir a uma festa. Nessa festa os amigos lhe oferecem bebida e começam a típica pressão dos adolescentes para que o amigo beba para mostrar que é homem. Nessa situação Pedro pode ter quatro reações: a) beber e se convencer de que os pais estão errados, aceitando que consumir bebida alcoólica é legal (concordância e aceitação); b) pode ceder para ser aceito, consumir a bebida, mas ficar extremamente arrependido, pois continua acreditando que seus pais estão certos (concordância sem aceitação); c) mesmo com muita vontade de consumir a bebida e acreditar que seus amigos estão certos, Pedro não tem coragem de beber, afinal seus pais podem descobrir (aceitação sem concordância); d) Pedro pode não aceitar a bebida e permanecer convencido de que os pais estão certos e ele concorda que consumir bebida alcoólica é errado (ausência de aceitação e concordância). Veja que o processo de socialização acontece toda vez que entramos em um novo grupo, portanto isso acontece durante toda a vida de uma pessoa. Mas, o que é um grupo? Há consenso na literatura de que um grupo nada mais é do que um conjunto de indivíduos, em interação, que atuam de forma interdependente, que se reúnem visando obtenção de um determinado objetivo. Assim, podemos dizer que um grupo é mais do que um aglomerado de pessoas, para que um conjunto de pessoas possa ser chamado de grupo é importante levar em conta esses quatro critérios: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Conjunto de pessoas Em interação Interdependentes Objetivo comum Os grupos podem ser classificados em Grupo Formal ou Grupo Informal: Grupo Informal: também conhecido como grupo primário, é aquele que, além de satisfazer os critérios de grupo, caracteriza-se pela existência de laços afetivos íntimos e pessoais unindo seus membros. Em geral é um grupo pequeno, com comportamento interpessoal informal. Os principais exemplos são a família e os amigos. Esses grupos podem surgir dentro das organizações, serão as alianças que não são estruturadas formalmente nem determinadas pela organização. São formações naturais dentro do ambiente de trabalho, que surgem em resposta à necessidade de contato social. Dentro do grupo informal podemos ter os grupos de interesse (quando as pessoas se reúnem espontaneamente para atingir interesses comuns) ou os grupos de amizade (formados por pessoas que possuem características em comum, compondo uma aliança social que pode extrapolar o ambiente organizacional). Grupo Formal: também conhecido como grupo secundário, no qual as relações são formais e impessoais, o grupo não é um fim em si mesmo, mas um meio para que seus componentes atinjam fins externos. Podemos ter colegas de uma sala de aula ou colegas de trabalho como os principais exemplos. No contexto organizacional são aqueles grupos definidos pela estrutura da organização, com atribuições de trabalho e tarefas. Nestes grupos o comportamento das pessoas é estipulado e dirigido em função das metas organizacionais. Dentro dos grupos formais podemos ter os grupos de comando (determinado pelo organograma da organização, composto por pessoas que se reportam diretamente a um executivo) e o grupo de tarefa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 (também determinado pela organização, formado por pessoas que se reúnem para executar uma determinada tarefa, que podem ultrapassar as relações de comando). Para melhor compreender o funcionamento de um grupo e a influência dos grupos no comportamento das pessoas, é importante saber que cada indivíduo assume uma posição, um status e um papel que são diferentes em cada um dos grupos que ela faz parte. A posição é um conjunto de direitos e deveres do indivíduo no grupo. Vejamos um exemplo: se Paulo é pai, ele possui determinados direitos e deveres no seu grupo familiar, já seu filho possui outro conjunto. Se Paulo possui um cargo de chefia no grupo de trabalho, possui outro conjunto de direitos e deveres, os quais serão diferentes daqueles apresentados pelos seus subordinados. O status está articulado com a posição ocupada pelo sujeito, porém se refere ao valor diferencial de cada posição dentro de um grupo. Por exemplo: de forma geral, no grupo familiar, ser pai tem mais status do que ser filho, pois é o pai que trabalha, ganha dinheiro e possui bens. Já no grupo de trabalho, ser chefe tem mais status do que ser subordinado, pois o chefe ganha mais, pode tomar decisões e acaba possuindo mais regalias. O papel pode ser entendido como o comportamento socialmente esperado da pessoa que ocupa determinada posição com determinado status. Ocupamos diversos papéis na nossa vida e em cada um dos contextos é esperado que tenhamos determinadas reações. Vamos voltar ao exemplo do Paulo: Paulo é, ao mesmo tempo, pai, filho, irmão, marido, chefe, empregado, amigo e etc. Quando Paulo está no papel de pai, a sociedadee as pessoas com as quais ele se relaciona esperam que ele tenha um comportamento típico de pai, que será diferente daquele comportamento que ele deve expressar quando está no papel de filho e assim sucessivamente. E porque as pessoas se reúnem em grupos? O que faz com que ao longo da vida um sujeito sempre busque formas de agrupamento humano? Em geral, a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 busca por fazer parte de um grupo responde às seguintes necessidades: Segurança: reunindo em grupos as pessoas podem reduzir a insegurança de “estar sozinho”, elas se sentem mais fortes, têm menos dúvidas e se tornam mais resistentes às ameaças. Status: a inclusão em um grupo considerado importante pelos outros proporciona reconhecimento e status para seus membros. Autoestima: os grupos podem dar a seus membros uma sensação de valor próprio, ou seja, além de demonstrar status para os outros, a filiação a um grupo também faz com que seus membros se sintam valorizados por si mesmos. Associação: os grupos podem satisfazer necessidades sociais, as pessoas apreciam a constante interação com outros indivíduos. Para muitas pessoas, as interações no ambiente de trabalho representam a principal fonte de satisfação de suas necessidades de associação. Poder: as coisas que não podem ser obtidas individualmente, geralmente, tornam-se possíveis através da ação grupal, pois existe poder no agrupamento. Alcance de metas: há ocasiões em que é preciso mais de uma pessoa para realizar uma determinada tarefa, há necessidade de diferentes talentos, conhecimentos ou poderes para que uma meta seja atingida. Já discutimos que um grupo não é um simples agrupamento de pessoas, não são multidões desorganizadas. Para que um grupo tenha um funcionamento adequado existe uma estrutura que modela o comportamento de seus membros e permite a explicação e previsão desses comportamentos. Com isso podemos dizer que ao conhecer a estrutura de um grupo é fácil explicar e prever a forma como seus membros irão reagir frente a determinadas situações. Segundo Robbins (2005) essa estrutura é composta pelos seguintes CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 elementos: Papéis: o conceito de ‘papel’ no âmbito dos grupos já foi visto nesse encontro. Os papéis são aqueles padrões comportamentais socialmente esperados, de acordo com a posição ocupada pelo indivíduo no grupo. Assim, cada membro do grupo desempenha um papel diferente que nos faz compreender sobre o funcionamento e prever reações. Status: esse conceito também já foi discutido, se refere à posição social definida pelas pessoas a um grupo ou a membros de um grupo. O status determina a forma como as pessoas que ocupam determinadas posições irão se comportar e explicam a forma como determinado grupo se posiciona frente aos demais. Normas: as normas são padrões de comportamento aceitáveis que são compartilhados por todos os membros do grupo, aqueles aprendidos no processo de socialização. As normas dizem aos membros do grupo o que eles devem ou não fazer em determinadas circunstâncias. Coesão: A coesão é o grau em que os membros são atraídos entre si e motivados a permanecer em um grupo. De maneira geral, quanto mais coeso um grupo for, maior será a sua capacidade produtiva, portanto podemos dizer que a coesão é o principal fator ligado à harmonia do grupo. Ao participar de grupos e passar pelo processo de socialização, os indivíduos formam a sua identidade e passam a estar imersos em uma cultura. Por identidade entende-se a “forma e os elementos que possibilitam uma compreensão sobre o que os indivíduos são e sobre o que é significativo para eles (...) Assim, a identidade diz ao mesmo tempo sobre o que o indivíduo é e sobre o que ele não é” (PAIXÃO, 2012, p. 153). Por sua vez, a cultura se refere a um sistema de símbolos e significados, compartilhados por membros de uma CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 sociedade, que torna possível a vida em comum, compreende tanto aspectos materiais (objetos, símbolos, tecnologia), quanto aspectos imateriais, como crenças, hábitos, ideias e valores. Agora é a sua vez, faça uma análise do filme a partir dos conceitos aqui trabalhados. Na Prática O Caso Utiyama A empresa multinacional japonesa Utiyama nomeou Douglas para trabalhar na filial brasileira. Sua função principal era tornar a cultura organizacional da filial brasileira idêntica à da matriz, mantendo o clima organizacional favorável. Assim que Douglas chegou ao Brasil sofreu um forte impacto pelas diferenças na forma como os brasileiros realizavam suas atividades e se relacionavam no ambiente de trabalho. A implantação da cultura da matriz japonesa na filial brasileira sofreu muitas resistências, pois era totalmente diferente da cultura nacional. Os funcionários demonstravam profunda insatisfação com as mudanças e demonstravam-se impotentes, pois não sabiam a quem se reportar sobre as mudanças organizacionais. Fonte: SOUZA (2014, p. 157) Analise o caso apresentado, articulando com os conceitos trabalhados nessa aula. Quais elementos podem explicar ou justificar o caso? O que os gestores deveriam ter levado em consideração? Proponha um plano de ação para resolver a situação. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Síntese Nesse encontro vimos que O Renascimento, o Iluminismo, as Revoluções Francesa e Industrial favoreceram o cenário para o surgimento da Sociologia. A condição fundamental para o surgimento dessa nova ciência foi o uso da ciência para explicar a realidade, assim o objetivo dessa ciência, em linhas gerais, passa a ser compreender e explicar a sociedade. Para isso, os autores que mais se destacaram foram: Comte, Durkheim, Weber e Marx. Em um segundo momento discutimos conceitos fundamentais para dar continuidade aos estudos dessa disciplina, que foram os conceitos de interação social, socialização e grupo. Com isso estamos aptos a continuar. Nos próximos encontros iremos aprofundar esses conteúdos, buscando uma melhor compreensão de como a sociologia explica a sociedade. Até breve! Referências ARAÚJO, Silvia Maria; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto, 2009. BRAGUIROLLI, E.M.; BISI, G.P.; RIZZON, L.A.; NICOLETTO, U. Psicologia Geral. Porto Alegre: Vozes, 1990. COSTA, Cristina. Sociologia – introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2010. KRECH, David; CRUTCHFIELD, Richard; BALLACHEY, Egerton. O Indivíduo na Sociedade: um manual de psicologia social. São Paulo: Pioneira: 1975. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1999. NOVA, Sebastião Vila. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas, 2011. PAIXÃO, Alessandro Eziquiel. Sociologia Geral. Curitiba: Intersaberes, 2012. ROBBINS, S.P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. SABOYA, Maria Clara Lopes. O Enigma de Kaspar Hauser (1812-1833): uma abordagem psicossocial. Psicologia USP, São Paulo, v. 12, n. 2, 2001. (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- 65642001000200007&script=sci_arttext) SACHETE, Andreia dos Santos; BRISOLARA, Valéria Silveira. Análise Vigoskyana do Filme O Enigma de Kaspar Hauser. Signo. Santa Cruz do Sul, v. 38, n. 65, jul/dez 2013, p. 114-124. (http://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/viewFile/4180/3212) SOUZA, C.P.S.Cultura e Clima Organizacional – compreendendo a essência das organizações. Curitiba: Intersaberes, 2014. WALCKOFK, Simone Dalla Barba; LIRA, Sandra Pereira. A Constituição do Ser Político: uma análise do filme O Enigma de Kaspar Hauser. Revista Contraponto. v. 3, n. 1, jan/abr 2013, p. 6-14. (http://www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/2173/2461) WEBER, Max. Economia e Sociedade – fundamentos da sociologia compreensiva. v.01. São Paulo: Editora UnB, 2004. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19