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GOVERNANÇA CORPORATIVA AULA 1 PROF. RICARDO NEVES GOVERNANÇA CORPORATIVA GOVERNANÇA CORPORATIVA CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. Introdução 2. Motivações – origens e fundamentos 2.1 Origens e Fundamentos 2.2 Conflitos de Agência 3. Conceitos Fundamentais 3.1 Governança Corporativa 3.2 Outros Conceitos Importantes 4. A Implantação da Governança Corporativa 4.1 A OCDE 4.2 Exigências Legais 4.2.1 Lei Sarbanes-Oxley (Lei SOX) GOVERNANÇA CORPORATIVA CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 4.2.2 A Lei das S/A no Brasil 4.3 Exigência do mercado de capitais 4.4 Adesão voluntária 4.4.1 Governança corporativa no mundo 4.4.2 Governança corporativa no Brasil 4.4.3 IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e seu Código das Melhores Práticas 5. Os Princípios da Governança Corporativa e os Códigos de Conduta 5.1. Princípios da Governança Corporativa 5.2 Códigos de Conduta GOVERNANÇA CORPORATIVA CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 6. Principais atribuições e responsabilidades dos agentes de governança corporativa 6.1 Introdução 6.2 Atribuições e Responsabilidades dos Proprietários e da Assembleia Geral 6.3 Atribuições e Responsabilidades do Conselho de Administração 6.4 Atribuições e Responsabilidades dos Comitês 6.5 Atribuições e Responsabilidades da Diretoria Executiva 6.6 Atribuições e Responsabilidades da Auditoria Independente e do Conselho Fiscal 7. Conselho de Administração – competências, qualificações e certificação 7.1 Competências requeridas do Conselho de Administração 7.2 Qualificação requerida do Conselho de Administração 7.3 Certificação do Conselho de Administração pela IBGC GOVERNANÇA CORPORATIVA CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 8. Casos de Governança 8.1 Falhas de Governança 8.2 Organizações e Governança - Casos e exemplos 9. COMPLIANCE. GOVERNANÇA CORPORATIVA LIVRO-BASE DA DISCIPLINA: ROSSETTI, José Paschoal; ANDRADE, Adriana. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. - 7. ed. - São Paulo: Atlas, 2014. Código biblioteca UNIP: 658.012.4 / A553g GOVERNANÇA CORPORATIVA LIVRO-AUXILIAR DA DISCIPLINA: BLOK, Marcella. Compliance e Governança corporativa: atualizado de acordo com a Lei Anticorrupção Brasileira (Lei 12.846) e o Decreto-Lei 8.421/2015. — Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. GOVERNANÇA CORPORATIVA GOVERNANÇA CORPORATIVA GOVERNANÇA CORPORATIVA ADMINISTRADOR GOVERNANÇA CORPORATIVA Temas da Aula 1: 1. INTRODUÇÃO. 2. CONFLITOS DE AGÊNCIAS. 3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO Benjamin Coriat, em L’atelier et le robot, expôs as “afinidades históricas” entre as revoluções tecnológicas, a acumulação do capital, as inovações organizacionais e, em anos recentes, a ruptura e a emergência dos novos compromissos contratuais no interior do sistema capitalista. Os cenários históricos por ele descritos evidenciaram as interligações entre as dimensões crescentes do mundo corporativo ocidental, as mudanças organizacionais que deram suporte ao seu desenvolvimento e a reconstrução do modelo institucional do sistema capitalista como um todo, particularmente a transição da eficiência gerada pelas escolas clássicas para sistemas mais flexíveis, que atendessem aos interesses múltiplos exigidos pela nova ordem mundial. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO Ao longo deste processo histórico mudaram as forças de gestão do mundo corporativo, bem como os beneficiários de seus resultados. Ao mesmo tempo em que evoluíram as concepções, abordagens, e os instrumentos de gestão, modificava-se a estrutura de poder no seio do mundo corporativo. É o que podemos denominar de processo de dispersão do capital. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO Cinco fatores podem ser apontados como determinantes destes processo de dispersão do capital: 1 . A const i tu ição das grandes empresas na forma de sociedades anônimas e o financiamento de seu crescimento pela subscrição pública de novas emissões de capital; 2. A abertura de capital de empresas fechadas e o aumento do número de empresas listadas nas bolsas de valores; GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO 3. O aumento do número de investidores no mercado de cap i ta is , a c rescen te diversificação de suas carteiras de ações e o consequente fracionamento da propriedade das companhias; 4. Os processos sucessórios, desencadeados c o m a m o r t e d o s f u n d a d o r e s d a s companhias; 5. Os processos de fusão das grandes companhias que, ao mesmo tempo, ampliam o número de acionistas, mas na maior parte dos casos, reduzem a participação de cada um no capital total expandido. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO Assim, o sistema acionário possibilitou, de um lado, o expansionismo e o agigantamento do mundo corporativo, bem como a maior concentração do poder econômico nas 500 maiores empresas nacionais. Mas, de outro lado, manifestou-se dentro dele um importante movimento em direção oposta à da concentração: a dispersão do número de acionistas e a pulverização da propriedade. Mais ainda: a propriedade acionária tornou-se menos permanente, pelo crescente volume das negociações nas bolsas de valores, e, por fim, a despersonalização da propriedade. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO EXEMPLO DE DESPERSONALIZAÇÃO DA PROPRIEDADE: FIBRIA: EMPRESA DE CELULOSE. EXEMPLO DE DESPERSONALIZAÇÃO DA PROPRIEDADE: GRUPO PÃO DE AÇUCAR. 21 ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS DO MERCADO DE AÇÕES Free float é a quantidade percentual de ações livres à negociação no mercado. São aquelas ações que não pertencem a acionistas estratégicos, como: controladores e diretores da companhia e acionistas que detenham mais de 5% do capital total da empresa. Também se excluem do free float as ações com restrições (que não podem ser negociadas) e aquelas em tesouraria. Na prática, quanto maior o free float de uma companhia, maior sua liquidez no mercado e maior a facilidade com que os investidores minoritários podem adquirir e vender livremente suas ações. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO O DIVÓRCIO ENTRE A PROPRIEDADE E A GESTÃO A dispersão da propriedade e a consequente ausência dos acionistas acarretaram outras mudanças profundas nas companhias. Cinco se destacam: 1. A propriedade desligou-se da administração. 2. Os “capitães de indústria”, fundadores-proprietários, foram substituídos por executivos contratados. 3. Os objetivos deixaram de se limitar à maximização do lucro, ou seja, diferentemente da microeconomia clássica nas modernas grandes empresas, onde o poder é exercido pela gestão, não pela propriedade, outros interesses se chocam com a maximização dos lucros. Os gestores podem estar interessados em outros objetivos, que vai da segurança das operações, sob aversão a riscos, até a elevação de seus próprios ganhos, em detrimento da renda dos acionistas. Esta constatação levou a revisões conceituais importantes, todas na direção de mostrar os conflitos entre os agentes principais das corporações, seus acionistas, e os agentes condutores das operações, os executivos-chefes. 4. Vária inadequações e conflitos de interesses passaram a ser observados no interior das companhias. 5. Os conflitos decorrentes de interesses não perfeitamente simétricos levaram à reaproximação da propriedade e da gestão, pelo caminho da difusão e da adoção de boas praticas de governança corporativa. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO Adolfe A. BERLE A ABORDAGEM DE BERLE E MEANS Gardner C. MEANS GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO A ABORDAGEM DE BERLE E MEANS Reproduzindoos argumentos principais de Berle e Means - hoje reconhecidos como uma das bases conceituais da governança corporativa - podemos resumir da seguinte forma: 1. O afastamento entre a propriedade e o controle: a dispersão do capital acionário resultou na constituição de duas novas categorias sociais: * a dos proprietários passivos: em lugar de propriedades materiais reais, sobre as quais os proprietários poderiam exercer controle e pelas quais eram responsáveis, agora eles têm um pedaço de papel apenas representando uma série de direitos e expectativas em relação a uma companhia. Mas ao mesmo tempo eles são impotentes para agir sobre a propriedade material. * a dos não proprietários usufrutuários: controladores efetivos que não dispõem de propriedade apreciável. TAL CENÁRIO GERA, NATURALMENTE, UMA DIVERGÊNCIA DE INTERESSES… GOVERNANÇA CORPORATIVA GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO J. K. GALBRAITH A ABORDAGEM DE GALBRAITH GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO A ABORDAGEM DE GALBRAITH Retomando as abordagens de Berle e Means - ainda que num tomais ácido - Galbraith adiciona pontos relacionados à tecnoestrutura da organização atrelados principalmente à: (i) constituição de conselhos de administração pro-forma, cooptados pela direção executiva das companhias; e (ii) o divórcio - pré-anunciado por Berle e Means - entre a propriedade acionária e a administração corporativa. Deste modo, para Galbraith a tecnoestrutura da organização tornara-se o fator mais importante de sustentação do mundo corporativo, constituído por crescente número de companhias gigantes. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO A ABORDAGEM DE GALBRAITH Esta concepção levou Galbraith a considerar que a mera posse do capital não era mais FATOR DE PODER. A inteligência organizada estava se sobrepondo a ele (AO FATOR DE PODER), ocorrendo um nítido deslocamento tal como se deu no passado com a terra em relação ao capital. A ABORDAGEM DE GALBRAITH: Lucros e a segurança da tecnoestrutura. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO A ABORDAGEM DE GALBRAITH: Lucros e a segurança da tecnoestrutura. Na visão de Galbraith o poder se mantém a partir de um nível mínimo de lucros, indicado por M, coincidente com a média do setor em que a empresa atua. Abaixo desse nível, estabelece-se uma zona de desconforto. Caso os níveis não sejam recuperados, o poder tende a desfazer-se, notadamente abaixo do ponto D, quando os resultados deixam de ser apenas insatisfatórios para se tornarem negativos. O pode ser manterá e se fortalecerá do ponto M ao ponto A, onde atinge o nível pleno, dado pelo maior lucro obtido pelas empresas do setor, a partir do qual seu aumento pouco acrescentará à autonomia da tecnoestrutura, estabelecendo-se então a plenitude de seu poder. GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO A ABORDAGEM DE GALBRAITH: Lucros e a segurança da tecnoestrutura. Pelo mais elementar cálculo de interesse próprio, ela passará (a tecnoestrutura) então a colocar a prevenção de prejuízos à frente de lucros ainda maiores: os prejuízos a destruirão, ao passo que os lucros maiores se tornarão praticamente inócuos. É também a partir daí que se criam condições para que a alta gestão se aproprie de benefícios autoconcedidos, em detrimento de lucros maiores para acionistas distantes e desconhecidos. A distância crescente entre as trajetórias (a) e (b) reproduz uma área em que a tecnoestrutura pode usar de sua autonomia para usufruto do poder. GOVERNANÇA CORPORATIVA Como podemos perceber a origem dos debates sobre Governança Corporativa remete a conflitos inerentes à propriedade dispersa e à divergência entre os interesses dos sócios, executivos e o melhor interesse da empresa. A vertente mais aceita indica que a Governança Corporativa surgiu para superar o "conflito de agência" clássico, situação na qual o proprietário (acionista) delega a um agente especializado (administrador) o poder de decisão sobre a empresa. GOVERNANÇA CORPORATIVA A preocupação da Governança Corporativa é, portanto, criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos administradores esteja sempre alinhado com o melhor interesse da empresa. Vejamos em maiores detalhes os conflitos de agência. GOVERNANÇA CORPORATIVA 2. Conflitos de agências – Teoria do Agente Principal Em 1976 Jensen e Meckling publicaram estudos focados em empresas norte-americanas e britânicas, mencionando o que convencionaram chamar de problema de agente-principal, que deu origem à Teoria da Firma ou Teoria do Agente-Principal. Segundo esses acadêmicos, o problema agente- principal surge quando o sócio (principal) contrata outra pessoa (agente) para que administrasse a empresa em seu lugar. GOVERNANÇA CORPORATIVA De acordo com a teoria desenvolvida, os executivos e conselheiros contratados pelos acionistas tenderiam a agir de forma a maximizar seus próprios benefícios (maiores salários, maior estabilidade no emprego, mais poder etc.), agindo em interesse próprio e não segundo os interesses da empresa, de todos os acionistas e demais partes interessadas (stakeholders). Para minimizar o problema, os autores sugeriram que as empresas e seus acionistas deveriam adotar uma série GOVERNANÇA CORPORATIVA de medidas para alinhar interesses dos envolvidos, objetivando, acima de tudo, o sucesso da empresa. Para tanto, foram propostas medidas que incluíam práticas de monitoramento, controle e ampla divulgação de informações. A este conjunto de práticas convencionou-se chamar de Governança Corporativa. 1976 GOVERNANÇA CORPORATIVA 3. Conceitos Fundamentais de Governança Corporativa CONCEITO segundo o IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (www.ibgc.org.br): Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incent ivadas, envolvendo os re lac ionamentos entre sóc ios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. GOVERNANÇA CORPORATIVA 3. Conceitos Fundamentais de Governança Corporativa PRINCÍPIOS BÁSICOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA: a. Transparência b. Equidade c. Prestação de Contas (accountability) d. Responsabilidade Corporativa GOVERNANÇA CORPORATIVA a. Transparência - Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não deve restringir- se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que condizem à preservação e à otimização do valor da organização. GOVERNANÇA CORPORATIVA b. Equidade - Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas. GOVERNANÇA CORPORATIVA c. Prestação de Contas (accountability) - Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papeis. GOVERNANÇA CORPORATIVA d. Responsabilidade Corporativa - Os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico- financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacionaletc.) no curto, médio e longo prazos.
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