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GOVERNANÇA CORPORATIVA AULA 4 PROF. RICARDO NEVES TEMA DA AULA: COMPLIANCE PLATÃO E O MITO DO ANEL DE GIGES Platão, portanto, nos propõe a seguinte questão: os homens são bons por escolha própria ou simplesmente porque temem ser descobertos e punidos? Reflita: se você tivesse o anel de Giges e pudesse ficar invisível. Livre para fazer o que quiser sem ser punido pela sociedade, pelas leis e por Deus, você agiria com base na moral e na justiça? Platão disse: “Quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”. O ser humano só é completamente moral quando, tendo o poder e estando livre da punição, ele age com base na moral, na virtude e na justiça. A observação da conduta cotidiana, entretanto, nos leva a concluir que, se o ser humano ficar entregue a seus próprios instintos naturais, muito provavelmente o egoísmo, a ganância e a sede de ter mais poder, fama e dinheiro o levariam a trapacear, roubar e até matar. A narrativa de Platão permite concluir que mesmo uma pessoa virtuosa e justa, se tivesse em mãos o anel de Giges, agiria contrariamente à virtude e à justiça. Não todos, é claro. Aristóteles alerta que “o homem guiado pela ética é o melhor dos animais. Quando sem ela, é o pior”. Por isso, a vida em sociedade exige um conjunto de normas gerais de conduta justa, iguais para todos (inclusive para o rei) e aplicáveis a um número incerto de casos futuros. A propensão humana à virtude é frágil; por isso, a paz social não dispensa as regras de conduta e a punição para quem as viola. Na esfera pública, o meio de impedir que os políticos tenham seu anel de Giges é pela visibilidade de seus atos, por isso a CF/88 obriga a publicidade de todos os atos dos governantes. Certamente, os corruptos imaginam ter achado o anel de Giges e acreditam que não serão pegos nem atingidos pela punição. Seguramente, os malfeitores fazem cálculos e agem apostando na probabilidade de não serem pegos. De vez em quando, eles erram no cálculo e a justiça funciona. É o caso atual da operação Lava Jato... DAÍ PORQUE PRECISAMOS DAS FAMOSAS REGRAS DE CONVIVÊNCIA E ISTO DESDE PEQUENOS, VEJAMOS UM EXEMPLO DE REGRAS NUMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL... NO MUNDO CORPORATIVO, AS REGRAS DE CONVIVÊNCIA – ENTRE OS STAKEHOLDERS INTERNOS E EXTERNOS – SÃO COMPILADOS NOS CÓDIGOS DE ÉTICA. MAS, AFINAL, O QUE É ÉTICA? O termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa ”cumprir”, ”executar”, ”satisfazer”, ”realizar o que lhe foi imposto”, ou seja, compliance é estar em conformidade, é o dever de cumprir regulamentos internos e externos impostos às atividades da instituição. Risco de compliance é o risco de sanções legais ou regulamentares, perdas financeiras ou mesmo perdas reputacionais decorrentes da falta de cumprimento de disposições legais, regulamentares, códigos de condutas etc. COMPLIANCE NO MUNDO Percepção do índice de corrupção nas nações. Fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/ranking-de-corrupcao-coloca-brasil-em-76- lugar-entre-168-paises.html Os EUA contam com a Foreign Corrupt Pratices Act (FCPA) desde 1977, que visa coibir a prática de corrupção junto a todas as partes que de alguma forma fazem negócios envolvendo os EUA. A lei veda a qualquer organização que tenha suas ações negociadas na Bolsa de Nova Iorque ou que tenham relação comercial com o país de cometer atos de corrupção que abranjam agentes públicos de governos no exterior. As penalidades variam de multas na casa dos milhares de dólares até penas privativas de liberdade. A Chinese Wall designa a segregação (separação) de recursos entre dois operadores, para evitar situações de conflitos de interesses ou interesses concorrentes. O "muro" é lançado para evitar vazamentos de informações corporativas internas, o que pode influenciar o conselho dado aos clientes que fazem investimentos ou permitir que a equipe aproveite os fatos ainda não conhecidos pelo público em geral. Na Espanha destaca-se o artigo 31 bis do Código Penal Espanhol que normatiza o seguinte: ”En los supuestos previstos en este Código, las personas jurídicas serán penalmente responsables: a) De los delitos cometidos em nombre o por cuenta de las mismas, y em su beneficio directo o indirecto, por sus representantes legales o por aquellos que actuando individualmente o como integrantes de um órgano de la persona jurídica, están autorizados para tomar decisiones em nombre de la persona jurídica u ostentan facultades de organización y control dentro de la misma. b) De los delitos cometidos, em el ejercicio de atividades sociales y por cuenta y em beneficio directo o indirecto de las mismas, por quienes, estando sometidos a la autoridad de las personas físicas mencionadas em el párrafo anterior, han podido realizar los hechos por haberse incumplido gravemente por aquéllos los deberes de supervisión, vigilancia y control de su actividad atendidas las concretas circunstancias del caso.” Principais elementos caracterizadores de um programa de compliance: • Comprometimento e suporte da alta administração da empresa; • Área de compliance deve ser independente, com funcionários e condições materiais suficientes e deve ter acesso direto à alta administração da empresa (Conselho de Administração); • Mapeamento e análise de riscos; • Estabelecimento de controles e procedimentos; • Criação de meios de comunicação internos e treinamentos; • Existência de mecanismos que possibilitem o recebimento de denúncias (hotlines) de empregados e de terceiros, mantendo-se a confidencialidade e impedindo retaliações; • Existência de políticas escritas sobre anticorrupção; brindes e presentes, doações; hospedagens, viagens e entretenimento. Muitos se perguntam a quais tipos de organizações aplicam-se as regras do compliance. A ABBI (Associação Brasileira de Bancos Internacionais) salienta que ”compliance é uma questão estratégica, que se aplica a todos os tipos de organizações, tanto de empresas e entidades do terceiro setor como entidades públicas (pequenas ou grandes), empresas de capital aberto e empresas fechadas de todas as regiões do mundo.” (www.febraban.com.br) O compliance agrega valores às companhias, tais como: 1. Qualidade e velocidade das interpretações regulatórias e políticas e procedimentos de compliance relacionados; 2. Aprimoramento o relacionamento com reguladores, incluindo bom retorno das revisões dos supervisores; 3. Melhoria de relacionamento com os clientes, acionistas e demais stakeholders; 4. Decisões de negócio em compliance; 5. Velocidade dos novos produtos em conformidade para o mercado; 6. Disseminação de elevados padrões éticos/culturais de compliance pela organização; 7. Acompanhamento das correções e deficiências (não conformidades). COMPLIANCE: O CASE SIEMENS CASE SIEMENS - Processo Judicial do SEC, case 1:08-cv-02167-RJL: 2003: o CFO da Siemens não tomou nenhuma providência quanto a informação de possíveis violações legais de funcionários da Telecom por terem levado € 4,12 milhões em dinheiro para a Nigéria. 2003-2004: empregados da ENEL (empresa de energia estatal italiana) receberam €6 milhões em suborno para realização de projetos de duas usinas. 2004: Funcionários da unidade de comunicações da Siemens foram descobertos com contas bancárias que movimentavam dinheiro provindo de corrupção. 2005: descoberto o uso de contas bancárias de um ex-agente da Siemens na Grécia para movimentação de dinheiro provindo de corrupção. 2006: escritórios de uma subsidiária da Siemens realizou acordos de consultoria com empresa fantasma, utilizando conta bancária em banco austríaco para pagar subornos econtratos de seguros na Itália, Nigéria, Grã-Bretanha e nos EUA desde 1995. A partir disto, a postura da Siemens foi de cooperar com o Departamento de Justiça norte-americano e com a SEC, obrigando-a a implementar um programa mundial de compliance que permitiu à Siemens se tornar um ótimo caso de turnaround ético-empresarial, a partir de três princípios: Prevenir, Detectar e Responder. 1. Processo de comunicação e informação: a) Reportes periódicos; b) Contatos proativos com órgãos reguladores; c) Confiabilidade das informações. 2. Monitoramento de normas externas: a) Acompanhamento permanente: risco regulatório; b) Análise do impacto da norma; c) Adequação das operações e normas internas. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE 3. Monitoramento de normas internas: a) Padrão normativo; b) Treinamento em redação de normas; c) Definição de diretrizes. 4. Políticas corporativas: a) Princípios de caráter geral; b) Orientação; c) Revisão periódica; d) Ampla divulgação. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE 5. Novos produtos e alterações: a) Atuação proativa e preventiva; b)Mitigação de riscos; c) Avaliação de riscos de compliance. 6. Consultivo: a) Suporte à alta administração; b) Parcerias com áreas de negócios; c) Orientação à gestão; d) Proatividade. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE 7. Disseminação de cultura: a) Mudança nas práticas de gestão; b)Motivação com base em valores/comportamentos; c) Mecanismos de adesão: internalização, submissão, identificação. 8. Programas de treinamento: a) Melhores práticas de mercado; b) Normas/regulamentação e legislação; c) Políticas e procedimentos corporativos; d) Controle e atualizações. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE 9. Código de Ética e Código de Conduta: a) Definições de padrões de ética e de conduta; b) Orientação e divulgação; c) Comitê de ética; d) Canal de denúncias. 10. Programa de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD): a) Designação do diretor responsável; b) Definição das políticas e diretrizes; c) Monitoramento de transações suspeitas; d) Comitê de PLD e reporte à área responsável. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE 11. Sistema de controles internos: a) Segregação de funções; b) Testes e monitoramentos; c) Reporte de não conformidades; d) Acompanhamento de ações corretivas. 12. Gerenciamento de riscos: a) Identificação, avaliação e monitoramento; b) Definição de controles; c) Comunicação; d) Gestão integrada. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE 13. Metodologia de avaliação do risco de compliance: a) Autoavaliação; b)Matriz do risco de compliance; c) Análises dos produtos e processos; d) Revisões periódicas. 14. Equipes de agentes de compliance: a) Perfil específico; b) Intermediação de compliance; c) Treinamentos periódicos; d) Canal de comunicação. FERRAMENTAS DE COMPLIANCE TRIPLÉ DO COMPLIANCE FONTES: • BLOK, Marcella. ”Compliance e Governança Corporativa”. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. • https://www.slideshare.net/daniel.luz/compliance-e-tica-nas-organizaes- 66358195?from_action=save • http://slideplayer.com.br/slide/3677402/ • www.febraban.com.br • http://w3.siemens.com.br/home/br/pt/cc/Compliance/Documents/GuiaAnti corrupcaoComplianceSiemens.pdf • https://prezi.com/fg_hfvtkiikd/anel-de-giges/ • https://prezi.com/vftbtnvmnl4a/o-anel-de-giges/ • https://www.siemens.com/press/pool/de/events/2008-12-PK/SEC.pdf • http://estudio.folha.uol.com.br/petrobras/2017/06/1892322-mais-empresas- adotam-praticas-de-compliance.shtml • http://www.amchamrio.com.br/srcreleases/02_10_2014_beatriz_podcameni. pdf
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